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História But please don't bite - Capítulo um - Kiss me on the mouth and set me free


Escrita por: iambyuntiful

Notas do Autor


OLÁÁÁÁ! Eu trouxe vampiros no halloween? Sim, eu to trazendo de novo? Sim também porque nunca é demais!

Eu plotei essa fanfic lá em julho, na verdade, e eu comentei o plot com a Júlia na época e ela disse sobre como podia ser o presente de aniversário dela. Pois bem, e virou mesmo pois hoje é dia do Bucky do meu Steve e estou trazendo esse singelo presentinho <3

Agradecimentos à Analu que é perfeita e aceitou betar esse monstrinho e me divertiu horrores com seus comentários e à Bomma que é meu amor eterno e fez essa capa maravilhosa pra fanfic!! Eu só tenho gente talentosa ao meu redor, af TTTT

Essa renhyuck vai ser uma two-shot porque inicialmente ela era uma one-shot que bateu 30 mil palavras KKKKKKKKKKKK Então é sobre isso, meus amores, semana que vem eu trago a parte dois pra vocês!! Por enquanto, boa leitura e espero que vocês gostem~ <3

Capítulo 1 - Capítulo um - Kiss me on the mouth and set me free


BUT PLEASE DON’T BITE

Capítulo um — Kiss me on the mouth and set me free

 

Renjun tinha certeza de que já havia visto de tudo no mundo.

 

Há pouquíssimas coisas a se desconhecer quando você já tem mais de mil anos de idade como Huang Renjun. De início, tudo parecia deslumbrante — Renjun poderia ter a chance de conhecer o mundo como jamais imaginou ser possível, completamente livre após seu criador deixá-lo sozinho algumas décadas após sua transformação. Parecia incrível e, por muitos anos, o recém-criado viajou por cada pedacinho do globo, inventando novas identidades a cada navio no qual embarcava.

 

Fora criado até os vinte anos em um pequeno vilarejo esquecido por todos e recordado pela Coroa apenas para o recolhimento de impostos. Cercado por irmãos mais novos, Renjun teve desde pequeno a responsabilidade de não os deixar morrer de fome enquanto seus pais se esforçavam para manter o casebre em que moravam. Não era a vida mais fácil — tampouco a que desejava para sua família, mas era a vida que possuía e estava feliz por ter pessoas ao seu redor que o amavam e que fariam por ele tudo que estava disposto a fazer por cada um deles também.

 

Contudo, a noite em que foi transformado era uma memória difícil de se recordar. Renjun tinha todos os detalhes frescos em sua mente, como ficou até tarde no mercado central do vilarejo vendendo os legumes de sua família, como o tinha sido ordenado, e como a casa estava estranhamente silenciosa quando voltou. Seus irmãos não estavam em suas camas e seus pais não respondiam seus chamados. Alguma coisa certamente não estava em seu lugar e Renjun sentiu o calafrio percorrer sua espinha a cada passo que dava em direção à porta dos fundos que estava entreaberta. Sua mãe nunca a deixava assim.

 

O corpo de sua mãe foi o primeiro que encontrou, abraçado ao corpinho pequeno de sua irmã mais nova, como se pudesse protegê-la com o próprio corpo. Renjun acompanhou a trilha que formavam, dos irmãos mais novos aos mais velhos, até próximo da horta, onde seu pai repousava. À distância, ele parecia estar apenas adormecido.

 

Foi quando Renjun notou os olhos avermelhados que o encaravam na escuridão e se perguntou se era algum dos demônios que ouvia falar na Igreja e o que de tão ruim sua família havia feito para que sofressem tamanha desgraça.

 

Esperou por seu fim, sentindo o coração bater cada vez mais rápido contra seu peito, os joelhos chocando-se contra a relva próximo ao corpo da mãe. A criatura se aproximou em passos lentos, como se aproveitasse cada pedacinho daquele show de horrores, até que parou ao seu lado. O ar era gelado ao seu entorno, mesmo que estivesse no auge do verão e as temperaturas estivessem sempre altas. Renjun se obrigou a erguer o olhar, vencido pela curiosidade de qual seria o último rosto que veria antes de morrer.

 

Naquela noite, morrera de fato, logo após ver um sorriso sinistro no rosto da criatura.

 

Acordara uma semana depois em um corpo muito semelhante ao seu, mas que não era o mesmo que tivera enquanto vivo. O ar congelava ao seu redor, seus dentes pareciam estranhamente afiados, cortando seu lábio inferior e sua garganta queimava, mais do que em todos os anos que tivera.

 

Por décadas, a criatura que o transformou o ensinou quem agora era e o que deveria fazer para permanecer vivo. Renjun custou a acreditar que tudo aquilo fosse verdade, mas a queimação em sua garganta continuava a incomodá-lo ao nível em que seu compasso moral não fora suficiente para impedi-lo de atacar o primeiro transeunte que seu criador o indicou.

 

Vampiro, era como os chamavam. Criaturas da noite e que sobreviviam às custas da morte de outras, roubando-lhes o sangue que já não mais corria por suas veias. Renjun nunca entendeu o que fez seu criador decidir poupá-lo ao massacrar sua família, mas nunca tentou questioná-lo também. Depois de alguns anos, aprendeu que, às vezes, o acaso podia ser tão cruel quanto a vida.

 

Viveu por cinco décadas ao lado daquele vampiro que nunca lhe dera mais do que memórias ruins. Escapara na primeira oportunidade que tivera, quando seu criador o deixou sozinho por algumas semanas ao se encontrar com um antigo conhecido. Renjun não tinha a menor ideia do que estava fazendo, mas entrou no primeiro navio que encontrou, não tendo grandes dificuldades em usar de seu charme contra os tripulantes.

 

Por séculos, vivera dessa maneira — errante, andarilho, conhecendo cada pedacinho do mundo que lhe roubaram.

 

Encontrou Lee Jeno prestes a morrer quando já tinha mais de trezentos anos.

 

Ponderou por algum tempo se deveria oferecer de seu veneno àquele rapaz, se a morte não seria preferível à maldição que chamava de vida. Contudo, encontrou tanta força para viver no único olhar que recebeu que fora resposta suficiente para saber que Jeno merecia uma segunda chance, ainda que não fosse da maneira como desejava. Uma semana depois, Renjun já não estava mais sozinho e o ar já não parecia tão sufocante com Jeno ao seu lado.

 

Viajaram juntos por décadas, conhecendo um ao outro em cada parada. Jeno era um bom rapaz e partilhava do desejo de paz assim como Renjun, indispostos a atacar pessoas a menos que a sede fosse insuportável. Estavam acostumados à presença um do outro o suficiente para que Renjun visse Jeno como sua família e, pelos próximos duzentos anos, pareceu suficiente.

 

Até Jeno surgir com Na Jaemin, o vampiro que havia recém-criado.

 

Renjun pensou em contestar sua decisão, dizendo-lhe sobre como era perigoso que criassem mais e mais deles, mas não demorou a perceber que Jeno tinha seus próprios motivos para manter Jaemin por perto. Falhara em perceber como seu companheiro de viagens já estava de olho no outro há muito tempo, em como seus encontros eram furtivos e como Jeno sorria mais ultimamente. Falhara em saber que Jaemin fora atacado uma semana antes e como Jeno não poderia suportar ver o humano morrer.

 

Então, há quinhentos anos, eram apenas os três.

 

Muitas coisas mudaram com o avanço da tecnologia, principalmente a relação entre vampiros e humanos. Atualmente, a existência deles não era mais um segredo, embora não fossem abraçados pela comunidade facilmente. Ao menos, havia programas governamentais para garantir sua existência sem que humanos fossem mortos no processo e bancos de sangue específicos para cadastro de novos vampiros, com a garantia de sigilo absoluto. Renjun ainda se recordava do choque ao perceber que havia voluntários para que bebessem diretamente de seus pescoços.

 

Certamente, era muito melhor viver dessa maneira do que antes, como andarilhos atacando pessoas distraídas e que torciam para que não houvesse ninguém para sentir suas faltas. Podiam estabelecer moradia dessa vez, quem sabe por alguns anos, até mesmo uma década, até que começassem a desconfiar que não envelheciam — apesar de não serem mais um segredo, algumas pessoas não eram exatamente receptivas. Renjun não culpava nenhuma delas; em seu milênio de vida, vira o suficiente para saber que os humanos não confiavam nem neles mesmos.

 

A invenção da qual mais gostava era a pílula que lhes permitia caminhar ao Sol, com certeza. Renjun sentia tanta falta de sentir os raios solares contra sua pele durante os séculos que viveu escondido na noite que, no primeiro dia em que testou a pílula, nem mesmo se importou que poderia se desintegrar em questão de segundos se algo falhasse. Valeria a pena por aquele breve momento de nostalgia. Sua pele queimava um pouquinho, como se fosse uma coceira difícil de se extinguir, mas seu corpo continuou inteiro e a pílula era um sucesso. Graças a ela, podiam se misturar aos humanos e tentar uma vida mais próxima do normal dentro do limite que criaturas como ele, Jeno e Jaemin poderiam ter.

 

O problema é que, depois de um milênio escondido pelas sombras, não é tão fácil assim voltar a se enturmar, não que seus companheiros se importassem.

 

Jeno e Jaemin nunca tiveram problemas para se encaixar na vida humana mais uma vez. Agiam como se tivessem nascido há menos de duas décadas, quando o mais novo entre eles completava seu quinto século muito em breve. Ingressaram até mesmo na faculdade, rindo um para o outro sobre como aquilo poderia ser interessante quando estivessem rodeado por humanos, e conseguiram convencer Renjun a acompanhá-los.

 

E quem sabe esse tenha sido seu maior erro porque não demorou para que descobrisse como seus amigos gostavam das festas humanas.

 

Ao longo de dez séculos, Renjun vivenciara mudanças entre os humanos mais vezes do que gostaria e como os costumes entre cada era variavam entre si. Contudo, havia um aspecto humano que nunca se alterava e era seu desejo pelo festejo, o apego a pequenos detalhes que seriam suficientes como motivos para que dessem uma festa. Não era de se surpreender que ao juntar centenas de universitários algumas festas se tornassem inevitáveis.

 

Isso não queria dizer que Renjun ao menos sabia como se portar em uma, não que seus amigos se importassem.

 

“Renjun, vai ser divertido!”, Jeno insistiu pela enésima vez. “Você precisa começar a se enturmar com o pessoal na faculdade ou vão começar a falar de você.”

