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História Cam Girl: Online - KakaSaku - Camgirl: Offline


Escrita por: LoreyuKZ

Notas do Autor


Sem mais delongas, vamos ao último capítulo de Camgirl: Online.

E cara, to me tremendo aqui. AHAHAHA

Capítulo 16 - Camgirl: Offline


 

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As paredes cor creme eram iluminadas pela luz modéstia que atravessava os vidros da janela fechada. Era começo do outono e o clima ainda estava um tanto quente, entretanto, naquela sala, Ino sentia apenas o frescor do ar-condicionado. Olhava seu celular com interesse enquanto esperava naquela poltrona acolchoada da recepção. Entretida com as métricas crescentes de suas redes sociais, mal notou o tempo passar.

Não era nenhum sacrifício passar quarenta minutos esperando o fim da sessão de terapia que acontecia atrás da porta à sua esquerda, onde Genma tratava das cicatrizes deixadas pelos eventos de quase um mês atrás. Não tinha sido fácil convencê-lo a ver um terapeuta, mas insistência era o nome do meio da loira de olhos azuis.

Era engraçado porque, para Ino, aqueles eventos sobre Obito, Sasori e todo o resto tinham ficado para trás com uma facilidade tranquila. Três dias depois de tudo e Ino sequer lembrava sobre ter atropelado um homem no estacionamento do hospital, entretanto Genma lembrava, e aquilo ainda o assombrava de tempos em tempos.

Mesmo depois de tanto tempo, Ino não fazia ideia do que tinha acontecido com Obito. Naquele dia, depois do acidente de carro, Sasuke apenas identificou que o homem ainda respirava e o colocou Saab de capô amassado, pedindo que Gai o acompanhasse para onde quer que fosse. A loira chegou a perguntar o que diabos tinha acontecido com Uchiha Obito, e a resposta que obtivera foi tão direta que Ino jamais acreditaria.

Obito estava morto.

Uma ova.

Entretanto, Sasuke não estava disposto a revelar muita coisa e, no final das contas, Ino também não queria saber. Resolveu confiar em Sasuke porque nunca tivera motivos para desconfiar, até porque Sakura também era uma amiga importante, e ele jamais arriscaria a vida dela. Então... Obito estava morto. Não precisava mais discutir sobre isso.

Apesar de que, sim, era uma possibilidade.

No momento do impacto, todos desceram do carro vermelho com pressa, vendo o corpo caído do homem que vestia preto. Completamente ensanguentado com uma ferida profunda que vazava seu sangue. Fora Gai quem aplicou pressão no corte, porque Ino foi incapaz de mexer um músculo sequer para salvá-lo. Não tinha esse nível de altruísmo.

Além disso, aquela fora a primeira e única vez que a loira viu o causador do tormento dos últimos dias. Dar um rosto ao nome era estranho. Sua mente preencheu as lacunas borradas com o nome de Obito numa velocidade assustadora, e logo em seguida, Ino queria apenas que ele sumisse de sua frente. E assim aconteceu. Sasuke só o colocou dentro do seu Saab e disse que iria pegá-lo emprestado.

Como se ela fosse querer aquela porcaria depois de tudo.

Mandou-o dar um fim naquele veículo e quando olhou para o lado percebeu, finalmente, que tinha exigido demais de Genma. Ele tinha suportado bem toda tensão até ver Obito quase morto na sua frente. Foi ele quem perguntou, completamente agitado, o que tinha acontecido com Kakashi, Sakura e os outros. Sasuke foi sincero com sua resposta: Estavam todos bem na medida do possível.

Oh, céus.

Ino sabia que aquilo significava que, provavelmente, eles haviam se ferido, entretanto a expressão de Sasuke e sua tranquilidade mostravam que eram coisas pequenas perto do que poderia ter acontecido. A mulher estava ok com aquela resposta, porque era tudo o que precisava saber, mas Genma interpretou aquilo de forma muito mais drástica.

Quando finalmente entraram no hospital, Sakura estava saindo de uma tomografia e Kakashi já tinha recebido as suturas que precisava, estando com um curativo horrível no rosto. Rin e Aoba pareciam ter sobrevivido à uma noite de um filme americano de terror trash dos anos 90, estavam suados, com roupas inapropriadas e, apesar do olhar sério, pareciam aliviados.

As consequências? Sakura tinha uma concussão na cabeça, nada que gelo e descanso não fossem resolver. Sua coluna, no entanto, precisava de mais cuidados, incluindo repouso absoluto, comprimidos, um estabilizador de coluna, consultas periódicas, eteceteras. Nada que fosse exatamente grave ou permanente, mas que precisava ser cuidado com a devida responsabilidade.

Kakashi, no entanto, só tinha aquele corte no rosto que, por sorte, não o deixou cego. Precisava de repouso por conta do acidente, e gelo onde tinha recebido um soco forte.

Era isso.

Estavam todos bem na medida do possível.

Naquele dia, antes de saírem do hospital, Tsunade apareceu completamente irritada. Sakura e Ino levaram o sermão que parecia ter sugado meses de sua energia vital, mas não ficou por aí. Ela também aproveitou para dar um sermão em Kakashi, Rin e até Aoba. Genma também não escapou. Tsunade não poupara nenhum deles.

Sem querer discutir mais, ela simplesmente levou Sakura para sua casa depois de dizer a Ino que resolvesse a bagunça, porque haviam câmeras de segurança que registraram tudo, sangue no estacionamento, uma cancela quebrada e policiais chegando.

Foi quando do nada Shikamaru apareceu com aqueles dois.

Hidan e Kakuzo.

Ino sempre os achou nojentos, mas eram os caras que Shikamaru confiava para fazerem toda a parte suja da coisa. Hidan recuperou as gravações e Kakuzo... O idiota afastou a polícia como se todos comessem na sua mão. Bizarro, mas Ino não se importou muito. Daquele ponto em diante, Shikamaru disse, era algo que os Uchiha resolveriam.

Não que fosse preguiçosa, mas depois daquele dia infernal, ela só queria levar Genma para casa e tomar um longo banho – ficaria com ele enquanto falava com Sakura ao telefone, por vídeo chamada de preferência – por isso ela apenas concordou e chamou seu motorista.

Entretanto, se soubesse como os desgraçados iriam resolver essa situação, Ino teria feito questão de lidar com tudo ela mesma.

Levantou o olhar para a televisão na parede que exibia o canal de notícias. Fez uma careta para a repórter que declarava em tom solene: Esta semana, a morte do policial Uchiha Obito completará um mês. O herói, que salvou um grupo de quatro pessoas....

Blá blá blá.

Revirou os olhos querendo que um buraco abrisse aos seus pés e levasse para o inferno. Era melhor que ouvir toda aquela besteira sobre Obito ter sido um herói, porque se havia alguém que merecia esse título, esse alguém era Sakura, Rin ou até si mesma. Qualquer pessoa poderia pegar esse título, exceto Obito.

Mas aquela era a família Uchiha.

Os desgraçados nunca iriam deixar que a imagem da família fosse manchada com um incidente tão sórdido. Foi Sasuke quem mexeu seus pauzinhos para que tudo soasse como se alguém tivesse perseguido Sakura até o estacionamento, que estava indo pegar o namorado depois alta do acidente e seus amigos. Houve uma luta, Obito deu a vida por eles.

Pff...

A primeira vez que tinha visto aquela notícia ocuparem as manchetes, Ino surtou. Tinha certeza que Sasuke nunca havia levado um sermão tão longo na vida, mas ela precisava colocar tudo aquilo para fora, e ele era o único responsável por toda aquela merda. No final das contas, Obito era o herói do mês, e as vítimas pelo qual ele deu a vida não foram reveladas em prol de sua segurança. Além disso, é claro, as ações dos Uchiha voltaram a crescer.

Naquele momento, diante da televisão, Ino via Itachi ao lado de Fugako, que falava como chefe da família. Obito sempre honrou o nome de nossa família e resolveu dedicar sua vida à população japonesa. Nós temos muito orgulho da pessoa que ele foi...

— Olá? Ei! Com licença – Ino disse abanando a mão no ar, chamando a atenção da recepcionista. — Você poderia mudar de canal, por gentileza?

— Ah! Claro, senhorita Yamanaka – A moça disse pegando o controle e colocando em outro canal qualquer — Se quer saber, eu também não aguento mais ouvir sobre esse cara. – Ela disse com um suspiro.

Ino sorriu fazendo uma nota mental para dar um super bônus para aquela mulher.

Sakura não pareceu se importar nenhum pouco com a solução de Sasuke para o corrido desde que seu nome não fosse envolvido, mas todos os outros pareciam completamente perplexos. Genma, inclusive, toda vez que via aquela notícia parecia perder um pouco da própria sanidade. Ela odiava a expressão que ele assumia, e as noites eram piores quando isso acontecia.

Era a terceira sessão de terapia, e Ino sabia que o progresso era absurdamente lento, mas já se sentia vitoriosa por ele estar indo sem reclamar. A loira sabia que não era uma pessoa exatamente sensível, principalmente quando as consequências daquilo em si eram de caráter prático, sobrando apenas aquela raiva irritadiça toda vez que via Obito sendo pintado como herói.

Genma precisava de alguém que pudesse ajudá-lo a processar que o amigo de infância tinha virado um criminoso. Precisava que alguém o ajudasse a voltar a dormir melhor, sem enxergar o corpo ensanguentado de Obito toda vez que tentava tirar um cochilo. E bem, Ino estava disposta a ajudar como podia, e isso era ficando ao seu lado.

O resto era com ele.

— Vamos? – Ela escutou a voz dele depois que a porta se abriu.

Ino sorriu. Ele sempre parecia ansioso para sair do prédio toda vez que a sessão finalizava.

— É claro – A loira disse em resposta, colocando o celular na bolsa antes de levantar. O beijou no ombro com naturalidade antes de cumprimentar, de longe, o terapeuta por trás da soleira da porta. — Quer falar sobre a terapia hoje? – Ela perguntou quando estavam no elevador, e o viu apenas negar com a cabeça.

— Hoje não, Yamanaka – Ele disse e ela não sabia dizer se ele estava de bom humor — Só vamos embora.

— Tudo bem. – Ela disse sabendo que o ar fresco o ajudaria a clarear a mente.

Não demoraram para chegar no estacionamento aberto e encontrar o Aston Martin DBS Superleggera completamente absoluto no meio de todos os smarts ao seu redor. Com um bip, as portas estavam destravadas e Genma escorregou para o banco do carona enquanto a mulher dava partida. O carro, na cor vermelha, tinha chegado ao Japão faziam duas semanas, e Ino estava completamente apaixonada no seu novo brinquedo.

Foi seu pai quem a presenteou, depois de ter lhe dado um longo puxão de orelha. Quando soube do acontecido, Yamanaka Inoichi ficou consternado. Pensou que Ino lhe deixaria a par de qualquer coisa, mas ao invés disso, sua filha assumiu a dianteira e tomou uma série de atitudes precipitadas. Na visão dele, tudo poderia ter se resolvido com menos alarde se ela tivesse simplesmente deixado tudo na mão dos adultos.

Mas Ino disse, com toda sua honestidade, que aquilo era algo que ela precisava fazer. Primeiro porque se tratava de Sakura, e segundo porque ela tinha que ser capaz de aprender a resolver seus próprios problemas sem precisar ser sempre socorrida pelo seu pai, precisava que ele confiasse que ela estaria pronta quando a hora de assumir tudo chegasse, e isso incluía permitir que ela tomasse suas próprias decisões.

Foi o suficiente para que ela ganhasse um carro novo.

— Ah, Yamanaka! Podíamos passar naquele sushi de esteira, perto do canal, e comprar alguns para o almoço, não é? – Genma disse animado.

— Você pode pedir pelo aplicativo. – Ela disse prestando atenção no trânsito — Senão vamos ter que fazer um balão na cidade.

— Mas é caminho de casa.

— Bem, nós não estamos indo para sua casa.

Genma arqueou uma sobrancelha na direção dela levemente confuso. Não lembrava de nenhum compromisso para aquela tarde que exigisse sua presença, além disso, nos dias de suas sessões, Ino era cuidadosa o suficiente para não marcar nada logo em seguida.

Franziu o cenho pensando que talvez fossem para a casa dela, o que era inesperado porque Ino tinha esse acordo com sua mãe sobre não levar homens que ela estivesse saindo para lá, e mesmo que ambos já tivessem deixado claro que suas intenções os tiravam desse patamar indefinido, ainda assim não era um namoro. Ino havia deixado claro que só o levaria na mansão após um pedido oficial.

Mas aquele caminho logo foi se definindo e não parecia levar ao Jardim Botânico. Na verdade, Ino estava claramente indo aquela parte suburbana da cidade onde haviam casas de muros altos e quase nenhum comércio. Revirou os olhos quando percebeu estarem indo a caminho da casa de Kakashi.

Ele não tinha visto seus amigos desde... Desde tudo.

Talvez estivesse evitando-os deliberadamente, mas sempre justificava com trabalho e outras coisas mais urgentes. O grupo que tinham estava sendo dominado pelas besteiras de Asuma, Yamato, Gai e, às vezes, Aoba. Genma não se sentia no humor de estar interagindo, e percebeu que Kakashi estava falando muito pouco. Aoba era quem aparecia e desaparecia com a mesma velocidade, ao passo que Gai parecia sequer ter conhecimento do que tinha acontecido: Era exatamente o mesmo.

Ele não sabia se Kakashi estava vendo o pessoal e também não se importava. A única certeza que Genma tinha era que todos os envolvidos deviam, no seu íntimo, estar lidando com as coisas que aconteceram à sua própria maneira, e para ele, que era apenas um cara com uma câmera, viver cenas de um seriado policial era muito mais do que podia aguentar.

Ainda se sentia tonto quando pensava no Obito que conheceu e no homem quase morto que atropelaram. Ainda era como se toda aquela confusão vivesse dentro dele, chocando duas realidades, e era bizarro porque ele e Obito sequer eram amigos. Genma meramente falava com ele, mas sempre achou que de todos, Obito fosse o mais ingênuo, quando na verdade, ingênuo era o próprio Genma.

Mas também, o que esperar do cara que traí o melhor amigo?

De toda forma, ele ainda não queria ver ninguém, mas ali estava Ino sem se importar com isso enquanto dirigia rumo à residência de Hatake Kakashi. Fez aquela última curva com classe e estacionou na rua bem em frente à porta larga. Ela olhou para Genma com um sorriso gentil, algo que ele vinha apreciando cada vez mais, e então o beijou lentamente.

— Você me faz fazer cada coisa – Ele resmungou quando ela se afastou, mirando-o com seus olhos azuis cheios de amor.

— Olha quem fala – A mulher retrucou com seu humor inabalável — Você precisa ver seu amigo, e eu preciso ver a minha. – Ela comunicou de maneira mais plena — Você vai passar a tarde com ele, e eu com ela.

— O quê? Vocês vão sair? – Ele questionou — Vão nos deixar só?

— É apenas uma tarde. – Ino disse dando os ombros — Conversem. Ponham o papo em dia, e quando menos esperarem, eu e Sakura estaremos de volta.

Genma fez uma careta.

— E sobre o que eu vou falar com ele a tarde toda? – Perguntou parecendo irritado.

Ino suspirou.

— Não me pergunte isso como se você não o conhecesse – Respondeu um pouco mais séria — Genma, eu sei que você tem evitado seus amigos, mas isso não vai apagar o que aconteceu. Você não deve afastá-los nesse momento.

Eles se olharam por um longo momento e Ino parecia saber exatamente sobre a pauta do dia com seu terapeuta. Durante a sessão, Genma havia prometido entrar em contato com seus amigos em algum momento da semana, ele só não esperava que a oportunidade fosse surgir tão rapidamente. Suspirou se sentindo derrotado, mas Ino apenas o beijou novamente daquele jeito suave.

— Tudo bem, você tem razão – Disse ainda um tanto emburrado.

— Então melhore essa cara – E o tom feminino era de um completo bom humor — Peça o sushi no aplicativo, aproveite e chame mais alguns amigos. Façam uma tarde para vocês.

— A casa não é minha, Yamanaka – Ele falou rindo da maneira como ela simplesmente se fazia dona de qualquer lugar.

— E daí? – Ela deu os ombros — Não é como se Kakashi fosse deixar todos do lado de fora, não é?

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Sentia os olhos masculinos a acompanharem de lá para cá enquanto ela colocava o que precisava dentro da pequena bolsa lateral. Olhou-se no espelho do quarto conferindo sua roupa, uma camiseta branca com um decote em V e mangas soltas, calça skinner clara e seus inseparáveis tênis. Jogou o cabelo para o lado enquanto se virava, vendo-o encarar insistentemente da cadeira.

A mulher de cabelos cor-de-rosa então fez seu caminho até ele, esticando um braço por trás do homem enquanto seus rostos ficavam bem próximos. Ela sorriu enquanto capturava seus brincos, um par dourado de pedras verdes que ele a havia dado não fazia uma semana, combinando com sua pulseira que caia singela em seu braço.

Ela o beijou divertida quando percebeu que ele não desmancharia a expressão emburrada, e novamente o beijou, porque o achava lindo. Acabou sentando sobre seu colo de maneira confortável, jogando as mãos envolta do pescoço dele e o homem apenas cedeu a sensação de tê-la tão perto, beijando seu rosto repetida vezes enquanto o aroma do perfume doce dopava seus sentidos.

— Você tem mesmo que ir? – Ele perguntou com manha, deixando seus lábios bem próximos ao pescoço dela.

Hm... Você sabe como a Ino é. – Foi a resposta dela antes de deslizar as mãos por seu rosto com cuidado para não derrubar as joias que jaziam em sua posse. — Já faz muito tempo que não a vejo também. Eu estou com saudades.

Kakashi fez uma careta amuada. Sakura sorriu lhe beijando a testa de uma maneira natural, trabalhando em seus brincos logo em seguida.

— Vocês se viram essa semana. Ela estava aqui não faz três dias – O homem rebateu com as sobrancelhas unidas.

— Justamente. – A mulher disse com seu humor inabalável. — Faz tempo que não a vejo e estou com saudades. – E o viu recuperar aquele bico amuado. — Não faz essa cara. Vamos, sorria para mim.

— Você vai me largar aqui sozinho. – Kakashi disse num óbvio drama exagerado.

— Eu volto no final da tarde, amor. Talvez um pouco depois – Ela disse achando graça daquela reação tão boba — Nem vai dar tempo de sentir minha falta.

— Por que vocês não ficam aqui? – Insistiu passando a mão nas pernas dela num carinho distraído. — Faço um almoço para vocês.

— Fizemos isso a três dias – Ela falou com humor enquanto ele apenas reproduzia aquela careta de minutos atrás. — Céus... Mesmo fazendo essas caras, eu não consigo deixar de te achar o homem mais bonito que eu já vi. – E antes mesmo que ele pudesse responder, ela o beijou mais uma vez.

Depois de todos os eventos trágicos do mês passado, Kakashi tinha ficado muito mais vulnerável que em qualquer outro momento. Naquele dia, quando voltou para a casa de Tsunade cheia de recomendações médicas, Kakashi a ligou umas trinta vezes. A verdade é estavam todos carentes demais, preocupados demais, e aliviados demais. Não precisava dizer que todos estavam um tanto mexidos em graus diferentes pelos acontecimentos que ainda eram tão recentes.

