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História Cam Girl: Online - KakaSaku - Encerramento do site: migração para um novo domínio.


Escrita por: LoreyuKZ

Notas do Autor


Menina do céu! Esse capítulo podia ser uma parte 2 do outro KKKKKKKK
Leiam as notas finais, ok?
Hora do show.

Capítulo 8 - Encerramento do site: migração para um novo domínio.


 

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O clima morno do começo da primavera era revigorante. A manhã calma tinha se arrastado de forma que as poucas horas de sono lhe tinham sido suficientes. Tinha tomado um longo banho de banheira ao som da sua playlist favorita antes de colocar uma roupa leve e deitar em sua cama enorme no meio de um quarto que tinha a área equivalente a uma casa popular no Japão.

Com seu celular nas mãos, ela rolava o feed do seu Instagram sem que nada lhe chamasse muita atenção. A verdade é que sua mente ainda estava confusa sobre como Genma pôde lhe deixar na mão daquele jeito. Tudo bem, ela entendia que coisas como aquela aconteciam, mas não esperava isso de alguém que tinha lhe feito o melhor oral da vida dela.

E ela achava que ninguém superaria Sai nesse quesito.

Riu brevemente lembrando da expressão dele, tão envergonhado em sua triste situação. Isso nunca aconteceu antes! Ele disse com aquela voz quase embargada pela vergonha, e ainda tinha um pouco de seu gozo no canto dos lábios finos masculinos.

Não que ela achasse que a culpa fosse dela, mas era ridículo ter que fingir ser uma moça insegura, ou menos decidida, para que os homens não fossem atingidos em seu ego frágil e rendessem uma noite de prazer. Ela queria sexo com aquele homem que quase lhe fez salivar ao presenciar a simples cena de vê-lo girar um cubo de gelo em sua boca, fazendo aqueles movimentos delgados com a língua.

Fora o jeito que ele falava, como mexia os ombros e ria todo confiante quando falava aquelas besteiras sobre a indústria musical. Todo cafajeste, gritando sexo casual.

Ele era o tipo de cara que Ino sugeriu à Sakura, tempos atrás, para que ela retomasse sua vida sexual depois de Sasori, mas a amiga era tapada e medrosa, acabou achando seu pau amigo no massagista emocionado, Rock Lee, que não conseguiu segurar seis míseros meses sem se apaixonar.

Bem, mas pelo menos ela tinha transado.

De toda forma, sua noite não tinha sido um fracasso completo, porque ainda que tenha rolado toda aquela situação constrangedora, Ino ainda sentia sua vulva ficando úmida quando lembrava do jeito que ele lhe chupou naquele sofá de couro velho. E o jeito que a beijava de maneira tão intensa, como se quisesse fazê-la gozar apenas saboreando sua boca.

Céus....

Fechou os olhos enquanto deixava o celular cair na cama sem muita preocupação. Virou-se manhosa ficando de barriga para cima e deslizou a mão pelo corpo suavemente, sentindo o tecido fino esfregar-se no seu corpo junto com a pressão fraca de sua mão, que rumava inevitavelmente à virilha coberta pela renda fina.

Particularmente, Ino não era dada a masturbação. Quando queria transar era muito fácil encontrar alguém disposto, seja seu pau amigo ou simplesmente alguém que tenha tentado a sorte consigo em algum momento da vida, mas naquele momento enquanto seu corpo lembrava tão vividamente das memórias, a loira se sentia disposta a se dar uma chance e encontrar o prazer por si mesma e nas lembranças quentes da noite anterior.

— Opa! Quer ajuda aí?

Abriu os olhos assustada por um breve momento, mas rapidamente relaxou ao ver Sakura com aquela expressão sacana que facilmente tomava seu rosto em qualquer interação sexual. Revirou os olhos sentindo sua bochecha levemente vermelha, mas não perdeu a pose.

— Como se você soubesse o que fazer. – Provocou se empertigando, sem querer ir muito a fundo no assunto — Pensei que você ia chegar mais tarde. – Disse arrumando seu vestido enquanto se sentava na cama, virada para a mulher que acabava de chegar.

— Falando sério, posso voltar depois – Ela disse ainda na porta, com aquela mala branca de ginástica que carregava por aí.

— Se você quisesse voltar mais tarde não teria me interrompido – Ino disse sem nenhum pudor. Eram amigas a muito tempo e Sakura jamais se magoaria com tão pouco. — Entra logo! – Resmungou em seguida se deixando cair na cama novamente.

Ouviu Sakura rir daquele jeito como quem foi pega no flagra. A verdade é que a amiga tinha lhe feito um favor, porque seria ridículo tocar uma para o homem que boxou consigo na primeira noite em que tiveram. Ela definitivamente não precisava ir por esse caminho, porque apesar dele ter aquele jeito de homem que sabe o que faz, Genma não tinha feito absolutamente nada!

Além daquele oral maravilhoso, é claro.

Mas ainda assim, seria tão não-Ino fazer algo daquela maneira para alguém que não conseguiu lhe proporcionar tudo o que ela queria. Pfff.... Olhou pelo canto Sakura largar a mala em algum lugar do seu quarto enquanto tirava aquele vestido amassado, perguntando sobre sua noite com Genma entre risadinhas.

Reparando bem na amiga, ela tinha uma pequena marca roxa nas costelas, e outra no quadril já sumindo dentro para dentro da calcinha. Ino revirou os olhos com humor, reparando também no pequeno adorno dourado em seu braço.

Ao menos alguém tinha se divertido.

Sakura fez seu caminho para o closet em silêncio, enquanto Ino falava em claro, alto e bom som sobre como tinha sido sua surpreendente noite com o homem que a frustrou com sua incapacidade de ficar duro. Não havia muito mais o que dizer além de que aquele homem que havia prometido uma noite inesquecível havia cumprido sua promessa da pior forma possível!

— Ino, coitado... – Sakura disse quando subiu na cama em um short azul e um blusão branco — Sabe, isso acontece! Lembra da Tenten falando que o Neji não durava tanto tempo no começo? É o tipo de coisa que a gente lida. – E deu os ombros — E passa.

— Ah, vai se foder, Sakura! – A loira comentou revirando os olhos — Sério que você tá comparando o Neji-seis-segundos, chato pra caralho, que só anda com a gente porque a Tenten deixou bem claro que ele que lute, com o Genma-melhor-oral-da-minha-vida?

— Oh – Sakura soltou de maneira presunçosa com aquele sorrisinho nos lábios — Então você vai dar uma nova chance para ele se redimir? – Perguntou empertigando-se na cama, deitando de lado com a cabeça apoiada na mão.

— Ele ainda não falou comigo – Disse parecendo incomodada — Então provavelmente não. – Resolveu em seguida, sem querer pensar muito mais sobre o assunto.

— Então fala com ele. – Deu os ombros.

Era um absurdo que Sakura sugerisse aquilo com tamanha tranquilidade. Ino a encarou perplexa imaginando o que se passava na cabeça da amiga, afinal, não era ela quem tinha frustrado a noite! É claro que entendia a situação dele, mas o que ela deveria falar afinal? Oi, tudo bom? Seu pau já voltou a funcionar?

— Se Kakashi tivesse brochado na primeira vez de vocês, o que você diria?

Não reembolso valores.

Não conseguiu aguentar e a risada veio alta. Ino gargalhou pela maneira da mulher dizer aquilo tão diretamente, com aquela expressão de falsa seriedade. Sim, a primeira vez deles tinha sido naquele site esquisito onde a moça rebolava para todos os pervertidos do Japão e do mundo.

— Não dá pra conversar sério com você – Ino disse controlando o riso enquanto a outra suspirava bem-humorada.

— Sendo sincera, acho que se ele tivesse brochado, então eu só ia rir e tirar alguma brincadeira... Sei lá, tipo... Parece que o trabalhador entrou em greve. – Deu os ombros rindo um pouco.

— Meu deus! – A outra exclamou — Coitado!

— É melhor do que “tudo bem, acontece” – Sakura retrucou olhando para ela de maneira afetada.

— Não! Não é melhor! - Ino declarou com seu jeito autoritário e finalizando com um suspiro quando viu Sakura lhe lançar aquele olhar de quem discorda — Isso está sendo improdutivo. – Resmungou resolvendo que queria mudar de assunto — E os outros, o que você achou dos amigos do seu namorado?

— Ele não é meu namorado – Sakura repetiu seu mantra quase fazendo Ino dormir com a frase.

Deram uma risada fraca antes da mulher de longos cabelos rosas começar seu relado, dizendo que todos haviam lhe causado uma boa primeira impressão e que Genma era o mais divertido de todos, apesar que Gai parecia ser o mais animado. Gostava do jeito que Asuma fazia comentários sempre pontuais, e como Kurenai lançava olhares entediados na direção de um verborrágico Genma toda vez que ele tentava impressionar Ino com uma história mirabolante.

No final, mesmo que Kurenai e Kakashi tivessem tido aquela tensão inicial sobre a saída de Rin, Sakura resolveu apenas aproveitar a noite sem pensar muito. Ela sabia que Kakashi tinha uma história com alguém de muito tempo, e que possivelmente ela estaria presente naquela noite junto com todos os amigos que eles tinham em comum. Ela esperava pelo pior e levou Ino à tiracolo para lhe salvar caso as coisas ficassem confusas.

Não podia negar o alivio que sentiu quando soube que não iria ficar na mesma mesa que a ex de seu não-namorado, afinal Sakura não sabia como Rin reagiria a sua presença. Também Kurenai que parecia mais resistente logo cedeu, rindo e lhe mostrando a linda aliança que carregava no dedo. Foi uma ótima noite. Os amigos dele eram simpáticos e divertidos, não havia com o que se preocupar.

Pelo menos não por enquanto.

— Ele te deu isso quando vocês voltaram para casa? – Ino perguntou apontando para a pulseira da amiga, porque era um acessório que ela com certeza não possuía a 24 horas atrás. — É linda. Adorei as esmeraldas.

— Né? – Falou olhando para a joia no próprio braço – E não, ele me deu quando me deixou aqui – Disse sorrindo lembrando da expressão dele, do jeito que ele estava tão nervoso. — Disse que queria ter me dado antes, mas nós discutimos de manhã. – Suspirou logo em seguida.

— Agora entendi porque você tá aqui e não com ele – A loira disse soltando uma risada — Conta o que aconteceu.

Sakura torceu o nariz enquanto seus olhos se fixavam nas fotos que estavam distribuídas na prateleira alta do quarto. Ela não enxergava realmente o que estava ali, seu pensamento apenas circundava as memórias sem realmente adentrá-las, como se pensar muito sobre isso fosse lhe fazer ficar emocional de algum modo, então ela se manteve num plano que pudesse contar tudo para Ino e não ceder demais aos próprios sentimentos.

Principalmente porque lembrar daquilo a fazia pensar em Sasori, e ela não queria dar essa chance a si mesma de estragar tudo.

— Ele lembrou que eu sou uma camgirl – Disse rindo sem humor — Pensou que eu fosse parar – Completou dando os ombros antes de contar todos os detalhes para a amiga, sem poupá-la de seus pensamentos.

Olhando por um longo momento para a amiga, Ino não sabia dizer o que estava se passando na cabeça dela. Quando ligava a câmera, Sakura adotava o nome de Healer para se exibir na internet, fazendo homens de todos os cantos suspirarem seu nome no ápice do prazer. Sakura era a mulher mais sexy que Ino conhecia, a mais erótica, e quando coloca a máscara, Sakura podia ser qualquer coisa.

Mas aquilo não era apenas um fetiche, não era algo que tinha começado porque ela tinha algum tipo de distúrbio exibicionista. O site, o risco, o sexo... Foi tudo para que ela pudesse sentir que seu corpo era seu de novo, que ninguém além dela tinha o controle sobre si.

— E você não vai parar? – Ino perguntou e soou um pouco oco, sem significado.

— Eu deveria? – E ali estava a questão principal. Sua voz soou reflexiva e tão comum ao mesmo tempo.

Mordeu o lábio deixando o olhar se perder em qualquer lugar. Era fato que hoje fazia o que fazia por mero hobby, não era como se ela precisasse de alguma maneira manter suas atividades eróticas na internet. Ela já se sentia mais dona de si, e todos os problemas que ainda restavam eram muito menores e fáceis de lidar comparados à época em que Healer nasceu.

Sim, porque por muito tempo ser Healer foi sua salvação, sua terapia. Healer era a cura que encontrou para si mesma, e tudo começou de maneira tão idiota... Foi como Healer que ela conseguiu recuperar o controle que havia perdido em algum momento, foi naquele site cheio das piores depravações que Sakura encontrou um lugar para recuperar o que havia perdido.

— Você tá num relacionamento sério, não é? – Ino disse pensativa — Seria natural parar, eu acho.

— Mas ele sabia desde o começo. Eu não imaginava que isso pudesse ser um problema já que... Sabe? Foi como nós nos conhecemos.

— Sakura... – Ino começou com sua voz suave, como quem vai começar um momento de reflexão.

— Eu não quero parar – Ela disse firme, se sentindo encurralada pelo fato de que, sim, ele tinha razão em esperar que ela parasse com aquilo, mas ao mesmo tempo era egoísta, não era? Era a primeira semana e ele já estava lhe pedindo algo tão grande. — Ino, eu não... – Soltou o ar dos pulmões com um ruído frustrado, sem saber o que poderia dizer além daquilo.

A loira ficou em silêncio por um momento porque sabia que isso iria acontecer mais cedo ou mais tarde, ainda que Kakashi tivesse sido bem mais compreensivo que a maior parte dos homens, ele ainda era um cara de quase quarenta anos que namorou por 14 com a mesma pessoa num relacionamento conservador. Era de se esperar que ele, mesmo tendo conhecendo Sakura num site adulto, estivesse se sentindo um pouco... incomodado.

Ainda que essa não fosse a melhor palavra para descrever a situação dele, desde que ele tinha ficado mais preocupado em perdê-la que em fazê-la abandonar Healer.

— Lembra de quando ele foi super babacão com você, perguntando se você sabia que ele tinha namorada e tals? – Ino disse sem olhar para a mulher, fazendo aquela pergunta apenas para contextualizar porque não esperava uma resposta — Lembra do que você falou para ele?

Sakura ficou em silêncio.

— Acho que você devia se colocar no lugar dele – Disse por fim — Digo, você se colocou no da ex dele e se sentiu traída, então... – A loira não precisava terminar e deixou suas palavras vagarem nos cantos do quarto, flutuando no clima quente daquela tarde.

Mas não era como se a situação fosse igual, a dela e a de Rin. Afinal, mais do que sexo, Sakura e Kakashi se envolveram de uma maneira inesperada e seus sentimentos se conectaram de tal forma que agora estava nesse dilema, enquanto que, no cenário prático, Sakura apenas dançaria para os pervertidos de plantão. Não chegaria a ser íntimo e muito menos sentimental. Seria apenas pela própria satisfação.

