“...Eu preciso de você, eu preciso de você, eu preciso de você agora. Sim, eu preciso de você agora. Então não me deixe, não me deixe, não me deixe para baixo...”
– The Chainsmokers (Don't Let Me Down)
[…]
Cassie Crawford P.O.V
Destranquei a porta de casa com dificuldade devido ao tremor que dominava minhas mãos, e caminhei de forma desajeitada para dentro. Meu pai e minha tia estavam na sala assistindo a algum filme, e minha tentativa de passar despercebida foi impossível.
– Voltou cedo. – Tia Eve comentou.
Não respondi. Apenas segui meu caminho até o quarto, e quando o adentrei, me joguei na cama desejando nunca mais ter que sair dali.
– Cass? – Ouvi a voz do meu pai seguida de alguns passos no corredor.
Droga!
– O que aconteceu? – Quando minha tia fez a pergunta eu desabei outra vez.
– Georgia... – Foi tudo que saiu.
– O que ela fez? – Meu pai indagou nervoso – Diga Cassie, o que a sua mãe fez?
– Desde que chegou não para de falar que o Luke deveria terminar comigo e voltar com a ex dele. Ela fez amizade com a garota, e ainda tripudiou quando Violet beijou Luke na minha frente. – Despejei.
– Eu disse que isso não daria certo! – Tia Eve parecia furiosa – Georgia não muda!
– Tem razão, Eve. – Meu pai concordou – Vou manda-la embora. É o melhor a se fazer.
Minha tia assentiu.
– Não ligue pra sua mãe, Cassie. – Ele disse e se retirou do cômodo.
Quando uma parte do nosso corpo coça, instintivamente levamos a mão ao local, aliviando a coceira. E quase sempre fazemos isso sem perceber. Era engraçado ouvir todo mundo dizer a mesma coisa. “Não liga pra ela” – eles diziam. Como se eu quisesse ligar. Georgia era uma coceira crônica em minha vida, portanto coça-la era inevitável.
Quando me deitei em posição fetal na minha cama recebendo o cafuné-do-consolo da tia Eve, tudo que eu desejei foi apagar da minha memória que Georgiana Houston era a responsável por ter me colocado no mundo.
– As coisas vão se resolver. – Minha tia proferiu em um tom suave, e prosseguiu com o cafuné até que eu adormecesse.
[...]
Despertei assustada pensando estar atrasada para a escola, mas logo me lembrei que era domingo, e que eu tinha permissão para acordar depois do meio dia. Assim que coloquei os pés para fora de cama fui surpreendida por duas batidas na porta.
– Entra.
– Cassie, Carter Turner está lá em baixo. – Tia Eve me entregou uma caneca de café – Posso mandar subir?
– Pode.
Não me importei muito com o fato de ainda estar usando meu vestido da noite anterior, ou com meu cabelo desgrenhado e a maquiagem borrada. De qualquer forma, Carter já tinha me visto pior.
– Cassandra Crawford! – Alguns segundo depois a porta foi aberta com violência e a ruiva pulou em mim quase derrubando meu café.
– Cassie – Corrigi – Por favor, só Cassie.
– Você está bem? – Ela se acomodou na minha cama.
– Pareço bem?
– Ok, essa pergunta foi idiota. – Carter abanou as mãos para que esquecêssemos – Luke e Violet brigaram feio depois que você foi embora.
– Não estou nem aí.
– É claro que está. – Me encarou séria – Sabe que ele não teve culpa, não é mesmo?
– Sinceramente, eu acabei de acordar, – Bebi um longo gole de café antes de prosseguir – e no momento, não sei de nada.
– Cassie, ele está péssimo.
– Se veio aqui pra falar do Luke, pode ir embora.
– Foi mal. – Ela revirou os olhos – Marcaram um show pra eles.
– Legal.
– E também marcaram a data para a gravação do CD. – Anunciou com orgulho.
– Isso é muito bom. – Tentei mostrar o quão feliz eu estava por eles, mas meu estado não permitia muito ânimo.
– Você vai estar lá?
– Eu não sei.
– É importante pra eles, Crawford. – Disse – Lembre-se que a banda não é só o Luke.
– Carter, eu realmente preciso pensar, e você não está me ajudando muito.
– Tudo bem. Foi mal de novo. – Ela respirou fundo e começou um novo assunto – Violet deixou a garagem hoje mais cedo.
– Ela não precisava ter feito isso.
