História Bon bon chocolat - Bombons de chocolate e descobertas

–Sal, cara, tem algo que eu deveria te dizer há muito tempo, eu escondi algo que até onde eu me lembro eu cheguei perto de contar, não muito, mas cheguei, eu ‘tava meio bêbado e minha consciência tava pesando ‘pra caralho naquele dia. Mas o que eu quero dizer é que eu sou um fracasso como pessoa e talvez eu te magoe quando dizer o que tenho ‘pra falar de verdade porque eu demorei demais pra reunir coragem, tudo bem que eu poderia beber dois ou três copos de vodca barata a qualquer momento pra reunir essa coragem de uma vez mas vodca é ruim ‘pra porra... Mas voltando ao assunto principal, eu escondi algo de você, não porque eu quis, tá talvez um pouco, porém eu me sinto na obrigação de contar logo até porque você é alguém muito especial e não merecia nada mais que a verdade e eu sou o errado da história toda, então por favor não me odeie muito, eu até deixo você cortar a ponta do meu cabelo ‘pra descontar a sua raiva, só não corta muito tá cara? Mas enfim, Sal, Eu... sou o seu “admirador secreto” fui eu que enviei os chocolates o tempo todo por que eu gosto de você desde que entrou na faculdade há uns dois anos atrás

– ...

–Eu sei que foi muito errado esconder isso esse tempo todo, e eu me arrependo muito mas por favor diz alguma coisa!

–Patético...

–Por que você é tão má comigo? – Larry fez um beicinho muito exagerado que fez a amiga revirar os olhos

–“Má” o caralho Johnson, você enrolou tanto pra dizer o óbvio que eu ‘tava quase metendo a minha mão na sua cara, seja mais direto, porra! – a garota jogou a bituca de cigarro que estava presa por entre os dedos da mão esquerda aos pés de Larry que desviou rapidamente do objeto

Há exatos quinze minutos o Johnson tentava – inutilmente – treinar como contar a verdade sobre os bombons e sobre todo o resto tendo como cobaia sua amiga, Ash, mas garota estava tão impaciente com a demora do amigo que acabou por surrupiar um cigarro da carteira de Larry para manter a paciência

A verdade era que Larry começava o monólogo e se perdia pelo caminho ou enrolava demais e nem sequer conseguia chegar ao objetivo principal, o que deixava ambos muito frustrados

Não era fácil, o moreno poderia jurar que toda vez que começava o seu discurso podia ver Sally chorando, se sentia terrivelmente culpado por não ter “se revelado” há mais tempo, estava ciente que quanto mais o tempo passava a situação ficava cada vez mais séria, se de alguma forma o Fisher descobrisse por si mesmo a identidade do admirador estaria ferrado

Tinha quase certeza que o garoto bem em seu interior ainda desconfiava que aquilo era uma brincadeira de mal gosto, o azulado poderia ser muito desconfiado quando queria

–Eu ‘tô tentando, tá? Mas toda vez a imagem do Sal chorando e dizendo “como você pôde Larry Johnson?” atravessa a minha mente! Não dá! – o moreno puxou os longos cabelos castanhos e bufou começando a ficar irritado

–Larry, isso NÃO é uma novela mexicana! – Ash também estava cansada, não podia simplesmente jogar a toalha, por dois motivos: Larry era seu melhor amigo e ela também estava parcialmente envolvida naquela bola de neve – ainda acho melhor você simplesmente reservar um momento, levar o Sal para o canto e conversarem sobre isso ao em vez de jogar a bomba em cima do garoto!

–Tá, talvez tenha razão mas se ele nunca mais quiser olhar ‘pra mim?

–Ele tem todo o direito, mas uma hora passa, não é? Já tivemos brigas piores e mesmo assim eu estou bem aqui te ajudando no seu “relacionamento” então para de arranjar desculpas! Cacete! – mesmo as palavras soando de forma fria a garota Campbell tinha um pequeno sorriso no rosto, em partes entendia o temor do melhor amigo – agora vamos, Sal acabou de mandar mensagem, está nos procurando, ou melhor, procurando você

Instantaneamente um sorriso bobo brotou nos lábios de Larry, era evidente o quanto o Johnson estava apaixonado pelo azulado, Ash se perguntava o por quê de Sally ter demorado tanto para notar aquilo, era tão evidente!

[...]

