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História Breathless - Uma equipe, três amigos


Escrita por: AlyHatake

Notas do Autor


Então... como eu explico isso.. gente, eu estou meio ferrada da vida. Lembram que eu disse que tinha sofrido um acidente? Pois é, eu passei tive uma fratura exposta na perna esquerda e foi muito doloroso. Mas depois de dias, voltei pra casa com a perna enfaixada e cadeira de rodas porque não podia movimentar e achei que fosse ficar tudo bem, entretanto, graças a problemas familiares e financeiros eu acabei me estressando e me descuidando da fratura e tive complicações que me fizeram retornar ao hospital. Lá eu recebi até bronca se quer saber rsrs. Mas vai ficar tudo bem, com a ajuda de Deus vai ficar. Enfim, era isso, vamos ao cap,
boa leitura <3 <3

Capítulo 45 - Uma equipe, três amigos


  

      Haruo

Acordei desejando não tê-lo feito. Tudo doía, principalmente minha cabeça. Eu já sabia o que tinha feito, mesmo tendo poucos flashes de memória, já tinha passado por aquela situação antes. Ressaca. Essa era a palavra que rondava minha mente sem parar.

 

– Que merda... – resmunguei levantando-me. Sentia-me como se tudo a minha volta girasse, e isso me dava enjoo.

 

  Que milagre minha mãe não ter me colocado para fora de casa. Da ultima vez, quase dormi no chão frio se não fosse a misericórdia escondida no fundo da alma dela, bem no fundo mesmo. Quase achando petróleo. Mas isso não se estendeu até meu pai, ele teve que dormir la fora. Claro, ele era o adulto e tinha que ser mais responsável. No entanto, ontem era só eu e meus amigos. Estávamos sozinhos e decidimos encher a cara por conta própria, me arrependo disso. Podíamos muito bem ter ido a loja de Dangos para sermos felizes, mas claro que não. Resolvemos agir como velhos depois de um dia cheio. Droga. Genma-sensei provavelmente nos dará cascudos quando nos vir.

   Decidi parar de lamentar mentalmente e me reerguer. Uma hora ou outra terei que encarar a mãe, que seja agora. Peguei as primeiras roupas que vi jogada no armário, juntamente com uma toalha e me dirigi ao corredor. A luz do sol vinda da janela no final do caminho me irritou profundamente. Apenas tapei o rosto com a toalha e segui para o meu destino. Depois de uma longa sessão de tortura, vulgo banho gelado, me vesti rapidamente e desci ouvindo o assovio do bule de chá sobre o fogão.

 

– Lá vem o alcoólatra! – ouvi uma voz zombeteira. Levei alguns segundos para descobrir que se tratava de Ryo. Suspirei, mais essa para encarar...

 

    Fingi não ter ouvido e me joguei na cadeira. Os mínimos sons naquele ambiente me irritavam junto com o cheiro da comida que fazia meu estomago embrulhar.

 

– Nii-san? Você ta bem? – questionou Makoto, exibindo uma expressão preocupada. Neguei.

 

– Não muito... – debrucei sobre a mesa. Droga. Que péssimo irmão eu sou, com um exemplo desses. Esperava que ela não prestasse tanta atenção em mim.

 

– O que você tem? Quer um remédio? – ela avançou encostando a pequena mão em minha testa fazia uma careta analítica. Como se soubesse medir a temperatura.

 

– O que o seu irmão precisa é de uma boa dose de juízo, minha querida!

 

  A voz de Dona Maya me tirou de meus devaneios. Eu sabia que estava ferrado, mas ao menos queria ter tido mais tempo para me preparar. Akira e Ryo se entreolharam e então focaram em seus pratos, mamãe tinha esse poder. Mesmo que a bronca da vez fosse minha, os outros podiam sentir a aura assustadora dela, deixava-os desconfortáveis.  Ela pôs Makoto de volta em sua cadeira, incentivando-a a terminar a refeição e então me encarou. Eu já tinha visto aquele olhar diversas vezes, claro que na maioria delas não era só eu que tinha culpa no cartório. Meus irmãos também estavam juntos, só que dessa vez era diferente. A burrada era minha.

