4 meses depois.
— Ainda acho que você deveria evitar café.
Dei uma olhada feia para Shawn, ouvindo Claire rir baixinho no banco de trás. Ela ainda parecia estar com o pé atrás em relação ao bebê, mas já haviam quatro meses, e a cada dia que se passava, a loirinha se derretia cada vez mais com a ideia. Do meu ponto de vista, não demoraria até que ela se adaptasse totalmente, o que era uma benção.
Encarei o copo da Starbucks nas minhas mãos, sentindo o bebê se agitar na minha barriga.
— Você não ia querer que sua filha nascesse com cara de café, não é mesmo? — brinquei, e então ela se mexeu novamente. — E ela está concordando comigo!
Shawn fuzilou a minha barriga mínima enquanto eu dava um gole na bebida.
— Traidor. — resmungou ele, arrancando risos de Claire.
— É traidora! — falei, lançando um olhar de cumplicidade para a loirinha no banco de trás.
— Nós vamos descobrir hoje? — indagou ela, afastando o próprio copo do rosto.
— Talvez, se ela estiver do nosso lado. — provoquei, vendo Shawn crispar os lábios.
— Eu não vou conseguir lidar com três mulheres dentro de casa! — protestou, batucando os dedos no volante.
— Você supera. — Claire se adiantou, batendo levemente no ombro dele. Não consegui conter o riso, sentindo o bebê se agitar novamente.
— Ei, moça, dá pra se acalmar? — resmunguei, apoiando a mão sobre a barriga. — Não se esqueça que sou eu quem está sofrendo com essa festa que você resolveu dar ai dentro… Deixe pra dar a festa depois de provar para o seu pai que você é menina!
— Ou depois de convencer a sua mãe de que você é homem. — Shawn resmungou, mas apenas revirei os olhos e terminei o café num gole só. — O que será que a médica vai dizer desse tanto de cafeína que você acabou de ingerir?
— Nada, porque você não vai contar pra ela. — estreitei os olhos em sua direção. — Não teste o humor de uma mulher grávida!
Ele apenas ergueu as mãos em forma de rendição, estacionando ao lado da clínica logo em seguida. Era óbvio que ele seguiria meu conselho, até porque, Shawn sabia muito bem que, se lidar comigo normal já era difícil, imagine lidar comigo grávida! É, acho que ele não pretendia ter o saco arrancado tão cedo, então não diria nada.
— Qual vai ser o nome dela? — indagou Claire, sorrindo divertida na direção de Shawn.
Sua cara fechou no mesmo instante, com ele logo apanhando o celular e fingindo que não estava ouvindo. Ri baixo, tomando o aparelho de suas mãos ao mesmo tempo em que seu olhar indignado encontrava o meu. Desafiei-o silenciosamente a dizer alguma coisa enquanto Claire ria da nossa briga.
— Qual vai ser o nome dela, Shawn? — perguntei, abrindo um sorrisinho enquanto sua mandíbula travava.
— Vai ser “devolve o meu celular”. — rosnou, mas apenas brinquei com o iPhone entre minhas mãos.
— Hmmm, “devolve o meu celular” Mendes. — me virei para Claire, que se encurvava de tanto rir. — O que você acha?
Ela negou com a cabeça e eu sorri divertida, abraçando-a de lado enquanto seguíamos para dentro da clínica. Olhei para trás, encontrando um Shawn Mendes emburrado há poucos metros de distância. Nossos olhares se encontraram e eu mordi o lábio, desviando o olhar enquanto parávamos na recepção. Dei meu nome e seguimos para a sala de espera, com Claire desabando na cadeira, o copo de café ainda em mãos. Encarei Shawn e foi impossível não rir.
— Meu Deus, parece até que eu roubei sua chupeta, neném. — brinquei, estendendo o celular de volta para ele.
Seu olhar caiu sobre o aparelho e então sobre mim, demorando alguns minutos até que ele pegasse o mesmo.
— A única coisa que eu peço é que ele não puxe a você. — resmungou.
Pousei as mãos sobre a barriga, fazendo minha melhor cara de ofendida.
— Agora, a única coisa que eu peço é que ela seja exatamente como eu! — rebati, me encurvando e abraçando a barriga.
Shawn estreitou os olhos, afastando um de meus braços e apoiando a mão na minha barriga. Arqueei a sobrancelha, mas ele apenas aproximou a cabeça dali e sussurrou:
— Não faça o que ela diz, ela é louca.
