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História Boys like boys. - .nothing new


Escrita por: sukisaturn

Notas do Autor


¹ Oneshot baseada na música e vídeo de Hayley Kiyoko - Girls Like Girls ( então os gêneros da letra e vídeo são trocados)
² Também indico bastante para que assistam o vídeo, vale a pena, acreditem. Ainda mais os LGBT+ friendly.
³ Feita como um presentinho para as doçurinhas que chamo de leitores. Vocês são meus amorzinhos!

Vídeo/música nas notas finais.
Boa leitura!

Capítulo 1 - .nothing new


Não, a história não começa do final. Não começa do momento em que eu pedalo em cima da minha bicicleta amarela, com o rosto machucado e roxo, o lábio inchado e os cabelos bagunçados.

A história começa antes. Enquanto eu pedalava pela mesma rua, na direção oposta, um pouco mais cedo do que isso.

E para ser sincero, talvez a história tenha começado ainda antes, quando conheci Park Jimin.

Talvez morar em um condomínio de classe média em Daegu tenha nos aproximado. Ou talvez tenha sido o fato de eu ver aquele menino pequeno e de bochechas fartas com o joelho ralado sentado no meio fio, com os olhinhos cheios de água e um bico farto nos lábios. Nós só tínhamos oito, afinal.

Naquele dia eu também pedalava na minha bicicleta amarela. E à partir dele, Jimin virou minha carona cativa.

Talvez todo o meu erro tenha se iniciado bem antes, quando aos quatorze, meu melhor amigo se declarou gay. E no mesmo dia disse ser apaixonado por mim. Para alguém tão novo e bobo, aquilo não fazia sentido. Eu não sabia o que sentia, e até aí, só tinha gostado de garotas.

Gostava de saias e blusas curtas, pernas finas e coxas torneadas, feições femininas e vozes finas. Nada de bermudas, cuecas e cabelos curtos.

Se eu soubesse na época o que sei agora, talvez eu tivesse muito antes tomado meu melhor amigo para mim. Se eu sentisse com quatorze o que sinto com dezessete, talvez Jimin estivesse comigo, e não com Jung Hoseok.

Com o passar dos anos reparei que Jimin carregava em si todas as qualidades que eu procurava em vão nas meninas do colégio. A voz fina que eu tanto adorava, as feições delicadas e até mesmo femininas, o corpo bonito e pouco torneado, assim como suas diversas características fascinantes. Eu amava cada pedacinho de si e guardava isso para mim.

Guardava para mim todos os dias que eu o observava dormir na cama de casal, junto de mim, quando decidíamos fazer uma noite de filmes de terror, ou quando aproveitávamos da piscina da sua casa.

Também foi com Jimin que eu descobri as festas e a vida de adolescente, além do primeiro amor. Foi com ele que eu descobri a diversão da bebida e do fumo, e para ser sincero, nunca ligávamos muito para o resto. Nossa presença já importava. E enquanto Park Jimin dançava no meio da sala de estar, nenhuma menina conseguiria tomar minha atenção.

Eu era fascinado demais pelo meu melhor amigo. Fascinado demais para ser apenas um melhor amigo.

E era para isso que eu pedalava naquele momento. Eu seguia para a casa de Jimin, em cima da minha bicicleta amarela. Ele daria uma de suas festas durante a tarde de domingo, seus pais não estariam em casa e tudo se tornaria mais perfeito se fossemos apenas eu e ele. Sem Jung Hoseok, sem o resto.

Eu e ele éramos perfeitos juntos, e aquilo chegava a ser dolorido. Chegava a ser dolorido guardar dentro de mim tudo que eu sentia por ele. Ele não era só um melhor amigo dentro de mim, ele era tudo, e nem ao menos sabia.

Não demorou muito para que eu chegasse na casa de Jimin, jogasse minha bicicleta em qualquer lugar da entrada e batesse na porta, ajeitando minha jaqueta jeans e minha bermuda. Meu cabelo estava repartido para o lado bem do jeito que Jimin mais gostava.