 

– Juízo? – disse a pequena, confusa.

 

– É meu amor. Algo que está em falta nessa casa – terminou a frase batendo fortemente a jarra com chá na mesa. Akira pulou de susto, eu teria rido em outra situação. 

 

  A voz dela estava carregada de rancor. Claramente direcionado a mim, mamãe não sabia disfarçar. Rolei os olhos e me recostei na cadeira. Como diria o Senhor das Sombras, isso seria problemático. Se tem uma coisa na qual Shikamaru tem total razão é o fato de mulheres serem extremamente problemáticas.

 

– Hãn... mãe? – Ryo chamou – Eu já vou indo. Tenho que me apresentar mais cedo hoje.

 

  Qualquer um que estivesse ali podia ver que ele queria mesmo era dar o fora daquela atmosfera tensa. Não o culpo por se sentir estranho no meio daquilo, mas ainda sim me sinto traído. Sempre fiquei do lado dele em suas broncas.

 

– Também vou nessa, mãe! Não quero me atrasar de novo! – Akira largou os hashis e saiu correndo em busca da mochila. 

 

– Tudo bem, meu amores. Tenham um bom dia!

 

– Obrigado! – disseram simultaneamente antes da porta se fechar. Suspirei novamente. Agora só faltava Makoto, que observava a cena sem entender nada.

 

  Mamãe nunca me daria uma dura na frente dela, ainda mais quando a pequena me considera o “irmão preferido”. Por isso me preparei mentalmente ao vê-la virar-se para Makoto.

 

– Querida, já acabou? – perguntou vendo-a assentir – Por que não vai indo se arrumar? Lembre-se que iremos ao mercado hoje.

 

  Makoto sorriu e desceu da cadeira num pulo.

 

– Sim mamãe! – exclamou correndo para a escada. Minha mãe esperou que ela desaparecesse por completo antes de voltar a me fulminar com os olhos.

 

  Não pude deixar de notar que havia algo estranho em seu olhar, mesmo queimando de raiva. Parecia cansaço, por alguns segundos passei a me questionar se era culpa minha também. Mais uma coisa para que eu colocasse em minha listinha de arrependimentos.

 

– Aí mãe... – tentei, mas ela gesticulou para que eu calasse a boca.

 

– Se vai vir com as suas desculpinhas, então é melhor ficar calado! – cortou secamente. Nossa...

 

– É sério. Foi mal, a gente...

 

  Novamente não completei a frase. Mas dessa vez ela surtou e atirou uma caneca de plástico em mim. Teria acertado meu rosto se não tivesse me defendido com meu braço bom.

 

– Mas que droga, Haruo! – quase gritou – Sabe o que poderia ter acontecido com vocês? Estão loucos?!

 

Não sei o que doeu mais. Aquela “arma mortal” ter me atingido, ou o barulho dela caindo no chão, que provocava pontadas de dores em meu cérebro, já dolorido.

 

– “Poderiam” ter acontecido. Mas não aconteceram né mãe! Otimismo sempre.

 

  Caramba, eu juro que ela estava pensando mil e uma formas de me castigar naquele momento.

 

– Garoto... mais uma frase dessa e eu juro que torço seu outro braço – engoli seco.

 

    Naquele momento, o único jeito de tentar ter alguma chance de viver mais um dia era tentar apelar pros sentimentos do meu carrasco.

 

– Mãe... eu sei que errei. Se bem que não fui só eu, né? – ela revirou os olhos. Provavelmente querendo me socar – De qualquer forma, desculpe. Tem razão, a gente foi imprudente.

 

   Dona Maya suspirou e sentou-se na cadeira, ao meu lado. Cogitei sair correndo caso fosse um ataque surpresa. Mas para o meu total choque, ela deu um sorriso pra mim, ou pelo menos tentou.

 

– Haruo, eu sei que... – pausou, parecendo sem saber como continuar – Vocês passaram por maus bocados. Por causa do oponente de Emi.

 

– Ah qual é? Você vai mesmo querer falar disso agora? – eu realmente não estava a fim de falar sobre isso.