 

“Eu tenho mil anos de vida, Jeno”, Renjun o recordou. “Consigo sobreviver mais alguns sem me desesperar por estarem falando de mim.”

 

Jeno rolou os olhos para o comentário. Era bem a cara de seu criador não dar tanta importância às interações sociais, provavelmente porque por boa parte de sua existência seu círculo de amizade se resumia a ele e Jaemin. Contudo, isso não queria dizer que precisava continuar dessa maneira; tudo que Renjun precisava fazer era deixar de ser teimoso e acompanhá-lo a uma simples festa.

 

“O pessoal da Engenharia é conhecido por dar as melhores festas no campus”, Jaemin se intrometeu na conversa. “Você não vai ter uma chance como essa se esnobar o primeiro convite que recebeu em dois anos de curso, Injun. Jeno e eu vamos estar lá e vai ser divertido!”

 

“Desde quando nosso conceito de diversão passou a envolver um amontoado de humanos?”, Renjun quis saber. “Nós costumávamos nos divertir bem o suficiente só nos três.”

 

“Desde que passamos a fingir que somos humanos e faz parte da natureza humana ser social e buscar por mais contato entre si”, Jeno respondeu. “E você está falhando miseravelmente no seu disfarce, o que vai fazer as pessoas comentarem sobre você e, então, sua mente paranoica fará com nos mudemos de novo.”

 

Jeno tinha um ponto. Todas as mudanças repentinas que precisaram fazer foram derivadas das paranoias de Renjun de que seriam descobertos em breve e não gostaria de ficar na cidade para descobrir a reação das pessoas. Embora não o afetasse pessoalmente porque nenhuma daquelas pessoas duraria mais do que algumas décadas, Renjun não gostava de se sentir rejeitado. Talvez ainda fosse os problemas que trouxera consigo desde que abandonara seu criador.

 

É claro que Jeno e Jaemin também sabiam disso e provavelmente perceberam que acertaram lembranças ruins quando Jeno suavizou seu rosto, assumindo uma expressão pesarosa, como se pedisse desculpas em silêncio.

 

“Eu não quis falar desse jeito”, Jeno se desculpou. “Mas seria muito legal ter você com a gente, Injun. Nem todo mundo é como... O cara que te criou. Nem todos estão dispostos a só brincar com a gente. Além do mais, entre humanos, nós somos os predadores.”

 

“E proibidos por lei de atacar qualquer um deles”, Renjun o recordou.

 

“Meros detalhes”, Jaemin meneou a mão, como se não fosse mesmo importante. “Você sabe que a gente não vai desistir porque, no fundo, também sabe que é para o seu bem, Renjun.”

 

E, sim, Renjun sabia que era infrutífero continuar discutindo com o casal porque tempo era algo que todos eles possuíam infinitamente e tanto Jeno quanto Jaemin eram teimosos o bastante para perderem a noite inteira convencendo-o de uma festa estúpida recheada de humanos que não o interessavam. Renjun suspirou, olhando de um amigo para o outro, encontrando os olhos repletos de esperança em retorno.

 

“Vocês não vão mesmo me deixar em paz, não é?”, Renjun questionou.

 

“A última vez que conseguimos te arrastar para uma festa foi no século dezenove”, Jaemin recordou. “É tempo de insistirmos um pouco mais.”

 

“Se eu não gostar, prometem que eu posso passar ao menos um século sem ser obrigado a me reunir com humanos?”, Renjun barganhou. “Estou disposto a ceder, porque vocês são insuportáveis quando se juntam, mas precisam me prometer.”

 

Jeno sorriu abertamente, aquele sorriso que fazia seus olhos virarem meias-luas e que ele sabia que desarmava Renjun como nada no mundo. Maldito fosse o instinto paterno por sua cria. “A gente nem precisa te prometer nada porque eu sei que você vai adorar!”

 

“Mas prometemos, se isso faz você concordar mais rápido”, Jaemin emendou.

 

Renjun tornou a suspirar, derrotado. Deveria ter imaginado que não daria boa coisa permitir que Jeno transformasse Jaemin e, pior ainda, o levasse com ambos pelas viagens que faziam ao redor do mundo. Agora, tinha não apenas sua cria para encher-lhe a paciência pela eternidade, mas também seu namorado que conseguia ser tão irritante quanto. Era tempo de se acostumar ao destino que lhe fora reservado, afinal.

 

“Ok”, Renjun deu de ombros. “Mas precisa ser a melhor festa da vida de vocês.”

 

“É sexta-feira, começa às onze da noite!”, Jeno informou. “Esteja pronto ou eu vou ter que escolher as suas roupas por você.”

 

Um arrepio de horror passou por sua espinha só pela ideia de deixar Jeno responsável por qualquer coisa a seu respeito, então deu de ombros, deixando claro que havia ouvido as instruções quanto a dia e horário. Sexta feira — tinha apenas dois dias para se preparar para estar em meio a humanos mais uma vez, como se não fosse suficiente nas aulas que era obrigado a participar.

 

Não era como se Renjun tivesse alguma coisa contra humanos, mas não tinha nada a favor especificamente. Era fascinante estar entre eles depois de séculos, mas unicamente porque sentia falta da sua vida e vê-los vivendo a própria vida trazia um senso de inveja que não gostava de sentir. Não tinha como voltar ao que viveu no passado e, por isso, bastava que não se misturasse àqueles que possuíam aquilo que mais desejava e, ainda assim, não lhe era alcançável.

 

Não estava particularmente animado para aquela festa, mas confiava que os amigos fariam, ao menos, que a noite fosse divertida.

 

X

 

Renjun já estava arrependido de ter aceitado antes mesmo que chegassem ao local.

 

Havia certas desvantagens nos sentidos aprimorados que o vampirismo o entregou. Enquanto caçadores noturnos, a visão melhorada e a audição aguçada certamente eram atrativos porque faziam com que identificassem suas vítimas de maneira mais fácil, emboscando-as com sucesso e impedindo que outras pessoas conseguissem encontrá-los. O olfato aprimorado conseguia farejar rastros de outras pessoas e vampiros há quilômetros de distância e foi dessa maneira que conseguiu se manter longe de seu criador por tantos séculos até que, eventualmente, o vampiro tenha desistido de encontrá-lo.

 

Nesse momento, contudo, todos seus sentidos aguçados serviam apenas para confundi-lo e irritá-lo antes mesmo que algo começasse.

 

Conseguia ouvir a música alta a muitos metros de distância e se questionava como o aglomerado de humanos não enlouqueciam com barulho tão alto em seus ouvidos. Era uma confusão de cheiros que lhe deixou confuso em um primeiro momento, determinando se aquela casa realmente conseguia comportar a quantidade de pessoas que estava farejando. Por fim, os jogos de luzes começavam a incomodar seus olhos, desacostumados a tamanho estímulo quando não havia muitas décadas desde que passou a caminhar entre os humanos mais uma vez.

 

Perguntou-se como Jeno e Jaemin não pareciam tão afetados quanto ele, mas chegou a conclusão de que os amigos provavelmente frequentavam lugares como esse com maior frequência do que ele e, por isso, seus sentidos já não eram mais tão prejudicados. Quem sabe se acostumasse uma vez que estivessem no interior daquela casa; quem sabe tudo que precisasse era dar uma chance, como Jeno havia reiterado.

 

Mas Renjun não parecia disposto, estava mais incomodado a cada passo que dava em direção à casa alugada pela turma de Engenharia para serem anfitriões da melhor festa do semestre.

 

“Você poderia, ao menos, colocar um sorriso no rosto?”, Jaemin pediu, tirando-o de seus pensamentos. “Eu sei que você é literalmente um velho ranzinza, mas a gente tem uma reputação.”

 

Renjun não poderia estar mais ultrajado por aquela criança, com a metade dos anos que possuía de vida, estar falando consigo desta maneira. Ergueu uma sobrancelha em desafio a Jaemin, recebendo um dar de ombros despreocupado como resposta. É claro que Jaemin e Jeno possuíam uma reputação; estavam mais do que dispostos em se fingirem de humanos novamente, mais do que o próprio Renjun, e a popularidade era um aspecto importante em um grupo social.

 

“Eu vou ver o que eu posso fazer”, devolveu com tom de escárnio, seguido de um rolar de olhos. “Não sei como vocês conseguem se acostumar a isso. É tudo tão... Exagerado.”

 

“Faz parte da diversão”, Jeno respondeu, despreocupado. “Você vai se acostumar também, com o passar do tempo você nem sente mais as luzes e a música parece vir de dentro da sua cabeça. Vamos lá, Injun, só um pouco de diversão não vai te matar!”

 

Eu duvido, Renjun pensou consigo mesmo, mas não estava disposto a estragar a noite para os amigos, não quando prometeram que ficariam juntos. Renjun podia ser muitas coisas, mas certamente não fazia o tipo que estragava as noites de seus companheiros de propósito, principalmente quando estavam dispostos a sacrificar aquele tempo ao seu lado porque sabiam que não estava acostumado a esse tipo de coisa. Deveria pegar mais leve com os dois e os comentários incomodados que se aglomeravam em sua cabeça; eles também estavam tentando e lhes devia certo crédito por isso.

 

Esse pensamento certamente não o acompanhou quando percebeu que, ao chegarem à festa e serem cumprimentados pelos anfitriões — já mais bêbados do que deveriam considerando que mal havia começado —, Jaemin e Jeno sumiram em meio a multidão sem que lhe desse a chance de dizer nada.

 

Poderia encontrá-los por seus cheiros, é claro. Fora ele quem criou Jeno, não perderia seu rastro nem que estivesse tentando. Mas o sumiço repentino de ambos lhe dava uma dica clara de que queriam aproveitar a festa na companhia um do outro, como o casal que formavam, e que a promessa de permanecerem juntos só era válida enquanto precisavam convencer Renjun a acompanhá-los à festa. Não era como se pudesse dizer que não estava esperando que isso acontecesse, mas imaginou que seriam, ao menos, um pouco mais sutis.

 

Um rapaz aleatório que Renjun nunca tinha visto antes o entregou um copo com conteúdo alcoólico e Renjun aceitou com um muxoxo de agradecimento. Em teoria, o álcool não tinha efeito em seu corpo, como era esperado, porque seu organismo já não estava mais vivo para metabolizá-lo; a única maneira de sentir seu efeito era através do sangue e duvidava que alguma daquelas pessoas estivessem bêbadas o suficiente para concordarem em deixar que as mordesse, sem que se recordassem de nada no dia seguinte.

