História Brasil: Potência Tropical - Convite Britânico

 Cidade de Londres, Inglaterra.

 Era mais uma manhã comum no Palácio de Buckingham. As quatro personificações do Reino Unido estavam ali, reunidos tomando o café da manhã na presença da família real britânica. Todos comiam de forma culta, refinada e silenciosa. Claro que Allistor, personificação da Escócia, era exceção a regra. Todos da mesa podiam ouvir o seu mastigar, enchia a boca a cada mordida e comia rapidamente enquanto olhava em seu celular lendo as notícias internacionais. Arthur, personificação da Inglaterra, e sua rainha repreendiam o comportamento do ruivo mas o mesmo não ligava. Desde o fim da Primeira Guerra Mundial que o escocês vem se sentindo insatisfeito com o irmão mais velho.

 -England, I will hold a royal ball to enhance relations between the United Kingdom and other nations.  I ask that you invite all non-Islamic monarchical countries to come with their leaders tonight at 7:00 pm, please. (Inglaterra, farei um baile real para aumentar as relações entre o Reino Unido e outras nações. Peço que convide todos os países monárquicos não islâmicos para virem com seus líderes está noite às 19:00 hrs da tarde, por favor.)- A rainha britânica declarou educada como sempre.

 -Invite them all, Your Majesty? (Convidar todos eles, Vossa Majestade?)- Inglaterra perguntou nervoso, não queria convidar Brasil, Jamaica e Austrália.

 -All who are not Islamic. (Todos os que não forem islâmicos.)- A rainha declarou séria fazendo a personificação inglesa engolir seu orgulho e acatar a ordem. 

Escócia deixou seu garfo de prata cair no prato de porcelana chinesa, sua boca estava aberta e dava para ver a comida dentro dela. O escocês começou a rir debochado. 

 -Have manners, Scotland. (Tenha modos, Escócia.)- Inglaterra proferiu enojado.

 -What is so funny? (O que é tão engraçado?)- País de Gales perguntou curioso atraindo o olhar da monarca britânica que estava atenta a cada movimento.

 -Dh’ fhàg an Fhraing an Aonadh Eòrpach agus chaidh i a-steach do Mercosur. (A França saiu da União Europeia e ingressou no Mercosul.)- Escócia falou atraindo olhares de todos.

 -This is interesting. (Isso é interessante.)- Irlanda do Norte declarou. 

 -He can do that?  I thought that Mercosur was an economic bloc only for Latin American countries. (Ele pode fazer isso? Eu achei que o Mercosul fosse um bloco econômico apenas para os países da América Latina.)- A rainha perguntou confusa.

 -Agus tha. (E é.)- Escócia falou ainda olhando o celular. 

 -Technically France can enter Mercosur as it has territories on the continent and it speaks a language derived from Latin.  If the member countries of the bloc want him to enter, nothing prevents him. (Tecnicamente França pode entrar no Mercosul já que possui territórios no continente e ele fala uma língua derivada do Latim. Se os países membros do bloco quiserem que ele entre nada o impede.)- Inglaterra explicou e a rainha se pôs a completar o raciocínio.

 -Obviously they're going to want France in, he's a world power. (Óbvio que eles vão querer que França entre, ele é uma potência mundial.)- A rainha concluiu incomodada.

 -Gu math glic. (Muito esperto.)- Escócia falou e todos acharam que o mesmo debochava da rainha. Logo o mesmo se explicou.

 -Bha an Fhraing gu math sgiobalta, dh’ fhàg e an Aonadh Eòrpach agus bha plana aige, dh’fhalbh thu agus tha thu a-nis air an itealan. (França foi muito esperto, ele saiu da União Europeia e tinha um plano, já você saiu e está agora ás moscas.)- Escócia falou despertando a fúria de Inglaterra.

 -You always criticize me for our departure from the European Union.  The people of the UK have decided. (Você sempre me critica pela nossa saída da União Europeia. O povo do Reino Unido decidiu.)- Inglaterra bradou furioso. 