A porta logo se abriu e uma cabeleira bagunçada loira apareceu, sorrindo gigante bem na minha direção, e ele estava tão bonito. Tão simples, mas tão bonito. A camisa cinza listrada complementava bem o seu tipo físico, e a bermuda demonstrava bem as pernas e coxas bonitas que meu garoto tinha.

– Jeonggukie! Você demorou – Jimin disse, animado, enquanto se impulsionava para cima e envolvia os braços ao redor do meu pescoço, pulando em mim.

Não demorei para cheirar seu cabelo e segurar em sua cintura, fechando os olhos. A sensação era tão aconchegante e boa.

roubando beijo do seu garoto
não faz você pirar?
te deixo agitado, te deixo preocupado
com medo de baixar a guarda
garotos, garotos

 

– E aí, cara? – Claro, Jung Hoseok estava lá, encostado na parede próximo a sala, e logo veio a mim para cortar todo o contato que eu tinha com seu namorado.

– E aí?

Por ser irritantemente mais alto, ele envolveu um dos braços ao redor do meu pescoço e começou a bagunçar meu cabelo.

Seria mentira dizer que eu gostava do mais velho, eu não gostava nem um pouco de si e da forma como ele tratava Jimin. Por vezes era carinhoso, mas sua vontade de se mostrar forte e dominante era tanta que eu tinha que escutar pelo telefone as diversas vezes em que Jimin me contava o quanto Hoseok era grosseiro ou agressivo.

Não fiz questão de forçar sorriso algum, eu não estava ali para ver ele, afinal.

Me desvencilhei dos seus braços e segui para Jimin. Este segurou minha mão com sua pequenina – que descobri, depois de um tempo, também amar – e me levou até a cozinha. Subiu no balcão enquanto Hoseok abriu seu maço, puxando de lá um filtro novo e o dando ao loiro, também me estendeu um. Enquanto Jung acendia o filtro de Jimin, fiz questão de puxar meu próprio isqueiro, o olhando de canto.

Jung não demorou a buscar uma cerveja para si e se encostar em qualquer lugar.

Jimin puxou a fumaça para seus lábios rosados e tudo que eu sabia fazer era admirar seu rosto bonito. Se Park fosse uma entidade, eu rezaria para si todos os dias, por que eu poderia jurar, aquela beleza não era daqui, era divina demais.

Ele me olhou de cantinho, enquanto fazia o biquinho no cigarro. Subi no balcão ao seu lado e ele não se demorou a soltar a fumaça em meu rosto, rindo em seguida.

Eu era definitivamente bobo por Park Jimin.

– Estava com saudades, Jeonggukie – Jimin jogou a cabeça para um dos lados, enquanto eu mesmo tragava – Pode dormir aqui hoje?

Pude ouvir Hoseok se remexendo atrás de mim, enquanto bebia, mas não dei a mínima bola. Aquele pedido manhoso era sem dúvidas a coisa mais adorável em todas as galáxias.

– Não posso hoje, Chimmie – Traguei meu filtro e o balancei em seguida com o polegar – Terei que trabalhar como babá daquele pestinha.

– Não acho SunSun um pestinha – Jimin soltou aquele risinho adorável de novo, olhando diretamente para mim.

– Ah, não. Jisung é definitivamente um pestinha. Ele gosta de ti, é por isso que parece um anjo contigo – Não era mentira, Jeon Jisung também parecia adorar Jimin, afinal, parecia que Jimin encantava qualquer um, principalmente os Jeon. – Eu não reclamaria se ganhasse ao menos dez mil.

– Vai cobrar para cuidar do seu irmão? – Ele sorria largo, enquanto se esticava para se apoiar na bancada com um dos braços – Que maldade, Gukkie – Ele negou com a cabeça, fazendo outro biquinho acolhendo o filtro entre os lábios carnudos.

Aquilo estava se tornando cada vez mais doloroso, definitivamente. E ás vezes, eu me iludia pensando sobre Jimin não se esquecer de sua paixão de pré-adolescência, ele parecia perceber o quanto eu me perdia olhando para sua boca bonita e babava olhando aquele sorriso.

