20
Mara
Acordo na manhã seguinte com os sons de mais uma briga entre João e Amanda. Esse drama já está me tirando do sério, principalmente porque a garota encanou na minha. Levanto, tomo um banho e me visto para o trabalho bem rápido, porque Clara me mandou uma mensagem dizendo que precisaria de mim hoje na escola. Disparo pela escada fazendo o máximo de barulho que posso para que calem a boca, e mesmo assim eles não percebem minha chegada.
— VOCÊ NÃO TINHA O DIREITO, AMANDA!— João berra, encarando-a com o rosto a um palmo de seu nariz. Ele está intimidando a garota, como faz com os bandidos com quem lida todos os dias. Acho que nunca o tinha visto ser tão rude fora da delegacia. Ele não precisa nem pôr as mãos em alguém para fazer a pessoa tremer. Fico alguns segundos só admirando aquele poder todo. Bonito. Sexy. Protetor. Por que eu fui embora, hein? Fui caçar o que em Londres, tendo isso tudo em casa? Enfiado bem debaixo do meu nariz.
— Eu sou uma pessoa livre, que pode fazer o que bem quiser — Amanda cospe, na defensiva. — Ela ia te beijar. Eu vi com meus próprios olhos. — Ela até parece um pouco culpada, mas é orgulhosa demais para admitir que errou. Acho que somos duas.
— Ficou maluca? — João pergunta, perdendo um pouco a postura durona. Ele sabe tão bem quanto eu que a biscate não imaginou aquela cena. Será que sabe mesmo?
— Ontem de manhã eu estive aqui, e vi vocês dois. Ela ia te beijar e você a afastou.
Precisa mesmo lembrar dessa parte?
— Não que eu não tenha ficado contente com o que você fez, mas eu não quero aquela garota aqui com você — Amanda impõe.
Ele demora algum tempo para responder e eu me pego mordendo o canto da boca, ansiosa. Vou ser despejada? Era só o que me faltava!
— Ela não ia me beijar. — Eu ia sim, Jei. Acho que eu ia. — Se fosse fazer isso, já teria feito nos trinta anos em que somos amigos, não acha? — Por que eu não fiz? Por quê? — Ou você pensa que a Mara decidiu se interessar por mim agora que nós namoramos, só para te irritar? — Será que foi?
— Eu não duvido. — E eu muito menos. Conheço a mim mesma o suficiente para saber que esse é bem o tipo de decisão ruim que eu tomaria.
— Não importa, Amanda. — Jota parece incrédulo e furioso. — Você foi longe demais! — Ele lhe dá as costas, passando as mãos pelo cabelo, antes de continuar. — Se você se sentiu ofendida, deveria ter entrado e conversado com a gente, não fugido para chorar para a sua mãe. Não deveria ter jogado na cara da Mara uma coisa que ela não estava preparada para ouvir. Você foi infantil e mesquinha, a magoou porque é insegura, e isso é completamente ridículo — A expressão dele é de nojo.
— Eu pensei que ela soubesse. A minha mãe não me pediu para guardar segredo — choraminga, dando a volta para se prostrar à sua frente.
— Ah, para — explode. — Você é tão limitada a ponto de não saber o que se deve ou não falar para as pessoas? — Ele está sendo cruel e, secretamente, estou adorando, mas acabo me sentindo culpada porque... Bom... a culpa foi mesmo minha, né?
— João, para! — eu me intrometo, porque não consigo controlar a boca, sempre enorme. — Foi bom ela ter me contado. Eu precisava saber — digo, para parar com a briga e fazê-los calar a boca. Se alguém disser que fui altruísta, nego até a morte. Na real eu nem fui. Eu só queria um refri mesmo.
— Ninguém chamou você nesta conversa — rebate a mal-agradecida.
— Bom dia, minha garota.
— Bom dia, Jei — digo e me volto para Amanda. — Já que vocês estavam falando de mim, acho que tenho todo o direito de opinar. Bom dia para você também — cuspo indo em busca do meu refrigerante matinal, e quem sabe de uma faca...
— Eu quero você fora daqui! — ela cospe na minha direção, furiosa.
Não me abalo. Abro a lata e dou uma golada, limpando a boca com as costas da mão, e solto um arroto que faz João sorrir.
— AGORA! — grita.
— Até onde eu sei, esta casa ainda é minha, e eu decido quem fica e quem vai. E você, Amanda? Você vai embora —João ordena, frio, pegando a carteira de cima da mesa de jantar.
— Você está me trocando? — Ela parece chocada. As lágrimas escorrem pelos olhos brilhantes.
— Não é questão de preferência! Você fez uma coisa horrível e nem se desculpou. Em vez disso, chega aqui cheia se si, mandando na minha casa. Quem você pensa que é?
Bom, agora as lágrimas estão mesmo escorrendo.
