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História Cam Girl: Online - KakaSaku - Arquivo corrompido, reiniciar aplicação


Escrita por: LoreyuKZ

Notas do Autor


CABO AS ELEIÇÕES E EU VOLTEI <3

AVISO!!!!!!!!! Esse capítulo pode ter cenas de GATILHO para pessoas sensíveis. Se em algum momento você se sentir desconfortável, pare sua leitura e peça o resumão da Lore.
Na real, eu nem sei se tem gatilho mesmo, mas como é melhor prevenir tá ai o aviso. Não se torturem.

Gente, seguinte: Esse capítulo não era só isso, mas ai como sempre eu escrevi demais, e já tá em 22 mil palavras (e vai aumentar, ainda tem uma cena) mas ai tem um problema com um dos sites que eu posto que ele só comporta 25 mil por capítulo, então pra não ficar lá um capítulo de "parte 1" e "parte 2" eu resolvi cortar o capítulo no meio (transformar em um capítulo completo) e postar assim em todos os sites.

Então me aguardem ainda essa semana com mais um capítulo dessa fic. Tá quase finalizado.

PS. O candidato para quem eu trabalhei venceu XD então o esforço valeu a pena.

VAMOS À FIC.

Capítulo 10 - Arquivo corrompido, reiniciar aplicação


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Era o dia perfeito.

Tudo tinha sido incrível à sua maneira.

Desde a hora que acordou, Sakura se sentia plenamente feliz, como se nada pudesse perturbar seu bom humor. Era seu aniversário de namoro, e ainda que fosse de apenas um mês, ela sentia como se realmente precisasse comemorar aquilo, e não se tratava de velas e jantares, mas de perceber todo o caminho que tinha percorrido até aquele momento.

Não tinha sido fácil sair da sua zona de conforto, mas ela havia conseguido. Estava com uma pessoa mais velha que tinha uma série de compromissos, e ainda assim parecia ser tão tranquilo com tudo a sua volta. A segurança que Kakashi lhe transmitia, Sakura nunca havia sentido com nenhum outro, e tudo bem, porque todo relacionamento é único, mas definitivamente Kakashi tinha algo especial.

E ela queria passar aquele dia com ele, grudada nele. Queria lhe dar todos os sorrisos, queria exibi-lo para todos os seus amigos, queria que ele a visse com a mulher sexy que era e também como a pessoa apaixonada que ele havia despertado. Sakura queria curtir seu namorado naquele dia sem se preocupar com nada muito sério. Queria terminar o dia largada na cama dele, o deixando acariciar suas costas com aquelas mãos grandes enquanto comentavam dos personagens daquele reality show sem lutar com o sono que eventualmente apareceria.

Mais ainda, imaginou que acordaria ao lado dele para mais um dia e seguir para o futuro desconhecido que tinha cheiro de tantas coisas boas. Sim, porque desde aquela festa, desde aquela dança, beijo, e olhares, desde aquele dia em que ele pediu um show privado, desde que Kakashi apareceu em sua vida, o futuro tinha sido cada vez melhor e brilhante, e pela primeira vez em muito tempo, Sakura sentiu que queria muito viver tudo aquilo.

Ela só não esperava, no entanto, que seu passado fosse fazer parte disso.

Não que ela estivesse tentando se livrar de suas experiências passadas, mas de alguma forma Sakura havia superado seu passado trágico, porque ela não tinha mais medo, não precisava ter uma vez que se tornava cada vez mais distante. Ela tinha decidido colocar tudo em risco e se jogar, e estava pronta para continuar mergulhando naquele lago límpido que era Hatake Kakashi, afinal, cada dia que se passava ela tinha mais certeza de que ele valeria a pena. Cada segundo, cada gesto, cada olhar.... Kakashi fazia tudo valer a pena.

Mas dizem que a vida é um ciclo, e as coisa tendem a voltar de uma forma ou de outra.

Quando ela estacionou o carro depois daquela festa, Sakura só queria pegar seu notebook e algumas roupas para usar no dia seguinte. Não estava pensando muito, e até mesmo assobiou uma canção enquanto esperava no elevador, rindo as vezes ao lembrar das caretas de Naruto e dos resmungos de Sasuke. Dançou horrores com Ino na beira da piscina, deu um mergulho só para exibir seu biquíni azul enquanto trocava olhares com Kakashi.

Achou estranho quando encontrou a porta do apartamento destrancada, mas não deu muita importância desde que já tinha acontecido uma ou duas vezes de esquecer de trancar a porta. As luzes também estavam ligadas, mas a conta de energia nunca foi algo que lhe causou preocupação. Foi direto para o quarto pegar uma roupa na secadora enquanto tentava ser rápida o suficiente para voltar à programação do dia sem saber que tudo mudaria a partir daquele momento.

Se ela pudesse adiar aquela descoberta por mais algumas horas, ela o faria. Se ela pudesse apenas ir direto para casa de Kakashi, ela certamente iria, mas ao invés disso, Sakura abriu a porta do banheiro de maneira despreocupada apenas para encontrar fotos e mais fotos dela e de Kakashi coladas com fita em seu espelho.

Franziu o cenho com sua respiração já alterada enquanto sentia o temor invadindo seu corpo. O pânico ia tomando conta de si com violência enquanto via seu carro entrando na garagem de Kakashi, enquanto se viam num restaurante qualquer, enquanto andavam com os cachorros, enquanto... Céus.... Eram basicamente todas as saídas que fizeram durante aquele mês, sua rotina com Kakashi estava estampada ali e Sakura sequer conseguia piscar diante das imagens penduradas de maneira aleatória com fita crepe, mas o ponto chave só veio quando encontrou aquela última foto que a fez entender absolutamente tudo.

Qualquer pessoa que visse não a reconheceria por conta da baixa qualidade que deixavam os pixels grosseiros a mostra na escuridão absoluta de um quarto que ela já não via a muito tempo. Eram suas costas, seu cabelo, e estava completamente nua sentada em cima do homem deitado entre os lençóis brancos que lhe sorria tão satisfeito ao fundo.

“Lembre-se à quem você pertence. ”

Sasori.

Soou quase como uma resposta profética, quase como se seu corpo estivesse tão condicionado a responder qualquer coisa que ele a perguntasse ou sugerisse.

Sasori tinha voltado.

Diante de tudo aquilo não fora difícil deduzir que fora ele quem tinha feito tudo aquilo, tendo a acompanhado por todo aquele mês para munir-se de informações sobre sua vida, sobre Kakashi. Ele nem precisava ter escrito aquilo naquele post-it azul. Ele sequer precisava ter colocado aquela foto tão asquerosa daquele sexo que tiveram. Sakura sabia, no segundo em que viu tudo aquilo, que Sasori havia voltado.

E agora ela se sentia em puro alerta, como se tudo estivesse prestes a acabar. Seu coração martelava em batidas urgentes como se não pudesse mais aguentar com a ansiedade que crescia. Ela revirou todos os cantos do lugar procurando sinais dele, sinais de sua presença enquanto sua mente entrava em choque sem saber direito como reagir. Colocou a mão no rosto quando se deu conta que tinha sido monitorada por um mês inteiro e sabe-se lá a quanto tempo mais Sasori não vinha acompanhando seus passos.

Ela nunca se livraria dele.

O ar lhe faltou quando percebeu que estava em perigo por todo esse tempo, com os flashes das ameaças do homem vindo à tona como se tivesse acontecido ainda ontem. Como se Sasori nunca tivesse ido embora, e provavelmente nunca fora de fato. Já fazia tanto tempo, tantos anos... Mesmo assim, ele ainda estava ali a espreita, não é mesmo? Esperando a hora de voltar e tomar de volta o que sempre pertenceu a ele.

Afinal, ele mesmo tinha prometido voltar naquele dia fatídico. Não deveria estar surpresa.

Mesmo assim, era impossível que sua mente não começasse a lhe levar àquele lugar tão familiar no qual Sakura existiu por muito tempo. O lugar que havia criado para anular-se diante de Sasori, para conseguir aceitar que não havia escapatória. Naquela época, Sakura achou que seu destino estivesse traçado e tratou de se conformar diante da realidade. Sasori seria seu passado, presente e futuro. Faria tudo conforme a vontade dele e assim, um dia, seria esquecida por todos os seus amigos e família, para então finalmente ser descartada quando ele simplesmente enjoasse de si.

Esse lugar em sua mente era vazio. Um grande vácuo escuro onde não existia sons, cor, cheiros ou gostos. Não havia nada para ser visto ou sentido, mas ainda assim era tão sufocante e cruel. Era o único lugar que podia repousar enquanto o outro fazia o que queria consigo, porque em sua mente estava protegida, não é? Em sua mente, Sasori não conseguiria entrar, certo?

Certo?

Mas Sakura não queria voltar para lá, ainda que parte de si sempre existira ali, triste e abatida. Sakura colocou todas as memórias dessa relação nesse lugar distante e opaco, e agora essa caixa de pandora lhe ameaçava da pior maneira possível.

