1. Spirit Fanfics >
  2. Cabeça de Vento >
  3. Kyungsonário

História Cabeça de Vento - Kyungsonário


Escrita por: Prolyxa

Notas do Autor


Yooo!
Cá está o capítulo na visão do Jongin. Olha, não saiu como eu esperava, mas gostei de escrevê-lo e no final, o resultado foi satisfatório! (bipolaridade me define) Além do que, é a primeira fanfic do Exo que termino assim, com êxito.
Vou deixar pra agradecer no final. Mais uma vez, kkk
E sei que pediram um limão nesse capítulo, um limão bem maneiro, mas decidi manter essa "pureza", sabe (eu eu sou péssima com limãos, gente).
Enfim, obrigada e boa leitura!
E tentem não morrer de diabetes lendo isso. O meu quase foi pro hell.

Capítulo 6 - Kyungsonário


O avião tremeu.

Esse tremor acabou me tirando do meu cochilo, e justamente na parte boa. Justamente quando a gente estava prestes a se beijar. Droga. O avião estava tremendo muito naquela noite. Turbulências irritantes. Como não conseguiria dormir novamente, busquei meu celular no bolso do jeans. Uma mensagem piscava.

Jongin-ah, 5 dias. E ainda estou bravo com você.

Abri um sorriso instantaneamente. Era por isso que estava voltando para Kyungsoo mais cedo. Ficar longe dele me deixava maluco. Eu sentia sua falta. Falta dos seus toques, da sua respiração vagarosa em meu pescoço e do seu corpo enlaçado ao meu no meio da noite. Falta dos seus beijos molhados e dos momentos que ficávamos de mãos dadas. Ah, como eu sentia falta do meu pequeno Kyungsoo.

Neste momento, aposto que ele está esparramado pelo sofá da sala com um livro à mão e enroladinho no cobertor xadrez. Uma xícara fumegante de chocolate quente na mesinha à frente e um saquinho de batatinhas picantes ao lado. Seu cabelo deve estar despenteado e uma barba rala cobrindo seu queixo. E é claro, ele deve estar numa parte muito interessante do livro então ele começa a ler mais rápido e dá aquela mordidinha marota nos lábios rosados e engole em seco... 

Droga, Kyungsoo, até longe me fazendo ficar assim, todo necessitado de você? Isso é insano. Sinto tanto a sua falta. Muito mesmo. Só mais algumas horas e eu estarei ao seu lado. Mordendo seus lábios. Desconcentrando você da sua leitura.

― Senhor, você deseja algo para ler? Beber? Comer? ― A voz da comissária de bordo interrompeu minha fantasia erótica. Notei um quê a mais na parte em que disse “comer”. Bobinha, se soubesse que a única coisa que eu queria comer está esparramado num sofá...

Neguei veemente lhe respondendo que não, não queria nada. Até tentei voltar a dormir e ter mais sonhos sujos com Kyungsoo, só que não consegui devido às turbulências. Tateei, então, a minha mochila que estava ao lado. Buscava fones de ouvido para me distrair com uma música. O que desisti de procurar ao me deparar com um livrinho preto de capa dura no fundo da bolsa. Sorri ao ler o nome na capa.

Kyungsonário.

Aquilo me trazia boas lembranças. Rapidamente, abri o livrinho e me deparei com a letra feia de morrer de um adolescente no ensino médio muito apaixonado. Por uns instantes eu até desisti da leitura, aquela letra era infernal, eu mal conseguia entender o que estava escrito. Contudo, insisti.

Foi nostálgico. 

Aquilo me fez lembrar o porquê de eu ter me apaixonado, depois amado e continuar amando Do Kyungsoo como se não houvesse amanhã. Ele era como um verbete num dicionário que precisava ser, a cada dia mais, entendido e procurado. Que sempre tinha novos significados. E a cada novo significado, meu coração se tornava mais seu.

ªªª

Nunca tinha procurado uma sequer palavra no dicionário.

Dicionário sempre foi algo obtuso para mim, um livrinho cheinho de estupidez e falta de clareza, totalmente confuso com todos aqueles verbetes cretinos que não explicavam droga alguma. Dicionário era um completo desperdício de papel na cara dura. Todas as palavras contidas nele eram repulsivas aos meus olhos e eu apostava minha vida que se eu procurasse por aí, encontraria mais pessoas que concordariam comigo. Eu odiava o livro num todo, sem mais.