Acertei um tapa em sua cabeça, mas já era tarde demais. Fosse quem fosse, já havia ouvido as palavras do pai traíra e já se agitava incansavelmente dentro de mim. Fuzilei Shawn com o olhar, mas ele parecia bastante satisfeito enquanto afastava o rosto, mantendo a mão ali. Olhei em volta, sentindo minhas bochechas esquentarem enquanto as outras mulheres da sala de espera nos encaravam com curiosidade. Voltei meu olhar para Claire, que bebia o resto de seu café cabisbaixa.
— Quer sentir? — perguntei, mas ela apenas negou com a cabeça, fazendo seus cabelos loiros se agitarem.
Olhei para o cara ao meu lado, implorando por socorro, e ele encarou Claire por alguns minutos antes de dizer algo.
— Sabe, você deveria escolher o nome dele. — falou por fim, atraindo a atenção de nós duas. A menininha arqueou a sobrancelha e me encarou, como se perguntasse se eu concordava, então apenas acenei com a cabeça.
— Desde que você não opte pelo “devolve o meu celular” Mendes. — brinquei, com ela abrindo um sorriso.
— Catherine Wood?
Meu estômago deu um salto no mesmo instante, e fui a ultima a levantar. Podia sentir todo o café subindo pela minha garganta enquanto caminhávamos na direção do corredor, onde uma mulher de cabelos grisalhos e um sorriso brilhante nos encarava. Um arrepio correu o meu corpo de ponta a ponta só de lembrar da Dra. Forbes e sua equipe, que ajudaram no sequestro de Claire. E se aquela também fosse daquela maneira? Meu ritmo cardíaco aumentava a medida que eu imaginava o nascimento daquele bebê, tudo acontecendo de novo. Não, não daquela vez, eu não ia deixar.
— Catherine? — a voz de Shawn era algo distante na minha cabeça, e eu mal conseguia enxergá-lo em meio aos borrões que tomaram minha visão.
Ninguém tiraria meu bebê, não daquela vez. Agarrei a minha barriga e busquei por Claire, mantendo a ideia fixa de que ninguém sequer tocaria nos meus filhos agora. Eles eram meus e eu os manteria seguros custe o que custasse.
— Catherine?
Shawn agarrou os meus braços e foi como se um choque de realidade me invadisse. A sala de espera se tornou mais nítida, e eu finalmente conseguia visualizar Claire, a doutora e todas as outras mães nos encarando com preocupação. Senti meu rosto molhado e me dei conta de que já estava chorando rios, então, não protestei quando ele me apertou contra seu corpo. Era como se eu só precisasse me sentir segura por alguns instantes.
— E se ela… — choraminguei, sendo cortada por soluços. — E se acontecer de novo?
— Não vai. — murmurou ele. — Não vai, eu prometo.
— Catherine?
Baixei o olhar, vendo Claire parada ao nosso lado. Me afastei, enxugando as lágrimas enquanto ela me encarava. Não era preciso que a minha filha me dissesse alguma coisa para que eu notasse o quão preocupada ela estava, então, ao invés de dizer algo, Claire piscou os olhinhos castanhos e me estendeu a mão, que não demorei a pegar. Logo, a menininha se pôs a me levar devagar até a médica, que apenas sorriu e nos guiou até a sala. Em momento algum a mão de Claire soltou a minha, e ora ou outra eu sentia ela apertá-la, como se quisesse me passar segurança. Era uma graça, e funcionou mesmo.
Me sentei na maca, com a médica saindo para buscar um copo d’água. O bebê se agitava na minha barriga, e acariciei-a com a mão livre enquanto Claire se sentava logo ao meu lado. Encarei Shawn, observando enquanto ele se acomodava na cadeira. Nossos olhares se encontraram e o mesmo sorriu abertamente, o que fez meus ombros relaxarem no mesmo instante. Ele tinha razão, nada aconteceria daquela vez, e eu precisava me acalmar, pelo bem do bebê.
Dois minutos depois, a médica voltou, me estendendo o copo enquanto se sentava a frente dos aparelhos.
— Você está bem? Podemos remarcar, se quiser… — disse ela, me analisando por alguns instantes.
— Estou bem. — Claire apertou minha mão e eu sorri, dando um gole na água.
A mulher sorriu, assentindo com a cabeça enquanto ligava aquele monte de coisas. Obriguei o meu corpo a relaxar, pedindo mentalmente para que toda aquela agitação dos últimos minutos não tivessem feito o bebê se acanhar. O olhar dos Mendes ao meu lado permaneciam fixos na tela, como se eles tivessem assistindo a uma partida de futebol decisiva. Ri pelo nariz, sendo surpreendida quando aquele gel incrivelmente gelado tocou a minha barriga.