Sentiu suas pernas vacilarem enquanto tentava encontrar ar para se manter, a visão turva lhe acometeu com força. Não podia desmaiar. Em seu desespero mentalizou que não podia vacilar naquele momento porque Sasori ainda podia estar em qualquer lugar naquele prédio. Ela precisava sair dali. Precisava encontrar algum lugar seguro para si antes que ele a encontrasse de fato, antes que ela sucumbisse não só a ele, mas também às suas memórias nada confiáveis, porque ela conhecia os sinais do que estava por vir e mesmo assim não conseguia controlar seu corpo.

Seja racional! Gritou para si mesmo de maneira quase surda. Era como se aquelas palavras não tivessem significado em sua mente porque não havia espaço para nenhum pensamento além daquele que a levava direto para seu destino final. Sasori está de volta.

— Por favor, aguenta, por favor – Disse numa voz débil enquanto cambaleava com urgência na tentativa de sair rapidamente daquele lugar, querendo ir para algum lugar distante, algum lugar que pudesse finalmente respirar, porque tudo era tão pequeno e sufocante ali, porque tudo estava se fechando ao seu redor enquanto o desespero a invadia sem nenhuma pena.

Sim. Aquele apartamento que escolheu a dedo como seu refúgio mais seguro se transformava nesse lugar hostil, invadido não apenas pelas memórias, mas pelo homem em carne e osso que se fazia presente. Ela inclusive podia sentir o cheiro dele, como se ele estivesse bem ali, podia sentir a presença de Sasori revirando suas coisas, olhando suas fotos, cheirando suas roupas. Podia inclusive ver o sorriso dele ao pensar nas maneiras que poderia corrigir suas transgressões.

Sasori era a última coisa da qual ela precisava. Sasori era a única coisa que ela realmente queria mudar em toda sua história. Sasori era alguém tão danoso de tantas formas e ela se sentia sufocada só de pensar que ele estava de volta com seus olhares dissimulados e sorrisos em suspense. A voz dele, o jeito, os olhares.... Ela conseguia sentir tudo como se sua mente estivesse a ponto de abrir sua caixa de pandora, e seu corpo se recusava a absorver aquelas sensações vindas daquele lugar sombrio, rejeitando tudo através do mais simples medo.

E o conflito interno que se instaurava entre reavivar aquelas memórias sádicas e rejeitá-las ao mesmo tempo lhe fazia colapsar. Não havia uma linha reta, seu corpo tentava se livrar das sensações que sua mente evocava enquanto pensava que Sasori estava de volta, e que sua vida voltaria a ser aquela de outrora, triste e reclusa. Não bastasse o choque de ter sua vida invadida daquela maneira, os piores pensamentos lhe surgiam, porque tinha sido tão burra, tão idiota em cair na armadilha de Sasori. Estava tão apaixonada pela ideia do amor que se entregou sem notar as intensões dele, sem perceber tudo que havia de errado nas atitudes cada vez mais violentas do homem.

Quando alcançou a porta com as lágrimas manchando seu rosto em meio ao caos de seus sentimentos e pensamento, Sakura esbarrou na figura de Kakashi sem notar que ele parecia tão transtornado quanto ela. Ele a abraçou sem pensar duas vezes, vendo o rosto apavorado da mulher ceder imediatamente em surpresa, como se ele fosse algum tipo de refúgio e ele simplesmente a acolheu, segurando-a firme em seu abraço, ainda confuso com tudo enquanto olhava brevemente para dentro do local como se procurasse por qualquer sinal de perigo.

Sakura chorava em soluços enquanto ele lutava contra a vontade de olhar todos os cômodos daquele pequeno apartamento, pois ainda não estava muito claro o que se passava, e depois da ameaça que recebera e do jeito que encontrou a mulher, Kakashi já não tinha mais certeza se havia alguém ali com ela, mas Sakura precisava dele ali e o mundo podia ruir naquele momento, mas ele jamais a deixaria. 

Ele ainda não tinha nenhuma dimensão do que diabos estava acontecendo. Recebeu uma clara ameaça a minutos e de repente encontra sua Sakura daquela maneira tão apavorada. O que havia acontecido ali? Não parecia, no entanto, que havia outra pessoa no apartamento, então ele se rendeu às necessidades dela, à urgência que ela demonstrava com suas mãos lhe segurando firme num gesto de desespero, como se soltá-lo significasse estar perdida em algum lugar sombrio.

Ele voltou – A mulher disse numa voz estrangulada, soterrada pelos soluços enquanto sua mente a confundia com as emoções turvas que a acertavam como tsunamis devastadoras. Não podia sequer descrever tal sensação, porque tudo em seu corpo gritava que estava em constante perigo, que a qualquer momento ele poderia aparecer e se a visse daquele jeito com Kakashi...

“Eu sou capaz de matar qualquer homem que tentar se aproximar de você”

— Quem? – Kakashi perguntou confuso, tentando entender o que estava acontecendo, com o que estava lidando, mas Sakura parecia tão frágil e vulnerável. Parecia tão...

— Você precisa ir embora, Kakashi – Ela disse de repente, se desvencilhando daquele abraço de maneira apressada — Você precisa ir! – Disse mais imperativa, se afastando — Se ele te vir aqui, se ele... Kakashi.... Vá embora, só vá embora, por favor, vá embora...

Sua voz era tão confusa, débil, tão angustiada. Sakura parecia sequer saber o que estava fazendo enquanto chorava ao pensar do que Sasori era capaz, e ele já sabia que estavam juntos, sabia onde seu namorado morava e o que fazia, e ela jamais se perdoaria se qualquer coisa acontecesse a Kakashi. Porque ele era importante demais para isso, porque...

Porque Kakashi era tudo o que ela tinha de bom.

E perceber que o estava colocando em perigo apenas por estar ali com ele naquela situação só lhe fazia ficar cada vez mais amedrontada, mais apavorada com as possibilidades que borbulhavam em sua mente fervente. Ele precisava ir embora. Kakashi precisava sumir dali, porque ele nuca teria paz se continuasse naquilo em que estavam, porque ela sabia que nunca deveria ter colocado outra pessoa dentro de sua vida sabendo que Sasori ainda existia, porque ela tinha sido tão estúpida ao pensar que tudo tinha acabado.

Era triste admitir, mas Sasori ainda tinha o poder de tirar tudo dela.

— Sakura, eu não vou a lugar nenhum sem você – Ele disse com a voz cheia de certeza, sem entender muito bem o porquê daquela reação, sem saber o que estava se passando na cabeça dela, o que tinha acontecido — Eu não vou te deixar.

— Você não entende! – Ela explodiu com a voz mais alta sentindo a urgência alcançar o limite que existia dentro dela — Você tem que ir embora! Você precisa ir! – Implorava enquanto o choro a alcançava mais e mais profundamente, enquanto as lágrimas não paravam de cair dos olhos verdes assustados que refletiam todo o pavor que existia dentro de seu corpo curvado e tremulo em medo. — O Sasori... Ele... Kakashi, ele... Por favor, você não pode ficar aqui.

Mais do que fugir, ela precisava garantir que Kakashi fugisse. Ela podia lidar com Sasori, o conhecia profundamente e sabia exatamente o que ele queria dela, sabia que ele podia até mesmo mantê-la presa em algum lugar, mas não lhe faltaria nada e o mal que lhe fizesse era suportável desde que soubesse que esse mal era feito só a ela e a mais ninguém, desde que soubesse que Kakashi estava seguro.

Estava com tanto medo, com tantos receios. Sua mente mal conseguia pensar claramente entre os impulsos e as necessidades que apareciam. Era como se suas reações fossem puramente por reflexo, reagindo à informação que surgia no momento sem sequer conseguir pensar, até porque não havia no que pensar. Não era apenas a segurança dele, mas também porque Kakashi era algo intocado por essa parte imunda de sua vida, porque ele conhecia a Sakura reparada num kintsugi perfeito, ele conhecia aquele jarro quebrado com remendos de ouro, mas ele não fazia ideia como aquele jarro tinha sido arruinado um dia ou que Sakura tinha feito para conseguir se remendar tão perfeitamente.

Sakura precisava que Kakashi fosse um futuro intocado, e se ele permanecesse, então faria parte do caos que era Sasori.

Kakashi a olhava sem saber o que fazer, completamente perdido enquanto ela chorava em desespero, empurrando-o para fora, dizendo para ele sumir de sua vida com palavras que não pareciam nenhum pouco sinceras. Os olhos amedrontados, a expressão urgente e ferida, o jeito tão aquém da moça que conhecera. Kakashi sabia que ela estava tendo algum tipo de crise, talvez um ataque de pânico, mas quando ela agia daquela forma colocando-o para fora com tamanha urgência, ele era incapaz de decidir o que deveria fazer.