Minha casa, por mais estranho que fosse, era dominada por uma ordem satânica desse livro. Minha irmã o usava constantemente nas pesquisas da faculdade. Minha irmã menor usava um pequeninho nas aulas de inglês. Minha avó tinha um em seu quarto que estava lá só para pegar pó. Minha mãe tinha vários espalhados pela casa e vez ou outra estava usando à procura de uma palavra que leu no jornal. Meu pai tinha alguns em seu escritório.

O único lugar da casa que se salvava era meu quarto. Ah, ali aquele livro não dominaria. O ar da sua graça não era bem-vindo ao santuário que guardava meu corpo às noites.

Um dia, porém, roubei um dos dicionários do escritório do meu pai. Foi o dia que entrei para o ensino médio. O dia que conheci Kyungsoo. A primeira coisa que procurei no livro foi a palavra Sentimento. Não sabia bem o que era aquilo, mas de um modo esquisito, eu sentia algo e não sabia o que era e pensei: “Hey, Jongin, procure o que é sentimento, assim talvez você descubra esse lance dentro de você”. Odiei-me por um longo tempo por ter procurado essa palavra naquela droga. Sentimento era, segundo o livrinho estúpido, ato ou efeito de sentir. Só isso.

Naquela noite, depois da escola, eu ateei fogo no livro no quintal de casa às escondidas. Meu coração adorou ver o papel crepitando na fogueira que fiz e não me movi dali até que visse o último pedaço de papelzinho queimando nas chamas infernais, amém.

No dia seguinte, depois da escola, roubei o dicionário da minha avó. Fui procurar Surreal. Não precisei atear fogo no livro porque gostei da resposta que me deu. Surreal era algo que transcendia a realidade, que é impressionável, que existe nos mundos dos sonhos, da imaginação. Relativo a algo contraditório.

Aquilo explicava muita coisa. Só achei que faltava uma coisa, então peguei um lápis e rabisquei no cantinho da folha onde a palavra estava o nome dele, Do Kyungsoo.

A partir disso, todo dia que chegava do colégio, tinha uma nova palavra para procurar. E isso me fazia cada dia mais dependente do estúpido livro. E a culpa era de Do Kyungsoo. Queimei o livro numa madrugada por raiva.

Aquele garoto me fazia sentir um bocado de coisas. Um turbilhão de coisas, na realidade, e só porque turbilhão é uma palavra mais chique. No meu primeiro dia de aula, no evento de boas-vindas no auditório do colégio, sentei-me ao seu lado. Eu estava nervoso e não parava de me remexer. Acabei falando com ele, fazendo uma pergunta que deveria ter sido respondida se ele fosse um pouco educado e estivesse disposto a ajudar um novato como eu ― meses mais tarde eu roubei um dos dicionários da minha mãe e procurei essa palavra,  educado, escrevi o nome do Kyungsoo do lado.

― Você sabe me dizer se aqui tem um clube de dança? ― perguntei. ― Ou algo relacionado às artes? Tipo cênica, pintura, essas coisas? É que passei a noite toda pensando se aqui teria e estou preocupado se não tiver algo assim.

E ele olhou para minha cara e não disse nada. Na-da. Na-di-nha. Então abaixou a cabeça e fingiu não me notar. Eu deveria ter ficado com raiva ou decepcionado, mas não. Fiquei olhando para ele. Era interessante o modo como seu cabelo escuro caía nos olhos ou como ele mordia os lábios, parecia estar tão nervoso quanto eu. Vendo Kyungsoo ali ― descobri seu nome e classe olhando no uniforme ―, algo brotou dentro de mim.  Foi estranho, mas eu senti algo. Por isso procurei por sentimentos no dicionário.

No dia seguinte àquele, no colégio, descobri que ele gostava muito de ler. Estava indo à biblioteca fazer o cadastro obrigatório quando o vi passeando pelo local com alguns livros nas mãos. Kyungsoo pegou um determinado livro e passou seus dedos por sua folha e então um sorriso lhe brotou nos lábios. Seu cabelo escuro brilhava com o faixo de luz que caía sobre si e sua pele branca era como a folha de um papel sem ser usada. Procurei por Surreal quando cheguei em casa.

E minha rotina se baseava em observar secretamente Do Kyungsoo. Virei um admirador, nome menos ofensivo e um tanto que romântico para stalker. O problema foi que eu estava me cansando daquilo. Tinha começado a pegar o mesmo ônibus que ele, tinha entrado para o clube de dança só para estar ao lado do clube de literatura. Tinha trombado com ele muitas vezes e o garoto não dizia uma palavrinha só e nem olhava para mim!