 

Ainda assim, parecia melhor do que nada e Renjun estava disposto a andar com aquele copo em mãos se era necessário para que estivesse se enturmando. Daria certo? Não tinha a menor ideia. Jaemin e Jeno não poderiam dizer que não havia tentado, ao menos.

 

Bebericou de seu copo, sentindo o gosto amargo do álcool em sua língua, e decidiu que o efeito inexistente daquela bebida em seu corpo não valia o gosto que ficava em sua boca. Por isso, começou a se movimentar pela casa, evitando esbarrar nas outras pessoas para não derrubar o conteúdo de seu copo. Quem sabe Jeno tivesse razão e pudesse mesmo se acostumar ao exagero de sons e luzes.

 

O que não aconteceu, contudo, e Renjun estava começando a se sentir mais irritadiço a cada minuto que permanecia ali. Já havia vistoriado toda a casa, inclusive ouvido barulhos que não gostaria de ter presenciado no segundo andar, e a música parecia ficar cada vez mais alta. Quem sabe fosse hora de aceitar seu destino como um velho vampiro milenar e que apreciava o silêncio acima de muitas coisas e quem sabe seus amigos nem mesmo notassem se ele decidisse ir embora naquele momento. Provavelmente estavam muito ocupados um com o outro para que percebessem seu sumiço até a manhã seguinte.

 

Distraído como estava, Renjun não percebeu um corpo tão próximo ao seu antes da colisão, derrubando o copo que tinha em mãos na roupa do rapaz à sua frente. Olhou-o em choque, sua mente em completo branco de como poderia se desculpar porque o rapaz nem mesmo o estava olhando; ao invés disso, olhava para a própria camiseta agora encharcada pelo que o vampiro nem mesmo sabia que estava segurando.

 

“Me desculpe, não foi minha intenção”, disse rapidamente. “Se eu puder compensá-lo de alguma forma...”

 

Só assim o rapaz ergueu o rosto para encará-lo e Renjun levou seu topo para admirá-lo. Recordava-se de o ter visto em algum lugar pelos corredores da faculdade, provavelmente um amigo de Jeno ou Jaemin, mas com quem nunca tinha conversado, nem mesmo sabia seu nome. Ainda assim, os cabelos castanho-claros emolduravam o rosto bonito, o nariz pequeno e os lábios carnudos que agora esboçavam um sorriso.

 

“Cara, que pena”, o rapaz disse depois de alguns segundos, “parece que vamos ter que te pegar outra bebida.”

 

Ele não parecia chateado por sua camiseta estar encharcada, mantendo um sorriso amigável no rosto e Renjun se perguntou se esse era o natural de sua personalidade ou já havia álcool demais percorrendo suas veias. Não perguntou nada, apenas escolheu acompanhá-lo até a cozinha onde todos os drinques estavam sendo feitos. Era com certeza uma companhia peculiar e que não aceitaria qualquer desculpa que tivesse para dar sobre o porquê de não querer mais um copo.

 

“O meu nome é Lee Donghyuck, aliás. Meus amigos me chamam só de Haechan”, Donghyuck se apresentou quando chegaram à cozinha, olhando-o por cima do ombro com um sorrisinho de canto. “Você é Huang Renjun, eu suponho?”

 

Para alguém tão recluso quanto Renjun, era uma surpresa que soubessem de seu nome, mas concordou com um assentir.

 

“O Jeno fala muito de você”, Donghyuck acrescentou, encostando-se à bancada da cozinha. Agora estava explicado de onde seu rosto era familiar. “Mas eu nunca imaginei que ele conseguiria realmente trazê-lo a uma dessas festas.”

 

“Bom saber que tenho sido assunto para vocês”, Renjun escolheu brincar, esperando que seu senso de humor não o afastasse. “Sempre bom sentir que sou útil de alguma maneira.”

 

Donghyuck riu, jogando a cabeça para trás livremente. “Ah, você já foi muito assunto, sim”, confirmou, enigmático. “Mas acho que te devo uma bebida, não é? Depois de ter entornado a sua em mim mesmo. Então, o que você gosta de beber?”

 

Vermelha, viscosa, quente, Renjun pensou em dizer, esperando para ver qual seria a reação de Donghyuck. Contudo, refreou-se a tempo porque ele era amigo de Jeno e, se levantasse suspeitas no humano, provavelmente Jeno também sofreria as consequências. Ao invés disso, optou por olhar na bancada onde várias garrafas estavam espalhadas e uma jarra em particular chamou sua atenção.

 

Vermelha como sangue.

 

“Isso parece bom”, Renjun comentou, indicando com o queixo.

 

Donghyuck seguiu com o olhar, dando um sorrisinho quando percebeu. “Bloody Mary”, o rapaz explicou apanhando um copo para servi-lo. “Forte demais para mim, mas parece fazer o seu tipo.”

 

Havia um toque enigmático no sorriso que continuava a receber do humano, como se Donghyuck quisesse dizer mais do que suas palavras expressavam. Contudo, Renjun não poderia se dar ao luxo de questioná-lo e arriscar colocar tudo a perder por uma curiosidade. Quem sabe ele só fosse do tipo brincalhão e que gostava de provocar as pessoas; desse modo, tudo que precisava fazer era não dar munição ao rapaz e, então, tudo ficaria bem. Ao menos, esperava que sim.

 

Agradeceu pelo copo que recebeu, bebericando do drink apenas para não levantar nenhuma suspeita. Havia um toque apimentado em sua língua misturado ao sabor amargo do álcool e Renjun com certeza escolheria esse drink ao que quer que lhe tenha sido dado no início da festa.

 

“Então”, Donghyuck voltou a falar, apanhando um copo para si de algo que Renjun não prestou atenção ao que era, “o que fez com que concordasse em vir até essa festa? Você certamente não faz o tipo.”

 

Renjun não sabia identificar se aquilo era um elogio ou não, porque, bom, estava estampado em seu rosto como estava desconfortável ali e não era de se admirar que o humano tivesse conseguido o ler com facilidade. Não gostava de lugares muito cheios ou barulhentos e não conseguia esconder seu descontentamento no rosto.

 

“Jeno e Jaemin prometeram que ficariam comigo se eu concordasse em vir com eles”, Renjun explicou. “Eles podem ser bastante teimosos quando querem, então eu só escolhi qual batalha ganhar e qual perder.”

 

“Pelo visto, você perdeu a guerra inteira”, Donghyuck brincou. “Da última vez que vi Jeno e Jaemin, você não estava perto em um raio de cem metros.”

 

“Admito que conseguiram me enganar com uma facilidade maior do que eu gostaria”, Renjun concordou com um dar de ombros. “Mas não podem dizer que eu não tentei, ao menos. Eu estava mesmo considerando, se é indelicado, ir embora de uma festa após apenas uma hora.”

 

“Você não vai a uma festa há muito tempo mesmo”, Donghyuck riu. “As pessoas responsáveis por essa festa nem mesmo se recordam mais de que estão pagando por tudo isso aqui, que dirá se importar há quanto tempo estamos aqui ou não.”

 

“Eu deveria levar isso como a minha deixa para ir embora?”, Renjun brincou.

 

“Eu pensei estar sendo boa companhia o suficiente para mantê-lo por perto”, Donghyuck devolveu.

 

Renjun não era bobo. Vivera por mil anos, é claro que aprendeu uma ou outra coisa a respeito dos humanos e conseguia reconhecer um flerte quando estava de frente a um. Donghyuck permanecia encostado à bancada às suas costas, a postura relaxada e descontraída enquanto mantinha um sorriso frouxo em seu rosto sem tirar os olhos de si. Renjun precisava admitir que se sentira até mesmo um pouco lisonjeado pelo olhar contínuo porque há muito tempo alguém não o olhava dessa maneira.

 

E, além do mais, Donghyuck era mesmo muito bonito. Não faria mal algum receber alguns flertes, mesmo que não tivesse qualquer intenção de levar aquilo adiante. Ele ainda era um humano e Renjun não tinha certeza se ainda sabia lidar com um sem que tivesse seus caninos encravados em seus pescoços.

 

“Devo dizer que sim”, Renjun acabou por concordar. “De maneira surpreendente, eu diria.”

 

O sorriso no rosto de Donghyuck se expandiu, tomando parte de seu rosto e deixando seus olhos menores, pressionados pelas bochechas. Renjun conteve o suspiro em sua garganta; o homem à sua frente conseguia ir de muito sensual ao extremamente fofo em questão de segundos e isso não parecia seguro.

 

“Fico feliz em saber que sou útil”, Donghyuck parafraseou sua resposta, fazendo com que Renjun risse. “Acho que eu não conseguiria me aproximar de você assim na faculdade. Você parece ainda mais inatingível pelos corredores, como se nem mesmo visse as outras pessoas dividindo espaço com você.”

 

Renjun estava bem ciente dessa característica que possuía, mas era derivado da necessidade de se fechar aos estímulos externos antes que seus sentidos o sobrecarregassem. Jeno e Jaemin lidavam com isso de maneira mais fácil, expondo a si mesmos a multidões como a que agora enfrentava nessa festa, mas Renjun tinha um ritmo mais devagar, sendo o menos acostumado entre os três a mudanças tão repentinas.

 

“A distração é um dos meus defeitos”, Renjun ponderou. “Mas tenho um senso de dever como qualidade, o que me recorda de que eu derramei um copo inteiro de nem mesmo sei o que em você. Se houver uma maneira que posso compensá-lo, você pode me dizer a qualquer hora.”

 

O sorriso de Donghyuck se transformou em algo regado a malícia, os lábios brilhantes sob a luz artificial, molhados pela bebida que havia acabado de bebericar. Renjun aguardou, olhando-o com a mesma atenção que estava recebendo; percebera que era mesmo muito difícil desligar seus olhos do homem à sua frente, mesmo que tentasse.

 

“Você poderia me levar para sair como um meio de compensação”, Donghyuck propôs. “Eu não iria me opor.”

 

Renjun se surpreendeu um pouco pela proposta, embora algo lhe dissesse que não deveria. Donghyuck pertencia a uma era completamente diferente da sua onde provavelmente era mais aceitável que falasse de maneira tão direta. O fato de Renjun não estar acostumado a esse tipo de coisa era um problema seu, por ainda estar preso à costumes de mil anos antes. Donghyuck, por sua vez, continuava a encará-lo à espera de sua resposta, nem mesmo seu silêncio se prolongando sendo capaz de tirar a confiança do rapaz.