Ele acolheu novamente a fumaça na boca e se aproximou, me deixando estático. Soltou novamente a fumaça, bem na frente da minha boca. E por alguns segundos eu perdi todo o meu ar.

Ele parecia olhar para meus lábios assim como eu olhava para os seus, e seria mentira dizer que não existia uma atração palpável entre nós dois, ao menos, vinda do meu lado, existia, e muita.

– Vem, vamos para a piscina – Ele sorriu bonito enquanto pulava do balcão, me puxando pela mão de novo. Olhei por cima dos ombros e não deslumbrei sequer um resquício de Jung Hoseok pela cozinha – Quero te dar muitos caldos hoje. – Jimin me olhou e riu baixinho.

diga aos vizinhos que eu não me arrependo
se estou derrubando barreiras
construindo a segunda história do seu garoto
tirando todo o seu chão

Ele me levou até seu quarto, aparentemente extremamente animado, correndo para uma das gavetas principais de um dos móveis, puxando de lá duas bermudas de banho. Buscou meu cigarro e apagou ambos no cinzeiro bonitinho. Éramos íntimos o suficiente para não precisarmos de camisetas na piscina, e eu agradecia internamente por isso.

Jimin me entregou uma das bermudas e correu até o som de seu quarto, todo pintado e desenhado com raios laranjas e caras engraçadas, até aquilo tinha algo meu, como quase todo seu quarto. Jimin arriscava alguns passos e rebolava um pouquinho enquanto começava a arrancar a camisa, murmurando as palavras da música baixinho.

Enquanto Jeongguk? Bom, eu ainda olhava ele, segurando a bermuda do mesmo jeito entre as mãos. Seu corpo era tão bonito e tão melhor do que os corpos femininos.

Ele me olhou por cima do ombro e sorriu mostrando os dentinhos. Me virei de costas com pressa, por que aquilo parecia ainda mais difícil. Trocar de roupas na frente do seu melhor amigo pode parecer costumeiro e comum, mas trocar de roupas na frente do melhor amigo que você ama, não é tão fácil.

Quando éramos mais novos fazíamos isso todo o tempo, mas com o passar do tempo se tornou mais difícil. Ver Jimin nu não era uma opção no momento, apesar da minha enorme vontade.

Respirei fundo e comecei a me despir, retirando a jaqueta, a camisa e em seguida minha bermuda e cueca, de frente para o espelho principal do quarto. Assim que, pelo espelho, vi Jimin de costas para mim, consegui ver um pouco de suas nádegas enquanto ele terminava de subir a bermuda ligeiramente curta no corpo, sem camisa. Um arrepio subiu por todo meu corpo enquanto eu ainda tentava acalmar todas as sensações que o loiro causava em mim.

Fechei o zíper e o botão da minha bermuda ainda olhando para o reflexo de Jimin, de costas para mim, e tentando com todas as forças não deixar que todo o desejo por si ficasse tão claro.

Jimin se virou, fazendo biquinho e cantando a música que sequer percebi ter mudado. Mexeu em uma das gavetas do criado mudo e me chamou com um dos dedinhos para mais perto.

Me aproximei o suficiente para saber que aquilo que ele segurava era loção solar, uma proteção alta para aquela pele branquinha. Me fez sentar em sua cama grande enquanto abria o tubo com cuidado. Enquanto Jimin estava entretido o suficiente com o som e o protetor, eu admirava aquela pele e corpo bonitos bem na minha frente, entre as minhas pernas.

Definitivamente Jimin era de tirar qualquer ar de dentro de meus pulmões. E aquela parecia ser sua atividade favorita.

Ele estendeu os dedinhos pequenos e passou o creme branco nas minhas bochechas, nariz, testa, queixo e um pouco de meu pescoço. Se sentou ao meu lado e começou a espalhar todo o conteúdo em minha bochecha esquerda. Ele riu baixinho e encontrou meus olhos vidrados em si.