À noite, quando Sakura já estava dormindo o sono dos justos depois de tomar três comprimidos para dor, Kakashi apareceu repentinamente no condomínio completamente suado e em pânico. Ela soube naquele momento que provavelmente ele tinha tido um pesadelo e que as imagens foram tão reais que ele precisava vê-la para saber que tudo estava bem novamente.

Dormiram juntos em seu quarto rosa chá na casa de sua madrinha sem que ela sequer soubesse. No outro dia, Sakura sabia que isso iria se repetir algumas várias vezes e por isso negociou com Tsunade para simplesmente se mudar, e desde então estava morando com Kakashi sob a condição de não faltar nas consultas, tomar os remédios, se alimentar bem e ir à fisioterapia.

As primeiras noites foram as piores. Ela tinha dores profundas e ele acordava assustado com os pesadelos. Ino se tornou uma visita frequente, afinal estava preocupada com o estado psicológico de Sakura, que se revelou muito serena diante de tudo. Estava bem, e não fosse as dores nas costas, diria que suas sequelas eram basicamente nulas.

Ela sabia que era estanho estar tão bem quando no passado ficou devastada por Sasori, mas todo o pânico fora vivido durante aquela situação, e agora restava apenas racionalizar todo o resto. É claro que tinha vivido uma experiencia surreal, mas nada daquilo era sua culpa. Tinha decidido não se deixar abalar, e claro, não negar nada do que aconteceu.

Sasuke também apareceu em sua casa junto com Naruto. Ele pediu desculpas em nome da família Uchiha e Sakura só conseguiu rir diante daquilo. Eles conversaram sobre o que aconteceu e ela sentiu como se pudesse falar daquilo abertamente com qualquer um deles. Obito tinha virado um herói na mídia nacional, mas e daí? Ela não se importava desde que ele não fosse mais uma questão em sua vida.

Não importava como as pessoas o viam, ela sabia exatamente quem ele era e as pessoas que realmente importavam também sabiam. Além disso, se transformá-lo num herói ajudava Sasuke e seu relacionamento com seus pais, então Sakura estava tranquila com isso. As palavras de Sasuke logo após encontrá-la no completo Uchiha lhe deram forças, e ela não podia ser mais grata.

Kakashi ao vê-lo, no entanto, pareceu hesitante. Ela não sabia exatamente o que estava se passando com ele, mas Kakashi estava claramente abalado por todos os acontecimentos. Demorou um pouco para relaxar na presença de Sasuke e só depois ela percebeu que, na verdade, a tensão dele não era com Sasuke em si, mas com Sakura interagindo com alguém de fora, que ele não conhecia.

Foi quando ela começou a notar que ele ficava ansioso quando não estavam juntos. Era ele quem lhe levava à fisioterapia, mas não podia ficar dentro da sala durante a sessão, e quando ela saía o abraço que recebia era como se ele precisasse descarregar toda a tensão vivida durante uma hora que ela não estava perto o suficiente. Ele também, com frequência, aparecia na varanda quando ela estava deitada com Buru apenas para checar.

Ele estava com medo por ela.

Era tão obvio que Sakura se sentiu idiota quando percebeu isso após uma semana inteira.

É claro que ela nunca iria esquecer o jeito com que fora abraçada no chão daquele estacionamento. O desespero transmitido pelo choro contínuo em soluços e agonia. Kakashi estava apenas mergulhando em tristeza e, quando percebeu que ela estava bem diante de tudo, seu choro apenas aumentou num alivio violento que lhe acometera.

É claro que isso traria consequências.

Então Sakura reuniu toda paciência que tinha e resolveu apenas ficar ao lado dele, ainda que Ino insistisse que ela estava apenas alimentando um costume feio e que ele precisava de ajuda profissional. Não que Sakura não soubesse disso, mas também não queria forçá-lo a ver um terapeuta, principalmente quando tudo ainda estava tão recente. Kakashi precisava, primeiro, ter certeza que Sakura estava muito bem, e então poderia cuidar de si mesmo, era o que ela pensava.

Por isso passou um mês na casa dele, sendo paparicada e cuidada como se fosse uma rainha. Ele era pior que Tsunade quando se tratava dos horários, e para alguém sempre atrasado, isso era um verdadeiro avanço. Sempre a levava em todos os compromissos médicos, lembrava do horário dos remédios, contava no relógio as horas que ela tinha que passar com o estabilizador de coluna, a lembrava de sentar direito, a lembrava de não ficar em pé por muito tempo...

Ele era um anjo.

Fora a comida boa, a companhia, os beijos, os sorrisos...

A sorte era que estavam entrando em período de férias também, e assim Sakura não precisava ir à faculdade e Kakashi não precisava ir ao prédio para trabalhar. Também começaram a fazer compras online na maior parte das vezes, e só saiam de casa porque o médico de Sakura não atendia a domicilio.

Sim, eles basicamente se isolaram do mundo.

As informações do mundo externo eram trazidas por Ino, uma visita praticamente diária, Yamato e Gai. Asuma também apareceu algumas vezes, e Naruto também se fez presente em alguns momentos.

Mas ali, depois de um mês, Sakura havia recebido a feliz notícia de que sua recuperação estava acelerada, e o médico a havia liberado para passeios moderados desde que fizesse pausas para sentar e usasse o estabilizador. Era o que Ino precisava ouvir para simplesmente arrancá-la de Hatake Kakashi da maneira mais rápida que conhecia.

Seria a primeira vez que iriam ficar separados por mais de uma hora. Na verdade, era a primeira vez que Kakashi ficaria em casa enquanto Sakura saia para fazer qualquer coisa, e ela tinha que admitir que estava preocupada porque, mesmo que os pesadelos de Kakashi tivesse cessado e as verificadas tivessem diminuído, ainda assim Kakashi estava ali pedindo que ficasse e Sakura sabia que, no fundo, aquilo era reflexo de um receio que não tinha se esvaído.

Entretanto, não havia como ela simplesmente ceder. Aquela saída seria o primeiro teste, porque eles não podiam viver juntos para sempre. Eles eram duas pessoas com vidas próprias e vontades individuais, além disso Sakura realmente precisava andar e ver gente, conversar com Ino de maneira sincera sem se preocupar de Kakashi. Precisava fofocar, comprar roupas novas, um carro novo e uma casa, porque ela não podia morar com Kakashi para sempre, não é?

... Enfim.

— Até parece – Ele disse com humor entes os beijos que ela o dava de novo e de novo. — Tenho uma cicatriz enorme no rosto.

— E ainda assim, de alguma forma, você conseguiu ficar ainda mais bonito. – Sakura passou passando um dedo gentilmente pela linha avermelhada que partia seu olho esquerdo ao meio. — Sinto que podia passar o dia todo apenas te beijando – Falou buscando novamente nos lábios do homem aproveitando o momento para se munir do seu calor.

— Sabe que podemos passar o dia todo apenas nos beijando – Ele respondeu vendo-a sorrir antes que pudesse lhe ceder mais um daqueles beijos suaves.

— Tentador – Sua voz soava distraída e ela apenas o tomou novamente num beijo que, dessa vez, tinha um tom mais profundo. Suas línguas rapidamente entraram numa sincronia tortuosa enquanto ele sentia as mãos femininas em seu rosto, mantendo-o firme enquanto ela transformava aquele gesto em algo mais intenso.

E ele apenas aproveitou, passando suas mãos por todas aquelas penas cobertas pelo tecido grosso do jeans, apertando sua coxa enquanto se deixava ser tomado pela sensação de Sakura lhe beijando daquele jeito tão sôfrego.

Então, de repente, a mulher sentiu-se ser suspensa. Os braços dele a ergueram enquanto que, com passos breves, ele a depositava gentilmente na cama. Sua coluna, meu bem. Disse antes de beijá-la novamente, e ela quis rir. Oh, sim, estava um pouco torcida naquela posição, sentada no colo dele, mas não sentiu nenhum incomodo. Mesmo assim, ele havia simplesmente a colocado na cama de maneira gentil enquanto subia em cima dela para continuar de onde pararam.

Hey, eu preciso ir – Ela disse baixo sentindo os lábios quentes em seu pescoço e a mão boba massageando seu seio. O problema era que àquela altura, Sakura só queria se deixar levar. Não mentiu quando disse que podia beijá-lo o dia todo.

Uhum – Foi a resposta dele antes da campainha tocar anunciando a chegada de uma Yamanka Ino. — Mais 15 minutos. — Pediu deslizando a mão pelo seu corpo sob o tecido, escorregando por entre a suas coxas enquanto a beijava mais profundamente.

— nhmmm... – Como se 15 minutos fosse suficiente. — Kakashi – Ela suspirou.

Oh, céus... Ela era uma fraca.

Mas Ino se fez bem clara quando começou a martelar o dedo no interfone e o barulho da campainha soava insistente de maneira copiosa para que a mente de Sakura clareasse. Kakashi soltou um ruido irritado e a mulher apenas deu uma risada, puxando-o para mais um beijo antes de escapar rapidamente.

Estava descendo as escadas quando Kakashi a perguntou que horas ela voltava com aquela voz emburrada novamente surgindo. Não evitou a risada quando virou-se no meio da sala, segurando as mãos dele enquanto o olhava gentilmente, porém séria.

— Eu não sei. – Respondeu com sinceridade — Talvez no final da tarde, talvez depois. – E viu a careta dele diante de sua declaração — Ei, você sabe que eu vou estar com o celular o tempo todo, não é? Pode me ligar se qualquer coisa acontecer. Eu vou atender o mais rápido que eu puder.

— Você promete?

— Sim. – Respondeu um pouco mais satisfeita quando percebeu que ele estava levando aquela conversa mais a sério — Nós devemos ir numa concessionária e depois ao shopping. Não sei se vamos a qualquer outro lugar, mas não importa. Vou te mandar mensagem, como sempre fiz, e você pode me mandar algumas também, mas talvez eu demore para responder.

— Não quero incomodar você – Ele disse parecendo um pouco ansioso — Vou tentar ficar bem.

Se olharam por um longo momento e seu coração se partiu um pouco quando o viu tão vulnerável. Parte dela queria simplesmente ficar e acalmar aquele coração que ela tanto estimava, mas ao mesmo tempo ela sabia que precisava ser forte e simplesmente dar esse primeiro passo. Beijou as mãos dele antes de se deixar ser abraçada por ele daquele jeito longo e cheio de amor.

— Eu tô bem, Kakashi – Disse com o rosto afundado em seu peito — E vou voltar com um lindo vestido que combine com sua gravata. – Declarou com humor.

Sentiu o beijo na testa antes que ele se afastasse brevemente. Seu olhar estava mais sereno e tranquilo como o Kakashi de sempre. Era incrível que depois de tanto tempo ele ainda conseguia lançar aquele olhar cheio de amor, como se fosse a primeira vez que se viam. Soltou o ar sentindo as bochechas ficarem vermelhas antes que ele a beijasse rapidamente os lábios.

— Eu te amo.

Ele disse antes de pegar a mão feminina para dar um fim no barulho irritante que se repetia pela casa como um sino longo e penoso. Sakura mordeu o lábio sentindo-se a mulher mais sortuda em todo o mundo e se deixou ser guiada até a entrada, onde finalmente encontraram o outro casal.

— Finalmente – Ino resmungou — Quem transa em pleno meio dia? – Disse desbocada.

— Também estava com saudades – Sakura falou com humor, jogando os braços em volta de Ino para um longo abraço.

— Ah, Genma? – Kakashi disse logo atrás. — Você vai com elas?

— Eu? Deus me livre. – Ele disse divertido entrando na casa antes mesmo de ser convidado — Você é minha babá hoje. A patroa quer se divertir.

— Babá de um marmanjo velho como você... A que ponto chegamos.

Ino revirou os olhos com humor, sentindo que era um bom começo para alguém que estava relutando em ver seus amigos por tanto tempo. Ela soprou um beijo debochado para o Shiranui que lhe lançou aquele sorriso sem vergonha que ela tanto apreciava.

Se despediram devidamente depois que Kakashi fez uma lista com recomendações para que Sakura não prejudicasse sua coluna, e apesar de ter ouvido tudo atentamente, Ino já tinha conhecimento de tudo aquilo e tinha se preparado bem para aquele momento. Acenou para Genma com uma piscadela, já Sakura recebeu um beijo na têmpora, como sempre.

Quando a porta se fechou, Ino e Sakura se abraçaram novamente com um ruido quase mudo de duas pessoas que estavam doidas para se verem longe de qualquer namorado, outro amigo, colega, pais, funcionários. Elas precisavam de um tempo de qualidade juntas o mais rápido possível. Sakura deslizou para o banco do carona do carro enquanto Ino assumiu o volante.

Sakura não poupou elogios ao carrão percebendo que ele era bem diferente do Saab. Ino parecia satisfeita, ainda que tenha resmungado sobre a falta de espaço nos bancos traseiros. Decidiram, durante aquela conversa sobre carros, que sua primeira parada era a concessionária. Sakura precisava de um carro novo urgentemente.

A conversa andou e inevitavelmente parou no assunto que ainda era vivo em suas mentes porque apesar de terem se visto sempre, Ino e Sakura precisavam daquele momento à sós para deixarem tudo o que estava em seus corações saírem. Sem julgamento, sem medo. Era assim entre elas.

— Você só devia fazer como eu e levá-lo de surpresa para uma sessão com o terapeuta – Ino disse pegando um viaduto.

Sakura apenas riu da sugestão, porque era exatamente o que aconteceu anos antes quando Sakura teve sua primeira sessão com Morino Ibiki. Tinha sido várias sessões de tortura até Sakura finalmente forçar sua saída daquele ciclo de intermináveis conversas que não pareciam lhe fazer bem a princípio, mas que com o tempo, todas juntas, lhe deram mais perspectiva. Terapia não era milagre e muito foi de sua força de vontade, mas ainda assim ela reconhecia o valor daquilo.

Entretanto, Sakura era meio traumatizada porque talvez Ibiki tenha sido um terapeuta muito energético. Na verdade, Sakura achava que se daria melhor com alguém com outro tipo de abordagem. Mas vai saber... No final das contas, ela continuou com Ibiki por um longo período até decidir que iria se virar sozinha apesar dos protestos de Ino.

Com Kakashi, ela honestamente não queria criar esse trauma. Sim, ela achava que ele deveria simplesmente ceder e procurar algum terapeuta que parecesse se encaixar nas necessidades dele, mas desde que ele estava simplesmente resistente, Sakura não o forçaria ou insistiria. Parte disso, ela sabia, envolvia estar numa sala com um desconhecido enquanto Sakura esperava em algum lugar longe de sua vista, mas a maior parte de sua resistência vinha da sua natureza reservada.

Ele não se abriria para qualquer pessoa.

Apesar que um terapeuta não é qualquer pessoa.

De toda forma, Sakura tinha decidido simplesmente ser paciente. Algumas pessoas conseguem se curar sozinhas, outras apenas negam, enquanto algumas levam um tempo para admitir que precisam de ajuda. Ela esperava que Kakashi fosse o primeiro tipo, mas se fosse o segundo ou o terceiro, então ela simplesmente estaria lá para apoiá-lo. De toda forma, no final das contas, aquela sua primeira saída definiria muitas coisas.

Se ele não aguentasse, então sim, insistiria um pouco mais na ideia, mas por enquanto preferia que procurar um terapeuta fosse uma decisão que ele pudesse tomar por completo.

Ino entendeu o lado dela e apenas concordou. Cada um funciona de uma forma, e tudo bem que a loira não era uma mulher de esperar, mas no fundo Sakura estava certa. Só por isso ela considerou que talvez estivesse pegando pesado demais com Genma. Perto de Kakashi, Genma estava super bem.

— Você deve ter ficado toda boba quando ouviu aquilo, não é? – Sakura disse quando Ino recordou da declaração afoita de Genma ao dizer que a amava.

Oh, sim. Foi o último suspiro de felicidade antes daquela bomba estourar em suas mãos.

Depois de tudo isso, ela sentia que quando Genma a olhava todos os eventos daquela manhã fatídica voltavam à tona. Como se ela fosse um lembrete constante do que aconteceu. Quando ele a escutava falar com Shikamaru, parecia que seu olhar esvaziava um pouco mais. Shikamaru tinha se tornado uma palavra gatilho, e no dia que ele os viu juntos, Genma ficou taciturno durante todo o resto do dia.

Confessou a Sakura que estava preocupada com o rumo daquela relação, porque talvez Genma precisasse de espaço, e isso era algo que Ino nunca soube dar.

Mesmo assim, Genma ainda lhe mandava mensagens bonitas esporadicamente, lhe sussurrava declarações de momentos em momentos. Era bom enquanto ele não lembrasse nitidamente de Obito e tudo que aconteceu. Ela sabia que aquelas memórias nunca iriam se apagar, mas de alguma forma sentia que era ela quem estava piorando a situação do homem.

— Ino, você nunca respondeu os sentimentos dele, não é? – Sakura disse quase distraída.

— E o que isso tem a ver? – A outra perguntou franzindo o cenho para o carro smart frente ao seu.

— Sabe, eu lembro quando as coisas estavam ficando sérias com o Gaara. Ele te encurralou e você saiu pela tangente. Depois, o Sai te colocou contra a parede e você simplesmente escorregou para longe. Agora você me diz que está preocupada com seu relacionamento logo depois de ele dizer que te ama.

— Ah, Sakura... Não começa. Não tô tentando fugir dele. Só estou...

— Arrumando uma desculpa para caso ele exija uma resposta – Sakura disse olhando para amiga daquele jeito esperto — Ele falou que te ama, fez tudo aquilo para ficar do seu lado e te apoiar, e você também tá retribuindo tudo isso, mas você sabe que vai chegar a hora que você vai precisar dizer as palavras e você não quer fazer isso.

Ino suspirou por um longo momento.

— É você quem vive dizendo que relacionamento é se arriscar e, céus, Genma vem tomando todo tipo de risco por você. Talvez esteja na hora de dar um voto de confiança e ele, não é?

— Depois de tudo, você acha que ele ainda quer tomar mais riscos por mim? – Ino perguntou — Quer dizer, até onde ele está disposto a ir?

— Sem encorajamento? Bem, acho que não muito mais longe. – Sakura respondeu dando os ombros — Ninguém vai ficar se jogando de todo penhasco por alguém que não se joga de nenhum.

— E o que isso quer dizer? – Ino riu.

— Que você precisa fazer um movimento. Ino, vocês tão namorando a bastante tempo e você nunca sequer levou ele na sua casa. Ele não faz ideia de como é a mansão por dentro. Ninguém sabe que ele existe, você não o mostra nos seus storys. Você já até falou para mim que o ama, mas sabe, não é pra mim que você tem que falar isso.

Ino revirou os olhos de maneira profunda.

Tudo bem, Sakura estava certa. Talvez sua preocupação não fosse só por conta do estado emocional de Genma. Talvez ela estivesse nervosa porque sua forte intuição estava apitando para todos os lados nos últimos dias. Ela não sabia exatamente o que era, mas sentia que algo grande iria acontecer. Queria estar preparada para o pior, como sempre, mas esperava o melhor, como sempre.

Estalou a língua no ruido frustrado enquanto Sakura deu uma breve risada.