Virou o rosto para o outro lado, colocando o braço sobre seus olhos com um logo suspiro. Deu uma breve risada imaginando Kakashi como camboy, fazendo todas aquelas performances eróticas enquanto recebia os pedidos mais inusitados em seu chat. Pensou nela assistindo tudo aquilo, o desejando enquanto lia todas aquelas besteiras, enquanto ele a deixava para ter um show privado com qualquer outra pessoa.

Não era a melhor sensação do mundo.

— Sakura – Ino chamou depois de um momento — Eu acho que a questão não é você querer ou não parar, e sim que isso partiu de Kakashi.

 — O que você está querendo dizer? – A outra perguntou levemente confusa.

— Que você tá com medo de ter encontrado outro cara querendo regular a sua vida – Ino disse de uma vez, jogando as palavras para fora sem muito preparo. – Porque você se relacionou com alguém que controlava desde a sua roupa até a hora que você ia dormir.

— Nem se passou pela minha cabeça, Ino – Sakura disse encolhendo os ombros — Eu só acho que ainda é cedo pra eu ter que mudar algo que faz parte da minha rotina a tanto tempo por conta do Kakashi.

— Não tô falando que foi algo consciente – A loira explicou gesticulando — Tô dizendo que a não muito tempo atrás você me disse que Healer era um passatempo divertido, que poderia largar a qualquer momento, mas agora você tá sofrendo por isso como se fosse algo super importante.

Sakura ficou um silêncio absorvendo as palavras tão diretas da amiga. Era fato que o que ela dizia tinha algum tipo de fundamento, afinal ela não tinha o melhor histórico psicológico para relacionamentos, mas ela estava errada quando colocava Healer como algo que não tinha mais sua importância.

Sim, era verdade que já não sentia como se ser camgirl fosse algo essencial na sua vida, mas também isso não significava que ela poderia abdicar disso de uma hora para outra. É como ela tinha deixado claro: Assim que quisesse poderia parar, mas o problema é que ela não queria.

Porque ser camgirl era algo importante. Foi o que lhe salvou de algum modo.

Riu sem humor quando percebeu na tempestade que estava fazendo num pequeno copo de água. No final das contas, Kakashi não havia pedido explicitamente para que ela parasse, apesar de deixar subentendido que era o que tinha esperado dela quando se encontraram daquela primeira vez. Ela não queria supor nada a partir disso, mas inevitavelmente, diante das palavras de Ino, ficou se perguntando se ele chegaria ao ponto de pedi-la para parar.

— Você não acha que ele devia ter pensado se ele queria um relacionamento com uma camgirl antes de me conhecer? – Ela perguntou a Ino aleatoriamente.

— Sim, testuda, eu acho que ele deveria ter pensado nisso – E a resposta de Ino era firme — Mas homens são apenas homens. No final das contas os neurônios deles não funcionam todos de uma vez.

Sakura riu enquanto revirava os olhos. Ino sempre tinha essas respostas sobre como homens eram burros e não sabiam ver uma situação como um todo.

— Kakashi é virginiano, com ascendente em touro – Disse Sakura como se significasse alguma coisa.

— Oh.... Prático e cuidadoso – Ino disse dando os ombros — O closet dele deve ser arrumado por cores.

— É por ocasião. – Sakura disse rindo — Roupas para sair, roupas para ficar em casa, roupas para trabalhar...

— Roupas para seduzir Haruno Sakura – Ino completou com malicia. Ambas se permitiram rir até que Ino finalmente continuasse — Você acha que ele vai te pedir pra parar?

— Eu não sei – Sakura respondeu depois de um momento carregando um semblante reflexivo — Não sei o que vai acontecer. Eu só... – Soltou o ar sentindo como se houvesse um elefante ruivo em seus ombros — Você tem razão... – Disse por fim se encolhendo.

Porque aquela maldita porca sempre sabia cutucar a ferida como ninguém. Sabia exatamente onde estava doendo, porque estava doendo, e principalmente, sabia como fazer a dor aliviar nem que fosse um pouco.

Sentiu os braços da amiga lhe envolverem enquanto aquela risada escapava dos lábios hidratados da loira. Sakura tinha medo de estar sucumbindo a uma armadilha ainda pior que Sasori, porque Kakashi era esse homem afetuoso que transmitia cuidado, e ela tinha medo que ele a pudesse manipular dessa forma, induzindo ela a tomar decisões que ela não queria tomar porque ele era cuidadoso, afetuoso e sensato.

Sasori sempre foi muito mais escrachado.

Lembrou-se quando ele jogou fora todos os seus saltos porque odiava ficar mais baixo que ela. Quando ele lhe proibiu de usar qualquer coisa que não fossem sapatos baixos. Sentia falta, até hoje, daquele salto amarelo de tiras, edição limitada que tinha ganhado num desses eventos que Ino ia, mas na época ela só achou engraçado. Pensou que não valia a pena brigar, porque era um preço barato a se pagar para ficar com Sasori.

Porque Sasori valia a pena.

... tsc.

Sakura não queria jogar Healer fora e depois de um tempo perceber que estava arrependida. Que fez algo impulsivo por amor e depois perceber que apenas estava realizando os desejos de Hatake Kakashi. Fora que ser camgirl, hoje, era mais como um hobby, mas ela gostava do que tinha se tornado. Ela era a segunda maior camgirl do seu site, sendo uma das maiores influencers pornô do país. Tudo isso tinha levado tempo e dedicação para acontecer, então... É, Healer podia não ser mais sua sessão de terapia, mas com certeza era algo que tinha se tornado tão presente em sua vida que a ideia de parar precisava sim ser considerada com cuidado.

— Testuda, para de sofrer por antecipação – Ino disse de repente, passando a mão nos seus longos cabelos rosas — Vocês tiveram um momento tenso, e nada ficou definido. Ele não te pediu nada, Sakura.

— Eu sei, mas... – Suspirou — Ino, eu to sendo a maior hipócrita. Eu falei que ele tava traindo a Rin e to aqui nesse dilema porque eu não quero ser manipulada novamente. Eu não quero abrir mão das coisas que eu gosto, mas ao mesmo tempo eu vou estar traindo ele.

— Tudo bem – A loira disse de uma maneira tranquila, dando uma risadinha no final — Vocês se gostam, já falaram isso um pro outro, então tenho certeza que vão dar um jeito nessa situação, seja você abdicando disso, ou ele cedendo, ou vocês entrando num acordo... – Deu os ombros — Mas honestamente, Sakura, depois do que eu ouvi de Genma ontem à noite, somado às coisas que você me conta, eu acho que se tem alguém nesse relacionamento que corre o risco de ser manipulado, esse alguém é Kakashi – E riu.

— Como assim? – Sakura arqueou a sobrancelha.

— Ah, as duas vezes que você pareceu querer sair da vida dele, o homem ficou louco – Disse com a voz humorada, lembrando de como Sakura lhe contou as coisas que ele dizia.

— O que? – A outra disse balançando a cabeça brevemente, como se estivesse custando a entender. — Ino, eu não tenho nenhuma vocação para a manipulação, e mesmo que tivesse, eu sou uma pessoa que já passou por isso e nunca vou fazer com alguém.

Porque chantagem emocional não era algo que combinava com a pessoa que tinha passado por coisas bem piores. Sakura não precisava ameaçar Kakashi com um término para conseguir qualquer coisa dele. Era um absurdo que isso fosse sugerido!

— Relaxa, testuda. Só tô dizendo que... você não é a única que tem um coração frágil. – Falou inocente — Digo, todo mundo tem um passado, Sakura. – Completou sem especificar muito.

— O que diabos o Genma te disse? – E foi inevitável se sentar na cama diante da revelação, olhando para Ino com curiosidade.

— Hm... – Ino alongou o ruído pensativo, jogando a cabeça para o lado — Será que eu devo contar?

— Fala logo! – A outra disse imperativa, fazendo a loira rir.

— Testuda, você é tão bonitinha quando fica assim – E deu um peteleco na testa dela, fazendo Sakura soltar um ruído fofinho no processo — Não foi nada de mais, Sakura. – Deu os ombros — Ele só me disse que Kakashi teve uma namorada que o deixou para ficar com o melhor amigo dele no dia que ele iria pedi-la em casamento.

Não é nada de mais? – Sakura repetiu incrédula pela situação e pela reação da amiga — Ino, isso é foda! Imagina que merda! – Disse com a voz mais aguda.

— Não to dizendo que não foi tenso, to dizendo que Genma me contou isso apenas pra dizer que estava torcendo por vocês, porque o amigo dele não é o tipo de cara que se mostra tão apaixonado assim logo de cara... – Ino deu uma pausa, olhando o rosto da amiga tão sério — E ele gostaria que você não o magoasse.

Teria sido Rin? Fora ela quem fez isso com Kakashi? Com o Kakashi que fica lhe olhando com aquela expressão de homem apaixonado? Com o homem que fica vermelho quando presenteia? Com o cara que transforma qualquer interação sexual em “fazer amor”? Ela tinha jogado tudo fora?

Sakura não fazia ideia, mas trocar Kakashi por qualquer outro homem parecia, aos seus olhos, um desperdício.

Tudo bem... Ela não tinha noção de como era o relacionamento deles, mas mesmo assim não imaginava que Kakashi fosse tão ruim a ponto de ser trocado dessa forma.

— Estou me sentindo pressionada agora – Ela disse num misto de brincadeira e seriedade. — O que você disse?

— Não se sinta, testuda, porque eu disse para o Genma que você também tinha passado por situações complicadas, e na verdade era eu quem esperava que ele não te magoasse. – E a olhou, vendo o sorriso nos lábios da amiga daquele jeito cumplice.

É verdade. Ino sempre cuidava dela alguma forma. Sempre estava lá para a acolher e fazê-la sentir-se querida. Não importava o que acontecesse, Ino nunca lhe deixaria, e isso tinha sido posto à prova porque nem mesmo Sasori tinha conseguido acabar com aquela amizade, ainda que tivesse quase conseguido.

Sakura sorriu daquele jeito manhosa para a loira antes de deixar escapar uma pequena risada. Fofa. Sempre corando tão fácil.

— Então é melhor que ele tenha dado o recado para Kakashi – Sakura disse depois de um momento — Porque ele está na casa da Rin agora e eles tão tendo “a conversa” – Revelou por fim com um suspiro.

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Kyoto era uma cidade histórica no Japão, a antiga capital do país, a cidade dos samurais. Sua arquitetura refletia toda essa história, tendo prédios baixos muito antigos, fachadas no melhor estilo feudal e um clima até mesmo provinciano ainda que, na verdade, o local fosse a segunda maior metrópole do Japão. Andar por suas ruas era como transitar entre o passado e o presente, tendo prédios enormes em determinadas localidades, evidenciando a expansão sofrida após a guerra.

Particularmente, Kakashi adorava morar ali. Sua casa, mais afastada do centro, tinha sido reformada para o padrão mais moderno, contando com uma arquitetura arrojada que permitia que a luz do sol entrasse no ambiente de maneira limpa, mas todo o resto de bairro era basicamente uma grande viagem ao passado, com seus telhados côncavos e paredes brancas.

Porém, naquela parte da cidade onde Rin morava, só existiam os prédios altos com design imponente. Ela tinha comprado aquele apartamento quando arrumou o emprego na Queijos&Vinhos, deixando o apartamento alugado que tinha na parte periférica do centro. Kakashi lembrava do sorriso dela quando fechou o contrato, da forma que ela girou na sala vazia sem acreditar que aquele espaço agora era seu.

Era o imóvel que ela sempre sonhou. Não tão grande, não tão pequeno, bem localizado com vista para o canal do Lago Biwa e com uma janela panorâmica de dar inveja. Ele lembrava da animação dela quando o chamou para ver o local, pedindo que ele avaliasse junto com ela porque estava com medo de seu encanto nublar seu julgamento. Kakashi até viu algumas coisas das quais não gostou, como o tamanho do banheiro, ou a falta de uma antessala, mas não disse nada.

No final das contas, a felicidade de Rin era tamanha que Kakashi resolveu simplesmente lhe dizer que o apartamento perfeito, preservando aqueles olhos castanhos brilhantes que deram pulinhos de alegria com a declaração. Naquele dia, os dois sentaram no chão do lugar com vinho branco e sanduiches, comeram a luz de velas porque a energia ainda não tinha sido ligada, e se beijaram a luz da lua que entrava plena pela enorme janela.

Kakashi suspirou depois que cumprimentou o simpático porteiro. Já o conhecia de muitos carnavais, afinal era um visitante cativo. Estacionou no espaço para visitantes, desceu com o celular na mão e percebeu que estava tenso. Ele não sabia muito bem o que esperar. Enquanto esperava o elevador, ele começava a notar que sua presença ali seria bem menos frequente, isso fez com que ele desse uma boa olhada naquele corredor quase vazio e uma sensação estranha o invadiu.

Coçou sua barba inexistente quando entrou no pequeno cubículo que era aquele elevador, apertou o botão do sétimo andar e se deixou subir. Não havia música de espera, apenas a iluminação presente e o espelho enorme que refletia sua imagem. Suspirou novamente vendo seus olhos languidos contrastando com sua expressão séria. Seus pensamentos começavam a fluir descontroladamente sem saber direito o que esperar da tal fatídica conversa.

Saiu do elevador com passos largos, sua calça moletom cinza confortável fazia com que parecesse relaxado, mas a verdade é que seus ombros começavam a ficar um pouco mais rígidos. Ele alcançou a porta do apartamento 702 e colocou a mão no trinco como sempre fazia, mas hesitou por um momento pensando que talvez aquela fosse a última vez que entraria sem bater.

Abriu, por fim, a porta branca com números dourados, deixou os chinelos no tapete ao lado das botas chiques de Rin. Pensou brevemente que poderia ter se vestido melhor, porque era uma conversa importante e talvez estar naquele traje passasse a impressão errada. Suspirou novamente, não havia mais volta a partir daquele ponto. Olhou para a sala ampla com um sofá branco e tapete cor carne. Na mesa de centro, seu olhar se demorou nos dois adolescentes que faziam um V para a câmera.

Aquela foto tinha sido tirada no terceiro ano de namoro? Ele não sabia. Parecia tão jovem! Talvez tivesse sido no segundo ano de namoro. Rin adorava aquela foto, falava que foram os melhores anos. Kakashi discordava sempre, dizendo que os melhores anos foram o início de faculdade, quando eles sentiam que podiam fazer qualquer coisa.

Olhou por mais um momento antes de simplesmente seguir seu caminho, se anunciando com um “Tadaima” receoso, sem muita certeza se deveria só procurar por ela nos cômodos ou esperar na sala.

— Cozinha!!

A ouviu gritar além do pequeno corredor e parecia como sempre, estranhamente comum. Ele deu passos quase cautelosos na direção da mulher, e quando a alcançou sorriu de canto sem perceber. Rin estava com seu avental de babados com uma tigela arredondada nas mãos batendo um creme com um fue. A franja pequena estava amarrada com um daqueles elásticos finos, que fazia os cabelos ficarem espetados para cima enquanto o resto jazia pacifico adornando seu rosto.

