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História Boss - Dois corações


Escrita por: AllyMannEvans

Notas do Autor


Oooie! Tudo?
Demoreeeeei, sim, demorei! Mas entrego para vocês um capítulo de quase 5000 palavras. Ó, bastante! Uahushuahus! Pior que nem tenho muita justificativa além de estar super ocupada. Mas resolvi tomar vergonha na cara e postar esse capítulo hoje! Quero agradecer pelos comentários do capítulo passado e eu espero muito que vocês gostem desse capítulo! Não vou ficar me encolando muito por aqui porque eu sei que vocês devem estar muito ansiosos para ver qual vai ser o resultado da conversa entre Draco e Hermione.

*Devo dizer que Boss vai ter no máximo mais dois ou três capítulos? Devooo! Sim, Boss tá acabando, gente! Depois de dois anos escrevendo já suahsuahuash

* Espero que gostem desse capítulo! Obrigada por tudoo! Beijão! Comentem, compartilhem, favoritem, essas coisas! Yahahuhsuas!

Atéééééé!

Capítulo 25 - Dois corações


Na noite que antecedeu o dia 02 de junho, tive dificuldades de dormir. Mesmo sabendo que ambos estávamos seguindo nossa vida, a memória do anúncio da entrevista de Hermione me assombrava a cada tentativa de pegar no sono.

Sempre que fechava o olho, um fragmento de algum momento com ela vinha na lembrança e me lembrava do quão frustrante era ser dependente emocional e fisicamente de uma pessoa que não dependia de ti.  

É como uma abstinência constante. Eu sigo em frente, eu tenho Astória. Mas ela está lá, me cutucando. Pesando ek minha mente, não deixando meu coração em paz.

Quando percebi, já estava divagando nas muralhas de Hogwarts novamente. Lembrando de como a conheci. Lembrando de tudo que disse, tudo que deixei de dizer.

Tudo que poderia ter dito até o presente momento.

Será que seria diferente se eu tivesse tentado mais? Arriscado todas as minhas fichas em uma aposta que valia meu coração?

Que piada. Como posso apostar meu coração se ele já estava ganho?

Sei que no final não dormi. Frustrado, levantei da cama e saí de casa decidido que não voltaria até o fim do meu turno. Precisava ocupar minha mente e aquele cubículo não me ajudava em nada.

Olhando meu celular, percebo duas coisas que não havia notado até então por estar ignorando minha realidade: são quatro da manhã e durante o dia Astória me ligou cinco vezes.

Por estar tão ocupado com o pensamento em Hermione e sua entrevista, esqueci de Greengrass. Não falei com ela, não combinei encontro, ignorei sua existência. A última ligação havia sido às 23 horas, provavelmente antes de dormir.

Suspiro. Gostaria de sentir por ela tudo que sinto por Hermione. A raiva me consome por instantes. Eu não tenho moral para falar nada quando estou com Astória, mas ela precisa mesmo mostrar para o mundo que está bem e seguindo em frente?

Jogo no chão o conteúdo da garrafa de água que havia comprado numa daquelas lojas de conveniência 24/7. Ele se espalha aos poucos de acordo com a nivelação do solo, deixando-se levar pelos fatores externos.

Respiro fundo. Brilha em minha frente o outdoor de uma joalheria renomada em Londres. O sorriso de minha mãe é minha lembrança de quando ela me contara das tradições da família Malfoy de dar um anel para a mulher a quem se deseja assumir um compromisso.

Como a água que deixa-se levar pelo caimento do solo, decido que devo me deixar levar pelo que minha vida me oferece.

E no momento, a vida me oferece duas opções que se baseiam em duas mulheres:

A primeira delas, é largar Astória por amar Hermione e correr atrás de um caso que já está perdido com uma mulher que já seguiu em frente.

A segunda delas e seguir em frente como Hermione fez, com uma mulher que não amo, porém posso aprender a amar.

A fala seca e fria de Hermione ecoa em minha mente como um mantra que deve ser levado a sério. Ela quer que eu siga minha vida sem ela.

Seguir sem ela é estar com Astória.

O Big Ben bate cinco horas. Meu expediente começa às 07:30. As lojas abrem às nove. Ligo para Luna, que está cobrindo a noite, e peço se ela pode me cobrir por mais três horas.

Ela afirma que sim, mesmo em confusão.