Foi literalmente enxotado enquanto a ouvia gritar de dentro do apartamento para que fosse embora, mas ele não conseguia. Apoiou a cabeça na porta dela em silêncio enquanto a ouvia chorar cada vez mais em seu soluço desesperado. Ele não sabia o que estava acontecendo, o que tudo aquilo significava, ele não fazia ideia do que ela estava passando, se havia alguém ali dentro, se...

— Sakura, eu to aqui – Ele disse batendo na porta copiosamente enquanto se sentia completamente impotente diante da situação, tão perdido vendo sua namorada reagir a algo que ele sequer entendia. — Me deixa entrar, Sakura – Pediu sentindo raiva, frustração, medo e tantas outras coisas.

Tão confuso...

Ele não sabia o que fazer, porque Sakura era essa pessoa com um passado que ele não conhecia, porque ela tinha esses traumas que nunca deixava exatamente claro sobre o que era, então ele simplesmente não sabia se podia simplesmente arrombar aquela porta e fazê-la falar, se deveria gritar ali até os vizinhos reclamarem, ou se deveria até mesmo ligar pra polícia. Ele não sabia. Não tinha como saber. E ele não queria piorar o estado dela, não queria fazer nada errado e ao mesmo tempo sentia que não havia nada verdadeiramente certo a se fazer.

No final das contas, Kakashi só sentia que não poderia ir embora enquanto não tivesse certeza do que estava acontecendo. Na verdade, ele sentia que não podia ir embora de qualquer maneira, porque lhe doía tanto vê-la daquela maneira, porque ele era incapaz de dar um passo para trás sabendo que atrás daquela porta a sua garota sofria.

Continuou batendo com a testa na madeira dura da porta do apartamento enquanto percebia sua completa inutilidade. Pior que vê-la daquela maneira era saber que ele não podia fazer nada para ajudá-la. No final, ele apenas assumiu que não sairia dali até que aquela porta se abrisse, e que não podia fazer nada além de esperar, afinal ele não fazia ideia de quem era Sasori, do que ele representava, e porque Sakura queria que ele fosse embora com tamanha urgência.

Mais ainda, Kakashi não sabia o porquê daquelas ligações durante todo o mês sem que ele desse uma só palavra. Não sabia porque a demora de entrar em contato. Não sabia porquê ele estava ameaçando-o.

Não sabia.

Não sabia de absolutamente nada.

Mas certamente havia alguém que sabia de absolutamente tudo.

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Tinham saído da festa um pouco cedo. Ela já tinha devolvido o Jaguar para a garagem e recuperado seu confortável e espaçoso Saab. Decidiram que queriam comer taiyaki na barraquinha que ficava aberta até mais tarde no centro enquanto deixavam o sabor doce suavizar toda a carne que comeram durante o final da tarde.

A festa tinha sido incrível e Genma achou os amigos de Ino tão normais. Ele não sabia muito bem o que esperar quando ela o convidou para acompanhá-la, mas foi mesmo assim. Eram um bando de pós-adolescentes muito ricos que se divertiam sem se preocupar em pagar as contas no final do dia. Era engraçado pensar que nos churrascos de Asuma cada um levava pelo menos um pacote de cerveja enquanto que os amigos de Ino levavam bebidas importadas que trouxeram de suas longas viagens.

Céus, onde ele tinha se metido?

Não que ele tivesse dificuldade financeira, mas ver pessoas gastando daquela forma o fazia pensar que o mundo era mesmo injusto. E também não era como ele estivesse mesmo se importando. Não esperava que todo rico fosse como Kakashi que era um pão-duro, e também não esperava que estivessem no nível Yamanaka Ino porque ninguém chegaria aos pés dela, mas foi divertido ver as conversas tão banais, como se comprar um apartamento novo fosse como comprar um chinelo de banho novo.

E agora estavam sentados na barraca da esquina perto de sua casa enquanto Ino parecia estar comendo um manjar dos deuses. A satisfação da moça era contagiante que ele conseguia pensar num clipe todo só com Ino e taiyaki, só precisava de uma música mais pop, com um clima de felicidade, num desses dias de sol.

— No que você está pensando, Genma? – A mulher perguntou antes de lamber os lábios.

— Estava me perguntando se você não quer gravar um clipe – Disse de maneira casual — Nada comercial, só por diversão. – Se adiantou em dizer.

— Sério? – Arqueou uma sobrancelha enquanto ele lhe sorria concordando com a cabeça — Não é muito caro fazer um clipe só por diversão?

— Depende. – Ele deu os ombros — Mas você não tem que se preocupar com isso. Só diga sim.

Ela o olhou desconfiada, com um sorriso breve em seus lábios enquanto considerava aquela proposta. Não queria fazer parte de um clipe feito de qualquer jeito, mas Genma parecia bastante convencido de que poderia fazer algo interessante, além disso não era nada comercial, era apenas um projeto para passarem algum tempo de qualidade juntos.

— Tudo bem – Ela disse dando os ombros por fim, vendo o sorriso largo se espalhar pela face do homem em contentamento — Mas você tem que garantir que vai ficar bom.

— Prometo que você vai amar. – Disse confiante, porque ele iria fazer tudo sozinho. Fazia muito tempo que não se metia a fazer um clipe completamente só, mas era Ino e ele queria ser egoísta. Seria produzido, editado e todo o resto por Shiranui Genma.

Estrelando Yamanaka Ino.

Sorriu satisfeito.

— Quando você quer fazer isso? – Ela perguntou percebendo que ele estava bem animado com a ideia, porque não parava de sorrir ainda que estivesse visivelmente tentando se controlar.

— Preciso de duas semanas para arrumar a locação, então pode ser no outro final de semana?

— Marcado – Ela disse olhando para ele divertida, recebendo um pequeno beijo nos lábios logo em seguida. Bem discreto e furtivo, quase como um segredo, e ela adorou ser beijada daquela forma.

Balançou a cabeça negativamente se deixando ser contagiada com o bom humor do homem enquanto mordia mais um pedaço do taiyaki. Ela não sabia se estava tudo bem marcar algo para tão longe, assumindo que estariam se falando até lá, mas não era como se estivesse preocupada com isso naquele momento. Na verdade, ela até gostava de que ele fizesse planos com ela, que tivesse essa iniciativa.

O olhou de soslaio quando ele tirou o celular do bolso, deslizando o dedo na tela e colocando no ouvido de maneira casual.

— Manda. – Disse daquele jeito tão relaxado que Ino se pegou revirando os olhos com humor. Nenhum adulto deveria atender o telefone daquela maneira. — O quê? Kakashi, calma. – E viu a face do homem mudar enquanto ele se curvava sob o balcão como se estivesse tentando prestar mais atenção no que ouvia. — Ela tá aqui sim – E olhou brevemente para Ino com um semblante preocupado.

Sakura.

— Me dá – A loira falou estendendo a mão de maneira impaciente, mas Genma apenas continuou escutando o que quer que fosse. — Genma!! – Exigiu mais nervosa, mais imperativa.

— Vou passar pra ela. – Ele avisou ao telefone antes de estender o aparelho para Ino. Seu olhar era cauteloso, mas a loira sequer notou.

— Pronto. – Disse pressionando o celular contra o ouvido enquanto se levantava no banco em que estava sentada. Viu Genma pagando rapidamente com uma nota que valia muito mais do que apenas dois taiyakis e recusando o troco.

Ela andava para lá e para cá, inquieta enquanto ouvia o relato de Kakashi. A voz do homem era urgente e ele parecia querer atropelar as palavras em sua fala rápida e as vezes aleatória. Falou sobre uma ameaça que recebeu, ligações, uma foto, Sakura lhe colocando para fora de casa enquanto não lhe dizia nada com nada, e finalmente o nome que explicava todo esse caos instaurado.

Sasori.

Faziam mais ou menos dois anos que não tinha notícias de Sasori. Ela continuou rastreando ele por um tempo depois que Sakura finalmente se livrou dele, mas de alguma maneira ele simplesmente desapareceu como fumaça. Anos se passaram sem que ele desse nenhuma notícia e Ino chegou a pensar que ele havia morrido num beco qualquer, na verdade, ela meio que torcia por isso em seu íntimo, apesar de se censurar com a crueldade que a acometia quando lembrava dele.

Não tinha nenhuma simpatia por ele, e pudera, porque o teria? Ele acabou com a vida de Sakura por quase um ano todo, a fez sofrer como ninguém deveria um dia, e tirou tantas coisas dela... Mesmo tendo alertado Sakura tantas vezes sobre o caráter do homem, ainda assim, a amiga foi teimosa e se deixou levar pela lábia do outro e Ino se viu sem forças para puxá-la de volta, porque não cabia a ela, não é? Naquela época, Ino achara que não tinha esse direito, mesmo que cada fio de cabelo de sua cabeça loira dissesse que Sasori não prestava e que havia algo muito errado naquilo tudo, ainda assim, Ino fora incapaz de pressionar Sakura a ver o que ela via.