— Vou dizer algo que você me disse a muito tempo, então, Ino, se você quiser mergulhar de cabeça, então eu vou estar aqui para te apoiar. – A loira deu uma gargalhada enquanto Sakura continuava com um humor solene — Se ele não for tudo isso, então eu vou xingá-lo tanto quanto você. E se você resolver recuar nesse relacionamento, eu vou estar aqui para escutar você se arrepender.

— Vai dizer que eu fico fofa apaixonada também? – E sua voz tinha um timbre gostoso de pura nostalgia.

— Oh, não! – Sakura riu — Definitivamente não, mas gosto do jeito que você olha para o Genma. Honestamente, ele é o primeiro cara que você realmente parece querer por perto.

— Quando você ficou tão sábia? – Perguntou tentando provocá-la.

— Ah, o tempo, a vida... Uma hora a gente amadurece. – E deu os ombros enquanto Ino simplesmente a empurrou de leve com uma mão.

— Mas e você, como tá depois de tudo? – Ino perguntou finalmente, porque, no final das contas, era essa a sua maior preocupação. — Você tá bem mesmo?

Kakashi, Genma e todos os outros que lhe perdoassem, mas Sakura estaria sempre no topo da sua lista de prioridades, e ela queria ter certeza que tudo estava bem com sua amiga. Olhou para ela ainda com o bom humor da conversa pairando e viu o sorriso tranquilo nos lábios rosados. Cúmplice, Sakura respondeu que sim.

Sim, ela tinha vivido momentos tensos desde o momento que soube do acidente de Kakashi e tanta coisa se passou na sua mente. Tantos sentimentos se misturaram e a fizeram quase cair naquele poço escuro e úmido onde se escondeu por muito tempo. Ino tinha medo que Sakura estivesse, de alguma forma, em negação, mas sempre que se falavam, sua melhor amiga mostrava que não estava tentando esconder nada dentro de si, e mais ainda, tinha conseguido racionalizar tudo o que aconteceu de uma maneira muito madura.

Ino tinha que reconhecer que Sakura não era mais a mesma, e isso a assustava um pouco. Depois de Sasori, Sakura desabou em seus sentimentos e precisou de muito tempo para se reerguer, mas depois de Obito, Sakura soava mais como se tivesse encontrado aquele ponto de equilibro inabalável dentro de si.

A garota tímida de cabelos rosas e testa grande que vira no banheiro da escola tinha se transformado nessa mulher cheia de certeza, dona de uma força enorme que sempre estivera dentro dela, mas que ela nunca conseguiu encontrar, até agora. Sakura exalava a confiança de alguém que não tinha arrependimentos.

Sakura explicou, brevemente, que tudo o que tinha acontecido estava muito nítido na sua cabeça, e que talvez por não se tratar exatamente dela, aquilo tivesse sido um pouco mais fácil de processar. Na verdade, olhando para Ino com aquela leveza, Sakura apenas declarou que ela tinha sido essencial nesse processo. Ela e todos os seus outros amigos.

Kakashi tinha sido fundamental também, porque ele enxergava com tanta facilidade aquilo que Sakura jamais conseguira ver.

Ela estava em paz consigo mesma e com tudo o que tinha acontecido. Estava feliz por tudo ter se resolvido sem maiores danos, por Kakashi estar bem e seguro, por Rin ter conseguido seguir em frente, por Sasuke ter resolvido tudo sem envolvê-los. Estava feliz por Ino não ter que se preocupar tanto com ela.

No final das contas, tudo que Sakura queria fazer dali por diante era pensar nas coisas com serenidade.

Ino sorriu satisfeita porque sentiu sinceridade vindo da amiga. Era um alivio que estivesse bem, e mesmo que tenha entrado em pânico por um momento, a loira não conseguia confiar em ninguém como confiava em Sakura. Se ela dizia que podia fazer algo, então ela podia. Era apenas isso.

— Só tem uma coisa que ainda fica na minha cabeça, sabe? – Disse enquanto Ino manobrava o carro no estacionamento da concessionária. — Sasori tentou me proteger, e isso fica martelando na minha cabeça.

— Ah, pelo amor de deus. – A outra resmungou dividindo sua atenção entre os espelhos — Não importa quais foram as intensões dele. O que ele fez com você foi imperdoável. – Disse finalmente desligando o motor para olhar mais seriamente para Sakura — Se ele quisesse mesmo te proteger, então teria deixado você quando o psicopata-maior o ameaçou.

A mulher maneou a cabeça olhando a amiga um tanto incerta.

— Mas não era a mesma coisa que eu deveria ter feito por Kakashi? – Perguntou e Ino entendeu toda a questão.

Na noite em que o apartamento de Sakura foi invadido, a mulher quis terminar com Kakashi temendo pela segurança dele. Ino considerava uma ação comum, mas era completamente contra porque... Bem... Sakura finalmente tinha se permitido amar alguém e, finalmente, esse alguém era uma pessoa decente. Talvez ela estivesse pensando que tinha feito a mesma coisa que Sasori, pondo seus interesses acima dos dele.

— Sakura, isso não tem nada a ver – A loira falou apontando a chave do veículo para ela. — Não se compare com Sasori.

Sim, porque, no caso de Sasori, ele nunca deixou que ela soubesse com o quê estava lidando. Sasori não deu opções para ela e apenas mentiu sobre tudo. Além disso, ele estava envolvido até o último fio de cabelo com as atrocidades criminosas de Obito, e sabendo disso deveria ter imaginado que, mais cedo ou mais tarde, Sakura correria perigo.

Se ele realmente amasse Sakura, então teria se afastado, mas ao invés disso simplesmente ficou com ela porque era um grande filho da puta.

No caso de Sakura, ela nunca escolheu ter um ex-psicopata. Além disso, também deixou tudo muito claro para Kakashi sobre o que achava estar acontecendo na época. Ela contou tudo sobre quem ela era e o que tinha passado, o deixou ciente das possibilidades de futuro e quando Kakashi escolheu ficar foi uma decisão completamente consciente.

Sakura considerou aquelas palavras por um momento e depois apenas assentiu com a cabeça.

— É verdade, você tem razão. – Disse com um suspiro — Mas ainda é bizarro pensar nisso.

— Então não pense – Ino disse dando os ombros — Ele tá morto. Obito também tá morto. Tá todo mundo morto – Riu de maneira mórbida e Sakura apenas fez uma careta bem-humorada.

— Oh, céus – Sakura suspirou em seguida quando Ino colocou a mão no seu ombro.

— Agora você só tem que pensar se quer uma Mercedes ou um Audi! – A loira disse completamente animada.

— Que tal uma Toyota?

Céus... Carro nacional. – A loira fez uma careta — Você veio elogiando o meu carrão e tá falando em comprar uma Toyota? Me poupe. – Disse com uma expressão de nojo enquanto Sakura apenas ria. — No mínimo, você vai sair daqui depois de encomendar um Mini Cooper.

E assim, Ino iniciava uma nova era automobilística para Sakura.

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.

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As meninas haviam saído e Genma simplesmente se fez confortável na varanda de Hatake Kakashi. Pediram sushi naquele aplicativo de entregas antes de simplesmente contemplarem a vida selvagem, assistindo os cães Hatake fazerem coisas. O dia estava bonito, não estava nem quente nem frio, e o outono se aproximava.

Na companhia um do outro, tomaram um breve momento para si mesmos antes da fatídica pergunta: Como você está? Porque, no caso deles, essa questão era muito mais profunda do que antes. Se olharam e ambos souberam que estavam passando por momentos distintos, mas que foram provocados pela mesma situação vivida.

Genma confessou, logo de cara, que não queria estar ali, mas que era impossível lidar com uma Ino que mais parecia uma vidente. Era como se ela soubesse exatamente do que ele precisava antes mesmo que ele pudesse perceber, e o problema nisso é que ele não conseguia ficar com raiva dela pelo jeito invasivo que ela lidava com as coisas.

Tudo bem.

No final das contas, a sua não-namorada sempre tinha razão e Kakashi apenas riu com a declaração, confessando também que não estava muito afim de companhia naquela tarde, e que provavelmente, dada a situação de cada um, na verdade era Genma quem era a babá ali.

— Aquele amigo dela, o mafioso. Ele foi lá em casa uma vez para falar com ela sobre qualquer coisa e eu só fiquei imaginando que ela iria voltar a qualquer minuto dizendo que iria sair para enfrentar outro leão – Ele suspirou — Eu fiquei espiando como aqueles namorados doentes e só os vi rindo, como se estivessem combinando qualquer besteira, e aí quando ele se foi... Eu nunca me senti tão aliviado.

— Você tá indo à terapia, não é?

— Sim. – Disse de maneira breve — Primeiro porque pensar que o Obito fez tudo aquilo ainda me deixa confuso. – Confessou com uma risada — A ficha só caiu quando eu o vi no estacionamento, e ele já parecia ter batido as botas.

— A última lembrança que tenho dele é de quando ele saiu de cima de Sakura, mas ele é só um borrão. A única coisa realmente nítida para mim é Sakura coberta de sangue.

Se olharam por um longo momento assentido um para o outro de maneira solene, ambos respeitando um a situação do outro. Genma suspirou desviando o olhar. O céu estava bonito demais naquele dia apesar de parecer que em breve Kyoto enfrentaria uma nuvem chuvosa.

— Não é estranho que nós dois estejamos fodidos e aquelas duas estejam tão bem? – Genma perguntou depois de um momento e ouviu Kakashi rir brevemente.

— Não consigo pensar em nada no mundo que derrube Ino. – Ele disse dando os ombros e o outro apenas concordou categoricamente — E Sakura... Ela é mais forte do que você imagina. E se é para escolher alguém para ter traumas, então que eu seja o fodido da relação.

Mais um momento de silêncio se fez. Ūhei bocejou com um ruído característico e logo se deitou perto deles, com a cabeça encostada em Genma. O homem passou a mão pela pelagem do cão sentindo a textura macia, realmente, Kakashi não economizava quando se tratava de sua matilha.

— Você já considerou ir num terapeuta? – Genma perguntou olhando para o cão e ouviu o tamborilar de dedos no piso de madeira daquela varanda.

— Mais ou menos. Sakura falou isso uma vez, mas... – E soltou o ar com um ruído cansado — Sabe, eu não quero. Sei que é importante ter ajuda, e sei que provavelmente isso seria benéfico de alguma forma, mas eu só não quero.

Ele sabia que ambos teriam que voltar à rotina mais cedo ou mais tarde, e sabia que esse estado ansioso que lhe dominava quando Sakura não estava à vista seria um grande problema na dinâmica cotidiana. Ainda naquele mesmo momento, enquanto conversava com Genma, Kakashi se sentia inquieto pela distância, tendo que repetir a si mesmo que ela estava bem e a salvo, num exercício íntimo de racionalizar seus sentimentos.

No entanto, ainda que fosse um exercício exaustivo de diversas formas, ele sentia que estava fazendo progresso. Sentia que não precisava se desgastar com um terapeuta ou coisa parecida, ainda que tivesse considerado ir apenas para fazer Sakura se preocupar um pouco menos.

O sentimento que lhe acometeu quando pensou que Sakura estava morrendo jamais seria esquecido. Tal situação tinha marcado a si mesmo de uma forma muito mais real do que aquela cicatriz que cortava seu olho ao meio. Aquela imagem lhe assombraria para o resto da vida, ele sabia, e por isso também sabia que precisava apender a conviver.

Aceitar e seguir em frente.

Esse era o lema.

E todo esse processo era bem mais fácil quando ele a tinha 24 horas para si, com seus sorrisos e olhares, segurando a escova de cabelo enquanto surgia na cozinha cantando uma música que ele não conhecia, chorando no final de um daqueles filmes estranhos que ela tanto gostava, ou apenas dormindo com a cabeça encostada no seu ombro.

Vê-la viva e bem era o exercício que precisava para que seu coração tivesse a certeza de que aquele dia não passou de um pesadelo terrível. Lentamente, ele sabia, aquelas memórias se tornariam cada vez mais nublada ainda que os sentimentos fossem tão intensos.

Ele não precisava de um psicólogo, ele precisava de tempo, e algo lhe dizia que Sakura estava disposta a dar todo o tempo do mundo.

No caso de Genma, o sentimento era parecido. Se Kakashi achava que qualquer coisa ruim pudesse acontecer se Sakura estivesse longe, Genma sentia que Shikamaru era sinal de mau agouro.

Mas Ino não era Sakura, e ele sentia que ela não estava disposta a perder nenhum minuto. Era como se ela quisesse que ele voltasse logo ao seu estado natural, ainda que soubesse que as coisas jamais poderiam ser exatamente iguais. Ela estava disposta a lhe dar tempo, desde de que ele não estivesse desperdiçando esse tempo.

Na verdade, sempre o forçava a se mover de alguma forma, e isso era bom. Ele sentia que estava fazendo progresso de uma maneira genuína. Fora ele quem estava relutante em ver seus amigos, mas sentado com Kakashi naquela tarde, ele percebia que não tinha nenhum motivo para evitá-los. Mesmo que a conversa fosse pesada, ele sentia que nada havia mudado e as amizades ainda eram as mesmas.

E tudo era graças a Ino.

Riu pensando que estava mesmo deixando tudo por ela, e ela adorava estar no controle, então tudo bem.

— Pelo menos você sabe que ela não vai te levar num terapeuta de surpresa – Genma disse com humor e Kakashi riu de maneira cúmplice. — Eu tenho que casar logo com essa mulher. – Devaneou com um sorriso.

— Vai lá, Romeu. Faça o pedido. – Kakashi disse rindo — Yamanka Ino, me deixe ser seu gado eterno. – Completou tentando a sua melhor imitação de Genma.

— Mas isso eu já sou – O outro disse sem nenhum pudor.

Antes que Kakashi pudesse responder, no entanto, a campainha se fez presente. Não estava esperando ninguém, mas Genma se adiantou em dizer que era o almoço chegando. O Shiranui abriu a porta como se a casa fosse sua e logo Kakashi arqueou uma sobrancelha quando Gai e Aoba entraram com sacolas nas mãos.

Genma tinha tomado a liberdade de chamar todo mundo no grupo do churrascão do Asuma, mas Yamato estava fora da cidade, o próprio Asuma estava atolado em trabalho e os únicos que responderam foram, coincidentemente, aqueles que tinham vivido o caos. Parecia uma reunião de algum grupo de terapia, e Kakashi riu da ironia quando Gai abria as garrafas de cerveja e Aoba distribuía as caixas com sushi entre todos.

Gai foi o primeiro a falar. Perguntou como estavam todos.

— Traumatizado – Genma disse dando os ombros com um tom de humor negro.

— Traumatizado – Kakashi ergueu a cerveja como se brindasse com o outro.

— ... Acho que traumatizado também. – Aoba revelou tirando os óculos.

— E parece que temos o clube dos traumatizados aqui – O homem comentou colocando uma peça de sushi na boca.

— Você também, Gai? – Kakashi perguntou com uma sobrancelha arqueada. De todos eles, Gai tinha sido o único que parecia ter levado isso como um evento isolado. O homem parecia tão bem quanto em qualquer outro dia.

— O fato de ter sido o Obito envolvido em tudo aquilo me deixou um pouco perplexo por algum tempo, mas aí eu percebi que nem na época de escola eu falava direito com ele. Só sei quem é porque vocês viviam juntos – E apenas tomou um gole da sua bebida — O resto, bem, eu tenho treinamento para lidar. Estou bem.

Todos se entreolharam e, de fato, Gai nunca foi íntimo de Obito.

— Lembro de um dia que eu tava com o Gai no fliperama, aquele do final da rua da escola – Kakashi começou de repente — Estávamos naquela competição de quem fazia mais pontos, e aí o Obito apareceu do nada. Cê lembra, Gai? Ele te cumprimentou e você ficou olhando para ele por uns minutos até perguntar quem ele era. – E começou a rir — Obito ficou puto naquele dia, porque a gente era da mesma turma a anos.

— Porra, Gai. Vacilo. – Genma disse com humor.

— Não sabia do seu lado cruel, Gai.

— Eu nem falava com ele! Não lembrava mesmo! – Gai se empertigou pronto para se justificar. — Eu tenho uma memória fraca para rostos!

Genma balançou a cabeça negativamente enquanto controlava a risada, e de repente, várias memórias da escola começaram a surgir entre eles. Algumas envolviam Obito, outras passavam bem distante dele. No final das contas, Kakashi tinha sido o único do grupo a criar um laço mais firme com o homem, e todos os outros eram um tanto mais distantes em graus diferentes.

Aoba e Obito nunca tiveram uma conversa por mais de dez minutos, e geralmente era bem rasa. Depois de todos os eventos, o homem estava se sentindo atordoado, como se os fatos fossem difíceis de ser processados. Ficou segurando Rin o tempo todo enquanto ela se desesperava cada vez mais. Ele queria ter feito algo, mas soltar Rin significava deixá-la vulnerável, e isso era algo que ele não estava disposto a fazer.

Tudo era tão surreal que Aoba ainda se perguntava se tinha sido apenas uma história que alguém contou ou se realmente tinha acontecido. Obito não significava muito para ele, mas Kakashi, Rin, Sakura... Todos ali, tão presentes.

Depois de tudo, ele apenas deixou Rin em casa. Quis ficar com ela mais um pouco, garantir que estava bem, mas ela lhe pediu que a deixasse só. Ele não sabia muito bem o que isso significava, mas também não estava em condições de pensar em muita coisa. Fez como ela pediu e voltou para a própria casa, tomando um longo banho.

Era o final do semestre e Kakashi tirou uma licença. Aoba aproveitou a oportunidade e assumiu todos os horários dele. As duas primeiras semanas após o ocorrido, o homem se afogou em trabalho. Teve uma vistoria no parque ecológico e ele analisou diversas espécies de pássaros que estavam migrando. Trabalho, trabalho, trabalho. E quando finalmente o semestre acabou, restando apenas toneladas de provas e trabalhos para corrigir, Aoba se dedicou à música.

Trocou todas as cordas dos seus instrumentos. Fez manutenção no seu velho violão, comprou um novo pedal para sua guitarra, praticou com o baixo de maneira intensa, redescobriu seu violoncelo, lembrou-se como era tocar uma peça de Chopin no violino, compôs uma canção no seu banjo, teve uma ótima experiência com a harpa na sua loja de música favorita, e só não a comprou porque não havia espaço em casa.

Música, música, música.

Sua cabeça estava borbulhando em notas musicais.

E por fim, naquele final de semana, escreveu uma música no seu estilo favorito. Vapor Soul. Todos os arranjos feitos primeiramente no melhor e mais intenso instrumentos que já existiu: O baixo. E as coisas só foram fluindo enquanto a letra tomava forma, harmoniosa com a melodia que pairava em sua sala de estar com tanta profundidade.

Quando terminou, seu despertador tocou.

Estava atrasado para um compromisso sobre os detalhes finais do casamento, e seria o seu primeiro encontro com Rin depois de tudo, porque ele preferiu deixar por conta dela, não queria perturbá-la. Ela pediu para ficar sozinha, não foi? Mas naquele dia, eles se encontrariam em definitivo para o pagamento da nova locação, e quando finalmente seus olhos bateram nos dela, Aoba percebeu.

Tinha feito uma música para ela.

Aquilo o pegou de surpresa. Desconsertado, ele sequer sabia como parecer natural. Ficou apenas vinte minutos com ela e arrumou uma desculpa para fugir, porque logo ele, uma alma quieta, estava ali escrevendo músicas sobre romance? Era ridículo. E depois de tudo o que passaram, soava como se ele estivesse desesperado de alguma forma.