    A família Malfoy exige um anel, e é isso que Astória vai ter. Vou pedí-la em namoro hoje.

    Preciso seguir em frente.

 

    ***

 

    Chego ao hospital com a caixinha nos bolsos e o coração na mão. Luna não me faz perguntas. Consigo ver em seus olhos o quanto está cansada e sem vontade alguma de conversar. Antes de ir embora dou um beijo em sua testa e um longo abraço como forma de agradecimento, mas vejo que ela não retribui com muita vontade.

    - Algum problema? - pergunto com certo receio, no que ela me olha com pesar.

    - Você deveria perguntar se há algum problema a si mesmo depois de mostrar essa caixinha para a mulher errada. - ela responde e percebo que está magoada.

    Não respondo. Sei que ela fala isso com razão. Enquanto pega sua bolsa e vai embora, encaro suas costas tentando ignorar a sensação de que não eram as únicas costas que eu encararia no dia.

    Pego a caixinha aveludada e abro ainda frustrado com toda a situação. O anel é lindo, mas o simples ato de olhá-lo me deixa enjoado de estar fazendo isso com Astória. Ele contém safiras inscrustadas em diamantes e custou uma fortuna.

    Procuro não pensar nisso para não acabar pensando merda. Fecho a caixa e pego o plantão que Luna me passou rapidamente. Aparentemente, a noite foi tranquila. Só preciso checar como os pacientes estão e examinar Caroline para ver se ela já está apta para sair.

    Sorrio. É dela que estou precisando.

    Saio do corredor e me encaminho para minha sala para me ajeitar para o expediente. Quando abro a porta, a primeira coisa que decido fazer é colocar um café para passar.

    Olho a máquina preta de porte médio que está em cima do meu balcão ao lado dos potes de bolacha (que a Sra. Weasley me mandou), e não consigo evitar ter um certo déjà vu. Será que se as coisas fossem diferentes eu estaria fazendo café para nós dois no escritório dela agora? Ou ela estaria em reunião?

    Com embrulho no estômago, me pergunto como anda a entrevista dela e se ela já achou algum candidato que se assemelhe a mim.

    Fecho os olhos tentando apagar tudo e apertando o botão que inicia o barulho típico que é comum para quem passa café sempre. Por um momento tenho vontade de chorar. É tão triste pensar que essa é minha vida agora. Fingir que ela não existe. Fingir que nada aconteceu e seguir em frente.

    Mas em vez de chorar, dou risada da minha desgraça. Uma risada fria e puramente irônica. Sento em minha cadeira de escritório e, pela primeira vez em anos, sinto o mesmo sentimento que o Draco do sexto ano sentiu quando percebeu o quanto havia desgraçado a sua vida quando viu Dumbledore, a pessoa que poderia ter o levado para o lado bom, morrendo na sua frente.

    Respiro fundo olhando os papéis a minha frente e analisando os pacientes que eu tinha para o dia. Cerca de vinte pacientes, todos com problemas mais leves exceto Lucia Parker, a vítima de estupro que continuava tendo crises contínuas na psiquiatria.

    Lidar com isso deve ser horrível. Estar na presença dela já te deixa revoltado com tudo que está acontecendo e você simplesmente quer que essas pessoas desapareçam junto com o sofrimento dela. Ela pode até mesmo seguir em frente, mas a lembrança disso vai ficar para sempre em sua memória como uma abstinência mil vezes pior do que Hermione é para mim.

    Lucia Parker. 28 anos. Carreira promissora, uma mulher guerreira, mãe solteira com uma filha de dois anos que está em uma casa de passagem até sua recuperação que não sabemos quando vai ocorrer. Ela está sozinha no mundo. Fugiu de casa aos catorze, pai abusivo, mãe controladora.

    Era o que diziam os jornais.

    Pensá-la em uma cama delirando me deixa indignado. Se é verdade que ela passou por tanta coisa, por que a injustiça de colocá-la em tal situação? Por que deixar uma criança sozinha? Se a força superior que nos rege é justa, por que faz isso?

    Cerro os punhos tentando regular minha respiração enquanto retiro seu formulário e passo para os dados de Caroline. Os olhos verdes da garota me encaram em sua foto séria. Se vi Caroline sorrir com sinceridade alguma vez, deve ter sido no máximo por dois segundos. A garota é séria e teimosa.