– Você fica fofo assim – Ele disse baixinho, sorrindo, e não pude deixar de fazer o mesmo.

Ele espalhou com cuidado o protetor por meu rosto, e não pude deixar de fechar os olhos com a sensação de seus dedos macios e delicados em minha pele. Quando os abri, pude perceber o quanto, novamente, estávamos pertinho, dividindo o mesmo oxigênio quente.

nós seremos tudo o que sempre precisarmos
não me diga, me diga como eu me sinto
eu sou real e eu não gosto de garotas
eu sou real e eu não gosto de garotas

Seu dedo polegar passou por meu queixo e logo suas mãos pequenas desceram por meu pescoço, me causando arrepios pelo corpo inteiro. Eu poderia estar louco ao imaginar aquilo, mas poderia jurar que Jimin encarava meus lábios assim como eu encarava os seus.

– Quem aí tá afim de levar um caldo na guerra da piscina hoje? – Hoseok chegou falando em seu tom alto e exagerado, como de praste. Fechei a cara na hora enquanto Jimin sorria para Jung se divertindo com o menino que jogava a bola de beisebol para cima e demonstrava todos os músculos bem divididos no abdômen enquanto usava a mesma bermuda de antes.

– Venha, tenho que passar o protetor em você – Jimin disse para o namorado. Me deixando ali, com a pior expressão contrariada no rosto.

– Não precisa, eu sou invencível! – Hoseok correu até nós dois e puxou Jimin para si, colocando o corpo do loiro sobre um de seus ombros, correndo para fora do quarto.

Eu escutava perfeitamente o som da risada do meu garoto do lado de fora, enquanto me encarava naquele espelho grande.

Talvez, se eu tivesse chego antes, seria eu ali. O carregando no colo e o beijando na piscina. Mas eu cheguei tarde e não poderia reclamar. Minha oportunidade tinha passado.

Andei relutante até o lado de fora, passando pela porta de correr da sala a tempo de ver o ruivo jogando Jimin na piscina e soltar um bufo irritadiço.

– Bala de canhão! – Corri até a piscina, fechando meu nariz com os dedos e juntando as pernas ao corpo, pulando em seguida. Caí bem em frente ao loirinho com os cabelos jogados para trás, rindo.

– Você quase caiu em cima de mim, seu idiota.

Começamos uma das mais clichés guerras de água, como sempre fazíamos, e não me demorei a mergulhar e segurar suas pernas, o levantando no alto e o jogando novamente na piscina.

Infelizmente Jung já estava dentro da água com nós dois, e o segurou no colo, cheirando seu pescoço em seguida. Jimin estava lá, sorrindo, e eu não conseguia parar de pensar no quanto meu peito doía.

Pus a mão sobre meu peito desnudo, sentido todo aquele calor característico de quando Jimin esta lá, se esvaindo. Doía vê-lo com outra pessoa, doía vê-lo com alguém que não o faz tão feliz quanto merece.

Não nos demoramos muito naquele banho de piscina, afinal, os outros convidados logo chegariam. Jimin subiu nos ombros de Hoseok e ambos brincaram de me perseguirem pela piscina.

Usei a desculpa da injustiça, e fiz com que o pequenino fizesse o mesmo comigo, subindo em meus ombros e me dando a possibilidade de segurar em suas coxas grossas, enquanto eu fingia me importar com qualquer brincadeira que estivéssemos fazendo.

Ganhei todo o dia quanto Jimin se esticou para frente, quase me encarando diretamente dentro da água, e quanto enlaçou os braços ao redor do meu pescoço, pulando no colo enquanto éramos perseguidos por Hoseok.

Mas naquele momento, tudo que eu fazia era secar os cabelos com uma das toalhas brancas, sentado na cama de casal, após o banho. Jimin estava no banheiro, terminando de tirar de si qualquer resquício do banho de piscina de mais cedo. Eu já conseguia escutar a voz alta de Jung do lado de fora daquela porta, junto da música que começava a tocar alta, indicando que alguns amigos tinham chego.

