História Breaking Rules - Jortini - Temp.2 - Capítulo 6

Jorge Blanco:

   Já faz algum tempo que fiz um compromisso comigo mesmo de que não deixaria minha vida passar sem aproveitá-la ao máximo. Eu entendo que as tristezas são inevitáveis, por isso agora resolvi me importar mais com os sorrisos, meus e daqueles a minha volta. 

   Quero que daqui a muitos anos, quando eu não estiver mais por aqui, as pessoas se lembrem de mim como alguém que soube viver e aproveitar tudo ao máximo. 

-Boa noite Jorge - meus pensamentos foram interrompidos por um cumprimento gentil 

   Olhei em direção a portaria, onde o porteiro de meia idade me observava adentrar o prédio. Admiro sua capacidade de estar sempre sorrindo e cumprimentando os moradores. 

-Boa noite - retribui seu sorriso e continuei caminhando até o elevador do prédio. 

   Apertei o botão do último andar e esperei longos segundos até que o elevador subisse. Enquanto isso me atentei a olhar as horas no relógio, 20:15 da noite, o dia hoje foi cheio. 

   Caminhei tranquilamente até encontrar a porta do meu apartamento, peguei a chave no bolso da minha calça e abri a porta branca. 

   Adentrei o apartamento e um cheiro maravilhoso invadiu o ambiente, me senti entrando no meu restaurante favorito. Percebi do que se tratava ao avistar a mesa de jantar perfeitamente arrumada e duas velas acesas. 

-Finalmente - a mulher mais linda que eu conheço saiu da cozinha com uma taça de vinho e um sorriso nos lábios 

   Sei que essa combinação é um perigo. 

-Como foi seu primeiro dia? - questionou deixando a taça de vinho sobre a mesa de jantar 

   Respirei fundo e fechei os olhos por alguns segundos, pude escutar sua risada. 

-Cansativo - respondi deixando meu celular e o molho de chaves sobre a mesa encostada na entrada do apartamento 

-Eu imaginei - se aproximou e eu percebi que ela usava seu pijama favorito 

   Ou melhor, o pijama que se tornou o seu favorito depois que eu disse que ela fica maravilhosa usando ele. 

-Isso tudo é pra mim? - encarei a mesa arrumada e as velas acesas 

-Depende - desfez o nó da minha gravata e com facilidade tirou ela do meu pescoço, confesso que foi um alívio - Nós não tivemos a oportunidade de comemorar semana passada - resmungou com um bico fofo nos lábios 

   O desfiz com um beijo. 

-Não seja por isso - envolvi meus braços ao redor de suas pernas descobertas e a peguei no colo 

   Caminhei até a mesa de jantar e a coloquei sentada em uma das cadeiras estofadas. 

-Eu podia andar até aqui sozinha - revirou os olhos e se ajeitou no acento 

-E qual seria a graça? - debochei com um sorriso divertido nos lábios 

   Me sentei na cadeira de frente pra ela e observei a comida com expectativa, parece deliciosa. 

   Peguei a colher e comecei a me servir generosamente enquanto Tini me observava com um sorriso pequeno. Sem perguntar eu a servi também, já decorei a quantidade que ela sempre come. 

   Por mais que as vezes coloque muita comida e perca a fome na metade. 

-Gostou de trabalhar no hospital? - puxou um assunto enquanto segurava os talheres 

-É um lugar muito bom - respondi - Mas eu ainda tenho muito o que aprender - completei levando uma garfada de comida até a boca 

   Tini então me encheu de perguntas, perguntou sobre a estrutura do hospital, se tem muitos médicos lá comigo, principalmente sobre médicas. Acho fofo quando ela tenta esconder seu ciúmes com perguntas aleatórias. 

   Nosso jantar foi tranquilo e reconfortante, tudo que eu precisava depois de um dia cansativo. 

   Eu tenho tanta sorte de poder encontrar o amor da minha vida todos os dias em uma mesma mulher. 

Martina Stoessel: 

   Quando pequena eu sempre me imaginei casando com um homem que me ajudasse em tudo. Desde sempre considerei ridículo a ideia das mulheres fazerem tudo e os homens nada. 

   É tão absurdo. 

   Hoje eu acho que encontrei o homem certo, Jorge me ajuda em absolutamente tudo. Ele entende que o apartamento é nosso, então todas as responsabilidades tem que ser divididas. 

-Eu sempre me confundo - resmungou abrindo a porta do armário errada 

-É porque você sempre lava as louças e eu guardo - ensaboei uma taça - Não sei porque trocar agora - resmunguei revirando os olhos 

-Porque é bom mudar as vezes - se aproximou envolvendo os braços ao redor da minha cintura e me abraçando por trás - Algumas coisas - completou e eu concordei 

   Senti seus lábios trilhando um caminho de beijos da minha nuca até meu rosto. 