— O que você está cozinhando? – Ele perguntou ocupando um lugar atrás do balcão.

— Crème brûlée – Respondeu levantando o olhar para ele — Na receita dizia para usar batedeira, mas você sabe que eu acho que não mistura bem. – E fez aquele bico de desgosto.

Kakashi riu.

— O que foi? – A mulher perguntou diante da reação do homem. Não é como se ele não soubesse que ela preferia misturar no fue.

— Seu cabelo – Ele respondeu apontando brevemente — Tá igualzinho quando você tinha aquela entrevista pra fazer, lembra? Com o chefe distrital.

— Céus! Você ainda lembra disso? – Ela perguntou com humor, parando de mexer o creme por um segundo — Eu tava desesperada! Ia ser minha primeira grande entrevista – Comentou com um sorriso nostálgico.

— Eu lembro. Você ficou a semana toda estudando. – Relembrou apoiando a cabeça na mão com um longo suspiro — Fiquei me perguntando o que diabos você ainda tinha para perguntar a ele, porque basicamente você fez uma biografia do cara.

— Ora! Eu tinha que estar preparada! – Disse com orgulho, gesticulando com o fue na mão — E você ficou me chateando o tempo todo, me chamando de... – Estalou a língua — Qual foi aquele apelido... Besourinha?

Formiguinha de uma antena só – Ele disse dando uma risada da qual Rin partilhou também.

— Eu lembro que só tinha vontade de socar você toda vez que me chamava assim. – E encolheu os ombros como se pedisse desculpas — Eu estava tão estressada.

— Tudo bem. Soco de formiga não deve doer.

Fazendo uma cara de tédio, discretamente Rin pegou um punhado de farinha e jogou na direção do homem. Ele riu sendo pego de surpresa, levantando na mesa de maneira ameaçadora. A mulher se encolheu, rindo de nervosa, pedindo para que ele se sentasse, mas Kakashi manteve a posição por um longo momento, a encarando de maneira divertida.

— Cuidado, Nohara Rin – Ele disse com sua voz grave — Eu consigo pegar a farinha mais rápido do que você consegue fugir. – Completou antes de se sentar lentamente, encarando-a com seus olhos afiados e divertidos. Ela ria nervosa, cautelosa com a desistência.

— Minha mão perdeu o controle, ela tem vida própria, você sabe.

— Sei... – Disse em falso tom de ameaça, e depois apenas riu passando a mão entre os cabelos, vendo Rin voltar a bater seu creme enquanto balançava levemente a cabeça, ainda com um sorriso nos lábios.

Eles ficaram um momento em silêncio. O barulho do creme sendo mexido pairava no ar enquanto os sorrisos nos lábios se perdiam, indo embora junto com o humor brando que havia se estabelecido em algum momento antes. Kakashi olhou para o tampo do balcão com a cabeça baixa, vendo o padrão aleatório da pedra de mármore.

Porque essas memórias ficavam vindo logo nesse momento? Porque eles estavam agindo tão naturalmente? Kakashi franziu o cenho enquanto o maxilar tencionava.

O que estava fazendo?

— Você lembra daquela festa que nós fomos a uns... Sei lá... Sete ou oito meses atrás?

Kakashi levantou a cabeça abruptamente, mas Rin estava de costas. Ainda batia seu creme parecendo estar olhando algo além da janela. Sua voz era suave, quase melosa. Ele continuava com seu cenho franzido, sem entender o porquê daquilo, mas sentia que devia apenas continuar.

— O aniversário daquela menina que o Genma tava ficando? – Ele perguntou sem saber direito.

— Sim – Rin confirmou — Aquela mulher perto do banheiro ficava te secando – E riu brevemente com um humor — Acho que você notou, mas não deu muita atenção. – Disse dando os ombros.

— Eu lembro dela, mas só de relance. Cabelos pretos, rabo grande... – Kakashi disse com uma risada fraca. Ficaram em silêncio por mais um momento — O que tem aquela festa?

— Sabe, sempre que nós saímos juntos alguma mulher fica de olho em você – Ela começou como se estivesse refletindo sobre algo — É como se eu não existisse para elas. Elas querem tentar a sorte com você, e bem, eu não as julgo – Riu brevemente, deixando o som se perder antes de continuar — Mas você nunca lhes dava atenção. Sequer olhava para elas. – A mulher deu uma breve pausa, como se estivesse deixando as palavras se fixarem na mente do outro — Eu me sentia tão segura, sabe? Como se nenhuma outra mulher no mundo fosse capaz de despertar sua atenção além de mim.

— Rin... – Ele disse numa voz fraca, quase sem som. Eles ficaram em silêncio por mais um longo momento.

— Você também não deu bola para aquela mulher – Ela disse com a voz num tom mais alto — E não foi só ela que estava ali tentando contato visual. Tiveram outras também. Mas você só ficava lá de papo com o Yamato.

— Eu lembro daquele dia. – Disse num tom breve — Nós voltamos para casa e você estava irritada com algo. Confesso que não me esforcei muito para saber o que tinha acontecido, mas agora... Rin, o que aconteceu?

Oh, sim. Kakashi lembrava bem daquele dia, mais especificamente da noite. Saira da festa meio bêbado, estava tão excitado que poderia ter transado no carro não fosse Rin e seu mau-humor repentino. Eles foram para casa dele, porque era final de semana e ela dormiria lá, mas ela começara a chorar e fora embora com raiva.

Ele poderia ter ido atrás dela, mas não foi. Ao invés disso, Kakashi simplesmente se jogara na cama um tanto aliviado de não ter que lidar com ela e seu drama, mas triste pela foda que não aconteceria, por isso pegara seu notebook largado na mesa de cabeceira à procura de pornografia.

E acabou achando muito mais que isso.

Mas ali diante daquelas palavras, com Rin trazendo aquelas memórias especificas à tona, Kakashi não conseguia deixar de pensar o que teria acontecido se tivesse ido atrás dela, se tivesse compreendido o que tinha feito de errado...

E mesmo assim, mesmo com todas as possibilidades, ele não conseguia se arrepender, e se sentia péssimo por isso, porque no final das contas tudo o que ela queria era um pouco de...

— Ah... – Ela soltou o ar dos pulmões com uma risada num misto de nervosismo e constrangimento — É que, naquele dia, você passou a noite toda com o Yamato. Às vezes com o Genma. E entrou naquela competição ridícula com o Gai sobre quem bebia mais, só para desistir no terceiro shot. – Ela riu largando finalmente aquela tigela na pia, cruzando os braços sobre o peito como se tivesse chegando a um ponto que precisava se proteger — Você não deu atenção a nenhuma mulher naquela noite. Nenhumazinha.

Houve uma pausa. A mulher virou brevemente seu rosto, olhando por cima do ombro para o homem ainda sentado antes de continuar.

— Nem mesmo a mim.

...

— Rin – Ele disse novamente, mais sério, mais grave — Nós dois sabemos o que nosso relacionamento se tornou.

— Sim, nós dois sabemos – Ela disse se resignando por um momento, ainda de costas para o homem — Tudo desmoronou quando eu fui pra Tóquio. – E deu uma longa pausa — Eu sei que isso mexeu com a gente, mas quando foi que paramos de tentar? – Perguntou virando para ele com seus olhos mareados.

Porque aquilo tinha sido um erro tão grave? Um erro a definiria? Um erro acabaria com tudo o que construíram durante tantos anos? Ainda que não tivessem chegado a um local comum em que pudessem estar satisfeitos dentro daquele relacionamento, ainda assim eles tinham algo precioso na mão.

Eles tinham amor.

Não é?

— A muito tempo, Rin, que eu não posso mais te dar o que você precisa – Ele disse com um dar de ombros minúsculo no final, sua expressão carregava um sorriso leve e amargo — E você sabe disso. Você soube tanto que sequer esperou eu me sentar, você só jogou tudo em cima de mim naquele dia e foi embora – Ele disse percebendo que ainda havia mágoa ali, ainda havia ressentimento.

— Kakashi, eu estava confusa – Ela disse colocando as mãos em cima do balcão, aproximando-se dele para perceber o olhar triste e conformado. Kakashi não acreditava naquilo — Eu não sabia o que queria. Mesmo em Tóquio, eu nunca parei de pensar em nós dois.

— O nome disso é culpa, Rin – Deixou escapar sem perceber, se assustando no processo com a reação dela.

— Não! – Disse num tom ofendido, recuando brevemente pelo choque das palavras dele. Era isso que ele achava dessa relação? — Por um tempo, sim – Disse confusa, apressada — Mas depois não! Depois... Kakashi, no dia que eu te vi pela primeira vez eu saiba que era amor. Eu sabia que você era...

— Pare Rin. – Ele pediu passando a mão nos cabelos, buscando a racionalidade que existia dentro dele, tentando não ceder aquela pontada de raiva que surgia dentro de si.

Como Rin podia estar ali daquela maneira, falando coisas como aquela quando tinha sido ela quem havia jogado tudo para o alto? Não era como se a paixão à primeira vista dela fosse um motivo para fazê-lo ficar. Sequer foi motivo para ela ficar. Kakashi deixou uma risada sem humor escapar de seus lábios, percebendo o quão improdutiva seria aquela conversa.

Era por isso que ela o queria ali? Para falar coisas que ele já sabia? Para lhe dizer que o amava apesar de tê-lo largado para ficar com seu melhor amigo? E mesmo que tirassem isso da equação, o que sobrava naquele momento além dos jantares onde ela criticava tudo? O que sobrava além dos silêncios longos, das reclamações e...

... e o quê?

— Porque você voltou comigo afinal de contas? – Ela perguntou por fim com a voz embargada, assumindo um tom acusatório diante do pedido dele — Porque você continuou comigo durante todo esse tempo?

Sim, ela lembrava de tudo. Aquela conversa estranha que tiveram onde apenas ela falou. Lembrava de Kakashi tentado olhando para ela como se estivesse olhando para uma televisão que exibia seu programa mais entediante. Lembrava de como ele sequer reagia às coisas que ela falava enquanto seu choro compulsório tomava conta de si.

Ela tinha estragado tudo, sim, mas porque ele lhe deu a esperança de que poderiam consertar? Porque ele não lhe disse de uma vez que a veria sempre como um espelho quebrado.

— Eu não sei – Ele disse depois de um momento com uma voz baixa — Eu achei que.... Não sei.... Você estava ali, falando aquelas coisas.... Parecia certo. – Disse por fim, porque aquela pergunta dela era algo que ele já tinha se perguntado várias vezes.

E nunca encontrou uma resposta.

— Mentira! – Rin gritou com as lágrimas caindo de seus olhos castanhos, pingando no tampo do balcão — Confessa, Kakashi! Confessa que você só quis me torturar esse tempo todo! – Gritou imperativa, sentindo seus sentimentos tomarem conta de si.

Como assim ele não sabia? Como assim parecia certo? Que tipo de pessoa não consegue reagir quando a mulher que o deixou para ficar com seu melhor amigo volta pedindo que a perdoasse? Que tipo de pessoa toma uma decisão como aquela com a simples ideia de que parecia certo?

— Droga, Rin!! – Ele exclamou tão alto quanto ela, batendo no balcão com força, sentindo seus músculos ficarem tensos enquanto sua mente tentava se agarrar aos resquícios de sua visão racional. — Eu só queria que você parasse de chorar na minha frente toda vez que a gente se encontrava! – Disse com raiva, com rancor, se levantando no processo para curvar-se na direção da mulher – Sim! Eu voltei com você porque não sabia como fazer você parar de chorar!! – Reafirmou com aquela expressão de raiva, de confusão. — Droga! – Deixou escapar quando a explosão dava lugar apenas aquele sentimento de irritação.

Se sentia tremer de alguma forma, como se tudo estivesse tão presente ali. Ele nunca tinha voltado tanto naquelas memórias, ao invés disso, tinha preferido seguir em frente e aceitar o peso de suas decisões. Tinha decidido ficar com Rin, porque ela não era uma pessoa ruim, porque não estava fazendo nenhum sacrifício.

Fora com ela que imaginou toda uma vida, então porque rejeitá-la?

A verdade é que ele não tinha raiva dela. Não conseguia sentir isso por aquela mulher que levava cartazes tão vergonhosos para seus jogos na escola, que o esperava estrategicamente na saída da escola para que pudessem ir até a estação sozinhos, que derrubava algo toda vez que o encontrava porque ficava nervosa demais.

Ele não tinha condições de sentir raiva de Rin.

Percebeu que mantinha os punhos fechados com força, os abriu sentindo a mão doer. Suspirou de forma pesada enquanto o ar lhe saia quase como se quisesse expulsar algo de si. Ficou de costas para ela num momento um tanto confuso e desolado.

— Eu só não queria te ver chorar – Falou numa voz cansada encarando o chão brevemente.

Sim....

Era isso.

Nunca sentiu raiva dela pelo que tinha acontecido entre eles, a verdade é que ele sentia raiva quando a via lamentar, e isso era tão danoso de diversas formas. Teria sido tão mais fácil se ela apenas assumisse a escolha dela e seguisse em frente, mas não.... Ela voltou e seis meses depois estava chorando na sua frente, dizendo que o amava, pedindo que a aceitasse de volta.

Não tinha conseguido dizer absolutamente nada, porque qualquer coisa que saísse de sua boca ia magoá-la, e ele não queria isso. Nunca foi sua intensão feri-la. No final das contas, Kakashi tinha cultivado um carinho por ela que jamais se acabaria, e por muito tempo esse sentimento tinha sido suficiente para que ele quisesse fazer parte daquele relacionamento, até ela ir embora, e aí esse carinho se tornou algo um pouco mais distante.

Afinal, ele tinha que se proteger, não é?

Quando ela o deixou foi como se algo tivesse quebrado. As coisas que ela havia dito... Kakashi não queria ser a prisão dela. Queria que ela fosse livre. Até pensou em pedir que ficasse, dizer que tudo seria diferente, mas estaria mentindo. O que ele tinha para oferecer era exatamente tudo que ela não queria mais, e tudo bem. E sim, ele ficou triste por si mesmo e se forçou a seguir em frente. Tudo bem. Foi uma situação a qual ele não previra, mas e daí? A vida é cheia de imprevistos.

Quando finalmente ficou sozinho, Kakashi chorou como um bebê. Se perguntou como tinha sido tão cego em não perceber toda a situação pelo qual a pessoa que estava a todo momento do seu lado passava, e mais ainda, porque ela só não confiou nele para dizer todas aquelas coisas antes de se tornar aquele bolo destrutivo que deu um fim a...

....

— Você é ridículo – Ela disse num tom acusatório, zangado. Kakashi se virou para encará-la e seus olhos úmidos das lágrimas queimavam em fúria. — Voltou comigo por pena? Estava esse tempo todo...?

