História Breathless - A Torre.

Já devia ser bem tarde. A lua estava no auge, em minha opinião – e mania de tentar acertar as horas quando não tem nenhum relógio – eram dez e pouco. Quase onze. Eu me sentia tão cansada, tudo o que ocorreu hoje ainda se repetia em minha mente, não quero encontrar Gaara tão cedo.

 

– Cara, vou dizer uma coisa – começou Haruo. Kaede revirou os olhos.

 

– Vai começar..

 

– Não é serio branquela. Se estamos passando por todo esse sufoco só pra passar em uma prova, imagine quando nos tornamos Chunins.

 

   É, nisso ele tem razão. Terminei a cura que fazia no braço de Kaede, ele estava com um corte profundo. Resultado do ataque surpresa que sofreram na cachoeira.

 

– Pois é. A vida não esta fácil pra ninguém – só enfaixei seu braço e então estava terminado – Valeu Mimi.

 

– Temos que acordar cedo e ir direto para a torre, estaremos seguros lá – falei. Haruo estava pensativo enquanto jogava gravetos na fogueira, estranhei.

 

– Quer saber? Esse é o tipo de aventura que eu vou contar pros meus filhos no futuro! – disse deitando-se sobre seu casaco.

 

– É uma boa historia – falei.

 

– É sim. Um time que foi formado do nada, passou por umas loucuras e que talvez se torne Chunin.

    Posso afirmar que tenho medo de me tornar uma Chunin, é muita responsabilidade. Comandar equipes, tomar decisões, ficar sob pressão não é bom pra mim. Mas até lá, se acontecer, espero já ter crescido emocionalmente o suficiente para ser uma boa ninja.

 

– E o que acontece depois? Se a gente se tornar Chunin? – Haruo perguntou.

 

  Eu me lembro de quando Iruka-sensei disse que esse time era só para fazer os exames. Eu também pensaria assim, ser colocada com dois estranhos.. é estranho, como tinha dito Shika. Mas eles não são mais desconhecidos, são a minha equipe, mais que isso, melhores amigos. A gente se deu tão bem em tão pouco tempo, quando estava com eles eu me sentia bem. Era um alivio não estar mais naquele clima tenso do time 7. Quando Haruo e Kaede souberam de tudo o que aconteceu eles me apoiaram tanto, fizeram com que eu me sentisse importante. Eu não sei se conseguiria acordar com um colete Chunin no guarda-roupas, mas não ouvir mais nenhuma piada ou discussão boba durante os treinamentos. Ou não brincar de jogar arroz um nos outros na hora do almoço, ou mesmo ser segurada e chamada de desastrada quando tropeçar. Literalmente, eu não conseguiria ficar sem eles.

 

– Sei lá, não perguntei isso ao Iruka – respondeu Kaede.

 

– Acha que vão separar a gente? – perguntei em voz baixa. Eu não queria fazer essa pergunta, mas a curiosidade era grande.

 

– Tô achando que o Iruka vai dar a opção de continuar ou separar – respondeu Haruo olhando fixamente para o céu. Observava as estrelas.

 

– Você esta sentimental hoje, hein Zé? – Kaede riu – Mesmo que deixemos de ser uma equipe, não significa que vamos deixar de ser amigos.

 

– Com certeza – falei sorrindo.

 

– Ah que alivio! Por que eu preciso de amigos pra jogar umas ideias para a Tenten, sabe como é né? – rimos. Kaede jogou uma pedrinha nele, de brincadeira.

 

– A gente merece esse Zé..

 

– Quem vai ficar de guarda primeiro? – eu perguntei. – Posso ficar se estiverem cansa..

 

– Não, eu fico – afirmou Kaede.

 

– Tem certeza?

 

– Claro. Não é como se eu e Haruo tivéssemos enfrentado um esquisitão que controla a areia.

 

Não sei como eles conseguirão me fazer rir daquele momento, acho que minha mente já esta criando certa resistência a traumas. Como pular de uma cachoeira, aquilo foi a maior adrenalina, mesmo que eu não goste muito disso. Passaram-se vários minutos, talvez até horas, que ficamos conversando de diversos assuntos, até que Haruo caiu no sono, e nós na gargalhada. Sério, não é fácil. Haruo fala enquanto dorme, na maioria das vezes, só diz Dango. Além de se mexer muito. Kaede disse que de vez em quando ele dá até cambalhotas. Fofura não deve ter fim mesmo. Nem sei quando foi que peguei no sono, depois de um tempo era como se minhas pálpebras ficassem pesadas então tudo apagou, nem sei quem iria ficar de guarda depois, se era eu ou Haruo.

