Sábado 3:10 AM/ sitio dos Harvey
P.O.V NOAH
— Não sei nem por onde começar. — meu pai ri de nervoso.
— Que tal começar a falar sobre o que você disse para a S/n na festa de ação de graças, e por que estavam discutindo no outro dia?
— Noah! — Linsey me repreende.
— O quê? Mais não é isso que queremos saber? — minha expressão corporal é de interrogação.
— É, mais do jeito que você está falando parece até uma acusação! Senta aí e ouve o que ele tem a dizer. — me sento ao lado dela na cama.
— Pode continuar, estamos ouvindo! — papai dá um longo suspiro antes de começar.
— Lembram dos exames de rotina, que eu tive que fazer a alguns meses?
— Sim, aquele que você ficou relutante em fazer. — mamãe o questiona.
— É esse mesmo. No dia de ação de graças, quando S/n foi ao meu escritório ela encontrou o resultado dos exames. — dou um sorriso de lado, como se não estivesse surpreso com o que ele disse — Eu pedi pra que ela não contasse e ela me disse várias vezes que vocês precisavam ouvir de mim. Mais acho que não tive coragem o suficiente pra olhar em seus olhos e dizer, eu não tive coragem para admitir para mim mesmo. Fui fraco e desperdicei diversas oportunidades de ter essa conversa, mas a hora é essa. Eu tentei polpar vocês da dor, quando na verdade eu estava poupando a mim mesmo. — ele parecia calmo, mas ao mesmo tempo sofria — Os exames deram positivo pra câncer.
Minha mãe coloca a mão na boca para abafar o choro, os olhos da minha irmã já se enchiam de lágrimas, mas eu continuava neutro e calmo, ou, pelo menos tentava parecer, quando na verdade por dentro parecia que acabaram de jogar uma bomba em mim e aquilo estava acabando comigo.
— Quanto tempo você tem? — minha mãe se levanta e vai até meu pai, ele não a responde então ela dá um tapa em seu peito — QUANTO TEMPO VOCÊ TEM? — ela pergunta irritada, mais ao mesmo tempo sua expressão era de desespero, dor e tristeza.
— Os médicos estimam um ano, alguns meses no máximo. — minha mãe desaba no chão.
— E a quimioterapia? E as cirurgias, remédios e tratamentos? — Linsey pergunta com a voz trêmula, nosso pai apenas balança a cabeça negativamente.
— Eu já tinha começado a quimio, mas parece que fazer quimioterapia com câncer em estado avançado não faz muita diferença. Já as cirurgias, são muito arriscadas e podem me matar ainda mais rápido.
— Por que não nos disse antes? — tento compreender — Nós teríamos ficado do seu lado, te incentivado a fazer os tratamentos e...
— Como eu disse, eu estava com medo e sei que fui covarde nessa parte. Mas agora não tem como voltar atrás, não dá para voltar a meses atrás e começar o tratamento.
— Se o senhor tivesse nos ouvido e ido no médico antes, nada disso estaria acontecendo! — Linsey resmunga limpando as muitas lágrimas que caem de seu rosto e dificultam sua fala.
— Linsey, meu bem! A morte é uma coisa inevitável e não podemos adiar, uma hora todos nós vamos partir.
— É eu sei, mas tinha que ser agora? Você não vai ver eu me formando, ou eu casando, ou... Ou tendo filhos, e... E... Nem o Noah. — sinto meus olhos se encherem d'água.
— Tá tudo, não tem problema. Eu vou embora, mas vocês vão continuar aqui, vocês vão precisar ser fortes por vocês e pela sua mãe. A vida passa muito rápido, temos que saber aproveitar os bons momentos e ser gratos por termos vida, saúde e por ter levantado da cama hoje, porque quando você menos esperar... — ele estala os dedos — sua vida acabou e tudo o que resta são apenas cinzas.
— Pai! — Linsey clama por ele. Meu pai abraça as duas tentando consola-las.
— Tá tudo bem meu amor, tá tudo bem! — ele fala acariciando o cabelo dela.
Por mais que eu esteja triste com tudo isso, eu não consigo demonstrar, não consigo dizer pro meu pai o quanto eu o amo, o quanto ele é importante na minha vida e isso tá me matando. Talvez seja uma das últimas oportunidades que eu tenha de estar com meu pai, talvez a única chance de dizer e eu não tô pronto pra me despedir, não tô pronto pra deixar ele ir.
