História Boy Next Door. - Fim Da Primeira Fase.

"Sei que você pensa que não tenho coração. Sei que pensa que sou frio. Só estou protegendo minha inocência, só estou protegendo minha alma..."  — Too Good At Goodbyes — Sam Smith.

Naquele momento, eu percebi o quão difícil seria o dia em que eu deixaria Hoseok partir. Eu não tinha noção do quão grande era meu sentimento até estar ali, não tinha ideia de quanto o amava até vê-lo ali. E eu gostaria de poder medir em palavras, poder escrever em versos, transcrevendo meus sentimentos para o papel. Tenho total noção de que eu seria quem mais sofreria com nossa despedida, exatamente por ser o causador de nossa dor.

Tão forte eu era, tão fraco me tornei. O medo de não conseguir protegê-lo me consome cada dia mais, e é por este medo que eu devo fazer isso, não, é pelo amor que eu sinto por ele que eu devo deixá-lo ser feliz com alguém que realmente o mereça. Eu não sou o homem que eu gostaria de ser, eu não sou um homem que mereça este coração tão puro. Eu realmente desejo que ele não me odeie, apenas ressinta e que um dia ele possa, enfim, entender meus motivos para chegar a esta decisão. Estou caindo em letargia, afundando meu coração em remorsos e sentimentos dolorosos, eu só queria poder voltar ao dia que nos conhecemos. 

Meus olhos não conseguiram conter o peso das lágrimas, transbordando-as durante o beijo. Nossos lábios se envolviam, se completavam, se encaixavam como dois amantes feitos perfeitamente um para o outro. Ele era único e especialmente feito para mim, em momentos como este meus sentimentos egoístas me fazem pensar que talvez fosse melhor fugir, sair correndo daqui. Meus sentimentos egoístas me faziam pensar em mantê-lo para mim. 

A porta fora aberta de modo estrondoso, estava mais que óbvio quem era a visita escandalosa. Nos afastamos lentamente, olhos nos olhos, Hoseok sorriu para mim, um sorriso que aqueceu meu frio coração, um sorriso que me fez desmoronar. 

Suspirei frustrado, fazia dias que eu ansiava passar um momento a sós com ele, apenas para guardar em nossas memórias. 

Namjoon foi o primeiro a aparecer, colocando um arranjo de flores em cima da mesinha no canto da parede. O homem de cabelos esverdeados tinha um imenso sorriso no rosto, me senti invejoso ao constar o motivo de tanta felicidade. Já que atrás dele vinha um tímido Seokjin, uma marca roxa  no pescoço do homem era visível aos olhos de quem pudesse enxergar. Não que meu amigo não merecesse tal felicidade, eu apenas queria poder ser tão feliz quanto ele, sem medo.

— Hyungnim! - Hoseok gemeu baixinho ao ver a figura magra e rósea, o ruivo ergueu os braços como uma criança pedindo colo, estendendo-os na direção do homem. — Por que você demorou a vir me ver? Estava morrendo de saudades de você. - O lábios do homem formaram um bico. Hoseok me empurrou gentilmente com as palmas das mãos, afastando-me de si e dando espaço para que o rosado se aproximasse de si. 

Franzi o cenho curioso - enciumado-, Namjoon sorriu para mim, chamando-me com a ponta dos dedos para aproximar-me dele. 

— Ya, sua peste! Eu disse pra você se alimentar, olha o susto que nos deu. Aliás, Taehyung mandou um recado pra você... - Seokjin deu um peteleco na testa do garoto, rindo em seguida da expressão mal humorada do mesmo. Retirou o celular do bolso, abrindo no aplicativo de mensagens e entregando-o para o ruivo. 

"Ei, Hoseok! Sei que deve estar se perguntando "por que diabos esse moleque está me chamando pelo nome?" você sabe que eu não gosto de formalidades quando você é meses mais velho apenas, então, espero que esteja se recuperando bem e comendo direitinho. Fico muito feliz que você não tenha morrido virgem, seria uma lástima para o querido pênis do Yoongi. Todos nós te amamos, seu idiota. Ya, hyungnim não esqueça de mostrar essa mensagem pro Jung." 

