1 de Setembro de 2018
Ruggero
NÃO...
Antes de que eu comece a escrever este capítulo, finja que nunca lhe falaram nada sobre mim...
Fez?
Agora sim...
Prazer... Meu nome é Ruggero Pasquarelli... Pera, aquele capitão do time de futebol? Isto, ele mesmo... Não, pera, esqueça. Finja que apenas lhe contei agora. É extremamente chato ser sempre rotulado pelas pessoas por coisas que, as vezes, nem fazemos. Claro, não prometo que era uma boa pessoa no início da minha adolescência, mas depois de tanto quebrar a cara e errar na vida, aprendi alguma coisa. As pessoas é que não aprenderam. De todas as pessoas do nosso colégio, vejo apenas poucas que realmente valem a pena e que gostam de mim. Quando elas gostam, ou é por que precisam da minha ajuda em algo, ou por que eu preciso da ajuda delas em algo, e não consigo as assustar. Uma vez, pedi ajuda pra uma menina que vomitou em cima de mim. Foi horrível. As pessoas simplesmente me acham “fútil” por que tenho um rostinho bonito, algumas roupas caras e sou o melhor jogador do time. Pera, até você irá me comparar assim? Não, as roupas caras nunca foram minhas. Quando entrei pro time de futebol, comecei no banco de reservas, e sempre admirei o capitão do time naquela época – e isto era, basicamente, no sexto ano do fundamental. Com o tempo, fui crescendo e me destacando no meio de todos. Quando chegamos no primeiro ano, o capitão do time foi embora, e tinha que passar a braçadeira para alguém. Quando ele me olhou e a colocou em meu braço, eu quase explodi de felicidade. Antes dele ir viajar, perguntou-me se eu queria algumas roupas velhas (só na mente dele), e eu aceitei. Mas sabe o que eu aprendi em todo este tempo? Que as pessoas mais fúteis são aquelas estão ao meu redor. Tudo o que eu uso se torna tendência no meu colégio, mas não por que eu, Ruggero Pasquarelli, estou usando, mas por que “o capitão do time de futebol do colégio” está usando, e isto é ridículo. É ridículo mesmo. Uma vez, fui com uma calça rasgada – não por estilo, mas por ela realmente ter rasgado quando fui me abaixar para pegar um papel – para o colégio, e todos vieram me perguntar onde a comprei. Tenho certeza que se fosse o Alfred (um dos nerds da minha sala), iriam o criticar fielmente.
Depois que viemos morar aqui em Londres, acho que a minha vida realmente foi pra frente. Claro que, como toda família, foi bem complicado no início. Na verdade, está sendo até hoje. É triste ver os seus pais se matando todos os dias de tanto trabalhar para poder pagarem as contas e, mesmo assim, não conseguirem. É horrível ver a sua mãe usando a mesma roupa por dias seguidos, por que não sobrou dinheiro no semestre pra poder comprar uma blusa nova. O que foi? Pensou que eu era riquinho? Pois bem, pensou errado. A minha família sempre foi humilde, e é daí que aprendi a ser diferente. Quando eu era mais jovem, admito, era um babaca. Praticava bullying, matava aula e mentia pros meus pais. Acho que mudei tudo quando vi a minha mãe, na diretoria do colégio, chorando pela minha quase expulsão. E foi assim que eu me tornei um aluno mediano – ou quase isso. A única matéria que consigo realmente gabaritar é a Educação Física. Agora se tirarmos da frase anterior o “Educação” e deixarmos só o resto, sou um fiasco. Matemática, Química, Geografia: tudo pra mim é complicado. Mas neste quarto ano, eu preciso melhorar um pouco as minhas notas. Eu preciso ganhar aquela bolsa na faculdade, pra dar orgulho pros meus pais e poder os ajudar com as despesas futuramente. Na verdade, quero até mesmo que eles se mudem e morem comigo.
Vocês querem saber o por que me conceituam de “metidinho” e “popular”? Bom, o segunda, já sabem, agora quando descobrirem o primeiro, por favor, me contem. Nunca levantei o nariz pra uma pessoa se quer, apenas para a menosprezar. Já fiz coisas ruins, mas sempre por ser engraçado ou por que alguém mandou e, acredite, me aconteceu muito do segundo na minha adolescência.