Respiro fundo, olhando para qualquer ponto daquele quarto colorido e cheio de desenhos. Pensava em como desistir de alguém que tanto amo, depois de pôr na cabeça que Hoseok era o suficiente para si, e o fazia feliz.

Afinal, quem era eu para atrapalhar a felicidade de Jimin? Ele era importante demais para que eu desse espaço ao egoísmo.

A porta do banheiro na suíte logo se abriu, dando espaço a um menino pouco maquiado, de cabelos molhados e ajeitando os brincos, vestido com as mesmas roupas de antes. Andou animado pelo quarto e se sentou ao meu lado, se virando de frente para mim.

Levou os dedos pequenos até meu cabelo, e novamente, eu o olhava de pertinho. Guardando cada pinta ou manchinha, cada resquício de sarda e cada feição bem no fundo do meu ser. Memorizando cada constelação espalhada pela pele branquinha, cada detalhe do cabelo um pouco desbotado, e vendo os olhos finos e gatunos presos na sua tarefa de pentear meus fios com os dedos. E finalmente a boca, guardei cada pequeno risco um pouco ressecado dos lábios bonitos dentro das minhas memórias, contei cada fina linha nos lábios gordinhos do menino que eu amava. E como amava.

Doía.

Doía muito.

– Pode passar para mim, Gukkie? – Jimin me tirou do meu transe, estendendo um pequeno frasco de brilho labial até mim. Rosinha e com cheirinho de cereja.

Engoli em seco enquanto abria o frasco e o estendia até a boca do loiro, que se manteve parado e com os lábios entreabertos para mim. Passei primeiro pelo lábio superior, com cuidado, e em seguida passei para o inferior. Me perdi por tempo o suficiente para imaginar que aquilo seria estranho. Um pouco do gloss saiu pelo canto direito, e não me demorei a levar  meu polegar até lá, limpando o lugar.

Nossas respirações pareciam novamente se mesclar, bem ali, e eu nunca em toda a vida tive tanta vontade de roubar aqueles lábios entre os meus. Pareciam ainda mais inesquecíveis e desejosos.

Jimin novamente olhava para meus lábios enquanto eu olhava para os seus. Estávamos perto o suficiente para que eu me drogasse no cheiro gostoso da cereja.

Aquele poderia ser definitivamente meu novo filtro.

– Chimmie, se lembra do dia em que disse que gostava de mim? – Falei baixinho, sem desgrudar meus olhos dele, tão perto. Ele maneou positivamente – O que você sentia exatamente?

– Eu... Eu parecia ser louco por você, Gukkie, louco pelo meu melhor amigo – Disse baixinho e manso – Meu coração parecia pular tão forte dentro do peito, e aquilo era tão confuso – Ele franziu o cenho – Eu deveria gostar de meninas, não é? – Subiu seu olhar para meus olhos, e nos encontramos ali – Mas não gostei, nunca gostei. As meninas pareciam não ser boas o suficiente perto de você – Ele respirou fundo – Depois de um tempo eu descobri, garotos gostam de garotos como as garotas fazem, e eu amava meu melhor amigo.

Jimin parecia descrever completamente todo o meu sentimento por si, aquilo não aparentava ser paixão, não aparentava ser passageiro. E eu via, bem lá no fundo dos seus olhos, todo aquele brilho especial que eu tinha para si. Eu tentava me enganar, dizendo a mim mesmo que aquele sentimento tinha ido embora, mas naquele momento, tão grudados, parecia mentira.

– Jiminie! – Uma garota abriu a porta do quarto, fazendo Jimin se virar bruscamente e coçar a nuca em desconforto – Eu tava te procurando a muito tempo.

vi seu rosto, ouvi seu nome, tenho que ficar com você
garotos gostam de garotos assim como os garotas gostam
nenhuma novidade
não é por isso que viemos?
tenho que ficar com você
garotos gostam de garotos assim como os garotas gostam

Quando ambos saíram do quarto, fiz questão de me deitar naquela cama com um sorriso gigante e bobo nos lábios. Eu ainda tinha um pouco de esperança dentro de mim, e aquele quase beijo era tudo o que eu precisava.