Ela era uma adulta, e ele era um adulto.  

O término com Kakashi, Obito voltando para Kyoto, o caos do estacionamento... Depois de tudo isso, Aoba estava ali escrevendo uma música um refrão que dizia venha quando estiver pronta, uma música sobre espera, erros, medos e conforto. Uma música sobre um romance trágico. E isso parecia tão errado quando ele pensava sobre o momento que Rin deveria estar vivendo.

Seu trauma era mais sobre como se sentia envergonhado de estar esperando por uma ligação de Rin do que de fato com tudo que aconteceu. Ele não tinha pesadelos como Genma, nem crises de ansiedade como Kakashi. Ele estava tranquilo sobre como as coisas tinham se seguido apesar de ainda soar surreal aos seus ouvidos, principalmente quando ligava a TV e via aquela reportagem idiota.

Mas ainda assim, ele se sentia um merda enquanto pensava em romance quando seu objeto de desejo provavelmente estava enfrentando novos demônios. Ele não tinha falado com Rin e ela não o procurou. Ele tinha medo de falar com ela e deixar escapar alguma coisa que não deveria e ela... Ela queria ficar sozinha.

Era isto.

— Quem deve tá péssima é a Rin – Genma comentou aleatoriamente. — De todos nós, ela era a única que ainda falava direito com ele.

Aoba o olhou cauteloso.

— Eu a encontro no supermercado às vezes. Na verdade, ela parece bem. – Kakashi disse em seu tom habitual — Eu não sei em que ponto eles estavam, mas ela não parece estar sofrendo por conta do que aconteceu.

E então o silêncio se fez e Aoba percebeu que Kakashi o encarava, como se quisesse uma declaração dele. Pff.... É claro....

— A vi no final de semana, mas não nos falamos muito. Ela me disse que aprendeu a tocar violão – Ele disse depois de um momento, envergonhado por não saber muito mais.

Kakashi assentiu com a cabeça e Aoba não sabia direito o que ele estava pensando.

— Ok, chega desse clima de enterro – Disse Gai se levantando — O dia tá perfeito para nós levarmos os cachorros para um passeio no parque.

— Agora? – Genma resmungou.

— Sim. Além disso, vocês precisam de endorfina, e isso se consegue com exercícios. – Falou cruzando os braços — Kakashi, ponha seus tênis e pegue as guias. Vamos ver quem consegue dar mais voltas no parque.

— Yare, yare... – Kakashi resmungou com preguiça.

— Vamos logo! – O outro começou a se alongar de maneira quase hiperativa — Você tem que manter o fogo da juventude aceso. Se a Sakura perceber que você tem alma de velho... – E fez uma careta.

Genma riu.

— É isso aí, Hatake. Os dias de glória não são eternos. – Disse provocativo.

— Olha quem fala – Aoba se meteu — Todos nós temos 36 anos, e as namoradas de vocês dois são pelo menos 15 anos mais novas que a gente.

— 14. – Genma corrigiu rapidamente — Mas diferentemente de Kakashi, eu sou uma alma jovem.

— É? – Gai perguntou com desdém — Pega um par de tênis pro jovem aqui, ele vai entrar na corrida.

— Ser jovem não se resume a exercício físico. – Genma retrucou — Além disso, a minha futura esposa gosta de mim exatamente do jeito que eu sou.

— É mesmo...? Você tem certeza disso? – Gai questionou muito sério.

— Absoluta.

— Hm... Então ela ter me ligado umas vinte vezes essa semana não te deixa preocupado?

— O que? – O Shiranui levantou — O que ela quer com você?

— Iiiiihhh!!! – Aoba começou com aquela risada estrangulada — Será que a Ino quer conhecer o poder da besta de Kyoto? – E mordeu o lábio querendo segurar o riso.

Kakashi abaixou a cabeça porque sabia exatamente sobre o que era o assunto, mas gostava de ver a cara de Genma completamente enciumada depois de Aoba ter citado aquele apelido idiota que Gai tinha ganhado depois de uma garota ter espalhado no campus que o Gai era enorme. Ele nem tinha feito faculdade, só ia ao campus para ir nas festas com a galera, e acabou que virou uma lenda maior que o oral de Genma.

Por sorte, Sakura ainda não tinha instalado o aplicativo de câmeras da sua casa, e assim ele se sentia completamente confortável em deixar que Gai zoasse o outro como quisesse.

— Você não deveria estar preocupado com isso. – Gai respondeu dando os ombros.

Aoba estava vermelho por segurar aquela gargalhada por tanto tempo.

— Oe, oe! A Yamanaka jamais faria algo assim! – Ele disse depois de pigarrear, apontando para Aoba — Eu só estou querendo saber porque você é segurança, e pelo que eu sei, seus serviços não são mais necessários – Ele disse em seguida e todos entenderam.

Era aquele leve pânico em pensar que Ino poderia estar envolvida com qualquer coisa perigosa demais. Que o inferno fosse se repetir, de novo e de novo. Kakashi olhou para Gai, que suspirou profundamente. Aoba também já não tinha mais vontade de rir.

— Genma, não é nada demais – Ele disse dando os ombros — Ela só quer umas aulas de direção ofensiva. Estamos combinando horários e valores. – Disse e o outro pareceu imediatamente aliviado — Aliás, com o que ela quer me pagar, acho até que vou me aposentar da vida de segurança e abrir uma academia.

— Oh. Isso é bom – Aoba falou tentando mergulhar naquela direção, porque não fazia bem ficarem presos no sentimento que Genma evocou tão de repente — Se eu ganhasse uma grana, talvez abrisse uma escola para ensinar crianças a se conectarem com a música.

— Se eu ganhasse uma grana----

— Vai se foder, Kakashi – Genma disse em seguida, com seu humor regenerado — Você tem uma grana.

E de repente, o clima tinha sido recuperado.

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.

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A porta se abriu e ele a ouviu se anunciar. Sua voz era sonora como sempre, uma melodia que ele gostava se escutar de novo e de novo. Ino tinha a chave de sua casa, porque ele queria que ela se sentisse dessa forma, dona do lugar.

Quando ela chegou, Genma estava preparando o jantar. Tinha voltado da casa de Kakashi de carona com Aoba logo após terem feito aquela competição de quem daria mais voltas no parque. De alguma forma, sua tarde tinha sido uma completa loucura, mas lhe trouxe uma sensação mais leve. No final das contas, Ino tinha razão quando disse que ele precisava de um pouco da antiga normalidade para se sentir mais como ele mesmo.

Ele também não era nenhum exímio cozinheiro, este era Kakashi. Genma sabia fazer o básico para não passar fome, algo que todo individuo que mora só tem que saber fazer. Estava fazendo hamburguer caseiro, algo rápido e que era tão fácil de fazer que até alguém como ele poderia conseguir alguns elogios.

Ouviu a mulher dando passos na direção da cozinha, olhou por cima do ombro para vê-la colocar seu celular apoiado na garrara de café. Arqueou uma sobrancelha porque ninguém deixava o celular daquele jeito, e quando finalmente se virou para perguntar como havia sido o seu dia, viu que ela carregava um lindo buquê de flores.

— Para você! – Ela disse atrás da ilha central da cozinha. Genma arqueou uma sobrancelha enxugando as mãos no avental branco de babados que usava quando cozinhava. — As melhores flores do Jardim Botânico.

— Oh! – Deixou escapar surpreso, pegando as flores dos braços dela por cima da ilha central. O buquê era enorme e ele não conhecia flores tão bem para saber quais eram. Na verdade, tinha mais de um tipo, com cores tão diferentes, mas que ao mesmo tempo se harmonizavam num lindo e exuberante arranjo. — São lindas, Yamanaka! Obrigada! – Disse genuinamente feliz. Era a primeira vez que ganhava algo assim — Estamos comemorando alguma ocasião especial? – Perguntou em seguida.

Ela seu os ombros.

— Na verdade, não. – Disse apoiando os cotovelos no tampo enquanto mantinha aqueles olhos azuis tão intensos. Havia algum tipo de expectativa ali e ele não conseguia determinar o que estava acontecendo, apesar de que estava curtindo cada segundo daquele mistério. — Quer dizer, mais ou menos.

— Hm? Como assim? – Ele disse apoiando o buquê em cima da ilha com delicadeza, e ela apenas o moveu para o outro lado, longe da garrafa de café.

— Hoje podemos comemorar algo ou não. – Revelou logo em seguida, e de repente ele notou que ela estava ansiosa daquele bom. — Vai depender de você.

Eu sempre quero comemorar coisas, Yamanaka – Ele disse, e dessa vez seu tom era sacana. A viu rir porque com certeza tinha sacado o duplo sentido em sua resposta. Ino piscou para ele, e depois riu nervosa abaixando a cabeça levemente antes de levantar novamente, mordendo o lábio enquanto o olhava.

Céus... Ela ainda conseguia surpreendê-lo.

— Shiranui Genma, faz quanto tempo desde que nos vimos pela primeira vez naquele bar? Dois, três meses? – Perguntou e ele levantou a mão num gesto que simbolizava um pouco mais. Ela riu passando a mão entre os cabelos loiros para retomar sua fala — Não importa. – Disse ainda parecendo nervosa demais — O que importa é que estamos juntos e, depois de tanto tempo, sinto que podemos dar um passo adiante.

— Ino..? Você está...? – Ele disse de maneira cautelosa, com o sorriso brotando em seus lábios, mas ainda confuso com as palavras dela. A olhava com expectativa, e ela o olhava como se estivesse pronta para se jogar de um gigantesco penhasco, esperando que ele segurasse sua mão e fosse com ela.

— Quer ser meu namorado?

Se um dia lhe dissessem que iria ser pedido em namoro pela mulher mais bonita do Japão, ele riria na cara da pessoa de maneira desdenhosa. Yamanaka Ino era inacessível de diversas formas, primeiro porque ela não era qualquer uma. Segundo porque ela não fazia esse tipo de coisa.

Ino não se arriscava desse jeito. Ela era aquela que fazia os outros esperarem, que causava pequenos ataques cardíacos naqueles que eram corajosos o suficiente para amá-la. Se alguém lhe dissesse que, naquele dia, Ino lhe pediria em namoro, ele riria na cara da pessoa de maneira desdenhosa.

Ela estava esperando por esse movimento partido dele, e ele não sabia bem o que podia fazer para impressioná-la. Ele queria que fosse algo grande e poderoso, como ela, e isso o fazia recuar sempre e sempre.

Mas tê-la ali diante dele com seus olhos ansiosos e aquele sorriso nervoso nos lábios... Ele não merecia tudo aquilo. Ela era muito mais areia do que o caminhão dele podia aguentar, mas isso nunca foi um problema para ele, e para ela... Claramente não era algo que se passava naquela linda cabeça loira.

Só havia uma resposta possível para tal pergunta. Só havia um jeito de responder.

Ele a olhou nos olhos por um momento sem acreditar em seus ouvidos. Seu coração batia tão forte que ele sentia seu eco por todo o corpo. Sorriu, porque se sentia assim, e como se seus olhos fossem lentes 100 milímetros, uma macro que focava na beleza especial daquele sorriso e todos seus detalhes, nos olhos azuis tão profundos que se revelavam sinceros e vulneráveis, naquele nariz arrebitado e na pele alva que refletia todas as cores do mundo.

Só havia uma resposta.

Só uma.

— Eu quero me casar com você. – Ele disse completamente hipnotizado pela mulher a sua frente — Quero me casar com você e ter cinco filhos. Viver até os cem anos do seu lado, e um pouco mais se a saúde permitir.

Ela riu completamente envergonhada daquela declaração emocionada, colocou a mão no rosto desviando o olhar porque ele era sempre tão cara-de-pau dizendo aquelas coisas. O olhou pela brecha entre seus dedos vendo-o sorrir de maneira tão genuína.

— Vamos com calma – Ela disse nervosa — Primeiro você me reponde a pergunta que eu te fiz, e depois, daqui a um ou dois anos, você me pergunta sobre casamento.

Genma riu.

É claro que ela precisava de uma resposta decente.

Qualquer coisa que não fosse um sim seria completamente insuficiente.

Só havia uma resposta para aquela pergunta.

— Céus... – Ele disse embasbacado — Sim, Yamanaka. Sim, eu quero ser seu namorado. – Ele deu uma pausa e depois se empertigou — Na verdade, eu sou seu namorado! – Disse com mais certeza, mais bem humorado.

— Bem, agora sim, de fato, você é. – Ela disse mantendo sua pose com os cotovelos apoiados no tampo, mas seu rosto ainda denunciava os efeitos daquela pergunta em si. Com suas bochechas vermelhas e seu sorriso nervoso — Agora sim estamos namorando.

— Eu te amo.

E aquilo a quebrou. Ela riu nervosa, encolhendo os ombros e o olhando com aquela expressão que ela nunca mostrava a ninguém. Era algo só dele, apenas dele. Genma sentiu isso do fundo de sua alma. E então ele finalmente deu a volta naquela ilha central e a agarrou rapidamente para um longo abraço, completando com um beijo ainda mais longo, e depois apenas sussurrou no ouvido dela para que ela tivesse absoluta certeza do que tinha feito. Somos namorados agora.

A sentiu concordar com a cabeça enquanto se afastava brevemente. Ela o olhou e ainda parecia cheia de expectativas.

— Você ainda tem alguma surpresa pra mim, não é? – Ele perguntou, e em sua mente, seria algo envolvendo renda azul escuro, musica lenta de vinho rosé.

— Na verdade, sim – Ela respondeu e apontou para a garrafa de café onde seu celular estava confortavelmente apoiado — Tem mais ou menos umas duas mil pessoas nos vendo agora, talvez mais. Duas mil foi quando eu comecei a live na sua porta. Aliás, a Sakura também tá vendo.

...

Vermelho.

Ele nunca ficou tão vermelho na vida.

— E eu to com esse avental horrível.

— Você fica charmoso nesse avental.

Genma a beijou no topo da cabeça antes de se virar para buscar o smartphone da moça, olhando brevemente para o número de 50 mil pessoas que estavam, naquele momento, vendo o piso de sua cozinha. Céus...

— Diga oi para os meus seguidores. – Ino disse encolhendo os ombros e Genma pigarreou.

Olhou para Ino por um momento e depois inspirou fundo. Mudou a câmera para a lente frontal e se empertigou, dando seu melhor sorriso.

Olá, seguimores.

.

.

.

— ... teremos muito tempo para nos conhecermos, então por hora eu vou apenas desligar e curtir minha namorada daquele jeito. – Piscou para a tela de um jeito completamente pervertido e Sakura deu uma longa gargalhada — Nos vemos depois.

A tela ficava preta e Sakura rapidamente abria seu chat privado com Ino. Mandou um longo áudio surtando sobre o novo status de relacionamento de Ino, dizendo que ia ser a melhor madrinha daquele casamento, e Kakashi, ao seu lado, apenas debochava de Genma ao fundo, dizendo que o avental dele era realmente um charme.

Sakura ria completamente contagiada pelo clima. Tinha voltado para casa de Kakashi com duas sacolas de roupas e o encontrou deitado num fuuton surrado na varanda de casa, olhando para o céu nublado enquanto os cachorros faziam coisas de cachorro. Ele sorriu assim que ela entrou, e Sakura se sentia sempre bem-vinda quando o encontrava tranquilo daquele jeito.

Não teve nenhuma dúvida, apenas colocou suas compras na entrada da casa e fez seu caminho para dividir o fuuton com ele. Deitados na noite fria, ficaram em silêncio por um momento, sentindo a brisa agraciá-los com a sensação de conforto. Kakashi a beijou no rosto antes que ela pudesse se fazer confortável em seu peito.

Fecharam os olhos e naquele momento, tudo estava certo. Todo o universo era perfeito e não havia absolutamente nada que não estivesse em seu devido lugar. Tudo era harmonia, paz. Tudo era Kakashi. Tudo era Sakura. E então ela se permitiu beijá-lo daquele jeito tão doce e suave, porque apesar de ainda não terem dito nada, todas as palavras estavam bem diante deles.

Foi só depois desse momento que o celular de Sakura anunciou a live de Yamanaka Ino, que conversava com seus seguidores dentro de seu carro novo. Estava tão nervosa enquanto falava que finalmente ela iria apresentar a todos o seu novo futuro namorado. E Kakashi apenas fez graça daquela declaração enquanto Sakura se via muito mais ansiosa que a amiga.

E foi tudo perfeito.

Tiveram aquela ideia depois de terem encontrado Hinata, Temari e Tenten no shopping. Formaram um esquadrão de apoio a Genma, dizendo que ela precisava fazer alguma coisa e logo. Todas conheciam Ino o suficiente para saber que ela podia ser teimosa de diversas maneiras, então Ino apenas se viu derrotada da melhor forma possível, e disse a todas que iria fazer seu movimento.

Agora, todos os seus milhões de seguidores conheciam o misterioso peguete de Ino.

E Sakura apenas se sentia feliz em dobro pela sua própria felicidade e pela felicidade de sua mais querida e estimada amiga. Porque Ino merecia tudo de bom, e ainda que no futuro tudo pudesse mudar, tudo valeria a pena pela felicidade daqueles dias. Sorriu satisfeita deixando o celular cair no fuuton entre ela e Kakashi, que lhe olhava com certo divertimento.

— Quando você contou a Ino que estava namorado comigo, ela também reagiu assim?

Sakura riu.

— Ela fez uma careta e disse “agora é oficial, tenho que dividir você com ele”.

Kakashi gargalhou porque parecia algo que Ino diria. 

— Não tenho arrependimentos – Disse em seguida e Sakura apenas revirou os olhos.

— Nem deve ter. Ela diz essas coisas, mas gosta de você.

— Ah, mas eu sei. Se ela não gostasse de mim, sinto que nem estaríamos aqui hoje.

— Nunca iremos saber – A mulher respondeu buscando um beijo logo em seguida, e depois mais um, e mais outro... — Sinto que podia beijar você a noite toda.

— Não tem nada te impedindo de fazer isso. – Ele disse voltando a beijá-la mais algumas vezes.

Sorriu entre um beijo e outro, e de repente se pegou olhando-o novamente daquele jeito tão íntimo. Ela escorregou um dedo pelo rosto dele, contornando as curvas e seus detalhes, escorrendo pela cicatriz que agora marcava sua tez de maneira tão viva. Ainda estava avermelhada, mas em alguns meses, logo ficaria no tom da pele dele.

— Como foi seu dia? – Ela perguntou depois de um momento e Kakashi ainda parecia um tanto perdido com a sensação gostosa que era tê-la desenhando seu rosto com os dedos.

— Genma chamou Gai e Aoba pra cá. Conversamos, comemos, bebemos. Do nada fomos passear com os sete escandalosos, que ficaram latindo o tempo todo no parque para mim e Gai, porque fizemos essa competição idiota de quem dava mais voltas em torno do lugar.

— O quê? – Ela perguntou rindo, atordoada pelo excesso de informação — Você saiu para correr?

— Sim. Fui praticamente obrigado. – Falou com humor enquanto via a expressão divertida da namorada — Genma tentou participar, mas desistiu na segunda volta. Eu fiz sete. Gai fez trinta. Aoba não participou porque alguém tinha que ficar com os escandalosos.