— Porra. — praguejei baixinho, me repreendendo mentalmente quando Claire começou a rir.
A médica estreitou os olhos para mim, rindo em seguida enquanto deslizava aquele treco sobre a minha pele. Fixei meu olhar na tela assim como os outros dois, sentindo meu coração acelerar a medida que aquela imagem confusa surgia na tela.
E então, lá estava ele. A fusão de um pedacinho meu e outro de Shawn.
Um bolo se formou em minha garganta e não demorou muito até que eu caísse em lágrimas novamente. Faltavam mais cinco meses para que eu pudesse pegar aquela coisinha, e eu mal cabia em mim de ansiedade. Como seria? Puxaria a mim? Ao pai? Aos dois? Ou até mesmo a Claire? Olhei para a minha menininha e então foi minha vez de apertar a sua mão enquanto seus olhos permaneciam vidrados na tela.
— Quais são as apostas sobre o sexo? — indagou a médica, sorrindo para os três.
As respostas vieram ao mesmo tempo, e foi impossível não rir enquanto Shawn dizia “menino”, e Claire “menina”. Encarei a médica, rindo por entre as lágrimas enquanto ela encarava Shawn com a sobrancelha arqueada.
— Você deveria começar a apostar na loteria, Sr. Mendes. — e então seu olhar se voltou para a tela.
Ouvi a cadeira de Shawn ranger e se arrastar conforme ele se levantava, gritando um “sabia, porra!” enquanto Claire cruzava os braços ao meu lado. Abracei-a de lado, abaixando o olhar para a barriga enquanto tocava as partes livres de gel.
— Traidor. — resmunguei, com a minha filha assentindo.
— E pode ter certeza de que é traidor mesmo. — ergui o olhar para o meu namorado, que tinha um sorriso quase do tamanho da Rússia.
Mostrei a língua para ele, mas Shawn apenas riu e negou com a cabeça. Logo, ele se inclinou e, ainda com o maldito sorriso Mendes, me beijou. Eu mal conseguia acreditar, havia sido traída pelo meu próprio filho!
Iríamos ter um menino, no final das contas.
— Evan. — disse Claire.
Nos separamos no mesmo instante, voltando o olhar para ela.
— O que? — indagou Shawn.
— Evan é o nome dele. — seus olhos se ergueram na nossa direção e ela abriu um sorrisinho.
— Evan. — repetiu ele, se pondo de pé.
— Evan Mendes. — falei, lançando um sorrisinho para ele. Logo após, me inclinei e beijei a bochecha dela. — Adorei.
— Bom, Evan é um garotinho muito saudável. — disse a doutora, desligando os aparelhos e me entregando um papel. — Está tudo perfeitamente bem, e espero que continue se cuidando para que continue assim.
Encarei Shawn, vendo um “sem café” se formar em seus lábios. Revirei os olhos para ele, limpando o gel da minha quase imperceptível barriga e então arrumando as roupas. Qual é, não era como se o meu rapazinho fosse nascer viciado em café.
Após algumas pequenas recomendações da médica, finalmente conseguimos ir embora. Saímos da clínica em silêncio, mas podia ouvir o cara ao meu lado rir ora ou outra. Olhei-o de rabo de olho, fechando a cara no mesmo instante.
— Se começar a me zoar, você está ferrado. — adverti, com ele sorrindo divertido na minha direção.
— Eu? Até parece! Não vou testar os hormônios de uma mulher grávida de um menino.
— Você vai dormir no sofá hoje. — estreitei os olhos, com Claire rindo a nossa frente.
Caminhamos até o carro, com meu celular começando a tocar no mesmo instante. Apanhei-o de dentro da bolsa, lendo “Alena Cook” no visor, o que fez minha sobrancelha se arquear. Dei uma olhada para Claire e então atendi o celular, me perguntando que diabos havia acontecido.
— Catherine? — indagou a mulher, parecendo um tanto afobada.
— Boa tarde, Alena. — cumprimentei, abrindo a porta do carro. Podia sentir o olhar de Shawn queimando em mim, mas não disse nada.
— Onde está a Morgan? — seu tom alerta começava a me assustar. O que estava acontecendo?
— Está comigo, estamos saindo de uma clínica. — segurei a porta, olhando para o outro lado enquanto falava. — Algum problema?
— Katie Caufield fugiu da cadeia, Catherine.
O celular caiu da minha mão e senti minhas pernas bambearem.
Não podia ser.
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