Garotos gostam de garotos, afinal. E eu gostava do meu melhor amigo, na verdade, fazia algo muito além de gostar.

Toda a festa foi divertida, não eram tantos estudantes do nosso colégio lá, era verão, e muitos tinham viajado. Danbi, uma garota do segundo ano tentava roubar minha atenção com conversas banais e toques nos meus braços, mas tudo o que ela tinha de parecido com Jimin não passava dos cabelos loiros. Fora isso, ela era completamente diferente, como todo o resto, e não me atraía nem um pouco.

Ela brincava com minha jaqueta enquanto eu estava recostado na parede e via Jimin dançar sob o sofá, perto de outras pessoas. Ele rebolava e levava a cerveja até a boca. E por toda a festa eu me senti hipnotizado por si. Sentia que se só estivéssemos nós dois ali, estaria tudo bem.

Jimin parecia dançar em câmera lenta, cantando alto e eu só sorria bobo. Tão bobo que ainda não entendia o que Danbi fazia ali, do meu lado. Quando minha atenção era toda destinada a outros fios dourados, não os seus.

Jimin puxou uma das almofadas e jogou em mim, sorrindo largo, quase fechando os olhinhos delicados. E eu me limitei a rir bobo, jogando a almofada de volta.

O loiro parecia até dançar para mim, por que por um tempo me olhou diretamente. Estava muito na cara o quanto eu sequei meu melhor amigo por toda a festa?

Apesar de toda a atenção que teve que destinar às outras pessoas, Jimin ainda teve tempo o suficiente para me puxar para o sofá, e se sentar largado do meu lado, com um copinho vermelho de bebida nas mãos. Rimos juntos, dentro do nosso próprio mundo particular, e conversamos sobre os assuntos mais banais e sinceros.

O mesmo brilho no olhar do meu melhor amigo estava no meu, e meu coração não deixou de se manifestar por sequer um segundo enquanto eu o via falar sobre Jupiter, seu planeta favorito do momento.

Mas às vezes as coisas boas duram pouco, logo Jimin foi puxado pelas mãos de Hoseok, que estava claramente bêbado. O garoto mais alto tentava o agarrar bem ali, no meio de todo mundo. Tentava apalpar as bandas de sua bunda e o puxava para um beijo.

De novo, doeu.

Mas qualquer resquício de dor ou ardência em meu peito foi embora quanto Jimin o empurrou com força e uma expressão brava, logo se jogando ao meu lado novamente.

Hoseok não se importou o suficiente para tentar de novo, e nós dois ficamos ali, conversando olhando nos olhos alheios, até que a festa acabasse e a casa fosse esvaziada, ou quase.

Sobraram eu, Jimin, e um Jung Hoseok dormindo em uma das poltronas da sala. Aquele imbecil.

Me dei ao trabalho de passear por toda aquela casa tão familiar, afinal, frequentei o lugar desde muito novo. Andei pelo corredor extenso e iluminado – assim como toda a casa, quase toda feita de janelas – e fiz questão que parar para olhar todas as fotografias no lugar, a parede era repleta daquelas fotografias familiares e alguns prêmios que Jimin ganhou em natação, no primeiro ano.

Passeei os dedos pela imagem dos pais de Jimin, com o menino bem novo nos braços, ambos eram bem parecidos com o filho. Subi a visão um pouco mais e pude ver a foto de Pollie, o cãozinho de Jimin que tinha falecido quando tínhamos onze. Me recordei instantaneamente que o único que pôde entrar em seu quarto, no dia, tinha sido eu. O pequeno dormiu abraçado a mim, bem apertado, enquanto fungava em choro. Parte de mim também tinha se quebrado naquele dia.

Meus dedos passearam por mais fotografias, até chegar na minha favorita. Era eu e Jimin, com nossos quinze. Meu braço estava ao redor de seu pescoço e ele carregava uma luva de beisebol, enquanto eu carregava o taco. Jogar com Jimin os mais diversos tipos de jogos eram minha diversão favorita, mas passei a desgostar do jogo depois que Jimin começou a namorar o jogador profissional do colégio, Jung.