    Constato que se ela realmente estiver pronta para ir embora, vou precisar me despedir de uma parte crucial da minha adaptação no hospital. De longe, minha favorita. Fico feliz que ela vá embora, agora que as aulas estão quase acabando. Ela perdeu boa parte do ano escolar por causa do jogo violento que é o quadribol.

    Egoísmo da minha parte pensar assim, mas mesmo estando contente por sua recuperação, eu gostaria que ela ficasse mais um tempo. Quando estava entediado no expediente e sem nada para fazer, peguei o costume de visitá-la para conversar. Até mesmo os pais de Caroline simpatizaram comigo após um tempo.

    Me despedir dela vai ser difícil, como despedidas sempre são.

    Pego a prancheta e olho para a cafeteira, que não encheu nem metade do jarro. Que máquina demorada. Suspiro saindo da sala com a papelada e indo para os imensos corredores do hospital. Essa é a pior parte do meu trabalho. Andar nos corredores.

    Sinto que esse lugar presenciou tanto sofrimento e angústia que é onde toda a tensão de quem sofreu se encontra. Os corredores longos e largos, que refletem bem a luz e toda a frigidez alva. Tento me desconcentrar dessa parte, mas é geralmente bem complicado.

    Faço minha rotina rotineira, que dura geralmente duas horas até examinar todos. Sempre pensando no meu café esfriando na sala. Sou simpático, claro. Mas meu café sempre fica na cabeça.

    - Bom dia, Sra. Ruth. Como vai o seu marido hoje? - pergunto animado com meu estetoscópio em mão apertando de leve a mão do senhor com Mal de Parkinson que tinha dificuldades até mesmo para se comunicar.

    - Está tremendo mais que ontem. Adam, diga oi ao Draco.

    - Ah, mas ele está me dizendo oi com esse aperto de mão. Né, Adam? Essas mulheres não entendem nosso cumprimento!

    Ouço a risada de Ruth e o sorriso frouxo de Adam que não conseguia exprimir mais que alguns sons estranhos que interpretei como uma risada. A doença já está tão avançada que se fez necessário trazê-lo ao hospital pois não conseguiam mais cuidar do senhor em casa.

    Ela, sempre bem ajeitada e simpática fez amizade rapidamente comigo. Ele, meio desajeitado, mas de sorriso fácil, me encantou facilmente de forma que me dediquei totalmente ao caso, fazendo somente de Luna a outra médica responsável por ele.

    E assim os minutos vão passando. Aos poucos passo por todos os pacientes, até chegar na que eu sempre deixo por último para deixar a minha experiência com outros mais leve. Caroline.

    Quando abro a porta, ela está sozinha como a maioria das vezes que a encontro. Raramente se encontra com seus pais, que eu já havia esbarrado pelo quarto umas cinco ou seis vezes. No geral, está sempre sozinha acompanhada de algum livro ou jornal.

    Ela me olha com um sorriso maroto, e sei que está com algo ácido na ponta da língua. Respiro fundo. Coloco a prancheta entre os braços quando os cruzo, no pé da cama, encarando seus olhos esverdeados como os de Potter.

    - Bom dia, Andrews.

    - Bom dia, Malfoy. Parece cansado. - debocha.

    - É, cuidar de você cansa.

    - Especialmente no dia 02 de junho, não?

    Eu disse. Ácida. Estava na ponta da língua, ensaiado desde o dia anterior provavelmente só para zombar da minha situação. No fundo, fico feliz que ela tenha o feito. Alivia um pouco a tensão que a entrevista de Hermione me causa.

    - Cale a boca, Andrews. - murmuro, pegando o aparelho de pressão para começar a checagem e poder almoçar finalmente.

    - Olha como trata seus pacientes, Malfoy. Quer ser demitido? - ela faz piada me olhando nos olhos.

    Dou risada enquanto reviro meus orbes. Quando ela se cala, percebo que fica tensa. É minha vez de dar risada.

    - Você deixa tão óbvio o quanto vai sentir minha falta que é até engraçado.

    - Então eu realmente vou embora? - ela pergunta com um tom mais esperançoso do que eu pensei que soaria.

    - Sim. Você está boa, seus exames deram tudo certo, sua pele está ótima, sua pressão melhor ainda. Quando seus pais chegarem, é só avisar pra eles que eles precisam assinar os papéis na minha sala antes de ir embora.