 

– Claro que vou, e você vai me ouvir – a encarei, aborrecido – Vocês precisam se erguer. Têm oponentes para enfrentarem na ultima fase, não vai ser nada fácil!

 

  Entendia perfeitamente o ponto de vista dela. Agíamos como estranhos, por fora cada um parecia e tentava se mostrar o “mesmo de sempre”, mas por dentro de todos eu sabia que o caos reinava. A insegurança sobre a Arai deixava-nos ansiosos. Eu não queria me distanciar deles nem agora, nem nunca. Mas a tarefa se tornava difícil quando de repente seus amigos sofrem um trauma e se trancam em pensamentos.

 

– Eu sei – foi a única coisa que consegui dizer.

 

– Querido, sei muito bem o quão ruim fica quando algo abala sua equipe. Mas é sua obrigação continuar na linha, as coisas se ajeitam com o tempo.

  Assenti. Meu pai havia me dito uma vez que o tempo era o nosso maior aliado, na época ele esperava que mudasse meus pensamentos e seguisse o rumo de me tornar um Anbu. Naquela situação, o tempo não favoreceu a ele.

 

– Tudo bem, mãe. Desculpe! Não vou mais fazer isso – bufei, pelo menos, não por agora. Minha mãe tinha um jeito estranho de nos fazer sentir culpados e motivados ao mesmo tempo. Ela riu e se levantou.

 

– Ótimo. Agora que já nos acertamos, quero que lave essa louça e limpe essa mesa. Depois disso, sugiro que já vá elaborando seu pedido de desculpas ao seu pai.

 

  Merda. Meu pai sabia, deu ruim.

 

– Ah valeu mãe, muito obrigado mesmo! E como vou arrumar essas coisas com uma mão só? – reclamei, ela me olhou possessa de raiva.

 

– Pra encher a cara você nem se lembra de que está com o braço machucado, não é?!

 

– Mãe, são coisas completamente diferentes...

 

  Ela cruzou os braços e sorriu maldosamente.

 

– Bom você que sabe. Eu prefiro que você faça antes do seu pai chegar, porque depois será mais difícil arrumar as coisas sem braço nenhum!

 

  A encarei, chocado. Acho melhor eu ir arrumando isso logo... e me mandar depois.

 

 

   Emi

 

Eu nunca havia gostado de hospitais, e estava surpresa de me sentir bem dentro de um. Aquele quarto estava claro e fresco, lembrava-me o meu quando abria as cortinas. A brisa que vinda da janela soprava o cheiro dos Lírios, deixando o ambiente melhor.

 

– Uau Emi... esses são os melhores bolinhos que eu já comi! – Lee exclamou de boca cheira. Ele parecia animado, mesmo em seu estado, estava ansioso para ver as lutas da ultima fase.

 

– Fico feliz que tenha gostado – eu ria daquela cena. Ele devorava os bolinhos que eu havia preparado para ele. Tive essa ideia horas antes de vir visita-lo, já que sempre costumam a reclamar da comida do hospital.

 

– Gostado? Eu amei! Seu futuro marido será um homem de sorte! – exclamou fazendo-me corar.

 

– É, eu espero – comentei, dando de ombros. Ele fez uma expressão de duvida.

 

– O que foi? – perguntou colocando a caixa de bolinhos um pouco de lado – Quer dizer, tem alguma coisa te incomodando não tem?

 

  A aquela altura do campeonato, Lee já sabia de tudo. Eu realmente não era boa no quesito “disfarçar”, e quando me perguntam também não sei mentir.

 

– Bem, você sabe, as lutas finais estão me deixando ansiosa. E também...

 

– E também sua equipe e a equipe 10 – ele concluiu. Assenti em concordância.

 

  A saudade deles me corroí a cada minuto. Sem as piadas, as loucuras, as encrencas... meu mundo se tornava apenas uma rotina chata. Mas eu precisava de coragem para enfrenta-los, depois de tudo o que fiz. As cenas que não me deixam dormir a noite, meus piores pesadelos tornando-se realidade. Kakashi se foi, está ocupado treinando o Sasuke. Mamãe e eu estávamos num clima terrível depois de eu tê-la contrariado, e eu tinha visto Sakura na rua enquanto vinha, mas o maximo que conseguimos dizer uma a outra foi “oi”. Naruto me deixava preocupada, não o via e tentava me acalmar dizendo que ele estava bem, mas sempre volto a imaginar coisas.