Caramba! – Soltou impressionada — Gai é mesmo um cara em forma. O parque é enorme, e me admira você ter conseguido dar alguma volta nele. Você não se exercita.

— A partir de hoje vou voltar a correr. O Gai tem razão, estou perdendo o fogo da juventude.

— O que isso quer dizer? – A mulher perguntou com humor.

— Eu não sei, meu bem. Sempre tive medo de perguntar. – E a viu revirar seus lindos olhos com a expectativa frustrada da resposta. — E você? Como foi seu dia?

— Comprei um carro novo, achei um vestido para o casamento, cortei o cabelo – Ela deu uma pequena pausa — E você sequer notou. – Fez uma expressão de falso ressentimento.

— É claro que eu notei – Ele disse logo de imediato — Tá mais curto e volumoso, como você queria, não é? — E ela sabia que ele só estava repetindo o que tinha ouvido mais cedo.

— E ficou bonito? – Perguntou porque ela só queria o elogio.

— Ficou sensacional. Combinou com você.

— Obrigada! – E o depositou um beijo rápido antes de continuar — Nós encontramos umas amigas no shopping também. Foi o dia das meninas.

— Parece que alguém se divertiu. – O homem sorriu de maneira genuína — Você lembrou de dar pausas para sentar?

Sakura riu constrangida de repente.

— Você não acredita no que a Ino me aprontou – Começou com aquele suspense barato — Quando eu cheguei no shopping, tinha uma cadeira de rodas dourada com branco me esperando. Não ria! Ino ficou me empurrando como uma inválida por todo o shopping. Eu só estava autorizada me levantar se fosse para provar alguma roupa.

— Diga a Ino que conte comigo para tudo.

— Ah, céus! – Ela o empurrou de leve e ele a puxou para mais perto. Escapou de um beijo só por pirraça enquanto ele se empertigava para alcançar seus lábios naquele joguinho infantil de fingir estar com raiva. — Parece que vocês estão de conluio conta mim.

— Tudo pelo seu bem, amor. – Kakashi justificou vendo-a suspirar num falso cansaço. Pediu um beijo e ela o olhou pelo canto do olho, pediu de novo e ela demonstrava querer sorrir, pediu mais uma vez, e aí sim ela o beijou, desistindo da pose em prol do seu objetivo de beijá-lo a noite toda.

Se olharam por mais um momento, e Kakashi tinha aquela expressão que a fazia corar inevitavelmente. Os olhos cheios daquele sentimento que os mantinham juntos. A garoa fina se fez presente enquanto o vento balançava a grama por todo o lugar. Conseguiam ouvir o barulho de um carro passando longe, e seu coração também se fazia ruidoso naquele momento, batendo tão alto e tão forte.

O beijou novamente colocando as mãos por dentro dos cabelos prateados e ele sorriu com os arrepios em série que o toque dela o provocava. Fechou os olhos se permitindo sentir o frio do clima em contraste com o calor que ela emitia e o cheiro da chuva subindo e se misturando ao perfume doce e inebriante de Sakura. Algumas gotículas os alcançavam, mas ele não se importou, ela também não pareceu preocupada.

Abriu os olhos e ela ainda estava ali, tão real.

Mesmo em seus braços, ele ainda sentia como se a qualquer momento pudesse acordar e descobrir que ela era apenas o melhor dos sonhos que já tivera, mas quando ela sorria para ele daquele jeito, e o beijava logo em seguida com toda sua intensidade, ele sabia que era tudo real. Mais ainda, quando ela se aconchegava em seus braços, Kakashi entendia que aquele era o ponto em que tudo fazia total e completo sentido.

Soltou o ar de repente porque sequer notou que estava segurando, e ela se afastou brevemente apenas para olhá-lo novamente com o verde infinito de seus olhos.

— Eu to feliz que você tenha passado uma tarde legal com seus amigos – Ela disse de repente — Que eu tenha chegado em casa e encontrado você bem desse jeito.

— Eu também – Ele disse sorrindo — Confesso que em alguns momentos eu só queria ligar para você, mas eu não quis te atrapalhar. – Suspirou — Tenho mantido você comigo durante todo o mês e... Sei lá, eu só queria que você tivesse todo o tempo do mundo.

— Não se preocupa com isso. – Ela riu brevemente — Você podia ter ligado, eu disse que atenderia. E honestamente, não é nenhum sacrifício ficar aqui com você. Estou comendo bem, sendo paparicada a todo instante, dando amassos os três horários, e nem preciso me preocupar com roupa suja.

— Não esqueça que sou seu motorista também.

— Oh, sim! Você me leva para todos os lugares – Ela disse rindo e ele a beijou brevemente nos lábios — É o paraíso.

— Sakura, é sério. Obrigado por esse mês. Por ser paciente comigo, e por me dar paz. – Disse depois de um momento — Eu sei que tem sido exaustivo lidar comigo, mas eu sinto que estou voltando ao meu estado de normalidade.

— Ei, não é sacrifício nenhum para mim, eu já disse – Repetiu dando os ombros — Eu só tô muito feliz, de verdade, que estamos fazendo progresso. Além disso, eu também nem tenho para onde ir. Esqueceu? Não tenho mais uma casa para chamar de minha. – Suspirou — Acho que vou comprar aquele apartamento no prédio do Sasuke e resolver esse problema.

— Já falei que é muito longe. – Ele resmungou em resposta.

— Mas é seguro, amplo, e a Ino já aprovou. – Sakura deu uma risada — Você sabe como é difícil escolher qualquer coisa quando Ino está determinada? Ela disse que eu tenho que parar de morar em buracos.

— Você realmente precisa de um lugar mais amplo.

— O apartamento tem uns trezentos metros quadrados. – Sakura disse — Dá para uma família viver tranquilamente.

— Acho que é amplo demais nesse caso.

— E você acha que eu não sei? – Perguntou com humor — Falei que podia comprar um apartamento perto do canal, aí ela fez uma careta enorme. Pelos deuses, Sakura! Só suburbanos em ascensão moram por ali. – Imitou a amiga e Kakashi apenas riu.

— O que ela tem contra o subúrbio? – Ele disse fingindo estar afetado — Temos paz e sossego aqui.

— Né! Eu to super curtindo a vida de suburbana – Ela disse rindo. — Ninguém faz barulho na rua, dá pra dormir até mais tarde sem que um ônibus buzine na sua janela.

— Além disso, todo mundo se conhece no bairro.

— Ela só tá implicando porque queria que eu morasse na mansão com ela. – Sakura disse rindo — Honestamente, aquele lugar é enorme. Demoraria uns dez minutos de patinete elétrico para chegar à cozinha de tão grande que é aquele lugar.

— Sério?

— Não. Mas é como eu me sinto – Disse e ela revirou os olhos com humor antes que ela o beijasse num pedido de desculpas pelo exagero. — Aí, eu só queria achar um lugar legal, pequeno, perto do Jardim Botânico e da faculdade, com duas vagas na garagem, porteiro vinte-e-quatro-horas, essas coisas...

— Olha, tem um lugar que talvez você goste – Ele começou e logo tinha a atenção da mulher — Não é pequeno, já adianto. Mas o lugar é legal, tem três quartos, garagem para quatro carros. A segurança é legal, mas não tem porteiro. – Disse vendo a menina arquear uma sobrancelha confusa.

— É perto da faculdade, pelo menos?

— Ahn... Mais ou menos. – Kakashi coçou a cabeça — Também não fica muito perto do Jardim Botânico.

— Kakashi, esse lugar não combina comigo – Ela disse rindo.

— Mas você sempre falou que gostava dessa casa.

— Hã? Sim, eu gosto da sua casa. Tô falando que o lugar que você--- Oh!

O homem sustentava seu olhar tranquilo enquanto Sakura o olhava completamente desconsertada. Ria nervosa enquanto se mexia brevemente. Mordeu o lábio daquele jeito que ele tanto amava, e Kakashi não resistiu a beijá-la no topo da cabeça.

— Você não precisa responder agora, mas eu gostaria que você considerasse essa casa como uma opção de moradia a longo prazo – Disse com humor — Vem comigo no pacote, então talvez seja pedir demais.

— Você tem certeza? – Ela perguntou ainda tão surpresa. — Pensei que você gostasse de morar só.

O homem maneou a cabeça com serenidade.

— Se dependesse de mim, você estaria morando aqui desde a primeira vez que entrou por aquela porta. Eu não queria ser precipitado, mas já vinha pensando nisso de tempos em tempos – E deu os ombros — Eu ia esperar um pouco mais também, mas você já tá falando em comprar um apartamento então... – Ele riu nervoso — Eu só não quero que você pense que isso é uma decisão porque eu ainda não consigo ficar tão tranquilo quando você tá longe. Eu prometo que não é isso.

— Eu tô lembrada que você praticamente me pediu em casamento na minha primeira noite nessa casa – Ela disse com humor e ele corou de repente, desviando o olhar para o lado enquanto ela simplesmente ria daquela memória.

— Me deixei levar pelo momento. – Justificou tentando se recompor e ela apenas o beijo na linha do maxilar.

— Você sabe que aqueles quadros vão sair do quarto se eu vier pra cá, não é? – Ele concordou com a cabeça, dizendo que ela podia mudar o que quisesse — E minha planta vai ficar na sala. Ino vai ganhar as chaves da frente, e você não vai poder reclamar quando ela quiser dormir comigo na cama.

— Saio de bom grado. Durmo no quarto de hospedes.

— O quarto de hospedes número dois será meu estúdio. – Informou lembrando a ele de uma de suas mais importantes atividades, que estava pausada por motivos de saúde, mas que ela pretendia retomar assim que pudesse.

— Faça o que quiser dele.

— E eu tenho uma reputação a zelar. Eu posso acordar atrasada, mas nunca chego atrasada, me entendeu? – Perguntou olhando para ele porque Kakashi tinha aquela fama de estar sempre atrasado — Se formos juntos para a faculdade, você vai ter que parar de fazer corpo mole de manhã.

— Feito.

— Ok, então. – Ela disse por fim satisfeita — Se meus pais concordarem, então me mudo para cá.

— Como? – Ele perguntou confuso — Como assim seus pais?

— Ué – Ela riu — Mebuki e Kizashi ainda pagam minhas contas, Kakashi. Eles têm que saber o que estou fazendo da minha vida. – Disse com humor — Além disso, eu contei para eles o que aconteceu, você sabe...

— É, eu não estava esperando essa resposta – Kakashi disse com sinceridade. No final das contas ele apenas torceu pelo sim e considerou o não, mas nunca pensou no depende dos meus pais — Fui pego desprevenido, mas vou interpretar como um de depender de mim, já considero esta casa como minha.

Sakura riu.

— Mas eu já considero essa casa como minha – Ela revelou sem o menor pudor — Metade do seu closet já é meu, Hatake. Seu banheiro é mais meu do que seu. E meio que a Ino já tem a chave daqui.

— Eu não acredito. – Soltou rindo da revelação ao final.

— Desculpa? – Ela disse rindo e ele apenas acompanhou.

— Isso não devia me surpreender. – Resmungou sem sentir nenhuma raiva. Ela e Ino eram inseparáveis, então tudo bem que Ino tivesse acesso livre – Na verdade, quando seus pais chegarem no final do mês, eu vou conquistá-los e eles quem vão implorar para que você more comigo. Vão me pagar um dote. – Brincou.

— Minha mãe já te ama, não se preocupe – Sakura falou divertida — E temos uma mudança nos planos... Eles não vão poder vir pra cá. Estão cheios de trabalho, mas querem muito me ver, então eu vou ter que ir para lá. Um dia após o casório eu estarei viajando. – Ela disse encolhendo os ombros.

— Oh... – Ele pensou um pouco. — Droga, eu queria conhecê-los.

— Bem, você pode vir comigo – Ela deu os ombros tentando parecer casual, quando na verdade ela já queria viajar com ele desde o momento que soube da mudança de planos — Só vamos ficar uma semana fora. Não é grande coisa.

— Ok. Certo. Vamos para a Coréia. – Ele disse mais firme enquanto a ideia se formava em sua cabeça e de repente se levantando enquanto Sakura sentava em posição de buda no fuuton com um ar divertido. — Segue o plano: Primeiro eu conquisto seus pais com meu carisma, depois deixo escapar que tenho dinheiro para que eles não pensem que quero dar o golpe do baú, e então digo que quero que você more comigo – Ele falou ao passo que Sakura estava achando tudo aquilo muito fofo. — Daí eu vou acordar todos os dias com você do meu lado, e todo dia vai ser o melhor dia da minha vida.

E não precisava dizer que estava completamente encantada com aquela declaração tão repentina e eufórica. O homem a ofereceu sua mão e ela não hesitou em aceitá-la. Levantou com ajuda dele, para que então, com um movimento súbito e incrivelmente delicado, ele a girasse para fora da proteção da varanda, levando-os para a parte descoberta da casa que jazia úmida pela chuva fraca.

Sakura riu sem entender nada, mas deixou que ele a tomasse pela cintura e começasse a se mover lentamente para um lado e para o outro, e era como se a música soasse por todos os lados apesar de não haver nenhuma melodia. Kakashi mantinha os olhos nos dela de uma maneira leve e encantadora, e para Sakura, era como estar olhando para ele pela primeira vez novamente.

Era exatamente igual àquele dia no Jardim Botânico, onde ela colocou suas mãos em volta do seu pescoço e se permitiu ser conduzida naquele romance que a arrebatou antes mesmo que ela pudesse perceber. O toque dele em sua cintura fazia sua pele formigar, e a chuva fina que caia sobre suas cabeças refletiam ainda mais o brilho no olhar escuro que ele tinha.

E naquele momento, enquanto estavam cara-a-cara num sentimento que eles não tinham mais controle sobre, nenhum deles ousaria hesitar. No frio da noite chuvosa, o calor de seus corpos ficava mais evidente, e por um momento Sakura sentia esquecer como se fazia para dançar, porque era tudo novo de novo. Era Kakashi ali, e ela queria descobrir tudo sobre ele de novo e de novo.

Dessa vez, no entanto, quando seus olhos inevitavelmente se prenderam um no outro, Kakashi tocou os lábios dela delicadamente. Os dedos tocando-a tão leve, tão delicados, e apesar de apenas as pontas encostarem em sua tez, Sakura sentia aquele sentimento por todo o corpo. O desejo, o calor, tudo serpenteava pelos seus corpos e aquele beijo tão lento e sôfrego os deixavam imersos no mais intenso dos sentimentos.

Quando finalmente seus lábios se separaram e as gotas de água pingaram de seus cabelos, Kakashi sorriu para ela e Sakura se sentia de volta naquele primeiro encontro. Ela o beijou mais uma vez, tímida, e sua mão jazia tranquila na nuca masculina enquanto ele a olhava completamente feliz.

A felicidade que parece felicidade.

E dentro do seu peito estavam todas aquelas palavras que queriam desesperadamente sair, porque não havia mais o que esconder, não havia mais como evitar. Se abraçaram novamente, aconchegados no calor um do outro e então, num breve sussurro, sua voz se fez ouvida no mais honesto dos pedidos.

— Quer casar comigo?

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.

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Segurou o vestido pela saia enquanto dava passos rápidos. Subiu a escadaria do local, virou à direita pelo corredor, e depois de três portas iguais encontrou o quarto da noiva completamente vazio, exceto pelas malas com roupas, maquiagem, sapatos e todo o resto. Todas as madrinhas estiveram por ali ajudando Kurenai a se vestir, bebendo um pouco no processo, rindo de tudo e de todos enquanto esperavam ansiosas pelo momento em que finalmente acompanhariam Kurenai à realização de vinte anos de relacionamento.

Não que casamento, de alguma forma, fosse essencial, mas para ela e Kurenai, que namoraram tanto tempo os mesmos caras, casamento era mais como um sonho. Kurenai tinha conseguido transformá-lo em realidade, Rin, no entanto, apenas deixou de sonhar.

Com o celular da noiva na mão, Rin cavoucou dentro de uma das bolsas espalhadas no local para encontrar, depois de alguns minutos, um carregador. Kurenai tinha pedido à Rin que o colocasse na carga, afinal, iria viajar logo mais e precisava do aparelho devidamente pronto para uma viagem de mais de cinco horas rumo a sua lua de mel.

Depois de todos os eventos envolvendo Obito, Rin tinha sido deixada em casa por Aoba, que até quis ficar consigo, mas devido a tudo, Rin sentia que precisava de um momento só. O primeiro dia foi o mais estranho possível. Ficou revendo aquele álbum antigo de fotografias antes de simplesmente deitar em sua cama e olhar para o teto por tempo demais.

Não fazia muito tempo que tinha transado com o homem bem ali, aliás, a última vez que falara com ele antes de todo aquele incidente tinha sido para lhe dizer que o queria mais em sua vida. E foi estranho pensar naquilo como sua despedida e depois lembrar que ele saiu completamente ensanguentado por aquele estacionamento, ferido e a beira da morte – Rin tinha certeza.

Num dia, Rin estava choramingando sobre como Kakashi tinha sido cruel em terminar consigo depois de tanto tempo, no outro ela estava apenas em choque com todo o ocorrido. Em momento algum ela quis que algo de ruim o acontecesse, e ainda que tivesse implicado com Sakura sem motivo, ela também não queria que a nova namorada de Kakashi tivesse qualquer fim trágico. Era bizarro pensar que suas reclamações sem sentido tinham, de alguma forma, crescido esse sentimento ridículo em Obito.

E Ino estava certa. Não podia simplesmente se sentir culpada por algo que ela nunca pediu. Toda vez que procurou Obito, Rin estava apenas tentando esquecer a situação complicada que seus sentimentos intensos a colocavam. Até mesmo naquele dia que o encontrou de supetão no bar ali perto, naquele dia Obito lhe perguntou se Kakashi de volta era o que ela precisava e Rin apenas respondeu que não.

Ela precisava de amor próprio, e isso era algo bem diferente.

De toda forma, havia essa imagem de Obito em sua cabeça. Do cara feliz que lhe elogiava mesmo em seus momentos mais horríveis. Ele sempre foi divertido de um jeito bobo, do tipo que é agradável mesmo nos dias em que o mau humor lhe atacava. Obito sempre foi sorridente e despreocupado de uma forma que Kakashi jamais seria.

Não evitou procurar algum momento em que ele tenha deixado de ser aquele adolescente idiota para se tornar um homem tão perigoso, mas nas suas memórias, Obito sempre seria Obito. Por isso, depois de vinte-e-quatro horas parada na cama e sem conseguir dormir, Rin decidiu que não ia tentar encontrar esse momento. Que esse Obito perigoso e nojento não faria parte de suas memórias. Esse cara era outra pessoa. O Obito em sua memória seria sempre aquela criança atrapalhada que tanto gostava dela.

Era isso.

Mas havia essa parte de si que sentia certo nojo de ter se envolvido com ele daquela forma degradante. Tinham transado tantas vezes desde que ele havia voltado para a cidade, e aquele Obito já não era o Obito bobão que ela gostava de lembrar. Na verdade, sequer o Obito de Tóquio era o Obito de suas memórias. Percebeu, no final das contas, que ela construiu uma imagem dele que jamais existiu.

Era triste que com um evento, todas as suas lembranças tivessem sido contaminadas. Foi inevitável se sentir um pouco mais idiota, um pouco mais usada, um pouco mais suja. No final, Obito amava do jeito errado e isso foi sua ruína. Esses pensamentos ficaram girando em sua mente enquanto ela tentava, de alguma forma, encontrar um lugar onde sua mente pudesse descansar.

