História Brasil: Potência Tropical - A melhor vingança

  Cidade de Nova Deli, Índia.

 A civilização indiana estava em um momento crítico de sua história. Estava passando por crises sociais internas que por tanto tempo tiravam o sono da personificação indiana. Estava passando por um crise populacional. Era o segundo país mais populoso do mundo, abaixo de seu vizinho e aliado China, e seu território era menor que o do Brasil ou Canadá. Isso era um problema grave. A falta de saneamento básico e de recursos básicos para os vilarejos e cidades menores era comum e isso incomodava a personificação indiana. 

 Índia estava agora no meio de seu banho. Uma onda de calor estava atingindo seu país de uma forma que o prejudicava e muito. O calor era alto e isso fazia seus rios, extremamente poluídos, evaporarem criando chuva ácida quando chover.  Fora que plantações, lavouras e a vida dos cidadãos seja prejudicada de forma considerável. O indiano lava seu longo cabelo e reflita sobre sua vida e sobre sua situação. Sua casa possui um “luxo” que poucos em seu tem a oportunidade de ter: um chuveiro elétrico interno. 

 Isso aos moldes ocidentais era no mínimo incomum. Muitos de seus habitantes tomam banho fora de suas casas como baldes, nas casas de banho ou no Rio Ganges. Ah, o Rio Ganges. Esse Rio era sagrado para seu povo e para a religião hindu mas era ali onde o esgoto de muitas cidades é despejado. O povo toma banho, bebem e lavam suas roupas nesse rio sagrado. Pesquisas científicas realizadas pelo governo indiano e pela ONU já comprovaram que isso pode levar a danos à saúde irreversíveis. Mas era muito difícil mudar tradições milenares.

 O indiano saiu do banho e começou a se secar. Problemas e mais problemas. Isso era algo normal para as personificações. Vestiu seu tradicional Kurta e se preparou para o dia que viria. Teria de preparar sua casa para receber os membro dos BRIC’S que se reuniriam em sua casa. A situação inteira envolvendo os Estados Unidos  também está se tornando um problema. Sua economia nunca foi muito dependente dos Estados Unidos e isso era algo bom, mas o fato de seu povo estar sendo caçado como ratos na superpotência americana era algo no mínimo incômodo. 

 Preparava a comida que serviria ao amigos enquanto assistia a televisão. Mais uma vez os olhos do mundo estavam voltados para os Estados Unidos. A ONU exigia explicações da forma como outros povos, principalmente latinos e asiáticos, estavam sendo tratados em solo americano e nada a superpotência respondeu. Agora sendo as notícias protestos de defensores dos direitos humanos e pessoas insatisfeitas com o caos em que a nação fora mergulhada protestavam nas ruas de Nova York e na frente da Casa Branca. A guarda foi chamada para “acalmar a situação” e muito dos protestantes e políticos de oposição que apoiavam a causa forma presos.

 Foi ali que a ficha caiu, tanto para o mundo quanto para o próprio povo que ainda era racional em encaixar as peças desse enigma do terror. A presidenta estava virando uma ditadora. Finalmente perceberam que o país estava dividido e que lutavam contra um inimigo que não existia. Isso ficou ainda mais claro depois de um vídeo publicado pela mídia europeia que mostrava uma família de chineses se escondendo em um porão com enquanto nacionalistas fanáticos os caçavam do lado de fora. O terror que as crianças estampavam em seus rostos era algo horrível de se ver. 

 Mesmo que o terror estivesse presente nos jornais, boas notícias ainda sim existiam. A pandemia estava mais controlada do hemisfério norte e na América Latina os esforços para contê-la mostravam resultado. Outra boa notícia é que a Coréia do Sul estavam vencendo a guerra e empurrando os norte-coreanos de volta para seu território quase adentrando o mesmo. 

 A campainha da casa de Índia tocou e o mesmo foi atender. Era Brasil. Ele parecia cabisbaixo e entrou na casa em silêncio apenas cumprimentando o indiano na porta. Algo estava errado e Índia sabia disso. Pelos próximos quinze minutos nenhuma palavra foi tocada entre eles. Uma a uma as personificações dos BRIC’S foram chegando e logo todos se sentaram em uma mesa para poderem discutir as questões envolvendo os Estados Unidos.

 -Me perdoem.- Brasil falou pela primeira vez desde que entrou na casa do indiano. 

 -माफ़ी क्यों मांग रहे हो? (Porque está pedindo perdão?)- Índia perguntou confuso.

 -Eu sou o culpado disso, eu falei aquilo na televisão, eu envolvi vocês nisso e eu sou o responsável pelo que esta acontecendo nos Estados Unidos.- Brasil falou cabisbaixo apoiando o queixo na mão. 