— A sua namorada, João. É isso que eu sou — ela murmura, fungando.
Meu Deus, que cena péssima! Cadê a pipoca?
— Diante do que você fez, isso não tem significado nenhum para mim. Você machucou a Mara. E as pessoas que machucam a Mara têm uma vida bem curta comigo, Amanda — João rebate, perdendo o pouco da paciência que ainda tinha. — Agora, se você me dá licença, estou atrasado. — Aponta para a porta de saída, sem remorso.
— Você está terminando comigo? — Ela não se mexe. Ele suspira. — Na frente dela? — Amanda aponta para mim com rancor, e eu decido que já vi demais. Saio pela porta, abandonando os dois. Claro que é tudo pose. Paro atrás da porta e continuo a escutá-los, roendo uma unha.
— Eu não disse a palavra “terminar”. Só falei para você ir embora — ele responde, cansado. — Eu tenho que trabalhar. Resolvemos isso depois.
— Isso? — ela retruca, magoada. Até eu ficaria. Chamar o relacionamento deles de “isso” é baixo.
— É, Amanda! Isso! Que nome você quer que eu dê? Inácio? — De repente a porta se abre e Jei dá de cara com a fofoqueira em pessoa: eu. Ele se recupera rapidamente do susto de quase me atropelar, como se fosse normal eu ficar atrás de portas ouvindo suas conversas, o que de fato é, e pergunta: — Quer carona? — Ele não sorri, mas seus olhos sim.
Parece que meus maus modos sempre o divertem.
— Que pergunta besta. Claro que eu quero! — Dane-se. Andar a pé não vai fazer Amanda me amar mais ou menos. Meus pés cheios de bolhas vão agradecer.
Ela sai pisando duro de casa e passa por nós dois feito um furacão, abre a porta e some rua afora, sem olhar para trás.
Dou de ombros e olho para João.
— Eu deveria mesmo trocar aquela chave de lugar — ele diz, abrindo a porta do carona para que eu entre e dando a volta para ocupar seu lugar atrás do volante.
— Claro, mas faz uma cópia para mim antes — insinuo, com um risinho safado de sem-teto.
— Se você vai ficar aqui por um tempo, é o que eu tenho que fazer, né? — Ele dá um sorriso largo, caindo na minha.
— Posso mesmo ficar?
Dou vários pulinhos sentada no lugar e agarro seu pescoço em um abraço de urso antes que Jei consiga responder.
— Para onde mais você iria? — resmunga. — Nesta cidade nem tem ponte para te abrigar. — Ele beija minha cabeça antes de me soltar.
— Muito cômico! Mas eu ainda tenho a casa do meu irmão. — Volto para meu lugar e me ajeito no banco, apoiando os pés no painel descaradamente.
Ele olha feio, mas não me manda tirá-los. Em vez disso, pergunta:
— Eles estão tentando ter um bebê, sabia?
Faço que sim com a cabeça.
— E você realmente quer ficar lá para presenciar a parte prática da coisa?
Hum, não tinha pensado nisso...
— É... Pensando melhor, sua casa é minha melhor alternativa no momento. Mas a Amanda não vai gostar nada disso — aviso, erguendo as sobrancelhas.
— Deixa que com ela eu me entendo — ele replica, saindo da garagem.
— Você devia esquecer esse assunto e não brigar mais com essa garota. E quem diabos é Inácio? — solto, antes de me arrepender.
— É um dos PMs novos. Foi o primeiro nome que me veio à cabeça — ele responde, rindo. Eu rio também. Quando nossa risada termina, ele me mata com uma pergunta: — Você ia mesmo me beijar, não ia, Mara?
João se vira para mim e solta essa assim que paramos no semáforo. Pelo seu olhar, eu sei que ele sabe a resposta, mas acho que precisa que eu confirme. Fico amedrontada demais para dar o que ele quer, pois vou ter que enfrentar um “por que” que ainda não consigo responder.
— Talvez. — Encolho os ombros.
Ele assente, sabendo tão bem quanto eu que foi um sim em neon.
— O que aconteceu antes de você sair correndo... do chuveiro? — pergunta, constrangido, mas determinado a falar do assunto.
— Eu não tenho ideia — minto.
Ele assente e fica quieto pensando em alguma coisa. Eu adoraria ter o poder de ler mentes hoje.
— Quer tomar café ou está muito atrasada? — ele pergunta, olhando para o relógio no painel do carro. Acho que vou ter que encarar uma conversa difícil, porque esse cara nunca chegou um dia sequer atrasado em algum lugar, principalmente no trabalho. Eu assinto e nós paramos em uma padaria. Sentamos, fazemos os pedidos e, diferentemente do que eu tinha pensado, comemos em silêncio enquanto vejo meu melhor amigo passar a próxima meia hora me olhando como se estivesse montando um quebra-cabeça.