Oh, sim. Porque tudo que ele falava soava dessa forma, como se ela não merecesse nada além de sua pena. Tinham sido anos assim? Ele estava com ela porque não tinha nada melhor pra fazer? Era isso que ele pensava dela? Que se não estivessem juntos ela choraria até não ter mais lágrimas?

— Não! Rin?! Você acha mesmo que eu faria algo assim? – Ele perguntou perplexo. Era tão difícil entender? Como ela podia virar o jogo daquela forma? Se fazendo de vítima? — Quem merecia um pouco de pena era eu! Eu quem fui deixado com a porra de uma aliança no bolso, Rin! Você só foi pra Tóquio curtir com Obito, enquanto eu fiquei na velha Kyoto com a aliança que você rejeitou!

Merda.

Tinha falado demais.

A mulher recuou diante das palavras de Kakashi. Os olhos em fúria dando lugar a hesitação que lhe acometia. Atônita, ela sentiu que precisava sentar. Curvou o copo mantendo-o firme ao buscar apoio no tampo do balcão.

Aliança?

— Você...?

Sua voz saia num fio, tão perdida, tão incrédula. Não havia palavras para descrever o que sentia. Abriu a boca deixando o ar lhe escapar de uma vez, a dor no peito subindo junto com as lágrimas que mais uma vez eram tão densas e pesadas.

Tinha estragado tudo...

... tudo.

— Kakashi... Eu... – Ela disse em seu choro compulsório, sentindo sua voz se perder dentro do peito. Seu abdômen contraia pela respiração acelerada que lhe acometia. Estava ofegante, hiperventilando enquanto toda a dor de suas péssimas escolhas lhe atingia daquela forma brutal.

Era como descobrir que havia ganhado na loteria depois de anos e nada pudesse ser feito sobre isso. O que aconteceria se tivesse esperado apenas mais um dia? Teria aceitado? Aquele pedido teria mudado alguma coisa?

A quem queria enganar.

Aquele pedido teria mudado tudo.

O sentiu passar a mão pelo seu corpo, puxando-a para si enquanto a segurava firme contra seu peito já tão conhecido. Kakashi tinha aquele cheiro de limpeza junto com o perfume suave que usava. Tudo nele era assim, tranquilo como uma brisa quente de primavera. Era o clima dele.

O que eu fiz? O que eu fiz...? – Perguntava de maneira débil enquanto se agarrava a figura do homem que rejeitou a muito tempo atrás, e que jamais conseguiu recuperar.

Ele ainda era o mesmo. Kakashi não havia mudado muito. Ainda era o mesmo garoto com quem dividiu o guarda-chuva para voltar pra casa naquele dia de inverno. Ele ainda era o mesmo homem que lhe fazia rir com suas histórias sobre Jaspion. Ele ainda era...

....

Shhh – Ele dizia segurando-a firme em seus braços, sentindo os soluços cada vez mais forte do choro intenso da mulher. — Rin, já passou – Disse em seu ouvido num tom baixo e sofrido, porque odiava vê-la daquela maneira, porque a última coisa que queria era magoá-la, porque todos esses anos foram apenas isso.

Nunca falou com ela sobre todas aquelas coisas porque sentia que a qualquer momento poderia falar mais que o necessário. Tinha coisas das quais Rin não precisava saber. Ela não precisava saber que ele planejava casar com ela ainda naquele ano. Que ele havia demolido a casa velha de seu falecido pai para construir aquela casa cheia de luz natural que ela tanto sonhava em ter.

Ele sabia que em qualquer conversa que tivessem, em qualquer momento que perdesse o controle, aquilo ia sair. Porque Rin nunca pegava leve, porque discutir com ela era discutir com uma jornalista cheia de argumentos. Porque Rin era perfeita à sua maneira e seus erros não a definiam. Sim, ela foi embora, mas não era quem ela era. Foi por isso que ele voltara com ela.

Mas as coisas não podiam mais serem as mesmas.

— Kakashi, me desculpa – Ela dizia naquela voz tão desolada, tão desesperada — Eu... Kakashi... – E chorava cada vez mais caindo no seu desespero cruel e fatídico.

Como podia lidar com aquilo? Saber que tinha recusado a vida que tanto sonhou porque teve medo de seguir em frente? Como poderia olhar Kakashi novamente sem que todas as lembranças da vida que nunca tiveram lhe invadissem?

Ela era tão tola...

Tão perdida, Nohara Rin deixou tudo para trás. Seus amigos, seu futuro... tudo!

E o que havia ganhado em troca? O que a vida lhe deu além do arrependimento e do gosto amargo de estar com um homem que soava indiferente às suas vontades? O quanto ela não feriu Kakashi e o quanto ele se feriu para lhe dar tudo que tinha, ainda que fosse mínimo?

O quão egoísta foi?

— Não tem nada para desculpar, Rin – Ele disse naquela voz grave que ecoava por todo seu corpo, como se quisesse que ela entendesse desesperadamente — Já passou. – Ele repetiu — Querida, não se culpe desse jeito porque não é só você que tem culpa – Disse segurando o rosto dela entre as mãos e Rin viu as lagrimas miúdas — Eu também errei. Nós erramos, tudo bem.

— Kakashi... – Ela se agarrava ao homem com força, mal suportando o peso das palavras dele — Volta pra mim – Pediu por fim com a cabeça em branco — Vamos fazer tudo diferente dessa vez, vamos... Vamos só...

— Não, Rin – Kakashi falou num tom solene, com um sorriso fraco nos lábios enquanto passava os polegares na bochecha feminina — Nós dois sabemos que não tem mais volta – Disse sentindo uma absurda tranquilidade lhe invadir, como se aquelas palavras fossem libertadoras — Eu não devia ter voltado com você naquela época, porque nosso relacionamento acabou ali.

E as palavras dele a atingiam como facas. A dor que invadia seu peito era aguda e fazia sangrar cada erro de seu passado, cada momento que poderia ter feito as coisas seguirem um rumo melhor. Rin chorava mais e mais se jogando nos braços dele porque no fundo ela já sabia de tudo aquilo, mas ela precisava escutar dele.

Kakashi nunca tinha sido sua prisão, ela que o fez assim.

Triste, dolorosa e ingrata. Essa era a sua libertação.

O homem a abraçava forte se permitindo chorar também. Foram anos de um relacionamento fracassado, anos tentando fazer as coisas funcionarem magicamente. No começo, ele até procurou encontrar novamente o que tinham, mas depois foi apenas a indiferença que se instaurou, permitindo que as coisas chegassem nesse ponto insustentável.

A aconchegou um pouco mais enquanto o choro débil se tornava mais brando. As mãos já fracas se tornavam frouxas. Essa era sua separação. Eles precisavam seguir em caminhos separados, e ele não era ninguém para julgar as escolhas do passado dela, por ela ainda era aquela Rin gentil e divertida por quem ele se propôs a amar.

Kakashi a colocou nos braços, carregando-a por dentro da casa já tão conhecida, levando-a até o quarto iluminado. Os lençóis bem esticados na cama se enrugavam quando o peso de Rin se fez presente, e antes que ele pudesse ir embora, a mão dela lhe impediu, com seus olhos estremecidos e sua expressão melancólica.

Era um pedido mudo de socorro.

E ele não lhe negaria nada àquela altura, por isso deitou-se com ela levemente, abraçando-a. O cheiro do xampu de rosas lhe subia enquanto esperava pacientemente, se sentindo um pouco vazio, um pouco triste. Era normal, não é? Depois de tanto tempo não era esquisito que estivesse se sentindo daquela forma pelo final que tiveram.

... Kakashi... – Ela chamou numa voz vacilante, com sua mão segurando sua camisa lisa. A olhou calmamente, esperando que ela continuasse — ... me beije. — Pediu num sussurro — Por favor... – Disse sentindo que podia chorar novamente a qualquer momento — Uma última vez, por favor...

Patética.

Porque ela sempre se humilhava daquela maneira? Porque ela não podia ser digna uma vez na sua vida e mandá-lo embora de uma vez por todas? Porque diabos ela acreditava que um beijo poderia mudar alguma coisa para ele? Não era um conto de fadas! Ele não a beijaria e tudo voltaria, não é? Ela não poderia apelar para aquilo achando que funcionaria!

— Rin... – Kakashi falou e sua voz flutuava em seu quarto, pairando incerta, hesitante.

Eles se olharam por um longo momento, revivendo histórias, medindo sentimentos, buscando motivos um no outro. Kakashi desfez a linha de seus lábios e ela sabia que ele havia se decidido. Ela fechou os olhos brevemente enquanto o sentia aproximar.

Sim, ela precisava daquilo.

Entreabriu os lábios com medo, com esperança. Esperou que ele viesse até ela e a tomasse como fazia, daquele jeito tão delicado. Ela segurou com mais força em seu braço, sentindo sua respiração descompassar. Ele já estava tão perto?

E então sentiu seus lábios macios lhe tocarem, se demorando em sua testa, reafirmando seus sentimentos.

Um beijo na testa.

Essa seria sua despedida, e tinha sido melhor do que ela podia imaginar.

Chorou um pouco mais, se permitindo ficar ali com ele em silêncio, até seu corpo vacilar com a exaustão. Reviver tantas coisas, descobrir que haviam tantas coisas que ela não sabia.... Estava exaurida.

Kakashi não se importaria se ela simplesmente cedesse ao sono em seu abraço.

E assim, Rin dormiu uma última vez nos braços do homem que mais amou.

.

.

.

— Gente, fala sério... Aquele rímel da MAC é tudo! Mas eu honestamente prefiro Drama Eyes, da Lancôme, porque deixa meus cílios tãaaao incríveis! – Disse olhando para a tela de seu celular — Eu sei, eu sei... MAC é MAC, mas o Drama Eyes é muito mais “olhar fatal” – Completou olhando para o lado quando Sakura riu exageradamente. — Ela prefere o da MAC.

— É tudo questão de como seus cílios regem à fórmula – Sakura falou num tom mais alto, querendo ser ouvida sem ser vista.

— É verdade, gente. Tem que provar o produto pra saber, e por isso encerramos meu White People Problem do dia! E só pra atualizar quem chegou agora, uma seguidora me perguntou qual rímel eu estava usando no jantar de ontem a noite. – Explicou fazendo uma pausa dramática — É o Drama Eyes. – Disse por fim enviando todos os storys de uma só vez.

Sakura estava prestando atenção no filme chato que passava na TV. Um daqueles que só eram exibidos em festivais porque eram chatos e dramáticos de um jeito muito tedioso. Cinema alternativo não era uma das coisas que Ino apreciava, apesar de achar o gosto de Sakura algo tão peculiar e diferente. Sakura, na verdade, tinha atividades tão exóticas.

Ela fazia aula de dança, acrobacia em tecido e boxe. Não que fossem coisas anormais, mas quem olhava para uma riquinha como ela não imaginaria que ela tivesse interesse em coisas como cinema indie, ou gastasse seu tempo pendurada num tecido, ou lutando com o risco de ficar com um olho inchado, ou mesmo sendo camgirl.

Sua amiga gritava o nome “exótica”. Já não bastava seus cabelos rosas naturais e olhos verdes brilhantes, Sakura tinha interesses múltiplos. Era como se fosse algum tipo de ser humano perfeito, apesar de ter feito um curso de inglês que não serviu para nada. Sakura era péssima com inglês, apesar de ser excelente com francês.

Olhou para o celular em busca de entretenimento barato. Ino não fazia muita coisa além da faculdade, atuando mais como uma socialite. Ia em eventos, fazia caridade, participava de leilões, dava festas... Era a coisa dela. Sakura nem sempre podia lhe acompanhar, mas sempre que podia estava junto.

E tinha o instagram.

Riu de um meme, cutucou Sakura para que ela visse. Riram juntas lembrando do Neji-seis-segundos bêbado numa festa falando que durava sessenta e quatro segundos. O Hyuuga era um esnobe e merecia toda zoação que recaia sobre sua pessoa.

Foi com esse pensamento que a notificação de mensagem se fez presente. Arqueou sua sobrancelha perfeita com um sorriso desdenhoso nos lábios quando viu o nome de Genma em destaque. Olhou discretamente para Sakura, que parecia totalmente imersa na porcaria do filme, e devido a todas as emoções que o dia dela estava tendo, Ino resolveu deixá-la se concentrar ali e focou no seu próprio drama.

Genma (brocha): Yamanaka! Tá acordada?

Sério?

Essa era a primeira mensagem que ele mandava para ela depois de tudo que aconteceu na noite anterior? E como assim “tá acordada”? Eram três e meia da tarde! Que tipo de pessoa está dormindo às três e meia? Além disso, ela havia acabado de postar uns mil storys, e ele era um de seus seguidores, então é lógico que ele sabia a resposta para essa pergunta.

Suspirou.

Yamanaka Ino: Genma, você sabe a resposta para essa pergunta.

Yamanaka Ino: Como você está?

Céus, ela não iria pegar leve só porque Sakura estava com pena dele. Era ridículo ter que agir delicadamente só para não ferir o ego de um homem. Se ele queria uma segunda chance com ela, então ele teria que aprender a lidar com sua personalidade, porque não é como se um oral fantástico fosse um ingresso para que ela fosse para a cama com ele novamente.

Ainda que estivesse balançada.

Genma (brocha): De fato, pergunta idiota.

Genma (brocha): Foi mal.

Foi péssimo.

Genma (brocha): Mas respondendo à sua pergunta

Genma (brocha): Tô me sentindo uma fraude como homem.

Ela riu imaginando o sorriso sacana com que ele falava isso. Porque aquele cara nervoso que a levou para a cama não era o verdadeiro Genma. Ino sabia exatamente quem ele era e o que esperar dele. Piadinhas autodepreciativas só para fazê-la rir e aliviar a tensão... Ali por mensagens de texo, ele conseguia ser mais como ele, e era com esse Genma que ela queria ir pra cama.

Genma (brocha): Meu filme tá muito queimado para você aceitar sair comigo novamente?

Direto ao ponto.

Ino gostava disso.

Não perder seu tempo era uma das regras fundamentais para sua vida, e ver alguém ser tão direto depois de uma noite meio boa, meio ruim, era algo que valorizava. No final das contas, ele não queria ter que ficar se humilhando para ela, medindo o nível de decepção que ela tinha, e Ino não queria ficar de papo furado com um homem que não mostrava suas verdadeiras intensões.

Quando ele era direto assim, ambos economizavam tempo.

Yamanaka Ino: Depende.

Yamanaka Ino: Você fez o pagamento do seu funcionário?

Genma (brocha): Oi? Como assim...?

Yamanaka Ino: Pagou seu funcionário para resolver essa greve que ele tá fazendo?

Oh, deus.