Bom, estamos neste tempo todo conversando, e nem se quer disse onde estou indo. Termino de vestir minha camisa azul marinho, passo minha mão pela última vez em meu cabelo e pego um Halls de menta, para então sair pela perto do meu quarto. Desço as escadas e dou um beijo em minha mãe. Meu pai ainda estava trabalhando, e iria chegar mais tarde. Saio do lado de fora de casa e vou até a esquina, onde tem uma parada de ônibus. Por sorte, meu dinheiro já estava todo trocado. Pego o ônibus e vou até a casa de Michael, que ficava do outro lado da cidade. Por sorte, saí uma hora antes da festa começar, mas mesmo assim, acho que vou me atrasar, pois o trânsito está péssimo. Ninguém nunca descobriu onde eu moro, apenas acham que vivo em um dos bairros de ricos da cidade. Atravessar a cidade inteira, com horas de antecedência, já se tornou rotina para mim. Assim que chego umas 4 ruas antes da casa, desço do ônibus e vou andando. Quando chego mais próximo da casa, já na sua rua, avisto várias pessoas do nosso colégio, que já começam a cochichar algo. Mas por que eu desci 4 ruas antes sendo que tem um ponto de ônibus na esquina da casa dele? Por precaução. Por mais que eu não fosse rico, eu não gostava que soubessem disso. Sempre que me perguntavam onde estava o meu carro, eu dizia que estava na rua de cima, e sempre era o último a ir embora, para não terem como constatar se de fato, estava mesmo. Mas assim que meus pais tiverem condições, compraremos um carro pra mim.
Assim que passo pela porta, sou anunciado por Javier, como se fosse alguém importante a entrar. Michael me olha e vem me cumprimentar, e logo em seguida, o time inteiro de futebol me levanta, já me ofertando bebidas. Sabe o que me induz ao erro, por muitas das vezes? Meus amigos. Sou muito consciente das minhas decisões, mas ainda tomo muitas decisões por causa deles. Quando eles me colocam no chão, avisto uma garota de relance, que me olha enojada. Quem é ela? De repente, Valentina passa em minha frente com uma garota. Pera, é a mesma garota que me encarou enojada. Como ela chegou tão...
Todos os rapazes optam por irmos para o jardim, e apenas os acompanho, tomando um pouco de vodka pura. Como primeira dose, prefiro assim, para poder esquentar um pouco o sangue. O time todo se fecha em um círculo, mais ao gramado, mas excluem completamente Michael.
- Javier, chega um pouco pro lado e deixa o Mike entrar. – falo, meio que ordenando, e o vejo me encarar.
- É sério isso, Rugge? – Javier fala, olhando pra o Michael, que já estava um pouco sem graça.
- Se você quiser permanecer nesta casa e no time, sim, eu estou falando sério. – assim que termino, minhas palavras se tornam um decreto, e ele assim o faz.
Eu gosto de Michael. Não, calma, eu realmente gosto da amizade dele. Por mais que todos os rejeitassem apenas por ser o reserva, eu via que ele era esforçado, e é por isso que gosto dele. Ele me lembra eu mesmo quando era um pouco mais novo. Até a forma como ele agarra a bola é idêntica. No momento, jogamos um pouco de futebol, mas sei com quais intenções. Os pedidos para que a festa fosse de branco não foram apenas por inocência. A cada vez que a bola chega perto da piscina, um dos garotos corre e finge esbarrar em uma garota, para que ela caia na piscina. A diversão deles é derrubar as meninas que não foram de biquíni para que fiquem com as roupas íntimas todas molhadas. Admito que velas, com a roupa toda molhada, quase transparente, não era nada mal, mas eu sei que é errado. Não, gente, eu só acho desnecessário desvalorizar uma mulher desta forma. Deve ser um incomodo enorme passar a festa toda com a calcinha molhada, só por que um babacão quis ser engraçado pros outros. Mas sabe do que tenho saudades? Do meu primeiro time, no primeiro ano. Eles eram completamente maduros, e se focavam na vaga da Universidade. E estes de hoje? Bom, são gente boas.
Me canso um pouco, e resolvo sentar.