 -不是你的錯。 那遲早會發生。 美國人認為他們是真理的主人和世界的國王。 他們認為自己優於鄰國人民和居住在本國的少數民族。 這種上帝情結正是促使德國、意大利和日本發動二戰的同一思想。(A culpa não é sua. Isso mais cedo ou mais tarde aconteceria. Os americanos acham que são os donos da verdade e os reis do mundo. Acham que são superiores aos seus povos vizinhos e as minorias que vivem em seu país. Esse complexo de Deus foi o mesmo pensamento que motivou a Alemanha, a Itália e o Japão a iniciarem a segunda guerra mundial.)- China declarou com a voz firme colocando a mão no ombro do brasileiro.

 -Китай в разуме.  Он вмешивался в политику других стран, вторгаясь в народы и убивая невинных мирных жителей, чтобы навязать свою волю.  Тот диктатор хочет, чтобы мы успокоились, но я говорю, что за меня мы пойдем до конца. (China em razão. Ele vem mexendo na política de outros países, invadindo nações e matando civis inocentes para impor sua vontade. Aquela ditadora quer que nós sedamos, mas eu digo que por mim iremos até o fim.)- Rússia falou tomando a mesma postura do amigo chinês.

 -Eu conversei com meu imperador, eu e ele concordamos, junto com a maioria de meus ministros que eu deveria fazer as pazes com os Estados Unidos e me desculpar pelo que disse.- Brasil falou calmo e isso impressionado a China e Rússia. África do Sul e Índia estavam curiosos. 

 -Почему ты это сказал? (Porque diz isso?)- Rússia perguntou atento.

 -我以為你想報仇。(Achei que queria vingança.)- China perguntou tentando achar um sentido nas palavras de Brasil.

 -E quero, por isso acho que deveríamos fazer as pazes com os Estados Unidos.- Brasil falou e aí sim a confusão tomou conta de todos, menos Índia que sorria orgulhoso. 

 -Kanjalo?  Ziphindiselele ngokuxolisa?  Ukuziphindiselela okunjani lokhu? (Como assim? Se vingar pedindo desculpas? Que tipo de vingança é essa?)- África do Sul perguntou completamente perdido.

 -O tipo perfeito de vingança. Marco Aurélio, imperador de Roma, disse certa vez: “A melhor forma de se vingar de um inimigo é não se assemelhar a ele”. Se continuarmos com essa briguinha besta nada vai mudar. Não podemos obrigar que ele mude, a mudança deve vir dele e eu pelo menos não quero ter de entrar em uma guerra onde sei que ambos os lados saíram perdendo, porque no fim, em uma guerra não há vencedores, há assassinos.- Brasil falou calmo e isso impressionou os outros países na sala.

 -आंख के बदले आंख और दुनिया अंधी हो जाएगी। (Olho por olho e o mundo acabará cego.)- Índia falou a clássica frase de Mahatma Gandhi concordando com Brasil. 

 África do Sul após pensar no assunto concordou com os dois. Não queria uma guerra, ainda mais uma guerra onde um país africano não pode ganhar. China e Rússia após muito tempo concordaram. Ambos os presidentes destes países não queriam uma guerra, queriam se fortalecer e estabilizar os seus países. Índia também tinha problemas o bastante para lidar e uma guerra não faria bem a ninguém. Concordaram e após uma conversa foi combinado que Índia, África do Sul e Brasil iriam até a capital americana para conversar com Alfred.

 Cidade de Washington, Estados Unidos da América. 

 A presidenta americana estava tensa. Suas atitudes estavam saindo do controle e o parlamento estava contra ela. Pediam por uma posição contra isso e sabiam que uma coisa era bater de frente com China e Rússia no âmbito político e econômico, mas incitar uma guerra contra eles era loucura. Os BRIC’S, agora que eram uma aliança militar, eram muito mais poderosos e numerosos que a OTAN e muitos países dela, como Dinamarca, Espanha e França estavam contra essa ideia absurda. 

 Fora informada que estava na hora. Fora organizada uma reunião de estado oficial de última hora com África do Sul, Brasil e Índia. O povo temia ser a declaração de guerra que tanto temiam e “tentavam evitar”. A presidenta americana apareceu e se sentou em sua cadeira a frente das potências “inimigas”. A personificação dos Estados Unidos apareceu e se sentou ao lado da presidenta. O americano estava nervoso e tremendo de medo, embora tentasse permanecer firme. Estava abalado.

-I came personally to apologize for the offenses you prefer against the American people.  We would like the relations between the BRICS and the United States of America were restored. (Eu vim pessoalmente me desculpar pelas ofensas que preferi contra o povo americano. Gostaríamos que as relações entre os BRICS e os Estados Unidos da América fossem restauradas.)- Brasil falou fingindo estar arrependido. 