 

– Ainda penso em tudo que fiz para eles – confessei. Lee me deu um olhar pesaroso.

 

– Mas... o que você fez? Foi culpa do tal Yori, Emi.

 

– Eu me deixei ser pega, Lee. Devia ter bolado um plano, ou... – ele não me deixou terminar.

 

– Você se deixou ser pega para salvá-los, mas seus amigos não desistiram de você. Foram admiráveis pra mim. 

 

    Senti a tradicional tristeza me abatendo. Pior ainda era ver o quanto eles se esforçaram para me salvar, e mesmo assim, fui eu quem os machucou.

 

– Mas ainda sim... – deixei a frase morrer. Lee sorriu brevemente.

 

– Olha, eu acho que você devia falar com eles! – o olhei. – Vamos lá, use seu poder da juventude!

 

– Hãn... acho que eu não tenho esse poder não, Lee – falei.

 

– Sério, Emi, aposto que devem sentir muito a sua falta. – a verdade é que eu também tinha medo que me odiassem depois daquilo. – E você também sente a deles.

 

– E se não sentirem?

 

– Sentem sim, vai por mim. – então ele encarou o chão, parecendo perdido – Vocês vão se reconciliar, acredite. E ir lutar na ultima fase...

 

  Sabia para aonde seus pensamentos se encaminhavam. Suas lesões, Hikari havia me dito que o ataque de Gaara foi destrutivo, e que temia não conseguir achar uma solução para ele voltar a ser o que era antes. Também já reparei no quão apreensivos eram os médicos que viam lhe trazer medicação ou trocar as ataduras.

 

– Lee, vai dar tudo certo. – disse – Quando você sair daqui, vai voltar a treinar e ir em missões. Tudo vai voltar a ser como era antes.

 

  O especialista em Taijutsu ficou pensativo por alguns segundos, mas logo abriu um de seus sorrisos contagiantes.

 

– Você esta certa Emi, eu vou me esforçar e voltar a ser um grande Shinobi!

 

  Lee... você já é um grande Shinobi.

 

– É assim que se fala. – concordei.

 

  O barulho da porta se abrindo chamou nossa atenção me virei vendo a medica já conhecida por mim adentrar o quarto e nos analisar.

 

– Emi, desculpe. Mas já está na hora do Lee descansar – Hikari disse. Concordei. Eu já estava ali há um bom tempo, era melhor ir.

 

– Tudo bem – virei-me para Lee – Assim que for possível, virei vê-lo de novo.

 

  Ele sorriu levantando o polegar, em sinal positivo.

 

– Certo! E.. Emi? Pode me prometer uma coisa?

 

  Fiquei surpresa por aquilo. O seria?

 

– C-Claro... O que?

 

– Prometa que vai falar com eles. – não soube o que dizer. Eu precisaria de uma força maior para aquilo. Ou apenas parar de ser covarde e ir me desculpar esperando que eles me perdoem.

 

– Ok. Eu prometo – não queria que Lee ficasse preocupado comigo. E pensar que ele tem todos esses problemas e ainda consegue manter o sorriso no rosto.

 

– Ótimo, vai lá e mostra o Fogo da Juventude!

 

– Deixa comigo.

 

  Dei um aceno de despedida para Hikari, que respondeu com um sorriso e me encaminhei para fora do quarto. Pensava firmemente no que havia acabado de prometer. Eu já tinha tantas promessas para cumprir e ultimamente tenho procrastinado tanto em relação a isso. Acho que já é hora de dar um basta, não sabia se aguentaria ficar mais um dia isolada. E ainda que a vergonha e o medo atormentassem meus pensamentos e poluísse qualquer cena de reconciliação em minha mente, eu sabia que deveria fazer aquilo. Mesmo que me odiassem agora, eu precisava pedir desculpas, tirar esse peso de mim.

