História Broken Strings - Good Things

5 meses depois.

— Diga “mamãe”!

— Ah, fala sério! É óbvio que ele vai dizer “papai” primeiro!

Olhei feio para Shawn, mas ele mantinha a cara de paisagem enquanto observava o garotinho nos meus braços. Os enormes olhos castanhos de Evan alternavam entre eu e o pai, e ele quase sempre abria um sorriso banguela quando nossas discussões começavam, fazendo com que nos calássemos e voltássemos a babar em cima dele.

— Eu que carreguei por nove meses… Tá, foram oito, mas eu que pari! — protestei novamente, fuzilando Shawn enquanto ouvia o bebê rir e bater palmas no meu colo. Me voltei para ele, sorrindo no mesmo instante. — Não é, amor? Você não vai dizer mamãe primeiro? Viu, ele concorda comigo!

O cara ao meu lado bufou, revirando os olhos enquanto ouvia meu pai rir. Ergui o olhar para ele, sorrindo até Claire finalmente entrar no meu campo de visão, com Parker e Jenny em seu encalço. Steve vinha logo atrás, sendo guiado pela minha melhor amiga pela mão. Estreitei os olhos para aquilo, mesmo que eles já estivessem juntos há algum tempo.

— Estou ouvindo vocês pirarem o meu afilhado desde lá de cima. — disse ela, apontando para o primeiro andar da casa.

— Estamos tentando ensiná-lo a falar. — pisquei inocentemente, com a morena rindo logo após.

— Ele só tem cinco meses, Catherine. — Jenny estendeu os braços para Evan, que rapidamente retribuiu o gesto e deu impulso na direção dela.

Deixei que ele fosse, assistindo então enquanto ela e Steve brincavam com o bebê.

— Vem, vamos sair de perto desses pais corujas por enquanto… — seus olhos se estreitaram na minha direção e ergui o dedo do meio para ela, recebendo uma olhada feia da minha mãe logo em seguida.

Ouvi Shawn rir atrás de mim e ri fraco, apoiando as costas nele e sentindo-o me abraçar. Estava sol, e eu podia ouvir as pessoas circulando para lá e para cá. Nossos pais não paravam de conversar nem por um minuto, mas fora isso, era um dia tranquilo.

— Vem aqui você. — Shawn falou e só então desviei o olhar.

Claire sorriu, correndo até nós. Ela estava linda, com os cabelos presos em duas tranças e um vestido florido, sem contar uma mancha de tinta verde em sua bochecha. Foi impossível não sorrir também, e assim que a minha menina se arrumou no meio de nós, a envolvi num abraço e beijei seus cabelos.

— Jenny estava me ajudando a pintar. — falou ela.

— Jura? — Shawn se inclinou, tentando limpar a mancha de tinta. — Nem deu pra notar.

Após mostrar o pigmento entre os dedos, a boca de Claire se abriu num “o” enquanto ela corria o olhar pelo quintal, finalmente encontrando Jenny e fuzilando-a. Tudo o que a morena fez foi rir e lhe mandar um beijo no ar, logo voltando a balançar Evan.

— Eu sabia que ela estava aprontando alguma. — seus olhos se estreitaram. — Ninguém faz carinho a toa!

— Claro que fazem! — protestei, agarrando-a de surpresa e lhe enchendo de beijos em meio aos seus protestos.

— Mãe! Mãe, para! — gritava ela, rindo enquanto eu começava a alternar entre os beijos e as cócegas.

— Estou sobrando aqui. — Shawn resmungou, pronto para se levantar.

Segurei-o pela camiseta, fazendo-o sentar novamente enquanto trocava olhares com Claire. Ela sorriu sapeca e assentiu com a cabeça, pulando em cima do pai no mesmo instante enquanto eu os observava por um tempo. Shawn caiu na grama e, apesar de ser bem mais alto e forte que a menininha, deixou ela fingir que estava ganhando por alguns instantes.

— Sem cócegas! — disse, mesmo que Claire insistisse em tentar fazer cócegas nele.

— Aqui, Claire! — cutuquei-o abaixo das costelas, recebendo uma olhada feia por parte dele. Apenas fiz minha melhor cara de inocente.

— Traíra. — rosnou o moreno, segurando os pulsos de Claire.

— Me solta! — gritou ela entre risos. — Isso não vale! Mãe!

— Para de jogar sujo! — fingi brigar com ele, por mais que não conseguisse reprimir o sorriso. Me ajoelhei diante deles, observando enquanto Claire tentava falhamente se soltar.

— Vocês que estão formando um complô contra mim e eu que estou jogando sujo?! — rebateu Shawn, sorrindo vitorioso para Claire.

Não tão rápido, Mendes.