 Alfred estava entristecido e por pouco não chorou. Já convivera com Brasil o suficiente para entender que ele não gosta de guerras. Nunca quis participar da primeira e da segunda guerras mundiais, mas seu povo e o próprio Estados Unidos o obrigaram a isso. Ele sabia que aquela loucura toda iria mais cedo ou mais tarde causar uma guerra. As palavra do brasileiro estavam ainda em sua cabeça. 

 A presidenta falou mais alguma coisa que o loiro não ouviu e levantou a cabeça vendo os três saindo da frente do público. Pode ver ao longe os três comemorando discretamente que tudo isso acabou. Não iria mais permitir isso. Desde aquele dia vem refletindo e analisando seus atos no último século. Ele se convenceu que estava errado, que agia como uma criança birrenta e mimada que quer tudo entregue na sua mão. Ele tinha que assumir responsabilidades por seus atos e um deles era tudo o que fizera com Brasil. Desde o golpe militar que proclamou a república ele vem mentindo e manipulando o brasileiro. 

 Brasil e Rússia eram amigos a muito tempo, quantos os dois ainda eram impérios. Quando o mesmo voltou a se aproximar do russo que na época era chamado de União Soviética, ficou louco e instaurou um golpe e uma ditadura militar no país para “manter o Brasil na linha”. Fizera o mesmo em países da África e da América do Sul. Ele tomou dos outros aquilo que seu país tanto defendia: a liberdade e a democracia. Depois da queda da União Soviética o americano passou a lutar contra ditadores no oriente médio sendo que anos antes havia instaurado ditaduras em seus vizinhos. Ele era hipócrita.

 Fora que foi injusto e vingativo com Vietnã e Japão. Fora atacado de surpresa pelo Japão e se vingou destruindo duas cidades inteiras e fazendo o povo japonês passar por dores que até hoje são sentidas. Não impressionava o japonês ficar tão recluso consigo. E Vietnã? Usou de métodos covardes para castigar pessoas inocentes a troco de nada, já que aquela guerra os Estados Unidos perdeu. Até hoje pessoas nascem carregando nas cortas os erros de Alfred. 

 -Do not leave this room. (Não saiam dessa sala.)- Estados Unidos falou gritando para os três que olharam assustados. As câmeras e o público estavam atentos e nervosos.

 -I owe you an apology. (Eu que devo desculpas.)- Estados Unidos falou calmo e o queixo do povo caiu. 

 -Brazil is right.  I am rather a selfish person who goes over his own ideals just to get what I want.  I apologize for what I did to you Brazil.  Sorry for the military dictatorship and the lies and insults I made against you. (Brasil está certo. Eu sou sim uma pessoa egoista que passa por cima de seus próprios ideais apenas apara obter o que quero. Eu peço perdão pelo que fiz com você Brasil. Perdão pela ditadura militar e pelas mentiras e insultos que fiz contra você.)- Estados Unidos falou e novamente o púbico ficou em choque.

 -My people acted wrongly against you BRICS and the innocent people who saw in my country a home.  Hey, I allowed this to happen, I allowed the power to go to its head and I'm responsible for it.  I admit that and ask your forgiveness, from the three of you in fact. (Meu povo agiu de forma errada contra vocês dos BRICS e as pessoas inocentes que viram em meu país uma morada. Eu permiti que isso acontecesse, eu permiti que o poder subisse a cabeça e eu sou o responsável por isso. Admito isso e peço o seu perdão, de vocês três na verdade.)- Estados Unidos falou abaixando a cabeça e o povo também passou a pensar em tudo o que fizera. 

 Agrediram, mataram e prejudicaram inúmeras pessoas inocentes dentro do solo americano. Eles eram os monstros, os vilões nesta história. Deixaram o ódio e o revanchismo tomar conta de si apenas por ouvirem verdades dolorosas. Brasil se aproximou de Estados Unidos e o mesmo já esperava ser insultado ou agredido mas o que o moreno fez o surpreendeu. O puxou para um abraço.

 -I forgive you.  Everyone deserves a second chance, but I want those involved in these atrocities to be punished and the victims compensated. (Eu te perdoo. Todos merecem uma segunda chance, mas eu quero que os envolvidos nessas atrocidades sejam punidos e as vítimas indenizadas.)- Brasil falou e Estados Unidos apertou o abraço. 

 Fazia um século que não recebia um abraço. Na próxima reunião da ONU iria encarar as  consequências de seus atos. Era hora de fazer diferente. O mundo não está contra ele e não fazia sentido ver as nações mais fracas como inimigas. Sempre quis ser um herói, sempre quis ser aquele que mudaria o mundo e faria dele um lugar melhor. Mas nesse últimos dias viu que não dava conta nem de fazer seu próprio país um lugar melhor. “Antes de querer mudar o mundo, de três voltas em sua casa.” Era hora de pôr as coisas em seu devido lugar. Era hora de unir o seu povo.