—​ Kim Mais Novo (Menos Idiota) — 17:32 PM. 

Hoseok sorriu ao ler a mensagem, me deixando ainda mais curioso para saber o conteúdo contido ali. Antes que eu pudesse proferir algo, Namjoon me puxou para fora do quarto, enquanto eu ouvia Hoseok resmungar algo lá dentro.

— Diga a ele que eu agradeci, e que eu não sou virgem! - Hoseok resmungou baixinho, fazendo todos ao seu redor o encararem. Quando caiu a ficha do que ele havia dito, suas bochechas coraram. 

Namjoon me encarou com os olhos em fenda, escorando-se na parede mais próxima. Apenas de olhar em seu rosto, eu já sabia o que viria a seguir. 

— Você não vai fazer isso, não é? - Meu amigo me encarou, fazendo meu corpo se encolher com o tom de voz que ele usou. Namjoon nunca era grosso comigo, embora seu temperamento fosse difícil. 

Eu queria poder mentir, dizer que não iria jamais. Queria poder fugir com Hoseok para algum lugar distante, voltar apenas quando as coisas estivessem resolvidas. Meus olhos encheram-se de lágrimas pertinentes que teimavam em escorrer, denunciando minha tristeza. 

Namjoon balançou a cabeça, me abraçando com seus braços fortes e me permitindo apoiar a cabeça em seu ombro. Solucei, colocando para fora toda minha frustração. 

Estava sendo tão difícil, tão insuportavelmente difícil. Eu queria poder desistir, desistir dessa ideia.

Depois de alguns minutos que mais pareceram horas, eu consegui limpar as lágrimas e segurar o choro, sorri meio triste. Meu coração estava despedaçado, diversas possibilidades rondavam minha mente, eu só queria voltar ao início de tudo. Eu só queria ser capaz de proteger aquele que eu amo. 

— Yoongi, eu não concordo, mas eu te apoio independente de tudo. - Namjoon sorriu para mim, suas mãos passearam por meus fios descoloridos, sorri de volta. Embora meu coração estivesse repleto de tristeza, eu deveria ser forte e dar a Hoseok a chance dele ser verdadeiramente feliz. — Vem, vamos entrar antes que algum deles corra para cá. 

Assim que entrei no quarto meu corpo congelou, o sorriso nos lábios dele era tão brilhante que quase me fazia desistir. Eu sei que quanto mais eu o machucasse, mais doeria em mim. Cada adaga cravada em seu peito, serão duas cravadas no meu. 

Eu não posso permitir que uma pessoa tão brilhante perca esse brilho, perca sua pureza por se envolver com alguém como eu. Hoseok nunca estaria totalmente seguro ao meu lado, não agora, não neste momento. Ele jamais poderia ser namorado de um criminoso, ele jamais poderia ser namorado alguém como eu. 

Conforme as lágrimas escorriam por minhas bochechas, corri até sua direção, abraçando seu corpo e trazendo-o para mais perto. Beijei-lhe o topo de sua cabeça, sentindo seu aroma cítrico, aquele cheiro que tanto me fazia delirar. Apertei seu corpo fortemente contra o meu, suspirando e gravando cada pedacinho, gravando este momento em minha memória.

Ouvi Namjoon dizer algo para o namorado, puxando-o para fora do quarto e fechando a porta atrás de si. Eu agradeci mentalmente, ele queria nos dar este último momento. E eu serei eternamente grato por isto. 

— Eu queria poder eternizar este momento... - Balbuciei, sentindo as mãos dele segurando meu rosto. — Eu não quero abrir meus olhos e acordar desse sonho, eu não quero.

