História Burning (Descontinuada) - Senhoras e senhores, apresento-lhe O Bolo

Eu acho que sou idiota.

- Gosta do que vê, coração?

Eu tenho certeza que sou idiota. Uma idiota excitada. 

Por que estou assim? Pergunto a mim mesma. Não é o primeiro homem que eu vejo sem camisa, pelo amor de Deus. Mas eu acho que sempre vou me impressionar com um Coringa sem camisa. É uma visão quente como o inferno.

E eu gosto tanto disso que, às vezes, tenho que me lembrar do que acontece quando me envolvo demais com as pessoas.

Mesmo assim, meus olhos continuam presos na pele pálida marcada com tinta que espreita pelo roupão aberto.

- Coração? - despertando do transe, percebo o que ele me perguntou. Inconscientemente, abano a cabeça em negação. Ele não gosta da resposta.

Num segundo, ele já está com meu rosto entre suas mãos quentes e cruéis.

- Há duas coisas que precisa saber sobre mim - diz bem próximo a mim, tanto que posso sentir seu hálito na minha face - Primeira: quando eu fizer uma pergunta, espero que me responda com palavras, não gestos. Segunda: eu não gosto quando mente pra mim. Estamos entendidos?

Suas mãos machucando minhas bochechas libera uma série de flashbacks. Sinto me num cinema assistindo a um filme de terror. Sinto a bile subindo, apenas pelo fato de que esse filme de terro é sobre a minha vida. Quando estamos quase no clímax, sinto o aperto em meu rosto relaxar e um polegar gentil passar pela minha pele.

É o toque das asas de uma borboleta, mas é tão estranho, tão doce, que faz com que eu volte para a realidade.

Com um suspiro sinto sua boca engolindo a minha. Ele é voraz, rastejando pelos cantos dos meus lábios e se infiltrando no meu sangue.

Com um suspiro, nos separamos, e ele passa o polegar pelo próprio lábio inferior, sorrindo de um jeito doentiamente feliz.

Com um suspiro, percebo que ele afasta meus pesadelos.

- Então, esse bolo sai hoje ou não? - questiona andando na minha frente, para onde eu suponho que seja a cozinha. O sigo, já que é minha única escolha.

Observo o local. Teto baixo, paredes vermelhas, objetos e armas estranhas espalhados pelos cantos. Parece o quarto de um adolescente desleixado.

A cozinha é sóbria e parece nunca ter sido usada. Olhando para o corpo do Palhaço, me questiono com que frequência ele se alimenta. Uma pontada de preocupação cutuca meu peito e sinto vontade de me castigar por isso.

Mas então eu me lembro de como ele consegue afastar os pensamentos ruins da minha cabeça. E decido que posso retribuir de alguma forma.

De qualquer forma, na verdade.

Ele se senta num banquinho próximo a mesa e me assiste enquanto procuro pelos ingredientes no armário. Com sorte, tenho tudo que é necessário.

Começo a preparar o bolo enquanto sinto raios azuis perfurando minhas costas. Ele segue cada movimento meu, o que torna difícil o ato de relaxar. Porém, não por muito tempo. Em algum momento, eu virei apenas uma garota cozinhando para um cara. Essa aura de normalidade me desconcerta. Quase desejo que ele faça algo insano.

Depois de quase duas horas, finalmente eu termino esse bolo. É um bolo de camadas, cada uma cuidadosamente recheada com ganache de chocolate. Para enfeitar, eu coloquei pequenos morangos que achei na geladeira.

Sirvo um pedaço ao Coringa. Sua mão tatuada segura o prato e ele começa a comer lentamente, saboreando. Não me olha em momento algum, totalmente concentrado no doce.

Sorrio, pois parece estar bom.

O relógio corre enquanto o Palhaço desfruta da sobremesa e eu apenas o observo. Quando ele se dá por satisifeito, isso meio bolo depois, ele me olha. Pega um morango e lentamente envolve a fruta com os dentes. O sonho que tive poucas horas atrás retorna com tudo. Sinto-me corar, mas  não sei se é exatamente de vergonha.

Seus olhos azuis continuam fixo nos meus enquanto termina o fruto e depois quando suga os dedos lentamente cada um. E então ele pergunta:

- Ei, coração?

- Sim?

- Quando vai me contar quem te estuprou?