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História But I Still Want You - TAEGI - Segundo


Escrita por: JhamilleBelmino

Capítulo 3 - Segundo


Fanfic / Fanfiction But I Still Want You - TAEGI - Segundo

- Não, estou no táxi indo para lá... Talvez isso não tenha sido uma ideia merda pra caralho, porque eu sinto que vou morrer do coração a qualquer momento. – Yoongi falou ao telefone enquanto olhava a paisagem de Daegu em direção a casa dos pais. Tudo parecia quase da mesma forma, sem muito para olhar ou apreciar, apenas a boa e velha Daegu de sempre. – Mas também sei que não posso voltar. Minha irmã está contando com isso e vai fuder o meu rabo se eu disser que desisti de ir.

- Você sabe, independe de qualquer coisa, se você não está se sentindo confortável em um lugar ou em uma situação, por favor, não se force a enfrentá-la só porque é sua família. Você vem fazendo um ótimo trabalho pensando em si mesmo nesses últimos anos, oppa, e por mais que eu não concorde com certas condutas suas como meio dessas tentativas, mesmo assim, ainda me orgulho dos seus passos. Não fique se não tiver vontade de ficar, sua irmã vai encontrar um jeito de entender. – Hobi, com seu tom sempre tão doce e gentil na voz, falou para o deleito do seu melhor amigo que amava aquela garota com todos o seu coração.

Yoongi tinha conquistado muitas coisas boas em Seuol, conseguiu se formar em uma faculdade e ingressar em uma carreira. Ganhou reconhecimento profissional e comprou um apartamento, um carro e assistiu shows de seus artistas preferidos no mundo todo. Fez viagens para dentro e fora do país e viveu uma vida em um bom status desde que chegou em na capital do país. Porém, nenhuma dessas coisas, tinha se comparado a conhecer a Hobi. Nadinha mesmo.

Ela era uma digital influencie que vinha ganhando espaço nas plataformas com o seu engajamento em falar abertamente sobre a transexualidade e seu processo de transição de gênero, por que sim, ela tinha nascido ele, Jung Hoseok, e, assim como acontece com – basicamente – 100% dos transexuais, ela passou por muitas questões, muita dor física e psicológica e todo um processo de autoaceitação que a fez ter base o suficiente para ajudar outras pessoas com as mesmas questões. Hoje ela era a representatividade que o jovem trans coreano – e não coreano também – tem, coisa que não existia, por exemplo, quando ela começou a transição.

Era uma mulher de uma força sobrenatural e uma personalizada incrível, e por isso Yoongi abria mesmo a boca para dizer que ela tinha sido a melhor coisa que Seoul tinha lhe dado, o que fazia com que a cidade que ele aprendeu a amar com o tempo, se tornasse ainda mais especial.

Agora, em um táxi com destino a casa dos seus pais depois de sete anos sem saber o que era voltar para sua cidade, tudo que Min Yoongi podia desejar era alguma palavra de conforto vinda da melhor amiga. Hobi sabia tudo que havia acontecido anos antes e por mais que não concordasse plenamente com a forma como Yoongi agiu – porque ela sabia os fatos por completo – e também se sentisse triste por tudo que o amigo precisou passar, ainda assim ela ficava do seu lado. Ela tinha sido a primeira pessoa que se aproximou dele sabendo que não era perfeito, e acima de tudo, aceitando que era um ser humano cheio de falhas e defeitos. Hobi o aceitava e o amava com seu tudo, ela nunca esperou que ele não errasse e isso era algo muito significativo na amizade dos dois, porque Yoongi tinha vivido quase sua vida inteira rodeado de pessoas que não compreendia suas falhas e ele estava cansado nisso. Era terrivelmente humano e por mais evoluído que fosse, por mais espiritualizado e moderno, por melhor que ele tentasse dia após dia, ainda era passível a erros e o Min errava para uma porra. Isso o ajudava a evoluir, usava seus próprios erros como parâmetro para uma autoavaliação tendo como foco melhorar como pessoas. Mas a vida era assim mesmo, errava em um dia, aprendia no outro e no seguinte já estava comentando um erro novo. Nada de novo sob o sol.

Hobi compreendia isso, e não havia nada mais gratificante para Yoongi do que ter uma pessoa como ela do seu lado.

- Não vou, mas... – suspirou quando viu o táxi entrando em seu distrito, o coração batendo alto contra o peito lhe causando certa dor no processo. Não queria admitir, mas estava nervoso e aflito de como tudo seria. Seus pais sabiam da sua chegada, mas mesmo assim ele não sabia o que podia acontecer ao chegar lá. Estava muito diferente de quando partiu. Quando foi embora Yoongi era um moleque magricela e sem grandes perspectivas, agora, ele era um homem mudado físico e mentalmente e não sabia se isso agradaria seus pais. – Acho que foi a decisão certa a ser tomada, eu precisava encerar isso, Hobi-ah, quero fechar esse ciclo na minha vida, me dar outra chance e sinto que não vou conseguir isso enquanto não resolver essa porra toda.

- Pretende falar com ele?

- Isso que é o foda, talvez ele não queira falar comigo. – riu um pouco sem humor algum. Yoongi queria entender porque ainda era tão difícil falar sobre tal coisa. Havia se passado anos e ele ainda travava só em tentar falar sobre o ex-namorado. – Eu não sei como as coisas estão, não sei se ele reconstruiu sua vida ou se tem algum sentimento bom por mim. Eu definitivamente não sei o que me espera.

- Bem, siga seu coração, hum? Se você deseja resolver isso, resolva, não deixe coisas subentendidas, não deixe a oportunidade passar. Esse é o único conselho que posso te dar, siga seu coração.

- Eu irei. – balançou a cabeça em confirmação mesmo que a amiga não pudesse ver. Apesar de um bom conselho, Yoongi não sabia como poderia segui-lo porque uma parte do seu coração dizia para ele ir atrás, tentar dar a explicação que não conseguiu sete anos antes, tentar conversar e se acertarem. Era um idiota, mas não podia fazer nada se sentia tanta coisa ainda por aquele cara por mais que detestasse admitir. Não era nenhum santo e ele não queria ficar se fazer de um, errou também da mesma forma que erraram consigo, porém, ainda se houvesse chances, uma parte do seu coração o fazia querer insistir nisso, pelo menos tentar. Em compensação, o outro lado estava ferido, machucado, magoado e cheio de orgulho e não queria sequer olhar para o passado. Eram sentimentos conflitantes. – Mas me diz, eu esqueci de perguntar antes, esquecido pra caralho, o Jimin-ah melhorou?