    Ela assente quieta, puxando o lençol mais para cima e olhando para os próprios pés enquanto mexe inquietamente em seu cabelo volumoso e cutuca o cílios de forma a alongá-los.

    - Está tudo bem? - pergunto.

    - Quero fazer a diferença. - ela fala antes mesmo que eu possa terminar a pergunta direito - Quero fazer a diferença no mundo. Tá, olha. É bem difícil falar isso para mim, mas eu preciso. Eu posso parecer essa chata que está sempre reclamando e se achando a melhor em todas as situações, mas você me fez melhorar um pouquinho nesse tempo que fiquei assim,

    - Carol, não estou…

    - Quieto. Espero que não haja outra guerra para que determinadas pessoas sejam louvadas depois como as melhores, porque você me mostrou que tanta gente foi importante mesmo sem aparecer nos livros. Eu quero fazer a diferença no mundo, mas eu queria fazer algo grandioso. Mas aí você veio e me deixou confusa porque já estava mudando o mundo só dando a cara a tapa para ajudar os outros. Você não fez nada que Harry Potter fez, mas foi tão grandioso para mim. Você é especial, Draco. Eu estou triste de ter que sair daqui, mesmo estando feliz por voltar para Hogwarts. E como você conseguiu mudar um pouquinho de quem eu sou, eu gostaria de fazer o mesmo por você. E eu não achei nada significativo que eu pudesse te dar, então vou te dizer o que todo mundo já deve ter te falado, mas que tu ainda não deve ter ouvido: corre atrás dela, porque só assim você vai ser totalmente feliz. E é isso que eu quero ver em você: felicidade. A felicidade que você merece.

    Não tenho palavras para respondê-la. Sorrio um pouco emocionado. Não posso ter um relacionamento próximo com paciente algum, então me obrigo a me recompor enquanto a encaro. Bagunço de leve seus cabelos e dou um risada.

    - Se puxou nessa, Andrews. Não costumo ser puxa-saco de Gryffindor, mas volte pra Hogwarts e mostre quem você é, garota. Você acaba com eles em dois segundos com a sua garra. Eu vou lembrar e pensar do que me disse com carinho, okay? Apareça mais tarde na minha sala para eu me despedir.

    Bagunço um pouco mais seu cabelo e me viro para sair. Não olho para trás por um único motivo: há lágrimas em meus olhos.

 

    ***

 

    O dia passou rapidamente e, admito, de forma entediante. Tomei três xícaras de café enormes e fiquei a maior parte do tempo pensando no que posso fazer para pedir Astória em namoro. Às 17 horas, um telefonema me desperta de meu próprio devaneio em um salto. A xícara de café se encontra cheia na mesa, intocada e fria.

    Há uma mulher na recepção querendo falar comigo, é o que a recepcionista irritante fala na linha. Respiro fundo, aceitando seja lá quem for já que o trabalho não está rendendo.

    Não há nomes.

    Nos cinco minutos que a pessoa demora para chegar até a minha sala, fico pensando em quem pode ser. A primeira pessoa que me vem em mente, obviamente, é Gina.

    Mas Gina sabe exatamente onde é a minha sala e não demora praticamente até chegar lá. Descarto a possibilidade.

    A segunda pessoa que penso é na Sra. Andrews, mãe de Caroline. Mas ela passa direto para o quarto da filha, não precisa ir na minha sala primeiro. Descarto quase que imediatamente.     

    A terceira e última pessoa que penso que pode ser é Astória. Logo me lembro que não havia atendido nenhum telefonema dela no dia anterior e que muito provavelmente ela deve ter ficado preocupada comigo e saído do trabalho mais cedo.

    Desisto da ideia ao ver a sombra dos pés da pessoa na porta sem entrar por um bom tempo. Fico nervoso. Seja lá quem for do outro lado, está enfrentando uma luta enorme para empurrar a madeira e entrar finalmente na minha sala. Começo a ficar preocupado. Será notícia ruim?

Quando o trinco da porta baixa, fico apreensivo e logo após fico confuso. A cabeleira de Hermione é a primeira coisa que vejo, seguido de seu corpo definido e suas roupas elegantes provavelmente por causa da entrevista. Meu coração para. A encaro surpreso sem saber bem o que dizer.