Imagina como eu estava! Uma mistura de sentimentos estranhos me cercava por meses e me consumia. Era ódio, carinho, raiva, admiração, fúria, afeto, apreço, aversão e aquilo me enlouquecia. Sempre que via Kyungsoo, a única cara que conseguia fazer era a de “estou pouco me lixando pra você” mesmo sabendo que ele nem ia perceber.

Estava irritado na aula de educação física e Sehun, meu melhor amigo, perguntou o que eu tinha comido de azedo no café da manhã para eu estar um chato insuportável.

― Comi a mesma coisa que você, aposto ― respondi. ― E você, por que está um pé no saco hoje?

Ele bufou.

― Meu irmão ― respondeu.

― Sério, Sehun, não acha que está muito grandinho para ficar com ciuminho do seu irmão? No fundamental era fofo e tudo mais, mas agora isso está virando doença  ― falei rindo. ― Afinal, o que aconteceu?

― Ele estava todo amigável pro colega de classe dele ― resmungou. ― Não desgrudou dele um minuto sequer essa última semana. É um porre.

― Aposto que ele se cansou de olhar pra essa sua cara aí ― provoquei. Recebi um chute na bunda como resposta e receberia outro se não me retratasse. ― Luhan hyung só quer fazer novas amizades!

― Mas eu não gosto daquele menino! Ele é tão chato! Mas como é que o hyung disse? Abre aspas, encantador e cheio de segredos, fecha aspas.

― Ui, olha só nosso Sehunnie raivosinho ― debochei. ― E quem é esse galante que conquistou seu irmão?

― O Do Kyungsoo ― Sehun cuspiu a resposta com ódio. ― Aquele mudinho sem graça.

As palavras de Sehun me corroeram e eu quis voltar a fita para ter certeza se tinha ouvido aquilo mesmo.

― Mudo? ― perguntei. ― Tipo, mudo de não falar nada?

― Não, não, Jongin. Ele fala sim ― Sehun respondeu irônico. ― Pelo rabo, eu aposto. É claro que não fala nada, né, seu idiota! Ele é mudo desde que nasceu!

Quando voltei para casa, procurei Mudez no dicionário e encontrei ausência de rumor, quietação, silêncio. Aquilo era Kyungsoo. Silêncio. Silêncio era o mundo dele. Senti-me mal. Não sabia disso e estava agindo como um idiota, mesmo que ele não notasse.

Naquela manhã, assim que avistei Kyungsoo no corredor, fiz questão de chamar sua atenção. Dei uma risada alta para o garoto que estava ao meu lado, aquilo atraiu seu olhar. Porém, assim que nossos olhos se chocaram, foi terrível.

Ele me olhou de tal maneira que chegou a doer. Era como se dissesse: “Menino estúpido e insuportável, veja minha cara de estou pouco me lixando pra você. Te odeio, só isso”.

O pior de tudo foi quando descobri o estranho interesse de Kyungsoo por uns garotos de sua classe. Às vezes ele ficava um tempão olhando para eles e eu via como estava entretido com tudo.

Sem querer, senti ódio por Kyungsoo por notar todo mundo, menos euzinho. Depois disso eu nunca mais olhei para ele como gostaria. E apesar de doer, fazia do mesmo jeito. Uma coisa ardia no meu peito, era enlouquecedor. Eu sentia vontade de bater a cabeça de Kyungsoo na parede e perguntar qual era o problema e por que ele não me notava!

Chegou a um ponto que um dia cheguei em casa do colégio muito transtornado e procurei, desesperado, por uma palavra no dicionário.

Era paixão. Um sentimento intenso que era capaz de alterar a capacidade de comportamento, razão, pensamento. Atração intensa. Adoração por alguma coisa em específico.

Aquela explicava todas as coisas. Explicava o porquê de eu querer em certos momentos mordiscar a pele do pescoço dele ou sugar seus lábios sem ao menos entender o que era aquilo. Explicava o fato de eu me sentir irado quando Kyungsoo dava mais atenção a outra pessoa. Explicava o fato de como eu queria estapear a cara dele e gritar para que me enxergasse.

Passei grande parte do tempo odiando o cara por quem estava perdidamente apaixonado. E tudo em silêncio, como o mundo de Kyungsoo.

ªªª

Nunca tinha beijado um garoto.

E então beijei Kyungsoo naquela noite depois que passeamos no parque de diversões. Era diferente de quando se beijava uma garota, muito diferente, e eu tinha beijado várias, tinha uma experiência no quesito beijos. A coisa é que o beijo que dei em Kyungsoo foi tão... puro. Foi tão calmo, tão lento e tão gostoso! Era como se fosse meu primeiro beijo.