- Graças a Buda, sim! – ela disse em um suspiro, tinha ficado tão preocupada com o menino, se culpando mesmo que não houvesse motivos para tal. A verdade era que Jimin havia torcido o tornozelo enquanto andava de skate e por está com a Hobi ela se sentia responsável pelo menino, e acima de tudo, culpada, mesmo que Jeon Jungkook, o pai dele e seu namorado, e o próprio Jeon Jimin, tenha garantido a mulher que não havia pelo que se preocupar. Tinha sido uma torção dolorida, mas ele ficaria bem. – Eu fiquei tão assustada, oppa, quase que eu infarto quando vi o meu Jiminie machucado. E ele todo homenzinho dizendo que estava tudo bem, tentando me fazer parar de chorar enquanto eu fiquei desesperada.

- O médico passou alguma coisa?

- Remédio e compressa, ele não pode usar peso no pé machucado e vai ficar de molho umas duas semanas. – mais uma vez ela suspirou, era cedo de manhã ok e aquele era sempre o horário que ela costumava tirar para gravar seus vídeos, muitas vezes batendo um papo sincero sobre algo que surgiu enquanto se maquiava. Ela nunca mostrava além do permitido, raramente seu namorado apareceu nas imagens e o Jimin menos ainda por ser uma criança, Yoongi também não e só sua mãe vez ou outra porque as duas gravavam vídeos juntas e sua irmã também. Aquilo era uma trabalho que ela levava com muito empenho e raramente havia conteúdos desviando do seu foco principal. – Ele até que gostou por não ter que ir para a escola, os colegas andam fazendo algumas chacotas com ele pelos motivos de sempre e o Jungkook esteve na escola esses dias pra dar uma chamada na direção.

- Ainda sobre a merda da mãe biológica dele?

- Sim, ainda sobre isso. – a mãe biológica de Jimin o abandonou no mesmo dia que ele nasceu, não quis o filho e deixou sob os cuidados do pai, um jovem de 17 anos na época que não sabia de porra alguma. Ela raramente dava notícias e Jimin não tinha qualquer laço com ela. As pessoas pegavam no pé dele por não ter uma mãe presente e o meninos acabava sofrendo ainda mais por ter um pai tatuador e uma madrasta trans. O pequeno Jeon estava rodeado de representatividade em sua vida, sendo criado por pessoas maravilhosas, mas até mesmo os melhores tinha que lidar com a ignorância alheia e com Jeon Jimin não era diferente – Os garotos da sala dele são cruéis e você sabe, para um menino de 14 anos algumas questões começam a pesar bastante e essa é uma delas. Ainda mais que não temos uma família tradicional e lá vai uma enxurrada de mais novos insultos. Eu só queria que as pessoas o deixassem em paz, Jimin é uma criança incrível e não merece essas atitudes de merda.

- Esses putos do caralho, vou te falar, fico imaginando quão bosta são os pais dessas desgraças que não dão uma educação descente as pestes que eles colocam no mundo. – Yoongi não tinha papas na língua ainda mais quando se tratava em defender alguém da sua família e Jimin, Jungkook e a Hobi eram sua família, na verdade, os três tinham o aceito muito bem na família que construíram - E o que o JK-hyung conseguiu na escola?

- A coordenação ficou de falar com os garotos, mas não sei se vai resolver muita coisa. – revirou os olhos – Esse povinho não faz nada. Mas o Jungkook já deixou bem claro lá, se isso continuar vai tirá-lo da escola e não quer nem saber. Ele está pagando pra o Jimin aprender e não pra ser alvo de criança encapetada.

- Fico surpreso em como você consegue ser dócil com crianças. – riu tentando fazer graça quando viu que ela estava de fato ficando nervosa com o assunto. – Ótima mãe você é.

- A única criança que gosto é o Jiminie porque ele é um amorzinho, tirando ele, não vou negar, crianças me dão um pouco de estresse. – sua voz ganhou um pouco mais de suavidade e seu melhor amigo entendia bem o porquê.

A história de Jungkook e da Hobi era a típica história de cinema porque ela ainda tinha apenas 16 anos quando conheceu Jeon, ainda vivia aprisionada em um corpo que não lhe pertencia e atendia por Hoseok, e ele, era um pai solteiro de 22 anos com um filho de quase 5 tentando vencer na vida para dar uma estabilidade a si e ao Jimin. Houve sim uma atração, Hobi se apaixonou na primeira vez que se viram, mas Jeon nunca deu abertura alguma para ela se aproximar já que era tão nova e mantiveram uma amizade segura e distante. Ela foi morar longe com a mãe e a irmã depois que contou quem era a família e seu pai caiu fora e os dois trocavam mensagens esporádicas ocasionalmente pelo Facebook até ela voltar para Seoul já maior de idade e eles simplesmente se entregarem aquela paixão que floresceu antes.

Era coisa de alma, um amor que fugia de qualquer paradigma, Jungkook já tinha se tornado um tatuador cheio de desenhos pela pele, piercing pelo rosto e ganho um corpo turbinado, um filho de agora oito anos e uma vida tranquila. Ela, era doce, gentil, delicada e os dois apenas se encontraram. Hobi se apaixonou por Jimin que se apaixonou por ela duas vezes mais – o que foi crucial porque Jimin sempre foi o centro do universo do seu pai – e agora, cinco anos de relacionamento depois, eles moravam todos juntos sendo aquela família nada tradicional, porém cheia de amor. Jungkook era o melhor pai que Jeon Jimin poderia desejar em toda a sua vida, e a Hobi a melhor amiga, conselheira e o mais perto de uma mãe que conseguia se lembrar ter. Ele amava sua família e era amado na mesma intensidade, então ter aquele tipo de discurso vindo dela para com o menino, não era novidade para ninguém.

- Jimin é um menino forte pra cacete, Hobi-ah, e ele tem você e o JK-hyung pra dar suporte, ele vai crescer bem.

- É o que eu mais desejo... Você já chegou?

- Na verdade, se eu não desaprendi o caminho, estou a três quarteirões da casa dos meus pais.

- Vou desligar, então, te dar um espaço pra pensar. Eu vou estar em Chilgok na sexta-feira para um evento, se as coisas não estiverem legais, me liga e eu passo passar pra ir com você para Seoul.

- Obrigado, amiga, você é a melhor.

- Eu sei. – Yoongi riu quando houve um barulho alto de estralou como se ela estivesse mandando beijos pelo telefone. Só ela mesmo para tornar tudo menos ruim uma hora como aquela. O motorista do carro entrou em uma esquina e ele percebeu que estava mais perto ainda do seu destino. – Se cuida e me liga qualquer coisa, estou aqui por você.

- É recíproco. Tchau, Hope.

- Tchau, Gi-oppa. – e desligou mandando mais uma sequência de beijos virtualmente. Adorável.

Soltando um suspiro longo e alto, ele guardou o celular no bolso da sua calça e arrumou o camisa em seu corpo. Voltar para aquela cidade trazia um gosto amargo ao seu paladar por mais válido que aquilo fosse. Talvez se sentisse um tanto arrependido de ter dado tantas esperanças a Chungha de que iria ao seu casamento e assim não conseguir se livrar disso. A garota lhe questionava todos os dias se já havia falando com o chefe e não deixava-o esquecer disso por mais que não houvesse problema algum ele passar um tempo longe – 90% do seu trabalho dava para ser feito em casa, online – e isso não ser de fato um empecilho.

