História Burn (Jariana) - Change

Meu coração acelera, minhas mãos começam a tremer e sinto que posso começar a chorar em poucos segundos. Eu não consigo me mover.

A sua voz... Oh, eu achei que nunca mais iria escuta-la. Ela está mais rouca e mais grossa do que antes . Como será que ele está? Deve ter mudado... Todos estão olhando para ele. Viro-me lentamente com a cabeça baixa. Sinto que posso desmaiar, mas não antes de ver o meu Justin.

Posso ver tênis brancos e logo depois jeans rasgados exibindo sua pele ligeiramente bronzeada, mais para cima uma blusa branca transparente. Mas nada é mais chocante que as diversas tatuagens que à em seus braços, peito e barriga. Ele tem tatuagens, muitas tatuagens... sinceramente eu nunca gostei, mas ficou tão bom nele. Mais para cima vejo seu maxilar esguio travado e seus lábios vermelhos e perfeitamente bem desenhados, tem uma argola preta no canto de seus lábios.

Oh.

Suas narinas estão dilatadas, isto me faz engolir a seco. Chego finalmente em seus olhos. Os olhos de um tom de castanho mais lindo e único, os únicos olhos eu já amei e ainda amo. Justin parece querer me queimar com seu olhar. Seus olhos estão semi-serrados em minha direção, não sei se isto é bom. Ele está tão diferente, ele está um adulto.

Só percebo que estou chorando quando uma lágrima cai em minha mão.

  — O que estão olhando, caralho? Parece que viram a porra de um fantasma. — Ele diz desviando o olhar de mim.

Justin passa a língua nos lábios, deixando-os assim brilhantes pela saliva. Oh Deus.

  — Caramba... Justin, você mudou tanto. — Mary, comenta.

Ele apenas sorri, mas não é um sorriso simpático. Oh seu sorriso, o mais lindo visto por mim. Seus dentes são perfeitamente alinhados e brancos como leite.

  — O que essas pessoas fazem na minha casa, Zayn? Realmente não entendo. Lembro-me de lhe dizer que, ninguém entra aqui sem meu consentimento. — sua voz está um pouco elevada. Ele parece bravo, irritado e nervoso.

Pessoas? Justin não lembra-se de mim?. Prefiro pensar na possibilidade dele apenas não estar me reconhecendo.

  — S-sou eu Ju-justin, a s-sua Angel. — minha voz falha. Estou muito nervosa.

Antes que eu posso continuar, ou talvez tentar abraçá-lo, ele começa a gargalha. Gargalha exageradamente, como se tivesse escutado a melhor piada do mundo.

  — Minha? Espera, foi isso mesmo que eu escutei, você disse que é minha?. — pergunta, sarcástico depois de quase um minuto gargalhando.

Ele limpa o canto de seus olhos. Sua sobrancelha perfeitamente preenchida esta arqueada em minha direção.

  — E-eu se-sempre fui. - digo, minha voz sai fraca, como um sussurro.

Justin fecha os olhos por uns segundos, enquanto parece pensar. Depois de quase um minuto ele abre os olhos, olhando diretamente para mim. Mordo o meu lábio inferior com força, acho que nunca estive tão nervosa.

  — Siga-me. — diz simples e vira-se começando a andar.

Fico confusa, olho para trás e Ryan faz um sinal dizendo-me para segui-lo. Sussurro um "Com licença" e me levanto apressada, tenho que correr atrás dele para alcançá-lo. Fica difícil já que estou tremendo e sinto que posso vomitar o pouco que comi.

Ele está mais alto, eu bato em seu peito. Me sinto uma criança indefesa perto dele. Estou tão feliz por finalmente vê-lo. Ele só deve estar confuso, é normal eu devo ter mudado um pouco. Isto é surreal.

Justin para em frente à uma porta marrom escura de madeira. A porta é aberta por ele, que me deixa passar primeiro. Apenas sussurro um "obrigada" e entro. A sala é bem grande, tem uma mesa no final da mesma e logo atrás uma grande janela de vidro. A sala toda é composta por cores escuras. A casa toda parece ser muito elegante.

Fico imóvel em frente a porta, enquanto Justin anda com uma confiança invejável até sua mesa, ficando em pé na frente da mesma. Aproximo-me um pouco cautelosa. Ele me encara por quase um minuto, enquanto isso não consigo olhar em seus olhos. Seu queixo esguio está apoiado em suas mãos, que são recheada de anéis, enquanto seu outro braço sustenta o cotovelo.

Estou com vergonha, admito. Sou tímida até mesmo com Mary. Minhas mãos continuam tremendo e minhas pernas parecem gelatina. Não pensei que ficaria tão nervosa.