 -Tha muinntir Shasainn air co-dhùnadh, tha thu air co-dhùnadh.  Bha na daoine agamsa agus muinntir Èirinn a Tuath an aghaidh an Aonadh Eòrpach fhàgail, Èirinn a Tuath agus bha mise an aghaidh an Aonadh Eòrpach fhàgail.  Ceart gu leòr, b’ e bhòt a bh’ ann, ceart gu leòr.  Ach bidh thu an-còmhnaidh a’ dèanamh na co-dhùnaidhean thu fhèin.  Cha robh mi airson an Aonadh Eòrpach fhàgail, cha robh mi airson a dhol a-steach do na cogaidhean mòra ach bidh thu an-còmhnaidh a’ dèanamh na co-dhùnaidhean dhòmhsa.  Na leig leam eadhon tadhal air mo charaidean a nì thu.  Tha e ag òrdachadh dè agus ciamar a bu chòir dhuinn ithe, ciamar a bu chòir dhuinn aodach, ciamar a bu chòir dhuinn a bhith giùlan, ciamar a bu chòir dhuinn smaoineachadh agus gnìomh.  Chan ann a-mhàin dhuinne buill na RA ach airson buill a’ Cho-fhlaitheis.  Bha Jamaica agus Astràilia ceart airson ceanglaichean a ghearradh riut. (O povo da Inglaterra decidiu, você decidiu. Meu povo e o povo da Irlanda do Norte fomos contra sair da União Europeia, eu e a Irlanda do Norte fomos contra deixar a União Europeia. Tudo bem foi uma votação, ok. Mas você sempre toma as decisões sozinho. Eu não queria deixar a União Europeia, eu não queria entrar nas guerras mundiais mas você sempre toma as decisões por mim. Nem me deixar visitar os meus amigos você deixa. Dita o que e como devemos comer, como devemos nos vestir, como devemos nos portar, como devemos pensar e agir. Não só para nós membros do Reino Unido mas para os membros da Commonwealth. Jamaica e Austrália estavam certos em cortarem laços com você.)- Escócia bradou se levantando com violência, subindo as escadas a passos pesados desaparecendo da vista de todos. 

 Escócia voltou pouco tempo depois com uma mochila nas costas, pegou com as mãos o sanduíche natural de frango que estava comendo e se voltou para a saída do palácio. O escocês achava um absurdo ter de comer um sanduíche com garfo e faca. Vá pro inferno Inglaterra e seus “bons modos”.

 -Where are you going? (Onde você está indo?)- Inglaterra perguntou furioso. Odiava ser desafiado, característica que Estados Unidos herdou. 

 -Tha mi a’ dol a chèilidh air caraid.  Agus leis an t-slighe, chan fheum thu fios a chuir gu Brazil.  Bidh mi a 'cur an teachdaireachd. (Vou visitar um amigo. E a propósito, não é preciso ligar para o Brasil. Eu mando o recado.)- Escócia falou deixando o palácio e um inglês furioso para trás.

 Cidade do Rio de Janeiro, Brasil. 

 Brasil estava trabalhando enquanto Acre assista televisão na sala e Rio Grande do Sul trabalhava no escritório junto ao pai. Maia já não morava ali. México por apoio dos descendentes dos maias cedeu a região de Yucatan para Maia poder refazer sua nação e por ordem de Vaticano era o mexicano quem iria ensiná-la a liderar um país moderno. Brasil estava ocupado quando ouviu a campainha tocar. Sabia que Acre atenderia a porta. 

 -Pai, tem um homem ruivo na porta. Ele tá falando o que parece ser alemão.- Acre falou inocente adentrando o escritório e anunciando a chegada do tal homem despertando curiosidade no brasileiro. 

 -É uma personificação?- Brasil perguntou e Acre confirmou. Uma personificação sabia por instinto identificar outras personificações.

 -Traz ele até aqui, por favor.- Brasil falou ao acreano que confirmou segurando seu estegossauro de pelúcia.