Ele não fala nada, e eu acho que essa ansiedade toda está me dando dor de barriga.
— Você sabe que pode falar o que quiser para mim, não sabe? — ele pergunta enquanto caminhamos até a saída. Eu assinto. Agora que ele matou minha fome, me deu uma vontade doida de falar.
— O que você teria feito se eu tivesse te beijado no chuveiro, Jei? — me ouço perguntar assim que entramos no carro e batemos as portas, sincronizados.
— Mara... — Ele ameaça não responder, mas alguma coisa muda e ele dá de ombros. — Eu teria te beijado de volta.
Meus dedos se agarram ao estofado do carro para me manter no lugar, porque assim que as palavras saíram dos seus lábios eu me senti como se estivesse voando.
Ele diz com uma simplicidade... como se... como se fosse algo que ele quisesse.
— Porque eu estava arrasada e você não ia querer que eu me sentisse pior? — Diz que não. Anda, diz que não, Jei.
— Nós nunca tivemos medo de falar alguma coisa antes um com o outro, e isso não tem que mudar nunca. Então, se estiver acontecendo alguma coisa, eu quero que você me conte, ok? — ele diz, em vez de responder. — Eu sei que você está chateada com o meu namoro, mas tem formas melhores de demonstrar isso sem que termine de um jeito... ruim para alguém. — Essa é a sua maneira delicada de dizer que pensa que eu sou uma criancinha mimada que está provocando só porque não quer dividir o brinquedo com a irmã, e que eu devo parar com isso antes que machuque alguém ou a mim mesma. Nós estamos entrando em um terreno perigoso. É o que ele quer me dizer, mas na minha opinião é mais que isso.
Ele não é meu brinquedo. Se fecho os olhos, penso nele mais como vida.
— Não quero repetir os erros da minha mãe... Desculpa... — metralho, gaguejando, sem pensar. Franzo o cenho. Por mais que não queira ver como ele vai reagir, não consigo desviar os olhos dos dele.
João é uma incógnita. Não tenho ideia do que está pensando, e acho que esta é a primeira vez.
— Você está me pedindo alguma coisa, Mara? — ele pergunta, sério. — Porque, se estiver, tem que dizer com todas as letras.
Ele é obrigado a desviar o olhar quando o semáforo abre, e eu percebo que sua pergunta tem um quê a mais nas entrelinhas. Realmente penso antes de responder. Nunca senti por Jota nada que tenho sentido ultimamente, e meus sentimentos não estão indo a lugar nenhum, só ficando mais fortes. Eu não poderia ter descoberto sobre minha mãe em um momento pior. Talvez tenha sido um aviso do destino para que eu não siga os passos dela e termine do mesmo jeito.
— Se eu pedisse, que resposta você me daria? — especulo, sentindo o coração bater mais forte no peito, e me remoo com seu silêncio, até ele estacionar na frente da escola e se recostar no banco, virando a cabeça para me encarar.
— Não lembro de já ter dito “não” para você antes — ele fala, ainda sério, e uma manada de elefantes aparece fazendo passeata em meu estômago.
Não me sinto nada confortável em pedir que ele dê um fim nesse namoro, embora João esteja sendo claro em dizer que eu posso, só não tenho ideia dos motivos. Não é a primeira vez que ele pararia de ficar com alguém porque eu pedi, mas é a primeira vez que o namoro é sério. Será que não gosta dela o suficiente para me aturar com esse péssimo humor e decidiu se livrar do problema para eu parar de encher o saco e tentar agarrá-lo? Merda! Não importa. Essa decisão não tem que partir de mim. Por mais que Amanda tenha me magoado, não posso brincar com os sentimentos dela.
Acho que a carta da minha mãe serviu para me fazer descobrir que eu não posso pegar o que quiser na hora que bem entender, como pensava, e não sei bem como me sinto a respeito disso, porque mamãe se atrasou muito para me dar essa lição. Teria sido mais fácil de engolir se eu tivesse praticado ao longo da vida.
— Eu acho que não tenho nada para pedir, João. — Dou de ombros.
Não quero que ele termine o namoro apenas porque estou pedindo. Quero que termine porque sente o mesmo que eu, porque queria aquele beijo, mas no fundo acho que ele não queria. É claro que João retribuiria — eu não esperaria nada diferente dele —, mas seria pelo motivo errado. Seria só para não me magoar, e isso me magoaria mais que a recusa.
Ele assente e beija meu rosto antes de se inclinar por cima de mim e abrir minha porta, sem dizer mais nada ou esboçar qualquer reação. Eu me despeço com um aceno antes de me virar e entrar no prédio, mas a esta altura ele não está mais me olhando.
Guilherme é mandado à minha sala de novo, depois de arrumar outra briga com o mesmo menino. Ele continua se recusando a falar comigo. Estou tão chateada que não insisto tanto quanto da primeira vez e o deixo entretido com um livro no sofá, para chorar baixinho, como de costume.