Ele só não queria ir, essa era a verdade, não estava nos seus planos voltar para Daegu por mais que sentisse saudades da família como um louco. Sentia falta, mas sabia que não iria morrer disso. Esteve longe em várias outras ocasiões, ficou fora nos natais e toda virada de ano, em seus aniversários e nos aniversários de casamento dos pais. Yoongi não foi para casa quando a vovó Min – mãe do seu pai – morreu e nem quando um irmão da sua mãe teve o mesmo destino. Não foi a formatura do irmão e nem da irmã, não comemorou nenhum aniversário e nem dias especiais. Esteve longe e por mais que doesse tal distância, Min sabia que era o meio mais seguro de manter a sua sanidade intacta.

Agora, depois de todo esse tempo, lá estava ele caindo quase de paraquedas naquela casa, naquela cidade outra vez, com medo de reviver seu passado porque sabia o quão inevitável era. Eufórico por coisas que não compreendia. Triste porque aquela cidade já tinha sido o seu lar e feliz porque sua família de sangue estaria ali.

Eram sentimentos conflitantes que vinham duelando avidamente em sua mente e coração desde o dia que inventou toda aquela história de ir ao casamento da irmã mais nova. Pesava sempre os prós e contras daquilo e mesmo que tivesse mais coisas negativas, ainda assim estava ali. Seu instinto o incentivou a ir, seu coração tinha ganho a batalha contra sua mente e ele estava ali sem a menor perspectivas do que estava o esperando.

Verificou os cabelos pela janela fechada do táxi e arrumou a camisa mais uma vez, olhou as horas no relógio de pulso e conferiu o hálito. O carro entrou em uma rua e segundos depois parou bem em frente a uma casa de dois andares pintar de amarelo. Tudo continuava do mesmo jeito que lembrava. A cor amarela com a porta branca, as cadeiras na varanda pintadas de preto e as roseiras da mãe no pequeno jardim da frente. Idêntico ao que era antes. Ainda dentro do carro ficou tentado em virar a cabeça e ver se a casa do outro lado também continuava a mesma, mas não virou. Respirou fundo mais uma vez contando até dez mentalmente antes de virar para o motorista, um cara jovem de mais ou menos 22-25 anos que tinha tentado conversar um pouco com ele no começo da corrida, mas que foi prontamente ignorado.

- Quando deu, por favor?

- ₩ 22238,60. – apontou para o contador marcando o preço cobrado.

- Certo. – Yoongi vasculhou sua carteira tirando uma quantia maior do que precisava pagar, oferecendo um sorriso forçado ao homem quando lhe entregou o dinheiro – Pode ficar com tudo.

- Obrigado. Vou te ajudar com as malas.

- Valeu.

O processo de tirar as malas do carro não foi demorado e dois minutos depois, Yoongi estava passando o portão da frente seguindo pelo caminho de pedras até a porta da frente. Ele não sabia como seus pais reagiriam a como ele estava no momento, sempre que a mãe ou o pai inventavam de falar consigo por vídeo chamada, Yoongi estava sempre com touca na cabeça e camisas de gola comprida deixando completamente tudo as escondidas. Seu rosto também estava livre de qualquer acessório e por mais estranho que eles pudesse achar, nunca comentaram nada sobre as vestimentas dele. O problema era que o Min tinha feito mudanças demais em si mesmo e seus pais eram do tipo tradicionais, e pensar na reação deles o deixava nervoso.

Parado diante a porta, ele tocou a campanha e esperou para ver se alguém vinha atendê-lo. Tinha dito o dia que viria, mas não comunicou a hora e ainda era muito cedo pela manhã para sua família está lhe esperando. Do lado de dentro houve apenas o silêncio e ele apertou duas vezes seguidas bem rápido, algo que ele fazia quando ainda morava ali e esquecia de levar as chaves ao sair. Dois rápidos toques seguidos. Quando ele ouviu alguém falando de dentro da casa, se sentiu ainda mais nervoso, a cabeça baixa enquanto olhava para os coturnos em seus pés, o coração batendo fraquinho. Seu rosto se erguendo no mesmo instante que o ouviu o trinco da porta e ela sendo aberta logo em seguida.

- Eu posso... O meu Deus! – a voz de Chungha soou estridente e um pouco assustada assim que deu de cara com o irmão. Ela estava vestida para ir trabalhar quando ouviu a campainha tocar e não pensou duas vezes antes de ir ver quem era. Mas, diferente do que achou, era seu irmãozinho ali e ela não pode deixar de ficar surpresa porque ela, diferente dos pais, não sabia quando ele viria já que Yoongi queria fazer uma surpresa. – Oppa!

- Ei, passarinho, eu... – antes que ele concluísse a frase, sua irmã já estava pendurada em seu pescoço, as pernas em volta da sua cintura e os braços em volta do seu ombro. Chungha sempre foi a mais afetiva dos três irmãos, ela sempre foi do tipo de demonstrar carinho abertamente e não ter vergonha de ser aberta sentimentalmente com ninguém. Aquele era o seu jeitinho e os dois irmãos, somado aos pais e o noivo, gostava dela do seu jeito único. Tê-la agindo genuinamente feliz com sua presença fez ele entender enfim porque estava ali, sua irmãzinha iria casar e ela era mais importante do que qualquer assunto mal resolvido do passado que ainda pudesse lhe assombrar. Chungha era mais importante do que qualquer outra coisa.

- Ai meu deus! Aí meu deus! Aí meu deus! Você veio mesmo! – ela gritou animada antes de começar a fungar e enfiar o rosto contra o pescoço do irmão. Suas emoções agindo rápido em deixá-la subitamente emocionada ao vê-lo ali, lhe abraçando de volta como tanto tinha imaginado acontecendo nos últimos sete anos. – Você veio, oppa, você veio.

- Não chora, passarinho, não chora.

- Eu amo você, irmão, amo você e estou feliz que tenha vindo. Porra, eu estou muito feliz!

Nesse instante, como se ouvisse toda a comoção na porta de casa, Min Yohan – o irmão mais velho – apareceu descendo as escadas e não deixou de abrir uma expressão de surpresas ao ver seus dongsaeng abraçados daquele jeito. Um sorriso se espalhando largo pelo seu rosto assim que seus olhos cruzaram com o do irmão.

- Você chegou. – caminhando a passos largos até os dois, Yohan deixou um beijo contra a testa de Yoongi e fez um afago nas costas de Chungha que tinha sido posta outra vez no chão e agora estava tentando enxugar o rosto molhado de lágrimas.