 

 

   Eu suava frio, e tremia de nervosismo. Havia passado na casa de Haruo, mas sua mãe me disse que ele terminou umas tarefas e saiu correndo de casa, antes que o pai chegasse. Conversar com ela tinha sido um sacrifício, pois as cenas ficaram rondando minha mente. Mas confesso que Dona Maya me surpreendeu.

 

 

“ – Emi, querida! Entre! – ela abriu um sorriso largo ao me ver. Já eu, que estava morrendo de medo de ela me expulsar dali depois do acontecido.

 

– Hãn... tem certeza? Eu..

 

  Antes que pudesse dizer algo, Dona Maya revirou os olhos e me puxou pra dentro. Aquela atitude me lembrava de Haruo, se ele estivesse em casa... o que eu diria?

  Lutei internamente contra a vontade de dar um fora dali enquanto Dona Maya enchia uma xícara de chá. Era de camomila pelo cheiro.

 

– Bem, você deve estar procurando aquela criatura, não é? – questionou pondo a xícara em minha frente. Sorri agradecida.

 

– S-Sim... Eu... Queria me desculpar – suspirei. Quase que não conseguia falar, sentia-me tão culpada e constrangida de estar ali depois de tudo.

 

– Emi, ele não esta. – a encarei, confusa – Depois de ter cometido um erro daqueles ontem, eu dei-lhe um sermão, mandei arrumar a cozinha e logo que virei as costas, o menino saiu pela janela.

 

 Ela falou rindo. Provavelmente relembrando a cena, eu continuava confusa. Haruo não deveria estar em casa, de repouso?

 

– Um erro?

 

  Dona Maya me olhou como se pedisse desculpas.
 

– Bem, ontem, Haruo, Kaede, Shikamaru e Chouji ficaram bêbados na churrascaria. – fiquei boquiaberta. Como assim? Eles não pensam nas consequências? Isso é loucura. – Haruo foi o pior. Os outros tiveram que carrega-lo até aqui.

 

 Meu Kami. Como eles conseguiram? Não têm idade pra isso. E por quê?

 

– Minha nossa... eles estão bem?

 

– Provavelmente com ressaca, mas devem estar.

 

  Será que... isso é minha culpa? Eu os machuquei a ponto de interromper seus respectivos treinamentos. Será que ficaram tristes ou irritados por conta disso? E resolveram descontar na bebida? Senti um aperto no peito. Porque eu só sei fazer mal aos outros? Isso é horrível.

 

– Isso deve ser minha culpa – falei, mais para mim mesma. Pensava seriamente em sair dali e desistir.

 

  Dona Maya sorriu e pôs a mão em meu ombro.

 

– Claro que não Emi... você não tem culpa de nada. – a encarei, queria chorar – Não sabe o quanto fico feliz por estar aqui agora.

 

  Eu não conseguia entender. Ela ficava feliz? Sendo que eu era a razão de seu filho sair fazendo coisas erradas?

 

– Por quê?

 

– Por quê? Você não percebe o quanto é especial para as pessoas? – seu olhar estava carregado de compaixão, compreensão. Não sei se merecia aquilo.

 

– Não... eu não sou!

 

– Claro que é. Sabe, o Haruo e o Kaede sempre viviam andando pra cima e pra baixo, como adolescentes inconsequentes. E quando formaram uma equipe, isso mudou. Eles mudaram. De repente, os dois ficaram mais felizes. Deixaram de só comer porcarias e fazer pegadinhas, e passaram a treinar mais, amadureceram.

 

– Dona Maya, eu... – nem sabia o que dizer. Não sabia disso.

 

– Eles ficaram amigos da equipe 10, não é? Os dois sempre foram tão introvertidos... antes de você. De repente, eles viviam rindo do modo como você os repreendia e se gabando de que tinham a melhor equipe do mundo... eu vi o meu menino crescer e se tornar um ninja forte e destemido. Imagina o quanto fico feliz...

 

  Aquela altura do campeonato, eu tive que enxugar uma lagrima. Fiquei pensando no quanto ficariam envergonhados se estivessem ali comigo, ouvindo aquilo.