Estava estranhamente triste e se permitiu chorar pelo homem, afinal ela era a única que ainda conversava com ele. Chorou algumas vezes até perceber que talvez estivesse sendo injusta com Kakashi e Sakura, que haviam vivido o terror nas mãos dele. E todas aquelas crianças também. Mas não podia evitar se sentir pesarosa. Obito nunca foi ruim para ela, e sempre deu o que achava que ela merecia.

Sentimentos conflitantes eram a definição daquele luto. Ao mesmo tempo que ela queria apenas dizer que o odiava com todas as forças, Rin não conseguia fazê-lo.

Foi só naquele dia, quando resolveu ir ao supermercado naquele moletom horrível, que Rin percebeu que ela devia apenas se deixar sentir o que havia para ser sentido. Sem cobrar qualquer coerência ou entendimento mais profundo. Se sentia vontade de chorar por Obito, então choraria por ele.

O problema era que Rin não sabia se tinha sido inato ou premeditado, mas ela conhecia Kakashi de forma tão profunda que até o horário padrão de ir ao mercado estava registrado em sua mente. Ela saiu de casa com seu próprio carro, recebendo buzinadas impacientes enquanto tentava chegar no supermercado do outro lado do canal, aquele que Kakashi gostava de fazer compras no final da tarde.

Foi só por isso que eles se esbarraram no corredor dos congelados e ele a viu chorar enquanto segurava filé de peixe com uma das mãos. Foi estranho quando ele a abraçou gentilmente e esperou que ela chorasse tudo o que tinha para chorar. Kakashi sempre foi um homem gentil, delicado na medida certa, e sabia que Obito não era esse monstro para Rin. Sabia que essa desconstrução seria a mais difícil que ela poderia fazer na vida.

Naquele momento, Kakashi lhe disse algo interessante. A única coisa que me faz sentir menos raiva dele, é que ele cumpriu nossa promessa e cuidou de você. E é claro que ele estava falando de Tóquio e sobre como ela voltou sã e salva para Kyoto. É claro que ele estava aliviado por Obito não ter permitido que Rin fizesse parte daquela vida de crimes que ele levava, e mais ainda, estava aliviado por Rin poder ser tão gentil a ponto de não conseguir odiá-lo mesmo que tenha feito todas aquelas coisas.

Rin era boa demais.

Se ela pudesse voltar no tempo para tentar salvá-lo de alguma maneira, Kakashi sabia que ela o faria. Mas ninguém podia desmanchar o que já havia acontecido e as coisas... As coisas só acontecem.

Ela chorou por longos minutos na sessão de frios e soluçou na camisa azul de Kakashi. Viu Sakura a poucos metros dele, dando a privacidade que precisavam enquanto olhava com uma curiosidade ridícula para uma caixa de empanados pré-cozidos. Naquela época, Sakura estava na cadeira motorizada que o supermercado oferecia, e Kakashi tinha seu olho coberto por um curativo grosso demais.

Consequências.

Todos eles estavam sofrendo de alguma forma.

Ela perguntou como eles estavam e Kakashi deu os ombros. Bem, eu acho. Disse daquele jeito que não revelava muita coisa, mas deixava bem claro que haviam ainda muitas questões que precisavam resolver. Rin notou que ele não conseguia ficar muito tempo sem dar uma olhada na direção de Sakura, e percebeu que as consequências seriam bem maiores do que apenas uma cicatriz no rosto e uma coluna debilitada.

Quando voltou para casa, Rin não conseguiu dormir naquela cama ou no sofá. Ao invés disso, ela foi até a loja de móveis e comprou um aparador novo, um sofá novo, uma cama nova com colchão e travesseiros novos. Tudo novo. Porque, de alguma forma, ela sentia que precisava tirar Obito daquela casa de uma vez por todas, e quando todos os móveis velhos saíram e os novos chegaram, Rin se sentia um pouco melhor.

Finalmente.

No quinto dia após o ocorrido, Rin estava recebendo ligações do trabalho e ignorando. Não dormia direito. Foi a um psiquiatra apenas para ganhar um atestado médico de duas semanas, mas saiu também com uma receita com comprimidos para... para tudo. Ela passou no trabalho e ganhou uma licença, e comprou os remédios na farmácia, deixando-os em cima de sua mesa de cabeceira.

Supostamente, aquilo lhe ajudaria a dormir, mas todo dia Rin olhava para as pílulas e pensava que não precisava daquilo. De alguma forma, algo dentro dela se recusava a tomar aqueles remédios porque parecia algo tão exagerado. Ela era saudável, se exercitava regularmente, apesar de não ter corrido nenhum dia naquela semana.

Ela só precisava de uma ocupação.

Como sua mãe dizia, cabeça parada é oficina do diabo.

Voltou a correr e, na volta, passou naquela loja de instrumentos musicais. Comprou um violão por puro impulso. Naquele dia, ela não se permitiu ficar para baixo. Decidiu que se iria parar com os eventos culturais e restaurantes chiques, então ela iria voltar a comer algumas porcarias, como o lámem da esquina, e os bolinhos de feijão que vendiam nas barraquinhas do parque.

Dedicou cinco horas por dia para aprender violão sozinha, e os vizinhos que a desculpassem. Assistiu todos aqueles filmes de romance novos que saíram durante o ano e que ela não pode ver por falta de tempo. Chorou que nem uma desgraçada, dessa vez pelos protagonistas trágicos que não terminaram juntos e às vezes pelo casal secundário que era muito melhor e mais carismático do que o principal.

Também decidiu ficar boa no volante, e nisso seu professor foi o filho da vizinha da frente. O pagou em forma de empréstimo de carro, já que ele tinha uma namorada e a mãe se recusava a emprestar o próprio carro para o adolescente.

Ainda não estava dormindo exatamente bem, mas sentia que sua mente já começava a funcionar melhor. Bem... Até aquela notícia ridícula sobre como Obito era um grande herói nacional chegar aos seus ouvidos. A fake News já estava circulando tinha dias, mas Rin tinha parado com os jornais de notícia, ficando apenas nas fofocas dos famosos. No dia que descobriu, no entanto, foi parar na casa de Kurenai chorando horrores.

Dormiu com Kurenai dois dias seguidos. Desabafou com a amiga que se sentia um lixo por não conseguir lidar com tudo aquilo e as palavras dela foram bem certeiras: Obito era um merda, mas nunca foi um merda para ela. Foi a arquiteta quem lhe disse para parar de tentar mudar seus próprios sentimentos, parar de sentir vergonha deles, porque cada pessoa era única na vida de alguém, e que não era diferente com Obito.

Quando voltou para casa, Rin finalmente cedeu aos remédios.

E uma vez tendo conseguido dormir direito, Rin conseguiu clarear seus pensamentos. Kurenai tinha razão, haveriam esses dois Obitos para sempre dentro de si, aquele que tentou matar todo mundo e fez coisas absurdas, e também existira aquele Obito que sempre estava pronto para segurá-la quando caísse, e a única coisa que podia fazer sobre isso era aceitar que as coisas só acontecem. Obito estava morto agora, e tudo bem acender um incenso para ele na varanda de casa para ajudar que sua energia voltasse pacifica para o ciclo infinito do mundo.

Foi quando ela se sentiu apta a voltar para as atividades comuns, mas resolveu adiantas as férias do trabalho. Ela realmente queria aprender a tocar aquele violão que tinha comprado e estava apreciando esse momento de desaceleração. Ver seus filmes, correr, cozinhar novas receitas, provar mais comida de rua, e estava tão empolgada em tudo o que fazia.

Mandou mensagem para Aoba depois de 15 dias, tinham que retomar os últimos detalhes do casamento. Ela não sabia como ele estava, Kurenai só havia informado sobre o estado de Genma e Kakashi. Aoba, no entanto, continuava um mistério e por isso ela optou por ser cautelosa, mandando um simples “tá pronto para casar nossos amigos?” e ele respondeu poucos minutos depois com “Vamos lá”.

Kurenai tinha pensado em adiar o casamento porque todos pareciam estar afastados demais para uma comemoração, mas Rin havia implorado para que ela mantivesse a dar, porque todos precisavam disso. A própria Rin sentia que uma festa como essa, onde celebrariam união e comprometimento, era tudo o que precisava para finalmente deixar o que passou no passado. É claro que a amiga ficou relutante, mas Asuma também achava que uma boa festa iria animar a galera deles, e assim só restava colocar tudo aquilo para frente.

Mas o seu parceiro de organização e chofer parecia um tanto hesitante.

Não sabia dizer se estava confuso com tudo o que aconteceu, mas ele não parecia exatamente o mesmo. As mensagens eram mais secas, menos entusiasmadas, e ainda que ele estivesse respondendo tão rápido quanto antes, os flertes não existiam mais. Mas também o que ela esperava? Provavelmente Aoba tinha percebido que Rin tinha muito mais camadas do que ele estava disposto a lidar. Talvez ele quisesse apenas ser um bom amigo e tudo bem. Ela não forçaria nada.

Honestamente, sequer tinha cabeça para romance naquele momento e foi bem vindo que ele apenas recuasse. Se concentrou no casamento, no violão, nos fins de tarde apreciava a companhia de suas amigas. Kurenai, Shizune ou Anko. Às vezes todas juntas, às vezes alguma faltava, mas todas já estavam em clima de casamento e, bem, não havia espaço para qualquer outra coisa que não fosse felicidade e a certeza de dias melhores.

Tinha visto Aoba uma vez, no final de semana anterior, e ele estava tão travado. Parecia que não sabia como conversar com ela e acabou fugindo com um compromisso claramente inventado. Depois de Obito e Kakashi, Rin apenas suspirou pensando que deveria dar um tempo de homens e toda a confusão que eles traziam.

Era isto.

Se bem que, no caso de Aoba, ela certamente apreciaria umas dicas sobre violão.

Então o grande finalmente havia chegado e todos os seus amigos se encontraram novamente. Foi estranho no começo e havia o elefante no meio da sala, mas Genma foi perfeito quando disse, com todas as letras, que Obito estava morto e não importava o que ele tinha feito. Quem quisesse ficar triste tinha esse direito e quem quisesse ficar aliviado com sua morte também tinha. O que importava, naquele dia tão especial, era que eles continuavam firmes e unidos.

Rin chorou junto com Yamato, que nem teve tanto contato com Obito, mas era sensível o suficiente para chorar num discurso daqueles. Asuma segurou as lágrimas e Kurenai apenas deu tempo a todos. Foi o mesmo Genma quem, de repente, disse que era hora de deixar o passado para trás e focar no futuro brilhante que estava por vir, começando com a grande celebração daquele casamento tão esperado por todos.

O que aconteceu foi a clássica divisão meninos vs meninas. Rin, Anko, Shizune e Kurenai foram aos aposentos da noiva, prepará-la para sua grande entrada. Os meninos foram para o quarto do outro lado do corredor, e antes de fecharem as portas, ela viu Aoba lhe olhar de relance por um breve momento.

Enquanto se preparavam, beberam um pouco de champanhe, riram das lembranças mais constrangedoras do casal de noivos, conversaram sobre o pedido de namoro que Genma havia recebido dias atrás, se vestiram, se maquiaram, tiraram fotos com Kurenai e brindaram a uma nova vida, que não seria tão nova, mas tinha gosto de recomeço.

A cerimônia foi absolutamente incrível e tinha que admitir que Aoba fez o melhor por aquele casamento. O Plaza deixaria tudo muito blasé. Naquele chalé aberto, com um lago ao fundo e grama verde, tudo soava muito mais perfeito e íntimo. A luz natural beneficiou os fotógrafos que foram o presente de Genma. Dar presentes para casais que já moravam juntos a tanto tempo era uma tarefa complexa, mas Rin e as meninas resolveram presentar Kurenai com uma semana de SPA, para quando ela estivesse puta demais com o Asuma e precisasse de um tempo para si.

Kurenai estava tão linda, e Asuma estava perfeito naquela roupa. Tudo foi simplesmente encantador. A música, as flores, o clima... Tudo estava absolutamente perfeito e Kurenai não podia estar mais bela com aquele sorriso, completamente apaixonada pelo fumante que não tirou a barba nem para o casamento.

Todos já estavam dançando na festa quando Kurenai pediu a Rin que colocasse seu celular para carregar. A verdade é que aquele pedido veio num momento oportuno, porque ela já estava se sentindo um pouco cansada e sumir com justificativa era bem melhor que apenas sumir. Subiu as escadas no seu próprio ritmo e, uma vez que tinha colocado o celular na tomada, sentou-se no parapeito da janela e olhou o jardim.

Dalí conseguiu ver apenas parte do movimento. As pessoas dançavam para lá e para cá e o clima tranquilo era de uma felicidade permanente. Sorriu pensando que tanta coisa havia mudado em apenas um ano, e na verdade, o ano sequer havia acabado. Tudo parecia tão surreal. Num minuto estava jantando com Kakashi e no outro ele estava bem ali, segurando Sakura pela cintura e a balançando de um lado para o outro com muito cuidado.

Tinha Genma também que não tirava os olhos de uma Ino que chamava atenção onde quer que fosse. E Yamato com a amada que morava longe demais. Ele tinha dito que finalmente iria se mudar para a cidade dela, e todos já estavam morrendo de saudades. Gai estava jogando um papo fácil numa das amigas de trabalho de Kurenai, e Rin apostava que ele se daria bem aquela noite.

Tanta coisa havia mudado, tanta coisa ainda permanecia. Era engraçado como as coisas mudavam e ainda assim continuavam as mesmas. Tomou aquele tempo para si olhando seus amigos de longe, suspirou algumas vezes com certa nostalgia, deixando a mente ir para onde queria ir. Pensou no que tinha para fazer quando chegasse em casa, e também no que não tinha para fazer. Já estava começando a sentir falta do trabalho, mas ao mesmo tempo ela tinha esse projeto novo de começar um blog culinário para fazer avaliação de comida de rua.

Se livrou das sandálias de salto e se fez mais confortável com seu vestido longo. Passou a mão nos cabelos jogando-os para lado, sentindo falta de uma faixa para que não caíssem no rosto. Kurenai iria matá-la se ela aparecesse com algo como aquilo na festa de casamento e por isso ela não levou nenhuma. Riu do pensamento e era o único ruído naquele cômodo em paz.

Fechou os olhos.

Encontrou sua paz.

E então a porta se abriu e, por reflexo, ela abriu seus olhos para ver um hesitante Aoba entrar no recinto.

— Ah, Rin. – Ele disse parecendo um pouco menos travado do que naquele outro dia, mas ainda não parecia normal.

— Eu. – Ela respondeu divertida, porque ele não precisava agir daquela maneira. — Tá perdido?

— Na verdade, não – Disse se recompondo enquanto entrava no quarto — Anko roubou meus óculos assim que chegamos. Vim recuperá-lo.

— Ah – Ela riu porque aquilo era a cara da Anko de alguma forma. Ela odiava os juliet de Aoba desde a época em que eles se pegavam. — A bolsa dela tá ali. – Apontou com um pé.

Aoba olhou na direção apontada e voltou para o pé nu de Rin para, em seguida, subir lentamente até o rosto dela, que parecia tão tranquilo como uma manhã de primavera. Passou a mão no rosto antes de seguir seu caminho na direção da bolsa da mulher, achando seus óculos rapidamente.

— Não posso perder esse aqui. – Ele disse levantando o objeto como se fosse algum tipo de prêmio.

— Surpreendentemente, combinam com você. – Disse com um sorriso calmo nos lábios e não havia nenhum outro sentimento além dessa tranquilidade absoluta, o que, de alguma forma, pegou Aoba desprevenido. Ele hesitou novamente antes de colocar os óculos no bolso interno, olhou para ela mais uma vez e parecia indeciso sobre o que fazer. — Aoba, não precisa agir desse jeito comigo. – Ela começou de repente e ele a olhou confuso — Somos amigos e você não me deve nenhuma explicação. Tá tudo bem.

— Como assim? – Ele questionou com o cenho franzido sem entender o que ela estava querendo dizer.

— Você sabe – E a voz dela era tão tranquila e resolvida. — Nós estávamos tendo um momento e depois tudo aquilo aconteceu. Eu só tô dizendo que tudo bem que você não queira mais. Você não me deve nada, então apenas me trate do mesmo jeito de antes.

O homem ficou um minuto olhando para ela. Precisou de um momento para compreender aquelas palavras e todos os significados que elas traziam. Rin parecia estar num estado de puro equilíbrio, onde nada podia perturbá-la, e quando ela falava tais coisas daquela maneira, Aoba percebia que certamente ele tinha lhe dado espaço demais.

É claro que ele ficou aliviado em vê-la bem e tranquila. Não sabia bem como ela estava se saindo e tinha medo de se aproximar e ser um estorvo. Apenas esperou para vê-la e quando o fez, Aoba se sentiu uma fraude. Sua intenção primaria era, simplesmente, investir na Rin e ver no que dava, mas agora ele estava escrevendo músicas sobre ela sem sequer dar-se conta, e naquele momento, enquanto a olhava, aquela melodia tocou em seus ouvidos.

Tch.

Passou a mão no rosto.

Enquanto isso, Rin o olhava quase confusa. O que era aquela reação? Parecia quase ofendido. Ela deu uma breve risadinha porque já havia feito as pazes consigo mesma, e honestamente, mesmo que ele achasse que ela não valia mais o esforço, estava tudo bem. Ainda que antes Rin estivesse aproveitando a companhia do homem, nunca mais ela seria aquela pessoa louca que se humilhava em prol de um sentimento unilateral.

Se ele não quiser, tudo bem.

Tem quem queira.

— Mas eu nunca disse que não queria. – Ele disse de repente — Eu não notei que estava passando essa impressão. – Disse depois de um momento — Na verdade, durante toda a festa, eu venho tentando não ficar que nem um idiota olhando você toda linda. Até mesmo agora eu me pergunto se posso simplesmente ir até você e te beijar. Eu não sei se você está nesse momento ou não.

— O quê? – Ela perguntou confusa, rindo da expressão dele tão... sincera? — Eu não entendo. Você não fala comigo se não for algo do casamento. Quando nos vimos semana passada você sequer olhou para mim. Achei que estivesse fugindo de problema.

— Como assim fugindo de problema? – Ele perguntou com humor — Desde quando você é problema?

— Desde que Obito tentou matar a namorada do meu ex porque eu fiquei chorando as pitangas para ele. – Confessou encolhendo os ombros — Acho que isso é problema o suficiente, não é?

— Obito tá morto. Todo mundo tá bem. Você não é nenhum problema, nunca foi. – Ele disse de maneira categórica — Tudo bem sofrer um pouco com o termino de um namoro. Foram anos, Rin. Ninguém esperava que você ficasse bem de uma hora para a outra.

Se olharam por um breve momento e, estranhamente, Rin desejou que ele tivesse lhe dito aquela ultima frase no dia em que Kakashi levara Sakura no Icon. Desejou que fosse Aoba que tivesse lhe encontrado naquele bar, e que, de alguma forma, fosse exatamente o que ela precisava.

O pensamento a fez rir por um momento, porque ele ainda conseguia ser gentil ao dizer que ela sofreu um pouco. Foram meses.