Não tenho ideia do que significou aquela conversa inacabada no carro, e, mesmo que a cada segundo eu sinta que posso perdê-lo, estou decidida a não passar por cima de ninguém para impedi-lo de me deixar.
Eu me pego pensando na nossa amizade.
Se tem alguém que conhece João, essa pessoa sou eu. Cada olhar, cada sorriso, cada piada sem graça. Estou na vida dele há tempo suficiente para prever seus pensamentos e suas reações. Para saber lidar com cada uma delas. Eu sei que falar de sua mãe o anima e entristece na mesma medida. Eu sei que ele detesta falar sobre o pai ausente, mas que lá no fundo sente falta dele. Eu sei de que tipo de roupa ele gosta, as comidas que prefere e os filmes que chamam sua atenção. Conheço suas qualidades como ninguém, mas também conheço cada defeito. Conheço as vitórias e as fraquezas. Uma única fraqueza na verdade: eu.
Sempre fui sua fraqueza, sua dependente, confidente e parceira. Sempre fui o motivo de um encontro que terminou mais cedo, uma partida de futebol cancelada, uma briga envolvendo socos.
Sempre fui sua preferência e acho que continuo sendo, mas não consigo nem cogitar o que João faria se eu me sentasse com ele e lhe dissesse que o quero para mim. Que o amor inocente que sempre foi palco para nossa amizade preencheu todos os buracos do meu coração e se transformou em algo mais, se transformou em paixão. Que eu quero que ele me beije de uma maneira diferente, menos morna, menos carinhosa, com mais intensidade, mais desejo e no lugar certo, assim como quero beijá-lo sempre que olho para seus lábios, o que venho fazendo com uma frequência impressionante. Que eu quero cada parte dele para mim, principalmente as que ainda não são minhas, as que são dela.
Guilherme parece reparar que estou chorando.
— Você está bem?
Levanto uma das mãos do rosto para espiá-lo e o vejo me encarando com curiosidade. Menino malévolo e fofoqueiro.
— Não é da sua conta — resmungo, olhando-o feio. Comigo ele não quer falar, mas quer que eu fale com ele?
— Tanto faz. — Ele dá de ombros e volta a atenção para o livro. Não conversamos mais e ele sai sem se despedir quando anuncio que sua hora terminou. Pego minha bolsa e faço o mesmo. Adoro esse emprego!
Quando chego à rua, meu celular toca.
— Querida, você está bem? — pergunta Ma do outro lado da linha, preocupada.
— Estou sim.
Ela sabe que não é verdade.
— Não é verdade — ela rebate, como se lesse meus pensamentos.
— Ok! Estou péssima — admito, pesarosa.
— Eu fiquei muito preocupada com você ontem, mas não quis incomodar ligando ou aparecendo. Fiquei mais tranquila quando o João avisou que tinha te encontrado e que você estava segura. — Ela parece aliviada e receosa. Provavelmente sabe como estou ferida pelo que descobri, isso porque ainda nem faz ideia da carta. Não sei se vou contar para ela ou para qualquer outra pessoa. Acho que por enquanto vou guardar só para mim o segredo, a vergonha e a verdade que tinha por trás daquelas palavras e dos meus sentimentos recém-descobertos.
— Você está de folga? — Por favor, diz que sim, imploro mentalmente. Um colinho amigo viria bem a calhar. Está se tornando muito difícil lamentar da minha vida com João, sendo ele meu maior problema no momento.
— Meu plantão acaba daqui a meia hora. Quer se encontrar comigo? — ela convida.
— Estou indo para a sua casa! — Sorrio, encerrando a ligação.
Chego ao apartamento que meu irmão divide com a Malena antes dela e me sento na calçada para esperá-la, já que meu irmão jamais deixaria uma chave da sua casa onde eu pudesse encontrar. Cerca de dez minutos depois, Ma passa de carro e abre o portão automático. Entro no prédio e espero por ela na porta que dá para os apartamentos. Assim que para perto de mim, joga os braços em volta do meu pescoço e me puxa para dentro, sem me soltar.
— Eu sinto muito pela sua mãe. Eu também não sabia. O Spok nunca tocou no assunto. Fiquei sabendo ontem, quando a chuva caiu e ele ligou desesperado — ela se desculpa, antes que eu a acuse de mentir para mim de novo. Mentir, omitir, dá tudo na mesma. Se resumem a ocultar a verdade.
— Ele está bem? — Não me passou pela cabeça me preocupar com meu irmão durante essa história toda. Merda. Sou uma péssima irmã.
— Ele já superou isso há muito tempo — ela me tranquiliza. — O Spok não tem as mesmas lembranças que você tem. Ele apagou a mãe de vocês da vida dele, Mara. Nem se lembra dela.