–Hey! Sal! – a voz animada de Ash preencheu os ouvidos do azulado que tomou um leve susto, estava no refeitório da faculdade já que infelizmente às aulas haviam começado, o lugar estava praticamente vazio por exceção de uma ou duas almas estudantis que vagavam por ali

–E aí gente – respondeu baixo e calmo virando-se na direção dos dois amigos – naquele dia Sal estava vestido de uma forma diferente do normal o que causou certo espanto para os dois que frequentemente o viam com calças rasgadas e uma blusa de frio

–Você ‘tá diferente... – Larry pensou um pouco alto demais e logo completou – Não que isso seja ruim, óbvio, está muito bom, não é Ash?

–Claro, é sempre bom mudar de vez em quando!

–Valeu gente, apesar de que eu ainda me sinto estranho com o cabelo desse jeito – Com os dedos finos Sally puxou a ponta do rabo de cavalo que havia feito naquela manhã, novamente havia perdido um de seus prendedores, com preguiça de procurá-lo apenas prendeu o extenso cabelo azul em um rabo de cavalo alto com o único prendedor disponível – as roupas, bem, eu só acordei um pouco mais cedo e consegui me arrumar com mais calma, mesmo assim eu cheguei atrasado na aula da professora de estruturação musical e ela me expulsou da sala – Sal puxou levemente o tecido do macacão jeans azul escuro que usava, a peça junto com a camisa branca lisa e os tênis de cano médio de cor vermelha deixavam o garoto semelhante a um adolescente de 15 anos. A altura também não ajudava muito – e vocês?

–Matando aula – ambos responderam em uníssono. As aulas tinham acabado de começar mas ninguém ali tinha sequer a mínima vontade de ficar dentro de uma sala de aula por mais de vinte minutos, quem dirá quase uma hora

–Hey Sal, você ainda tem recebido aquelas flores? Faz tempo que não te vejo andando por aí com um arranjo maior que você – cutucou Ash, Larry quase engasgou, o moreno lançou um olhar afiado para a amiga que apenas sorriu sacana

–Sobre isso, eu ‘tava planejando conversar com a senhora Rosenberg, talvez se eu pedir muito ela me dê uma pista sobre quem é, eu sinto que talvez seja alguém próximo ou amigo de alguém próximo, no começo a pessoa sempre mandava os meus chocolates preferidos, o que era algo muito específico até, e agora flores, com alguma espécie de padrão de significados. É um pouco bizarro, eu também ‘tô ficando muito curioso

–E-E o q-que vai fazer quando descobrir? – Larry engoliu em seco, começando a ficar nervoso e extremamente preocupado, sabia que não tinha como escapar, uma hora a verdade teria que ser contada

–Não parei ‘pra pensar nisso, talvez eu só afaste essa pessoa de perto de mim, alguém que se esconde durante tanto tempo atrás de presentes caros não merece minha confiança, eu sinto como se estivesse sendo comprado! Eu sou uma pessoa! Isso me machuca um pouco, não são chocolates e flores que vão me fazer corresponder algum sentimento! – Sal dizia cada palavra com firmeza, parecia realmente muito sério, o azulado estava chateado e até puto pela remota chance de no fim aquilo não passar de uma brincadeira ou até uma aposta sem graça como já tinha visto em alguns livros – Além do mais eu já... Eu já gosto de alguém então não tem sentido continuar com isso – Sal olhou rapidamente para Larry e abaixou a cabeça sentindo seu rosto ferver e seu estômago embrulhar. Larry por outro lado se sentiu extremamente feliz e terrivelmente preocupado e arrependido, maldita hora em que decidiu entrar de cabeça naquele plano, era tão mais fácil simplesmente chegar no azulado e aos poucos ir ganhando seu coração

Bom, talvez fosse aquela fosse a hora, poderia se arrepender muito ainda mais se o Fisher saísse correndo enquanto lágrimas caiam de seu rosto por de baixo da máscara igual como vinha projetando em sua mente toda vez que pensava no assunto

Ignorou o aperto em sua barriga e suspirou, contou até três mentalmente para tomar coragem de dizer aquelas palavras

“Sal, precisamos conversar”

–Eu vou procurar a Rose, preciso acabar com isso de uma vez – a voz de Sal quebrou o segundo de silêncio que havia se instaurado, os passos apressados e barulhinho irritante da sola dos tênis se arrastando no chão deixaram Larry em estado de pânico – até mais gente!