– Não foi pelo que você está pensando. – Carter fez uma pausa como se estivesse se decidindo entre falar e não falar – Ao que parece, sua mãe a convidou pra ser assistente, e as duas partiram hoje num voo para o Brasil.
– Elas se merecem. – Murmurei para mim mesma.
– Bom, acho que já falei tudo. – Ela se levantou fazendo menção de ir embora – Preciso ir. Domingo é o dia de engordar com o Clifford. Quer vir junto?
– Vou ficar por aqui mesmo, temos duas provas importantes amanhã e eu preciso estudar.
– Ok. – Carter me abraçou – Se aparecer na escola amanhã com cara inchada de chorar, eu juro que bato em você. – E então se retirou, me deixando com um sorriso na face.
Por pior que fosse o meu estado, meus amigos sempre conseguiam me fazer rir.
[...]
No dia seguinte eu me arrastei de casa até a escola com a melhor cara que consegui graças a santa base. Eu não tinha o hábito de usar maquiagem logo de manhã, mas dessa vez foi preciso, porque a) eu precisava disfarçar minha cara de quero-morrer-por-favor e b) as marcas no meu pescoço ainda estavam ali gritando e fazendo questão de lembrar coisas que eu queria esquecer.
Quando cheguei na escola, cumprimentar meus amigos foi mais fácil do que pensei que seria. Isso porque Luke havia se atrasado, e eu só o vi quando chegou na sala de aula se desculpando com o professor por ter chegado tão tarde. Por sorte eu estava tão concentrada na prova do senhor Bolton que quase não tive tempo de prestar atenção nele.
Após a longa e torturante prova – que eu tinha não tinha tanta certeza se havia conseguido média – nós fomos liberados para o intervalo. Confesso que foi estranho ter que passar direto pela mesa em que meus amigos estavam e me sentar em outro lugar. Mas por outro lado isso tudo acabou sendo útil. Eu tinha que terminar de ler um capítulo inteiro sobre a matéria da prova que faríamos na próxima aula, e nunca conseguiria se estivesse perto de Michael e Carter.
– Posso saber o que está fazendo na minha mesa? – Uma voz irritante tirou minha atenção do livro.
Quando levantei os olhos me deparei com ninguém menos que Emily Underwood.
– Desculpa. – Fechei o livro e preparei para me retirar. Uma discussão idiota com ela era tudo que eu não precisava agora – Eu não sabia que essa era sua mesa. De qualquer forma, já estou indo.
– Não, tudo bem. – Emily voltou atrás e se juntou a mim na mesa – Pode ficar.
– Por que está sendo legal comigo? – Ergui uma sobrancelha em desconfiança.
– Porque – Ela explicou – não é nada divertido ser má quando você não retruca.
Dei de ombros e voltei a ler meu livro.
– Por que diabos não está sentada com os outros? – Ela questionou apontando para a direção onde meu grupo se encontrava.
– Luke e eu terminamos. – Entreguei de uma vez.
Isso era tudo que ela queria ouvir, mas eu não estava me importando.
– V-vocês o que?!
– Terminamos. – Repeti a palavra com um pouco mais de força pensando que se dissesse em voz alta, a resignação ajudaria a levar a dor, mas não funcionou – Feliz?
– Foi por causa da Violet, não foi? – Indagou enraivecida, me surpreendendo ao não zombetear ás custas da minha tristeza.
– Como sabe?
– Conheço a irlandesa. – Falou – E sabia que ela voltaria pra causar estragos.
– Pensei que ia gostar de ouvir a noticia. Nunca quis que ficássemos juntos.
– É verdade. – Concordou me arrancando um olhar confuso – Mas eu prefiro mil vezes você do que aquela idiota metida a hipster.
Agradeci com um breve meneio.
– Sempre os avisei sobre ela. – Emily balançou a cabeça negativamente parecendo estar indignada – Aqueles tapados dos seus amigos insistem em confiar em todo mundo.
– Nossos amigos. – Corrigi.
– Seus. – Repetiu convicta.
Suspirei sentindo o peso da culpa cair sobre as minhas costas. Se não fosse por mim, talvez Emily ainda estivesse com eles.
– Você devia falar com o Luke. – Ela aconselhou enquanto o fitava de longe. Ele estava a uns seis metros de distância, com a cabeça abaixada na mesa igual a uma criança do jardim de infância enquanto tira um cochilo – Vi o jeito que te olhou a primeira vez que te viu, e sério, naquele instante percebi que ninguém mais teria chance com ele. Por que acha que eu peguei tanto no seu pé?