— Eu sei. Ele era muito pequeno quando ela morreu. Acho que é melhor assim, né? — Dou de ombros, meio chorosa. — Mas e você, como está? Sua cara também está péssima!
— Bom, ainda não estou grávida, acho que isso responde a sua pergunta — reclama, com uma careta divertida. — Como as mulheres têm filhos pelo mundo a torto e a direito sem nem mesmo querer e eu não?
— Calma, vocês vão conseguir. — Bom, vou ser piegas agora. — Para tudo tem seu tempo... — Ok, calo a boca, porque o olhar dela está me assustando e eu sou tão impaciente quanto ela. Eu a entendo.
— Seu irmão não parece muito preocupado, mas eu estou. Já tentei cada um dos truques. Medi a porcaria da temperatura para saber meu período fértil, comprei testes de ovulação, obriguei seu irmão a transar comigo dia sim, dia não para não comprometer a qualidade dos...
— Amiga, informação demais — acuso, tapando os ouvidos.
— Eu só tenho você para conversar sobre o assunto, então deixa de ser filha da puta. Senta aí e me ouve.
E é o que eu faço. Pela hora seguinte fico por dentro de todos os tipos de artimanhas para engravidar, tão bons que não fizeram efeito até agora. Quando estou quase morrendo de tédio e considerando seriamente saltar pela janela, uma chave é enfiada na fechadura e vejo meu irmão passar pela porta, arrancando a gravata.
Juro por Deus que nunca fiquei tão feliz por vê-lo.
Spok atravessa a sala e vem direto me dar um abraço apertado.
— Como você está?
Estou ficando de saco cheio dessa pergunta, e agora da sua mulher...
— Bem, e você? — Escolho ser simpática, esquecendo momentaneamente meu amado carro.
— Eu estou bem. Minha maior preocupação é você. Me desculpe por essa ter sido mais uma coisa que não te contei. Eu não ia suportar contar que ela... — Ele faz uma pausa, parecendo triste, e eu decido que, se ele calar a boca da Lena, vou deixar essa passar.
— Não se desculpe. Foi melhor saber,mas eu também gostaria de nunca ter ficado sabendo...
— Quer conversar sobre isso? — Ele me puxa para o sofá. Posso ver pela sua expressão que conversar sobre a mamãe seria a última coisa que ele gostaria de fazer na vida, e fico grata por aceitar fazer isso por mim, mas também vejo que se ressente dela e guarda muito mais mágoas que eu pelo que ela fez. Ele era só um bebê, porra! Que tipo de mãe nós tivemos, e, acima de tudo, como eu pude me enganar tanto a respeito dela?
— Não, não quero.
Spok parece aliviado e preocupado ao mesmo tempo.
— Para onde você foi? Eu te procurei pela cidade toda embaixo de chuva — ele resmunga quando se dá conta de que estou mesmo bem, ou, no caso, fingindo estar muito bem.
— Desculpa por isso. Eu fiquei por aí, mas parei onde sempre paro.
Ele assente, como se soubesse.
— O João ligou.
Claro que ligou.
— Vou morar com ele um tempo — conto, abrindo um sorrisinho descarado. — Até vou ganhar uma cópia da chave — me gabo.
Sua expressão muda para uma carranca zangada e eu sorrio, achando divertido vê-lo sentir ciúme. Bom, o ciúme na verdade é de João e não de mim, mas acho bonitinho mesmo assim.
— Não sei se é uma boa ideia — ele diz, olhando para Malena. — Por que você não vem pra cá? Ficar com a gente...
Não entendo a reticência por eu ficar na casa de Jei. Não é a primeira vez, e, dada minha falta de sorte/macho/dinheiro, imagino que também não será a última. Mas, antes, que eu possa responder, o despertador do quarto deles toca e Malena me encara com as bochechas coradas.
— Por que o despertador de vocês está programado para este horário? — pergunto, me divertindo com a expressão envergonhada dos dois.
— Eu estava te contando sobre os métodos para engravidar e, bom, ainda não tinha chegado ao último item da lista... — ela confessa, sem jeito.
— Vocês querem dizer que o despertador avisa quando vocês...? — Até tentei segurar, mas a gargalhada sai mesmo assim. Eu me levanto e pego a bolsa. — É por isso que eu prefiro ficar na casa do Jota — digo, sarcástica, saindo pela porta sem me despedir. Estou gargalhando e, antes de me ver pelas costas, os dois já estão no maior amasso no sofá.
Quando chego à rua, meu celular volta a tocar. Olho para o identificador de chamadas: Genilson. Não atendo. Ainda não sei como me sinto em relação ao beijo, muito menos à vontade de beijar meu melhor amigo. A esta altura do campeonato, não sei como me sinto em relação a nada. Decido ligar para o meu pai.