Senti-me nervoso, apreensivo, assustado também. Imagina se Kyungsoo inventa de me bater? Ele era pequeno e tudo mais, mas tinha uma força muito assustadora. Sehun estava de prova naquele dia que inventou de jogar bola com ele.

Em casa, não consegui pregar os olhos por toda a noite. As lembranças vinham como num filme e passavam em minha cabeça uma, duas, três, quatro, cinco, seis, sete, oito e nove vezes. E eu gostava. Sempre percebia algo diferente como, por exemplo, Kyungsoo tremendo os lábios ou ficando gelado sob o meu toque.

E eu desejei do fundo da minha alma poder beijá-lo novamente no dia seguinte e repetir a dose. Queria conhecer Kyungsoo tão bem quanto ele mesmo.

E, apesar de ele ter me ignorado por todo um dia, acabou que no ponto de ônibus, inesperadamente, Kyungsoo se declarou para mim. Mais uma vez, senti-me nervoso, apreensivo e assustado. Ele gostava mesmo de mim? De verdade?

Seu coração dizia que sim. Toquei seu peito, senti seu pulsar frenético por minha causa. E o meu peito também ficava daquele jeito. Daquele modo por culpa de Kyungsoo.

Acho que começamos a namorar.

O namoro se dava em troca de mensagens tímidas ou falando de coisas aleatórias, depois umas conversas no colégio e voltarmos para casa juntos.

Jongin-ah diz: Você assistiu a série? O que achou?

D.Kyungsoo diz: Assisti sim, o começo, e é bem sangrento. Não sei se vou comer melancia novamente sem me lembrar daquilo. E eu amo melancia.  Não sei se vou continuar. Tenho medo que estraguem minha cadeia alimentar.

Jongin-ah diz: E que tal a gente assistir junto? Tipo, vou estar do teu lado caso fique com medo. A série é de terror, afinal.

D.Kyungsoo diz: Não estou com medo da série, Jongin. Só medo de perder o apetite.

Jongin-ah diz: Ahh... Tá bom, sei. Então vamos começar a assistir outra coisa. Que tal o filme “Noite no Cemitério: Filha renascida”?

D.Kyungsoo diz: O quê?

Jongin-ah diz: Nome legal, né? Ou você está com medinho?

 D.Kyungsoo diz: Kim Jongin, já disse que não tenho medo de nada!

Jongin-ah diz: Então... Que tal o filme novo que lançou do exorcista?

D.Kyungsoo diz: Deixa eu te perguntar uma coisa antes: por que você só quer que eu assista coisas de terror, hein, Jongin?

Jongin-ah diz: Quer mesmo saber?

D.Kyungsoo diz: Quero. Diz logo.

Jongin-ah diz: Porque quando você sentir medo, quero ser a única pessoa a estar por perto pra te proteger e consolar. Quando você não conseguir dormir, deve me ligar e eu ficar falando com você até pegar no sono. No colégio, quando eu perguntar a você se assistiu, vai me abraçar e pedir que nunca mais indique isso. Então vou te beijar e vai se esquecer de tudo. Mas parece que esse tipo de coisa não funciona com você. Desculpa.

D.Kyungsoo diz: Quer assistir comigo o novo filme do exorcista?

Estar com Kyungsoo era sempre uma coisa diferente. Era sempre descobrir um novo lado seu. Ele era como um dicionário, repleto de palavras que eu desconhecia e que gostava de descobrir seus significados. Todos os dias.

― Kim Jongin! ― chamou Sehun. ― Está pensando no seu namoradinho, é? Nem ouvindo o que eu tô falando você está!

― Foi mal ― respondi.

― Não sei por que pergunto, mas o que aconteceu pra estar com esse sorriso bobo na cara?

― Eu e o Kyungsoo ― falei baixinho, sentindo as bochechas quentes ―, a gente se beijou de língua e então eu disse umas coisas pra ele, sabe.

― Que coisas, Jongin?  Seja preciso na hora da fofoca.

― Kyungsoo está passando por um momento complicado com uns amigos e eu disse que estaria ao seu lado, que eu seria seu porto seguro. Daí a gente se beijou, quer dizer, ele me beijou. E de língua.

― Quem diria que o baixinho era santo do pau oco também. E daí, o que mais?

― Daí eu disse que amo ele.

Sehun riu.