- Olá, hyung. – Yoongi o abraçou rapidamente dando algumas uns tapinhas nas costas do mais velho. Ambos sorrindo enquanto o Min do meio ainda tentava ajudar a mulher com suas lágrimas e a maquiagem borrada. – Se eu soubesse que você ia ficar nesse choro besta, eu nem teria vindo.

- Eu só estou feliz. – fungou um pouco mais sorrindo logo em seguida de maneira fofa. – Vamos entrar.

- Voce já tomou café? Ainda temos tempo antes de sair para o trabalho e podemos comer todos juntos. – Yahan agarrou a mala dele puxando para dentro de casa a medida que Chungha era responsável por puxa-lo junto de si. Os irmãos Min sempre foram bastante apegados, cada um com seu jeito e particularidade, mas sempre muito apegados e aquela era a primeira vez em anos que os três estavam juntos, era de se comemorar muito.

- Obrigado, hyung, não comi nada e para ser honesto, estou com uma fome do caralho, o avião só tinha água e uma porcaria de biscoito de aveia. Quem cacete gosta daquela merda?. – ele olhou ao seu redor e constatou que assim como a parte externa, as coisas dentro da casa pareciam também as mesmas de quando conseguia lembrar. A TV havia sido trocada e nem havia toda aquela parafernália de som pela estante, mas mesmo assim os porta retratos, quadros, sofás e até o tapete esticado perfeitamente contra o piso na sala era igual. A escada também e pelo pouco que conseguia ver só andar de cima, as coisas havia sido preservada com uma maestria impressionante – Cadê o papai e a mamãe?

- O papai saiu pra comprar algumas coisas tipo carne e aqueles chocolates que ele sabe que você gostar, ele anda bastante empolgado desde que dissemos que você vai voltar e ele tem arrumado tudo pra sua volta. Ele até organizou seu lado no quarto. – Chungha disse alegre, de todos os sete anos com Yoongi longe, sem sombra de dúvidas, Min Yoseob tinha sido o que mais sofreu de todos eles. Ele e o filho tinham um jeito só deles de se comunicarem e foi quase doloroso o modo abrupto que aquilo foi arrancado de si. – E a mamãe deve está...

- Por que vocês estavam gritando tanto que... O meu Deus! – a mulher estava de costa fazendo um pouco de ovos mexido e se virou mesmo na hora para pegar os pratos quando viu três pessoas paradas diante a porta olhando para si e seu primeiro instinto foi tomar um susto e se encolher.

Tinha ouvido os gritos e a correria, mas convivia demais com aquele pessoal para ainda continuar alarmada toda vez que eles eram barulhentos e esquisitos e então apenas deixou passar com a certeza de que qualquer que fosse o problema chegaria até ela quando fosse o momento certo. Olhou para cada um deles reconhecendo o Yohan e a Chungha, seu queixo quase indo ao chão quando olhou para o filho do meio

– Yoongi?

- Olá, mamãe, como você está?

- Oh meu deus! – ela deu um gritinho afetado antes de largar tudo que estava fazendo e correr até seu filho. Poxa, tinha sentido tanta saudades dele e mal podia se aguentar agora que estava ali. – O que você fez com você, garoto?!

- Surpresa!

Min Yoongi estava diferente. Seu braço direito estava coberto de tatuagens aleatórias que iam do seu ombro até a dobra dos dedos. Também havia algumas contra seu peito, costa e nas coxas. Suas olhas tinham piercing e outro preso em seu septo e sobrancelha. Os cabelos – que ele tinham deixado de lado os fios pretos naturais – agora estavam tingido de azuis caindo ao redor do seu rosto, a parte da frente ia até o seu nariz enquanto atrás era bem baixo dando a ele um chance atraente. Totalmente diferente do que ele tinha ido embora da cidade e sua mãe estava um pouco chocada com todas as mudanças.

- Isso são mesmo de verdades? – ela esfregou uma tatuagem no bíceps dele, soltando um som estranho quando o desenho se manteve intacto. – E esses piercing...

- Relaxa, mamãe, o Yoon não volta para casa faz sete anos, não vai assusta-lo e colocá-lo para correr ainda hoje. – Yohan falou bem humorado com aquele toque ácido de humor que só ele tinha. Sua mãe o olhou de lado antes de puxar Yoongi para um abraço apertado.

- Own, o Han tem razão. – segurando-o pelas bochechas, ela beijou o rosto dele inteiro enquanto Yoongi fazia careta fingindo não gostar. – Meu bebê está em casa.

- Porra...

- Olha a boca! – repreendeu abrindo um sorriso largo no rosto logo em seguida – Vem, eu quero todos os meus bebês em um abraço. Vem. Vem. Oh, fazia tanto tempo.

E eles ficarão ali abraçados, sob a asa da mãe por longos minutos. Os três não se incomodando de fato com o carinho da mulher porque nunca era ruim receber carinho de mãe. Quando o pai chegou, foi mais uma sessão de beijos e abraço. Os Min enfim juntos outra vez.

***

Yoongi foi colocado no seu antigo quarto que dividia com o irmão durante toda a sua infância, até Yohan sair de casa e logo depois ele ir embora também. Aquele espaço, por mais que passasse mais tempo desarrumado do que em ordem e cheirasse a chulé – porque, para desespero de Naeun, ela tinha dois filhos preguiçosos que amontoavam meias sujas e nunca levava para os cestos – trazia memórias afetivas muito boas para o Min. Ali ele chorou até encharca o travesseiro, riu até a barriga doer e teve as conversas mais profundas e os conselhos mais sinceros do irmãos. Ali era um lugar bom de todo o seu passado, entrar naquele quarto lhe dava um aconchego que Yoongi não estava preparado para sentir ao voltar para casa dos pais outra vez.

Muita coisa havia mudado, talvez a casa em si continuasse do mesmo jeito, mas os sentimentos abrigados naquelas paredes não era a mesma, a energia estava diferente e por mais que ainda amasse aquele lugar e amasse ainda mais as pessoas que viviam ali, doeu quando ele enfim chegou e pode constatar que de fato aquele não era mais seu lugar.

Daegu. Aquela casa. Nada ali parecia ter espaço suficiente para si e por mais que tivesse amadurecido a ideia durante os últimos sete anos, tudo era mais fácil na teoria, tudo era mais simples. Porém a prática, poxa, era tão desgastante e dolorosa que ele precisou reunir o pouquinho de coragem que levou consigo e seguir. Ao entrar naquele quarto foi como se tivesse enfim respirado pela primeira vez todo o ar dos seus pulmões desde que pisou os pés para fora do avião que lhe trouxe de Seoul.