O cutuquei novamente, dessa vez dos dois lados, fazendo-o se retrair e soltar Claire, que riu e correu para de trás de mim. Shawn semicerrou os olhos para mim e pisquei para ele, ouvindo passos apressados na nossa direção. Quando ergui o olhar, encontrei Jenny correndo com Evan como se ele fosse um super herói voando. Ri alto, assistindo enquanto ela o pousava sobre Shawn.

— Acho que vocês ganharam reforços. — falou, rindo baixo. — Vou ajudar sua mãe com os pratos.

Evan soltou um gritinho, colocando o indicador na boca do pai. Shawn fingiu morder o dedo dele e o neném rapidamente o tirou dali.

— Vou com ela. — me pus de pé, limpando rapidamente a grama do short. Voltei meu olhar para Claire e abri um sorrisinho. — Agora você já tem alguém pra te ajudar.

Fiquei a tempo de ver Evan tentar cutucar o pescoço do pai com os dedinhos e comecei a caminhar ainda rindo. Quando estava na porta da cozinha, ouvi Shawn gritar um “você também não!”, e então os risos dos meus filhos ecoaram.

Encontrei Jenny, minha mãe, Karen e Aaliyah na cozinha. As quatro debatiam sobre quando Jenny também apareceria com um bebê nos braços, e era óbvio que a minha amiga só sabia fazer caretas e afirmar que já haviam crianças demais na vida dela. Considerando o quanto ela babava em Evan e Claire, tinha quase certeza de que não demoraria até Steve fazê-la ceder, e tinha que admitir que parte de mim rezava para que ele conseguisse mesmo, até porque, não gostava de toda aquela bajulação nos meus filhos. Eles eram meus, ela que tivesse os dela.

— Precisam de mais um par de mãos? — perguntei, sorrindo enquanto minha mãe enchia mais travessas do que eu podia contar.

— E como precisamos! — Karen riu, pegando uma e a equilibrando nos braços junto a outra.

— Essa família é um exagero… — Jenny cantarolou, negando com a cabeça enquanto pegava os pratos.

— É melhor sobrar do que faltar, não? — minha mãe disse, rindo enquanto desligava o fogão. — Agora, só nos resta levar tudo isso lá pra fora.

— A louça é da Jenny. — falei, recebendo uma olhada feia da morena.

— Eu lavo, você seca. — ela arqueou a sobrancelha, mas acabou por sorrir. — Apenas para matar as saudades de Nova Iorque.

Dei uma olhada pela janela da cozinha, vendo Shawn com as crianças ainda em cima dele.

— Que saudade? — foi impossível não sorrir.

Jenny analisou a cena e deu dois tapinhas no meu ombro, sorrindo enquanto saia da cozinha. Karen e minha mãe já estavam do lado de fora também, e me pus a pegar as travessas restantes em silêncio enquanto Aaliyah fazia o mesmo. Olhei-a de rabo de olho, mas ela parecia concentrada demais em equilibrar um prato de batatas, então resolvi que era melhor fingir estar alheia a presença dela.

— Catherine…

Fiquei em silêncio por alguns instantes, um tanto atônita. Se ela estava me chamando, era porque havia merda chegando, e eu não sabia se estava pronta para sacrificar um ótimo dia como aquele com uma briga com a minha cunhada. Observei a travessa quente a minha frente por alguns minutos e então me obriguei a erguer o olhar para encará-la, arqueando a sobrancelha.

Aaliyah parecia sem graça, e eu não sabia se aquela era uma expressão que eu veria novamente.

— Eu… — ela respirou fundo, como se escolhesse as palavras certas. — Eu sinto muito.

Era quase como se eu pudesse ver engrenagens trabalhando sob a pele dela, pensando no que falar. Não sabia se era por que eu tinha um maldito coração mole ou se era por que eu realmente entendia a posição da garota, mas senti a pena crescer cada vez mais. Ela era apenas uma adolescente, no final das contas, e estava tentando proteger o irmão de uma enrascada na qual ela já havia visto ele se meter: eu. Não podia culpá-la, não podia mesmo.

— Vem cá. — abri os braços.

Ela me encarou por uns instantes, arqueando a sobrancelha. Imitei seu gesto, balançando os braços como se indicasse pressa. Aaliyah riu por fim, caminhando devagar na minha direção e envolvendo os braços ao meu redor. A abracei firme, me lembrando vagamente da garotinha que eu costumava ver com frequência na época que namorava Shawn. Ainda era ela, mas numa versão bem maior.

— Está tudo bem. — murmurei, me afastando para encará-la e sorrindo. — Vamos deixar isso pra lá, certo?

— Certo. — ela assentiu, rindo em seguida.

— Hã…

Me afastei dela, me virando e encontrando o meu namorado na soleira da porta. Ele alternava o olhar entre nós duas com as sobrancelhas arqueadas, mas Aaliyah apenas revirou os olhos e pegou o prato, saindo rumo ao quintal. Imitei a expressão de Shawn, esperando que ele se pronunciasse.

— Não vou nem perguntar… — falou, adentrando na cozinha e pegando a travessa restante.