Ela parece nervosa. Morde os próprios lábios e esfrega as próprias mãos em seu vestido. Ela está tão linda. Por um momento, acho que eu havia esquecido na extrema beleza dela. Respiro fundo, tentando me recompor. Abro a boca para falar alguma coisa, mas não sai nada.

Felizmente, ela fala.

- Belo trabalho na… Decoração. - consigo perceber claramente o nervosismo em sua voz quando aponta trêmula os quadros na parede.

- Gina me ajudou. - respondo rápido, sentindo um pouco do nervosismo passar e vindo a confusão - Posso saber a que devo a honra?

Ela assente, ainda esfregando as próprias mãos no vestido.

- Deve. - falar a palavra parece um sacrifício para ela - Eu poderia ter escolhido uma hora melhor, certamente.

- Com certeza. - sinto a raiva nas minhas palavras - Pensei que tivesse uma entrevista de emprego para me substituir hoje.

- É. A entrevista acabou. - ela responde - Eu… Eu não deveria ter vindo, né? Foi impulso.

- Agora você vai falar. - respondo ao perceber o intuito de ela ir embora - Não conseguiu achar ninguém bom o suficiente?

- Eu não queria falar sobre a entrevista. Eu queria… Eu acho que… Eu deveria falar com você depois de todas as vezes que ignorei as suas tentativas.

- Pensou depois de seis meses? - dou um risada seca.

- Acho que você deve ter notado que eu não estava em mim. Eu precisava de um tempo para pensar, Draco. Voltar a ser eu mesma.

A encaro e não consigo acreditar que isso está acontecendo. Depois de tanto querer que ela fale comigo, tudo que consigo sentir é raiva por ela vir aqui, no fim do meu expediente, embaralhar a minha mente no dia que quero pedir Astória em namoro.

- Eu realmente não estou entendendo o motivo de você estar aqui até agora, me desculpe.

Ela respira fundo, passando a mão no cabelo e levantando consequentemente um pouco dos seios, me fazendo olhar para a área. Me lembrei da enorme cicatriz que Luna disse que há nessa região. Por momentos, acalmo um pouco minha ira.

Observo suas ações. Ela está uma pilha de nervos. Aparentemente, fez tudo por puro impulso, sem pensar bem no que me diria quando chegasse aqui. Vejo seus olhos já começarem a lacrimejar quando ela coloca a mão na frente dos pŕoprios lábios trêmulos e deixar algumas lágrimas caírem antes de começar a falar as palavras que param meus coração.

- Eu sinto sua falta. Eu preciso falar. Eu demorei para entender, e eu sei que agora você já está seguindo em frente. Mas eu preciso falar, eu não posso deixar isso dentro de mim. Depois do que aconteceu com Ronald, eu fiquei em pedaços. Eu não conseguia aceitar a mim mesma, muitos menos os outros que estavam ao meu redor. Para mim, todos vocês tinham contribuído para eu ser a pessoa fraca que eu havia me tornado depois de tudo. Eu demorei para perceber que a proteção de vocês foi na intenção de me poupar de todas as coisas, por mais errado que isso tenha sido. Eu passei por uma frase tão sombria, Draco. Eu continuo passando. Mas eu precisava de um tempo para mim, e você ficava tentando pressionar para que eu esquecesse coisas que eu não conseguia tirar da minha cabeça. Coisas como o quão bela Astória é, como eu fiquei feia depois do que aconteceu. Coisas como o quão bonitos vocês ficam juntos. Você consegue entender o quanto isso doía em mim? Pensar em todas as coisas que eu estava perdendo por causa de um homem. Minha confiança em mim mesma! Aí você vinha, e do jeito que você falava tudo parecia tão fácil. Mas para mim não era! Para mim aquilo estava me remoendo até o último pedaço, como se eu estivesse me afundando lentamente em uma piscina de ácido. Quando você se demitiu, meu mundo acabou por um tempo, mas recomeçou. Eu consegui tirar esse tempo para mim mesma. Eu via você seguindo em frente, e eu consegui ter os meus avanços próprios. Agora eu percebo tudo que vocês fizeram por mim. E eu quero agradecer, mesmo depois de tudo que eu falei, mesmo depois de ter magoado vocês profundamente com minhas ações. Eu tomo responsabilidade por elas, mesmo sabendo que meu estado emocional não permitia a eu agir como normalmente eu agiria. Mas agora eu entendo.