— Filha — ele diz, aliviado, assim que atende. — Graças a Deus, você está bem! O João me avisou que você iria dormir lá. Me perdoa, querida, por favor? — ele implora, com a voz embargada, atropelando as palavras.
— Você está no trabalho? — pergunto, ainda extremamente magoada com ele, mas desta vez tenho que ceder, porque meu pai foi o maior prejudicado pela minha mãe. Se eu seguisse em frente em culpá-lo por esconder isso de mim, estaria descontando na pessoa errada. Ele fez o que achou que seria certo: me protegeu.
— Estou sim — ele despeja, com uma esperança mal disfarçada.
— Posso passar aí? — Mordo o lábio e aguardo sua resposta.
— Claro que pode. — Sinto alívio e um sorriso na sua voz. Sorrio também.
— Então até daqui a pouco — digo, encerrando a ligação.
Caminho rápido até o posto de gasolina na Pedro Lessa. Quando chego, avisto meu pai em pé, em frente à janela de sua sala. Subo correndo a escada, gritando um “oi” para os frentistas, que acenam e me desejam boas-vindas à cidade. Estou ansiosa. Neste momento, volto a ser a menininha frágil que precisa apenas do colo do pai para que tudo fique bem outra vez. Eu o encontro me esperando na porta com os braços abertos. Fungo e me jogo sobre ele, chorando. Olhar em seus olhos, ver a compaixão e o amor dentro deles, faz as comportas se abrirem e eu desejar seu conforto.
— Calma, querida. — Ele passa uma das mãos pelas minhas costas e me abraça com a outra enquanto molho seu pescoço com minhas lágrimas.
— Como ela pôde? — sussurro,devastada.
— Não sei, filha. Eu realmente não sei. — Ele me conduz para a sala e fecha a porta. Então me puxa até o sofá e se senta comigo. — Eu não sei, querida — repete.
— Eu li a carta, pai — conto, me virando para olhá-lo nos olhos. Ele perde a fala, pisca uma, duas, três vezes e nada sai de seus lábios.
— Carta? — pergunta por fim, fechando os olhos em um lamento.
— Você sabe de qual carta eu estou falando.
— Eu joguei aquele papel no lixo há muito tempo — lembra, perdendo-se em pensamentos.
— O João guardou, porque achou que um dia eu deveria saber. Que eu deveria ler.
— Meu Deus — ele diz, colocando uma mecha do meu cabelo para trás. — Você merecia a verdade, e eu fico grato por não ser eu a te contar. Sinto muito pelos anos de silêncio, Mara. Essa história ainda machuca, como se eu tivesse lido aquelas palavras ontem. Como se eu tivesse descoberto há pouco tempo, e não quase vinte anos atrás, que a mulher que eu amava era outra pessoa.
— Sinto muito pelo que a mamãe fez — digo, passando a mão por sua barba por fazer. — Sinto muito por ter saído de casa e ter ficado brava com você. Me perdoa?
— Eu não tenho nada para perdoar. Você tinha razão. Eu deveria ter contado. Não só isso, mas sobre o casamento também. Então, eu não quero que você me peça desculpa. Só quero que volte para casa.
— Não quero ficar perto da Amanda por enquanto. Vou ficar mais alguns dias no João. Ainda não consigo me acostumar a ter outras pessoas em casa. A essa nova vida — digo, lembrando do ciúme que senti ao vê-lo rodeado por aquelas mulheres que mal conheço.
— Ah, querida. Eu sinto tanto por isso! Eu sabia que você ia ficar uma fera, mas não achei que a notícia do meu casamento iria te desestabilizar tanto. Não achei que Amanda pudesse ser tão imatura a ponto de te machucar. Eu sabia que você ficaria com ciúme, ciúme de mim e do João, mas não sabia que ia chegar a isso tudo.
— Tudo bem, pai. Depois do que eu descobri ontem, só quero que você seja feliz — digo com sinceridade. — Se isso inclui a Clara, a Juliete e a cria do demônio, o que eu posso fazer?
— Obrigado. — Ele sorri com tristeza.
— Só me dá um tempo para engolir aquelas... mulheres — peço, provocando um sorriso nele.
Fico ali mais algumas horas, conversando, rindo, roubando chocolates, mexendo em suas coisas, impedindo que trabalhe e fazendo o que sei fazer de melhor: perturbar meu pai. Mas acho que ele gosta. No fim do dia, consegui tirar toda a tristeza que estava nublando seus olhos.
Já a minha continuou por aqui.
21
João
Estou terminando de preencher a papelada de uma prisão em flagrante quando meu ramal toca. Empurro a pilha de papéis e atendo.
— Ela está morando na sua casa? Vai ganhar uma chave? Eu nunca ganhei uma chave! — reclama Spok, sem um bom-dia ou mesmo um como vai. O problema da falta de educação mascarada em forma de praticidade, que atinge também a mulher que espera não ter nenhum copo limpo no armário para só então dar um jeito na pia transbordando, é um problema de DNA. — O que você tem na cabeça?