Cheguei até a sala e meus olhos procuraram por Jimin, apenas encontrando Hoseok roncando na cadeira, jogado com uma das garrafas ao seu lado.

Atrás de Hoseok olhei pela porta de correr, feita de vidro, e vi Jimin ali, cabisbaixo e sentado no beiral da piscina. Abri a porta e andei devagar até si. Não sabia em quais pensamentos ele estaria disperso, mas estava lá por si.

Retirei meus sapatos e me sentei ao seu lado, colocando as pernas dentro da água assim como ele. Ele me olhou de lado e suspirou, sorrindo tristinho.

– O que houve, huh? – Perguntei, enquanto o menino colocava a cabeça em meu ombro, se aninhando ali.

– Eu... Eu acho que percebi uma coisa – Ele disse baixinho, olhando para a água azul ciano, assim como eu.

– Quer me contar? – Ele maneou negativamente com a cabeça.

– Você já sabe, Gukkie, bem aí dentro. Você sabe.

Segurei o ar em meus pulmões, enquanto o loiro suspirou em meu ombro, ficamos quietos por mais alguns minutos, até que enfim senti um movimento em meu ombro. Ele se remexeu até subir o nariz por meu pescoço, me arrepiando instantaneamente. Ele subiu o rosto e encarou meus lábios, assim como fiz com os seus.

Mas dessa vez tudo estava diferente, estávamos ainda mais perto, e nos aproximando ainda mais. Meu coração saltava em meu peito até doer, e eu poderia jurar que apertava os dedos na borda da piscina com força, até que ficassem brancos. O cheirinho de cereja adentrou minhas narinas com força e me deixei, novamente, ser drogado e dominado por aquele cheiro tão característico do meu melhor amigo.

Por um mero segundo pude ver que seus olhos subiram para os meus, instintivamente, como se ele quisesse ter certeza de que eu estava lá, com tanta vontade como ele, olhando para seus lábios.

Estávamos perto, quase perto o suficiente. Até eu sentir uma ardência nos cabelos próximos a minha nuca. E em seguida, uma dor extensa pelo lado esquerdo do meu rosto.

Eu estava no chão, ao lado das pedras, e minha visão era completamente embaçada.

Demorei alguns segundos para perceber que Hoseok estava lá, e tinha me puxado pelos cabelos e me jogado nas pedras, e naquele momento segurava nos antebraços de Jimin com força. Meus olhos não se abriam propriamente, eu sentia o gosto metálico do sangue na língua e sentia um filete do mesmo escorrendo pela minha sobrancelha.

Jimin olhava para mim com os olhinhos pequenos arregalados, parecia que Hoseok tinha usado bastante força comigo, e estava preocupado. Mas tudo o que me preocupava era ele.

– OLHA PARA MIM QUANDO EU FALO COM VOCÊ, DROGA! – Ele balançava o loiro nos braços, claramente irritado enquanto eu via que o olhar de Jimin estava mais brilhante do que o comum, ele quase chorava, subindo o olhar para Hoseok – O QUE VOCÊ PENSA QUE ESTAVA FAZENDO? – Jimin nem ao menos tentava abrir os lábios trêmulos – CALE A SUA BOCA! VOCÊ SÓ PODE ESTAR BRINCANDO COMIGO, IA BEIJAR ELE BEM AQUI? NA MINHA FRENTE? – Hoseok balançava o dedo bem no rosto de Jimin, que parecia sentir dor com a força do aperto de Jung. Jimin novamente olhou para mim, e eu não me dei por mim. Não mais.

Me levantei com fúria e soquei com toda a minha raiva Hoseok, o derrubando no chão e fazendo com que Jimin desse um pulinho surpreso. Subi em cima do ruivo e o ataquei com socos, não me importando com o quão grave aquilo poderia ser.