–Puta que pariu, o que a gente faz? Se a Rosenberg abrir o bico com certeza você vai rodar, na verdade NÓS vamos rodar já que eu tô no meio dessa bagunça também, era sempre eu que dava os chocolates ‘pra velha entregar – Ash passava as mãos no cabelo curto de forma nervosa – vamos seguir ele, qualquer coisa a gente, sei lá, faz mimica de longe pra ela manter aquela boca fechada, vamos! – A garota puxou o amigo pelo pulso que havia se tornado uma estátua, ambos andavam em uma distância consideravelmente longe para que Sal não notasse nada, as pessoas que transitavam pelos corredores olhavam aquela cena engraçada, Sal sendo seguido pelos dois amigos como uma cena de desenho animado, vez ou outra o Fisher olhava para trás e ambos tentavam se esconder como podiam e logo voltavam a seguir o azulado na pontinha dos pés como dois espiões

Logo Sal se encontrava de frente com a porta de madeira que dava acesso a biblioteca da faculdade, Sal empurrou com cuidado a mesma e adentrando o local, logo atrás Ash e Larry fizeram o mesmo. Escondendo-se entre as prateleiras viram o garoto esperando pacientemente no balcão onde Rosenberg deveria estar

–Porra, cadê ela? – sussurrou o Jonhson, extremamente ansioso

–Deve ter saído, vamos esperar, espero que ela tenha decidido faltar hoje! – respondeu a Campbell – tem alguém indo em direção ao balcão vamos tentar chegar mais perto – sorrateiramente ambos avançaram até outra prateleira com livros grossos e pesados que ficava mais perto do balcão de Rosenberg porém se Sal decidisse olhar para trás veria os dois patetas

–Olá senhorita, gostaria de emprestar algum livro? – um simpático e animado homem usando um suéter e uma gravata borboleta ridícula falou em tom animado até olhar melhor para Sal e sua expressão mudar, provavelmente intimidado pela máscara protética, sua expressão agora era um misto de medo e mais alguma coisa que Sally não soube identificar, já estava acostumado com a reação das pessoas à sua prótese

–Sim, sim já tenho! Ah... poderia me dizer onde está a antiga bibliotecária daqui? Uma senhora baixinha e de cabelos brancos – Sal disse de forma calma

–A senhora Rosenberg? Desculpe a curiosidade mas por que a procura? – O homem franziu as sobrancelhas grossas e fez uma careta – você é algum tipo de psicopata? Olha eu vou chamar a polícia se não se identificar e tirar essa coisa – ameaçou o homem apontado o dedo na cara do azulado que recuou para trás assustado

–Esse filho da puta! Eu vou quebrar a cara desse infeliz! Não me segura Ash! – Larry tentou andar até o homem mas fora impedido pela mão da amiga segurando fortemente seu pulso e cravando as unhas longas na pele

–Não vai nada, depois você se vinga, agora fica quieto caralho – Ash sussurrou pondo o dedo indicador em frente aos lábios sinalizando para que o moreno ficasse em silêncio e voltando a prestar a atenção na cena

–Foi mal mas eu não posso, eu... huh... tenho uma doença e não posso tirar a máscara por tempo indeterminado, desculpa se te assustei – Sal tentou soar convincente, não estava com vontade de contar o motivo real que o fez usar a prótese

–Sei... – O homem de gravata borboleta não parecia convencido com a resposta, ainda tinha uma carranca na cara e um tom ríspido na voz – A senhora Rosenberg foi demitida, não me venha perguntar o porquê eu não sei o motivo, garoto estranho – o engravatado cruzou os braços olhando feio para Sal – mais alguma coisa?

–Não, obrigado pela informação – Sal suspirou derrotado e virou-se de costas para ir embora, cruzou o caminho do balcão até a saída e quando finalmente saiu da biblioteca encontrou Ash e Larry se abraçando parecendo comemorar algo, estavam tão felizes que até se passou na cabeça do Fisher que haviam de repente ganhado na loteria ou algo assim

Seus amigos eram um pouco estranhos às vezes...

–O que aconteceu? – perguntou o garoto de cabelos azuis

–Nada! Então como foi com a velha Rosenberg? Ela te disse alguma coisa? – Ash tentava aparentar curiosidade mesmo sabendo o que havia acontecido com a bibliotecária, não podia deixar Sal suspeitar que estavam logo atrás dele ouvindo seu estranho diálogo com o arrogante homem

–Ela foi demitida... Droga! Agora minha única chance de descobrir quem é o admirador foi embora! O que eu faço? – lamentou o azulado

–Não fique assim carinha, se ela foi embora então significa que não vai ter mais com o que se preocupar, quem sabe até essa história de “admirador secreto” também fique pra trás, bem, que tal irmos tomar sorvete? – Disse Larry animado tentando disfarçar sua euforia brincando com o cabelo de Sal que revirou os olhos e cruzou os braços

–Não depois do show que você deu lá durante às férias – murmurou o azulado ainda muito decepcionado por não ter conseguido encontrar as respostas para sua pergunta e de quebra ainda havia sido destratado pelo bibliotecário novo

–Que show gente, do que vocês estão falando? – indagou Ash confusa alternando seus olhares entre o azulado e o moreno – Larry García o que você fe-

–Jovenzinhos! – uma quarta voz muito familiar foi ouvida, deixando Larry e Ashley petrificados instantaneamente – quanto tempo, não? – sorriu levemente a senhorinha enquanto andava lentamente com ajuda de sua bengala até os três

–Senhora Rosenberg! O que faz aqui? – perguntou Sal indo ao encontro da amiga – aquele homem estranho que se diz o novo bibliotecário disse que havia sido demitida, o que aconteceu?