- Tá muito paradão, ein Rugge. Não vai a caça hoje não? – José, nosso lateral, me pergunta, olhando em volta. – A festa tá cheia.
- Acho que não. Hoje eu vou ficar mais de boa. – falo, e todos me encaram, arregalando os olhos. Merda. – Tô zuando, rapaziada. Já já vou atrás de alguém.
É impressionante que a reação foi justamente a esperada. Todos me cumprimentam e riem, como se aquilo fosse uma vitória. Eu sei que as minhas atitudes são meio contraditórias, mas eu sou realmente homem.
Espero que passe alguns minutos, e finjo mexer em meu celular. Quando percebo, bebi todo o líquido que estava no copo, e resolvo de ir até a cozinha para poder enche-lo. Enquanto ando para a cozinha, esbarro em uma garota, e que era justamente a mesma que me olhou daquela forma na entrada.
- O-oi. – ela fala, gaguejando, como se eu fosse uma assombração. Olho para ela e a única coisa que vejo é seu decote, além de toda a sua roupa de baixo, já que ela estava molhada da mesma brincadeira que os meninos estavam fazendo.
- Oi. Tá assim por causa dos meninos, né? – falo, e ela assente que sim. – Olha, desculpa. Peço isso por todos os jogadores. Eu sei que você deve estar chateada...
- Podemos conversar já já, lá dentro, na cozinha? – ela me fala, um pouco apressada.
- Claro. – respondo. – A propósito, meu nome é Ruggero. – falo, me apresentando, e a vejo sendo puxada por Valentina, mas consigo ouvir vagamente seu nome. “Anne”.
Sigo em frente até a cozinha e passo pela sala. Olho para o sofá e vejo o Jorge, nosso arremessador, sentado, todo molhado. Ando até ele, buscando o ajudar.
- Eae Assis. – falo, e o vejo demorar um pouco para raciocinar quem eu era.
- Eae, Rugge. – ele fala, levando a mão a cabeça, como se estivesse sentindo dor.
- Tá tudo bem por aqui? – pergunto, e tento o segurar, mas vejo que já está muito bêbado.
- Está sim, mano. Só tô esperando uma gata trazer a minha bebida. Ela tá bem ali. – ele fala, e aponta para uma garota na cozinha. Não é possível.
- A Anne? – pergunto, curioso.
- Não. O nome dela é Karol. – ele fala, e o ajudo a sentar no sofá, vendo que não havia mais condições de lhe deixar em pé.
Agora faz mais sentido. Anne Karol. Deve ser Karoline o nome completo. Respiro um pouco fundo e vou até a cozinha, para ver o que ela queria comigo.
Assim que entro na cozinha, e vejo concentrada em encher as bebidas, e finjo esbarrar sem querer nela, que me olha rapidamente.
– Me desculpa. – falo, a encarando. Enquanto a encaro, vejo seu olhos brilharem, e algo me causa um forte arrepio na espinha.
– Não foi nada. – ela fala, se virando e voltando as bebidas.
– Vai beber duas vezes ou está acompanhada? – pergunto.
– Infelizmente, surgiu um incomodo no meu chinelo. – falo, e rio de sua fala.
– É o Assis? – falo, olhando para a sala, e a vejo assentindo em um sim com a cabeça. – Eu posso te ajudar com este “incomodo no seu chinelo”.
– Não, obrigado. Eu me viro sozinha. – ela fala, e simplesmente me viro de costas para ela, buscando que houvesse alguma reação por parte dela.
– Tudo bem. – falo, pegando um novo copo com bebida. – Só gostaria de te dizer que eu conheço ele muito bem, e ele não vai sair do seu chinelo até você ir embora. – falo, e viro as costas novamente, já esperando que ela refutasse minha fala.
– Como você pode me ajudar? – ela me pergunta, e começo a rir. Eu sabia.
– Faremos uma troca de favores, pode ser?
– Depende.
– Eu posso te ajudar com o Jorge e, no mesmo ato, você irá me ajudar com os meus amigos. – digo, e a vejo engolir seco. – Vamos fingir que estamos ficando esta noite. – continuo, e a vejo pegar os copos e sair do cômodo. – O que foi?
– Eu sabia que você diria algo idiota assim. Muito obrigado, mas eu recuso. – ela fala, e aos se virar, dá diretamente de cara com o Assis, que já estava bêbado.