  — E-eu posso m-me sentar?. — pergunto, gaguejando. Minha voz é fraca, eu sou fraca.

Ele apenas da de ombros, como se dissesse tanto faz.

Agora eu estou ainda mais baixa que ele, meus pés não tocam o chão quando sento-me na cadeira. Eu odeio ser pequena. Inspiro e expiro, no processo de tentar me acalmar.

  — O que veio fazer aqui, e como sabe onde moro?. — ele pergunta, encarando-me sem piedade. Seus olhos me fitam com frieza, o que faz a minha pele arrepiar-se.

  — B-bem, na verdade eu não estava morando aqui em Las Vegas, eu estava em-. — sou interrompida.

  — Não pedi um relatório de seus últimos anos. Eu perguntei o que veio fazer aqui e como sabe onde moro. — sua voz está cheia de deboche.

Meu coração se aperta. Mas eu o entendo. Mesmo não sabendo o motivo de estar me tratando dessa forma.

  — M-me desculpe, e-eu estou m-meio-. — sou interrompida, novamente.

  — Pare de gaguejar. Isso é irritante pra caralho. — diz, ficando agora de costas para mim.

  — M-me desculpe. — sussurro, ainda gaguejando.

Esse não é o Justin doce que eu conhecia, o que aconteceu com ele?. Eu nem consigo reconhecê-lo, o Justin bonzinho jamais me trataria dessa forma.

  — Era só isso que queria?. — pergunta, ainda de costas.

  — Não, e-eu queria conversar com você, Justin. Sobre-. — sou interrompida, novamente.

  — Justin é só para os mais íntimos, para você é Sr. Bieber.

O que? Não entendo o porque dele estar me tratando assim. Ele nunca foi grosso comigo, quer dizer ele mudou, mas por que está me tratando assim?. Meus olhos se enchem de lágrimas, mas eu forço-me a não chorar.

  — Mas na verdade eu preciso lhe agradecer... Se não fosse por você, se você não tivesse me comprado, eu não iria fugir e não teria conseguido tudo isto. Então, obrigado Angie. — diz, com uma certa alegria na voz. Posso jurar que ele está sendo irônico.

  — Mas e-eu não entendo, por que me largou?. — pergunto.

Não tenho certeza se quero mesmo saber a resposta, mas eu vim aqui para isso.

  — Por que eu te larguei? Porra, você é mais sínica do que eu pensava. — Justin vira-se novamente, agora voltando a olhar em meus olhos.

  — Como assim sínica? E-eu... Eu sempre achei que te tratava tão bem, eu fazia o meu melhor p-por.. por você. Eu até superei a minha timidez para fazer coisas... Coisas que nós dois queríamos. — eu não estou entendendo mais nada.

Eu sempre tratei ele tão bem, não sei porque está agindo dessa forma comigo. Uma risada repentina me tire de meus pensamentos. Ele está realmente rindo da minha cara?.

  — Aquelas coisas? Ah, você quer dizer aqueles estupros. Porque convenhamos, você abusava de mim. Sabia que eu posso te processar? Mas eu não irei fazer isto. Sabe por que? Porque eu sou uma pessoa boa. Só Deus sabe como eu sofria naquela casa que você me aprisionou e, principalmente, abusou de mim e de minha ingenuidade. — sua voz transmite frieza e raiva.

Fecho meus olhos com força, não querendo acreditar em suas palavras.

  — POR QUE ESTÁ ME TRATANDO ASSIM?!. — grito, sim eu grito.

Mas logo depois me arrependo. Seus rosto muda de expressão e fico com medo do que ele pode fazer comigo.

  — QUEM VOCÊ PENSA QUE É PARA GRITAR COMIGO? VOCÊ É SÓ MAIS UMA VADIA. — cuspi as palavras para fora.

Eu não aguento. Não consigo segurar as minhas lágrimas. Tento me acalmar, mas parece só piorar e acabo soluçando.

  — Agora saia de meu escritório,

detesto pessoas choronas. Você é mais fraca do que eu pensava. — diz, sorrindo no final, suas ruguinhas que eu tanto amo aparecem.

  — S-sinto muito te incomodar. Mesmo não sabendo o motivo de estar me tratando assim, e-eu te peço desculpas por qualquer coisa. Sinto muito se você se sentiu abusado, não era minha intenção, eu achei que nós dois queiramos aquilo. Agora vejo que estava errada. — levanto-me da cadeira e assim que fico em pé me seguro na mesa para não cair.