Teve medo que ao insistir em algo como aquilo, Sakura pudesse se afastar, mas o mais engraçado e trágico em toda essa situação fora que Sakura se afastou mesmo assim até pararem de se falar. Foram tempos esquisitos, porque estudavam na mesma sala e quando seus olhares se encontravam, rapidamente desviavam, como se evitassem qualquer tipo de contato ou sentimentalismo.

Foram tempos difíceis e saber que Sasori estava de volta para fazer a vida da amiga um inferno a fazia querer quebrar alguma coisa, porque era tudo tão injusto. Sakura era ridiculamente pacifica, e por mais que se irritasse com besteiras eventualmente, Ino não conhecia ninguém que fosse tão boa quanto Sakura, e logo agora que ela finalmente estava dando um passo em direção à sua libertação de todo esse passado inescrupuloso, Sasori voltava.

— Não saia daí. – Disse séria, apertando o celular com mais força do que deveria — Chego em 10 minutos. – Falou com a determinação de seus olhos azuis em chamas antes de desligar.

A mulher olhou para os lados de repente desnorteada, ainda sentindo uma espécie de raiva consumi-la, mas não podia ficar presa em seus sentimentos, não podia ceder aos seus impulsos, porque Sakura precisava dela, porque Ino já havia falhado uma vez e não se permitiria falhar novamente diante de uma situação como essa.

Sakura era sua melhor amiga, e ela tinha que estar apta para resolver tudo com maestria, porque tudo dependia dela, porque Sakura perdia facilmente o controle e precisava de Ino para fazê-la pensar novamente, para dizer que tudo ficaria bem de novo.

Yamanaka?

Virou-se para ver Genma colocando a mão em sua cintura, conduzindo-a gentilmente pela calçada na direção do carro. Seu semblante era preocupado, mas Ino não conseguia entender porquê. Ele mal conhecia Sakura, sequer sabia com o que estava lidando. Ele parecia tão deslocado naquele momento, tão aleatório.

— Genma, eu preciso ir – Ela disse finalmente percebendo que não havia tempo para pensar — Te ligo depois.

— Não – Ele falou quando chegaram a porta do carro fazendo-a franzir o cenho em descrença. Como assim, “não”? O que ele achava que estava fazendo? — Tem alguma coisa acontecendo e claramente você não tem condições de dirigir – Ele falou mais firme, mais presente, sumindo completamente com aquela aura relaxada que geralmente carregava — E não perca seu tempo discutindo comigo, Sakura precisa de você.

— Genma... Você realmente não entende-

— Não tô tentando entender nada, só quero ter certeza que você vai chegar bem na casa dela para ajudar no que quer que esteja acontecendo. – E a olhou com a intensidade de alguém que estava determinado em suas palavras — Me dá a chave e vamos logo.

Não havia porque hesitar, e ele estava certo afinal. Discutir era perda de tempo. Por isso apenas cedeu contrariada, porque Genma ali era mera distração, porque dirigir era como respirar para ela, porque sua mente clareava enquanto pisava nos pedais, porque ela precisava de um tempo só para organizar os pensamentos, porque se ficasse apenas parada esperando chegar no local, então todos aqueles flashes tomariam conta dela e ela não sabia como reagir sem focar em alguma atividade prática.

Enquanto as ruas passavam e o silêncio no carro se tornava denso, inevitavelmente as memórias amargas de anos atrás lhe acometiam. Sua perna não parava de quicar no assoalho do carro enquanto seus gestos impacientes corroboravam para que seus pensamentos vagassem entre a urgência e sua abstenção do passado, porque ela sempre soube que aquele cara não prestava, desde o primeiro momento em que pôs os olhos nele, mas Sakura sempre foi tão teimosa...

Mais ainda, mesmo depois que pararam de se falar, só de colocar os olhos em Sakura, Ino sabia que ela estava passando por alguma situação ruim, mesmo assim se sentira incapaz de fazer qualquer coisa enquanto a outra não a procurasse, e no final das contas, Ino só conseguira sentir a dimensão de tudo quando a situação já estava insustentável.

Ela sempre iria se lembrar daqueles dias em que via Sakura nos corredores e não falava com ela, mesmo sabendo que ela precisava ser ouvida. Ino sempre se lembraria dos olhares de súplica e da resignação de alguém que era tão viva e intensa, ia se lembrar para sempre da deterioração de uma grande amiga, e mais ainda, ia se lembrar que não fez absolutamente nada para impedir isso.

Mordeu o lábio percebendo que já estavam tão perto da casa da sua grande amiga. Da pessoa que tinha ficado ao seu lado incontáveis vezes, e a fazia se desafiar constantemente, porque elas não eram só amigas, elas também eram rivais, estimulando uma a outra para crescer cada vez mais, e Sakura tinha conseguido tantas coisas, tinha tantos sonhos... Mas Sasori a fez parar de sonhar por um longo período, e a fez perder seu brilho especial.

Sasori fez isso, mas fora Ino quem permitiu tudo aquilo acontecer.

E era claro que estava sentindo tantas coisas naquele momento, mordendo o lábio com tanta força a ponto de fazê-lo latejar em dor enquanto sua perna martelava insistente o assoalho do carro. Ouviu a voz de Genma anunciar sua chegada e sentiu que se olhasse para ele toda sua força se esvairia e ela não podia se dar ao luxo de vacilar, não de novo. Ela não podia sequer dar brecha para sua própria fraqueza, porque aquilo não era sobre Ino e seus sentimentos, não era sobre Ino e suas falhas, mas sim sobre Sakura.

— Vá para casa, Genma – Disse engolindo seco enquanto seu lábio sentia alivio em ser deixado de lado. Ela não olhou para o homem, não ousou. — Leve o carro e depois mando alguém pegar. – E abriu a porta sem sequer se despedir.

Era isso, não tinha tempo para as questões de sua vida, não tinha mais tempo para Genma e seus jogos, não tinha mais cabeça para qualquer coisa que não fosse resolver tudo aquilo. Era sua missão. Sua promessa.

— Eu vou com você.

O ouviu dizer daquele jeito sério e tão decidido enquanto a mão dele segurava seu punho com firmeza, fazendo com que ela ficasse estática naquele carro. Porque ele não podia simplesmente deixá-la fazer o que precisava ser feito? Porque ele tinha que insistir nesse jogo que estavam jogando logo agora? Porque ele não podia entender de uma vez que agora não era o momento?

— O que você vai fazer lá em cima? – Ela perguntou de maneira áspera, ainda evitando contato visual. — Você não conhece Sakura, e ela não precisa de plateia. Minha amiga precisa de mim e eu não tenho tempo para lidar com você. Vá para casa de uma vez e me deixe!

— Você tem razão, Sakura não precisa de plateia, mas eu não estou aqui por ela – Ele disse com firmeza — Sakura tem Kakashi e você. Você está aqui por ela, e eu estou aqui por você, Ino. Eu não vou te deixar.

Por mim? – Ela perguntou com um sorriso de escárnio surgindo em sua face — O que você acha que pode fazer por mim, Genma?

Sim, porque ele sequer entendia que aquilo não era o que ela queria. Porque ela só queria sair logo dali e ver a sua amiga, porque ela queria saber o que de fato estava acontecendo e tomar as providencias devidas antes que Sakura tomasse qualquer decisão por impulso, porque sua amiga agia dessa forma, parecendo tão madura, quando na verdade era apenas uma garotinha assustada tentando resolver as coisas sozinha porque era incapaz de pedir ajuda, porque já estava cansada de pedir ajuda.

Mas porque Sakura não conseguia entender que Ino sempre estaria ali para ajudá-la?

Porque diabos ela demorava tanto pra pedir ajuda??????

Porque????

— Eu posso enxugar suas lágrimas.

Ino virou-se para o homem surpresa com sua fala, percebendo que tinha os olhos marejados em sua angustia, e quando seus olhos azuis encontraram os castanhos tão sinceros, ela não aguentou. Tombou sua cabeça na direção dele num choro alto enquanto dizia coisas que talvez ele sequer fosse entender, mas estava tudo ali.

A culpa, a dor.

— É tudo minha culpa! Tudo que aconteceu, tudo! Eu deixei aquele idiota ferrar com a minha melhor amiga! Eu demorei demais!!!! – E as palavras saiam tão desconexas, tão desesperadas.

Porque ela podia ter evitado tudo aquilo, porque desde o começo dela podia ter feito tudo que estava ao seu alcance para fazer Sakura enxergar o que ela via em Sasori: Perigo. Mas ao invés disso, Ino apenas recuou e deixou que Sakura assumisse seu romance e seguisse em frente na direção da tragédia iminente que ele representava.

No final das contas, Ino só não queria afastar Sakura, mas Sasori o fez.

E Ino deixou.