 

Era, sim, um pouco mais direto do que estava acostumado, mas Donghyuck era uma boa companhia. Era divertido e engraçado, e flertava consigo como se fosse a coisa mais fácil de todas. Jeno e Jaemin já o tinham alertado de como era difícil alcançá-lo e os últimos minutos conversando com Donghyuck... Foram os minutos mais fáceis em muitos séculos, uma vez que só se sentia confortável de fato com seus companheiros.

 

Por essa razão, finalmente devolveu o sorriso que Donghyuck mantinha no rosto.

 

“Por que não?”, Renjun respondeu. “Aposto que conseguimos encontrar um lugar menos... Barulhento.”

 

Donghyuck riu. “É, esse com certeza não é seu ambiente de escolha”, deu de ombros. Em seguida, apanhou um guardanapo qualquer jogado sob a bancada, roubando a caneta que segurava o cabelo de uma garota próxima a eles, nem mesmo se importando com a reprimenda que recebeu. Anotou alguma coisa no guardanapo antes de estendê-lo a Renjun. “Esse é o meu número. Me liga.”

 

Renjun olhou para o papel em suas mãos, o conjunto que oito números formavam e a promessa implícita que carregavam. Olhou de volta para Donghyuck, sorrindo também ao concordar com um aceno discreto. Não estava mesmo acostumado a esse tipo de coisa e quem sabe se envolver com um humano não era a decisão mais acertada — vide o que aconteceu com Jeno e Jaemin —, mas, naquele momento, Renjun escolheu não dar ouvidos à voz da razão que ecoava em sua cabeça.

 

Lee Donghyuck era bonito e divertido, tinha um sorriso travesso e olhos tão brilhantes quanto o Sol. Não havia mal em um encontro como um pedido de desculpas.

 

Se enturmar não era o que seus amigos esperavam de si?

 

X

 

“Me fala de novo pra eu ver se consigo acreditar.”

 

Renjun franziu o cenho para a resposta que recebeu de Jeno após contar como foi sua noite na festa depois de ser deixado sozinho pelos amigos. O mais novo nem mesmo teve a decência de se fingir de culpado quando Renjun jogou em sua cara a promessa que quebrou tão descaradamente e, ainda assim, ainda se achava no direito de zombar de si só porque havia feito algo fora do comum.

 

Jaemin ocupava o lugar ao lado do namorado, parecendo tão desacreditado quanto ele. Renjun anotou mentalmente que seria melhor se arranjasse novos amigos porque os seus certamente não estavam confiando em si como deveriam, principalmente porque era mais velho do que ambos e lhe deviam, ao menos, respeito.

 

“O que tem de tão incomum assim?”, Renjun devolveu, na defensiva. “Ele me passou o número dele depois que ficamos conversando um pouco, coisa que nenhum de vocês se importou em fazer.”

 

“Você está se atentando aos detalhes errados, Injun”, Jaemin deu de ombros, “você sobreviveu muito bem sem a nossa companhia à sua primeira festa universitária. Agora, o que é mais surpreendente é você ter deixado um humano se aproximar tanto assim.”

 

Para falar a verdade, Renjun sabia que os amigos tinham um ponto. Não era de seu feitio confiar em humanos tão facilmente, principalmente quando tão jovens e tão voláteis quanto Lee Donghyuck, mas havia alguma coisa naquele rapaz que lhe atraía a atenção. Não sabia dizer exatamente — se o sorriso travesso, se os olhos brilhantes, se a postura despreocupada —, mas sabia que estava interessado o suficiente para descobrir.

 

O que o levava ao grande problema que tomou sua mente pelo fim de semana após a festa: deveria mesmo ligar para Donghyuck? Até onde essa seria uma decisão acertada?

 

Não conseguia deixar de lado a voz melodiosa atrelada ao sorriso fácil quando Donghyuck disse “me liga” e isso estava começando a deixá-lo ansioso. Imaginou que falar com seus amigos traria a resposta que até então não havia encontrado porque ambos estavam mais familiarizados com humanos, e com Donghyuck principalmente, há mais tempo do que ele. Pelo visto, com os sorrisos zombeteiros e o brilho de curiosidade no olhar, viera ao lugar errado se buscava por qualquer tipo de consolo.

 

“Escuta”, Jeno voltou a falar após algum tempo em que Renjun permaneceu contemplativo. “O Donghyuck estuda comigo, nós até que podemos ser chamados de amigos. Ele me perguntou algumas vezes sobre você porque já nos viu juntos também e não demorou para perceber que se aproximar de você é a mesma coisa que enfrentar um calvário. Se ele passou o número dele para você, é porque está mesmo interessado e disposto a enfrentar essas tuas muralhas.”

 

“Me diz que você ao menos mandou uma mensagem para ele, Renjun”, Jaemin pediu, olhando-o como se a resposta que esperava ouvir fosse extremamente improvável. “Jeno e eu até mesmo te ensinamos como usar esse celular alguns anos atrás!”

 

“Pode fazer o favor de parar de me tratar como se eu não soubesse de nada do novo mundo?”, Renjun ralhou com o mais novo, olhando-o com cenho franzido. Sabia que era apenas uma piada, mas não sentia que vivia o momento mais adequado para uma. “Eu não mandei nenhuma mensagem. Não sei bem se... Se seria adequado? Quer dizer, ele é um humano. Pode ser o seu melhor amigo, o que quer que seja, Jeno, mas humano.”

 

Um raio de discernimento passou pelos olhos de Lee Jeno, como se finalmente tivesse entendido o que tanto assombrava seu criador. Renjun não sabia se esse era um bom sentimento ou não, mas permaneceu em silêncio aguardando o que quer que Jeno tivesse para ser dito.

 

“Você está desse jeito porque acredita que Haechan vai surtar se descobrir sobre a verdade?”, Jeno perguntou, só para garantir. Renjun o olhou como se tivesse acabado de dizer que a Terra era redonda. “Se esse é o seu medo, posso tranquilizá-lo em dizer que Donghyuck tem uma das mentes mais abertas que conheci desde que a humanidade descobriu sobre a gente. Ele não vai se importar com isso, até mesmo sabe de um ou outro vampiro pelo campus.”

 

Renjun o olhou alarmado; essa era uma informação nova e que Jeno não havia se preocupado em compartilhar consigo antes, como se não fosse importante. “Ele sabe sobre você?”

 

“Não, não sabe”, Jeno deu de ombros. “Eu sei que, ao mínimo indício de que alguém desconfie sobre a gente, você faz as malas e nos arrasta para o outro lado do mundo. Jaemin e eu somos bem discretos quanto a isso para evitarmos mudanças repentinas, nós até mesmo aprendemos a fingir que estamos com sono em momentos oportunos.”

 

Para alguém que não dormia há mais de meio milênio, aprender o suficiente para soar convincente aos humanos com quem conviviam era uma habilidade a ser elogiada. Renjun se sentiu mais aliviado, um pouco culpado por seu medo de ser descoberto e hostilizado causar tanto incômodo em seus amigos. Jeno e Jaemin o acompanhariam até o fim do mundo, se necessário, mas isso não queria dizer que ficavam felizes com isso e Renjun não gostava de vê-los infelizes.

 

Ainda que não fossem as ajudas mais úteis em momentos de desespero, Renjun sabia reconhecer as amizades que havia formado — não podia negar que a companhia dos dois já o tinha salvado da solidão em muitas ocasiões.

 

Não poderia negar também que ouvir isso de Jeno havia retirado um peso de seus ombros. Seu maior receio em entrar em contato com Donghyuck era perceber que o humano poderia ser intolerante quanto a sua espécie, mesmo que não fizesse mal propositalmente a ninguém há muitos séculos. Imaginou que deveria estar acostumado a isso, no entanto; a parcela mais jovem da sociedade estava aceitando-os muito mais fácil do que os mais antigos e mais apegados aos mitos que cercavam sua espécie.

 

Olhou para o celular em cima da mesa do refeitório, local onde estavam desde o término das aulas da manhã e onde poderiam conversar um pouco sem que houvesse uma multidão ao seu redor. Deveria, então, mandar uma mensagem ao humano? Donghyuck ainda estaria interessado mesmo depois de sumir por um fim de semana? Como era mesmo que Jaemin chamava isso, ghosting?

 

Seus devaneios interiores foram interrompidos por um cutucar de Jeno, indicando com o queixo a entrada do refeitório. Aparentemente, não seria necessário que procurasse por Donghyuck porque ele o tinha encontrado primeiro, ainda que seus olhos não tivessem se cruzado pelo imenso salão. Olhou mais uma vez para o tampo da mesa, decidido a evitar aquele contato enquanto fosse possível. Era pedir demais que passasse por completo despercebido.

 

“Parece que ele te achou”, Jaemin comentou baixinho, como se estivesse contendo o riso em sua garganta. “Será que não deveríamos sair, Nono? Dar um pouco de privacidade ao casal.”

 

“Foi o sumiço de vocês que deu início a tudo isso, para início de conversa”, Renjun retorquiu.

 

“E, claro, aceitamos os agradecimentos mais tarde”, Jeno piscou. “Vem, Nana, tenho certeza de que Renjun pode nos contar tudo depois.”

 

“Vocês são desprezíveis”, Renjun sibilou, ciente que não poderia falar mais alto conforme os amigos se afastaram, mas o suficiente para que o ouvissem. “Eu deveria ter deixado você agonizando, Lee Jeno.”

 

“E perder a oportunidade de me ter como amigo?”, Jeno devolveu a distância, seu riso ecoando pelo salão. “Você sentiria muito a minha falta, Injun.”

 

E a pior parte é que ele estava certo; Renjun realmente sentiria muito sua falta.

 

“Finalmente te encontrei”, a voz melodiosa de Donghyuck se fez presente às suas costas após ser deixado sozinho pelos amigos. “Se eu te conhecesse um pouco melhor, diria que estava fugindo de mim.”

 

Bingo, Renjun pensou. Contudo, deu de ombros, indicando o banco à sua frente para que Donghyuck se sentasse. “Não é nada disso”, contornou a situação ao dizer. “Eu só... Estive um pouco ocupado pela manhã, não tive tempo para procurar por você. Nem percebi que estava me procurando.”