 -Quem acha que deve ser pai?- Rio Grande do Sul perguntou confuso. Não se lembrava de nenhuma personificação germânica ruiva.

 -Será que é o Áustria?- Brasil perguntou confuso.

 As personificações germânicas eram em sua maioria loiras, fora Áustria que tinha cabelo castanho. A porta foi aberta novamente e Brasil viu Escócia entrar na mesma pedindo licença com uma mochila.

 -Escócia, que bom te ver.- Brasil falou se levantando da cadeira e puxando o europeu para um abraço caloroso que fora correspondido.

 -Halo Brazil, tha ùine mhòr air a bhith ann. (Olá Brasil, faz muito tempo.)- Escócia falou ao se depararem do abraço. 

 -Por favor entre.- Brasil falou abrindo caminho para o ruivo passar.

 -Bom dia senhor Escócia.- Rio Grande do Sul cumprimentou saudoso. 

 -Madainn mhath Rio Grande.  Tha e math fhaicinn gu bheil thu a’ dèanamh gu math. (Bom dia Rio Grande. É bom ver que está bem.)- Escócia falou cumprimentando o gaúcho com um abraço.

 -Veio almoçar comigo hoje? Já faz muito tempo que não me visita.- Brasil falou com humor.

 -Bu toigh leam lòn a bhith agam còmhla ribh. (Adoraria almoçar com vocês.)- Escócia respondeu com um sorriso.

 -Eu vou começar a preparar, por favor pode se sentar. Já volto.- Brasil falou saindo da sala deixando o filho trabalhando e Escócia sentado no sofá da sala.

 -Rio Grande do Sul, an urrainn dhomh ceist fhaighneachd dhut? (Rio Grande do Sul, posso te fazer uma pergunta?)- Escócia perguntou para o gaúcho que largou o que estava fazendo para dar atenção ao europeu amigo de seu pai.

 -Claro.- Rio Grande do Sul falou calmo.

 -Tha thu fhèin agus Braisil gu math coltach ris an RA, nach eil? (Você e Brasil são muito parecidos com o Reino Unido, não é?)- Escócia perguntou sério.

 -Bom, sim. Eu era independente mas decidi me unir ao Império do Brasil por livre e espontânea vontade assim como o senhor e o senhor Inglaterra.- Rio Grande do Sul falou e Escócia assentiu.

 -Ciamar a tha Braisil gad làimhseachadh? (Como Brasil trata você?)- Escócia perguntou e o gaúcho se surpreendeu com a pergunta.

 -Bem, ele me trata com respeito, carinho e preocupação. No cenário político ele me dá certas liberdades e tomamos decisões juntos. Ele é o meu pai, minha família e eu amo ele.- Rio Grande do Sul respondeu calmo com orgulho na voz em falar do pai.

 -Tha mi a 'tuigsinn. (Entendo.)- Escócia falou entristecido e Rio Grande do Sul entendeu que não deveria continuar neste assunto.

 Escócia agora estava entristecido. Rio Grande do Sul e Brasil são pai e filho, são uma família, assim como Escócia, Irlanda, Inglaterra, Irlanda do Norte e País de Gales. Mas não tinham a mesma relação. Enquanto Inglaterra dava ordens aos irmãos e os impunha regras e limitações, Brasil e Rio Grande do Sul eram unidos e parceiros. Talvez devesse seguir o que seu irmão mais velho Irlanda, Austrália e Jamaica fizeram e deixar a União. Seu povo já quer isso, seus políticos e elites apoiam isso, seria o melhor para Allistor. 

 Brasil apareceu na porta e os chamou para almoçar. Como Escócia sentia falta disso. Trabalhava junto com os irmãos no Palácio de Buckingham, as refeições eram no palácio decorado de mármore branco, ouro e pedras preciosas. Refeições em silêncio, nada de conversas ou piadas. Escócia não sentia naquele palácio alegria, não sentia calor humano, não sentia vida. Arthur vivia assim. Já Brasil vivia como um plebeu. Seu imperador e a própria personificação brasileira viviam de forma comum, de forma tão comum que na imprensa britânica o imperador brasileiro ganhou o “apelido” de “Rei Plebeu”. Muitos empresários e celebridades do Brasil eram mais ricos que o imperador e personificação do país.