Ino não lutou por aquela amizade e resolveu apenas aceitar que Sakura tinha escolhido o namorado psicopata à ela, sem perceber que eram questões muito mais profundas que aquela, sem perceber que o sofrimento nos olhos verdes da amiga era muito mais intenso do que ela deixava transparecer.

E depois que tudo passou, depois que tudo foi revelado, depois que Sakura lutou para continuar em Kyoto, Ino prometeu que cuidaria dela.

Prometeu que ela nunca mais cairia numa armadilha.

E agora Sasori voltava.

— Sshhh – Genma a abraçava de maneira firme, mantendo-a em seus braços enquanto as palavras saiam tão absurdas, tão reveladoras.

— Eu preciso entrar lá – Ela disse ainda chorando, ainda afundada na curva do pescoço dele, sem saber de onde tirar forças para encarar o que fosse — Eu preciso...

— Vamos lá, Ino – Genma disse afastando-a para fazer exatamente o que disse que iria fazer, e enxugou suas lágrimas mantendo uma expressão séria apesar do jeito terno — Você é Yamanaka Ino. Você vai entrar lá e apoiar Sakura, e se você sentir que precisa descarregar eu vou estar lá para enxugar todas as suas lágrimas. Então se recomponha e cumpra sua promessa.

...

Era tão estranho, tão absurdo. Como ele sabia exatamente o que dizer? Como ele sabia exatamente do que ela precisava? Como ele sabia...?

Como...?

— Você é mesmo uma caixinha de surpresas – Ela disse com uma risada enquanto se afastava, passando a mão no rosto enquanto se sentia acolhida e um pouco constrangida, vulnerável — Genma, obrigada – Falou com sinceridade, porque eram poucas pessoas que sabiam que ela não era essa fortaleza impenetrável, porque parecia que ele tinha enxergado isso desde o começo — Vamos logo então.

E assim desceram.

.

.

.

Kakashi parecia ter envelhecido cinquenta anos quando o encontrou parado diante da porta se Sakura, escorado sob uma mão. Ino o chamou suavemente, colocando a mão nas costas dele e pedindo passagem enquanto simplesmente abria a fechadura com sua chave reserva. Fácil e simples, Ino tinha acesso a tudo que era de Sakura.

Ela colocou sua cabeça loira para entro do local percebendo que a sala estava vazia. Deixou a porta aberta dizendo aos dois homens que ficassem na sala. Viu Kakashi a olhar implorando para que ela fizesse alguma coisa, e Ino se sentia tão empática naquele momento, era quase como se estivessem compartilhando um único sentimento.

O homem mal notou a presença de Genma enquanto ficou parado de maneira hesitante na sala da namorada, olhando para Ino tão absorto. Ele queria pedir tantas coisas a ela, queria perguntar tantas outras coisas, mas ao mesmo tempo sabia que não era hora ou lugar, sabia que Ino tinha algo muito mais importante. Sakura era prioridade.

— Ino, por favor...

— Não precisa me pedir nada, Kakashi – Ela falou daquele seu jeito tão prático — Apenas espere aqui.

Sim, era tudo que podia fazer.

Esperar.

A viu entrar no quarto da mulher sem nenhuma cerimônia enquanto ele apenas sentou-se naquele sofá cor creme. Passou as mãos nos cabelos se sentindo exausto. Praguejou para si mesmo enquanto percebia sua insignificância. Estava tão impotente. Não podia fazer nada além de deixar tudo por Ino, porque estava tudo tão confuso e apesar do ataque de Sakura soar como um pré-pânico, ver Ino chegando com aqueles olhos inchados lhe revelava que a situação era sim bem complicada.

Genma se sentou ao seu lado e ele finalmente percebeu o homem ali, ainda vestido como se tivesse acabado de sair da festa. Trocaram olhares cúmplices.

— O que aconteceu, Kakashi? – O homem perguntou e obviamente não sabia de nada.

— Alguém me ameaçou no telefone. Aquelas ligações, acho que eram essa pessoa o tempo todo. – Divagou tentando achar uma linha na qual podia seguir — Enviaram uma foto do meu carro estacionado aqui na frente e parecia ter sido tirada naquele momento. Foi quando recebi uma chamada e me disseram para ficar longe de Sakura.

— Será um trote?

— Eu não sei. – E balançou a cabeça confuso, imaginado quem seria tão sem noção a ponto de fazer um trote como aquele nível de consequências — Eu só subi correndo e encontrei ela daquele jeito. E ai ela só me enxotou daqui enquanto falava que eu não podia ficar. Parecia estar com medo de alguém.

— Talvez seja um ex maluco. – Disse cruzando os braços enquanto recostava no assento — Ino me disse que alguém ferrou com a Sakura no passado, mas não deu detalhes.

Kakashi girou a cabeça para ver o rosto do amigo lembrando-se das pouquíssimas vezes que Sakura lhe falou sobre um relacionamento ruim que teve, sem nunca dar muitos detalhes, mas sempre parecendo cautelosa com as informações.

Ele nunca perguntou, sempre deixou por ela lhe falar o que quisesse falar quando estivesse preparada. Não queria forçar uma conversa e para ser completamente honesto, também não estava curioso, porque era mais importante que Sakura estivesse bem do que ela reviver memórias que a deixavam desconfortável apenas para trazer uma história à tona.

Mas vê-la naquele estado era muito mais do que ele podia aguentar, e não conseguir tomar nenhuma atitude para aliviar o estado de Sakura lhe trazia uma raiva de si mesmo, sua incompetência em lidar com o sofrimento da pessoa que ele mais estimava lhe deixava inquieto de um jeito irritadiço. Sakura tinha os melhores sorrisos, os olhares mais belos, as expressões mais honestas, e vê-la desmanchar-se em lágrimas de medo... Quem em sã consciência iria querer vê-la daquela maneira?

Aquele temor em seus olhos não combinava em nada com a mulher divertida e tão honesta que conhecera, e ele foi incapaz de protege-la do que quer que tenha acontecido. Ele foi um completo inútil diante das necessidades dela, alguém descartável que não pode trazer nenhum conforto. Era esse sentimento que o fazia querer encontrar a razão de tudo aquilo e resolver o problema de uma vez por todas. Ele nunca foi uma pessoa agressiva, mas sempre havia uma exceção.

No final das contas, antes de qualquer coisa, Kakashi queria apenas manter sua Sakura segura. Queria abraçá-la e dizer que ali ela estaria para sempre a salvo de qualquer coisa que pudesse acontecer. Queria ser a casa dela, queria ser alguém que pudesse fazê-la esquecer de toda dor e trazer-lhe tanta felicidade que os dias tristes pareceriam cada vez mais distantes.

....

Talvez seja um ex maluco.

— Se for, eu te juro, Genma, que vou quebrar a cara do desgraçado.

.

.

.

Entrou no quarto com cautela olhando para o amontoado de lençóis na cama. Ino suspirou. Quantos anos fazia que não encontrava Sakura daquele jeito? Apavorada debaixo dos lençóis depois de uma crise... Depois do término com Sasori, sua amiga tinha desencadeado esse transtorno que a acometia quase todos os dias, e que depois de muita terapia, tinha sido controlado à um estado que muitíssimo raramente voltava.

Ino se sentou na cama colocando a mão em cima da coberta verde claro de Sakura, passeando sua mão pelo tecido tendo a certeza que a mulher ali embaixo reconhecia seu toque suave. Era inevitável lembrar dos tantos momentos que ficou horas ao seu lado para que ela lentamente voltasse a si, de como foi sua recuperação pós-Sasori e de como tudo tinha sido tão difícil.

— Sakura – Ino disse em seu timbre controlado, reunindo todas as forças em si para se manter calma — Eu to aqui. Você tá bem, e tá segura. Sasori não está aqui. – Afirmou no final sem saber muito bem se deveria falar o nome dele.

Sakura não se mexeu. Não soltou um ruído ou deu sinal que, de alguma forma, tinha ouvido o que a mulher havia acabado de dizer. Ino continuou passando a mão no cobertor imaginando se as coisas voltariam a ser dessa maneira, com ataques de pânico frequentes. Ela ainda não sabia direito o que tinha acontecido naquele lugar, mas pelo relato de Kakashi, certamente Sakura também havia sido ameaçada.

A loira continuou olhando para o monte onde Sakura se mantinha parada e era tão angustiante estar, novamente, vivendo aquela cena. Era como se tivesse voltado no tempo e as coisas ainda permanecessem da mesma forma. Sakura ainda era aquele animal assustado e cheio de traumas que se deixou parar de viver porque alguém a havia ferido de tal forma.

— Sakura, você tem que sair daí – Disse depois de engolir a seco sem saber como fazia para tirar Sakura de seu esconderijo. Já fazia tanto tempo que isso não acontecida que Ino sequer lembrava o que costumava falar — Fale comigo pelo menos. Diga qualquer coisa. Confie em mim.