Não sabia o porquê tinha usado aquela piada infame que Sakura tinha lhe dito mais cedo, mas enquanto relia só conseguia pensar que de fato, tinha algum humor incutido. Para ser totalmente honesta, ela ainda não tinha se decidido se queria dar uma nova oportunidade para Genma, talvez por isso estivesse optando pelo humor barato de Sakura, assim poderia simplesmente comer pelas beiradas até se decidir.

Para quem estava falando em não fazer os outros perderem tempo...

Viu ele mandar uma figurinha de alguém rindo e depois chorando. Revirou os olhos com humor.

Genma (brocha): Fiz o pagamento, com certeza.

Genma (brocha): Mas falando sério, Yamanaka

Genma (brocha): Eu realmente fiquei nervoso.

Genma (brocha): Você é incrível, e eu fico ansioso só de pensar que posso te encontrar de novo e...

Genma (brocha): Kami, e eu só não quero que as coisas terminem do mesmo jeito de antes. 

Awn.

— Sakura, olha isso – Ino falou rapidamente, percebendo que seu julgamento poderia está sendo prejudicado pelo oral perfeito que ele tinha feito, porque com aquelas palavras, ela quase queria dizer que ele não precisava se sentir assim.

— Você colocou o nome dele na agenda de Genma-brocha? – A outra disse com uma risada, lendo a conversa — Você usou a minha piada!! – E riu um pouco mais, resmungando que sabia que era uma boa piada. — Awn, ele tá se abrindo pra você.

— Sakura, eu quero sexo. – Ino falou antes que a amiga começasse um discurso — Eu quero transar. – Reforçou olhando-a seriamente — Ele já tá falando como se a gente fosse jantar num restaurante chique para nos conhecermos melhor. Eu não quero conhecer ele.

— Ino... – Sakura revirou os olhos — Ele só tá explicando o que aconteceu. Não é como se ele estivesse te pedindo em casamento. – E devolveu o celular da amiga — Para de ser emocionada.

A loira revirou os olhos com exagero. Sakura era do tipo romântica fofa apesar de não admitir, então ela nunca via nada demais em conversas como aquela, mas ali o sinal de alerta de Ino soou, e ela sabia que se continuasse naquela linha, provavelmente sentimentos iriam aparecer, e quando sentimentos aparecem é sempre a mulher que fica em desvantagem.

Bem, quase sempre.

— Aí, chega – Ela disse estalando a língua — Vou deixar ele no vácuo e esquecer.

— Pelo amor de Kami, Ino. – Sakura suspirou — O cara é teu fã. Fica em casa vendo teus storys, imaginando como seria estar ao seu lado... E aí do nada você aparece no bar, senta na mesa com ele, e ainda o convida daquele jeito pra transar. – Ela pausou olhando para Ino profundamente — É até compreensível que ele tenha brochado.

— Eu não vou deixar de ser quem sou pra que Genma, o cara que eu quero que me coma e só, se sinta menos nervoso do meu lado – Ela disse de maneira firme — Ele já deixou claro que se nos vermos novamente as coisas vão se repetir – E deu os ombros — Não preciso mais perder meu tempo.

— Ah, para com isso – Sakura resmungou naquela voz de quem está cansada — Ele não tá pedindo pra você virar uma garotinha sem sal perto dele. Isso nem faz sentido. É Yamanaka Ino que o excita, não uma versão sem sal sua. – E se empertigou para explicar seu ponto — O que eu estou dizendo é que talvez você possa simplesmente ir conversando com ele para que ele se acostume com seu jeito, e aí o pau dele levanta e você senta. Fim.

— Não sei se ele vale a pena tanto esforço – Ino disse resistente.

— O “Genma-melhor-oral-da-sua-vida”? – Perguntou com a sobrancelha arqueada numa óbvia inquisição — Fica de papo com ele por uns 15 dias, não vai te matar.

Suspirou deixando a cabeça tombar no travesseiro de penas mais uma vez. Conversar com Genma significava conhecê-lo, e Ino queria apenas sexo sem complicação. Só uma noite divertida, quem sabe duas... E depois cada um seguindo seu caminho com as memórias incríveis de uma boa foda.

Mas apesar da impotência, Genma tinha deixado uma boa impressão com o uso de sua língua enorme. Ela tinha que admitir que ele sabia o que estava fazendo, prestava atenção nos sinais para não ter que ficar perguntando se estava bom, ele só ia no feeling e acertava os movimentos perfeitos. Genma era aquele oral.

Só que a grande questão era: Valia o risco?

Suspirou.

— Sakura – Ino disse abrindo seus olhos com determinação — Eu vou dar essa chance a ele, mas você vai ser minha informante. – Falou muito séria enquanto via o sorriso divertido brotando no rosto da amiga — No primeiro sinal de que ele está se apaixonado, eu vou correr pra bem longe.

— Hai, hai! – Sakura falou sem lhe dar muito crédito — Pelo que eu sei, Genma é bem isso, homem de uma só noite, então só aproveita o papo e pegue seu prêmio, porca.

— É melhor você estar bem certa – Disse enquanto digitava furiosamente.

Yamanaka Ino: Desculpe a demora. Sakura não vive sem mim.

Yamanaka Ino: E ok, se vamos fazer isso de segunda tentativa, então vai ser do meu jeito.

Yamanaka Ino: Vamos conversando por alguns dias, até você se sentir apto o suficiente para estar no mesmo espaço físico que eu sem se sentir tão nervoso.

Yamanaka Ino: Depois isso a gente fode por todos esses dias que gastamos só na conversa.

Yamanaka Ino: Que tal?

...

Kami... Não seria melhor só arrumar um Viagra?

...

Genma (brocha): Tô muito dentro!

Yamanaka Ino: Ainda não, Genma, mas vai entrar.

.

.

.

Levou o copo à boca sentindo o gosto da erva se espalhar. Era um pouco amargo, mas ainda assim o calor do líquido fazia com que fosse um gosto reconfortante, principalmente quando se tomava na porcelana antiga que Yamato tinha herdado de seus avós. Ele tinha uma casa tradicional com paredes cobertas por papel e estrutura de madeira, e tudo parecia um pouco antigo, como quem gosta de valorizar a cultura ao máximo. Era uma casa boa apesar da localidade, com uma garagem excelente.

Passou a língua numa gota de chá que escapava dos seus lábios antes de devolver o copo ao suporte da mesa baixa de madeira clara. Nesse momento, Yamato retornava à sala trazendo bolo em pratos que combinavam com o conjunto de chá exibido em cima da mesa.

Tinha ido à casa do amigo logo após sair da casa de Rin, porque quando saiu do local se sentiu um tanto esquisito. Era um alivio triste, um misto de sentimentos que ele ainda não sabia como processar bem. Vê-la chorar daquela forma, pedindo mais uma chance, aquilo tinha sido cansativo e cruel, principalmente porque ele não podia ceder por mais que seu pensamento ainda fosse o mesmo de não querer vê-la chorar.

Mesmo assim, agora as coisas não eram mais as mesmas. Havia esse seu sentimento por Sakura que ele não podia ignorar mesmo que quisesse. Além disso, também havia percebido que não podia mais continuar com Rin daquela maneira, porque ela já não o fazia feliz, e principalmente, ele não a fazia feliz. É claro que tinham aqueles momentos bons e divertidos, aquele companheirismo que conservaram, mas a maior parte do tempo era apenas um relacionamento enfadado.

Quando saiu de lá percebeu que não queria ficar sozinho. Pensou em ir até Sakura, mas seria como tentar não sentir aquela onda estranha que lhe invadia, por isso optou por não perturbá-la. Foi à casa de Yamato ao invés, e lá encontrou a calmaria do amigo que estava vendo um daqueles programas de auditório com quadros estranhos.

Conversaram por um momento sobre trivialidades até que, finalmente, Kakashi revelou sua conversa com Rin. Era fácil conversar com Yamato desde que ele era um bom ouvinte, raramente fazendo expressões que constrangeriam alguém. Seus comentários eram sempre pontuais, nada que soasse como se estivesse entediado ou cansado da conversa repetitiva de Kakashi.

No final, Kakashi tinha dito o mesmo de sempre. Gostava de Rin, a amava de um jeito diferente do romântico habitual, mas eram sentimentos insuficientes para fazer um relacionamento durar, e sim, às vezes ele sentia falta de como eles eram antes de tudo, de como podiam ser um casal completamente perfeito, mas as coisas que tinham acontecido já não permitiam mais esse retorno.

— Eu realmente tentei, Tenzin – Disse com uma expressão distante — Mas quando ela me acusou de estar com ela por pena, eu só senti tanta raiva.

Sim, porque ele não conseguiu dizer nada para que ela ficasse. Poderia ter prometido que tudo seria diferente, que a vida deles seria incrível e excitante, mas a verdade é que ele não tinha nada para oferecer além daquilo que ela já conhecia, e no final das contas ela já parecia tão decidida apesar das lágrimas que rolavam dos seus olhos ao chão.

Kakashi ficou em silêncio por um tempo, e era tão ruim reviver essas memórias porque sentia como se fosse algo que pudesse consumir o que tinha dentro de si.

— Ai eu só gritei para ela que eu iria pedi-la em casamento – E riu sem humor — Não era para ela descobrir desse jeito – Disse em seguida como se quisesse explicar o que tinha acontecido sem realmente o fazer — Na verdade, não era para ela descobrir nunca.

— Segredos sempre voltam, senpai – Yamato disse tomando seu chá com um semblante tranquilo — O ideal é não tê-los, mas... Uma hora eles escapam, e acho que esse veio no momento certo. A fez entender o que tinha acontecido com vocês de uma maneira mais profunda.

— Você acha?

— Eu acredito que sim – Ele disse se empertigado — Pense: Antes ela só sabia que tinha deixado você para viver uma aventura com Obito, agora ela sabe que foi viver uma aventura com Obito no dia que seria pedida em casamento por você. – E deu aquela risadinha de quem não podia fazer muito sobre o assunto — Agora ela sabe o que perdeu.

— Não consigo parar de pensar que foi cruel com ela – Kakashi disse um pouco triste — É estranho porque, eu to feliz. Eu to bem – Disse com mais certeza — Sinto que tirei um fardo das costas, mas não consigo deixar de me preocupar com ela. A deixei dormindo e antes de vir pra cá liguei pra Kurenai – Riu passando a mão nos cabelos — Tipo, eu não devia mais me preocupar, não é?

— É claro que você devia, senpai – Yamato disse tão certo quanto o azul do céu — Vocês namoraram por anos afinal de contas, e ela é uma pessoa importante para você. Você passou anos com ela porque não queria magoá-la, então é no mínimo esperado que você se sinta dessa forma – Disse por fim.

Levou o copo à boca depois de um momento, tomando um longo gole do líquido que descia suavemente pela sua garganta. Yamato tinha razão. Não precisava se torturar com duvidas que não eram duvidas de verdade, porque se preocupar não significava que havia tomado a decisão errada. Era até ridículo que naquele momento ele estivesse considerando ter feito algo impulsivo.

Não se arrependia.

— É, mas... – Ele suspirou antes de devolver o copo ao apoio — Não foi a verdade toda. Ela ainda não sabe que Obito sabia que eu ia fazer o pedido a ela naquele dia, e Tenzin... Quando eu estava saindo do quarto dela, eu vi um cartão de visita com o número dele – Disse gesticulando.

— Do Obito? – Yamato perguntou visivelmente surpreso.

— Sim – Kakashi confirmou — Eu não sei onde ou quando, mas acho que ele deve ter voltado pra Kyoto e se encontrou com a Rin – Disse dando os ombros — Você acha que eles....?

— Que eles o que? – Yamato perguntou diretamente, com uma sobrancelha arqueada. — Transaram?

Kami...

— Kakashi, eu acho que não é mais da sua conta – Yamato disse resoluto — Mas se você quer saber mesmo, eu não ouvi nada do Aoba sobre o Obito ter voltado, e você sabe que ele é quem mais anda com as meninas.

— Não me leve a mal – O outro disse — Não to querendo saber por ciúmes ou... Sei lá, tentando regular ela. É só que, cara, a gente acabou de dar um ponto final nisso, e aí o Obito aparece novamente... Eu não acho que seja um bom momento para a Rin – Confessou incerto.

Yamato encarou Kakashi por um longo momento. A verdade é que todo mundo sabia que Obito tinha sido um baita filho da puta fazendo tudo aquilo pelas costas de Kakashi, e apesar deste último nunca falar muita coisa sobre isso, todo mundo sabia que Obito tinha se aproveitado da fragilidade de Rin para fazer o que fez. Ninguém esperava isso dele e por isso foi tão genial.

De alguma forma, Rin confessou todos os seus sentimentos para ele de um jeito que ela jamais faria com qualquer outra pessoa. Nem mesmo Kurenai sabia da dimensão dos conflitos dela, mas Obito sabia. E Yamato tinha certeza que ele a tinha manipulado para conseguir ficar com ela, porque além de confidente de Rin, ele era o melhor amigo de Hatake Kakashi.

Aliás, foi ele quem escolheu a aliança com Kakashi.

Por isso aquelas palavras de Kakashi faziam tanto sentido, e ainda que o mesmo não falasse com todas as palavras, Kakashi também achava que Rin tinha sido manipulada da pior forma possível, e por isso não conseguia sentir raiva dela, afinal ambos eram vítimas nessa situação e tinham que lidar com as consequências de suas ingênuas escolhas.

Consequências essas que colaboraram para o fim de um relacionamento de anos.

— Não é um bom momento pra Rin – Yamato disse com um rosto sério — Mas você não pode fazer nada sobre isso. Depende da Rin no final das contas. E se você for falar com ela, só vai soar como se você estivesse com ciúmes.

Kakashi revirou os olhos.

— Términos são uma merda – Resmungou — Talvez eu devesse falar com a Kurenai? – Sugeriu incerto — Pedir a ela que fique de olho?

— Se vai te trazer conforto... – Yamato disse dando os ombros — Mas sabendo que assim que a Kurenai descobrir que o Obito tá na cidade, ela vai proibir a Rin de vê-lo – E gargalhou — Ela odeia o Obito.

— Oh, é – Kakashi compartilhou da risada — Bem, de toda forma é com você disse. Não posso fazer muita coisa.

A verdade é que ele não queria que Rin se envolvesse com Obito novamente, porque o homem não era bom para ela, nunca foi. Pensar nela caindo nas mesmas armadilhas lhe fazia querer protegê-la, mas Yamato estava certo: Não podia fazer muita coisa sobre isso. Não era mais algo de sua competência. No máximo poderia falar com alguém, mas se meter na vida de Rin desse jeito era inconcebível.

Kakashi olhou a hora no celular. Haviam 2 chamadas perdidas de número oculto. Limpou as notificações percebendo que já era final da tarde e o tempo tinha passado tão depressa. Suspirou sentindo que estava um pouco melhor. Yamato era sempre o melhor para esses momentos de confusão interna, porque ele emitia essa paz que organizava o pensamento alheio.