― Oh, meu Deus, Jongin! Não acredito nisso, cara. Tem noção do que falou? Porque nossa!

― E ele disse que me ama também, um pouquinho. Aí nos beijamos de novo. De língua. Ah, Sehun, que beijo!

― Estou ficando com diabetes aqui. Para de contar que vou acabar morrendo.

A parte mais importante em estar com Kyungsoo foi que me tornei para ele sua Exceção Existencialista. E isso nos aproximou mais ainda porque, pela primeira vez em toda a minha vida, senti-me útil e necessário para alguém, e alguém que eu amava e que precisava da minha presença e carinho. Dos meus abraços e beijos, que precisava apenas ouvir minha voz e ouvir o pulsar do meu coração.

Kyungsoo estava envolvido com Baekhyun e Chanyeol e tinha muita coisa em jogo, como a amizade e o amor deles. Isso o fez ficar muito vulnerável, confuso, delicado.

Numa noite eu recebi uma mensagem dele.

Jongin, vem me encontrar. Rápido. Por favor. Preciso de você. No ponto de ônibus.

Aquilo me preocupou. Liguei imediatamente para ele.

― Kyungsoo, ouça a minha voz, ok? Estou chegando aí. Calma. Calma. Estou chegando.

Fui o caminho todo, mais que depressa, falando com ele por telefone. Eu ouvia sua respiração pesada e sabia que Kyungsoo se segurava para não chorar. Assim que cheguei e o vi no ponto de ônibus e ele correu para mim e me abraçou, eu soube naquele instante que o que sentia por Kyungsoo não era uma coisa que se acabaria um dia.

Então eu o abracei forte e deixei que ele chorasse em silêncio. Eu podia ouvi-lo dizer meu nome desesperado pela maneira que me abraçava e apenas tratei de consolá-lo com tudo o que tinha.

Naquela mesma noite, depois de levá-lo até sua casa, despedi-me dele com um beijo na testa e esperei que entrasse. Quando cheguei em casa, peguei um dicionário do escritório do meu pai e procurei por aquela palavra.

Eternidade.

Eu tinha dito que o amava mais cedo, e estranhamente eu sentia que o amava mais agora. Era possível amar uma pessoa um pouco mais do que se imaginava? Não sabia. Só sentia. E era forte. Meu coração parecia explodir em milhões de pedacinhos. Mas eu tinha certeza que, por mais medonho que soasse, eu poderia amá-lo por toda a nossa eternidade. Infinitamente.

Jongin-ah diz: Kyungsoo, eu te amo um pouco mais agora.

D.Kyungsoo diz: Numa escala de 0 a 10, o quanto é esse me amar um pouco mais?

Jongin-ah diz: Olha, a escala até foi para as cucuias quando fui medir.

D.Kyungsoo diz: kkkkkk. Tanto assim?

Jongin-ah diz: Um pequeno infinito define.

D.Kyungsoo diz: Jongin, não me faça querer beijá-lo de língua de novo.

Jongin-ah diz: Sou eu quem quer te beijar de língua, peste. Muito. E até não aguentar mais.

D.Kyungsoo diz: Então venha me beijar. Agora. Preciso de você.

ªªª

Quando Chanyeol morreu, uma pequena parte de Kyungsoo também morreu. Ele pode não ter percebido, mas eu percebi. Eu sentia tudo o que ele sentia.

Antes, Kyungsoo vivia sozinho. Não tinha companhia a não ser a dos seus pensamentos e dos livros com todas aquelas palavras infinitas. Ele começou, então, a dar atenção para aqueles garotos. Seu mundo, por mais que ele afirmasse ser vazio e solitário, foi preenchido aos poucos, à distância. E quando Chanyeol se foi, uma parte do seu mundo também se foi.

Naquela noite de inverno eu dormi em sua casa.

Kyungsoo se aconchegou em meu abraço e passou a noite em claro. Ficamos em silêncio. Não havia o que ser dito. Não havia o que ser discutido ou relembrado. Nem o que chorado. Kyungsoo mal tinha forças para chorar naquele instante. Só havia o que ser sentido. E eu senti uma parte dele morrendo. E ele sentia falta do amigo.

Jongin, pode passar mais essa noite comigo? , ele perguntou na noite seguinte. Tinha ficado todo o dia com Baekhyun e deveria estar um caco.

― Eu posso ficar todas as noites com você, Kyungsoo.

