História Breaking Rules - Jortini - Temp. 2 - Capítulo 3

Martina Stoessel:

Eu sou uma pessoa contraditória.

Cheguei a essa conclusão depois de passar dias lendo livros, assistindo filmes, organizando coisas desnecessárias, andando de um lado para o outro, cozinhando comidas que eu nem se quer gosto. Passei dias tentando me convencer que não preciso ser perfeita.

Mas olha só onde eu vim parar.

Em um site amador procurando lugares que eu possa levar meu portfólio e os convencer que sou uma ótima profissional.

Mas como eu posso convencer alguém de algo que eu mesma não acredito?

-Pequeno ateliê de moda localizado em um bairro afastado - li a descrição do vigésimo anúncio que encontrei hoje - Resumindo, uma casa de costura - revirei os olhos e pensei em voz alta

A que ponto eu cheguei. Se Lodo estivesse aqui agora eu receberia um belo tapa. Que saudade da minha amiga.

Fechei meu computador e deixei o mesmo sobre o sofá, desliguei a tv e resolvi procurar o outro ser humano que habita esse apartamento.

Segui pelo pequeno corredor que liga os quartos e bati de leve na porta do nosso quarto.

-Pode entrar - escutei sua voz rouca pronunciar do outro lado

Quando adentrei ao quarto me reparei com a confusão da mente dele espalhada por todo canto.

Nossa cama repleta de livros e papéis avulsos, seu computador jogado em um canto do chão e na mesa ao lado da cama algumas embalagens de comida.

-Isso parece o quarto de um adolescente irresponsável - comentei tentando não transparecer a decepção na minha voz

-Desculpa meu amor, eu prometo que vou arrumar tudo - respondeu sem desviar a atenção de um livro aberto sobre suas pernas

Caminhei até a cama com cuidado desviando da bagunça e me aproximei de onde ele estava sentado.

-Como está indo? - questionei antes de jogar uma pilha de papel para o lado e ocupar o lugar que ela estava

-Sinto que meu cérebro já não aguenta mais tanta informação - fechou o livro e relaxou suas costas sobre a cabeceira -Estou exausto - admitiu respirando fundo e fechando os olhos por longos segundos

Já faz alguns dias que Jorge resolveu participar de uma prova oferecida pelo melhor hospital da cidade, que qualifica médicos para trabalhar lá. Desde então ele tem dado tudo de si pra conseguir essa vaga.

Eu tenho certeza que ele é mais do que capaz de passar por isso, mas mesmo assim ele insiste em ficar o dia todo estudando.

-Acho que posso te ajudar com isso - ergui as mãos e ele sorriu, já sabia o que significava minha ajuda

Me aproximei mais e ele virou-se de costas para mim. Levei minhas mãos até sua nuca e movimentei meus dedos sobre sua pele, fui sentindo seus músculos relaxando lentamente e a tensão saindo do seu corpo.

Seus suspiros aliviados indicavam que minha massagem estava funcionando.

-Você sempre foi tão boa nisso - disse jogando sua cabeça para trás e fechando os olhos - Na verdade você sempre foi boa em tudo que faz - completou

-Então porque ainda estou desempregada? - questionei parando meus movimentos

-Tini - me repreendeu como um pai faz com a filha

-Desculpa - continuei deslizando meus dedos sobre seus ombros - Mas eu não consigo parar de pensar essas coisas - admiti - Eu já fiz tudo que as pessoas costumam fazer pra relaxar, mas não adiantou nada - conclui frustrada

-Acho que tem alguém aqui que precisa mais dessa massagem do que eu - mudou sua posição ficando de frente pra mim e me encarou com sua expressão preocupada

Ele sempre faz essa cara quando eu tenho um problema que ele não pode resolver.

-Tem razão - concordei - Mas você não é tão bom quanto eu, então é melhor nem tentar - zombei

Jorge me encarou indignado.

-Você é tão modesta - se aproximou lentamente, como um predador de frente para sua presa - Mas eu não vou me ofender, até porque nós dois sabemos que eu sou melhor em muitas outras coisas - se gabou

-Eu não discordo - concordei ao sentir sua respiração se misturar com a minha

O espaço entre nós rapidamente se tornou inexistente. Sua boca de encontro a minha continua sendo a melhor sensação que já experimentei na vida.

Aos poucos seus beijos molhados se espalharam por meu rosto até a extensão entre meu queixo e meu pescoço, o contado da sua pele com a minha arrepiava cada pelo do meu corpo.

-Você é o melhor remédio para as minhas angústias - sussurrou com sua voz rouca

É impressionante como ele sempre sabe dizer as palavras mais instigantes.

Sinto sua mão percorrer minha coxa, traçando um caminho pelas costas até chegar na minha nuca, trazendo-me ainda para mais perto dele.

Em um segundo já estou sem blusa e nem me lembro como. Sinto ele me tocar por todo o corpo, como se suas mãos estivessem em todos os lugares ao mesmo tempo, queimando minha pele.

Percorro meus dedos por seus músculos puxando seu corpo para mais perto do meu e sentindo o calor que sua pele exala.

Interrompi nosso beijo para me livrar da camiseta que ele ainda usava. Nem se quer tive tempo de admirar seu corpo despido, ele logo retomou o beijo e tirou toda a sanidade que ainda me restava.

Jorge é como uma droga, da qual eu sou completamente dependente.

Jorge Blanco:

-Eu deveria estar estudando para aquele maldita prova - comentei ainda ofegante pelo ocorrido à alguns minutos

-Mas você acabou de passar horas estudando a anatomia do meu corpo - respondeu com um sorriso travesso no canto da boca

O tipo de sorriso que é impossível não retribuir.

-Se o conteúdo dessa prova fosse cada detalhe perfeito que você tem, eu já estaria contratado - comentei acariciando sua cintura despida

Ela me encarou em silêncio, como se o seu olhar pudesse desvendar todos os meus pensamentos.

-Sabe - desviou seu olhar até meu abdômen, onde desenhava traços imaginários com os dedos - Eu nunca disse nada, mas eu não me senti tão segura quando decidimos morar juntos - admitiu

Me questionei o porque de relembrar o passado assim do nada.

-É compreensível, nós dois éramos apenas dois jovens apaixonados - concordei com suas palavras

-Eu temia que só o amor não fosse o suficiente - encarou o teto branco do nosso quarto - E realmente não é - esboçou um sorriso em seu rosto

-Não? - franzi as sobrancelhas

Ela voltou a me encarar pensativa e negou.

-O que realmente importa é que aprendemos a aceitar tudo um do outro - respondeu - Todos os erros e os acertos, os momentos mais fracos e os mais fortes, as lágrimas e os sorrisos - respirou fundo - É como uma balança, tudo questão de equilíbrio - apoiou sua mão sobre a minha

Seus olhos se fecharam e uma expressão tranquila pairou sobre seu rosto.

Eu entendo muito bem o que ela está pensando, sempre pensei o mesmo, mas nunca tive uma oportunidade de dizer.

-Você escolhe amar uma pessoa todos os dias, inclusive nos piores - conclui suas palavras

Ela abriu os olhos rapidamente e me encarou surpresa, como se eu resumisse tudo que passa por sua cabeça. Naquele momento nenhuma palavra precisou ser dita.

Apenas uma troca de olhares já era suficiente, Martina tem a mania de sorrir com os olhos, e eu acho isso encantador.