 

– Mesmo assim, eu os machuquei.

 

– Não. Eles estão tristes porque prometeram te proteger acima de tudo, eu sei disso. E uma promessa quebrada pode se tornar um peso insuportável às vezes.

 

  Sim. Eu sabia o quanto pesadas elas poderiam ser. O efeito que elas poderiam ter sobre nós, culpa e arrependimento, vontade de desistir. Lembrando-me de tudo o que aconteceu comigo, não queria que Kaede e Haruo passassem por tudo aquilo. Tudo aquilo que passei.

 

– D-Desculpa, Dona Maya... Mas eu preciso acha-los... – larguei a xícara e me levantei.

 

  Ela sorriu e se levantou também.

 

– Eu sei querida, mas me faça um favor...

 

– O que?

 

– Quando encontrar aquele cabeça oca, diga-o para estar aqui antes das nove ou eu mando o pai dele ir busca-lo – ri. Os Amanos eram com certeza a melhor família.

 

– Pode deixar, se ele não quiser vir, eu mesma o trago.”

 

  Eu pensava fixamente em um local onde os dois poderiam estar agora. Um estabelecimento do qual Haruo nunca abriria mão de visitar durante o dia, e provavelmente Kaede estaria junto dele. Era a oportunidade perfeita.

  Depois de correr bastante, me encontrei diante da loja de Dangos. Minha respiração estava acelerada, sentia as bochechas vermelhas. Milhares de pensamentos passaram-se pela minha mente, eu tentava encontrar minha coragem no meio daquela nevoa de receios.

  Quando entrei no estabelecimento, tive a visão de todas as mesas e os clientes. O clima daquele local estava agradável, havia todo aquele burburinho dos clientes e o atendimento correndo normalmente. Meu coração quase saiu pela boca quando os vi, sentados-se à mesa do canto. Era como se eles expressassem desanimo, mas claro, depois do que aconteceu ontem. Haruo brincava com os palitos de Dango vazios enquanto dizia algo e Kaede estava jogado em uma péssima postura na cadeira, apenas ouvindo. Respirei fundo diversas vezes, tentando me acalmar, sem sucesso, é claro. Fechei os olhos, permitindo-me por alguns segundos imaginar que tudo ia dar certo, que ficaria tudo bem. Repetindo esse mantra, me aproximei cuidadosamente deles. Pude ouvir o que diziam:

 

– Cara... meu pai vai me matar... – Haruo afirmou, aborrecido. Quase ri, lembrando que ele havia fugido de casa pela janela.

 

– Alem disso, imagine o quanto a Dona Maya deve estar irritada por você ter fugido – Kaede adicionou.

 

  Estava na hora. Eu tinha que me aproximar, tinha muito medo da reação deles. Mas não sentia momento melhor do que aquele.

 

– Pode acreditar que ela esta uma fera – falei chamando a atenção de ambos. Congelei com seus olhares sobre mim, estavam surpresos, ou até chocados.

 

– Emi? Você voltou... – Kaede se pronunciou, ainda sem acreditar. Haruo se mantinha quieto. Eles pareciam ter visto um fantasma.

 

– É... eu... acho que voltei sim. – mexi nos cabelos nervosamente, numa tentativa de me livrar da sensação incomoda. Eu não sabia como deveria encara-los, estava a ponto de surtar.

 

  Ver a tipoia no braço de Haruo me trazia angustia. Aquilo era minha culpa, eu o fiz.

 

– Depois de dias – o Amano comentou embaraçado.

 

  Puxei a cadeira vaga cautelosamente, olhando-os antes como se pedisse permissão. Kaede apenas assentiu. Me sentei tentando controlar a ansiedade.

 

– M-Me desculpe aparecer assim... – tive que dar uma pausa para respirar.  – Eu precisava me desculpar com vocês.

 

  Observei suas reações. Kaede mantinha uma expressão confusa, como se tentasse me entender. Já Haruo olhava para baixo, talvez ele estivesse tão sem graça quanto eu.

 

– Por quê? – Haruo perguntou jogando o palitinho na mesa e passando a me encarar. Estava frustrado, deixava isso claro em suas feições. Congelei novamente.