A emoção é tanta, que nem consigo mais ficar aqui. Vou em direção a porta e saio por ela, batendo a mesma e produzindo um ruído alto. Vou em busca do único lugar seguro pra mim, em busca do meu abrigo, porto seguro e do meu ponto de equilíbrio.
P.O.V S/N
Depois daquele show do Léo durante o jantar, perdi a fome e saí para clarear as ideias. Fico um bom tempo refletindo antes de voltar pra casa. Subo para o quarto sem falar com ninguém, não estava com cabeça pra isso e todos naquela casa sabiam disso, se aquele babaca aparecesse na minha frente de novo, eu juro que uma marca no rosto não ia ser a única coisa que ele ia ganhar.
Entro na banheira por alguns minutos, ao sair coloco meu pijama azul com um robe por cima, me enfio sob as cobertas e ligo a TV. Any entra no quarto com um pedaço de fricassê, ela entrega pra mim e se senta ao meu lado. Ficamos comendo e assistindo, até que ouvimos o barulho de uma porta batendo, o que nos assusta de início, então Noah entra no quarto, ele parecia bem abalado.
— Vou deixar vocês à sós! — ela pega o prato vazio e sai, mas antes de atravessar a porta dou um sorriso pra ela.
— Tá tudo bem? — ele vem até mim balançando a cabeça negando, seus olhos estavam marejados e seu rosto carregava sentimentos confusos de mais para eu decifrar.
Noah não diz nada, apenas se deita em meus braços e começa a chorar, ele me abraça e eu o aperto forte contra meu peito, tentando passar o máximo de conforto possível. Acaricio seus cabelos, enquanto ele chora e me aperta cada vez mais. Não falamos nada, porque o silêncio já fala por si só.
Me doía vê-lo nesse estado, queria poder pegá-lo e colocá-lo em um potinho e guardar pra sempre, pra que ninguém pudesse magoá-lo novamente e também pra que ele não tivesse que lidar com a perda do pai.
— Esse era o meu último natal com ele e eu estraguei tudo! Eu tratei ele mal, nessas últimas semanas. E agora eu posso perder ele pra sempre. — ele diz fungando.
— Ei não fala assim! Não foi sua culpa, o que aconteceu mais cedo, você precisa ser mais positivo e pensar que tudo vai ficar bem. — digo tentando ser otimista.
— Não vai, e nós todos sabemos disso! Não tem muito o que fazer, ele vai me deixar e eu nem sequer tive forças pra olhar na cara dele e dizer tudo o que eu tenho guardado, não vou ter a oportunidade de agradecer por ele ser um bom pai por todos desses esses anos, nem por ser meu melhor amigo nas horas boas e ruins, e por me apoiar em todas as minhas decisões, mesmo que não as melhores.
— Você pode ficar aqui se lamentando, ou ir falar tudo isso pra ele, antes que seja tarde de mais e você talvez não tenha outra chance. Me parte o coração nossos filhos não poderem conhecer o avô incrível que eles teriam, mais eles vão ter você, e o homem que se tornou por causa dele.
— Peraí! Você tá... — ele levanta a cabeça para ver minha barriga e olhar em meus rosto.
— Não, não estou! — sorrio divertida. — Mas você devia agradecer pelo seu pai, e por ainda ter a chance de dizer que o ama e de poder ficar com ele até o último momento.
— Você tem razão, mas eu não sei de onde tirar forças pra fazer isso.
— Simples, tire do amor que sente por ele. Você vai lá e vai dizer tudo o que for presciso, vai dizer “Eu te amo”, “Sinto muito” e tudo mais que quiser. Não tem problema, deixar pra falar amanhã. — ele balança a cabeça.
— Preciso dizer isso hoje. — ele se levanta do meu colo, eu apenas afirmo com a cabeça e sorrio.
P.O.V NOAH
Saio do quarto e vou até o meu pai, ele estava na varando do primeiro andar. Vou até ele e desabo em seus braços.
— Me desculpa, me desculpa! — ele me aperta forte.
— Tá tudo bem! Eu ainda tô aqui!
— Eu te amo, pai! Sinto muito por ter te tratado daquela maneira. — digo ainda aos prantos.
— Tudo bem, eu também te amo e te perdôo, ok? Vai ficar tudo bem. Você não estará sozinho, nunca te deixaria sozinho. Por sorte você está rodeado de pessoas que te amam!
Contínuo chorando em seus braços, talvez fosse o melhor abraço de todos por ser o último. Não conseguiria viver, sabendo que essa seria uma das últimas memórias com meu pai, então minha irmã e eu preparamos uma última surpresa pra ele, antes de nos deixar.
Continua.........
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