Jorge Blanco:
-Bom dia – encarei o porteiro do prédio – Pode avisar a Lodovica que o Jorge está aqui – pedi
Ele assentiu e discou um numero no telefone. Ela atendeu e me deixou subir.
-Pode subir – abriu o portão e me deixou entrar
-Obrigado – agradeci com um sorriso gentil
Encarei o prédio grande e muito bonito, com certeza tem o dobro do tamanho de onde eu moro. Desde que as duas se mudaram eu nunca as visitei. Não sabia se quer o endereço ou número do apartamento.
Não demorou muito e eu já estava de frente a porta do apartamento, ponderando sobre tocar ou não campainha.
-Quem é o idiota de interromper meu filme? – depois de longos segundos Lodovica abriu a porta, resmungando – Jorge? – me encarou surpresa
-Oi Lodo – murmurei sem graça – A Martina está? – questionei escondendo as mãos no bolso da minha calça jeans preta
-Entra – fez uma careta estranha e me deu espaço para adentrar seu apartamento – Ela chegou faz alguns minutos, arrasada – me encarou intrigada – Eu suspeitava que tinha alguma coisa a ver com você, mas agora eu tenho certeza
Fechou a porta depois que eu passei.
Observei tudo ao meu redor, o apartamento era visivelmente maior que o meu e muito bem decorado. De alguma forma misturava a personalidade da Lodo e da Tini ao mesmo tempo.
-Posso falar com ela? – desviei meu olhar novamente até a morena que vestia um pijama lilás – Por favor – supliquei com minha cara de cachorro sem dono
-Segunda porta a direita – apontou em direção ao corredor vazio enquanto sentava no sofá – Se você piorar as coisas, saiba que eu vou estar aqui de fora te esperando – ameaçou com um sorriso falso
Ergui as mãos para o alto e caminhei até o corredor, na segunda porta a direita.
-Martina – chamei batendo duas vezes na porta branca
Um silêncio angustiante pairava dentro do quarto, nenhuma resposta.
-Martina – insisti mais uma vez e nada – Eu vou entrar – tentei a sorte e a porta estava destrancada
Com cuidado eu abri a porta, o quarto estava vazio, mas pude escutar um barulho vindo do banheiro, parecia ser do chuveiro.
-Tomando banho – resmunguei para mim mesmo
Fechei a porta e resolvi esperar ali mesmo, me sentei na cama e passei a observar cada canto do seu quarto.
Sua cama bagunçada, uma escrivaninha amontoada de papeis próxima da janela aberta, pilhas de roupas jogadas em no canto... a única parte organizada daquele quarto era sua penteadeira.
-Ai meu Deus – levei um susto ao escutar sua voz ecoar no quarto – Que merda Jorge – colocou a mão sobre o peito
Eu estava tão distraído que mal notei a porta do banheiro abrindo.
-Quer me matar? – questionou segurando firme a toalha que envolvia seu corpo, aquele corpo que de alguma forma eu gravei na minha cabeça e mesmo com tantas tentativas, é impossível encontrar outro igual
-Não queria assustar você – respondi tentando segurar o riso
-Como é que você entrou no meu quarto? – se aproximou da cama onde eu estava
-Lodo me deixou entrar – respondi o óbvio
-É claro que deixou – revirou os olhos – O que veio fazer aqui? – me encarou intrigada
Notei seu nariz vermelho e os olhos inchados, indicando que passou muito tempo chorando. Por minha culpa.
-Eu queria – tentei formular uma frase, mas seu olhar sobre mim me deixou desajeitado – Eu achei isso – peguei o colar dentro do meu bolso e coloquei sobre a cama
Ela encarou o mesmo durante longos segundos e suspirou derrotada.
-Eu não quero mais ele – deu de ombros – Pode dar de presente pra sua próxima mulher, assim como fez com o terraço – como de costume, foi direto ao ponto
-Eu sabia que você tinha visto – resmunguei frustrado comigo mesmo
-É claro que eu vi – envolveu seu braço ao redor do corpo, segurando a toalha branca – Veio aqui me dizer que tem o direito de levar quem quiser lá e que eu não tenho nada a ver com isso? – debochou – Quer esfregar mais uma vez na minha cara que quem errou fui eu? – continuou
Seu tom de voz frio e distante eram novidade pra mim.
-Você entendeu tudo errado – me levantei da cama – Eu não levei aquela mulher lá, foi só uma coincidência – fiquei frente a frente com ela – Uma merda de coincidência – respirei fundo
-Tá bom – respondeu encarando o chão do quarto
-Tá bom? – me senti frustrado com sua resposta – É isso que você tem pra me dizer?
-Quer que eu diga o que? – voltou a me encarar, dessa vez com os olhos marejados e o rosto vermelho -Parabéns Jorge, provou que não é tão babaca quanto eu – murmurou com ironia – Tudo voltou ao normal, você é o melhor homem do mundo e eu a infiel que destruiu nosso relacionamento
Eu não pensei por esse lado.