 

– P-Porque... – engoli seco, tomando coragem – Porque tudo isso foi culpa minha... E-Eu machuquei vocês. Devia ter tentado resistir.

 

   Eles se encararam, e eu não conseguia entender o significado daqueles olhares. Os segundos que se passaram a seguir pareciam horas, em um silencio ensurdecedor reinando ali. Fazia o possível para conter minha tremedeira, o que parecia impossível.  Em minha mente, passavam-se varias cenas de como eles rejeitariam minhas desculpas, ou até como me expulsariam dali. Idiota. Por que eu tive que vir aqui? Só causo conflitos mesmo. 

 

– Vou... Entender se vocês quiserem que eu saia daqui... – aquelas palavras saíram com esforço. Estava a ponto de ajoelhar-me e implorar pelo perdão deles, tudo o que interrompesse aquele silencio infernal.

 

– Emi... isso é sério? – Haruo questionou com um olhar de reprovação, engoli seco.

 

–  A-Acho que sim... – falei tentando esconder que me afogava em constrangimento e medo.

 

   Ouvi o suspiro cansado de Kaede ao lado, o que deixou meu corpo ainda mais trêmulo. Eu não deveria ter vindo.

 

– Olha Emi, a gente... – O Kurosaki começou, mas foi interrompido por Haruo.

 

– Sem essa! – senti um choque percorrer por todo o meu corpo, uma sensação desagradável trazendo um congelamento logo depois – Você é possuída, faz coisas forçadas, some por dias e nem nos manda um bilhete. Deixa todo mundo se remoendo de preocupação e aparece assim?!

 

  Soltei o ar com dificuldade, estava boquiaberta. Eu estava preparada para ser expulsa dali, para me xingarem ou coisa parecida. Mas o Amano me surpreendeu com aquelas palavras, assim como fez sua mãe... realmente... eles sentiram falta de mim?

 

– Sinceramente Mimi, faltou pouco pra gente invadir sua casa e te trazer de volta a força. Sumiu, deixando a gente com medo de algo ter acontecido com você depois daquilo. – Kaede disse suavemente. Eu podia sentir compaixão em suas palavras.
 

  Não tinha o que falar, e mesmo se tivesse, não conseguiria falar. Sentia-me emocionada, não sabia se aquilo era uma bronca ou uma forma deles dizerem o quanto sentiram minha falta, ou talvez os dois. Não importava, só me abalou de uma forma inexplicável.

 

– N-Não... Estão bravos c-comigo? – me esforcei para que as palavras saíssem. Mesmo assim, minha voz era fraca e sentia meus olhos lacrimejarem.

 

– Eu to furioso é com aquele idiota maluco. – Haruo falou, logo respirando fundo e pôs a mão sobre meu ombro – Mas com você... Claro que não!

 

   Naquele momento, senti um fardo deixar minhas costas. Minha respiração descompassar e uma vontade enorme e avassaladora de pôr tudo pra fora, com toda a certeza era um pranto se aproximando. Eu esperava tudo, menos compaixão. Dona Maya estava certa, eles se importavam comigo, e sinto que fui injusta sumindo assim. Eu devia agradecer a Kami por ter minha equipe e Ino, Shika e Cho todos os dias de minha vida, e não pisar na bola dessa forma.

 

– Nossa eu... – suspirei, passando a mão nos cabelos – Nem sei c-como...

 

  Era difícil dizer algo. Qualquer coisa, aquele momento parecia um jogo de Shogi com o Shikaku-sensei, complicado. E problemático.

 

– Está tudo bem. A gente entende. Afinal, somos ninjas, ainda vamos enfrentar muitas bizarrices por ai. O importante é que permaneçamos juntos. – Kaede disse. Mordi os lábios, contendo minha vontade de chorar.

 

– Agora, tem outros por aí que também estão te esperando, não? – proferiu Haruo. Logo a imagem da equipe 10 me viera a mente.

 

– É... Preciso ir até eles.

 

– Vamos com você. – de alguma forma, seu olhar me passou um pouco de confiança.

