Eu tinha um brinquedo, um brinquedo defeituoso. Já tinha tentado consertá-lo várias vezes, troquei a pilha e nada. No início, uma luzinha acendia, enchendo-me de expectativa. "Dessa vez vai funcionar", pensava. Mas a luz durava apenas cinco segundos e depois se apagava. Eram os cinco segundos mais felizes da minha vida, porque nascia a esperança de que um dia ele iria funcionar. Aquele brinquedo me prendia, mesmo que eu nunca tivesse conseguido brincar de verdade com ele.
Ele ocupava um lugar privilegiado, no alto da prateleira. Eu tinha outro brinquedo, perfeito, sem defeitos, mas ele não despertava em mim o mesmo interesse. Assim, o brinquedo perfeito era jogado em qualquer canto, sem o mesmo cuidado que eu dedicava ao brinquedo defeituoso.
Tentei seguir instruções, dicas, passo a passo de como arrumar o brinquedo que eu tanto queria. Tinha medo de levá-lo para outra pessoa consertar. Era meu brinquedo, apenas meu. Tinha receio da falta de cuidado e zelo que os outros poderiam ter.
Certo dia, houve uma campanha de doações. Doei todos os meus brinquedos, inclusive o perfeito, menos o defeituoso, que preenchia todo o espaço que eu não queria dar a outro brinquedo.
Na escola, chegou o dia do brinquedo. Todos deveriam levar algo para brincar. Foi nesse dia, ao observar os outros brincarem, que percebi que o meu brinquedo não me dava nada, apenas a falsa esperança de que um dia ele ia funcionar. Agora, eu não tinha mais outro brinquedo, apenas aquele que me prendia com aquela luzinha que logo desaparecia.
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