Resolveu que era hora de ir e se despediu do amigo. Saindo do local em seu carro grande, Kakashi discou o número de Haruno Sakura-chan em sua agenda, imaginando se era muito cedo para ligar para ela, uma vez que sabia que ela estaria com Ino e que o desgaste emocional ainda era muito presente. Mesmo assim, estava com vontade de ouvir aquela voz tão melodiosa, precisava da risada dela, sentia que queria vê-la.

— Kakashi! – Ela atendeu no segundo toque, falando seu nome daquele jeito quase aliviado.

— Meu amor – Respondeu apertando o telefone no ouvido. Podia colocar no autofalante do carro, mas queria ouví-la bem de perto, e dane-se se levaria uma multa — Como foi seu dia?

— Nada de mais – Disse rapidamente como se não importasse — Como você está? – Perguntou depois de um momento, sua voz mais séria.

— Tô bem, mas cansado. – Confessou com um sorriso fraco nos lábios, resultado da preocupação boba dela, porque ela não precisava se preocupar daquele modo. Só de falar com ela se sentia melhor. — Queria ver você. Ainda está com a Ino?

— Sim, mas já tô de saída — Respondeu — Você me encontra lá em casa?

— Que tal eu ir te buscar? Tô perto do Jardim Botânico. – Disse acelerando porque estava mentindo, apenas queria vê-la o quanto antes, porque de repente sentia que precisava do abraço dela.

— Acho perfeito. – E ele podia até ver o sorriso nos lábios dela, a expressão suave que ela fazia — Te espero na entrada da mansão.

— Chego em 20 minutos – Falou sorrindo.

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Acordou sentindo uma espécie de vazio dentro de si, como se as coisas não fizessem muito sentido naquele momento. Olhou para o lado brevemente, soltando uma risada seca no processo. Deixou a sua voz morrer no quarto vazio com pouca luz. Era final de tarde e a tonalidade laranja pintava as paredes cor-de-areia do seu quarto. É claro que Kakashi já teria ido embora àquela altura.

Se permitiu ficar deitada por um longo momento tentando encontrar a força que precisava para sair de seu estado letárgico, mas quanto mais abraçava seu travesseiro, mais tempo ela queria ficar ali, revisando todas as coisas que foram ditas, remoendo todos os seus erros, e se torturando com as imagens da vida perfeita que teria ao lado de Kakashi caso tivessem se casado.

Era inevitável pensar nessas coisas porque as memórias daquela conversa ainda estavam tão vivas. E sim, ela tinha se humilhado para ele, chorado como se fosse uma criança inconformada, e como se não bastasse, ainda permitiu que ele a confortasse como se não houvesse mais ninguém que pudesse fazer isso em sua vida. Se já estava se sentindo uma completa idiota na noite anterior, naquele momento ela se sentia ainda pior.

Sequer teve coragem de o acusar sobre ainda ter contato com Obito, porque no fundo ela não estava realmente magoada com isso, ela só queria um motivo para vê-lo se importar. Também não ousou falar da nova garota dele, aquela ninfeta rosa... Não a conhecia, não fazia ideia de quem era ela, e ela sabia que Kakashi era o tipo de homem que não tolerava que as pessoas se intrometessem demais.

Fechou os olhos com força, inspirando o ar na tentativa vã de adquirir alguma vontade de sair da cama, mas a verdade era que o cheiro de Kakashi ainda estava nos lençóis, bem fraco, quase sumindo, mas era como se ele ainda estivesse ali e em qualquer momento fosse sair do banheiro de banho tomado, dizendo que tudo não passou de um sonho ruim.

Sentiu uma lágrima escorrer pela lateral de seu rosto. A única coisa que sabia fazer era chorar pela dor de um relacionamento que já havia acabado a anos. Esfregou o nariz e os olhos, deu um tapa moderado em seu próprio rosto porque precisava acordar, precisava ter alguma iniciativa. Levantou o tronco num surto de motivação e sabia que se esperasse apenas mais um segundo, então tudo desabaria. Saiu da cama rapidamente, lavou o rosto na pia do banheiro sem ousar olhar-se no espelho e correu para fora do quarto, procurando alguma coisa para fazer.

O crème brûlée é claro!

Foi direto para cozinha evitando contato visual com aquela foto em sua mesa de centro, e quando chegou ao seu destino teve uma surpresa: Estava tudo limpo.

Coçou o cabelo enquanto dava uma risada ao perceber que Kakashi tinha arrumado tudo.  Se aproximou da geladeira vendo um papel amarelo pendurado por um imã solitário, reconheceu a letra de professor de Kakashi e sorriu de maneira triste. Ele sempre deixava um bilhete quando saia antes dela acordar. Mordeu os lábios lendo a inscrição.

“Tomei a liberdade de terminar seu crème brûlée. Já peço desculpas se não ficou do seu agrado, mas achei que iria querer comer quando acordasse. Aliás, não coma muito. Sei como você fica quando está triste, mas não desconte na comida, porque quando a tristeza passar vai restar apenas suas reclamações de como está gorda mesmo não tendo engordado uma grama sequer, e apesar de eu não me importar, a Kurenai não é muito paciente com essas coisas.... Rin, fique bem logo. H. K.”

As manchas da tinta borrada se propagavam enquanto sua mão apertava o papel com força. As lágrimas caiam de maneira progressiva, aumentando ao passo que sua dor ia se intensificando. Soltou um ruído do ar saindo no choro desesperado que lhe acometia diante do último bilhete que Kakashi lhe deixaria na porta da geladeira.

Apertando o papel amassado contra o peito, Rin curvava seu corpo para frente, caindo de joelhos no chão de sua cozinha. Mesmo depois de tudo, as palavras dele ainda eram de cuidado. Mesmo ela tendo despedaçado suas esperanças anos antes, Kakashi ainda a tratava como se fosse algo precioso. Era algo tão simples, tão efêmero. Facilmente se perderia na memória, mas eram nos gestos mais simples que Rin percebia o quanto ele a amou.

— Rin!

Ouviu a voz de Kurenai junto com seus passos rápidos invadirem a cozinha. Não hesitou em lhe abraçar com força, segurando-a em seu choro fatídico.

— Acabou, Kurenai – Disse entre os soluços — Tudo acabou... – E tinha aquela voz débil de quem ainda está assimilando os fatos, de quem ainda não aceitou o que tinha acontecido.

— Rin... – Kurenai disse sentindo-se esmagada pelo peso das emoções da outra, tentando encontrar algum modo de confortá-la ainda que soubesse que não havia nenhum. No final das contas, ficou ali segurando sua melhor amiga, decidindo que estaria naquela posição pelo tempo que fosse necessário, e foi um longo tempo.

Eventualmente, o choro de Rin cessava. A mulher de cabelos castanhos fungava enquanto se libertava do conforto dos braços da outra, que mantinha aquela expressão preocupada na face. Rin sorriu brevemente, e foi o sorriso mais bonito, daqueles que transmitem gratidão ainda que houvesse tanta tristeza dentro dela.

Então ela simplesmente contou o que aconteceu, detalhe por detalhe. Em algum momento, Kurenai pegou o crème brûlée da geladeira e começaram a comer juntas, porque precisavam daquilo. Ficou surpresa quando fora revelada a intensão de Kakashi para o dia do término deles. Kurenai nunca soube apesar de achar que Asuma poderia ter tido conhecimento algum tempo depois.

Com aquela informação, ela entendia um pouco mais o comportamento de Kakashi, e inevitavelmente ficava mais triste por Rin, que o amava tanto.

— Depois que ele falou isso, Kurenai, eu sabia que não havia nada que eu pudesse dizer ou fazer para que nós reatássemos. – Disse olhando para a amiga com seus olhos inchados e nariz vermelho — Se eu tivesse sabido disso na época que eu voltei para Kyoto, eu não teria tido a cara de pau de pedir pra voltar. – E comprimiu os lábios numa linha fina — Eu estraguei tudo por uma aventura com Obito.

— As coisas só acontecem, Rin – A outra disse colocando mais uma colher do doce na boca — Mas vocês precisavam disso. Digo, haviam tantas coisas não ditas e agora estão muito mais claros os motivos de Kakashi, o jeito que ele agia... – Suspirou.

— Eu fico imaginando se caso a ninfeta-rosa não tivesse aparecido, Kakashi ainda estaria comigo? Nós ficaríamos juntos até nosso último suspiro nesse estado em estávamos? – Rin disse passando a mão entre os cabelos — Ele nunca demonstrou interesse real em nenhuma outra mulher.

— É, mas... Se não fosse com a Sakura, então seria com qualquer outra pessoa – Kurenai respondeu sem querer refletir muito — Uma hora vocês iam ter essa conversa, Sakura existindo ou não.

Rin olhou para seu crème brûlée por um momento. Estava meio mole, provavelmente porque não tinha ficado o tempo necessário na geladeira, mas o gosto estava bom. Não era como se Kakashi fosse um exímio cozinheiro, mas ele sabia o que estava fazendo. Riu com o pensamento, porque era bem isso. Kakashi sabia o que fazia.

Se ele estava disposto a ficar com ela naquele relacionamento incompleto e cheio de mágoas, então ele certamente sabia no que estava se propondo. Ela também não se imaginava namorando com cinquenta anos, morando em casas separadas e sem nenhum vínculo além do status de relacionamento no Facebook. Em algum momento ela o colocaria contra a parede, e talvez fosse ser o momento dessa conversa fatídica.

Não sabia de verdade, mas de alguma forma gostava de pensar que sim.

— Mas me conta na ninfeta – Disse depois de colocar mais uma colher na boca, tentando mudar o foco — O nome dela é Sakura, é? – Perguntou fazendo pouco caso, afinal era um nome bem comum. — Aliás, aquela loira com ela era Yamanaka Ino, não é?

— Sim! – Kurenai confirmou um pouco mais empolgada — Dá para acreditar? A ninfeta-rosa é a Sakura da Yamanaka! – Revelou vendo a expressão de surpresa no rosto da outra — Tipo, Kakashi tá saindo com uma sub-influencer.

— Eu tenho certeza que esse termo não existe – Rin disse com humor antes de suspirar, se perguntando como o universo podia ser um grande filho da puta às vezes — Então... Meio que ele tá saindo com a melhor amiga da Ino, a pessoa que resmunga nos storys, que dá opiniões sobre o vestido dela... A voz misteriosa é a ninfeta-rosa? – Perguntou como quem absorve a informação — Inacreditável.

— Ele disse que a conheceu no instagram – A outra disse dando os ombros — E isso explica como ele entrou na festa do Jardim Botânico.

— De todas as mulheres do mundo, ele tinha que ficar logo com a melhor amiga da blogueira que eu adoro? – Rin disse num tom quase inconformado — A gente conhece a Yamanaka, ela vai ficar postando storys do tipo “a sua melhor amiga também te deixa pra ficar com o boy”? – E soltou um ruído de frustração. Kurenai riu.

— Pior que ela é bem simpática. Achei que ela seria meio esnobe, mas a verdade é que ela fala sobre tudo sem parecer nenhum pouco arrogante – Dizia suas impressões lembrando das conversas e de como o novo casal se comportava, mas não quis entrar em detalhes — A Yamanaka que parece um pouco mais chata. Aliás, ela terminou a noite indo para casa do Genma.

— Não brinca! – Rin se empertigou, esquecendo qualquer outro assunto — Genma transou com a Yamanaka????????

— Provavelmente – Kurenai disse com uma risada — O Asuma não me confirmou e os meninos não falam disso comigo.

— O desgraçado tem um imã para mulheres, é a única explicação! Céus! Em que mundo a influencer de 22 anos, herdeira de metade de Kyoto, iria dar bola prum idiota como o Genma?

— Temos que admitir que ele é gosto.

— Ok, sim, mas isso basta?

— Pra uma noite de sexo? Sim, é o suficiente. – Kurenai declarou convicta, vendo Rin desistir de qualquer argumento, ficando um momento em silêncio.

Era um sábado e Kurenai tinha passado o dia todo no escritório. O projeto do hotel estava sugando a sua alma e exigindo oferendas em formas de horas de sono, mas quando Kakashi ligou dizendo que quando ela pudesse fosse na casa de Rin, Kurenai ligou seus sinais de alerta. Ela conhecia o ex de Rin o suficiente para saber que ele não é o tipo de homem que incomoda os amigos com trivialidades, se estava pedindo aquilo, então algo havia acontecido.

E não precisava ser um gênio para saber o que era.

Fez o que pôde para sair mais cedo do trabalho, mas ainda havia tantas coisas para fazer... O projeto em 3D do layout novo estava demorando anos para ficar ponto de modo que todo o trabalho estava empacado por conta disso, sua equipe estava cem por cento empenhada em fazer o modelo, mas Rin precisava dela, e quando isso acontecia.... Bem, que se dane o modelo 3D.

Na portaria, Rin havia deixado alguns nomes que tinham passagem direta para seu apartamento sem a necessidade de interfonar, só por causa disso conseguiu subir sem demoras, achando a amiga naquele estado deplorável.

Ela sabia da intensidade dos sentimentos de Rin por Kakashi, e jamais duvidou das palavras da amiga sobre amá-lo, entretanto, Kurenai sempre achou que havia algo como teimosia ali. Como se Rin se recusasse a perceber coisas óbvias porque isso significava refletir sobre o que estava acontecendo e se dar conta que aquilo já não fazia mais sentido.

Mas de alguma forma Kakashi sempre foi um homem bom para ela, por mais que ele tenha tido uma série de atitudes duvidosas nos últimos meses, Kurenai avaliava aquele relacionamento com um saldo positivo. Foi algo tranquilo, com boas lembranças, e seus altos e baixos. O final foi um tanto dramático, mas era inevitável tendo em vista que foram 14 anos de coisas ditas pela metade.

Naquele momento, depois do choro desesperado da mulher que revelava ter finalmente percebido que não havia reparos para aquele relacionamento desde que Kakashi fora ferido de uma maneira tão profunda e guardou isso consigo por anos, gostava de pensar que Rin havia transformado essa experiência em aprendizado, e é claro que não esperava que ela estivesse melhor de uma hora para a outra, mas que racionalmente ela tivesse entendido o que fez e as consequências desse ato.

— ... Eu transei com o Obito.

Entretanto, depois de ouvir aquelas palavras ditas de uma forma tão direta num tom quase pasmo, Kurenai quis apenas ser surda para não ter que ouvir algo tão ridículo.

— Sim, eu sei. E por isso você e Kakashi terminaram anos atrás. – Respondeu se fazendo de idiota, porque sabia que não era dessa transa que Rin estava falando, mas se recusava a aceitar que depois de tudo o que aconteceu, Rin ainda cairia nas mesmas armadilhas.

— Ontem à noite – Ela disse visivelmente envergonhada, com um tom arrependido — Eu peguei o táxi e fui para o bar aqui perto, sentei numa mesa e encontrei Uchiha Obito. Eu estava mal e carente, e ele apareceu do nada! Disse que foi transferido pra Kyoto, algo assim. Eu só joguei toda a frustração da minha vida amorosa nele e o trouxe para cá, e nós transamos. – Relatou como se fosse um depoimento policial, porque estava se sentindo criticada pelo olhar incrédulo de Kurenai, e não a culpava, afinal, sabia que tinha feito merda.