 

“Esteve ocupado durante o final de semana também?”, Donghyuck perguntou, apoiando o rosto em sua mão, o cotovelo apoiado contra a mesa. “Você disse que ia me ligar, Renjun. Estou decepcionado.”

 

Para se ater aos fatos de verdade, Renjun não havia dito, apenas olhado bobamente para o rapaz à frente enquanto assimilava a ideia de que ganhara o telefone de alguém, algo que não acontecera mesmo entre sua espécie. Fora Donghyuck quem disse para que ligasse e, ainda que não o tivesse feito, não era como se Renjun o tivesse prometido alguma coisa. Contudo, o biquinho nos lábios alheios quase fazia com que se sentisse culpado por não o ter feito.

 

“Culpado”, Renjun riu baixinho, um pouco envergonhado. “Eu ia, de verdade. Só que eu me distraí com algumas coisas que eu fiquei... Pensando a respeito.”

 

Donghyuck inclinou a cabeça para o lado discretamente, olhando-o com curiosidade. Não era como se Renjun pudesse explicar com todos os detalhes sobre o que estivera pensando, a menos que desejasse fazer com que Jeno e Jaemin reclamassem consigo pela próxima década pela mudança repentina dos três, mas o olhar inquisitório que recebeu mesclado à curiosidade quase fazia Renjun desejar que pudesse.

 

Percebeu, não muito tempo depois, que Lee Donghyuck exercia certa influência sobre si, deixando-o desejoso em fazer coisas que normalmente não teria qualquer importância, e Renjun imaginou se isso não seria... Perigoso. Lee Donghyuck era apenas um humano e Renjun estava ciente de que estava acima dele na cadeia alimentar, mas sentia-se exposto e vulnerável todas as vezes em que era alvo daquele olhar contínuo e esperto.

 

“E no que você pode estar pensando tanto sobre um encontro?”, Donghyuck perguntou.

 

Um encontro, ele disse, e Renjun nem mesmo havia imaginado dessa forma. Imaginou que Donghyuck compareceria graças aos flertes trocados e pelo desejo de compensação, é claro, mas não que o rapaz poderia considerar esse encontro como algo romântico. A fala o pegou de surpresa e tinha certeza de que Donghyuck havia notado, principalmente pelo sorrisinho malicioso que se desenhou em seu rosto em seguida.

 

“Estive pensando... No lugar, é claro”, Renjun pigarreou, recuperando sua compostura. Por Deus, era um vampiro com mais de mil anos de idade, não era tempo para que se assemelhasse a algum colegial em sua primeira aventura amorosa. Bom, embora não deixasse de ser. “O que acha de irmos à cafeteria aqui perto? Tem uma estrutura interessante e ouvi falar muito bem sobre o cardápio deles.”

 

O cardápio que não poderia experimentar, mas Haechan não precisava saber disso; estava pensando unicamente no conforto do humano em proporcionar-lhe uma boa experiência consigo. O rosto de Donghyuck se iluminou com a resposta, animado por finalmente estarem saindo do mesmo lugar. Renjun também deu um sorrisinho, feliz consigo mesmo por ter feito um avanço decente e que não faria com que seus amigos zombassem de si.

 

“Esse é o seu celular?”, Donghyuck perguntou em seguida, apontando para o aparelho deixado à mesa. Renjun acompanhou com olhar, acenando positivamente. Donghyuck o apanhou logo após ganhar a confirmação, apontando-o para o rosto de Renjun para que conseguisse desbloqueá-lo. O vampiro acompanhou a sequência de acontecimentos ainda um pouco atônito porque o humano nem mesmo indicou o que estava fazendo com seu celular. Para sua sorte, contudo, não havia nada ali que pudesse incriminá-lo.

 

Donghyuck sorriu mais uma vez, mais aberto dessa vez, deixando o celular de volta à mesa e bloqueado. Renjun ergueu o olhar até o humano, questionando-o em silêncio o que tinha acabado de acontecer.

 

“Mandei uma mensagem para mim mesmo para que eu também tenha o seu número”, Donghyuck explicou. “Dessa vez, sou eu quem vai te ligar, gracinha, só para ter certeza de que você não vai fugir.”

 

Renjun riu por puro descrédito, como se não pudesse acreditar na audácia do humano. O rapaz manteve o rosto erguido e confiante, o sorriso travesso voltando a fazer moradia em seu rosto e recordando Renjun do porquê de estar seguindo em frente com isso. Donghyuck significava muito perigo, caso estivesse sendo um pouco descuidado, mas também significava uma emoção que há muito tempo não sentia.

 

Não demorou a perceber que era o efeito da adrenalina, como se estivesse ansioso em descobrir até que ponto Donghyuck seria capaz de ir consigo.

 

“Vamos ter que esperar para ver, não é?”, Renjun comentou.

 

“Ah, você não fugiria de mim”, Donghyuck comentou, inclinando-se sobre a mesa para se aproximar do outro. Em um tom mais baixo, mais melodioso do que antes, completou: “Sou uma gracinha demais para que você perca essa chance.”

 

Donghyuck se afastou em seguida, levantando-se da mesa e se despedindo, alegando que tinha aula em pouco tempo. Assistiu-o se afastar por completo antes de apanhar seu celular, procurando pela mensagem que Donghyuck tinha acabado de enviar. Um riso baixo escapou por seus lábios ao encontrar o conteúdo do bilhete deixado.

 

“Você não vai escapar de mim tão fácil quanto está imaginando, Renjunnie~”

 

Leu e releu a mensagem, sem conseguir deixar de pensar em como Donghyuck era mesmo peculiar. Ele pouco sabia a seu respeito, mas parecia disposto a seguir adiante como se mergulhar no desconhecido não lhe fosse uma tarefa tão incomum assim, como se já estivesse habituado. Talvez ele estivesse mesmo. Renjun conseguia ver em Donghyuck o espírito de aventura que um dia também o dominou quando o mundo era tão grande e ainda havia tanto a ser visto.

 

O mundo continuava a ser muito grande, mas Renjun agora carregava receios em demasia. Quem sabe fosse a hora de deixá-los de lado só um pouquinho e aproveitar aquilo que a vida estava colocando à sua frente. Viveu por tantos séculos com a própria companhia, por vezes invejando o companheirismo demonstrado entre Jeno e Jaemin que, quem sabe, essa fosse a maneira do destino lhe entregar um pouco daquilo que ansiava nos demais.

 

A vida que lhe fora roubada, a companhia que nunca estivera disponível.

 

Olhou mais uma vez para seu celular, reconhecendo a foto que apareceu no aplicativo de mensagens, indicando que Donghyuck havia salvado seu número. Olhou bem para o sorriso que o olhava de volta da tela do aparelho e sorriu também, bloqueando-o em seguida e se levantando para seguir para suas aulas.

 

Estava disposto a não mais fugir, movido pela curiosidade que o preenchia sempre que o rosto de Donghyuck voltava à sua mente, sedento por conhecer um pouco mais daquele humano.

 

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Renjun não diria que estava nervoso.

 

Em todos seus anos de vida, já tivera um encontro ou outro com alguns outros vampiros com quem já cruzou caminho por aí. Nada muito sério, uma vez que todos estavam cientes que não poderiam durar muito caso não estivessem dispostos a largar tudo pelo outro e Renjun nunca encontrou alguém por quem valesse a pena sequer pensar a respeito. De todo modo, algumas noites foram dispensadas na companhia de alguns dos vampiros mais interessantes que já conheceu e ele ainda guardava algumas memórias desses encontros.

 

Não sabia porque agora com Donghyuck soava diferente. Ele era apenas mais um humano, como todos os outros com quem convivia diariamente e como todos os outros que já passaram por seu caminho. Ainda assim, havia alguma coisa naqueles olhos, alguma coisa de magnetismo que fazia com que Renjun não conseguisse deixar de olhá-lo e isso soava... Perigoso.

 

Renjun não estava acostumado à necessidade de ser cauteloso frente aos humanos porque, para falar a verdade, não os deixava se aproximarem o suficiente para identificarem qualquer coisa em seu comportamento. Ao que todos sabiam, Renjun era apenas um estudante introspectivo e muito focado em sua vida acadêmica, por isso nunca sabiam a seu respeito quando não estava na faculdade.

 

Donghyuck já se provou capaz de identificar que isso não era totalmente verdade com alguns poucos minutos de conversa, alguns deles com uma música insuportavelmente alta que nem mesmo sabia como conseguiram conversar. Agora que tinham um encontro marcado, Renjun era incapaz de deixar pensar no quanto mais Donghyuck seria capaz de descobrir a seu respeito sem que se desse conta.

 

As palavras de Jeno voltaram a ecoar em sua cabeça, recordando-o de que Donghyuck era inofensivo e que, no máximo, precisaria fazer com que o humano lhe prometesse segredo. Quer dizer, seria capaz disso, certo? Não era como se também não estivesse curioso a respeito de Haechan e seria uma boa troca se pudesse conhecer um pouco a respeito do outro rapaz enquanto estivessem juntos. Nem mesmo sabia se teriam um próximo encontro, precisava aproveitar o que tinham.

 

Nem mesmo sabia se queria que tivessem um novo encontro.

 

Chegou à cafeteria no horário marcado, pontual como tivera tempo suficiente em vida para aprender a ser, mas não havia sinal de Haechan em nenhum lugar. Estranhou o atraso, mas resolveu apanhar uma mesa para os dois e pedir por um café, ainda que não tivesse interesse em bebê-lo, apenas para que não ficasse estranho ocupar uma mesa sem estar consumindo nada no local.

 

A garçonete que o atendeu era gentil e sorridente e Renjun se distraiu por alguns minutos com o modo como a garota brincava com o cabelo enquanto anotava seu pedido no celular que carregava. Um sorrisinho se desenhou no canto dos lábios, ciente do charme que exercia enquanto vampiro; era assim que costumava atrair suas vítimas quando elas eram necessárias, afinal de contas. Era bom saber que ainda não havia perdido o jeito de jogar.

 

Ficou sozinho em seguida, aguardando até que seu café chegasse. Donghyuck não havia mandado nenhuma mensagem indicando que se atrasaria por qualquer que fosse o motivo e Renjun sabia o suficiente sobre humanos para saber que, ao menos, significava o mínimo de consideração avisar sobre atrasos. Contudo, também conhecia muito pouco sobre Donghyuck; nem mesmo sabia se esse era um costume do rapaz ou não. Olhou para a conversa intocada por mais algum tempo, esperando por um digitando... que nunca chegou.