Ela fala tudo com uma rapidez até mesmo um pouco complicada de entender. Ao mesmo tempo que fala, as lágrimas rolam sobre seu rosto, mas consigo sentir que ela está se libertando. Ao passo que ela se liberta, algo pesa em minha mente. O anel de Astória em meu bolso. Lacrimejo também olhando para a mulher com quem eu passaria a eternidade sem pestanejar.

- O que você quer de mim, Hermione? - sussurro, deixando lágrimas caírem também e bagunçando meu próprio cabelo - Você me fez implorar por meses. Meses. Praticamente indo aos seus pés. Eu deixei claro para você que eu não queria Astória, era você que eu queria. Mas você me humilhou como ninguém nunca havia feito comigo. Agora eu estou seguindo em frente e você vem novamente, você me assombra, você não me deixa seguir com minha vida. O que você quer de mim, merda?!

- É a maior hipocrisia e o meu maior egoísmo, mas eu quero que deixe ela. - ela fala séria, limpando as lágrimas e olhando em meus olhos profundamente enquanto se aproxima - Eu sei que ela demonstra o que sente por você, ela é bem menos complicada que eu, ela nunca te humilhou e honestamente, ela tem tudo que eu não tenho. Mas, Draco. Se só por um momento, você acha que vale a pena desistir do que você construiu com ela esse tempo todo enquanto esteve longe para ficar comigo, então eu te peço que desista. Eu prometo que serei boa. Eu prometo que conseguiremos juntos. Mas, por favor, dê a nós dois mais uma chance. A chance que nós não tivemos. A chance que você não me deu em Hogwarts e a chance que eu não te dei agora. Vamos tentar uma última vez, por favor. Se você acha que vale a pena, então vamos tentar.

Encaro seus olhos cor âmbar, e percebo que a Hermione Granger forte continua ali em algum lugar, se reconstruindo aos poucos. Lembro do que Caroline e Luna disseram sobre o problema não ser comigo e lembro da mudança repentina no guarda-roupa de Hermione. Sinto algumas lágrimas caírem.

Não consigo evitar pensar que essa é a mulher que eu sempre quis, ali, na minha frente. Passaríamos pelos altos e baixos, superaríamos tudo. Consigo ver a mim mesmo acordando ao seu lado, sem saber o que fazer sem ela.

Eu preciso dela. Respiro fundo, dando um passo para frente. Encosto minha testa na sua, fechando meus olhos e sentindo mais lágrimas caindo. Passo minha mão em seu rosto, sinto sua respiração próxima da minha. Seu cabelo macio em meus dedos parece a coisa mais certa a ter por perto. Consigo sentir nossos lábios roçando de leve, sinto sua pele macia na minha.

A empurro no último momento. Sua cara confusa me olha. Nego com movimentos da minha cabeça, colocando as mãos no rosto, sentindo a caixinha do anel pressionada contra minha perna. Droga.

    - Não posso fazer isso com Astória, Hermione. - digo com olhos úmidos, sentindo que essa é a fala mais dolorosa da minha vida - Ela esteve aqui quando precisei. Em todos os momentos que você virou a cara. Eu estava seguindo em frente, eu ia pedir ela em namoro hoje! Você não pode simplesmente chegar de volta na minha vida e fazer dela uma bagunça! Você não pode simplesmente me pedir para desistir dela, das coisas que eu estava conquistando com ela! Não, você não tem esse direito.

    - Draco… - ela sussurra - Por favor.

    - Astória é a mulher certa para mim. Ela foi boa. Ela não me tratou como lixo.

    A expressão de Hermione assume outro aspecto. Agora vejo humilhação com misto de tristeza.

    - Eu entendo. Astória é o sonho de qualquer homem, realmente. Não posso me sentir no direito de tirar isso de você. Ela é linda, alta, confiante, não tem cicatrizes. Ela não tem medo de usar os vestidos dela para matar, ela não tem medo de usar salto alto. - sua voz é interrompida por soluços - Astória é digna de um Malfoy. Desculpe te incomodar e chegar sem avisar na sua vida como você chegou na minha. Não vou interromper a sua vida com ela, Draco. Uma mulher como Astória é o que você merece. Não eu. Eu…

    - Draco, eu… - diz a voz de Caroline entrando alegre na minha sala sem bater na porta e se deparando com a cena que eu tenho certeza que não era bem o que estava esperando - Uau, Hermione Granger. Essa eu não tava esperando. Devo voltar mais tarde? - ela fala um pouco apreensiva.