Ele distribuiu as poucas roupas que levou pelo espaço deixado no armário. Guardou suas roupas íntimas na gaveta vaga e seus produtos de beleza na prateleira do armário. Tirou a calça apertada que estava optando por um short folgado e sandália nos pés, escondeu seus cigarros debaixo nas cuecas e tirou os acessórios que carregava no pescoço e no pulso ficando apenas com a “correntinha da amizade” que a Hobi tinha lhe dado no seu último aniversário. Era algo um colar relicário que ela mesmo havia desenhado para lhe presentear, com desenhos delicados na frente bordado com as letras “Y&H” representando os dois e quando abria era possível ver fotos de toda a sua família. De um lado uma pequena foto dos seus pais juntos dos seus irmãos e na outra ela, o Jungkook e o Jimin. Era um presente para lá de especial e Yoongi lembrava de ter chorado por quase uma hora seguida depois que ganhou aquilo, emocionado.

Estava sentando em sua antiga cama lutando contra o impulso de virar o rosto para o lado contrário e ver a casa da frente, se ela havia mudado alguma coisa ou continuava igual como a dos seus pais. Queria ver se ainda dava para ver a janela do quarto do filho dos Kim daquele ponto, se por um acaso ele estaria ali sendo coberto pelas cortinas como costumava sempre está.

Yoongi não tinha ido para Daegu tentando reviver um passado, mergulhado em lembranças bobas de quando era um adolescente errante e imaturo. Ele estava ali com um propósito e esse não tinha nada haver com coisas e pessoas de sete anos atrás. Todavia, ainda havia aquilo, sabe? Aquela força que ia além da sua vontade e compreensão que o atraía como um louco para aquilo. Min teve pesadelos na noite anterior aonde revivia aquela noite mais uma vez e doeu tanto quanto antes. Precisou levantar e acender um cigarro, olhar um pouco o céu poluído de Seoul até seu coração desacelerar. Ele se questionava se Taehyung tinha pesadelos, si tinha se arrependido de como as coisas aconteceram tanto quanto ele. Se o Kim pensava em si com a mesma frequência quanto ele ocupava seus pensamentos.

Vasculhando no fundo do seu coração, Yoongi sabia que ainda existia algo ali pelo ex, era tão claro quando uma manhã de verão no Brasil, tão límpido quanto as águas da praia Anse Source D’Argent, tão visível quanto fogos de artifício na virada do ano na Times Square. No entanto, ele tinha aprendido algo viral na sua vida adulta que por mais que você ame alguém e por mais que essa pessoa também te ame, e que vocês possam parecer perfeitos juntos, amar não era tudo e só amor não sustentava relação alguma. E por mais que doesse, muitas vezes era melhor ficar separados do que juntos sofrendo.

E a questão era exatamente aquela, por mais que ainda existissem sentimentos em seu coração e por mais que provavelmente eles durassem pelo resto da sua vida, ainda sim, o tempo havia passado e as chances todas perdidas. Agora era hora de seguir em frente e era isso que ele vinha tentando fazer. Não conseguiu ainda, entretendo, mas não estava pronto para parar de tentar.

Perdido em seus pensamentos, ele mal pode ouvir quando a porta do quarto abriu e seu pai apareceu ali carregando um sorriso maior do que Yoongi já tinha visto em toda sua vida. Ele parecia feliz e só de olha-lo, o Min mais novo se sentiu feliz também.

- Terminou de arrumar suas coisas?

- Hum, sim, coloquei tudo no lugar. – deu de ombros assistindo o homem escorado a porta e seguindo até se sentar a sua frente, mais especificamente na cama do Yohan. – O que?

- Eu só queria diz... Você sabe, você passou anos fora e eu queria que... Droga, eu sou péssimo com isso, mas é que...

- Eu também senti sua falta, pai. – Yoongi disse de modo suave ajudando o homem no processo porque se para ele era difícil expor seus sentimentos por mais bobos que pudessem parecer, para seu pai era bem mais complicado com toda certeza. – E é bom está de volta.

- Você cresceu muito, Yoongi-ah, mudou bastante.

- Aposto que não era essa a imagem que você estava esperando ver quando cheguei, não é? – ele passou a mão pelo braço tatuado como reflexo para logo depois colocar uma mecha do cabelo azul atrás da orelha.

- Não, não era, para falar a verdade. Você fez um ótimo trabalho em esconder tudo isso da gente, mas estranhamente combinou com você.

- Obrigado, pai, se quiser mudar o visual também eu te acompanho e dou a maior força.

- Quem sabe um dia, não é? – ele deu dois tapinhas no joelho do mais novo antes de se levantar, a coluna estralando a medida que ele se alongava.

- Está ficando velho.

- Nem me fale. – resmungou. Ao se aproximar ele deixou um beijo contra os cabelos tingidos do filho, se demorando um pouco sentido seu cheiro e sua presença depois de tanto tempo longe. – Obrigado por ter vindo.

- É bom está de volta.

Haviam muitas coisas nos olhos do seu pai, Yoongi percebeu, haviam muitas palavras para serem ditas por ele e de uma profundidade que nem mesmo o próprio Yoseob parecia saber lidar. Não era mentira quando se dizia que os dois se entendia apenas com um olhar, tinham o mesmo tipo de personalidade e não era difícil para um ler o outro. O Min mais novo podia imaginar o que se passava na cabeça do outro olhando para si daquele jeito tão nostálgico e triste, havia algo como saudade, arrependimento e alegria, sentimentos que não se misturaram, porém um completava o outro.

Yoongi entendeu mesmo que nenhuma palavra tenha sido dita, ele conseguiu interpreta aquele olhar mesmo depois de tantos anos longe e sem um contato direto. Aquele era seu pai, afinal de contas, e a relação deles sempre foi daquele jeito, alguns anos no meio do percurso jamais seria capaz de apagar isso.

- Está tudo bem, pai, já passou. – foi tudo que ele conseguiu dizer e isso pareceu ser o suficiente, por enquanto, para seu pai. O homem balançou a cabeça para cima e para baixo antes de coçar o queixo e enfiar as mãos dentro da calça. Seus ombros suavizaram e ele sorriu mais uma vez.

- Fico feliz em ouvir isso... Gayoung-ah e Dar-hu estão aí, querem te cumprimentar e te dar um abraço.

- Já estou indo.

- Venha... – ele parou na soleira da porta olhando para o filho pela última vez antes de acenar com a cabeça para o andar de baixo e sair do quarto de uma vez.

Yoongi sentiu um bolo em sua garganta e foi preciso um pouco de exercício de respiração até ele ter coragem suficiente em suas pernas e ir para fora do quarto se obrigando a continuar andando em direção as visitas. Aquela foi a parte pela qual não havia se preparado, havia pensado em tudo, era verdade, mas não no momento que seria preciso enfrentar pessoas além da sua família.