 

Seu café, contudo, chegou não muito depois e Renjun agradeceu à garçonete mais uma vez. A mulher se afastou, deixando-o sozinho e sem a necessidade de fingir estar consumindo algo; escolheu uma mesa escondida no salão repleto de outras mesas justamente para ter o conforto de não estar sob os holofotes e sentindo a necessidade constante de fingir ser só mais um humano.

 

Seu celular indicava que dez minutos tinham se passado do horário marcado com Donghyuck e foi a primeira vez que pensou se o rapaz não tinha se arrependido e nem mesmo enviara uma mensagem para desmarcar aquele encontro. Entretanto, antes que sua mente continuasse a procurar razões para que Donghyuck não aparecesse, Renjun ouviu a sineta à porta soando novamente, indicando um novo cliente.

 

Quando ergueu seu olhar, encontrou Donghyuck procurando-o parecendo um pouco ofegante, como se tivesse corrido até ali. Acenou timidamente para que o rapaz soubesse onde estava e viu o sorriso aliviado que surgiu em seu rosto quando o reconheceu um pouco distante de onde estava. Donghyuck fez o caminho até sua mesa, sentando-se de frente a si e respirando fundo em seguida.

 

“É um longo caminho da estação até aqui”, Donghyuck comentou com a respiração um pouco mais compassada. “Eu não tinha me dado conta de que era tão distante.”

 

“Desculpe por marcar em um local tão difícil de ser alcançado”, Renjun comentou, sem saber se aquilo era uma reclamação ou não.

 

Donghyuck deu de ombros com um riso despreocupado. “Eu tenho muitos problemas com horários, o Jeno pode dizer sobre todas as aulas que eu cheguei atrasado só porque perdi a hora fazendo alguma coisa em casa. Não é de se surpreender que eu tenha me atrasado para cá também, mesmo que eu tenha me preparado muito bem para causar uma boa impressão.”

 

Renjun ergueu uma sobrancelha, curioso. “E por que queria causar uma boa impressão?”, perguntou. “Não é a primeira vez que nos vemos.”

 

“Mas você não é exatamente a pessoa mais fácil de ser conquistada, não é?”, Donghyuck devolveu, com um brilho curioso no olhar. “Eu preciso melhorar meu jogo aqui se eu pretendo chegar a algum lugar.”

 

Donghyuck não tinha qualquer problema em expor seus desejos diretamente e Renjun ainda não havia se acostumado com isso, sentindo-se vulnerável todas as vezes em que se dava conta de que Haechan estava mesmo interessado nele. Engoliu em seco, oferecendo um novo sorrisinho como resposta, esperando que fosse suficiente para que o humano não notasse seu constrangimento.

 

Algo na maneira como Donghyuck sorria, agora recostado de maneira relaxada em sua cadeira, lhe dizia exatamente o contrário.

 

Por essa razão, escolheu manter sua atenção em outro ponto além de si mesmo, analisando Donghyuck pela primeira vez desde que o rapaz chegou. Ele estava bonito, como parecia ser impossível que não fosse, mas, ao mesmo tempo, parecia natural, como se tivesse feito pouco em si mesmo após acordar e correr até ali. Seu peito ainda subia e descia em uma velocidade inconstante, acostumando sua respiração ao ritmo normal novamente.

 

Renjun poderia se acostumar a analisá-lo dessa maneira em outros momentos também, foi o que se deu conta.

 

A garçonete de outrora voltou para atender Donghyuck dessa vez, que pediu por um pedaço de torta de limão e um cappuccino. Ele era todo sorrisos para a garota que foi incapaz de não devolver a cada um, seduzida pelo carisma que parecia emanar daquele homem. Renjun assistiu a cena até que a garota se afastasse, prometendo voltar o mais rápido possível; o que ela cumpriu, retornando pouco tempo depois para entregar o pedido de Donghyuck.

 

Sozinhos mais uma vez, Donghyuck cortou um pedaço de sua torta enquanto iniciava uma nova conversa sem olhá-lo diretamente:

 

“Então, você é amigo do Jeno”, Donghyuck iniciou. “Ele nunca nos introduziu antes, mesmo quando eu perguntei sobre você. Disse que não era muito a sua praia, que você gostava de ficar sozinho. E aí, de repente, você estava na festa mais badalada do semestre sozinho.”

 

“Jeno não estava errado sobre mim”, Renjun respondeu, “mas também sei reconhecer causas perdidas e lutar contra Jeno e Jaemin naquela sexta-feira com certeza era uma.”

 

“Sorte a minha, não é?”, Donghyuck brincou, voltando a olhá-lo. Renjun manteve sua atenção na maneira como a torta parecia se dissolver na boca do mais novo, como ele parecia estar aproveitando daquele momento. “Eu não sei se conseguiria ter te encontrado em outro lugar, sendo você tão recluso. E eu sempre quis te conhecer melhor, só de vê-lo pelo campus.”

 

Donghyuck o olhava firmemente agora, como se estivesse bem ciente do magnetismo que seus olhos representavam. Renjun buscou não se mostrar afetado, colocando um sorriso polido no rosto para respondê-lo. “Parece que essa é a sua chance, não é?”

 

“Melhor não a desperdiçar”, Donghyuck concordou. “E já que estamos aqui... Eu sei de um jeito bem interessante para conhecermos melhor um ao outro.”

 

“E qual seria?”, Renjun perguntou.

 

“Um jogo de perguntas e respostas”, Donghyuck sugeriu. “Você me faz uma pergunta, eu te faço outra. Vamos descobrir os segredos que guardamos aqui hoje.”

 

Renjun não tinha certeza se essa era uma boa proposta, mas não podia negar que a possibilidade de saber algo sobre Donghyuck que os demais não soubessem não era tentadora. Donghyuck parecia ser um grande livro aberto, mas deve ter alguma coisa que o humano também estivesse escondendo e quem sabe valesse a troca de segredos entre os dois.

 

“Tudo bem”, Renjun concordou. “Você começa.”

 

Donghyuck pareceu pensar por algum tempo, os olhos semicerrados enquanto o olhava. Bebericou de seu cappuccino em seguida, um sorriso se desenhando contra a borda da xícara como se tivesse tido a melhor ideia possível.

 

“Qual é a sua cor favorita?”

 

Renjun esperava por qualquer pergunta, até mesmo sobre sua verdadeira natureza, mas não algo que parecia tão mundano. Ainda assim, fazia sentido; eram pedaços pequenos que formavam sua personalidade e que ninguém perguntava em um primeiro momento porque não parecia ter tanta importância assim. O problema é que, para Renjun, tinha bastante importância.

 

“Verde”, respondeu. “Meus pais tinham uma grande horta nos fundos da casa, era uma imensidão verde para onde quer que eu olhasse. Não demorou para se tornar minha cor favorita.”

 

Donghyuck sorriu, assentindo para si mesmo como se sua explicação fizesse todo sentido. Para Renjun, fazia. O verde sempre o recordaria dos bons momentos com sua família, das risadas e do carinho, ainda que a horta também tenha sido o local onde os encontrou e onde teve seu destino alterado drasticamente. Mas não era tempo para que pensasse em algo do tipo, precisava fazer uma pergunta ao humano.

 

“Qual seu tipo de filme favorito?”

 

Donghyuck nem mesmo pensou a respeito. “Eu adoro filmes de ação”, respondeu. “O último que eu assisti foi Van Helsing, é um tanto antigo, mas valeu a pena o tempo que passei na frente do notebook.”

 

Renjun assentiu, engolindo em seco discretamente. Estavam caminhando por um caminho que não lhe era muito favorável, mesmo que Donghyuck não soubesse a respeito.

 

“Por que escolheu estudar Arquitetura?”, Donghyuck perguntou.

 

Essa também era uma pergunta fácil. “Eu sempre gostei de ver os diferentes estilos de arquitetura que temos no mundo”, explicou, “e como mudaram com o passar dos séculos, se adaptando aos costumes daquele momento. Me pareceu natural quando chegou o momento de escolher o que eu gostaria de fazer pelo resto da vida.”

 

Ainda que a vida não tenha exatamente um fim para mim, Renjun completou em silêncio.

 

“Combina com você”, Donghyuck deu de ombros. “Eu consigo te ver debruçado sobre aqueles livros antigos e discutindo sobre como não se fazem mais igrejas em estilo gótico como antigamente.”

 

O comentário tinha traços de zombaria, é claro que Renjun percebeu isso, mas riu em conjunto do mais novo porque era a maneira que Donghyuck possuía de tornar o ambiente descontraído. De toda forma, ele não estava mentindo; Renjun de fato gastava muito de seu tempo na biblioteca, imerso em diferentes tipos de livros.

 

“Qual sua comida favorita?”, Renjun perguntou. Há muito tempo que não podia experimentar o gosto de qualquer prato, então sua curiosidade estava especialmente aguçada.

 

“Eu adoro tortas”, Donghyuck riu como se fosse óbvio, levando mais uma garfada de sua torta de limão à boca. “Nunca é um horário ruim para comer uma. E você, desde quando é um vampiro?”

 

Renjun levou alguns segundos para processar a pergunta, era verdade. Chocado, olhou para Donghyuck como se pudesse ver muito além do rapaz à sua frente, que devolvia o olhar com tranquilidade e curiosidade. Abriu a boca e fechou-a em seguida diversas vezes, indeciso entre dizer a verdade ou contar alguma mentira para distraí-lo do que tinha perguntado. Quem sabe fosse só uma brincadeira; Donghyuck era conhecido por muitas delas.

 

“Você não tocou nesse café desde que eu cheguei, deve estar muito frio agora”, Donghyuck voltou a falar, indicando sua xícara intocada com o queixo. “Na festa, você também não bebeu do seu drinque e o copo que derramou em mim estava cheio o bastante para que nem o tivesse tocado. No refeitório, não havia uma bandeja sobre a mesa. Você nunca está comendo ou bebendo algo, Renjunnie.”

 

Donghyuck esticou as sílabas de seu nome ao chamá-lo, formando um biquinho em seus lábios. Renjun suspirou, sentindo-se encurralado; esse tempo todo, enquanto se sentia seguro em não estar chamando atenção dos humanos ao seu redor, tivera Donghyuck analisando cada passo seu à distância. Seu segredo mais profundo exposto em uma mesa de cafeteria como se não fosse nada demais por um humano de quem tão pouco sabia.

 

E que, ainda assim, sentiu-se impelido a confiar.