 

 

 

 

    Na manhã seguinte, acordei com preguiça, que logo passou após eu notar que ainda estava na Floresta da Morte. Kaede e Haruo já estavam despertos e naquele momento eu senti uma grande frustração por eles não terem me acordado pra ficar de guarda, mesmo que Kaede tenha dito que ambos concordaram em não me acordar devido aos sustos que passei ontem eu ainda me sentia egoísta. Haruo estava um pouco bêbado de sono, Kaede disse que era assim que ele normalmente ficava uns dez minutos depois de acordar. Foi muito engraçado, quase que ele come a própria mão pensando que era o peixe que fritamos.

 

– Ah cara! Como eu queria estar em casa, onde a minha mãe me deixa dormir até as onze! – ele exclamou deixando o corpo cair no chão. Senti tanta pena.

 

– Levanta logo Haruo, temos que ir pra torre – Kaede e eu ficamos um bom tempo tentando levantar ele, mas Kaede perdeu a paciência e resolveu fazer uso da violência. Ele basicamente pegou o braço do menino e saiu arrastando ele pelo chão.

 

– Kaede! Cuidado, é só pra acorda-lo! – tentei, pelo menos. O estranho é que Haruo continua de olhos fechados, o maior relaxado possível.

 

– Haruo, é melhor levantar porque a Tenten esta vindo aí!

 

   Foi impressionante, e assustador. Haruo se levantou em um pulo e ficou olhando para os lados desesperadamente. Coitado, Kaede apelou!

 

– Onde cara?! Pelo amor de Kami voc.. – e então a ficha caiu – Você me enganou filho da mãe!

 

– Lamento. Foi necessário, vamos nessa! – Kaede passou por Haruo dando uns tapinhas de leve em seu ombro, mas isso não o confortou pela cara fechada dele.

 

   Logo seguimos viagem. Haruo melhorou o humor rapidamente, depois de tê-lo visto falar Dango enquanto dormia, isso não me surpreendia nem um pouco. Ele usou o Jutsu de Localização para evitar equipes inimigas, embora estivesse um pouco fraco. Eu fiquei sabendo que Haruo usou o Taiga Kasai para não morrer naquela Névoa, é um Jutsu original na qual ele não dominou completamente, ou seja, quando o usa quase todo o seu chakra vai embora.

 

– A torre está apenas a uns três quilômetros agora – ele disse retirando o Jutsu.

 

– Como sabe? – não me segurei a perguntar.

 

– Sinto o cheiro de cachorro do Kiba daqui – Kaede riu. Achei maldade, não que eu tenha que aproximado tanto mas ele não tem cheiro de cachorro.

 

– Haruo! Que maldade, ele não cheira a cachorro – falei enquanto pegávamos impulso no galho para pular novamente.

 

– Epa! Como é que você sabe hein Mimi? – ele sorriu maliciosamente. Senti o rubor subindo-me o rosto. Como ele pode ter esses pensamentos? Que feio.

 

– M-mas o que?! O-que você tem na cabeça Haruo? – Aff! Gaguejei sem querer...

 

– Eita, calma Mimi! Só estava brincando, paz e amor! – ele disse fazendo o sinal de vitoria. Não me aguentei e comecei a rir.

 

– Hum, tomara que a Mitsashi curta esse humor brincalhão, viu? – zombou Kaede, mas ele teve que correr na frente já que Haruo se pôs a persegui-lo.

 

– Ah sua branquela atirada! Vou te matar!

 

   Eu fiquei pra trás, só rindo deles. Nunca imaginei que iria me divertir na Floresta da Morte.

 

    Estava anoitecendo. Minhas pernas já doíam de tanto andar, mas eu não me atrevo a fazer uma reclamação. Já estávamos perto da Torre. Agora meu coração pulava de ansiedade, o que será que vai ter lá? E minha maior duvida no momento: O que tem nesses pergaminhos? E pelo jeito não era só eu que estava curiosa.

 

– Cara, espero que esses pergaminhos contenham um dez sacos de Dango pra nos fazer passar por isso. – disse Haruo atento a cada canto.

 

– Não crie expectativas sobre isso. Lembrem-se que a única recompensa que a gente pode ganhar nessas provas é se tornar um Chunin.

 

   Concordamos plenamente com Kaede. Às vezes sinto uma ponta de inveja do conhecimento dele, claro, uma coisa boba. Queria achar um jeito de treinar minha mente, Shika me ajudava com o quesito criar estratégias de sucesso, mas era difícil. A lição mais importante pra mim é jamais subestimar o inimigo, mesmo que seja uma criança. Ter em mente que para a maioria dos inimigos, sempre tem uma maneira de burlar nossos planos. Como será que estão os outros? O que eu mais quero é chegar nessa torre e encontrar os times 7,10 e 8 lá.  De repente fui despertada por um grito de Haruo.