    - Não. - diz Hermione limpando o próprio rosto, olhando em meus olhos e adquirindo novamente a postura dura de sempre - Já terminamos. - sorri para Caroline - Belos olhos. Tchau, Draco.

    São as costas de Hermione que eu encaro indo embora, tal qual foi com Luna mais cedo. Caroline não fala nada. Me olha séria e julgadora, como se não estivesse acreditando na minha capacidade de deixá-la ir.

    Nem eu acredito.

 

    ***

 

    Encontro Astória de noite na minha casa. Não que eu tenha chamado ela, ela que apareceu. Estava preocupada por eu não ter atendido ligação alguma em dois dias. Ela já havia notado que algo estava errado. Minhas respostas são vagas e os beijos a maioria esquivados.

    Agora, sentados um de frente para o outro em silêncio no sofá, penso no que Hermione disse na minha sala hoje, enquanto mexo na caixinha que está no meu bolso. Tento acalmar a respiração de todos os jeitos, mas parece que não adianta muito nessas horas.

    - Hermione apareceu no hospital hoje. - decido contar tudo para ela, talvez Astória possa me ajudar.

    - Ela pediu por uma chance. - ela fala de forma vaga, porém ainda assim precisa.

    - Sim.. - respondo, olhando em seus olhos e buscando por algum tipo de reprovação da parte dela - Eu não aceitei.

    Ela sorri olhando para um canto qualquer, manuseando seu copo de suco na mão e passando os dedos na ponta dos fios castanhos. Olha para mim.

    - Era o que você queria?

    - Eu não sei. - admito - Eu não conseguia parar de pensar em você.

    Ela suspira, sentando-se ereta e me olhando nos olhos.

    - Draco. Se não existisse a minha pessoa na história, o que você teria feito?

    Encaro no fundo de seus orbes que tentam, de todas as formas, tirar de mim uma resposta verdadeira que eu sei que ela já sabe a resposta, porque nós dois sabemos. Até ao escolher o anel eu havia pensado no que Hermione nunca escolheria, pois na minha cabeça pegar o que nunca seria dela seria desassociar toda essa história a ela.

    Mais uma piada que eu insisto em tentar me convencer que é engraçada. O simples fato de eu escolher algo que não tem a ver com ela já é associar minhas escolhas a ela.

    Tudo que me rodeia tem Hermione no meio. Desde um simples café até a escolha de um anel. Minha paciente preferida é uma versão dela mais nova, anúncios no jornal me lembram que não estamos juntos. Meus pulmões respiram Hermione Granger, e isso chega a ser um modo tão pessimista de pensar porque eu estou em falta de oxigênio. Isso me consome, isso dói em meu peito e me deixa à beira de um colapso.

    Apneia voluntária. Ela é o fôlego que me tira a dor. Eu amo Hermione Granger.

    - Eu teria aceitado.

    - Então não é comigo que você deve estar. - ela sorri tristemente - Eu não vou te prender e te deixar infeliz porque eu quero minha felicidade. Passarinho que amo, merece voar. Sai daqui, Draco Malfoy. É atrás dela que você deve ir.

    Olho para Astória emocionado. Agradeço pela pessoa incrível que eu coloquei do meu lado para abrir meus olhos. Não sei se poderei manter contato com ela depois disso, mas gostaria de ver todas as coisas boas acontecendo com ela, com algúem que a ame de verdade.

    Beijo sua testa, agradecendo por tudo e ficando um longo tempo a abraçando para expressar o quanto tudo que eu sentia por ela era verdadeiro.     

    Mas afinal, me equivoquei. Sobre Hermione, minhas divagações da noite anterior ante de comprar o anel foram as mais equivocadas possíveis.

Me equivoquei desde o início. Eu deveria ter arriscado sim em uma aposta que valia um coração. Deveria ter apostado todas as fichas e comprado mais quando elas tivessem acabado. Mas a recompensa não era meu coração. Era uma troca.

Um coração por um coração.

Amor em troca de reciprocidade.

 


Notas Finais


E aí? Gostaram? Deixem aí nos comentários o que acharam! Beijão!


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