— Rin... porquê? – Perguntou porque era a única coisa que conseguia pensar. Como ela tinha cedido daquela maneira? Ela estava chorando por Kakashi, se amaldiçoando por ter feito aquela escolha anos atrás e na primeira oportunidade ela escolhia errar de novo? Era como se Rin não tivesse aprendido absolutamente nada com toda essa história.

— Eu não sei! – Disse aflita — Kurenai, ele apareceu do nada! E eu disse coisas horríveis pra ele. Coisas que eu jamais diria se estivesse sóbria. E mesmo assim, no primeiro impulso que eu tive, ele cedeu como se estivesse esperando por aquilo desde o momento que fui embora de Tóquio! — Dizia naquele tom de quem tenta justificar suas ações ao máximo, buscando perdão de outra pessoa porque não podia se perdoar sozinha.

Kurenai suspirou.

— Céus... Eu tava me sentindo tão só e tão frustrada... Ele apareceu e... Ele não mudou nada! – Sua voz saía num misto de cansaço e aflição. — Foi como se eu tivesse voltado no tempo. – E as lágrimas reapareceram — Foi como se eu estivesse naquele carro de novo, com ele me beijando, e eu ainda podia dizer não, mas eu não consegui – E mordeu o lábio com força, olhando para a outra de maneira desolada, como se o peso das memórias contrastassem com o que tinha vivido a menos de um dia — Kurenai, eu só não consegui.

Não havia o que fazer. Kurenai abraçou Rin novamente deixando que a mulher chorasse pelo seu erro antigo e pelo seu novo erro, e apesar de estar ali para apoiar sua amiga, Kurenai tinha que ser sincera consigo mesma: Estava cansada. Rin era uma mulher de 36 anos, e tudo bem errar, mas daquela maneira...

Não que ela não pudesse transar com quem quisesse, e não que ela tenha traído Kakashi novamente, mas as duas sabiam que recorrer a Obito dessa forma não a levaria a lugar nenhum.

Rin tinha vivo por um longo ano com Obito, e se voltou, era porque algo tinha acontecido. Kurenai nunca acreditou que o motivo principal tinha sido apenas seu amor por Kakashi. Fortemente acreditava que algo tinha acontecido, mas a outra nunca tinha dito nada nesse aspecto, sendo estranhamente vaga sobre aquele período.

— Ok, está decidido – Kurenai disse folgando o seu abraço — Vou dormir aqui hoje, e nós vamos ver filmes ruins, pedir pizza barata e você vai chorar tudo que tem pra chorar – Falou com um sorriso gentil, colocando uma mecha do cabelo castanho atrás da orelha da amiga — E então, amanhã, você vai ser uma nova Rin.

O sorriso fraco lhe invadiu. Kurenai era dessas que sempre sabia o que devia ser feito. Ela sabia que a amiga estava sobrecarregada com o trabalho, mas honestamente, ela sentia que não estava em posição de recusar algo assim. Precisava disso, precisava dela.

O lado bom da vida não é um filme ruim – Disse com um bico. — Inclusive levou um Oscar pra casa!

— Oh, deus – Suspirou — A noite vai ser realmente longa – E riu pegando o telefone para avisar a Asuma.

— Obrigada, Kurenai – A outra disse de maneira séria — Mesmo, por tudo.

— Obrigada? – Kurenai repetiu divertida — Sinto lhe informar, Rin, mas eu só to agradando você porque preciso de alguém pra me ajudar com o casamento, e adivinha quem foi a escolhida? – E ambas riram um pouco.

— E eu achando que você estava fazendo caridade.

— A última coisa da qual você precisa é caridade, Rin – Respondeu com um sorriso — Agora pede a pizza, eu vou me trocar.

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Depois de dar seu nome na guarita, ele viu os seguranças em seus ternos pretos liberarem sua entrada. A cancela subiu e seu carro quadrado passou. Ele andava num Honda CR-V, grande o suficiente para ele e sua família composta por seus oito filhos caninos. Na época até pensou em ter dois carros, mas o gasto nunca compensou, e no final das contas ficou acostumado demais com carros grandes.

Quem o via até acharia que ele era casado e tinha pelo menos 3 filhos, afinal sua casa era enorme para uma só pessoa, o carro também, e seus dois empregos. Parecia mesmo que ele tinha que dar conta de sustentar várias bocas, mas a única coisa que precisava garantir eram os 20 quilos de ração mensal, além de suas próprias despesas.

Mas ali estava ele na via privativa dos Yamanaka, se aproximando da mansão enorme que existia atrás do Jardim Botânico. Ele nunca tinha entrado ali, e duvidava que qualquer pessoa comum tivesse conhecimento daquela construção, mas era surreal. Parecia estar saindo do Japão e entrando num cenário de filme europeu de época, apesar de ainda conseguir identificar alguns elementos que só faziam sentido no oriente.

Passou pela estrada, Kakashi via as luzes da entrada cada vez mais nítidas. Ele ainda se sentia casado emocionalmente, sentia que queria tomar um longo banho e dormir, mas ao mesmo tempo ter ouvido a voz de Sakura tão calma e tranquila o fez querer vê-la subitamente, além disso, também queria que ela soubesse que estava tudo bem entre eles, que as coisas aconteceram exatamente como ele dissera.

Nada além de uma conversa.

Parou o carro no ápice da curva. A viu pegar aquela mala branca que ele tinha expectativa de ver com muito menos frequência desde que se comprometera a abrir espaço no closet para ela, e então sorriu quando saiu do carro, a abraçando imediatamente por um longo momento.

Sakura – Disse em prazer afundando seu rosto nos cabelos dela, percebendo que de alguma forma ela recarregava suas energias com aquele sentimento de paz. Ela era tão pequena, quase uma cabeça menor, e ainda assim se sentia recebendo um daqueles abraços de urso.

Os lábios dela tocaram brevemente a pele perto de sua orelha. As mãos femininas lhe faziam um carinho nas costas, subindo e descendo. E era tudo que ele precisava, como se a força que ela transmitisse o carregasse novamente, livrando-o daquele cansaço pesado que lhe dominava momento após momento.

Sim, ele teve medo de ir ali e encontrá-la apenas para se distrair das memórias de Rin. Relutou em ligar para ela, mesmo sabendo que ela poderia estar ansiosa por uma notícia, porque não queria parecer pedinte ou dependente. Ela era algo novo e bonito, como se fosse algo intocado, e ele não queria manchá-la com o peso de seus rancores.

Mas uma vez ali, rendido em seus braços, Kakashi a sentia tão firme, como se fosse impossível abalar os sentimentos que tinham. Nem mesmo seu cansaço emocional, nem mesmo suas dúvidas eram capazes de minar aquilo que ela transmitia, e quando ele se sentiu acolhido por aquilo, Kakashi então se permitiu chorar.

E foi naquele exato momento, enquanto estava nos braços de outra mulher, que Kakashi finalmente colocou um ponto final naquela sua história cheia de alegrias e tristeza com Rin. Foi ali que ele sentiu tudo sair, restando apenas Sakura e sua energia acolhedora, que sem fazer nenhuma pergunta, esperou pacientemente pelo cessar de seu choro silencioso, como se soubesse exatamente o que estava acontecendo.

Tudo bem, não tinha sido uma fácil para ela também, e Ino foi tão importante em não deixá-la sucumbir aos sentimentos ansiosos que acometiam-lhe em alguns momentos, mas quando o ouviu chamá-la de meu amor, Sakura soube que por mais difícil que tenha sido para ela, para Kakashi tinha sido mil vezes pior, e tudo que ela quis lhe dar, independente do que tinha acontecido durante aquela conversa, eram seus sentimentos de cuidado.

Por isso, Sakura apenas o abraçou, e ficaram ali naquele clima quase frio dos inícios de noite na primavera, enquanto o cheiro das flores chegava a eles pela brisa calma que se fazia presente. Era um local de paz, era um momento tranquilo, e o choro do homem não durou tanto assim. Se afastou brevemente, só o suficiente para que as mãos femininas deslizassem pelo seu rosto com aquela delicadeza gentil que possuía, e seus olhos brilhavam para ele, juntamente com o sorriso nos lábios.

— Obrigado – Ele disse sem tirar as mãos da cintura dela enquanto arriscava um sorriso sabendo que sua expressão era aquela de choro — Eu tava precisando disso.

— Na verdade, eu também tava precisando – Respondeu passando seus polegares nos rastros das lágrimas que escaparam — Obrigada, você.

Ele a olhou por um momento, se deixando deleitar-se pela visão tenro da moça que lhe sorria, e era como se ela tivesse o poder de mudar tudo. Sorriu sem jeito percebendo que dessa vez era ela quem o olhava daquele jeito, e acabou repetindo a reação dela, abaixando a cabeça de leve, sentindo aquela timidez besta que não deveria surgir.

— Então essa é a sensação? – Kakashi perguntou divertido e ela riu porque sabia exatamente do que ele estava falando.

— Sim, exatamente essa. – Concordou puxando-o mais uma vez para um longo abraço — Como foi? – Perguntou por fim, voltando a olhá-lo.

— Difícil, mas necessário – Ele revelou sem se aprofundar muito, a verdade é que ele não queria conversar ali — Que tal a gente ir andando? Aí conversamos no carro...

A mulher apenas concordou, virando brevemente para a porta e acenando para algum lugar no teto. Kakashi franziu o cenho e percebeu, logo depois, a câmera de segurança da entrada. É claro que Ino estava vendo tudo. Ele riu para si mesmo antes de acenar para ela também e finalmente abrir a porta para Sakura.

Conversaram sobre trivialidades no caminho para o apartamento dela enquanto as luzes da cidade passavam como mero plano de fundo. Era tão fácil conversar com Sakura. E quando ela o convidou para dormir ali, Kakashi sentiu que era muito mais do que ele podia pedir, nem pensou em recusar, sequer lembrou que não tinha uma roupa além daquela que vestia, ele apenas estacionou naquela vaga para visitantes e subiu com ela na direção do quinto andar, voltando àquele espaço tão minúsculo.

Ela pediu uma pizza, e eles esperaram na sala enquanto ele deitava sua cabeça na barriga dela, ouvindo aqueles barulhos esquisitos que os órgãos fazem lá dentro. Deixaram a TV rolando em qualquer coisa enquanto papeavam sobre tudo e nada ao mesmo tempo. Foi só depois de comer que Sakura o mandou para o banho, e no meio de seus produtos para cabelo ele se perguntava como poderia tomar um banho com ela se só havia espaço para um.

Saiu do banho enrolado na toalha, vendo-a deitada apenas de calcinha e sutiã enquanto balançava as pernas para fora da cama. Era a primeira vez que ele estava no quarto dela a convite e não porque estava indo ao banheiro e tinha que passar por ali. Como tudo naquela casa, o quarto dela era um ovo. A cama ia de uma parede à outra e não era porque era grande demais, e sim porque não havia espaço.

Prateleiras de vidro de um lado da cama serviam de suporte para carregador de celular, dinheiro, canetas, elástico de cabelo e qualquer objeto que ela precisasse ter à mão, como um colírio solitário perto de uma cartela cheia de comprimidos para dor de cabeça. Do outro lado havia um armário suspenso que se estendia até além da cama, quando finalmente ganhava um modulo que ia até o chão, que era decorado com um tapete cheio de cores, parecido com a cortina leve que cobria a janela.

Um quadro digital na parede exibia fotos em preto e branco perto da porta de entrada, ali ele viu um triciclo a toda velocidade indo por uma longa reta em um parque. A pessoa que tirou a foto estava agachada com certeza, e a criança montada no veículo estava de costas com seus cabelos ao vento. Ele sorriu vendo-a olhar para ele com curiosidade enquanto estava apoiada em seus cotovelos na cama.

— Como você consegue viver em... 12 metros quadrados? – Perguntou sem lembrar direito qual era a metragem.

— 32 metros quadrados – Corrigiu com uma sobrancelha arqueada — E é o suficiente para uma jovem aluna de medicina sobreviver na antiga Kyoto.

— Acho que você tem uma coisa com coisas pequenas – Disse se aproximando divertido — Seu carro é minúsculo também. Devo me preocupar, Sakura, por ser muito grande?

— Oh, é mesmo – Ela falou quase inocente — Você é tão grande e ocupa tanto espaço – Falou com um suspiro enquanto se levantava, enlaçando-o com as mãos — E tá tão cheirosinho, e gostosinho, e--- - Então, com ajuda dele, alcançou seus lábios para um beijo divertido. — Do que estávamos falando mesmo?

— Nem lembro mais – Kakashi respondeu cínico e ela riu.

— Vou tomar banho, não demoro – E saiu rebolando para o banheiro, deixando-o só.

Riu bem humorado, se sentindo contagiado pela naturalidade de Sakura e o jeito com que ela lidava com qualquer coisa. Tirou a toalha da cintura para secar melhor os cabelos enquanto prestava atenção nas fotos que passavam, dessa vez Ino e Sakura pré-adolescentes posavam em seus uniformes escolares para a câmera. Elas eram tão magrinhas e cabeçudas, mas o sorriso de Sakura ainda era o mesmo.

Sentou na cama completamente nu, afinal não tinha nenhuma roupa que servisse nele no guarda-roupas dela. A toalha pousada ao redor do seu pescoço caía pelos seus ombros enquanto a próxima foto vinha. Era um homem de cabelos claros que a beijava na bochecha enquanto ela sorria como se não soubesse que alguém fotografava. Era uma foto bonita e aquele rapaz ele já conhecia: Naruto, do outro dia.

Ela tinha tantos amigos e era tão popular. Sorriu deixando-se tombar no colchão macio em meio ao cheiro dela por todos os lados, e tudo aquilo lhe trazia a sensação que a conversa com Rin tinha sido a tanto tempo, que sequer havia acontecido de verdade. Acabou preso nesse pensamento de como Sakura tinha esse poder, como seu humor tinha melhorado apenas de vê-la.

A foto na parede mudava novamente, e agora Sakura estava numa festa a fantasia, vestida de princesa enquanto dançava com um homem alto de cartola. Ergueu o corpo novamente se inclinando para ver melhor, e céus! Eram eles naquela festa de Ino dançando no ritmo tortuoso da música.

É claro que Ino tinha um monte de fotos. Tinha uma equipe de filmagem lá afinal de contas.

Colocou a mão no rosto embasbacado com a repentina felicidade que lhe invadia. Então ela tinha uma foto deles na parede? Pegou o celular apressado antes que a foto sumisse e tirou uma foto do quadro, porque assim teria uma prova caso ela desligasse o quadro automático.

Foi quando uma Sakura minúscula apareceu sentada no ombro de um homem que parecia estar na casa dos quarenta. Tinha um corte de cabelo esquisito e uma barba avantajada, mas o nariz era bem parecido com o de Sakura, assim como o formato do rosto e o seu sorriso.