— A sua irmã vai me enlouquecer, Spok! — Eu me recosto na cadeira, suspirando, derrotado. Convenhamos, preciso conversar com alguém, mesmo que seja alguém tão babaca quanto meu melhor amigo.
— Foi uma péssima ideia, João. Péssima.
— O que eu deveria fazer. Deixá-la na rua? — resmungo.
— Você podia tê-la deixado em uma cestinha na minha porta! Ela tem irmão, sabia? — Ele está mais que irritado.
— Claro, para a Mara assistir você e sua mulher se pegando que nem coelhinhos no cio. Ia durar muito tempo mesmo... — Nem um dia, rio comigo mesmo. Meu instinto me diz que não duraria um dia. — Ela daria o fora assim que soubesse para que vocês usam o despertador — comento, tirando uma com a cara dele.
— Isso não vem ao caso — ele responde,a contragosto, querendo fugir do assunto.
— Vem sim. Você só pode me dar lição de moral quando finalmente engravidar a sua mulher. Até lá eu não vou escutar nenhum conselho seu. — Eu rio, mas ele não acha a menor graça.
— Ficar longe da minha irmã não é um conselho. É uma ordem! — ele rebate, decidido, como se eu aceitasse ordens de alguém.
— Pelo amor de Deus. Eu nunca faria nada que pudesse prejudicá-la...
— E quem falou que eu estou preocupado com a Mara? É você que me preocupa, seu inútil. Ela sabe se cuidar muito bem sozinha. Já você é um idiota que não consegue largar o osso.
Ah, sim. Agora faz sentido!
— Eu larguei. Estou com a Amanda, lembra? — minto descaradamente.
— Você não gosta da Amanda. Ela é só um tapa-buraco — ele sentencia, acertando em cheio sobre o jeito como encaro minha namorada. — Aliás, essa é outra coisa muito idiota. Você vai machucar essa menina à toa. Isso se a minha mulher não matá-la antes.
— Eu sei, Spok, mas eu gosto dela. — Desta vez não estou mentindo. Não completamente. Estou encantado por Amanda, mas a cada novo dia ao lado de Mara percebo que o encantamento por minha namorada tem mais a ver com o fato de Amanda ser apaixonada por mim. É bom ser amado, para variar.
— Então por que a minha irmã está te deixando louco?
Touché!
— Elas são muito diferentes. — Eu suspiro, sem saber ao certo como explicar. — É a sua irmã que eu amo, e é o futuro explosivo que ela me daria que eu queria de verdade, mas estou gostando de ficar com a Amanda. A gente combina. Se eu me permitir ir em frente, nós podemos ter um futuro juntos, um futuro confortável, e acho que basta. Isso parece muito confuso para você?
— Completamente — ele dispara, antes mesmo que eu termine a pergunta. Não estou surpreso. Eu não esperava mesmo que ele entendesse. Para Spok sempre existiu somente Malena. O amor para ele é natural, já que sempre foi correspondido.
— A sua irmã agora deu pra agir de um jeito estranho. Pode ser só a minha imaginação, e a da Amanda também, mas eu tenho quase certeza de que a Mara ia me beijar. Nós tivemos uma conversa muito louca no carro agora há pouco... Acho que eu levei um fora, sei lá, não sei mais nada. — Nem sei por que lhe conto isso. Simplesmente sai antes que eu possa impedir, mas, já que comecei, decido terminar enquanto o ouço dar uma golada no copo de café que sempre tem nas mãos. — E não é só isso... É essa proximidade toda. Ela ficou fora por muito tempo, eu me habituei a viver sem ela, a curtir a Amanda sem pensar em mais nada. Era só saudade da Mara, não era presença. Agora a mulher que eu sempre amei está dormindo na minha cama.
— Dormindo onde? — ele pergunta, em meio a um barulho alto de quem engasgou.
Hum, acho que fiz Spok cuspir o café.
— Na minha cama — repito, escutando-o tossir sem parar.
— A minha irmã está dormindo na sua cama? — ele fala devagar, mesmo sabendo que sempre fizemos isso.
— Qual o problema?
— Vocês não têm mais idade pra isso! Você gosta dela. É tortura! — ele resmunga, parecendo cansado. — Para de ser idiota. É a porra da minha irmã, João! Jesus, eu me sinto entre duas espadas! Que carma! — Ele é dramático. Vou provocar, mereço um pouco de diversão hoje.
— Eu só penso em como quero beijar a Mara, como quero tirar a roupa dela...
A linha fica muda. Ele desligou na minha cara.
Giro na cadeira e espero.
O telefone toca novamente segundos depois e eu atendo sorrindo. Tão, tão iguais.
Farinha do mesmo saco é o termo que define melhor os dois irmãos que eu mais amo na vida.