-Não foi isso que eu quis dizer Martina – franzi as sobrancelhas – Eu não penso assim
-Não? – debochou – Porque até esses dias você jogava na minha cara que eu acabei com tudo – gesticulou com as mãos
-Você não tá errada, dias atrás eu ainda pensava isso – assenti – Mas esperava o que? Que eu acordasse no dia seguinte e perdoasse você? - questionei erguendo os ombros – Não é tão fácil assim Martina
Me afastei observando a janela aberta e o vento adentrando o quarto.
-Passei semanas sem coragem de dormir na nossa cama, porque eu acordava toda noite procurando você – suspirei derrotado – Você mudou de cidade e eu fiquei aqui tendo que responder todas as vezes que alguém perguntava sobre nós
Um silêncio pairou no quarto.
-Acha que foi fácil pra mim? – sua voz baixa e rouca saiu quase em um sussurro abafado – Não teve um dia desde aquela noite que eu não me senti a pior pessoa do mundo por ter magoado você – pude sentir a dor nas suas palavras – Dia após dia esse maldito erro vem me corroendo, me machucando
Desviei-me da janela e por um instante nossos olhares se cruzaram. As lagrimas escorriam por seu rosto vermelho mesmo que ela tentasse segurar.
-Eu não podia aceitar que joguei os melhores cinco anos da minha vida no lixo por causa de uma noite – sentou na beirada da cama – Tudo isso porque eu tinha medo de conversar com você, medo de que o amor já não sustentasse mais o nosso relacionamento
Eu até imaginava que não era o único que sofreu com a nossa separação, mas ver ela ali tão frágil e pela primeira vez escutar o lado dela da história foi um baque.
Passei quatro meses me colocando como vítima, fui orgulhoso demais pra enxergar que ela sofria tanto quanto eu.
-Eu sinto muito – me agachei de frente pra ela – Não escutei você – segurei sua mão apoiada sobre as pernas
-Jorge você não tinha a obrigação de escutar minhas desculpas, tudo que eu sofri foi consequência do meu erro – enfatizou as duas últimas palavras – Demorou muito, muito mesmo – seus olhos castanhos encontraram com os meus – Mas eu aceitei que você não vai me perdoar
Afastou minhas mãos e tentou levantar, mas eu a impedi.
-Porque você é sempre tão orgulhosa? – segurei suas pernas apoiadas sobre a cama e reuni toda minha coragem para continuar – O meu maior problema nesses últimos meses foi acreditar que alguém chegaria perto do que você foi – sorri lembrando das minhas tentativas fracassadas de tirar ela da minha cabeça
-O que você quer dizer com isso? – sua expressão se tornou confusa e intrigada
-Martina, o que eu vou dizer agora vem martelando na minha cabeça faz alguns dias e tudo que me faltava era a coragem de admitir – me levantei do chão – Até que encontrei aquele colar e você praticamente me obrigou a tomar uma decisão – encarei o colar sobre a cama
Eu tentei de todas as formas me afastar dela, tentei esquecer, tentei me envolver com tantas pessoas que não poderia me sobrar tempo de pensar nela... eu tentei esquecer. Tentei com tanta força que esqueci de me importar com o que meu coração dizia.
E meu maldito coração gritava o nome dela.
-Eu posso te dizer que não consigo viver sem você, mas no fundo eu estaria mentindo – neguei – Eu consigo viver sem você – afirmei
Martina me encarou sem paciência, pronta pra me interromper.
-Mas eu não quero viver sem você – completei respirando fundo
-Jorge, eu – tentou formular alguma resposta, mas parecia tão surpresa ao ponto de não conseguir falar
-Eu perdoo você Tini – confessei com toda sinceridade
Se tem uma coisa que ela me ensinou é que as vezes você pode amar alguém e não dar certo, mas isso não significa que não se entregou o suficiente. Aprendi que perdoar as pessoas e permitir que o amor entre, não é insistir no erro, e sim, recomeçar.
Perdoar a pessoa que partiu meu coração não foi de um dia pro outro, eu precisei de um tempo e insisti em muitas bobagens. No fundo tudo isso me fez compreender que um erro não pode apagar tantos momentos bons.
Ela se levantou, ficando frente a frente comigo. Parecia ainda não acreditar nas minhas palavras, procurando qualquer vestígio de que eu estivesse mentindo.
-Martina – segurei suas mãos, aproximando mais seu corpo do meu – Volta pra mim – pedi com toda minha esperança
Eu posso acabar me frustrado de novo, mas prefiro perdoar quem eu tanto amei, do que me arrepender por viver o resto da minha vida tentando superar um erro.
Por mais que eu negue, nossos olhares transmitem o que nossas bocas não conseguem dizer, ainda há muito amor entre a gente.
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