Silêncio.

Não era uma tola e sabia que se continuasse daquela forma, provavelmente aquele estado letárgico de Sakura perduraria a noite toda, e Ino não tinha a noite toda. Ela precisava saber o que tinha acontecido exatamente para poder tomar uma providencia devida. Ela precisava que Sakura se recompusesse e falasse consigo para ter certeza que Sasori não a afetava mais daquela maneira tão profunda, mesmo que nesse primeiro momento Sakura já tivesse perecido.

— Pelo amor de Deus, Sakura – Falou um pouco mais enfática, mais como si mesma — Se você não falar comigo agora, eu juro por Deus que vou ligar pra Tsunade-sama.

Não.

— Ah, agora você fala.

Ino se permitiu rir diante da negativa da amiga. A situação ainda era preocupante, mas saber que Sakura estava racional o suficiente para tomar uma decisão que tomaria normalmente já deixava Ino um pouco mais aliviada. Ainda era Sakura ali, com as mesmas frescuras, só um pouco amedrontada e Ino conseguia trabalhar com isso, sabendo que ela não havia caído num estado muito pior.

— Sakura, você precisa sair daí – Disse novamente, dessa vez puxando o cobertor levemente mantendo sua voz tranquila, tentando trazer outro foco à conversa para fazê-la reagir — Kakashi está apavorado na sala. Você o assustou.

— Porque ele ainda tá aqui?

A voz dela era rouca como quem chorou por muito tempo, também estava abafada por seu soterramento entre os lençóis, mas ao falar de Kakashi, o seu tom ganhou uma ponta de urgência, como se sua mente tivesse girado para se concentrar em algo externo àquela situação. Como se o foco paralelo ajudasse.

— Porque ele é seu namorado – Ino respondeu dando os ombros — Porque ele se preocupa com você.

— Você tem que mandá-lo embora, Ino – Sakura disse, finalmente tirando o cobertor de cima de si — Eu não quero que ele se machuque.

Olhos vermelhos e inchados como sua boca e nariz avermelhados. Os sinais do choro desesperado estavam todos ali estampados no rosto dela. Ino se forçou a não esboçar nenhuma reação, porque sabia como Sakura reagia quando à olhares de pena nessa situação, mas foi inevitável levar um dedo a face dela para tirar aquele resquício de lágrima que jazia no limite do olho verde.

— O que aconteceu, Sakura? – Perguntou de maneira direta, ignorando totalmente o pedido de Sakura, porque não era uma prioridade para a loira naquele momento.

A mulher de cabelos róseos olhou para a amiga por um longo momento. Se sentia tão vazia e ao mesmo tempo parecia que havia um caos dentro de si. Havia o constrangimento de ter tido uma daquelas crises assim, tão repentinamente, mas pudera, Sasori havia lhe pregado aquele nível de peça. Ela não estava preparada para o impacto daquilo bem no dia em que tudo estava correndo tão bem.

Sua boca abriu e fechou novamente, como se escolher as palavras fosse tão difícil. Era Ino ali, sua melhor amiga, e ainda assim a vergonha de ter caído tão fundo por conta de Sasori novamente lhe fazia pensar duas vezes antes de dizer qualquer coisa. Era patético que depois de tanto tempo ele ainda lhe produzisse esse tipo de reação sem sequer aparecer a sua frente.

— Vá ao banheiro – Ela disse por fim, baixando a cabeça sem conseguir explicar muito mais que isso enquanto percebia a hesitação de Ino antes de sair da cama.

É claro que todos estavam preocupados. Ela tinha tido um ataque de pânico dos grandes, tinha feito um alarde por algo que, naquele momento, parecia ser tão pequeno, entretanto a ideia de ter Sasori lhe vigiando por tanto tempo lhe consumia como se ele pudesse aparecer a qualquer momento cumprindo todas as suas promessas, todas as ameaças.

E agora, mais que seus amigos, Sakura tinha Kakashi que havia sido pego no olho do furacão. Era tudo tão pior porque ele não sabia de nada, não fazia ideia do que estava acontecendo e da gravidade de tudo aquilo, e Sakura queria mantê-lo como uma parte de sua vida que era intocada.

Mas Sasori estava estragando tudo, como sempre.

Levantou a cabeça para olhar na direção do banheiro, a luz acesa produzindo claridade em excesso no seu quarto escuro. Ino ainda estava lá dentro, absorta em sua raiva enquanto olhava foto por foto, momento por momento, enquanto relia aquela frase idiota de novo e de novo, fechando a mão num punho que chegava a tremer de tanta forma que era aplicada.

Como ele pôde segui-la dessa forma? Como ele pôde invadir a casa dela, a privacidade dela daquela maneira, macular o espaço mais seguro que era aquele cubículo, e ainda por cima deixar aquela imagem dos dois transando em baixa qualidade junto a tantas boas memórias que Sakura tinha produzido naquele mês?

Sasori sempre teve esse ar artístico. Era muito claro que ele estava dizendo que o que tiveram seria eterno, porque sempre estaria nas lembranças dela e na internet. Estalou a língua num som zangado enquanto se mantinha firme, porque aquele homem era ardiloso em todos os aspectos, sabia como manipular a mente de Sakura como ninguém, mas dessa vez Ino não ficaria de mãos atadas.

Ino arrancou aquela imagem de Sakura sendo filmada sem sua permissão junto ao bilhete descarado do homem e guardou consigo. Precisaria daquilo no final da noite.

Voltou para o quarto vendo os olhos de Sakura um tanto perdidos lhe olharem. Estava curvada na cama com seus cabelos desgrenhados e parecia tão sozinha. Ino franziu o cenho sem perceber, dando passos largos na direção dela para abraçá-la, não porque Sakura precisasse daquilo, mas porque Ino precisava sentir que Sakura entendia que não estava só, que não precisava se isolar.

— Eu vou tomar conta de tudo – Ino disse se afastando por um momento, segurando o rosto da amiga entre as mãos — Se ele está em Kyoto, então eu vou achá-lo. – E estava prometendo da forma mais sincera que podia, porque não iria deixar mais nada acontecer à Sakura.

— E o que eu faço enquanto isso? – Sakura perguntou com um semblante cansado, desolado — Sasori está me seguindo, sabe onde Kakashi mora. Céus, eu tava colocando Kakashi em perigo esse tempo todo.

A mulher dizia enquanto seus pensamentos novamente voltavam à urgência de minimizar os danos que o homem poderia causar. Sasori era alguém perigoso e estava envolvido com tantas coisas estranhas que Sakura se sentia enojada só de pensar. Kakashi não merecia ser incluído nessa tempestade que atingia sua vida. Ele podia sair, ainda tinha essa opção.

Ele tinha que sair, porque se ele ficasse, então...

— Para, Sakura. – Ino pediu percebendo que os pensamentos da amiga beiravam àqueles que a levavam para seu estado de pânico — Você não tem que pensar nisso agora.

— Como não?! – Falou mais imperativa — Você, Kakashi... Todo mundo! Todo mundo que tá perto de mim pode estar na mira dele... Ino!

Sim, porque Ino não entendia a dimensão da possessão de Sasori, sobre como ele era ciumento com as suas coisas, e Sakura era classificada como uma dessas coisas. Ele não gostava que ela sequer falasse com outro homem, sempre disse que Ino era uma péssima amizade, odiava todos que tomassem mais de 5 minutos de sua atenção, ameaçou Naruto e Sasuke de formas que Sakura nunca imaginou ser possível.

Ela não podia arriscar as pessoas que mais lhe eram preciosas.

— Sasori é um merda. – Ino disse de maneira abusada — Fala muito, mas sabe que ele nunca conseguiria chegar perto de nenhum de nós para fazer algum mal. Sakura, confia em mim quando eu digo que ele jamais faria nada contra mim, ou Naruto, ou Sasuke...

Ino tinha essa teoria de que o dinheiro e fama de suas famílias eram uma barreira natural contra o homem. Ela até poderia ter razão em alguns aspectos, afinal por mais que Sasuke fosse um rejeitado por sua família, ele ainda era um Uchiha da casa principal e ninguém poderia encostar um dedo nele sem receber a fúria de todo clã Uchiha.

Naruto era filho do embaixador, seria um crime nacional encostar um dedo nele, sem falar em Ino que era dona da cidade. E todos os outros, todos os seus amigos, todos tinham tanto dinheiro e status na sociedade que qualquer pessoa pensaria duas vezes antes de tentar arquitetar qualquer situação adversa contra seu bem-estar.

Aliás, Sakura era a mais desconhecida e irrelevante do grupo, talvez fosse por isso que fosse um alvo tão fácil.

— Você pode afirmar a mesma coisa com relação a Kakashi?

Ino se calou, recuando brevemente em sinal de que fora pega de surpresa. Kakashi era um desconhecido, ninguém faria muito alarde por conta de um veterinário, e mesmo que ele fosse produtor de arroz, ainda assim tinham vários iguais a ele no Japão.