— Ei, eu vou levar essa. — protestei, seguindo logo atrás enquanto ele saia da casa.

— Ah sim, e se depender de você, a gente almoça amanhã.

Pensei em protestar, mas era verdade sim, eu havia enrolado um pouco.

Antes de nos sentarmos, meu pai comandou uma reza e então o típico falatório familiar tomou conta. Arrumei meu prato e o de Claire, e depois peguei Evan para que Shawn fizesse o mesmo. Tentei passá-lo para o carrinho, mas foi mais do que óbvio que os lábios do meu filho se transformaram num beicinho que logo começou a tremer, então me sentei e comecei a comer enquanto ele brincava com o meu cabelo.

Após alguns minutos, Claire melecou a ponta do garfo no purê e assoprou até demais antes de passá-lo na boca de Evan. Todos na mesa assistiram curiosos enquanto ele fazia uma careta rápida e estremecia, mas logo ria com a boca melecada.

— Isso se chama batata. — disse ela, pegando um guardanapo e limpando a boca dele. — E é a melhor coisa que você vai comer na vida!

Os risos correram a mesa e Evan agitou os braços.

— Tata.

Todo mundo ficou em silêncio, encarando o bebê no meu colo.

— Puta que pariu! — Shawn praguejou.

— Shawn! — Karen sibilou da ponta, olhando feio para o primogênito.

— Eu não to acreditando que “batata” é a primeira palavra dele! — olhei para o cara ao meu lado e tive que rir ao ver a sua cara de tristeza. — Sério, cara?

— Tecnicamente não foi “batata”. — Claire riu, colocando uma garfada do purê na boca. — Foi “tata”.

— Isso é culpa sua. — ele apontou para a filha com o garfo.

— Pelo menos não foi “papai”. — brinquei, arrumando Evan na minha perna de modo que ele ficasse sentado com as costas apoiadas no meu tronco e o meu braço esquerdo ao seu redor.

Shawn me fuzilou, mas tudo o que conseguir fazer foi piscar inocentemente enquanto ouvia os risos pela mesa.

Voltamos a comer sem interrupções após o ocorrido, apenas parando quando alguém iniciava uma nova discussão sobre algum assunto banal. Claire foi a primeira a terminar, estendendo os braços para Evan, que não demorou a se impulsionar para ir para o colo da irmã. A loirinha sorriu para ele e então ergueu o olhar para o pai, arqueando a sobrancelha na direção dele. Shawn riu.

— O que foi? — perguntei, me sentindo um tanto excluída, mesmo que estivesse no meio de ambos.

O maldito sorriso Mendes estampou a cara do meu namorado e meu estômago revirou só com a ideia do que ele poderia aprontar naquele instante. Era um almoço de família, então me peguei rezando para que não fosse nada grave! Olhei ao redor, mas Karen era a única a olhar para nós com curiosidade. O que ela e Claire sabiam que eu não? Dependendo do que fosse, Shawn Mendes iria dormir no sofá!

— Ei. — disse ele, batendo o garfo na garrafa de cerveja. Tive que reprimir o riso. — Preciso de um minuto de atenção.

Tive certeza de que iria vomitar. Puta que pariu, ele não ia fazer o que eu estava pensando!

A mesa inteira se silenciou e eu engoli em seco, tentando reprimir a náusea causada pelo nervosismo. Olhei para Claire rapidamente, mas ela só conseguia soltar risinhos enquanto segurava Evan firme. Tentei procurar uma pista em Karen, Manuel, até Aaliyah, mas tirando a primeira, todos permaneciam atentos enquanto observavam Shawn. Já a minha sogra, mantinha um sorrisinho divertido enquanto me encarava.

— Preciso que você venha aqui. — olhei para o meu namorado, vendo ele me estender a mão.

Ok, eu não podia desmaiar ali, então obriguei as borboletas a voltarem para o estômago e segurei firme a mão dele, me pondo de pé logo após. Sorri, já sentindo as lágrimas surgirem enquanto ele levava a mão ao bolso.

— Eu poderia dizer o quanto você é importante, ou o quanto eu te amo, mas diante de tudo o que aconteceu nesses ultimos tempos, acho que isso já está mais do que claro. — assenti rapidamente com a cabeça, sentindo meu corpo tremer de ponta a ponta enquanto ele revelava a maldita caixinha. — Já passamos por tanta coisa juntos, coisas ruins na grande maioria. Acho que está na hora de começar a era das coisas boas. — as mãos de Shawn envolveram as minhas e ouvi um soluço conhecido atrás de mim. Porra, mãe, não aperta o gatilho para que eu chore também!

Precisei me conter quando ele ajoelhou a minha frente, e mal consegui desviar o olhar daqueles olhos castanhos. Mordi o lábio, mesmo que minha visão já estivesse começando a ficar embaçada.

— Casa comigo, Catherine?