E foi aí que ele chorou. Chorou descontroladamente. Chorou sem misericórdia. As lágrimas escorriam de seus olhos em quantidades assustadoras. Senti seu coração apertado e dolorido. Perder Chanyeol foi terrível e Baekhyun também estava inconsolável, seus amigos queridos faziam seu coração doer. E o meu doía porque o dele doía.

Lembro-me que em muitas noites ele adormeceu em meu colo, ainda chorando. E que depois de um beijo sôfrego e todo molhado, Kyungsoo dormia mais tranquilo agarrado a mim.

Foi um inverno rigoroso. Um inverno que matou muitos sentimentos e os enterrou bem fundo.

Mas aí chegou a primavera e eles floresceram novamente. Inclusive um novo Kyungsoo. E eu o amei mais ainda.

ªªª

Quando ganhei uma bolsa numa academia de dança muito renomada fora do país, neguei. Não partiria nem que me pagassem todo o dinheiro do mundo ou dissessem que eu era o melhor dançarino de toda a humanidade. Eu já sabia que era. Não era nenhuma surpresa.

Neguei porque não queria ficar longe de Kyungsoo. E me lembro de que tivemos nossa primeira DR.

― Não, não e não! Não vou ficar longe de você! ― gritei.

Kyungsoo estava vermelho e passava as mãos no cabelo todo desesperado.

― Não entende, não é? Acha que é fácil?

Jongin, você tem que ir. Você ama dançar. CARALHO.

Era a primeira vez que ele falava/escrevia um palavrão e soube que Sehun influenciara muito, aquele diabo.

Soltei um suspiro e o fitei. Estávamos sentados na mesa da cozinha da casa dele e a sua avó fazia bolinho de chuvas para mim. Ela meio que me amava bastante e apoiava o nosso relacionamento. Uma velhinha muito legal.

― Amo dançar, você está certo, mas amo muito mais você, Kyungsoo.

Vi que ele corou. Ele corava bastante, eu causava essas reações nele. Rapidamente, Kyungsoo escreveu uma resposta no papel. Fui embora logo após ler.

Jongin, é o seu futuro. Acha que ficar comigo o tempo todo é o suficiente? Acha que vai lhe render alguma coisa útil? Não! Você precisa ir. Você precisa mostrar seu talento.

Bufei e fui embora.

Kyungsoo não entendia que eu o amava bastante e que isso bastava? Não! Ele era um burro! Uma mula, um jegue de olhos grandes e que fazia meu coração ficar moído só com o fato de pensar na hipótese de partir.

Não falei mais com ele depois disso por mais que fosse impossível e que me doesse. Evitei suas mensagens, suas ligações silenciosas e até Baekhyun.

― O Kyungsoo está inconsolável, Jongin! ― o nanico falou. ― Tem que ver, ele mal consegue prestar atenção nas aulas da faculdade pensando que vocês dois terminaram. Para de ignorá-lo ou vou te matar, garoto.

― Baek, me esquece, pelo amor de Deus. O único culpado em tudo é ele mesmo.

― Duas mulas, senhor! Olha só: Kyungsoo apenas quer ver você fazendo aquilo que gosta no futuro. É errado desejar isso? Além do mais, não é como se vocês fossem se separar.

― Mas vou estar longe dele ― gemi.

― É uma distância necessária. Vão descobrir que se amam mais. Então para de ser um bocó apaixonado e idiota.

Parei de ser um bocó apaixonado e fui vê-lo naquela mesma noite. A alegria que senti foi tanta que assim que Kyungsoo apareceu para abrir a porta com uma cara feia, o puxei num abraço e beijei sua boca desesperadamente. Ele se derreteu na hora.

― Eu senti sua falta ― murmurei.

Ele me empurrou em resposta e deu passagem para que eu entrasse. Segui Kyungsoo até a cozinha onde me sentei e esperei que ele fizesse algo, que escrevesse algo no bloquinho, que desse uma bronca, qualquer coisa! Mas ele só ficou me olhando. Bravo.

― Kyungsoo ― comecei.

É legal me ignorar, não é?

― Não é bem assim.

Sua anta. Não sabe o quanto eu te odeio agora.

― Numa escala de zero a dez, quanto me odeia?

DEZ. Dez vezes dez, Jongin. Te odeio!

― Eu também senti sua falta, Kyungsoo ― falei abrindo um sorriso.

Sentiu, é? Sei. Não pareceu! E só porque quero te ver formado. Por que não entende isso?

― Eu sei, Soo ― murmurei.

Então por que não vai?

― É porque tenho medo de ficar longe de você. É porque me sinto seguro, me sinto protegido ao seu lado ― confessei. ― Por isso.