 O próprio almoço era um reflexo disso. No Palácio de Buckingham Escócia e os outros habitantes do palácio comiam lagosta temperada com especiarias da Índia, creme brulee, ganso feito no azeite de trufa branca, bebiam vinho e beliscavam caviar, dentre vários outros luxos. Na casa de Brasil Escócia estava comendo bife a parmegiana, arroz, batata frita e limonada suíça. A comida de Brasil tinha um gosto muito melhor que as refeições feitas pelos cozinheiros renomados que trabalhavam na moradia da rainha. Allistor gostava disso. Dessa simplicidade, destas conversas e piadas, deste sentimento de estar vivendo. 

 -Braisil, bidh mi onarach leat.  Tha ball rìoghail aig Banrigh Shasainn an-diugh aig 7f agus bu mhath leatha do làthaireachd agus làthaireachd a h-Ìmpire a bhith aice.  Ach tha mi a’ toirt air adhart nach eil Artair toilichte mu dheidhinn. (Brasil, vou ser honesto com você. A rainha da Inglaterra vai fazer um baile real hoje às 19:00 e gostaria de ter sua presença e a presença de seu imperador. Mas adianto que Arthur não está feliz com isso.)- Escócia falou e Brasil ficou sério.

 -Ele vai tentar me fazer de bobo na frente dos outros como sempre faz.- Brasil falou entristecido. A refeição continuou.

 Brasil se levantou e anunciou que iria conversar com o imperador. Escócia quis ir junto para se apresentar e rever o Palácio de São Cristóvão. A viagem de carro também fora cheio de risos e um mini karaokê onde ambos cantavam as músicas do rádio. Chegaram aos portões do palácio que não tinham segurança alguma. Outra diferença entre Londres e Rio de Janeiro. Brasil foi informado pelo ministro de ciência e tecnologia que o imperador estava almoçando. O Palácio de São Cristóvão voltou a ser a morada da família imperial brasileira. Decidiram esperar o retorno do imperador que deveria estar terminando sua refeição. Escócia e Brasil entraram na sala do trono e viram que ela havia sido restaurada com audiências do povo com o imperador todos os sábados das 8:00hrs da manhã as 19:30hrs da tarde. Escócia se lembrou que quando veio trazer uma mensagem de Inglaterra ao rei Dom João VI teve que esperar três horas numa fila para ver o rei de Portugal que havia se retirado para o Brasil. Foi ali que se conheceram e desenvolveram durante o segundo reinado brasileiro uma amizade que dura quase 200 anos.

 Quando o imperador retornou de seu horário de almoço avisou que em breve receberia Brasil e o homem ruivo que o acompanhava. A conversa com o imperador foi breve. O monarca brasileiro ficou feliz de conhecer a personificação da Escócia, anunciou que não poderia ir ao baile mas pediu para que Brasil o representasse no mesmo. Diferente de outros monarcas ao redor do mundo, o imperador do Brasil era um homem muito ocupado e certamente estaria exausto no horário do baile, levando em conta a pilha de papéis em sua mesa.

 Escócia e Brasil se vestiram, as roupas imperiais de Brasil era bem mais simples que Escócia. Fora os ramos de café no peito e abdômen e as ombreiras de ouro não ostentava luxos. Escócia tinha trazido uma caixa de medalhas e broches de prata, ouro e pedras preciosas que parecia carregar consigo a própria El Dorado. Mesmo trazendo tantas joias não colocou nenhum, vestiu apenas um broxe de cavalaria no lado esquerdo do peito. A janta dos estados brasileiros já estava pronta e Brasil disse que no caso de alguma emergência ligassem para ele. Brasil embarcou no avião particular do governo imperial brasileiro com má vontade e tédio, já Escócia embarcou com o sentimento de que deveria por um fim a essa servidão. Seu irmão inglês ouviria um monte.