–A idade meu querido! A idade me aconteceu, já estava na hora de descansar um pouco não acha? Não tenho mais trinta anos, ficar em pé o dia todo atrás de um balcão velho não é mais para mim – a velha senhora esticou o braço para fazer um leve carinho no alto da cabeça de Sally – o que estão fazendo? Se o bibliotecário novo vê vocês fazendo algazarra na frente da biblioteca com certeza vão arranjar problemas, aquele homem só parece gentil mas é tão ranzinza e preconceituoso quanto um velho de noventa anos

–Vim procurar você Rose!

–O que houve jovem Sally?

–Olha, Rose, eu sei que você diz que não é algo da sua conta e que eu deveria deixar tudo acontecer ao seu tempo mas eu não posso mais esperar, por favor, me diga quem é o meu admirador

–Sal, eu sou apenas um canal pelo qual ligo você até seu admirador, não tenho o direito de dar esse tipo de informação se a pessoa não se sente confortável o bastante para lhe procurar e esclarecer as coisas, sinto muito...

–Rose, por favor, eu entendo que não queira se meter nisso mas tem mais alguém que eu não quero magoar, tudo depende de você!

–Não entendi, de quem está falando Jovenzinho? – Rose franziu o cenho

–E-Eu gosto de alguém, e de certa forma nós estamos envolvidos, mas eu não me sinto bem recebendo esses “presentes”, veja, por um lado eu recebo tudo que a pessoa me envia sem reclamar mas por outro tenho medo de machucar a pessoa que eu gosto, eu sinto que é errado você gostar de alguém e ao mesmo tempo receber coisas de outro que também está interessado em você, isso de alguma forma acaba pegando mal, você entende?

–Sua lógica é confusa Sally mas eu acho que entendo... – Rosenberg fez uma pequena pausa, olhou Sally de forma carinhosa e desviou o olhar para Larry e Ash e então soltou uma pequena risada – tudo bem, você venceu mas é só por que tenho muita afeição por você jovem Sally e não quero que arranje problemas com essas questões amorosas, elas são muito complicadas! – sua expressão ficou séria de uma hora para outra – preste atenção...

Era a hora, Sal se sentia estranhamente ansioso e apavorado, tinha medo de ser alguém que estava de baixo do seu nariz aquele tempo todo ou ser alguém que nunca sequer ouviu falar, bem, era a hora

E ali do lado estavam Ashley e Larry que sentiam que suas vidas estavam por um fio, maldita seja a hora que colocaram aquele plano idiota em prática, Ash pensava em formas de se desculpar com Sal e tentar amenizar a situação, agora entendia completamente o desespero e o medo que Larry sentia toda vez que o pressionava a contar a verdade

O Jonhson havia paralisado e seus sentidos haviam parado de funcionar, sua mente estava num estado caótico de pânico e medo

Se perguntava quanto tempo Sal ficaria longe de si até o sentimento de decepção passar, isso se chegasse a passar...

–Escute Sally, infelizmente eu não sei o nome do seu admirador, terá que encontrá-lo sozinho, ele também nunca se identificou para mim – mas o que posso dizer é que é um estranho rapazinho loiro que parece que está sempre com raiva de Deus e do mundo!

–Loiro? Não tem mais algum detalhe que ajude Rose, por favor!

–Huh, vejamos... Ah Sim! Ele sempre anda com um colar com pingente em formato de cruz no pescoço e várias vezes veio emprestar livros da sessão de teologia! E parando para pensar, lembro de escrever seu sobrenome na lista de livros que não foram entregados no prazo de devolução! Vejamos... Helps? Elvis? Melvis?

–Phelps... Travis Phelps...

–Isso! Você o conhece? – aos poucos a voz doce de Rosenberg foi sumindo e Sal sentia algo sufocar seus pensamentos, seus sentidos, tudo, até não conseguir ver ou ouvir nada. A última coisa que ouviu foi a voz de Larry gritar o seu nome e então tudo se tornou escuro

Travis Phelps era seu admirador o tempo todo?