— Então porque você estava me evitando? – Ela perguntou — Disse que não sabe em que momento estou, o que isso significa?

— Significa que... – Aoba hesitou com as palavras engasgando dentro de si. Engoliu seco se sentindo nervoso, passou a mão no tecido da calça tentando encontrar alguma coragem. Quem imaginava que aos 36 anos, Aoba estaria sofrendo de amor como um adolescente. — Que, Rin, talvez eu não queria ter só um momento.

Ele olhou para ela por um longo momento e Rin parecia estar processando as palavras. Abriu a boca e fechou novamente como se tivesse percebido o que aquilo significava exatamente. O homem passou a mão nos cabelos pretos e concordou com a cabeça. Ela não precisava dizer nada naquele momento.

— Aliás, você está linda hoje – Disse se sentindo um pouco mais leve depois da confissão. Na verdade, depois de tudo, ele se sentia mais tranquilo. Talvez fosse o ambiente, ele não sabia, mas se sentia calmo de novo, o suficiente para lhe dizer essas coisas com um sorriso sincero.

— Eu vi você olhando para mim, se quer saber. – Disse com um sorriso — Mais de uma vez, na verdade.

Aoba levantou as mãos e encolheu os ombros num gesto de quem não vai se desculpar por tê-lo feito. Eles riram brevemente e ele suspirou por fim. Ficaram em silêncio e Aoba percebeu que talvez já fosse hora de deixá-la novamente, mas ao invés disso, Rin apenas o chamou com o movimento de uma mão.

O homem se aproximou calmamente, sentando ao lado dela no parapeito da janela e, antes que percebesse, Rin o beijou.

— Tô precisando de umas aulas de violão.

Ele riu sentindo os dedos dela por dentro de seu cabelo, a respiração próxima a ele, o timbra baixo de seus olhos castanhos.

— Quarta à noite tá bom pra você? – Ele perguntou com aquele sorriso de canto e Rin concordou com a cabeça num gesto divertido.

— Vou levar o lanche. – Ela respondeu beijando seu queixo enquanto escorria suas mãos até o tecido de sua gravata, desfazendo o nó torto que a prendia no pescoço masculino. Aoba sorriu.

— Tenho certeza que vai. – Falou enquanto tirava o próprio paletó, antes de simplesmente beijá-la melhor, com mais profundidade.

Rin suspirou quando o sentiu segurá-la com força contra a parede estreita do canto da janela. A beijava com tanta vontade, cheio de um sentimento que ela não conseguia entender ainda, mas que estava pronta para aproveitar cada segundo. Seu corpo ondulou enquanto ele a tocava, puxando o zíper de seu vestido sem muita demora.

Levantou antes que ele pudesse continuar, ficou na frente dele que a olhava um pouco confuso, um pouco voraz. Aoba estava ofegante e ela adorava que ele quisesse mais que um momento. Um breve instante se fez antes que ela deixasse seu vestido cair ao chão e o viu olhar para si com um desejo que a muito tempo ela não encontrou em nenhum homem.

Chutou o vestido para o lado antes de sentar em seu colo com as pernas abertas. A mão masculina, tão calejada, escorregou por sua pele, arranhando brevemente seu corpo marcado pelas dobras do tecido. Ela suspirou quando ele cobriu seu seio com a boca quente, sugando com avidez enquanto a apertava sua coxa com uma mão, quase agoniado para ouvi-la gemer um pouco mais.

Seu corpo ondulava enquanto ela rebolava em cima dele, buscando seus lábios para mais um daqueles longos beijos. A língua quente exigindo cada vez mais da sua, o cheiro forte dominando o ambiente, e todo o desejo se intensificando da vez mais. Arfou quando a mão dele alcançou seu clítoris por cima do tecido de sua calcinha. O puxou um pouco mais para si tentando manter sua sanidade enquanto Aoba lutava para que ela perdesse todo o controle.

Fechou os olhos com força quando ele encontrou o movimento certo, o incentivou a continuar e assim, Rin sentiu seu pé esquentar. Isso... Arfou abrindo brevemente seus olhos, sua visão embaçada foi clareando, e ao longe, por trás da janela, Rin viu.

— Manda vê, Aoba!!!!

— Pega ele de jeito, Rin!!!

Abriu os olhos rapidamente para ver Kurenai, Asuma, Anko, Shizune, Kakashi, Gai, Yamato, Genma.... Todos eles abaixo da janela olhando para si naquela cena tão... tão...

Bando de atrapalha foda do caralho. – Aoba resmungou virando o rosto para ver aquela cena ridícula que seus amigos estavam protagonizando. — Vão cuidar da vida de vocês! – Ele gritou de volta e o casal ouviu as risadas chegando logo em seguida.

— Levanta – Rin disse rapidamente agarrando nele mais firme, completamente vermelha e sabendo que seria a piada do grupo no Line por meses.

Aoba fez como ela pediu e a ergueu quando se levantou.

— Tá malhando hein! – Gai gritou completamente bêbado.

— Tesudo do caralho! – Asuma completou sem nenhuma vergonha.

— Mostra teu pilates para ele, Rin!! – Anko gritou gostando da anarquia.

Rin pigarreou antes de simplesmente levantar o polegar para as amigas, num gesto que demonstrava que ela estava disposta a mostrar o poder do pilates e toda sua flexibilidade para ele. Todas elas vibraram num misto de zoação e empolgação. Shizune caiu na gargalhada quando a viu puxar as cortinas enquanto tentava não pagar peitinho.

Oh, céus.

Foi quando Aoba lhe deu um breve impulso, arrumando Rin em seus braços para segurá-la apenas com uma mão! Gai tinha razão, ele devia estar malhando. Pensou quando ele se virou bruscamente, abriu novamente as cortinas apenas para mostrar as costas de Rin e seu dedo do meio.

Era a quinta série de volta a ativa.

— Esse dedo tá me deixando excitado, gostoso! – Genma gritou.

— Faz aquilo que eu te ensinei, Rin! – E essa foi Kurenai, completamente bêbada.

Foi a última coisa que escutou antes de ser colocada na cama por um Aoba completamente vermelho. Eles se encararam por um longo momento e começaram a rir logo em seguida, porque parecia que o universo não queria que eles fizessem aquilo nunca.

— Você tá mesmo malhando? – Ela perguntou divertida, e ele apenas balançou a cabeça incrédulo com a capacidade dela de lhe fazer aquela pergunta durante aquele momento constrangedor.

— O que foi que a Kurenai te ensinou? – Ele devolveu vendo-a rolar os olhos e, de alguma forma, ficar ainda mais vermelha.

— Um dia eu te mostro.

Opa.

— Cala a boca. – Ela disse divertida antes de puxá-lo para mais um longo beijo, jogando seu corpo para cima dele completamente entregue.

Não a incomodava que a quinta série soubesse o que ela estava fazendo naquele momento porque, honestamente, ela já era bem crescidinha. Sabia que os amigos só tinham aproveitado a oportunidade para descontraírem um pouco, e ela não se importava de ser o alvo da vez desde que iria ganhar muitas aulas de violão.

Ela se ergueu, sentada em cima do homem apenas para lhe dar uma boa visão de si. Ela bebia daquele olhar intenso que ele lhe lançava, subindo as mãos pelas suas coxas para fazê-la sentir a pressão de seus dedos na pele exposta. Rin ainda estava de calcinha, uma alta de cor preta que contornava seu corpo despido. Os seios intumescidos imploravam para serem chupados, mas ao invés disso, Aoba apenas os tocou com suas mãos, vendo-a suspirar pelo contato erótico.

Sob a luz fraca que invadia o espaço pela janela de cortinas leves, ele via os fios de cabelos castanhos brilharem enquanto caiam em seu rosto e pescoço, provocando cócegas suaves enquanto ela jogava a cabeça para o lado num gesto que evidenciava o quanto apreciava a atenção que ele estava dando ao belo par de seios.

Escorregou as mãos pelo torso feminino, agarrando sua cintura antes de erguer seu corpo na direção dela. Rin tombou brevemente para trás pelo movimento, arqueando seu corpo na direção dele. Ela pôde sentir a espiração quente em seu pescoço, o mordiscar suave e tremulo que provocava arrepios em sua pele. Apesar da suavidade com que sua boca tocava seu pescoço e colo, as mãos dele a apertavam com força, segurando sua bunda com intensidade de quem estava tentando se controlar.

Rin suspirou num arfar em expectativa quando a jogou para o lado, invertendo aquela posição. Ele se livrou daquela camisa branca e ela desafivelou o cinto que prendia suas calças. O sorriso perverso invadiu o rosto dele e ela adorou aquela expressão de quem estava prestes a devorá-la.

Valeu a pena esperar. Valeu a pena o flerte, as conversas. Aoba era meio bobo e não conseguia dar uma cantada decente, mas ainda assim, aquele olhar e expressão compensavam esse lado dele que não trabalhava bem com as palavras. Ele não precisava sequer abrir a boca para ela saber que ele iria levá-la a loucura em alguns instantes.

Ficou de pé por um segundo, tirou as calças e ela gostou do que viu. Ele umedeceu os próprios lábios numa expressão faminta e Rin prendeu a respiração. Beijou o interior das coxas femininas, lambeu sua vulva encoberta pelo tecido molhado e Rin se viu derreter um pouco mais, levando uma mão para entre os cabelos negros enquanto ele a beijava por todo o ventre, subindo calmamente entre seus seios para capturar mais um daqueles beijos avassaladores.

Sua mão logo fez o caminho por dentro do tecido de sua calcinha e ela o sentia urgente em dar-lhe aquele tipo de prazer que faz tremer o corpo todo. Gemeu alto enquanto ele sugava seus seios e lhe tocava o clítoris com dedicação. Aquela sensação quente ao passo que o cheiro de Aoba se misturava ao aroma do sexo. Ela já estava tão quente, tão intensa.

Gemeu o nome dele desesperada, e isso só serviu para que ele continuasse cada vez mais rápido. Implorou, não soube porque, mas precisava pedir que ele a levasse ao ponto mais alto de seu corpo, e Aoba claramente estava disposto a fazer isso. Gemeu mais alto, mais presente quando atingiu o orgasmo. De forma poderosa, sua mente nublou em prazer. Fechou os olhos com força, o corpo arqueando em resposta a todos aqueles estímulos, e Aoba apenas a admirou.

Quando abriu os olhos, ele estava ali com sua expressão satisfeita, quase como se a sensação vicária fosse mais do que suficiente para ele. Rin sorriu um pouco tímida, mas incrivelmente satisfeita. Arfava enquanto ele desenhava infinitos nos seus seios, lhe causando uma sensação suave e excitante, principalmente depois do que já tinham feito.

— Gostou do dedilhado?

Rin revirou os olhos diante da pergunta de maneira divertida. O ouviu dar uma risada levemente rouca e novamente os olhares se encontraram.

— Vai me ensinar esse na quarta? – Ela perguntou tão sacana quanto ele.

— Na verdade eu tava pensando mais numa exibição – Disse e não conseguiu sustentar sua expressão diante daquela sobrancelha arqueada.

— Você também toca violoncelo, né? – Ela perguntou de repente e ele concordou com a cabeça — Então quando você vai me mostrar sua habilidade com o arco?

Aoba gargalhou depois de um segundo. Não esperava por aquela, definitivamente. Ele riu para Rin apreciando que ela entendesse o suficiente de música para fazer piadas daquele nível com ele. Tornava as coisas mais interessantes.

— Pode ser agora, o que você acha? – Ela riu — Tem alguma música em mente?

— Vou deixar você me surpreender.

E quando ele piscou para ela daquele jeito, ela sabia que tinha achado seu instrumento musical favorito.

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.

.

Meses haviam se passado e Sakura tinha recebido sua tão sonhada alta. Começou a retornar às atividades pouco à pouco, acabou matriculada no pilates e tinha como companheira de turma, Nohara Rin. Também voltou aos treinos de acrobacia em tecido, e por último o boxe. Se sentia completamente recuperada e sem nenhuma dor. Era como se nada tivesse acontecido e, exceto pela cicatriz no rosto de Kakashi, tudo soava como um evento tão distante e abstrato. Como um pesadelo que jamais existiu de verdade.

Era bizarro como as coisas tinham simplesmente acelerado depois de poucos meses. Ino e Genma estavam namorando firme e ela já não tinha nenhum pudor em levá-lo à mansão, ainda que o seu pai virasse a cara várias vezes para o homem. Ninguém era bom o suficiente para sua princesa.

Hinata estava prestes a se mudar para Tóquio e em breve teriam uma despedida chorosa na casa dela. Kiba estava inconsolável, mas ambos tinham esperança de que o relacionamento sobreviveria a distância até que pudessem ficar juntos em definitivo. Sasuke e Naruto começaram a morar juntos oficialmente. Sasuke começou a viajar com frequência para Tóquio também, aparentemente sua relação com a família tinha melhorado e Naruto estava prestes a se formar, assim como todos aqueles que não optaram por medicina.

Da parte de Kakashi, a grande novidade ficava por Rin e Aoba namorando firme e forte. O homem tinha estourado nas rádios da cidade com um single super sexy e Sakura apostava que ele tinha escrito aquilo para Rin. Genma gravou o clipe da música e todas as garotas da cidade usavam em seus storys, incluindo Ino.

Gai tinha aberto a academia, e Sakura descobriu que ele e Lee tinham um parentesco distante. Como ela tinha deixado isso passar? Yamato não morava mais em Kyoto, e Anko e Iruka tinham se casado.

Muita coisa mudou.

Sakura estava morando com Kakashi e a casa dele tinha se transformado em algo que parecia muito mais dela. Tinha mais cores, mais plantas. Ela estava até pensando em comprar a casa ao lado para fazer uma piscina e dar mais espaço aos cães, apesar de Kakashi insistir que já tinham espaço demais. Talvez ela estivesse ficando um pouco estravagante, assim como Ino.

Também estava noiva.

Sim.

Kakashi tinha aceitado seu pedido, e por algum tempo mantiveram isso em sigilo – leia-se, apenas Ino sabia. Não usaram alianças por um bom tempo, até que um belo dia Kakashi voltou com um lindo par de anéis e Sakura simplesmente gritou para o mundo que estava seriamente comprometida. A data do casamento, no entanto, não era algo que eles realmente se preocupavam. Casariam quando tivessem vontade, e por hora, o noivado era suficiente.

Naquele momento, no entanto, Sakura se olhava no espelho do studio. O quarto de hospedes número dois tinha passado por uma longa reforma e agora haviam câmeras por todos os lugares. Luzes estroboscópicas tinham sido instaladas, juntamente a um sistema automatizado. Ela tinha investido num novo equipamento de áudio também, com um conjunto de dois microfones condensadores e um binaural.

Mesa de som, interface de áudio... O melhor que o dinheiro podia comprar. Sem falar na decoração nova. Uma cama que parecia ter saído de um daqueles filmes de época. Tudo soava tão classudo e sexy ao mesmo tempo.

E agora, naquela quinta a noite, ela se olhava no espelho vestindo uma lingerie oliva, toda rendada com a mais fina das rendas. Seu cabelo curto estava jogado para o lado e sua máscara preta adornava seus olhos verdes atribuindo um tom mais intenso a eles. Sorriu satisfeita enquanto pensava no seu grande retorno. O dono do site havia colocado um banner enorme logo na página principal com a data e hora do seu retorno.

A garota número um daquele site, Senpai, também havia lhe mandado um presente pelo correio. Um belo de um vibrador habbit com zilhões de velocidades e modos de vibração. Uzumaki Karin era absoluta no topo do rank de visualizações, pegando todo o nicho de BDSM. Em segundo lugar vinha Sakura, ou melhor, Healer, na categoria baunilha, e a diferença de visualizações era absurda.

Mesmo assim, Sakura tinha seus fãs.

Terumi Mei, mais conhecida como Mama T. também a havia mandado um lindo conjunto de lingerie na cor azul escura. Ela era a terceira no rank com a categoria milf.

Todas elas já tinham se encontrado num evento patrocinado pelo dono do site. Gravaram um especial de perguntas e respostas na época que Sakura superou Mama T. no rank de visualizações. Quando lembrava desse dia, Sakura tinha crises de riso, porque Karin era simplesmente maravilhosa, e Mei era ainda mais espetacular ao vivo. Aprendeu muito naquele encontro e o site bateu recorde de acessos.

Hoje, no entanto, elas comemoravam o retorno de Sakura, que precisou se afastar por motivos pessoais.

No entanto, para seu grande retorno às atividades, Sakura tinha preparado uma grande surpresa para todos os seus fãs. Ninguém poderia prevê algo daquela magnitude, mas ela tinha conseguido. E agora, se olhando no espelho, ela tinha consciência que estava prestes a atingir um novo nível na sua carreira como camgirl.

Era hora do show e Sakura se sentou inocentemente na cama. Com uma versão bluetooth do streamdeck, ela deu inicio ao buffering que levaria sua imagem a todos os pervertidos de plantão.

Não podia negar estar um pouco nervosa. Depois de tanto tempo parada, Sakura tinha lá seus receios sobre sua performance na frente das câmeras, e mais ainda, seu passatempo tinha ganhado um estúdio completamente novo, cheio de brinquedos novos que mostravam o quão sério ela estava levando aquilo. Healer estava se tornando uma gigante, e Sakura se sentia empolgada com seu retorno.

Viu o número de expectadores começar a subir. Duzentos pervertidos rapidamente se acumularam, mas Sakura sabia que logo haveriam mais de mil, o que era absurdamente alto para um site pornô como aquele. Sorriu para a tela com a luz amarelada colorindo sua pele de uma maneira misteriosa. A luz frontal garantia que seu rosto pudesse ser visto, e a azulada mais baixa fazia o contorno de sua silhueta, quase como se fosse uma pintura.

O chat começava a ferver com todas aquelas indecências típicas. Ela sorriu com a nostalgia, certas coisas nunca mudavam e aquele chat era uma delas. Kyokon-chan logo apareceu doando mil moedas. Sakura sorriu balançando a cabeça negativamente, sequer conseguia acompanhar as mensagens que surgiam na enorme tela pendurada perto de si, mas manteve sua compostura quando deu aquele olhar para a câmera e simplesmente disse:

Hey, seus pervertidos.

O clássico cumprimento e todos estavam selvagens naquele chat. As doações em forma de presentes não paravam de chegar e em algum momento ela viu alguém dizer que queria chupar suas tetas até elas secarem. Para alguns aquilo poderia soar nojento e vulgar, mas para ela era como um lindo seja bem vinda de volta.

— Vocês são muito agitados, mal consigo acompanhar o chat – Suspirou com uma falsa expressão de pesar. — Mas de antemão, já gostaria de agradecer ao Kyokon-chan por estar aqui hoje. Ele foi meu primeiro superfã e eu tenho um carinho super especial pela nossa história. – Ela disse com aquela voz e aquele olhar.

Era assim que tratava cada um deles, como se eles fossem, de alguma forma, seus amantes. Eles gostavam se se sentir daquela maneira, gostavam de achar que eram realmente especiais de alguma forma, e, em algum momento de fato, cada um de seus fãs foi essencial para que ela pudesse se reerguer, mas agora... Sakura sentia apenas um gosto familiar em todas aquelas vulgaridades.

— Eu também senti falta de vocês – Disse escorrendo sua mão pelo corpo seminu, mostrando suas curvas para todos eles — Vocês nem imaginam o quanto – E deixou seus dedos se perderem por entre as pernas depois da frase sôfrega que tinha dito.