 

“Há mil anos, eu acho”, Renjun respondeu. “Depois de algum tempo, você deixa de contar.”

 

Ao menos, Donghyuck pareceu estar surpreso com sua resposta. Quem sabe os vampiros que conhecia não passassem de recém-criados, recém completos seus primeiros cem anos, e não estava acostumado a ver um vampiro milenar à sua frente. Renjun permaneceu em silêncio, estudando os próximos passos do humano. Tão rápido quanto a surpresa surgiu em seu rosto, Donghyuck voltou a rir mais descontraído.

 

“Você até que está bem conservado para um senhor de mil anos de idade”, brincou.

 

Renjun não sabia porquê, mas a reação de Donghyuck o deixou mais tranquilo do que esperava. O humano estava tratando como se todos os dias descobrisse que um colega de faculdade era uma criatura sobrenatural e tivesse uma piada na ponta da língua a ser feita. Ele continuava a manter a postura relaxada e tranquila, terminando de comer sua torta e restando apenas o cappuccino à mesa. O vampiro tornou a olhá-lo com um pouco de cautela.

 

“Você entende o que sou, não é?”, Renjun perguntou para ter certeza. Donghyuck deu de ombros, assentindo com a cabeça, como se não fosse nada demais. “E isso não assusta você?”

 

“Depende”, Haechan respondeu inclinando a cabeça levemente para o lado. “Se você não tem intenção de me matar ou me transformar em, sabe, um de vocês, eu aceitaria até ser a sua bolsa de sangue. Dizem que é... Afrodisíaco.”

 

Aquilo parecia completamente absurdo. De todas as situações em que Renjun se viu exposto em sua vida, todas as vezes em que quase foram descobertos ao decorrer dos últimos séculos, em nenhum momento um humano pareceu tão tranquilo à sua frente como agora. Ainda que estivessem sendo mais aceitos em sociedade nas últimas décadas, os humanos tinham, ao menos, o senso de preservação em manterem um pé atrás com sua espécie.

 

Donghyuck estava bem ali, à sua frente, oferecendo sua jugular para que bebessem em troca da confirmação de boatos que ouvira de outros doadores.

 

Ele era mesmo... Peculiar.

 

E conseguia sentir que estava aos poucos perdendo o juízo também porque não fora capaz de negar para si mesmo que a ideia de ter Donghyuck em seu colo, o pescoço exposto para seus caninos e entregue como se lhe confiasse a vida, era atrativa até demais. Com o que exatamente estava se metendo com aquele humano?

 

“Bom, você sempre pode tentar descobrir”, Renjun deu de ombros, tentando manter a mesma postura relaxada do outro. “A experiência é diferente para cada um, certo?”

 

“Isso é um convite?”, Donghyuck devolveu com malícia em cada pedacinho daquele sorriso, escorrendo por cada palavra.

 

Pela primeira vez desde que Lee Donghyuck cruzou seu caminho naquela festa, Renjun respondeu sem hesitar:

 

“Você pode encarar como um”, disse. “Sabe onde me encontrar.”

 

Donghyuck se reclinou mais uma vez, rindo para si mesmo e Renjun também riu baixinho apenas porque a situação parecia tão absurda que era difícil acreditar que era real. Jeno e Jaemin custariam a acreditar que não apenas havia exposto o segredo dos três a um humano, como também o convidara para ser sua presa.

 

E sobre como estava ansioso por isso.

 

X

 

Bom, Renjun não poderia dizer que não viu como isso ia acabar acontecendo.

 

Apesar de não estarem na mesma turma na faculdade — Donghyuck cursava Engenharia e não demorou a fazer piadas sobre como as áreas que escolheram cursar eram rivais —, Donghyuck não falhou em manter contato consigo através de mensagens de texto que chegavam a qualquer momento. Esse era o ponto chave de ter deixado Haechan ciente de sua natureza: ele não se importava se a mensagem chegaria às sete da noite ou às três da manhã, Renjun não estaria dormindo de qualquer maneira.

 

Não era como se isso o incomodasse. Conversar com Donghyuck se mostrou uma atividade bastante interessante porque o humano continuava a ser uma caixinha de surpresas mesmo através da tela de seu celular, principalmente quando o mais novo acreditava ser um bom momento para enviar fotos suas e esperar para saber o que Renjun tinha a dizer. Renjun não se orgulhava em dizer que havia criado uma pasta para guardar as fotos porque o costume de Haechan de enviá-las se tornou diário.

 

Aos poucos, aprendeu um pouco mais sobre aquele rapaz que lhe tirava o sono — se ainda o possuísse —, identificando seus traços de humor mesmo através de mensagens. Donghyuck era sagaz e descontraído, não se importava em dizer o que queria mesmo que isso fosse envergonhar Renjun porque, na verdade, esperava mesmo por essa reação. O vampiro não demorou a perceber que deixá-lo sem jeito era um dos objetivos de Donghyuck depois de ver como era capaz de fazer isso.

 

Os dias se passaram dessa maneira até que Jeno e Jaemin o encurralaram perguntando o que estava acontecendo que estava usando o celular mais do que de costume. Ainda não havia contado aos amigos sobre Donghyuck saber sobre eles, esperando o momento certo para fazê-lo, mas sabia que, se esperasse demais, eles acabariam descobrindo por conta própria. Por isso, uma semana após o encontro com o humano, Renjun contou tudo.

 

A reação dos dois não foi a que esperava. Jaemin começou a rir mesmo sob seu olhar inquisitório, sem se importar se estava rindo alto demais ou não; Jeno o olhava com um misto de confusão e um sorriso lutando para não se tornar uma gargalhada como a do namorado. Renjun sabia o porquê daquilo, é claro; fora ele o mais chato entre os três para que não descobrissem sobre a verdadeira natureza deles e, no final, fora seu comportamento que os entregou.

 

Esperava ao menos que dissessem qualquer coisa para aliviar a culpa em seus ombros, mas a recepção mais calorosa e descontraída que recebeu também era um indicativo de que seus amigos não estavam chateados consigo por ter exposto o segredo de todos. Afinal de contas, Jeno estudava com Donghyuck e Jaemin o via com frequência ao procurar pelo namorado, então sabiam bem em quem estavam confiando algo tão importante.

 

Renjun precisou explicar depois como o encontro acabou se tornando uma troca de mensagens rotineiras e até mesmo bloquear o aplicativo de mensagens para que Jaemin não pudesse espionar. A verdade é que nem mesmo ele tinha a resposta para essa pergunta ainda — por que Donghyuck era diferente dos outros humanos para si quando o conhecia há pouco menos de um mês? —, mas não estava aberto a conjecturas alheias.

 

O problema de Renjun começou quando seus amigos perceberam que Donghyuck já não era mais um desconhecido.

 

Era um aliado.

 

E foi dessa maneira que Renjun se viu mais uma vez impelido a comparecer a uma das festas da faculdade, dessa vez promovida pelos estudantes de Enfermagem e que prometiam uma festa à fantasia como ninguém jamais havia visto. Jaemin havia falado sobre como poderiam agir como vampiros de verdade por uma noite e Donghyuck riu dizendo o quanto aquilo era clichê.

 

“Mas você pode ir com uma capa, não é, Renjun?”, Donghyuck perguntou olhando para si pela primeira vez desde que o assunto se iniciou, no refeitório. “Você ficaria muito sexy.”

 

Renjun nem mesmo tinha intenção de ir a essa festa — e seus amigos sabiam que não o convenceriam tão fácil após quebrarem a promessa na primeira festa —, mas agora Donghyuck estava naquela equação e Renjun engoliu em seco ao olhá-lo para responder. O humano o encarava com expectativa, um sorrisinho buscando se formar em seu rosto como se já pudesse imaginá-lo como tinha dito e Renjun suspirou, dando de ombros.

 

Ele bem que tinha uma ou outra capa de cetim escondida em seu guarda-roupa de quando era moda usá-la; em qual século havia parado mesmo?

 

Seus amigos comemoraram a aceitação tão rápida e Donghyuck esboçou um sorrisinho convencido. Renjun anotou mentalmente que seria obrigado a parar de fazer os gostos de Donghyuck a menos que quisesse vê-lo tão convencido para cima de si quando aquele era um jogo que ambos podiam jogar.

 

No dia da comentada festa, Renjun encontrou Donghyuck vestido de pirata em frente à casa alugada onde a festa aconteceria e perdeu os amigos de vista assim que chegaram, ouvindo-os apenas desejar que tivesse uma boa festa. Não devolveu ao cumprimento — porque, para falar a verdade, Jeno e Jaemin teriam mesmo uma boa festa —, e focou sua atenção no humano que o encarava com atenção.

 

“Você veio mesmo com a capa”, Donghyuck observou, olhando-o de cima abaixo. “É bonita. Fica bem em você.”

 

“Costumavam me dizer o mesmo há alguns séculos”, Renjun brincou. “Pirata, hm?”

 

“O que posso fazer? O espírito livre e aventureiro mora em mim”, Donghyuck devolveu a brincadeira. “Além do mais, estou em uma missão importantíssima de saque.”

 

Renjun tinha certeza de que se arrependeria assim que a resposta o alcançasse. “E o que está tentando roubar?”

 

“Seu coração”, Donghyuck piscou. Renjun rolou os olhos para a brincadeira; também tivera tempo suficiente para aprender que o humor de Donghyuck podia ser bem infantil quando queria. “Vamos entrar! Tenho certeza de que devem ter alguma bebida que você queira segurar a noite inteira.”

 

Renjun o acompanhou até que estivessem no interior da casa, tão abarrotada de gente como a primeira festa que compareceu. A música alta ainda incomodava seus ouvidos, mas estava aprendendo a ignorá-la até que parecesse estar soando de dentro da sua cabeça, como Jeno o tinha aconselhado antes. Donghyuck o guiou pela mão até a cozinha, apanhando dois copos vermelhos de plástico para encher com a primeira garrafa que encontrou.

 

Renjun se deixou ser guiado, aceitando o copo estendido em sua direção quando Donghyuck virou para encará-lo. O humano bebericou de sua bebida, os lábios mais brilhantes agora que estavam molhados chamando sua atenção mais do que gostaria.

 

Donghyuck sabia que era um homem atraente e era óbvio que usaria disso a seu favor quando necessário.

 

“Sabe, tem uma coisa que eu queria muito saber sobre você e eu estava esperando o momento.. Oportuno para perguntar”, Donghyuck disse.