Então eu vou com você. Largo tudo e vou com você, escreveu e pegou minha mão em seguida. Apertou.

Senti meus olhos lacrimejarem. Era claro que eu não faria isso, que ele abandonasse a faculdade justamente no último ano e me seguisse. Kyungsoo era importante para mim e assim como ele queria me fazer ter um futuro, eu queria que ele terminasse o dele.

― Não, Kyungsoo ― respondi. ― Você fica. Eu vou.

E eu fui.

Foram os cincos mais longos anos da minha vida. Lembro-me que ficava alternando entre Coréia e a academia estrangeira só para ficar com Kyungsoo. Lembro-me que quando eu não podia voltar ou me sentia um lixo na academia, gostava de ligar para ele e ouvir sua respiração. E inexplicavelmente, eu sabia que tudo o que falava para ele recebia uma resposta e eu sabia quais eram por mais que houvesse só o silêncio.

Kyungsoo uma vez até me escreveu perguntando o porquê de eu ligar e ficar ouvindo o vazio. Respondi numa ligação:

― Kyungsoo, eu só preciso ouvir o som da sua respiração e isso faz todo o meu medo passar.

Depois disso, meus telefonemas se tornaram constantes.

― Estou cansado, Kyungsoo.

Aguente só mais um pouco.

― Não sei se consigo. É tudo tão destruidor ― murmurei. ― E eu sinto tanto a sua falta.

Eu também, Jongin-ah. E você consegue, faça esse esforço por mim, por favor.

― Eu te amo, Kyungsoo.

Eu te amo também. Um pouco mais do que da outra vez.

― Chega perto de um pequeno infinito?

Chega perto de um grande, Jongin.

E esses anos se passaram e eu voltei para ele.

ªªª

Desembarquei depressa.

Não perdi tempo com o pessoal no aeroporto. Peguei um táxi e segui para casa. Tinha alguém precisando de uma surpresa.

No caminho eu me deixei descansar um pouco, coisa que não consegui fazer no avião. Estava compenetrado com o Kyungsonário e me divertindo ao relembrar do passado. Era inacreditável tudo aquilo. Eu e Kyungsoo tínhamos vivido tantas coisas juntos. E coisas que o faziam, eu sabia bem, me amar mais. Como, por exemplo, quando aprendi a língua de sinais.

Lembro-me que a primeira coisa que expressei a ele através da língua foi que eu o amava. Ele chorou o resto do dia não acreditando no que eu tinha feito.

Lembro-me da nossa primeira vez. Ah, aquilo foi hilário. Inventei de pedir ajuda para Sehun no que fazer, como agir e ele riu da minha cara e disse:

― Só deixar rolar. O resto vocês vão saber. É como um bebê que nasce e você joga ele numa piscina e o guri sabe nadar no fluxo.

E ele tinha razão. Naquela noite a coisa rolou muito bem e Kyungsoo sabia de coisas que eu não fazia ideia. No início foi estranho, estávamos com medo e tímidos devido à nudez, e depois tudo mudou. Mas foi bom. Muito bom. Tipo, bom pra cacete, como Sehun diria.

O táxi parou.

Saí e admirei minha casa. Fazia um tempinho que não a via já que meu trabalho exigia que estivesse entre longas viagens devido a concertos, apresentações e a academia que tomava conta. Antes, liguei para Kyungsoo.

― Oi ― murmurei. ― Cinco dias, hein?

Ele suspirou. Era como se dissesse: Não aguento mais.

― Ainda está bravo comigo?

Sim, é claro que estou.

― Posso me redimir. Juro que posso. Que tal abrir a janela?

As luzes da casa se ascenderam e um Kyungsoo apareceu na sacada de casa enrolado no cobertor xadrez. Pude jurar ver uma lágrima escorrer ali. Acenei para ele.

― Vai me deixar dormir no relento? Abre a porta, vai ― murmurei ao telefone.

Minutos depois, Kyungsoo desceu e abriu o portão para mim. Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele me puxou e me lascou um beijão. De língua. Ele estava com uma barba rala e gostei daquilo se esfregando em minha pele.

― Hey, Soo, vai querer fazer amor aqui no portão?

Ele se deu conta de onde estávamos.

― Estou perdoado? ― perguntei. ― Quer dizer, o que eu fiz pra você estar bravo?

Kyungsoo revirou os olhos e começou a mexer as mãos descontroladamente me explicando.

Ainda pergunta? Quem era a pessoa que falava com você enquanto estávamos no telefone, hein? Quem era esse tal de Kris?