— Ok, eu posso aguentar. Vou fingir que não estamos falando da minha irmãzinha na sua cama e te dar um conselho, entendeu? — Antes que eu responda, ele continua. — Só cala a boca e escuta! Se você realmente ama a Mara, como eu acho que ama, para de ser frouxo e conta de uma vez para ela. Você não tem mais nada a perder. Agora, se você está determinado a esquecê-la, siga em frente, para de ficar plantado no mesmo lugar. Está aí há anos! Você tem que ser feliz, cara, então dá um jeito de isso acontecer. Agora, tchau. — Ele desliga de vez na minha cara, sem esperar pela minha resposta.
Ele tem razão, e eu sei disso. Preciso escolher. Como se a escolha não fosse óbvia até mesmo para minha namorada.Mara sempre será minha escolha. Mas não posso impor nada a ela neste momento. Eva está fragilizada, acabou de sair de um relacionamento, de voar de volta para casa, encontrar tudo diferente e descobrir o segredo de sua mãe. Não é o momento certo para que eu também me torne um problema.
Dirijo para casa me sentindo cansado, sonolento e enjoado. Imagino que ter tomado chuva ontem para ir atrás de Mara não tenha me ajudado a dar fim na tosse insistente que teima em aparecer e desaparecer quando bem entende há alguns meses. Acho que estou ficando velho, ou então alérgico a alguma coisa.
Paro o carro na garagem me preparando para mais uma briga, porque notei o carro de Amanda estacionado do outro lado da rua. Entro me amaldiçoando por ainda não ter dado um fim na chave reserva que insisto em deixar debaixo do vaso, mas a casa está em silêncio. Subo a escada me arrastando, implorando para que Amanda seja rápida e me deixe dormir um pouco, e levo um susto quando abro a porta do quarto e, em vez de gritos, a encontro sem roupa na minha cama.
— Essa é a sua maneira de fazer as pazes? — pergunto, incrédulo, olhando para seu corpo descoberto. Por que Mara não me pede desculpa assim? Ia ser tão mais divertido.
— Foi a melhor forma que encontrei.
Não sei o que fazer. Porra, tem uma mulher pelada a cinco passos e eu só consigo pensar em mandá-la se vestir e dar o fora da minha casa. Qual é o meu problema? Mara, responde minha consciência. Convenhamos, é um problema enorme.
— Vista a roupa, Amanda — ordeno.
Ela me encara, magoada. Seus olhos se enchem de lágrimas.
— Não é assim que nós vamos resolver as coisas, ok? Isso não conserta nada para mim. — Dou de ombros.
— Por que você não diz logo que é apaixonado por ela? — Ela se levanta e recolhe as roupas do chão com uma ferocidade impressionante.
— Preciso mesmo dizer? Eu acho que isso é óbvio, não é? — Solto as palavras com um suspiro. Spok tem razão. Não é certo continuar levando isso adiante. Não posso tocar na mulher que está à minha frente pensando em outra. Não seria justo com ela e muito menos comigo.
— Então você está dizendo na minha cara que ama a Maea? — Ela para diante de mim.
— Eu sinto muito. Sinto de verdade, Amanda — falo, torturado. — Pensei que seria diferente quando ela voltasse para casa, mas não foi.
— Está terminando comigo?
Mais claro que isso, só se eu desenhar nas paredes, por isso faço um movimento de cabeça.
— Eu quero escutar de você! — ela berra.
— Acabou — afirmo com determinação, em um tom neutro de voz. Ela fecha os olhos por um breve momento, voltando a abri-los em seguida. Olha para mim com lágrimas grossas se formando enquanto veste a calcinha e sai às pressas do quarto, ainda brigando com o vestido.
Um instante depois, escuto a porta da rua bater.
Isso podia ter sido melhor, penso, esfregando o rosto com as mãos.
Decido tomar um banho rápido. Vou esperar Mara chegar em casa, ignorar o mal-estar e levá-la para jantar em algum lugar que tenha um bom hambúrguer, isso com certeza vai alegrá-la. Entro no banheiro e me olho por um instante no espelho, com as mãos espalmadas no mármore da pia. Minha aparência está péssima.
Tiro a camiseta, e esse gesto simples me provoca uma tontura repentina, me obrigando a me escorar na parede para não cair. Respiro lentamente, mas não adianta. O chão desapareceu.
Sinto que estou prestes a desmaiar e tateio rapidamente o bolso do jeans à procura do celular. Minha visão escurece no momento em que meus dedos correm pelas últimas ligações feitas. Acabo apertando um número a esmo, esperando fortemente que seja o de Álvaro, mas não tenho tempo de descobrir. Assim que quem quer que seja atende, a única coisa que consigo fazer antes de vacilar é dizer que preciso de ajuda.
Depois, nada.
Nem vi o chão.
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