 

Renjun ergueu uma sobrancelha, curioso. “E o melhor momento é em uma casa abarrotada por outras pessoas?”

 

“Assim você não pode fugir”, Donghyuck respondeu com uma piscadela. “Eu quero mesmo descobrir como é a mordida de um vampiro. Você bem que poderia me morder para matar a minha curiosidade, não é?”

 

De início, Renjun nem acreditou ter ouvido certo. Donghyuck com certeza estava brincando consigo porque esse assunto já havia sido tema de suas conversas algumas vezes na última semana, com o humano reforçando sua curiosidade a cada momento. Contudo, não havia imaginado que ele seria ousado o suficiente para questioná-lo tão abertamente sobre suas intenções. E o que esperavam que Renjun respondesse? Que não?

 

Esse era um momento íntimo quando intencionado e não apenas como método de sobrevivência. Renjun não era capaz de negar a atração que Donghyuck exercia em seu corpo e, se esse era o desejo do humano, estava mais do que satisfeito em ajudá-lo a satisfazer sua curiosidade.

 

“Bom, nós só precisamos de um lugar mais... Tranquilo”, Renjun apontou. “Certamente nada como esse lugar.”

 

“Que ótimo que eu sou tão amigo do Taeil, o cara que é responsável por essa festa e ajudei com tanto cuidado a escolher essa casa”, Donghyuck comentou com um sorriso malicioso. “Vem comigo.”

 

Como das últimas vezes, Renjun nada fez além de seguir o humano através do mundo de pessoas reunidas naquela sala de estar. Donghyuck o conduziu escada acima, tendo o segundo andar uma calmaria que o térreo nem mesmo sonhava. A música ainda os alcançava ali, mas não o suficiente para que precisassem gritar um com outro para se fazer ouvido. O corredor à sua frente se estendia com diversas portas fechadas e Renjun tinha entendido o que Donghyuck tinha em mente.

 

Haechan não soltou sua mão enquanto o conduzia pelo corredor, com uma porta em mente. Ouviu alguns barulhos suspeitos em algumas delas pelas quais passaram, mas sua atenção estava completamente focada no humano à sua frente. Já conseguia sentir sua garganta secar, o cheiro de seu sangue chegando até suas narinas pela adrenalina que percorria o corpo de Donghyuck, fazendo com que seu coração batesse mais rápido. Renjun até mesmo já estava arrependido por ter sugerido um lugar tranquilo porque poderia mordê-lo ali mesmo.

 

Donghyuck tirou uma chave de dentro do bolso de sua camisa, abrindo a porta e levando Renjun consigo. Trancou-a novamente em seguida e Renjun riu baixinho ao perceber que tudo aquilo fora um plano do mais novo. Donghyuck sabia que ele aceitaria, sabia o que iria propor e, por isso, estava um passo à sua frente, reservando um quarto apenas para os dois. O humano não arriscaria perder sua chance apenas porque todos os quartos estavam ocupados, afinal de contas.

 

“Muito esperto”, Renjun elogiou.

 

“É o que me dizem”, Donghyuck deu de ombros, levando sua mão até o laço da capa de Renjun, segurando-o por ali enquanto caminhava em sua direção. A cada passo dado pelo humano para frente, Renjun dava um para trás, até que seus joelhos encontraram a cama. “E então? Tranquilo o suficiente?”

 

“É o bastante”, Renjun respondeu, levando suas mãos à cintura de Donghyuck, puxando-o para si com mais firmeza. Donghyuck arfou levemente, pego de surpresa, quando Renjun se sentou à cama e colocou-o em suas coxas, mas não demorou a se recuperar do susto e se ajeitar no colo de Renjun.

 

Donghyuck o encarou por breves segundos antes de se inclinar em sua direção e roubar-lhe um beijo. Renjun permitiu que o fizesse, o aperto na cintura alheia se tornando ainda mais firme, até que a marca de seus dedos permanecesse na pele bonita. Donghyuck gemeu contra seus lábios e Renjun sorriu, satisfeito pelo efeito que possuía no outro. Donghyuck poderia ser charmoso como o próprio diabo, mas aquilo fazia parte da natureza de Renjun.

 

Certamente era um jogo ao qual estava muito acostumado e não era tarde para que mostrasse ao humano o que sabia fazer.

 

Foi o humano quem se afastou primeiro, olhando para ele com um olhar surpreso e a respiração ofegante. Renjun sorriu de canto, orgulhoso; havia deixado que as cartas estivessem nas mãos de Donghyuck até agora e que o humano os conduzisse da maneira como gostaria, mas era gostoso saber que também poderia o ter na palma de sua mão, se assim quisesse.

 

Renjun se inclinou, buscando seus lábios mais uma vez enquanto suas mãos se ocupavam com os botões da camiseta branca de cetim que Donghyuck usava. O tecido era gostoso e macio contra seus dedos, fazendo com que se questionasse se a pele de Donghyuck também seria. Sentia o comichão na ponta de cada falange, ansioso por tocá-lo e se embriagar no calor que seu corpo emanava.

 

Donghyuck parecia inebriado com seus toques, quebrando o beijo apenas para que pudesse inclinar a cabeça para trás e expor um pouco mais de sua pele. A luz baixa fornecida no quarto reluzia contra sua pele, fazendo com que quase brilhasse, e Renjun passou a língua contra seus caninos, sentindo-os crescer a cada segundo que o encarava. Conseguia ver a jugular de Donghyuck, pulsando e bombeando sangue, e jamais estivera mais ansioso do que naquele momento.

 

O vampiro desceu o rosto esfregando seu nariz pela pele desnuda do outro rapaz, aspirando o cheiro gostoso que emanava do humano. Sua boca salivava e seus dentes começavam a incomodá-lo, raspando contra seu lábio inferior. Donghyuck respirava fundo e lentamente, a boca entreaberta e os olhos fechados; a perfeita imagem da entrega, como Renjun gostava de ver.

 

Havia algo que o vampirismo lhe proporcionava que servia como uma faca de dois gumes. No momento em que seus caninos cravassem no pescoço alheio, suas emoções estavam conectadas às daquela pessoa, como se fossem apenas um. Na maior parte das vezes, a única emoção que Renjun sentia nas pessoas que mordeu fora o medo e completo terror até que a vida se esvaísse. Em contrapartida, esperava que pudessem sentir seu remorso e o quanto desejava não precisar fazer aquilo com ninguém.

 

Com Donghyuck, contudo, estava curioso para saber o que sentiria ao mordê-lo.

 

“Pronto?”, Renjun sussurrou contra sua pele, raspando os dentes contra o pescoço sensível. Donghyuck tremeu em seu colo e pareceu ser resposta suficiente.

 

Cravou os dentes contra o pescoço alheio, imerso no mar de sensações que o sangue de Donghyuck lhe proporcionava. Sentia-o em sua boca, submergindo em uma bolha onde existiam apenas ele e Donghyuck e as emoções que conseguia sentir como se fossem as suas próprias.

 

E conseguia sentir naquele momento o quanto Donghyuck o queria, como se fosse o seu próprio desejo; Donghyuck lhe desejava na mesma proporção e fazia com que um peso saísse de suas costas. Ele não estava flertando consigo apenas por diversão, só porque o achava exótico e uma aventura a ser buscada, mas desejava-o por inteiro. E Renjun estava mais do que satisfeito em dar tudo que aquele rapaz queria de si.

 

O sangue de Donghyuck era o mais atrativo que provou em mil anos e estava ansioso em prová-lo mais vezes.

 

Quando se afastou, inconsciente de quanto tempo passou com o nariz rente ao pescoço alheio, Donghyuck estava mole em seus braços, imerso em sua própria bolha de prazer. Os doadores não mentiram ao falar que era um momento quase afrodisíaco e que o veneno de um vampiro poderia fazer loucuras contra o organismo humano. Era a maneira que possuíam de atraírem suas vítimas e impedi-las de fugirem até que fosse tarde demais.

 

O humano voltou a si depois de alguns segundos, junto do sorrisinho malicioso que já lhe era característico.

 

“Uau”, Donghyuck ofegou. “Isso foi mesmo... Intenso.”

 

“Correspondeu às suas expectativas?”, Renjun perguntou, travesso.

 

“Se eu tinha alguma, nem mesmo se compara ao que eu ganhei”, Donghyuck respondeu. “Eu certamente poderia me acostumar a isso... Mais vezes.”

 

Renjun percebeu o proposto à sua frente, sorrindo de igual maneira, descendo e subindo as mãos pelas laterais do corpo de Donghyuck. O tecido de cetim brincava entre seus dedos e o peito de Donghyuck ainda subia e descia, corrigindo sua respiração. Renjun também poderia se acostumar a essa visão porque não era nada má.

 

Era boa até demais, para falar a verdade.

 

“E se fizéssemos isso mais vezes?”, Renjun propôs. “Só você e eu. Você ganha essa experiência mais vezes, eu me alimento de você. Acho que ambos saímos ganhando.”

 

O sorriso de Donghyuck cresceu como se ele já esperasse ouvir isso e sua resposta veio na forma de um novo beijo, ambas as mãos segurando cada lado do rosto de Renjun como se ele pudesse fugir. Renjun devolveu o beijo na mesma intensidade, embebendo-se no cheiro de Donghyuck e em como aquele quarto parecia emanar calor, tal como o corpo acima do seu.

 

Nada mal, ele pensou. Isso com certeza pode ser muito interessante.


Notas Finais


E O PRIMEIRO CAPÍTULO QUE É O BACKGROUND DESSE RELACIONAMENTO, no próximo as coisas começam a esquentar e vamos ver o Renjun enlouquecendo aos poucos n. Por enquanto, espero que vocês tenham gostado porque esse Donghyuck é meu amor todinho!!

Qualquer coisa, to aí embaixo nos comentários esperando pra saber tudinho que vocês acharam, suas conjecturas sobre o futuro do nosso casalzinho e até quando o Renjun vai suportar a tentação n; para conversar comigo, to sempre no twitter como @iambyuntiful e para dúvidas, sugestões, críticas, reclamações ou só para gente bater papo sobre vampiros, to aqui: https://curiouscat.me/iambyuntiful <3

Lembrando que tenho um grupo no whatsapp para os meus leitores~ Se vocês quiserem fazer parte dos byunitos, é só me mandar uma MP ou uma DM no twitter! ;)

Até semana que vem, bonitinhos, e beijinhos~ <3


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