Não queria estabelecer amizade com ninguém, não queria refazer laços a muito desatados. Não queria ficar próximo de ninguém, principalmente dos Kim – por pior que isso soasse – e está tendo que lidar com tal situação era como caminhar em direção a uma luta com gigantes. Suas mãos tremiam um pouco quando descia as escadas, por um segundo sentiu vergonha de si mesmo e quis correr de volta para o quarto. Entretanto, outra coisa que ele aprendeu bem com o passar dos anos, era que não devia jamais se esconder de algo só porque era mais fácil, devia lutar de frente e era isso que estava fazendo ali, por mais que ainda lhe assustasse bastante fazer tal coisa.

A primeira pessoa que viu aí descer as escadas foi Kim Dar-hu e ele parecia completamente diferente do homem que costumava conhecer. Seu cabelo estava baixo e seu corpo sempre tão firme parecia magro e fraco, ele usava até mesmo uma bengala e seu andar era limitado. Em seguida viu Han Gayong estonteante como sempre, a risada alta e a voz vibrante. Ela nunca o tratou mal e gostava de si, pelo menos até ele começar a namorar seu filho e ela sentir que Yoongi não era o suficiente para Taehyung, nunca foi nada explícito, mas era bem óbvio e talvez tenha sido a única a ficar aliviada com o rompimento do dos anos atrás. Gayong sempre soube que aquele garoto iria machucar o coração do seu menininho, pelo menos foi isso que ela quase gritou na cara dele quando foi procurar pelo Kim em sua casa naquela fatídica noite.

Chungha e Yohan tinham saído para seus respectivos compromissos. Ela para conversar com a família do noivo porque era basicamente a família dele – que tinha algo no ramo de eventos – que estava organizando o casamento relâmpago e simples deles – o que foi uma briga nas famílias e foi a primeira vez que viram Kim Seokjin bravo erguendo a voz para seus pais e sogros entenderem, de uma vez, que o casamento era seu e da Chungha e os dois, e só os dois, tinham que resolver como queria -, ele, Min Yohan, estava saindo com uma garota e como era muito reservado não tinha contado a ninguém além do seu irmão, assim, Yoongi ficou sozinho para enfrentar tudo aquilo. E acredite, apesar de ter um sorriso singelo em seu rosto, ele não estava nada contente.

- Boa noite. – cumprimentou assim que apareceu na sala, a conversa entre os quatro ali morrendo de imediato a medida que os Kim olhavam para si. Era quase cômico a forma como os olhos dele se expandiram e a boca abriu em puro espanto. Surpresos. Todos ficavam assim um pouco e isso trouxe um pouco de humor para o rosto do mais novo, que curvou educadamente em frente aos dois só para mostrar que tinha boa educação mesmo. – Como vocês estão?

- Uou! – Dar-hu, o que nunca foi exatamente o homem mais bem humorado do mundo, mas era brincalhão na medida certa, disse em tom surpreso usando a bengala para se colocar de pé na frente de Yoongi. – Veja só você, está todo pintado.

- Pois é... – deu de ombros procurando um pouco de ajuda nos pais, porém, os Min só observava a tudo porque eles também tinham ficado bastante surpresos com as mudanças de visual do filho.

- E esses ferros no seu rosto?

- Se chama piercing e se quiser coloca um, estamos aqui, eu tenho licença pra colocar.

- Você está bem diferente. – Gayong falou também se colocando de pé. Seu sorriso largo parecia trêmulo e ele desejou perguntar o porquê daquilo, mas não fez, apenas olhou para ela meio sem entender quando a Han abriu os braços em sua direção – Sentimos a sua falta, Yoongi, sentimentos de verdade.

E sem perguntar nem mesmo se podia, ela o envolveu dentro dos seus braços e o apertou junto do peito. Yoongi, desconfortável como sempre ficava diante tais contatos quando não era espontâneo, tentou fazer o seu melhor para retribuir dando tapinhas suaves nas costas dela.

Quando os ânimos voltaram ao normal, seus pais ofereceu algumas cervejas enquanto jogavam conversa fora, cada um ali particularmente interessado em compartilhar os fatos mais importantes dos últimos sete anos.

***

Taehyung não procurou saber nada que estava acontecendo na casa dos Min, mas era complicado se manter fora do alcance das conversas paralelas e das informações muitas vezes jogada no vento. Por conta disso ele sabia o dia em que Min Yoongi enfim voltaria para casa e acredite, mesmo depois de anos e dele ter assumido uma postura de superação muito boa, saber que o ex estava voltando tinha lhe dado insônia uma noite antes e uma sensação inquietante durante todo o dia no trabalho.

Não conseguiu comer nada pela manhã com o estômago embrulhado e só pode enfiar algo por sua garganta na hora do almoço porque já sentia seu estômago doendo por esta vazio por horas. Foi improdutivo no trabalho e estava com um mal humor infernal. Teve enxaqueca por quase todo o dia e uma dor chata na nuca que sempre aparecia quando estava ou muito cansado ou passando por uma onda de tensão e stress.

Do Ji-han, seu namorado, tentou falar consigo durante todo o dia insistindo em telefona-lo reiteradas vezes sem lhe dar o menor descanso, mas não estava bem para falar e quando não aguentou mais apenas lhe passou uma mensagem dizendo que não estava bem e precisava de um tempo. Ji-han não questionou nada, namorar Taehyung era ter que lidar com aquilo. Com a distância e muitas vezes, indiferença do Kim.

Ele era frio e distante, e por mais que machucasse um pouquinho o coração do Do, porque ele realmente era muito apaixonado pelo outro e queria sentir que o sentimento era reciproco, ainda assim aceitava o jeito do outro. Taehyung nunca falou sobre o seu antigo romance e era particularmente bem rude quando tentava adentrar tal assunto, mas Ji-han sabia das inúmeras conversas que tinha tido com o sogro quem era o digo cujo e acima de tudo, o que havia acontecido. Sabendo dos relatos fazia Do Ji-han entender melhor o jeito do Kim.

O dia estava sobrecarregado para ele e sua única opção era fugir de todos porque Taehyung tinha ficado muito bom nisso, de fugir e fingir que nada estava acontecendo, alheio a situações que não dava para ficar alheio, envolta da sua bolha de autoproteção. A grande verdade era que o Kim vivia em guerra consigo mesmo porque na mesma medida que ele não queria que a sua vida afundasse por um amor que não deu certo, ainda assim, a cada passo que ele dava na tentativa desesperada de se recuperar, mais distante parecia de achar uma solução para aquilo.

Taehyung morria de medo de Yoongi ser a sua alma gêmea, porque ele acreditava nessas merdas de amor predestinado e se o Min fosse mesmo aquele tipo de amor, o Kim jamais poderia viver aquilo de novo porque a dois viviam em polos totalmente diferente. Além do mais que Yoongi partiu seu coração em milhares de caquinhos minúsculos impossíveis de serem concertados, na mesma medida que muito provavelmente o magoou e os dois não tinha sequer o que conversar sobre a vida deles.