 

– O que foi Haru.. Ah meu Deus! – foi impossível segurar o grito. Tinha uma centopeia, enorme, grudada em uma arvore. Senti meu estomago embrulhar, que nojo! Ah, tirando borboletas e vaga-lumes, eu realmente não gosto de insetos.

 

– O que foi gente.. Argh, que nojo! – Kaede chegou calmo. Haruo só gritou pelo susto mesmo, mas agora estava bem. E eu estava o mais longe possível daquela coisa, morrendo de medo. Sei lá, vai que ela saia da arvore e encoste-se à gente!

 

– Meu Kami, só eu quero vomitar? – perguntou Haruo descontraidamente. Balancei a cabeça negativamente.

 

– Droga, vamos sair daqui! – disse Kaede de modo apressado. Me perguntei por que até que vi. Tinha uma kunai cravada naquele bicho, por isso ela não se mexia!

 

   Realmente, tínhamos que sair dali. Aquilo era sinal de inimigo logo da cara.

 

– Ora ora, Shinobis da Folha. Parece que tiramos a sorte grande! – Kaede usou seu gelo como escudo antes que uma chuva de shurikens nos atingisse.

 

   Essa não! O que mais temíamos! Inimigos, logo agora... tão perto da torre.  Mais uma equipe mais velha e assustadora. Dessa vez eram ninjas da Aldeia da Pedra.

 

– Não vamos prolongar isso. Passem os pergaminhos! – ordenou um deles.

 

– Que Mané, já se ligou que estamos em um vale tudo mano? Vem pegar! – respondeu Haruo rudemente. Nos preparamos.

 

– Pirralho corajoso. Se quer assim... Tsuchi No Bushin!

 

   Ele criou cinco clones de terra. Ele também tem estilo terra?! Mas que coisa... lembrei-me novamente que eu estava com os pergaminhos, e tinha a função de protegê-lo. Haruo tomou a frente.

 

– Ah como a nossa vida ta foda ultimamente.. Vou te contar – ele tirou da sua mochila, uma corrente acoplada a uma Fumma Shuriken – Deixa comigo gente. Gosto brincar de clones.

 

    Ele enrolou parte da corrente no braço e virou-se rapidamente acertando a Shuriken no clone. Perdi o fôlego quando outro tentou um chute, mas Haruo foi esperto e deslizou no chão aproveitando para enrolar a corrente nos pés dele, o Amano levantou-se em um pulo e puxou a corrente fazendo o oponente cair. Em uma fração de segundos, me abaixei escapando de um soco. Com tanta atenção a luta de Haruo, nem notei que os outros membros daquela equipe haviam vindo enfrentar eu e Kaede.

    Eu queria poupar meu chakra, então resolvi usar só em emergência. Até lá, eu tentaria Taijutsu mesmo. Me esquivei de todos os seus golpes, aquele cara era mais velho, não pegaria leve. Livrei-me de um chute e tentei uma rasteira, mas ele pulou pra trás se salvando. Ok, eu tenho que lutar pra valer. Lancei varias kunais em sua direção, aproveitando sua distração para bloquea-las, fiz um rápido jutsu de teletransporte indo aparecer atrás dele. Assim que se virou, dei um chute giratório acertando fortemente seu rosto.

 

– Mas que surpresa! Pelo jeito não é só gostosa, também é boa de briga. – queria vomitar. Sentia nojo de homens assim.

 

   Ele se levantou rápido e avançou pra cima de mim, mas dessa vez foi tão rápido que mal pude vê-lo. Só senti um soco forte na cara, provavelmente abastecido com chakra, aquilo doeu tanto mas não tive tempo para pensar nisso. Rolei para o lado me levantando antes que tomasse outro soco com chakra, foi tão poderoso que chegou a fazer uma cratera no chão. Preciso pensar. Achar um jeito de vencê-lo.

 

– Kage Bunshin No Jutsu.  

 

   Fiz dois clones para ganhar tempo. Acho que esta na hora de usar algo que o Genma-sensei ensinou. Tirei uma senbon da bolsa, só preciso chegar perto. Misturei-me as clones deixando que ele as destruísse primeiro, então ataquei. Tentei um soco, mas o ninja segurou meu braço e o torceu, ele pegou uma kunai pra me matar, mas dei uma ajoelhada em seu estomago seguida de uma cabeçada em seu nariz. Minha nossa! Como eu teria dor de cabeça depois...