 

– O-obrigada gente... – agradeci, certa de que meu rosto estava corado.

 

 

    Resolvi esperar fora da loja enquanto eles pagavam sua conta. Dava para ver o parquinho dali, onde havia varias crianças brincando. Balançando-se, pendurando-se, etc. Por alguns segundos, imaginei se tudo tivesse sido diferente. Se minha mãe tivesse me permitido ter uma infância normal. E se aquelas crianças fossem eu, Kaede, Haruo e a equipe 10. Amigos desde pequenos será que eu seria diferente? Teria menos medo da vida? 

   Provável. Mas essa opção me parecia tão estranha, acho que já havia me acostumado com meu jeito de ser. Sendo sincera comigo mesma, no fundo acreditava que não havia sido minha culpa. Tinha sempre aquela voz que dizia o quanto eu me esforçava, e elogiava meus feitos. Talvez eu fosse louca, ou talvez apenas devesse aceitar que gosto de mim mesma do jeito que sou. Logo, a voz de Kaede reclamando de algo me tirou dos devaneios.

 

– Como sempre eu pago o pato, não é mesmo? – falou o Kurosaki, emburrado.

 

– Ora, cadê seu altruísmo meu amigo? – rebateu Haruo. Fiquei confusa.

 

– Do que vocês estão falando? – questionei me aproximando de ambos. Kaede suspirou meio irritado.

 

– Adivinha? O Zé perdeu a carteira e eu tive que pagar a conta dele.

 

  Eu quase ri. Haruo é um verdadeiro esquecido da vida.

 

– Já me desculpei, tá? – disse o Amano – Eu hein, até parece que nunca pagou minhas contas antes.

 

  Agora eu caí na risada. Tinha sentido saudade disso.

 

– Gente, para. – eu falava em meio a risadas – Acho melhor irmos agora.

 

  Eles deram de ombros, e então começamos a seguir o caminho que nos levaria ao lugar preferido deles. Onde podiam ver as nuvens sem serem incomodados.

 

– Sinceramente, o Haruo só não perde a cabeça porque está grudada no pescoço. – alfinetou Kaede. Ah isso é verdade.

 

– Pare de me ofender!

 

– Serio, vamos parar com isso? – tentei – Olha, depois a gente passa em uma loja e compra outras duas carteiras pra ele.

 

  Eles me olharam confusos.

 

– Duas? – perguntou Haruo. Dei de ombros.

 

– É. Pra quando você perder a primeira, já ter outra no lugar. – falei. Kaede não se segurou e riu a beça.

 

– Como é que é? –ri da cara de indigitado dele. – Me zoando né? Merece!

 

  Haruo começou a me fazer cócegas. Tentava afasta-lo, mas as risadas me impediam. O ar começava a fazer falta, mas eu sendo eu, claro que tropecei. Acho que tropecei em uma pedra no chão, mas me desequilibrei. E acabamos caindo no chão. Até tentei me levantar, mas o Amano pôs peso em cima de mim. Levei um tempo até perceber que estava sendo abraçada, e aquilo me surpreendeu.

 

– Haruo? O que...

 

– Emi? Promete que não vai sumir de novo?

 

   Aquela frase foi o suficiente para me fazer ter vontade de chorar. Eu sou muito egoísta mesmo por querer me isolar assim. Nunca pensei que traria dor aos outros, mas agora isso vai mudar, tem que mudar.

 

– Prometo.

 

  Então ouvimos a voz do Kurosaki.

 

– Êpa! Rola abraço e nem me chamam né? – Kaede disse se jogando sobre nós. Embora fosse doloroso no inicio, logo começamos a rir daquilo.

 

  Ino, Shika, Chou, estou voltando. Espero que me perdoem.

 


Notas Finais


Esse foi o cap, espero que tenham gostado. Era pra ter a parte da reconciliação nesse cap tbm, mas ia ficar muito longo e eu planejo enquadrar mais coisas ao proximo. Desculpem mesmo, está difícil de fazer qualquer coisa no momento.
Enfim, comentem o que acharam! Até o proximo, fikem com Deus
Fui <3 <3


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