Olho para ele uma última vez, seu belo rosto não demonstra absolutamente nada, nenhum sentimento.

  — Você é uma ótima mentirosa, sabia disso?. — diz.

Paro de andar instantaneamente e viro-me em sua direção.

  — C-como?. — acho que não escutei o que ele disse.

  — Não quero repetir, apenas continue seu percurso. Você já está me dando dor de cabeça. — diz, massageando suas têmporas.

  — Oh... a-adeus Justin. — tento abrir a porta, mas a porta é realmente muito pesada. Ou eu sou muito fraca.

Mas que merda eu quero sair logo daqui. Puxo novamente a maçaneta, com força. Minhas mãos escapam da maçaneta. Quando estou prestes a cair no chão sinto suas mão grandes e fortes segurarem meus braços. Minhas costas estão apoiadas em seu abdômen. Meu coração se acelera e minha respiração fica irregular. Sinto sua respiração pouco ofegante em minha cabeça.

  — Caralho, como você pode ser tão desastrada? Saia logo da minha casa, antes que quebre alguma coisa. — diz e logo depois me solta bruscamente, fazendo com que eu quase caia.

Não consigo me defender, eu sou tão idiota. Me iludi tanto achando que ele poderia... que nós ficaríamos juntos. Tenho certeza que eu devo estar horrível, mas não estou ligando para minha aparência, pois tenho certeza de que estou muito pior por dentro. Suas palavras eram tão frias, ele parecia querer me machucar. Ele conseguiu.

Mary e Charlie conversam sobre coisas aleatórias com Zayn e Ryan. Não queria atrapalhar a conversa, eles parecem se divertirem. Um soluço escapa de meus lábios, acabo chamando a atenção de todos. Hoje não é meu dia.

  — Oh meu Deus, Angel! O que aconteceu? Você está bem?. — Mary se levanta e vem até mim, me abraçando com força.

  — E-eu... e-ele. Quero ir p-para c-casa. — digo, fechando os olhos com força.

  — Tudo bem, vamos ir embora. — me separo de Mary.

  — Me perdoe. Justin é um idiota. Eu não sei o que ele disse pra você, mas eu jamais faria algo para te machucar. — Zayn diz.

Ele me olha com carinho, um olhar carinhoso é reconfortante.

  — T-tudo bem, e o-obrigada. — não consigo falar muito.

Zayn sorri e limpa uma lágrima que escorre de meus olhos, logo depois acaricia minha bochecha. Seu toque parece ser tão delicado.

  — Eu gostaria muito de poder vê-la novamente, mas só se você quiser, é claro. — apenas assinto.

  — C-claro, você po-pode me acompanhar até a p-porta?. — pergunto, limpando meus olhos.

Zayn assente sorrindo.

Ryan apenas sorri de lado para mim, como se dissesse que senti muito. Fico um pouco constrangida quando Zayn coloca seu braço em meu ombro, me abraçando de lado. Mas no estado em que estou é bom ter alguém me reconfortando. Passamos pelo seguranças que nem ao menos olham para mim, acho que eles tem medo de Zayn.

  — Então, por que não me passa o seu número?. — olho para Mary como se pedisse para fazer isto por mim — Eu irei te ligar em breve, eu gostei muito de te conhecer, muito mesmo. — sorrio minimamente.

Não quero ser grosseira, mas este não é o meu melhor momento.

Nem ao menos olho para esses seguranças mau educados e entro no carro. O caminho todo é feito em silêncio, bem pelo menos eu espero que meus soluços não sejam tão altos.

Me iludi tanto. Como pude ser tão idiota em achar que ele iria dizer o quanto sentiu minha falta e como gosta de mim, enquanto me abraça forte contra seu corpo. Mas também nunca imaginei que ele seria tão grosso, estupido, frio, sínico e arrogante comigo. Por que ele tem tanta raiva de mim?. Ele disse que eu abusei dele. Acho que isso sem dúvida foi o que mais doeu. Ele não gostava daquelas coisas, ele fingia, ele se sentia obrigado a fazer aquilo. Será que é por isso que ele fugiu, ele estava cansado de fingir que gostava de mim?.

Oh não, não posso pensar em nossas relações. Nunca mais irei poder beijar aqueles lábios, que agora estão com uma argola preta. Nunca mais irei poder sentir sua pele quente e macia contra a minha. E nunca mais irei poder ao menos abraçá-lo. Se eu morresse neste momento eu não me importaria. Ele me chamou de vadia... talvez eu seja mesmo uma. Espera, o que?!. Deus, eu só quero esquecê-lo.

Bom, agora eu irei passar o resto de minha vida em casa.