Ele gostava da brisa gelada da manhã, da sensação que o sol — que ia despertando aos poucos — aquecia o que tinha restado do frio congelante da noite anterior.
Era como se o dia estivesse dando as boas vindas a Ranpo, enquanto ele caminhava a passos lentos pelas ruas. A cidade, que também ia acordando devagar, iniciando pouco a pouco o seu movimento cotidiano, parecia nem existir ao redor do homem.
E ele andava até encontrar aquele banco de frente para o rio, aonde se sentava, com um pequeno e familiar livro em suas mãos. Este permanecia fechado com cuidado, enquanto os olhos do homem iam do livro para o céu, fechando-os ao deixar a cabeça erguida para as nuvens.
Com os olhos fechados, Ranpo deixava o vento frio brincar com os fios de cabelo que escapavam de seu chapéu, enquanto sentia o sol ainda fraco aquecê-lo timidamente.
As pessoas que passavam por ali não o viam, como se ele fosse apenas uma pessoa invisível, um homem engolido pela tristeza e solidão, emanando uma aura forte de que não queria ser incomodado. Praticamente um fantasma.
Mas ele não se importava, na realidade gostava daquela calma e aparente paz em que o deixavam, em que sua única companhia era o sol e a brisa gelada da manhã.
É claro que não fora sempre assim, mas desde que se vira sozinho, Ranpo passou a tentar se contentar com aquela solidão, com aquela amargura que o rondava.
Porque a verdade é que ele jamais se sentiria como antes.
Não era possível voltar ao passado e não era possível reviver aqueles que já se foram.
Então o que ele fazia era sentar ali e deixar com que o dia amanhecesse e as horas passassem, enquanto se lembrava de como era estar naquele lugar acompanhado do homem entusiasmado, que partira abruptamente, levando consigo todo o entusiasmo que ambos compartilhavam.
Entusiasmo pelo trabalho. Pela vida. Pelo amor.
Ele se fora e levara tudo consigo.
Todo aquele brilho que Ranpo agora só sentia do fraco sol, que apesar de aquecer seu corpo por fora, era incapaz de aquecer a brisa gelada que tornara o seu coração.
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