A direcionei um sorriso com as imagens do meu primeiro dia na escola vindo em mente, mas o desfiz rapidamente ao lembrar do episódio de sábado.
– É complicado.
– Só é complicado se você quiser que seja. – Fez uma pausa – Luke ama você e ama ele. Simples.
– Mas tem essa coisa toda com a Violet e... – Fui interrompida.
– Você tem que dar a ele a chance de ser explicar, Cassie. – Ela pronunciou meu nome pela primeira vez, fazendo com que eu acreditasse em sua empatia repentina – Seja lá o que Violet tenha feito, ele não teve culpa.
– Olha só quem está na nossa área. – Alex Clark surgiu atrás da morena e a beijou, o que fez meu estomago revirar em repulsa – Pode ir circulando Crawford.
– Quer saber, eu nem quero mais esta mesa, Alex. As folhas daquela árvore estão caindo e sujando meu cabelo. – Emily apontou para o grande eucalipto que era responsável por gerar sombra as mesas do canto – Vamos achar outro lugar.
– Ok. – Clark concordou e permitiu que a namorada o guiasse para longe de mim sem resistência.
Antes de sumir totalmente do meu campo de visão, Emily me olhou, e então sorriu.
[...]
Luke Hemmings P.O.V
– Estou falando sério, preciso terminar isso até o dia do show. – Falei apontando para um rascunho da música que eu vinha escrevendo a meses – Você tem alguma ideia Michael?
– Ainda acho que uma música não vai adiantar nada. – Alyssa comentou antes que Mike dissesse qualquer coisa.
– Tem razão, loirinha. – Calum concordou.
– Será que ao invés de bancarem os cuzões, vocês podem me ajudar? – Pedi impaciente.
– O que estamos querendo dizer, é que você não pode foder tudo sempre e depois escrever uma música bonitinha pra concertar. – Carter acrescentou.
– Eu não tive culpa! – Saí em minha própria defesa – E não é só “uma música bonitinha”.
– Você nem ao menos tentou se explicar. – Ashton foi quem falou.
– Liguei pra ela dezoito vezes! – Argumentei de novo.
– Ela não vai atender você, imbecil. – Calum disse enquanto retirava o celular do bolso e discava algum número. Certamente o dela – Deixa comigo. – Ele se calou e quando começou a falar, presumi que ela tivesse atendido – Cass? É o Calum. Quer vir até a garagem nos ver ensaiar? Eu posso buscar você se quiser. – Fez mais alguns segundos de silencio e depois continuou – Ah, é uma pena. Tem certeza que não quer vir? Ok... Nos vemos depois então.
Todos nós o encaramos a espera de uma resposta.
– Ela disse que tem que estudar.
Eu sabia. Mesmo depois de tanto tempo Cassandra ainda era tão previsível.
– Boa Hemmings! – Michael ironizou mal-humorado – Além de afastá-la de você, fez com que se afastasse de todos nós. Já disse que você é um babaca filho da puta?
– Já. – Revirei os olhos evitando xinga-lo de volta – O dia todo, por sinal.
– Ótimo, porque é exatamente isso que você é. – Completou.
– Vai me ajudar ou não? – Respirei fundo enquanto encarava o papel em minhas mãos.
[...]
Cassie Crawford P.O.V
Desliguei o telefone e continuei a caminhada árdua devido à mochila cheia de livros que eu carregava. Como amanhã teríamos prova final de biologia, eu aproveitei para pegar uns livros importantes na biblioteca da escola para revisar a matéria. Estudar me distraía, e me fazia lembrar meu objetivo principal desde o começo: ser aceita em uma boa universidade e cursar medicina.
Assim que cheguei em casa, aproveitei para checar a caixa de correio. Mesmo sabendo que nunca tinha nada pra mim, eu mantinha o hábito. Dessa vez havia três envelopes; dois deles eram cartas de uma amiga para tia Eve, e o outro tinha meu nome e o símbolo da Koala University.
Mais do que depressa abri o meu envelope e não pude evitar uma dancinha de comemoração ao ler o que estava escrito.
"Prezada senhorita Crawford,
Nós da Koala University recebemos sua carta e estamos lisonjeados com seu interesse em ingressar na instituição. Por esse motivo, gostaríamos de convida-la para uma visita guiada a fim de conhecer melhor a universidade e suas instalações. Para mais informações, visite o nosso site.
Contamos com a sua presença.
Atenciosamente, Jackson McCall."
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