Não era grande coisa.

Mas ele era alguém importante pra Sakura. Alguém que ela deixou entrar depois de muito tempo e que naquele momento a fazia pensar primeiro no bem-estar dele do que no dela mesma. Ino a olhou por um longo momento enquanto a outra mantinha seus olhos verdes tão penosos lhe mirando, como se a decisão já tivesse sido tomada e o sacrifício estivesse prestes a ser feito.

A loira levou sua mão aos cabelos da outra, acariciando-a na tentativa vã de lhe dar algum conforto, mas ela via nos olhos da amiga que seria uma das coisas mais difíceis que faria. Sakura sempre foi determinada desse jeito e sempre fez o que precisava ser feito.

— Você não precisa terminar com ele – Disse depois de um momento, sem saber ao certo porque estava falando tais coisas, porque no final achava que era a melhor decisão, mas algo em si a fez dizer aquelas palavras e talvez fosse porque a muito tempo não via Sakura tão viva.

— Não posso arriscar – Ela disse com sua voz sumindo enquanto abaixava o olhar para suas mãos, tão impotentes como sempre foram. O silêncio veio sombrio pela penumbra suave dos móveis no quarto. A mulher continuou a olhar suas mãos tão vazias e incapazes de segurar algo por mais tempo do que lhe fora permitido.

Porque uma vez que sabia o que estava acontecendo, Sakura não podia arriscar. Todo esse tempo tinha Sasori em sua vida sem sequer perceber, e agora ele tinha mais poder sobre ela do que antes, porque Kakashi estava vulnerável a qualquer coisa que o outro pudesse fazer, e se para mantê-lo seguro ela tivesse que se afastar, então Sakura o faria.

E não importava que isso iria feri-la, não importava que ela fosse pensar nele a cada segundo dali em diante, porque Sakura ainda poderia fazer das memorias seu lugar seguro. Ainda poderia deitar-se na cama e lembrar de Kakashi com amor e assim se munir de alguma esperança, afinal, era isso que Kakashi sempre foi para ela, um alguém que a preenchia com todos os melhores sentimentos.

Sakura jamais ousaria estragar isso.

Fechou as mãos num gesto quase débil com suas forças no limite.

— Sakura, se Sasori quisesse fazer algo à Kakashi, então ele já teria feito – Ino disse de repente, mais séria, mais inquisitiva — Eu entendo a sua posição, mas talvez você devesse deixá-lo decidir.

Afinal, fazia sentido, não é? Era a vida dele também e Sakura não precisava fazer esse tipo de sacrifício. Ela não precisava abdicar de Kakashi se ele estivesse disposto a continuar. Sakura não precisava perder mais nada por conta de Sasori. Sasori não devia conseguir tirar mais nada dela.

— Ele nem sabe o que tá acontecendo – E riu sem nenhum humor — Como vai tomar qualquer decisão?

— Conte pra ele. – A outra falou como se fosse tão simples. — Diga o que aconteceu e o deixe decidir.

A mulher riu sem acreditar nas palavras da amiga, achando surreal que Ino pudesse sugerir algo como aquilo. Ela sabia da história toda, de como Sakura acabou presa nesse relacionamento servido à um homem asqueroso, vivendo épocas de reclusão e medo, porque tinha todas essas coisas sobre Sasori que ela só veio descobrir tão depois.

Que homem iria gostar de alguém suja como eu? – Perguntou tão baixo que parecia o sopro do vento noturno enquanto seus olhos jaziam presos em nada especifico, mirando o vazio.

Como ela poderia contar aquelas coisas à Kakashi? Como poderia dizer o que fez? Kakashi era alguém que a conhecera depois de tudo, ele sequer sabia o nome do homem que a estragou, sequer sabia das coisas que Sasori fazia consigo, de como tudo era tão degradante e sobre como ela era tão suja, usada...

Ela não queria ter que dizer. Não queria ter que explicar. Era mais fácil simplesmente encerrar tudo ali e preservar suas memórias do que arriscar tudo apenas para ver o olhar de repulsa do homem que finalmente conseguiu entrar em sua casca.

Kakashi era alguém longe de seu passado. Alguém com quem ela tinha uma história de conto de fadas. Ele era cheio dos sorrisos, e ela amava como ele a olhava daquela maneira tão boba, tão admirada. Será que ele ainda conseguiria lhe olhar com aqueles olhos cheios de amor mesmo depois de tomar conhecimento das coisas às quais se submeteu?

E se conseguisse, ainda assim era justo arriscar que ele fosse mais uma das vítimas de Sasori?

— Converse com ele, Sakura – Ino disse em sua voz complacente — Você não está em condições de tomar nenhuma decisão, então apenas converse com ele. – Reforçou segurando o rosto da outra com uma mão, forçando-a a olhá-la nos olhos na tentativa de transmitir um pouco de uma energia que não fosse a melancolia que tinha se apossado de Sakura. — Por ora, vamos nos concentrar na parte prática.

Sakura franziu o cenho confusa, já se sentindo exaurida com tudo o que tinha acontecido. Manteve seu olhar em Ino que não lhe dizia nada, até que por fim Sakura percebeu o que a parte prática significava. Negou com a cabeça rindo de nervosa com a sugestão da amiga.

Merda. ­– Disse com um suspiro, passando a mão entre os cabelos antes de se deixar cair com as costas na cama, olhando para o teto escuro do seu quarto pensando que ainda tinha isso também. — As vezes eu só queria morrer, sabe? – Disse de maneira tão casual que parecia estar falando sobre qualquer outra coisa.

— Talvez eu devesse marcar uma sessão com o Ibiki também? – Ino perguntou de maneira irritada — Porque se você já for começar com esses comentários eu não terei outra alternativa além de te enfiar numa sala com ele.

— Céus, aí eu vou querer mesmo morrer.

— Cale a boca – Ino suspirou jogando um travesseiro em cima da mulher, que sequer se mexeu para desviar — É sério, Sakura, talvez você devesse voltar a vê-lo.

Morino Ibiki, seu terapeuta.

Segundo Ino, ele era o melhor em toda Kyoto, mas Sakura só sentia que queria morrer um pouco mais a cada sessão que ia. Algumas eram ótimas, de fato, mas a maior parte parecia mais como tortura psicológica do que como sessões de terapia. Ela sabia que Ino estava preocupada, e sabia que comentários como aquele só faziam a amiga entrar cada vez mais num estado de alerta, mas Sakura não podia evitar.

Se morresse, então não teriam que pensar em nada disso.

Fez uma careta para o próprio pensamento, porque sabia que no fundo não era nenhuma solução e só traria mais dor do que qualquer outra coisa.

— Ino, eu to bem. É sério. – Disse voltando a se sentar — Eu só tô... Cansada.

E era pura verdade.

Sakura ainda se sentia emocionalmente exausta, e ainda tinha que lidar com coisas como onde iria dormir já que seu apartamento não era uma opção, e também não podia ficar na casa de Kakashi uma vez que estar junto a ele poderia ser algo fatal. Ino era a opção mais agradável, mas desde que precisava fazer aquele telefonema, ela sabia que no final das contas seu destino seria o condomínio onde Hinata morava.

A loira a olhou por um longo momento e Sakura se sentiu sendo avaliada, mas não se importou. Ino acenou com a cabeça como se tivesse chegado a uma conclusão interna que não precisava ser externada e resolveu encerrar aquele assunto por enquanto. Sakura sabia que ela retomaria a questão em outro momento, mas Ibiki era alguém que ela definitivamente não queria voltar a ver.

— Tudo bem – Disse por fim — Vamos deixar isso pra depois. Eu tenho que fazer um telefonema, e você liga pra Tsunade. – Disse de maneira enfática — Eu gostaria muito de usar tudo isso como desculpa pra fazer você morar na mansão, mas sei que Tsunade-sama vai querer tomar conta de você assim que souber o que está acontecendo.

Sakura concordou com a cabeça com um sorriso conformado. Por mais que ela quisesse deixar as pessoas de fora dessa confusão, Tsunade era sua protetora legal desde que o primeiro incidente com Sasori aconteceu. Naquela época, quando a situação finalmente foi revelada a todos, seus pais voltaram da Coréia prontos para carregar Sakura com eles.

É claro que nunca foi intensão de Sakura se mudar. Kyoto era seu lar para bem ou para mal. Foi Tsunade que convenceu seus pais a deixá-la sob a promessa que Sakura não esconderia nada da mulher, e mesmo agora enquanto maior de idade, Sakura ainda se via no compromisso de honrar sua palavra e aceitar quaisquer que fossem as decisões da mulher.

A não ser que fosse mandá-la para a Coréia.

Ino passou a mão em seus cabelos com um sorriso gentil de quem dizia que tudo ficaria bem. Saiu da cama rapidamente antes de pegar o celular da amiga na prateleira para jogar na direção dela. Mais uma vez se olharam como cúmplices antes de Ino finalmente deixá-la sozinha.