Tudo o que se passava pela minha cabeça era meu melhor amigo. O cara que eu amava. Me lembrava de toda a nossa infância e adolescência, me lembrava de Jimin dançando e em mim passando o brilho labial por sua boca grossa, me lembrava da fumaça soprada sobre meu rosto e nos braços ao meu redor na piscina. Me lembrava do quanto eu poderia ser forte para defende-lo.

Quando dei por mim, Hoseok estava desacordado no chão, e Jimin gritava em desespero, me puxando pela camisa com toda a força que tinha.

Me levantei em um rompante, ainda olhando para Jung com toda a minha fúria, mas cedendo a Jimin. Ele me virou para si, enquanto chorava, e ficamos novamente cara a cara. Eu olhava para baixo, checando silenciosamente se Hoseok não tinha o machucado, meu coração estava disparado pela adrenalina e minha respiração descompassada. Se fosse necessário, eu estaria novamente em cima daquele tão estúpido jogador de beisebol, descontando finalmente toda a raiva que eu tinha por si.

Jimin levou as mãozinhas pequenas até meu rosto, passando o dedo polegar pequeno até meu lábio machucado. Ele olhava por todo meu rosto roxo e inchado, todos os cortes e arranhões que até aí, eu não tinha noção de que estavam lá. Eu estava focado demais em outra coisa para sentir dor.

Foi mútuo, nos aproximamos rapidamente, com fúria, e nos beijamos forte, entrelaçamos rapidamente as línguas enquanto eu abraçava e apertava a cintura do loiro nos meus braços, como nos meus sonhos tão recorrentes. Eu morreria feliz mil vezes enquanto me sentisse no céu dentro daqueles lábios com gosto de cereja.

Eu sabia, ele sabia. Não precisávamos de nada mais a não ser nós mesmos.

Sentia toda a sua boca com minha língua, mapeando cada lugarzinho e ouvindo nossos corações se descompassando em uma estranha harmonia. Seus dedos se embrenharam em meu cabelo em tamanho desejo. Desejo guardado dentro de nós dois, e agora unidos pelas línguas e peitos colados.

Quando finalmente nos separamos, encostamos as testas, arfantes, levei as mãos até seu rosto e desgrudei alguns fios de baixo de seus olhos molhados, os colocando atrás da orelha. Nos beijamos mais vezes. Muitas e muitas vezes, não querendo que aquilo nunca acabasse.

Mas ao fim, eu tive que deixa-lo. Não sem antes, pôr Hoseok para fora daquela casa, protegendo e defendendo o garoto que agora era completamente meu.

Meu melhor amigo e o cara que eu amava. E me amava de volta.

Eu pedalava por aquela rua vazia de novo, com o rosto machucado, dolorido, mas um sorriso gigante e bobo nos lábios. Meus olhos lacrimejavam em alegria e me permiti pender a cabeça para trás ao sentir o vento. Fechei os olhos e apenas pedalei no escuro, feliz demais para me importar com qualquer coisa sequer.

Eu sabia que pedalaria até aquela casa ainda mais vezes do que já fazia, dormiria naquela cama ainda mais vezes, nadaria naquela piscina e dançaria com Jimin. Mas daquela vez seriamos apenas eu e ele. Éramos suficientes e sabíamos disso.

Eu voltaria no dia seguinte, no próximo e nos que viriam. Estava viciado o suficiente naquele tabaco e no cheiro de cereja. Estava viciado demais nos toques e nos beijos que infelizmente não pude continuar naquele dia, mas continuaria nos próximos.

Éramos nossos. Afinal, garotos gostam de garotos como garotas gostam. Nada novo.


Notas Finais


Vídeo e música na qual a oneshot foi inspirada: https://www.youtube.com/watch?v=I0MT8SwNa_U

☾ grupo de leitores: https://chat.whatsapp.com/6Zh5kO0y3co174SrQZvD1R
☾ minhas outras histórias: https://www.spiritfanfiction.com/perfil/suki_machen/historias
☾ curious cat: https://curiouscat.me/sukisaturn


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