Com a cabeça cheia demais para ficar em casa, ele resolveu ir em um pub para tomar uma ou duas cervejas antes de ir para casa. Ainda era quarta-feira daquela semana e teria trabalho na manhã seguinte bem cedo e isso não dava a ele abertura para encher a cara por mais que ele não fosse esse tipo de pessoa. Pediu uma cerveja gelada e alguns amendoins só para não ingerir algo com estômago vazio, sentou-se em uma mesa ao fundo e quando estava prestes a dar um gole na sua bebida, seu telefone tocou e ele pode ver de imediato que era Kim Namjoon, seu melhor amigo, o ligando talvez o convidando para algo legal aquela noite ou apenas para jogar assunto fora.

Namjoon era um bom amigo e Taehyung conseguia se abrir com ele, contar sobre suas aflições e preocupações, sentia-se livre o suficiente para chorar na frente do amigo sem sentir vergonha dos seus atos. Mas, aquele não era o melhor momento para uma conversa e ele desejou desligar a chamada e não atendê-lo, porém sabia que Namjoon não pararia de ligar até que fosse atendidos e se ousasse desligar o telefone – como uma vez fez em uma das suas crises existenciais terrível – era bem capaz do Kim colocar a polícia atrás de si. Assim ele se forçou a atender e ver o que o Kim queria.

- Oi... – foi tudo que conseguiu dizer dando um gole grande em sua cerveja. Detestava álcool, mas as vezes precisava dele para ajudá-lo passar por certas situações, além do mais que tinha uma resistência muito grande e raramente se embebedava.

- Oi, boa noite. – merda! Taehyung quis gritar assim que ouviu a voz do amigo porque para muitos aquilo pudia soar normal, todos agiam daquele jeito em uma ligação, mas Kim Namjoon não era todo mundo e perceber que ele estava sendo cauteloso fez Taehyung ter a certeza que não seria nada fácil. – Aonde você está?

- Hum... Eu vi naquele pub perto do trabalho, por quê?

- Pode vim aqui em casa? Estou terminando um projeto e queria te mostrar.

- Eu estou bem, Joonie. – tratou de falar imediatamente quando percebeu o que o amigo estava querendo fazer. Namjoon esteve lá com Taehyung em todos os últimos anos, tentando curar sua dor ainda mais quando o Kim parou de falar sobre o que lhe machucava e por mais que eles tivessem visões diferentes do que aconteceu, ainda eram amigos que se amavam e queria um o bem do outro. Namjoon só estava mais uma vez tentando evitar que Taehyung fosse impulsivo e acabasse se machucando.

- Se isso fosse verdade você não estaria bebendo em uma quarta-feira sozinho. – suspirou aparentando está tão cansado quanto o amigo – Vamos conversar.

- Não quero conversar, Namjoon. Só quero tomar uma cerveja e ficar na minha.

- Isso tem alguma coisa haver com o fato de Min Yoongi está de volta?

- O quê?! – ele quase se engasgou com a cerveja, mas foi firme em se manter em postura para não deixar tão mais óbvio que o amigo estava certo. Nem mesmo conseguia se entender, mas estava lá agindo como se precisasse se esconder, como se tivesse culpa de algo quando não tinha culpa de nada. Agindo como um completo patético sofrendo por algo que não devia sequer estar ainda em sua mente.

- Já que você não quer vim aqui, então estou indo aí.

- Namjoon, não! Cara, fala sério, eu sou adulto, sei tomar conta de mim mesmo, não fode.

- Vamos conversar! Estou indo aí.

- Vai se ferrar! – gritou abafado contra o fone do celular. Levantando-se, ele jogou uma nota de won sobre a mesa e saiu dali pisando fundo. Entendia que o amigo queria o seu bem, mas Taehyung não desejava ninguém querendo nada dele naquela noite. – Não vem, eu estou indo aí.

- A porta está aberta. – e sem mais nem menos, ele apenas desligou.

Taehyung tinha deixado o carro estacionado uma rua de distância e não demorou em chegar até lá, o rosto vermelho em uma mistura de álcool e irritação, porque ele odiava der pressionado daquela forma, mesmo entendendo seu melhor amigo e os motivos dele. Namjoon esteve ao seu lado assistindo de perto quando esteve no fundo do poço, e ele já tinha sofrido pelos mesmos maus para saber o quanto poder doer.

A grande verdade, e que poucos sabiam disso, era que Kim Namjoon tinha um verdadeiro penhasco por Kim Taeyeon, irmã gêmea do seu melhor amigo, e os dois tiveram um rápido e tórrido romance daqueles quase inconsequentes e muito quente. Era bonitos juntos e tinham sintonia, era bonito de se ver e Taehyung torcia para que os dois se dessem bem. Mas então, sua irmã recebeu uma proposta de morar fora e ela foi, nem mesmo tentou ficar com o outro, lutar por ele, ela apenas foi. Deu as costas e foi embora deixando Namjoon para trás e por mais que ambos ainda se gostassem, era visível para quem ouvissem eles falando do outro, ainda assim se mantinham longe.

Namjoon tinha uma namorada nova. Taeyeon tinha muitos namorados. E, talvez pela distância, ou por ambos serem cabeça dura para porra, ficavam naquela de sequer se falarem.

Então o Kim entendia bem quais problemas Taehyung podia está enfrentando ali e por isso queria ajudar, por mais que nem sempre esse quisesse ajuda.

Seguindo de carro, ignorando algumas buzinadas e cortadas de luz dos demais motoristas, Taehyung seguiu direto para casa do amigo. Conhecia bem o lugar e não era nenhum estranho, assim, não foi difícil passar pelo porteiro e chegar até o apartamento do melhor amigo. Era um lugar modesto no centro de Daegu, decorado de modo alternativo com estátuas de Buda e pedras místicas, com cheio de incenso de flor e um espaço para yaga. Namjoon sempre foi naquela vibe meio naturista que gostava de aplaudir o sol e falava com plantas, aliás era absurda a quantidade de vasos de plantas que ele tinha pelo apartamento, o que Mulyo, sua calopsita de estimação, adorava particularmente. Ele era um homem diferente da maioria das pessoas que o Kim costumava conhecer e isso era uma das coisas que Taehyung mais amava no Namjoon, o fato dele ser diferente da massa. Dele ser ele mesmo independentemente se isso vai ou não encaixa-lo em um padrão e ser aceito. Kim Namjoon não estava ali para seguir um modelo, Kim Namjoon estava ali para ser o modelo a ser seguido. E foda-se merda de padrão, os padrões que lutassem para se adequar a quem ele era. Estava ali para quebra-los e aquele modo de viver dele era uma das coisas que Taehyung mais admirava no seu melhor amigo.

Por isso, quando chegou ao apartamento e foi envolvido pela aquela áurea leve, toda a raiva que sentia foi embora do seu coração. Aquele lugar cheirava a incenso doce e sopa apimentada – e Taehyung adorava sopa apimentada – e tinha som de água correndo vida da fonte de água instalada na área de yoga na sala. Por mais que muitos achassem estranho, o Kim sentia-se em paz toda vez que pousava seus pais naquele pequeno santuário.