— Yoongi... Eu não consigo entender o que você quer dizer, abre os olhos amor. - Hoseok sussurrou baixinho, aproximando-se do meu rosto e beijando-lhe a ponta de seu nariz. — Por favor, hyung. - Os lábios do ruivo aproximaram-se dos meus lábios, seu coração batia violentamente dentro do peito. 

— Tudo isso que aconteceu com você é minha culpa. Por que com você? O pecador, o culpado de tudo isso sou eu. - Suspirei, balançando a cabeça de um lado ao outro e me negando abrir os olhos. — Eu só quero entender, por quê você? E-Eu não posso continuar ao seu lado, eu não posso! Se eu continuar aqui, você vai continuar sofrendo cada vez mais, e cada vez que você for atingido, doerá duas vezes mais em mim. Eu só quero te proteger, te proteger. - Abri meus olhos, ambos vermelhos de tanto chorar. O olhar desesperador de Hoseok, eu não sabia naquele momento, mas jamais sairia de meus pensamentos. 

Hoseok não conseguia entender, ele não queria acreditar nas minhas palavras. Para ele era apenas uma mentira, ele estava tentando se apegar ao fato de que jamais o deixaria, não, nunca! Seus olhos demonstravam confusão ao ouvir minhas palavras, aquilo me fez chorar ainda mais. Hoseok se agarrava a chama de esperança que inundava seu coração, a esperança de que jamais seria abandonado. Seus braços me seguraram com força, tentando manter-me preso entre eles. 

— Eu sou um filho da puta egoísta por fazer isso com você, ainda mais egoísta por não querer que você me odeie. Só que eu não posso permanecer ao seu lado, eu não posso te arrastar pro fundo do poço comigo. Hoseok, eu já perdi uma pessoa antes, eu não quero perder você. Por favor, me entenda, eu te amo tanto e dói tanto fazer isso com você. 

As lágrimas dele, os olhos perdidos me encarando, sua cabeça balançando de um lado ao outro, se negando a acreditar em minhas palavras. Eu realmente me odiei, me amaldiçoei por fazê-lo sofrer daquela forma. 

Respirei fundo, reunindo o pouco de coragem que ainda se mantinha em meu peito, afastei suas mãos de mim, sem olhar em seus olhos, peguei minha mochila no canto do quarto e lhe dei adeus, sem nem olhar para trás. Continuei caminhando, ouvindo os gritos incessantes de Hoseok, enquanto Namjoon e Seokjin tentavam o conter. 

Eu queria muito voltar, queria muito me desculpar e queria muito dizer o quanto eu o amava e que jamais o deixaria. Eu desejei tê-lo em meus braços todos esses anos que passamos distantes, eu desejei acordar com seu sorriso, ouvir sua gargalhada e sentir seu cheiro após o banho. Cozinhar ao seu lado, rir de coisas estúpidas e beber cerveja assistindo futebol na TV. Em todos esses seis anos, o que eu mais desejei era vê-lo novamente, tê-lo em meus braços.

[...] 

Quando meus pés tocaram solo sul-coreano, senti-me em casa novamente. Embora a China tivesse me acolhido, me dado amigos e boas lembranças, nada superava o meus país de origem, o lugar de onde vim. Era inevitável não pensar em Hoseok.

Durante esses seis anos, sempre recebi notícias do mesmo, tudo que ele estava fazendo e com quem estava. Soube de cada um de seus namoros, sua formatura na faculdade e o quão lindo ele estava no seu aniversário de vinte e três anos. Agora eu estou de volta, não espero que ele me aceite de volta, não após tudo que se passou. Fui interrompido por uma voz familiar. 

— Yoongi! - Heechul veio em minha direção, sorrindo e saudando. Os braços fortes de meu antigo professor envolveram minha cintura, aspirei o cheiro tão conhecido de seu perfume. Em todos esses anos na China, Heechul era um dos poucos a quem mantive o contato. — Vim te buscar garoto, vamos, cadê suas malas? - O moreno sorridente, puxou a mala de minha mão esquerda, carregando-a. 