Quando voltou à sala, Kakashi se levantou imediatamente enquanto Genma parecia olhá-la de maneira cautelosa. Dois idiotas. Pensou com carinho enquanto percebia que ambos estavam tão preocupados à sua maneira. É claro que no caso de Kakashi, esse sentimento surgia de uma maneira bem mais agressiva, mas uma vez que sabia que Sakura estava bem, Ino podia apreciar a sensação de saber que a amiga tinha alguém a esse nível.

Lançou um sorriso fraco na direção de Kakashi, anunciando com sua expressão que tudo estava bem antes mesmo de finalmente verbalizar. Viu a expressão dele se manter séria enquanto ele apenas afirmava com a cabeça, mostrando estar entendendo a situação ao passo que Ino explicava o ataque de pânico que Sakura tivera, deixando claro que aquele apartamento tinha sido invadido e que o ex psicopata de Sakura havia voltado.

Procurou não ser tão detalhista, porque os detalhes não cabiam a ela. Esse assunto tinha que ser discutido entre Sakura e ele de forma que chegassem à um acordo quando finalmente estivessem à sós. Mesmo assim, Ino se sentia no dever de precavê-lo porque Sakura não merecia perder alguém que gostava tanto. Sakura não merecia ter que abdicar de alguém que ficava daquele jeito ao pensar que ela estava em perigo.

— Você pode ir vê-la agora – Ino disse com uma voz mais calma — O pior já passou, mas Kakashi... Sakura ainda está assustada. Vocês foram seguidos por todo esse tempo e ela tem medo que Sasori possa tentar algo contra você.

— O que isso quer dizer? – Ele perguntou ainda com um olhar tão confuso.

— Que ela vai tentar terminar com você – A outra respondeu sem rodeios enquanto ele franzia o cenho, obviamente pego de surpresa — Ao que tudo indica, vocês foram seguidos por todo esse mês, e Sakura tem medo de que algo possa acontecer a você. Honestamente, eu acho que é um receio válido e se você fosse meu amigo, meu conselho seria para você pular fora enquanto pode.

— Ino, eu—

— Mas eu não sou sua amiga. – Ela disse interrompendo qualquer que fosse a fala dele — Só estou dizendo que não vou julgar se você realmente pular fora, mas se resolver ficar então esteja preparado porque as coisas vão mudar. – E o olhou da maneira mais séria que pôde, se livrando de qualquer empatia.

Ela precisava deixar aquilo claro, precisava garantir que ele entendia a profundidade daquela situação dali para frente, porque coisas poderiam acontecer e Ino não poderia garantir que tudo seria tranquilo. Se ele fosse ficar, então que soubesse que Sakura era uma pessoa frágil de diversas formas, e com Sasori de volta, todos aqueles sentimentos que ela tanto lutava para manter sob controle poderiam voltar a qualquer momento.

Ataques de pânico eram só um dos efeitos pós-Sasori, mas Ino também não tinha como saber em que nível as recaídas de Sakura seriam. Era uma incógnita. Sem falar nas mudanças de rotina, que certamente haveria.

Sakura vivia dizendo o quão tranquilo Kakashi era, o quão boa era a rotina que tinham construído e como eles simplesmente se davam bem de forma tão natural. Ele era, sem dúvidas, um homem pacato, e talvez toda a agitação que Sakura fosse trazer naquele momento o fizesse pensar duas vezes antes de tomar uma decisão a seguir.

Ino continuou olhando para ele por um longo momento sem conseguir determinar o que se passava na cabeça dele. O homem apenas assentiu antes de agradecê-la, curvando seu corpo num gesto de respeito que Ino não esperava, e então se foi na direção do quarto da moça, deixando para trás ela e seu pegue-te, um encarando o outro.

Genma lhe sorriu com o canto da boca, parecendo meio conformado, meio gentil enquanto esticava a mão na direção dela. Ino não sorriu de volta, finalmente sentindo seu corpo amolecer um pouco enquanto aceitava o convite dele, segurando a mão masculina para finalmente sentar-se ao lado dele, se deixando ficar confortável sob o braço masculino enquanto suspirava sem saber direito o que aconteceria a partir dali, tomando folego para seu próximo passo.

— Você é mesmo uma pessoa bem direta – Ele começou com certa casualidade.

— Eu só quero que tudo isso se resolva, e rápido – Disse enfiando a mão no bolso para buscar seu celular — Sasori vai ter o que merece dessa vez, eu vou garantir isso.

— Vai ligar pra polícia?

— O que? – Ela riu colocando o celular contra o ouvido enquanto o barulho do tom de discagem se fazia presente num bip prolongado. — Desde quando a polícia resolve alguma coisa? – Resmungou parecendo irritada.

A polícia não tinha feito nada da primeira vez, e mais ainda, tinham gastado uma grana para manter o processo em sigilo, afinal, Sakura era filha de uma família de grandes empresários e um escândalo como aquele poderia prejudicar nos negócios. No final, a polícia era apenas um bando de mercenários que só sabiam passear de carro pela cidade.

Antes que o homem sequer pudesse pensar numa resposta, Ino levantou um dedo na direção dele. A ligação era finalmente atendida depois do que pareceu ser uma eternidade de espera.

Você sabe que horas são? – Disse num resmungo preguiçoso do outro lado da linha — Temari quase acordou, você sabe como ela fica de mau humor com sono interrompido!

— Eu to cagando pra hora ou para o humor de sua namorada – A mulher respondeu com sua voz autoritária — Preciso de sua ajuda pra ontem! Sasori está em Kyoto!

Mendokusē – Praguejou seguido de um estalo de língua — Vou dar o comando, mas isso vai sair caro.

— Dinheiro nunca foi um problema, Shikamaru. – Ela respondeu enfezada. — Só encontre o desgraçado.

Deixa comigo. Se ele está mesmo em Kyoto, então é questão de semanas até eu encontrá-lo. – Disse daquela maneira confiante de quem já tem tudo resolvido. — O que mais você sabe?

Ino começou seu relato, contando sobre os telefonemas que Kakashi havia recebido, as fotos no espelho de Sakura... Shikamaru era quase como um irmão mais novo irritante. O homem era preguiçoso e já tinha mudado de curso umas cinco vezes porque tudo parecia tão entediante para sua mente brilhante.

A verdade é que a família Nara tinha contatos. Era uma das famílias ricas de Kyoto, mas que, ao contrário dos outros, seus negócios eram tão obscuros que sequer Ino sabia dizer de onde vinha tanto dinheiro. Havia esse boato de que eles lidavam com o tráfico de ópio no Japão, mas ninguém conseguia dizer de fato, e seu pai sempre era muito vago quando falava dos negócios que tinha com a família Nara.

Foi Shikamaru quem rastreou Sasori da primeira vez, ficando de olho no homem por um longo período até que ele simplesmente sumira como fumaça. Num dia ele estava em Akihabara e no outro tinha desaparecido completamente. Apesar de Ino ter insistido, na época Shikamaru disse que desperdício de dinheiro, afinal Sasori estava praticamente falido e não apenas a polícia, mas também vário outros grupos estavam atrás dele e era uma questão de tempo que ele aparecesse morto em algum lugar.

Mas isso aconteceu, e agora as consequências estavam aí e Ino se odiava por ter cedido.

Desligou o telefone para informar o número de Kakashi à Shikamaru por mensagem, dizendo em seguida que enviaria as fotos para o homem no dia seguinte. Aparentemente, Shikamaru precisava de tudo que tinham para iniciar sua busca, seja lá como o faria.

Finalmente, Ino colocou o telefone no bolso e suspirou. Genma ainda estava do seu lado num completo silêncio como um abrigo tranquilo no meio de uma tempestade. A mulher apenas se permitiu encostar novamente no homem fechando seus olhos brevemente. Estava cansada, mas o carinho calmo de Genma, de alguma forma, lhe recarregava um pouco.

— Obrigada por vir.

Disse numa voz mais baixa enquanto sentia o homem sorrir. Ela sequer precisava olhar para o rosto dele para saber que encontraria a curva no canto dos lábios, lhe dizendo através do olhar que ela não precisava agradecer.

— Estou à sua disposição.

Ele disse por fim com aquele tom humorado e Ino apenas se permitiu rir brevemente na companhia do homem.

.

.

.


Notas Finais


Olha, foi um capítulo bizarramente difícil de ser escrito, foi tenso e ao mesmo tempo que eu queria que fosse pessoal eu também não queria que fosse, então talvez tenha ficado meio dúbio, mas espero que tenham gostado.

Essa semana tem mais, então me deixem comentários, afinal estamos a quase um mês longe ç_ç to com sdds de vcs debaixo do meu cobertor KKKK

CONTINUEM COMIGO! A HISTÓRIA TÁ LOKA.


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