Conversou um pouco com alguns superfãs antigos ao passo que alguns novos nicks surgiam. Ganhou mais seguidores, mais doações, elogios, xingamentos, vulgaridades... Era como se o tempo tivesse voltado e Sakura ainda estivesse em sua sala para dançar um pouco e alegar a noite daqueles seus pervertidos.

Andou um pouco pelo quarto mostrando seu corpo delgado naquela calcinha rendada. Ganhou aquele tipo de elogio e agradeceu a todos eles umedecendo os lábios como se estivesse prestes a começar o melhor oral da vida de cada um deles. A música soava ao fundo e era a mesma playlist que usava a anos. Sakura ainda sentia que cada uma daquelas músicas combinava com ela.

Já se contava mais de oitocentos expectadores quando Sakura resolveu que era a hora de começar de fato aquele show. Olhou inocente para a câmera lateral, que tinha zoom em seu rosto, e em seus olhos ela fazia uma promessa.

— Eu lembro que vocês sempre ficavam me falando que seria um sonho me ver sendo fodida como eu merecia. – Ela disse com um sorriso satisfeito — Bem, hoje eu quero dar isso a vocês.

E era a sua deixa.

Ela virou na direção da porta e o viu entrar.

Kakashi não sabia porque nem como, mas em algum momento Sakura lhe propôs que participasse de um show e ele, talvez intoxicado por uma noite de sexo fantástica, apenas respondeu que sim. Depois desse dia, Kakashi se arrependeu amargamente daquela resposta, porque Sakura lhe fez ensaiar seus movimentos e decorar o que cada câmera fazia.

Ele se sentia um pouco duro naquela cueca boxer de renda. Sakura havia surgido com aquilo horas antes do show e disse que ele precisava estar a caráter. Céus... Ele se sentia ridículo. Centenas de pervertidos estavam, naquele exato momento, vendo-o entrar em cena, vestido apenas aquela cueca horrível e usando uma máscara preta parecida com a de sua noiva.

Sua noiva.

Gosta de pensar nisso dessa forma.

E mais ainda, gostava de vê-la feliz e só por isso Kakashi aceitou, de verdade, participar daquela coisa.

O lado bom é que ele não precisaria falar absolutamente nada, e o lado ruim era todo o resto. Exceto, é claro, a parte em que ele transava com Sakura. Porque era para isso que ele estava ali, transar com ela na frente de seus superfãs sedentos por vê-la chupar um pau de verdade. O pau dele.

Ela o havia dito que tudo seria muito simples. Seria um boquete e depois uma cavalgada. Ensaiaram um pouco e Kakashi tinha que confessar que tinha sido a melhor parte daquilo tudo. O ensaio era maravilhoso. Nota 10. Por ele, ensaiariam para sempre. O engraçado sobre o ensaio era que faziam de tudo, menos o boquete e a tal cavalgada.

Mas, honestamente, ele não se importava.

Naquele dia, em sua grande estreia, Sakura o fez sentar na cama e começou a dançar para ele. Mesmo que estivessem juntos a tanto tempo, a sua garota não fazia performances como aquela com frequência. Na verdade, sexo entre eles era algo tão casual e não planejado. Às vezes, é claro, Sakura dava aquele show, mas a maior parte das vezes ele a via completamente vermelha, quase que com vergonha de estar chegando ao ápice do prazer.

Sob o nome de Healer, Sakura hipnotizava a todos que a assistiam, incluindo Hatake Kakashi que se permitia lembrar da época em que era apenas mais um daqueles pervertidos. Ela era linda e exótica. O jeito que ela se movia, como falava, os olhares... Tudo nela gritava uma noite inesquecível, e ele queria viver essa noite de novo e de novo.

Seus olhos se encontraram por um segundo no meio daquele ritmo tortuoso. A batida arrastada de uma música carregada com graves bem marcados corroborava para seu estado de fascínio. Sakura sorriu daquele jeito, derramando luxúria sobre ele como nunca ninguém antes foi capaz de fazer. Aqueles lábios rosados, aqueles olhos que guardavam a melhor das promessas.

Ela girou o corpo num movimento simples e foi até ele, suas pernas nuas brilhando sob a luz morna que coloria sua pele alva de amarelo. Kakashi já se sentia incapaz de pensar em outra coisa, estava completamente imerso em Sakura e seus movimentos. Aquele ar erótico lhe envolvendo, e ela apenas o beijou.

Naquele instante, seu universo expandiu.

Houve um tempo em que Kakashi desejou poder ter apenas um momento com ela, sentir seus lábios macios, sua língua quente, sua pele delicada... Foi ela e aqueles olhares que o transformaram na caça do dia, e logo ele que se sentia tão confiante diante das mulheres. Foi Sakura, sua Sakura.

A mulher pegou as mãos dele e colocou em seu corpo, incentivando-o a senti-la, e ele apenas abriu o fecho daquele sutiã sem nenhuma demora, porque queria ver aqueles mamilos intumescidos implorando para serem chupados, exatamente iguais ao dia que a viu pela primeira vez por trás daquelas câmeras.

Sentiu Sakura arfar enquanto ele se permitia mordiscá-la sem nenhuma pressa. O gosto de sua pele e o modo com que o corpo dela reagia era seu deleite. Sakura não estava fingindo, não seria capaz diante dele. Aquilo não era mais um show, ambos sabiam.

Estar ali diante das câmeras era como um retorno ao primeiro dia de suas vidas. Ela arrastou seus joelhos para cima da cama, ficando sentada com ele no meio de suas pernas. Kakashi continuava imerso naquela atividade sôfrega, tomando seu tempo para fazê-la suspirar ao passo que as mãos femininas se emaranhavam nos fios prateados.

Sakura quase não se aguentava pelo clima, pela tensão. Kakashi estava tão intenso, e ela sentia em cada terminação nervosa que aquela noite era muito mais do que seu retorno como camgirl. Aquela noite era...

Era a noite deles.

O sentiu alcançar sua bunda num carinho suave, quase como se quisesse sentir mais de sua pele. Escapou os lábios de seu seio apenas para beijá-la por toda região do colo. Alcançou o pescoço feminino, e ao invés de simplesmente ir exatamente ao ponto fraco já tão conhecido, Kakashi resolveu redescobrir todas aquelas nuances.

Os suspiros, os gemidos.

Sakura performava aquela sinfonia que ele adorava ouvir. E ela quase arfou seu nome, ele sabia, mas naquele momento revelar sua identidade diante das câmeras era a coisa que menos o preocupava. Kakashi queria apenas mais dela, e de novo, e de novo....

Seus dedos tatearam pela pele dela, explorando sua cintura e coxas de maneira libidinosa, e Sakura se sentia tão urgente. O corpo feminino arquejava em antecipação, sentindo o fascínio com que Kakashi executava cada mínimo movimento em seu corpo. Ela amava a sua devoção, amava sua capacidade de fazê-la querer cada vez mais de cada gesto.

O puxou para si, olhando em seus olhos antes de beijá-lo. Suas línguas quentes se completavam num beijo perfeito. O quadril feminino já se mexia sozinho, tentando alcançar, de alguma forma, o prazer próprio em contato com o homem. Era o paraíso que, dessa vez, estava completamente ao seu alcance.

Ele a girou na cama, deitando-a logo abaixo de si. As mãos femininas fizeram seu caminho pelo peito definido, escorregando pelos músculos salientes até finalmente começarem a livrá-lo da única peça que vestia. Sakura segurou seu pau rijo e iniciou aquele movimento tortuoso de vai e vem enquanto lhe lançava um olhar que outrora soaria enigmático, mas que naquele exato momento, soava como puro desejo.

— Diga, o quanto você quer agora? – Ela perguntou vendo-o vacilar em seu olhar a medida que seus movimentos intensificavam. Ele apertou os olhos com força enquanto a voz dela o alcançava com todas aquelas sensações — O quanto você me deseja? – Insistiu num sussurro em seu ouvido, lambendo a região logo em seguida.

Ele gemeu.

Rouco, desesperado. Kakashi gemia diante daquele timbre baixo, e tudo que ela dissesse com aquela o faria chegar cada vez mais perto de simplesmente gozar. Segurou a mão dela, parando por um momento para estabilizar sua respiração. Ela era como uma ninfa pronta para fazê-lo perder todo o controle. Quando ele voltou a abrir seus olhos, Sakura admitiu que estava completamente entregue.

A tomou num longo beijo logo em seguida, completamente apaixonado pela mulher diante de si. Levou sua mão para dentro da calcinha rendada enquanto a sentia segurar em suas costas. Tão molhada... Salivou em expectativa, sentindo o gosto dela antes mesmo de beijar seus mais íntimos lábios. Ela gemeu quando sentiu a língua áspera se fazer presente em sua vulva inchada. Suas pernas tinham vida própria, e o som da música agora tinha como complemento seus gemidos e o som mudo dos lençóis.

Sua mente nublava e seus pensamentos viravam apenas sensações. Estava intoxicada pelos beijos, o toque firme em suas coxas, a língua quente lhe dando prazer... Sakura gemia cada vez mais alto, alcançando o ápice sem muita demora. O corpo tremeu numa longa onda de prazer. Ela apertou a cabeça dele um pouco mais entre suas pernas, mas Kakashi não se importou.

Sabia exatamente como Sakura ficava durante um orgasmo. A agonia incontrolável que tomava conta de todos os sentidos. Ela arfava e seu corpo arquejava, mas ao invés de recuar brevemente, Kakashi sentia que queria apenas continuar chupando-a daquele jeito ávido, bebendo de seu prazer. Escorregou um dedo dentro dela, e mais outro em seguida, estimulando todos os pontos possíveis daquela posição.

A olhou por um breve momento, e os olhos verdes tão nublados pareceram questionar o que estava fazendo? Sakura não fazia ideia, mas o prazer lhe invadia violento, de novo e de novo, cada vez mais forte, cada vez mais intenso, e era como se seu corpo não pudesse mais aguentar tudo aquilo. Gemia mais alto enquanto contraia os dedos dos pés, segurou firme nos lençóis ao passo que seu corpo começava a espasmar.

Kakashi não parava.

Suas mãos tiveram de segurar firme em seus cabelos e puxá-lo para longe porque precisava de um momento. Apenas um momento. Ele se afastou parecendo completamente embevecido diante da expressão dela, do jeito como o arfar descompassado se fazia presente, com os ruídos finos que as vezes escapava de sua boca enquanto seu corpo finalmente relaxava. Kakashi deitou-se em cima dela, deixando seu peso parcialmente sob a moça. Afastou alguns fios do rosto suado e ela o viu tão erótico com o rosto embebido em seu prazer.

A moça fechou os olhos e o ouviu dizer naquela voz que tanto lhe seduzia: É assim que eu te desejo. É esse o quanto que eu te quero. E seu corpo apenas tremeu em resposta antes que ele a beijasse. O gosto do sexo era compartilhado entre eles, e não apenas isso, tudo era como uma primeira vez. Aquele momento era exatamente o que Kakashi desejava fazer com ela desde a primeira live.

Ele recuou por um momento e seus olhares se encontraram. Sakura o acariciava num estado de torpor. Kakashi era lindo em todas as suas expressões. Sua voz tinha sido a primeira coisa que conhecera dele, e agora ela tinha certeza que era só a ponta do iceberg. O puxou para si num abraço, precisava de um tempo um pouco maior para que seu corpo processasse tudo que tinha acontecido. Ela sorriu sentindo o cheiro dele tão familiar e novo ao mesmo tempo, se permitindo ficar confortável pelo tempo que fosse preciso.

Tempo....

Olhou para cima e havia uma câmera discreta logo sobre si.

É mesmo, aquilo era uma live.

Estavam com máscaras e não podiam se chamarem pelos nomes, aqueles nomes que eles se deram a muito tempo. Sakura combinava com ela, e Kakashi era exatamente como ela queria que ele se chamasse de verdade. Aliás, quantas vezes ela não se perguntou o que ele estaria fazendo? Parecia que tinha sido a tanto tempo, mas naquele momento soou como se tivesse sido ainda ontem.

Kakashi tinha preenchido todas as suas lacunas. Tinha lhe ajudado a enxergar coisas que sequer havia percebido sobre si mesma. Era um homem cheio de defeitos, mas de longe suas qualidades sobrepujavam. Ele tinha esse poder de fazê-la acreditar em si mesma, esse jeito de dizer que ela era completa em si mesma, e a habilidade de amá-la mais que qualquer um.

Quantas vezes ela não quis ser tomada por ele? Quantas vezes ela não quis que ele dissesse as palavras que nenhum deles diziam?

O abraçou um pouco mais firme sentindo as batidas do seu próprio coração ficarem mais presentes, mais intensas. Mordeu o lábio inferior quando percebeu que estava a um segundo de amá-lo ainda mais. E quem diria que bastava um show privado para encontrar o amor de uma vida inteira? Porque era assim que Kakashi a fazia sentir, era assim que ela se sentia toda vez que olhava em seus olhos.

Ele a fez completa. Kakashi a fez inteira.

E era estranho, não era? Que ela estivesse tendo todas aquelas realizações durante uma performance que jamais foi uma performance. Era tudo real, tudo vivo e fervente. Seus sentimentos estavam jogo ali. Com ele, desde o primeiro momento, Sakura estava diante do maior dos perigos, e ela apenas seguiu em frente titubeante, mas se alguma forma, apenas seguiu em frente.

Kakashi recuou brevemente e quando a viu, percebeu as lágrimas nos cantos dos olhos. Franziu o cenho numa súbita preocupação.

— Meu bem, aconteceu alguma coisa? Eu fiz alguma coisa? – Perguntou confuso, urgente, e ela apenas concordou com a cabeça, tateando a cama em busca daquele aparelho cheio de botões.

— Kakashi, eu não quero fazer mais isso. – Ela disse após desligar os microfones, o olhando numa espécie de súplica enquanto ele sustentava uma expressão preocupada e confusa, sem saber do que exatamente ela estava falando — A live, Healer.. Eu não quero mais fazer isso.

Sim.

Porque Healer tinha sido essa parte importante da sua vida e por muito tempo foi aquilo que a manteve sã. Ela era grata ao seu tempo como camgirl e a todos os seus pervertidos de plantão, mas agora diante de Kakashi e toda a vida que tinham pela frente, Sakura percebia que não havia mais espaço para aquilo em sua vida.

— Sakura, você...?

— Se só sua é o suficiente para mim – Disse colocando as mãos no rosto dele e a sinceridade das palavras transbordou entre eles. — É assim que eu me sinto. Eu me sinto sua.

E se olharam por um longo momento com sentimentos indescritíveis flutuando entre eles. E era como se estivesse sempre a um segundo de amá-lo ainda mais, como se de alguma forma conseguisse fazer o universo expandir para que, dentro dele, coubesse ainda mais daquele amor.

Kakashi a beijou.

Ela era sua.

— Então seja só minha – Ele disse em seguida e aquelas palavras tinham um significado tão profundo. Sakura sorriu fazendo as pequenas lágrimas escorrerem pelos cantos dos olhos e ele a beijou novamente, mais delicado, mais gentil. — Posso encerrar essa live para você? – Ele perguntou com aquele sorriso largo de quem havia ganhado o maior dos prêmios, e Sakura apenas riu.

— Pode. Eu vou abrir o microfone. – Disse e explicou, logo em seguida, qual botão apertar para fazer a transmissão cair.

Kakashi se levantou da cama só depois de depositar um longo beijo na testa da moça. Arrumou a máscara no rosto e parou em frente à câmera central. Coçou a barba que não existia antes de aproximar um pouco mais seu rosto. Era estranho falar para uma câmera, mas tanto faz. No fundo apenas algo importava.

— Hey, seus pervertidos. – Ele começou exatamente igual Sakura começava todas as suas lives e a ouviu rir brevemente logo atrás de si — Espero que tenham apreciado o show, porque esse vai ser o último. – Disse fazendo uma pausa para sorrir vitorioso sem carregar nenhuma culpa. Estava plenamente bem com aquela escolha de Sakura. Na verdade, ele estava nas nuvens com tudo aquilo.

A vida era boa.

E a única coisa que importava era que Sakura tinha escolhido ser dele.

— Procurem outra para vocês, porque essa aqui é minha agora. Só minha. – Disse satisfeito — É isto. Até nunca mais! – E plissou os olhos para a câmera antes de apertar o botão indicado para fim da transmissão.

A tela de todos ficou de repente escura, e numa fonte padrão, bem no meio da tela, o anuncio apareceu na cor branca.

Healer: Offline.

.

.

.

 


Notas Finais


Antes de mais nada: VAI TER EPILOGO SIM.

Dito isso AHAHAHA podemos continuar com as MEGAS NOTAS FINAIS DO FINAL DA FANFIC! XD

Gente, eu nem sei o que dizer. Eu to tão atordoada com o final dessa fanfic que só sei sentir.

Toda vez que eu abria o arquivo da fanfic e via o título desse último capítulo eu ficava toda sentimental. AHAHAHAHA AI AI AI.

O primeiro capítulo foi escrito, pasme, em 2019. Na época eu queria apenas uma fanfic para treinar escrita erótica, mas acabei percebendo o enorme potencial que esse começo tinha. Acabei deixando o projeto pausado porque não sabia o que queria fazer, e escrevi uma fanfic de 19 capítulos no meio disso tudo (alô Flores do Deserto, estamos falando de você). Nesse meio tempo eu pensei bastante o que eu queria fazer com essa fanfic e o que vocês viram durante esse ano de 2020 e que chega ao seu final em 2021 foi resultado de um planejamento de um ano.

A fanfic não mudou. AHAHAHA foi a primeira long que escrevi que não mudou nada no enredo principal. Coisas sutis foram modificadas por questões de < personagens falam comigo > AHAHAHAH mas em suma, tudo o que vocês viram já estava planejado.

Eu tenho muito orgulho do que essa fanfic se tornou, e apesar de eu não ter conseguido fazer o suspense que me propus a fazer, sinto que o drama transbordou perfeitamente em cada situação. Eu sou uma autora de drama, é isto. AHAHAHAH

Eu queria agradecer a todos vocês que me acompanharam nessa jornada. Aqui, no Spirit, eu já inaugurei essa fanfic com três capítulos e vocês foram MEGA ACOLHEDORES. Muito obrigada pela companhia, pelos comentários, pelas leituras... Foram mais de 275 palavras, uns 225 favoritamentos (atenção: essa palavra não existe), dezenas de comentários... Gente... vocês são demais. AHAHAHAHA O sentimento que fica é que vocês são incríveis, e essa fanfic só pôde ser tão gostosa de escrever porque vocês estavam comigo.

Você que leu e não comentou, você que comentou só uma vez, você que comenta sempre, que comenta muito, que comenta pouco... Você que está comigo desde o primeiro dia ou que achou essa fanfic por esses dias, você que fez meus dias mais felizes mostrando seu apoio, eu agradeço a cada um de vocês.

Obrigada por tudo gente, eu to abaladissima. AHAHAHA

Eu até gostaria de falar mais sobre o processo de produção, mas sinto que estou me alongando muitissimo e, nossa... São tantos sentimentos e são quase quatro da manhã AHAHAHAHAHAH gente, muito obrigada! <3

E CONTINUEM COMIGO, ainda tem o epilogo HAAHAHAH


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