- Joonie? – chamou assim que entrou, tirando os sapatos e as meias junto do seu casaco. O terno e a gravata tinham ficado no carro e estava agora todo desarrumado do seu habitual look de trabalho. – Joonie, cheguei, cadê você?

- Cozinha.

- Boa “noi”... Uau, isso é um pé de maconha? – foi a primeira coisa que Taehyung falou ao adentrar a cozinha e se separar com Kim Namjoon cuidando de um vaso de planta sobre o balcão. Ele usava suas típicas roupas meio hippie e seus óculos de grau grande que lhe dava todo um charme. Taehyung ficava impressionado em como Namjoon ficava bem naquelas roupas da mesma forma que ficava incrível dentro de um terno.

- Sim, eu plantei não faz muito tempo, mas já está crescendo. – ele olhou quase preguiçoso para o menor abandonando a planta para ir até o fogão mexendo a sopa que estava cozinhando lá. – Se eu conseguir plantar, não vou precisar comprar, e você sabe que a maconha natural é cara.

- Isso não é ilegal?

- Você vão denunciar?

- Lógico que não. – ele se aproximou de Namjoon no fogão espiando para dentro da panela. Parecia gostoso e ele sentiu seu estômago se agradar pelo cheiro – Será que eu posso ter um pouco disso quando estiver pronto? Comi mal o dia inteiro.

- Não é nada demais, um pouco de refogado de legumes com broto de feijão e kimchi. – outro ponto sobre aquele homem, ele era vegetariano e isso dizia tanto sobre quem Namjoon era. – Pegue, por favor, as tigelas no armário e dívida o arroz da panela elétrica em dois. Fiz o suficiente para nós.

- Você é maravilhoso, já te falei isso. Será que tem como dividir comigo essa maconha também quando você bolar um cigarro?

- Do Ji-han não vai gostar de saber que você andou fumando comigo.

- Eu não faço o que Ji-han quer, só quero experimentar como na época da escola.

- Você nunca conseguia tragar direito. – riu um pouco. Com uma concha, ela encheu as duas tigelas com sopa até em cima, as pontos uma por uma no balcão da cozinha. – Uma vergonha.

- Me respeita. – brincou tomando um lugar para si, o arroz separados e um pouco de chá verde que tinha encontrado na geladeira. Nem mesmo perguntou se podia, apenas pegou sem fazer cerimônia alguma. – Eu aprendi muito rápido e não é como se...

- Você sabe que não adianta ficar enfiando assunto em cima de assunto tentando fugir, e que vamos conversar sério, não é? – Namjoon tratou logo de interromper sem rodeios algum porque ele era do tipo que preferia agir com sinceridade e sendo direto do que andando voltas em algo que podia facilmente ser resolvido. – Fiquei preocupado com você.

- Não sei porquê, exatamente. Estou bem e não temos nada para conversar. Podemos só comer?

- Isso tudo tem haver com a volta dele?

- Ainda estou querendo saber como você descobriu sobre isso.

- Sua mãe me ligou e me pediu para ficar de olho em você. – deu de ombros enfiado um pouco de sopa na boca. Taehyung não tocou na sua comida afastando o caldo quente de um lado para o outro com a colher, desanimado, seu rosto estava um pouco vermelho talvez pelo álcool e um pouco da sua irritação que havia voltado só por ter iniciado aquela conversa. – Deveria falar com ele, Tae, resolver isso.

- Não temos nada para falar, Namjoon, já fazem sete anos e não há mais tempo para isso.

- Só acho que deveria tentar e ver o lado dele quando...

- Você já conseguiu enxergar o meu lado, Namjoon? De todos esses anos, toda vez que você tenta entrar nesse assunto, você fala a mesma coisa sobre eu olhar o lado dele, mas em algum momento você conseguiu olhar o meu? Ver as coisas pela minhas perspectiva?

- Você nunca me fala, como quer que eu veja algo?

- Claramente você já escolheu seu lado nessa história, então, por que eu deveria perder meu tempo nisso? – agora quem deu de ombros foi Taehyung deixando sua colher de lado ao que se recostava para trás na banqueta. Seu apetite antes ativo por conta da sopa, simplesmente havia sumido e o clima sempre tão tranquilo ali, estava comentando a deixá-lo irritado. – Min Yoongi foi embora anos atrás, eu desejei que ele fosse e desejei que ele sumisse da minha cabeça. Não dois erramos anos atrás, ele partiu meu coração e com certeza eu o machuquei também, eu era imaturo e cabeça dura não quis ouvi-lo, mas não sei se queria ouvi-lo hoje em dia também. Eu sei o que eu vi, Namjoon, e independente de ser verdade ou não, de acreditar ou não, qualquer um na minha posição teria pensado o mesmo. Já se passou tempo demais para tentar resolver qualquer coisa.

- Deveria abrir seu coração pra ele e...

- Não vem, Namjoon, sério. – nervoso com o rumo da conversa, ele se colocou de pé rumando para a sala pronto para ir embora. Nem deveria ter ido ali para ser honesto e não sabia o que tinha na cabeça ao aceitar tal coisa. O outro Kim, para seu azar, lhe seguiu tentando prolongar a conversa que Taehyung já tinha dado como encerrado.

- Ouve ele, conversem, vocês podem um ouvir o lado do outro e se resolver.

- Não há o que ser resolvido, esse é a questão. Agora eu não entendo essa sua insistência de querer tanto que eu veja o lado dele, sempre é assim, qual o problema? – ele deu dois passos até ficar de frente para o maior, seu rosto sério e duro esperando uma resposta que não veio. Erguendo uma das sobrancelhas ele chegou ainda mais perto – Está sabendo de algo que eu não sei?

- Essa não é a questão...

- Então qual é? Eu ir atrás do meu ex-namorado que me traiu? Eu ouvir seja lá qual é a versão dele nos fatos? Qual a questão, então, Namjoon? Eu vivi a sombra daquela noite nos últimos anos da minha vida e eu estou farto disso! Absurdamente farto! Eu mereço ser feliz, Namjoon, eu mereço esquecer aquele cara e poder amar outra vez. Eu mereço ser amado de verdade! E isso não vai acontecer enquanto eu não me libertar disso!

- Tae...

- E toda vez que eu ouço falar dele, meu coração morre um pouco mais e isso não é justo porque eu também mereço esquecê-lo. Eu mereço viver sem ter ser forçado a conviver com um sentindo que me machuca, mas que nunca acabou! – recolhendo seus pertences que estavam a vista como os sapatos e o casaco, ele saiu do apartamento do amigo batendo forte a porta porque Taehyung só queria uma pausa de todo o drama que sua vida vivia mergulhado.




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