     Ele me largou, era minha chance. Corri até ele, bloqueando seu soco com um braço e então cravei a senbon em sua costela e me afastei.

  Isso tem que dar certo.

    Assim que o ninja tentou vir até mim novamente, seu corpo travou fazendo-o se ajoelhar. Suspirei de alivio. Achei que tivesse errado o ponto, Genma-sensei havia nos dito algo sobre isso e também já fui uma vitima disso na missão no País das Ondas. Antes que ele recuperasse os movimentos, concentrei chakra em minha perna e lhe acertei um chute fazendo com que ele desmaiasse. Eu consegui, pelo menos uma batalha ganha.

 

– Mimi, cuidado! – me virei vendo um clone vir em minha direção, mas antes que pudesse chegar, foi estraçalhado pela corrente de Haruo. Ele era muito habilidoso com aquilo, era impressionante.

 

    Olhei ao redor procurando Kaede e o encontrei analisando os outros dois ninjas da equipe. Fiquei chocada, ele havia os prendido dentro de um cristal de gelo?! Como?

 

– Kaede.. como voc..

 

– Nem pergunte – os ninjas gritavam para que ele os tirasse de lá – Não se preocupem, isso vai derreter daqui a seis horas. Tem sorte de eu estar de bom humor.

 

    Nem ficamos ali, saímos na hora. Dessa vez estávamos mais apressados. Quando, devíamos saber que teria amardilhas perto da torre, porque todos sabiam que chegar lá é o objetivo, então porque não esperar para roubar os pergaminhos dos outros aqui? Devo admitir que foi uma tática inteligente. Temos que ficar mais alertas e não parar por nada.

 

 

 

 

 

    Agora estava amanhecendo. Nós conseguíamos ver a torre, graças a Kami não tivemos mais nenhum contratempo. Mas Kaede havia dito que todo o cuidado era pouco, mesmo assim minha ansiedade estava começando a me distrair. Imaginava como seria a torre e quem estaria lá, se íamos poder descansar um pouco. Se poderíamos ir pra casa depois dessa prova, eu não queria contar vantagem, mas minha mente não sossegava.

 

– Olha as portas ali. – disse Kaede.

 

– Cara, estou ansioso!

 

– Eu também – concordei com Haruo.

 

 

     Tivemos que procurar o pelas portas com o numero trinta, o que demorou pelo fato de termos chegado em frente à porta 2. Foi cansativo ter que rodar aquela torre inteira só para achar a nossa, mas finalmente conseguimos. Mas quando entramos.. foi estranho, não vi ninguém ali. Esperava que todas as equipes que conseguiram passar estivessem aguardando aqui, mas pelo jeito não é assim.

 

– Cadê os malucos? – perguntou Haruo. Kaede riu.

 

– Sei lá, talvez tenhamos terminado cedo demais. Acabou de começar nosso terceiro dia aqui. – ele comentou.

 

– Não. A equipe da Areia, Kiba e os outros já tinham o jogo completo de pergaminhos, só faltava vir pra cá mesmo. – falei me sentando no chão. Um dia inteiro correndo, minhas pernas estavam me matando.

 

– Então.. vamos abrir os pergaminhos! – Haruo sugeriu.

 

– Sei não. Anko falou que não devemos abrir.

 

– Ô branca de neve, acorda! A doida disse que não devíamos abrir até chegar à torre – ele insistiu. Kaede suspirou.

 

– Se der algo errado, eu..

 

– Já sei. Você vai me matar.

 

– Não, seria fácil demais. Eu vou é contar umas verdades para a Tenten.

 

– Ah vai se ferrar Kaede! – ele riu – Pergaminhos, por favor, Mimi.

 

   Passei os pergaminhos para eles. Kaede pegou o da terra e Haruo o do céu.

 

– No três! – o Amano disse, Kaede assentiu – Um, dois e ...

 

– Espera! – falei sem querer – A gente deve mesmo fazer isso?

 

– Calma, não pressiona a gente! Vamos ficar bem, ta? – concordei. Estava mordendo os lábios sem perceber, maldita ansiedade.

 

– De novo então, um, dois..

 

– Meu Kami! Estou com medo! – falei sem pensar! Aff interrompi de novo. Que agonia!

 

   Kaede e Haruo bufaram se encarando com tédio. Eu queria rir.

 

– Abre essa merda logo! – Kaede disse abrindo seu pergaminho logo de vez, Haruo fez o mesmo. Tinha algo estranho naquelas coisas. Pareciam se mexer sozinhas.

 

– Kaede, Haruo larguem isso!