― Ah, está bravo por isso?

Jongin, quem era ele?

― Ciúmes combina com você, Kyungsoo ― falei sorrindo. ― Olha como fica lindo.

Jongin.

Ri e o abracei.

― Um aluno, Kyungsoo.  Só um aluno. ― Beijei seu rosto e afaguei seus cabelos. Estavam grandes, precisando de um corte. ― Senti sua falta. Muito. E você, sentiu a minha? Me diz numa escala de zero a dez.

Não enjoa de perguntar isso?

― Não, não enjoo. Anda, diz.

Zero.

― Meu Deus, está querendo partir meu coração, Soo? Como assim zero? Justo quando ia sugerir que nós dois matássemos a saudade fazendo um amor gostoso... ― Deixei que minha voz morresse num sorriso. ― Você não sentiu mesmo a minha falta?

Não senti porque você estava aqui, no meu coração, comigo.

― Até perdi a reta com uma resposta dessas.

Mas acho a sugestão de um amor gostoso interessante.

― Oh, se você acha, só digo amém... Aliás, não disse ainda, mas acho que te amo um pouco mais do que medimos da outra vez.

Um grande infinito?

― Um universo, Kyungsoo. Já está no tamanho de um universo.

ªªª

Jongin-ah diz: Você é tão stalker, sabia? Vai pro inferno desse jeito, Kyungsoo. É pecado. Eu vi você lendo os lábios do Baekhyun só pra saber do que ele falava com aquele cara.

D.Kyungsoo diz: Foi por uma causa maior. E nossa, ainda bem que li os lábios. A conversa estava boa.

Jongin-ah diz: O que eles falaram?

D.Kyungsoo diz: Não quero te mandar pro inferno, Jongin. Você é muito santinho.

Jongin-ah diz: Kyungsoo. DIZ.

D.Kyungsoo diz: Você é muito jovem pra saber. É conversa de gente grande.

Jongin-ah diz: KYUNGSOO! FALA. Se já pecou, desembucha.

D.Kyungsoo diz: Kim Jongin, eu sou tudo, menos fofoqueiro.

Jongin-ah diz: Olha que você fica sem os seus beijos de língua.

D.Kyungsoo diz: Golpe baixo. Mas sobrevivo sem os beijos.

Jongin-ah diz: Vai ficar em abstinência? Como vai resistir a mim? A MIM, KYUNGSOO? Eu sou da cor do pecado! Sou delicioso!

D.Kyungsoo diz: Vou, porque eu disse, não sou fofoqueiro. kkkkkkk Sim, você é delicioso e dar cor do pecado. Agora tenho que ir tomar banho. Lavar meu corpo. Brincar um pouco com ele...Boa noite.

Jongin-ah diz: Afff. Lave-se direito. Boa noite.

Jongin-ah diz: BRINCAR?

Jongin-ah diz: KYUNGSOO!

Jongin-ah diz: PESTE.

Jongin-ah diz: Não me faça pecar agora! Kyungsoo! Você é um diabão, cara.

Jongin-ah diz: Faz pensando em mim.

Jongin-ah diz: MEU DEUS.

Jongin-ah diz: Vou pro inferno.

Jongin-ah diz: Kyungsoo!

D.Kyungsoo diz: Pensando em você neste momento. Banheiro.

Jongin-ah diz: Nossa, a gente vai pro inferno.

D.Kyungsoo diz: Tá esperando o que pra brincar e pensar em mim?

Jongin-ah diz: Sehun tem razão, você é um santinho de pau oco.

D.Kyungsoo diz: Pau duro*

Jongin-ah diz: AHHHHHHHHHHHHHHHH, QUE FOI ISSO. MORTO. KYUNGSOO. Eu quero dormir à noite! Kyungsoo! KYUNGSOO...” 

 


Notas Finais


E aí, o que acharam? Vivos, mas diabéticos? Eu confesso, me superei na melosidade e isso só mostra que estou precisando de um oppaKKKK
Nada a declarar desse final, kkkkk. Kyungsoo é tudo... cof.
Enfim, agradeço por ler essa fanfic. Agradeço por favoritar, comentar e me dizer o que achou. Agradeço também às pessoas que leram em silêncio, eu costumo ler em silêncio também, kkkk. De todos os modos, um grande obrigada mesmo!
Vou responder os comentários do capítulo anterior, ok? Não se preocupe. Amo responder vocês.
Agora eu dou adeus aqui. E, talvez, a gente se veja numa outra fic!
Até o/
XoXo


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...