-Para de me enrolar - passei espuma no seu rosto - Olha o tanto de coisas pra você guardar - resmunguei 

   Ele riu e ergueu as mãos em forma de rendimento. Voltou a guardar as louças do jantar enquanto eu lavava. 

-Você não me disse como foi sua entrevista - lembrou abrindo a gaveta e guardando alguns talheres 

-Foi incrível - sorri ao lembrar dessa tarde - O empresário dele disse que eu fui muito convincente e que se tudo der certo vai me ligar essa semana - completei animada 

-Isso é maravilhoso meu amor - me encarou surpreso e e sorridente ao mesmo tempo - Esse lugar já é seu - afirmou 

   Concordei tentando me convencer de suas palavras. Posso ter ido muito bem na entrevista, mas no fundo sempre me sinto insegura. 

-Quando você vai conhecer o tal cantor famoso? - questionou com um tom de voz indiferente, se eu não lhe conhecesse bem diria que é ciúmes 

-O Sebastián? - questionei e ele assentiu - Eu posso conhecer ele apenas se for contratada oficialmente - expliquei 

-Faz sentido - deu de ombros 

   Durante alguns minutos um silêncio dominou aquela cozinha, a água da torneira correndo era o único barulho presente. 

   Existem dois tipos de silêncio, o constrangedor e o reconfortante. Não sei me decidir qual estava entre nós naqueles minutos. 

   Então meu celular vibrou repetidamente sobre a bancada. Pensei em ver do que se tratava, mas minhas mãos estavam encharcadas de sabão. 

-Olha pra mim - pedi para o Jorge, que estava com as mãos secas e mais perto da bancada. 

-É uma mensagem - avisou encarando a tela do meu celular - Do seu pai - completou 

   Revirei os olhos. 

-O que diz? - questionei sem nenhuma feição 

-Estou chegando em Los Angeles amanhã, tenho alguns problemas da empresa para resolver - leu pausadamente e me encarou compreensivo - Sei que não vai querer me encontrar, mas vou esperar por você no seu restaurante favorito - completou 

   Deixou o celular sobre a bancada novamente e me encarou atentamente. As vezes eu sinto que ele pode ler os meus pensamentos. 

-Já sei o que vai dizer - desliguei a torneira após lavar o último prato 

-Já faz quatro anos, não pode ignorar ele pra sempre - me entregou o pano que estava sobre seu ombro 

-Claro que posso - enxuguei minhas mãos e devolvi o tecido pra ele - Minha vida está sendo muito melhor depois que ele saiu dela - acrescentei 

-Ele é seu pai - me seguiu até a sala de estar - Errou muito com você, mas ainda assim é o seu pai - corrigiu sua fala 

   Dei de ombros. 

   Sempre recebo mensagens, ligações e até cartas do meu pai, mas eu nunca respondi. Ele tem fontes o suficiente pra saber que estou viva e bem, pra mim já é o suficiente.

-Tem razão, ele é meu pai - concordei sem paciência - Mas isso não significa que preciso conviver com ele ou perdoa-lo - disse o óbvio 

-Martina - me repreendeu com seu olhar mais sensível - Você sabe que não pode fazer isso - se aproximou com cautela 

-Eu sou a única pessoa que sei o que eu posso ou não fazer - respondi com o tom de voz alterado 

   Jorge me encarou surpreso. Uma surpresa decepcionante. 

-Desculpa - respirei fundo - Não quero brigar com você por causa do meu pai - pedi me apoiando na poltrona 

-Eu também não quero brigar com você meu amor - esboçou um sorriso singelo nos lábios e apoiou sua mão em meu rosto 

   Seu carinho lento foi acalmando aos poucos minha respiração descontrolada. 

-Não me sinto preparada pra perdoar ela ainda - expliquei rodeando meus braços ao redor do seu corpo - Eu quase perdi você por culpa dele - encarei seus belos olhos verdes 

-Mas não perdeu - segurou meu rosto entre suas mãos - Eu estou aqui, nós dois estamos mais juntos do que nunca - o sorriso mais belo surgiu em seu rosto - Ele não pode mais separar a gente - assentiu convincente 

-Eu sei que não - concordei - Nada vai separar a gente - me senti confiante 

-Nada - depositou vários beijos por meu rosto até chegar na minha boca e então selou nossos lábios lentamente. 

   Eu me sinto tão segura quando estou nos braços dele, jamais suportaria perder essa segurança. 

   Em relação ao meu pai eu ainda não me sinto pronta para perdoa-lo. Eu experimentei ser enganada por uma das pessoa que eu mais amo e confio. Não consigo explicar o quão doloroso e desnecessário é esse tipo de dor. 

   Porque no fundo eu não posso mudar o que sinto. Não importa até onde eu consigo fingir, até onde vai minhas mentiras e desculpas, esse sentimento ruim sempre me consome quando penso nele. 

   Sinto que estou fazendo o meu máximo para superar isso. Espero que algum dia seja o suficiente.