Caminhamos em uma silêncio confortável até chegarmos no carro. Meus olhos varriam tudo ao redor, notando as mudanças - não tantas - que foram feitas no decorrer desses seis anos longe. 

— Sua mãe sabe que você voltou? - Heechul questionou curioso. — Bom, ela te obrigou a ir para China cuidar dos negócios de lá, agora você voltou e quem está cuidando das coisas lá? Ela ao menos sabe que você largou tudo lá? 

— Ela não sabe, mas se depender de mim vai descobrir logo. - Suspirei cansado, não havia dormido direito dentro do avião. Apoiei minha cabeça na janela do carro, fechando os olhos enquanto a tão conhecida canção invadia meus ouvidos. 

Acordei somente ao sentir o carro parar, abri os olhos desconfortável pela claridade repentina. Suspirei, abrindo a porta e retirando as malas do porta-malas. Parei em frente a porta do prédio luxuoso. Era um pouco distante do centro, mas pelo menos havia paz e silêncio, tudo que eu precisava. 

— Está entregue. - Heechul riu com as bochechas avermelhadas. Agradeci com um aceno de cabeça, segurando minha pequena mala com uma das mãos. — Eu tenho que ir agora, preciso resolver algumas coisas, quando der eu apareço para te ver. 

— Obrigada. - Sibilei, o homem abanou a cabeça sorridente. Heechul entendia ao que me referia, não somente pela carona, mas por tudo que ele havia feito por mim até então. 

Assisti seu carro sumir por entre as ruas, virei-me em direção a porta. Suspirei cansado. Estava na hora de retomar minha vida e seguir com meus planos originais. Os anos na China cuidando dos negócios da minha família, haviam mudado minha percepção sobre a vida. 

Carregamento de drogas, armas e prostituição. Tudo que eu vi e vive naquele lugar jamais seria apagado da minha memória. Eu finalmente havia me tornado um homem, o homem que eu sempre abominei e jamais quis ser. Retirei meu celular do bolso para ver as horas, encarei o wallpaper, uma foto de Hoseok sorrindo sentado entre minhas pernas na grama. Férias de verão do ensino médio. 

Meu coração doía cada vez que eu lembrava de seus olhos tristes, suas súplicas para que eu não fosse embora, seu desespero em me ver partir. Por anos me culpei e odiei por tudo que eu o causei, por anos não tive sono durante as noites em que seu rosto inundava meus pensamentos, por anos não toquei ou tive ninguém após ele. 

Ouvi um pigarro atrás de mim, um homem de fios laranjas estava carregando caixas que tapavam seu rosto, suspirei, dando-lhe passagem para que entrasse no elevador. 

— Quer ajuda? Só tenho uma mala mesmo, eu posso te ajudar a carregar até seu apartamento. - Ofereci-me para ajudá-lo a carregar, o homem negou com a cabeça. Que ignorante! Eu estava me oferecendo e sendo gentil, o que custava ele pelo menos me responder? 

Bufei indignado, virando-me para frente e encarando os botões do elevador, assim que chegou no décimo segundo andar, saí do elevador, sendo acompanhado pelo homem mal educado. Ao que parece ele também mora nesse andar, ótimo. Caminhei até minha porta, quarenta e dois. O prédio composto por doze andares é divido em quatro apartamentos por andar. Sendo o último andar divido em duas coberturas. 

Assim que girei a chave para entrar no apartamento, o homem ao lado fez o mesmo derrubando seus pertences no chão. Gentilmente e ainda com raiva de sua falta de educação, corri para ajudá-lo a catar suas coisas. E eu não esperava encontrá-lo daquela forma, depois de todos esses anos, não somente eu havia mudado, contudo Hoseok também.

"Eu quero te abraçar pelas pernas, não te deixar ir. Porque a dor em meu coração é imensurável ao imaginá-lo partir. Por favor, me diga que esta será a última vez. Por favor, me diga honestamente que você vai conseguir seguir."