– Está tudo bem aqui, Luna? – Assis fala, olhando para nós dois.
– Está sim, irmão. Ela só veio pegar algumas bebidas. – falo, e ando até ela. Pego os dois copos e os cheio. – Este aqui, inclusive, é seu. – falo, e lhe entrego o copo com álcool. – A minha menina não pode beber hoje, não é amor? – falo, encarando Karol, dando-lhe um sorriso, e vejo Assis se tremer.
– Desculpa aí, Rugge. Eu não queria mexer com a sua menina não. É que estou um pouco bêbado, e você sabe como é. – Assis fala, com medo, e vejo ela começar a rir, meio que contida.
– Tá tranquilo, cara. – falo, dando um leve soco em seu peito. – Só espero que isto não se repita. – completo, e Assis apenas dá um riso fraco, saindo da cozinha cambaleando. Viro-me em direção a Anne, a encarando – Agora é a sua parte do acordo.
Mesmo ela não tendo concordado, sei que irá cumprir com a sua parte do acordo. Ou, ao menos rezo para que cumpra.
– Tá, tá. – ela fala, e rio da sua marra exuberante. Ela é encantadora. – O que terei que fazer?
– Apenas ande de mãos dadas comigo por alguns minutos, e finja conversar comigo sobre algo, perto dos meus ouvidos, e depois estará liberada.
– Se for só isto, ok. – ela fala, e a encaro. – Mas que uma coisa fique bem clara: NÃO ME BEIJE. – ela fala, e tampo a boca, a forçando a sorrir. E nossa, que sorriso incrível.
– Vamos? – falo, e entendo a minha mão a ela, que demora um pouco, mas a pega. Entrelaço nossos dedos, e sinto novamente um arrepio na espinha. Olha para ela, meio que disfarçadamente, e vejo alguns traços diferente do que na hora que a vi próximo da piscina. Finjo ignorar, e a levo para o quintal, por lá estava todo o time. Sim, eu vou ter que fazer esse teatro.
Assim que paramos, dou um beijo em sua testa, e não a vejo reclamar. Pego em sua cintura e a viro de costas para os meninos do time, que estavam nos encarando. Dou um beijo e uma mordida em seu pescoço, a causando arrepios, e vejo os meninos do time vibrarem. Começo a subir meu rosto mas, agora, não mais para satisfazer a vontade dos meus amigos – eu queria agora satisfazer as minhas. Ela estava muito cheirosa, e agora entendi o por que dos arrepios anteriores. Sinto sua pele macia e cada momento, e sinto sua respiração cada vez mais próxima. Assim que arrisco ultrapassar os limites de nosso acordo e chegar perto de sua boca, sinto suas duas mãos em meu peito, e acordo de um encanto. Na verdade, acho que só despertei quando subi a superfície da água e não a vi mais ali. Aquilo tudo se passou como se fosse um sonho. Olho para os lados, e vejo todos me olhando. Meus amigos me ajudam a sair da água, e pegam toalhas pra mim, não sem antes de me zoarem pelo fora que tomei.
- Pela primeira vez eu vi Ruggero Pasquarelli tomando um fora, em HD. – Juan fala, rindo pra caramba.
- Ao vivo e a cores ainda. – José completa, e acabo por rir também. Mas quem era ela?
- Vocês conhecem essa tal de Anne Karol?
- OU, OU, OU. Pera aí. Anne é uma e Karol é a outra. Não confunda as coisas. – Assis fala, chegando mais próximo, um pouco mais sóbrio.
- Como assim? – pergunto, ainda sem entender.
- São duas pessoas que parecem uma. É aquele negócio lá, de biologia. – ele começa, e consigo entender o por que das notas baixas nas aulas do professor Alfred.
- Gêmeas? – Todos assentem.
Então agora, o que era pra fazer sentido, já não faz mais. Quem me chamou aquela hora para ir na cozinha? E quem é que me jogou na piscina? Na verdade, por que ela me jogou na piscina? Começo a pensar nestas coisas e sinto uma forte dor de cabeça. Apenas me lembro do sorriso leve e do perfume doce que ela usava, e é somente disto que precisarei para dormir esta noite.
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