Era o pai dela.

Só podia ser.

Foi quando ela saiu do banho em seu roupão cheio de estrelas coloridas com seu cabelo preso no topo da cabeça. Ela olhou para ele e depois para a foto e deu uma risadinha.

— Hatake Kakashi, conheça meu pai, Haruno Kizashi – Ela disse de uma forma saudosa, apontando para a foto.

— Então esse é meu sogro. – Kakashi falou com humor.

— Não, ele não é seu sogro, porque você não é meu namorado. – Ela sussurrou como se seu pai na foto pudesse ouvi-la.

Ainda.

Sakura riu.

— Me admira sua coragem, Hatake, chamando meu pai de sogro sem nem ter me pedido em namoro, e ainda por cima estando completamente nu na minha cama! Que ultrajante! – Falou num tom de falsa ofensa.

— Ei! Eu to com a toalha nos ombros – Disse de forma cínica enquanto mexia nas pontas soltas da toalha.

— Cara de pau – Ela retrucou se inclinando para beijá-lo rapidamente — Certifique-se de estar de roupa quando conhecer meu pai – Disse divertida, indo para o armário de roupas.

Ei, o que você tá fazendo? – Perguntou quando a viu pegar uma blusa folgada.

— Pegando meu pijama?

— Se eu vou dormir pelado, então você também vai dormir pelada – Ele disse cruzando os braços.

— De onde surgiu essa regra?

— Estabeleci agora. – Kakashi respondeu com convicção — Vamos, larga essa blusa, tira esse roupão e vem pra cá.

— Céus!!! E tudo isso na frente do meu pai! – Ela falou apontando para a foto, que lentamente sumia dando lugar a outra dela sozinha fazendo careta para a câmera. — Ok, agora posso tirar tudo.

Riram enquanto ela se livrava do roupão, pendurando-o num gancho discreto atrás da porta antes de subir na cama, usando apenas a pulseira que ele tinha lhe dado anteriormente como se fosse algo que ela tinha decidido que não tiraria mais do braço. Kakashi sorriu bobo.

Se enfiaram embaixo dos lençóis enquanto ele se aconchegava nos braços dela, sentindo-a fazer um cafuné em seu cabelo úmido.

— Sakura – Ele disse chamou depois de um momento — Onde estão seus pais?

A verdade é que Sakura sempre falava dos pais dela, mas ela nunca era especifica em dizer onde moravam ou que faziam. Quando falava deles era sempre em forma de memórias, ou quando eles ligavam, mas nada muito longo ou profundo, e ao ver aquela foto, Kakashi percebeu que ele não sabia como era de fato a relação familiar de Sakura. Ela sempre pareceu muito sozinha nesse aspecto.

— Ah... Hm... – Começou emitindo aqueles sons de quem está pensando em como responder uma pergunta complicada e Kakashi se perguntou se não deveria ter só ficado de boca fechada — Eu não sei direito a cidade, porque todas aquelas cidades tem os nomes tão complicados... Mas eles estão na Coréia – Revelou por fim.

Coréia????

— Você não é coreana, não é? – Era impossível! O nome dela era o mais japonês possível!

— Claro que não! – E riu um pouco alto — Eu sou de Hokkaido, na verdade! Minha família toda é de Hokkaido. – E deu mais uma risada lembrando do choque na voz dele com a pergunta anterior — Meus pais estão lá na Coréia a negócios.

— Ah, então eles trabalham viajando – Constatou como se fosse algo óbvio, deixando o abalo anterior para trás.

— Eles trabalham com viagem, mas não viajando – Ela explicou e viu Kakashi olhá-la confuso. Riu quando percebeu que não estava dizendo nada com nada. — A gente tem uma empresa de transporte de cargas. Meus pais a começaram lá em Hokkaido muito antes de eu nascer. No começo a gente só fazia mudança simples, frete... Essas paradas. Daí as coisas foram crescendo e quando eu nasci, eles já tinham rota pra região de Tōhoku toda.

— Pera aí – Kakashi falou de repente, processando as informações — O seu “Haruno” é o mesmo Haruno das Transportadoras Haruno?

Porque se fosse, nada faria sentido.

— Olha só, você nos conhece! – Ela disse com uma risada, mas a verdade era que os nomes das transportadoras não eram tão conhecidos como os dos produtos que elas transportavam, e por isso ela não apostava que ele fosse descobrir isso assim com tão pouca informação.

— Ok – Ele disse com uma risada nervosa — Continue sua história até eu saber porque você mora sozinha num apartamento de 7 metros quadrados em Kyoto.

Porque NADA fazia sentido!!!!!

— É 32!! – Sakura retrucou rindo com a reação dele — E não foi nada demais. Nós viemos para cá quando eu tinha 6 anos, porque eles conseguiram essa parceria importante com o Tio Inoichi...

E continuou falando sobre como precisaram mudar a sede da empresa para a velha Kyoto como uma exigência do pai de Ino. Que foi ele quem investiu e possibilitou a grande expansão que a empresa teve em apenas 10 anos, conseguindo cobrir rotas em todo país com o transporte de flores para as filiais das inúmeras floriculturas sobre o nome Yamanaka.

Foi por conta de Yamanaka Inoichi que eles entraram no ramo de transporte de e-commerce e ganharam fama entre o meio corporativo com transporte de outros materiais maiores e mais pesados. No final das contas, a transportadora da família de Sakura tinha se tornado a segunda maior do país.

Ela também contou que fora o pai de Ino que a colocara naquela escola chique com uma bolsa integral, porque na época eles jamais conseguiriam custear o valor, mas como Sakura sempre teve notas perfeitas, não tinha sido difícil ser aprovada naquele teste besta, e que assim se iniciara aquela amizade forte que era capaz de tudo no mundo.

— Dai eu fiz 16 anos, e pouco depois apareceu essa oportunidade para eles se expandir além do Japão. – Sakura riu — Quando eu cheguei em casa e eles me falaram “vamos nos mudar, querida” eu só surtei! Falei que não!!

— Não consigo pensar que eles só aceitaram isso.

— É claro que não aceitaram! – Ela disse maneando a cabeça — Mas sabe, eu já amava tanto essa cidade! Meus amigos estavam aqui, minha madrinha, e tinha a Ino! – Riu — Eu não poderia ficar sem ela, então eu disse que podia morar só.

— Ela não te convidou para morar naquela mansão?

— É claro que me chamou. Ainda chama na verdade, porque ela diz que esse apartamento é ridículo e que qualquer quarto na mansão tem o dobro desse tamanho – E o ouviu concordar brevemente — Deus! Mais um para o time “você-precisa-de-mais-espaço”

— Eu ainda tô em choque que você é muito rica e vive num apartamento menor que um quarto, com um carro tão velho que não paga nem os impostos mais, e ainda por cima come ramén o tempo todo. – Ele disse sendo completamente honesto enquanto a via rir sem deixar de fazer aquele carinho gostoso por dentro de seus cabelos.

Sakura tinha uma aura divertida enquanto explicava sobre como foi morar só. Disse que poderia ter ido morar com Ino, mas na época achou que seria um estorvo e também que achava o estilo de vida dos Yamanaka um pouco estravagante, afinal ela ainda tinha a mentalidade da garota de Hokkaido que não tinha dinheiro pra ter Saab na garagem.

Também explicou que apesar de terem muita grana, seus pais sempre escolheram um estilo de vida mais simples, e por isso eles moraram muito tempo numa casa de apenas 3 quartos com aquele carro velho do seu pai na garagem, e que era o suficiente.

Quando foi morar só, primeiro ela teve que se morar super responsável, e quando os convenceu, seus pais resolveram comprar um apartamento minúsculo como garantia que ela jamais daria festas. Era um apartamento até maior do que esse que ela morava atualmente, mas acabou se mudando por conta de alguns problemas e foi vaga sobre isso.

Disse também que ganhava uma mesada mensalmente e tinha um cartão, mas que nunca sabia o valor da fatura porque nunca precisou se preocupar com isso, e que morava num lugar tão pequeno porque era mais fácil de limpar e ela não queria uma diarista mexendo em suas coisas.

— E vocês tem que parar de encrencar com meu carro – Ela disse com um falso tom de incomodo — Ele é um clássico! Edição limitada!

— Céus... – Ele riu — Então você é uma rica disfarçada.

— Agora que você sabe do meu segredo, vai tentar dar o golpe do baú? – Perguntou olhando para ele com a expressão de quem está totalmente desconfiada. Ele a beijou rapidamente.

— Sim – Declarou — Você é tipo minha... Sugar Mom?

Ela gargalhou enquanto o empurrava de leve, o ouvindo pedir os mais caros eletrônicos que tinham no mercado, fazendo uma lista de coisas que ela deveria dar para ele.

— Olha, eu até posso ter o dinheiro, mas não tenho idade pra ser mom. – Falou rindo — E não é como se você precisasse de uma. – Se olharam por um longo momento — Eu sei do seu segredo, Hatake.

— Que segredo? – Perguntou inocente sem conseguir segurar sua expressão diante da pressão divertida do olhar dela.

— Você é produtor de arroz – Ela disse por fim ainda mantendo seu olhar.

— Eu?????

— Sim... Você. – Ela disse acusando com aquela voz cheia de uma certeza calma — E digo mais, você transporta arroz com as Transportadoras Haruno! – E riu dizendo o nome da empresa com uma voz de locutora.

— Como você descobriu? – Kakashi perguntou rindo.

— Ino – Respondeu como se explicasse tudo, mas percebeu o olhar confuso dele diante do nome — Ela tem uma lista de possíveis investimentos e sua produtora de arroz tá nela – Riu brevemente com o olhar de choque dele. – E sobre você transportar com a gente foi um chute. – Deu os ombros.

— Ela quer comprar minha fazenda?

— Você quer vender?

— É por isso que ela é tão legal comigo, não é?

Viu Sakura rir e a agarrou pela cintura, girando-a na cama para ficar por cima dela e a beijar lentamente enquanto ela não conseguia desmanchar o sorriso do rosto. Arrumou um fio de cabelo que insistia em ficar bem no meio do rosto feminino e a beijou novamente, mais rápido, mais tranquilo.

— Diga a senhorita Yamanaka que minha fazenda não está à venda – Disse como um homem de negócios — É o futuro dos nossos filhos.

— O futuro nos nossos filhos é a Transportadoras Haruno. – Ela disse olhando para ele em desafio.

— Tudo bem, sua empresa com certeza vale mais – Cedeu rapidamente e ela apenas riu, empurrando-o para o lado e se deitando confortável no peito dele.

— No primeiro dia você tava falando em casamento, agora em filhos – Sakura falou rindo — Daqui a pouco vamos ser avós.

— Quero ter muitos netos.

Você não existe – Ela disse rindo um pouco mais enquanto ele entrelaçava suas mãos, sentindo os dedos femininos tão pequenos se perderem entre os deles. Vendo a pulseira balançar no punho fino enquanto levava a mão dela aos lábios para depositar-lhe um beijo calmo.

Eles ficaram em silêncio por um longo momento e Kakashi encarava aquelas fotos que seguiam passando interminavelmente. Tantas pessoas que ele não conhecia, lugares que ela esteve, momentos que viveu. Kakashi tinha apenas uma foto ali, mas sentia que queria ocupar um grande espaço nesse roll de lembranças que decorava seu quarto.

Beijou o topo da cabeça dela suavemente, recordando os momentos em que esteve sozinho em sua casa pensando que queria estar com Sakura daquele jeito, sonhando em fazer tantas coisas com ela, desde as mínimas até as grandes. Queria comer com ela todos os dias, conversar sobre qualquer coisa como estavam fazendo, levá-la a todos os lugares possíveis, viajar e... Ele queria conhecê-la melhor, queria amá-la como ela merecia ser amada, queria mostrar a ela o quanto tudo era tão intenso para si como nunca antes sentiu.

E mesmo depois de todo o caos que foi seu dia, Sakura ainda estava ali lhe provocando sorrisos, e ele só conseguia ser grato ao universo por tê-la colocado diante de si.

— É estranho pensar que a uma semana eu estaria desligando a câmera nesse momento depois de falar com você por horas – Disse com um sorriso nostálgico — Parece que já faz tanto tempo... E sempre que eu deitava depois de tudo, eu ficava me perguntando o que diabos eu estava fazendo. Apaixonada por um superfã? Por favor... – Riu balançando a cabeça — Mas no final das contas eu sempre ia dormir pensando em você.

O homem a olhava com serenidade. Sakura falava sem olhá-lo, deixando sua mão gesticular um pouco enquanto as palavras apenas saiam de acordo com as memórias. Ele sorria diante de sua contemplação, de como as palavras o faziam ter cada vez mais certeza das coisas que estavam acontecendo.

Por um segundo, Sakura pareceu considerar alguma coisa com leveza. Olhou para ele com seus orbes verdes brilhando em sua esperteza enquanto girava para ficar apoiada sob os cotovelos na cama, o olhando como quem está maquinando alguma coisa.

— Kakashi – Ela disse com sua voz manhosa — Eu sou uma camgirl.

Ele sorriu enquanto colocava um braço por baixo da cabeça, empertigando-se para ter uma melhor visão dela, incapaz de dizer qualquer coisa além de um simples...

— Eu sei.

E havia paz naquele olhar que era trocado, com uma cumplicidade que se construía inevitavelmente. Ela era a camgirl por quem ele se apaixonou.

— Eu pensei sobre isso e, bem – Parecia lembrar com certo constrangimento, mas não estava desistindo de falar o que queria — Eu decidi que não quero abrir mão disso, e estava pronta para uma briga – Disse sorrindo divertida, e Kakashi apenas se dispôs a ouvir, porque ela estava tão longe de terminar com aquele sorriso esperto nos lábios e seu olhar tão certeiro — Mas agora, aqui com você, eu sinto que gosto mais disso.

— Antes de saber que você é podre de rica, eu achava que você se sustentava com o site. – Confessou vendo-a rolar os olhos com humor enquanto resmungava que o dinheiro era bom, mas que no final das contas ela doava tudo para alguma instituição. Na verdade, Kakashi se sentia até aliviado da moça não depender daquele tipo de atividade para sobreviver, e vendo-a falar daquela forma ficava nítido que Healer era algo que surgiu da própria vontade dela — Você não precisa parar se não quiser. Eu vou morrer de ciúmes, mas e daí?

— Mas eu não disse que ia parar – Disse daquele jeito petulante, e ele só conseguiu abrir um sorriso completo, porque ela era linda exatamente do jeito que era. Era linda fazendo o que fazia. E ele não mudaria nada nela. — Só estou dizendo que estou disposta a fazer concessões – Disse maneando a cabeça.

— E no que você pensou? – Perguntou percebendo que ela o avaliava, mordendo aquele lábio inferior como se estivesse pensando em algo engraçado.

— Bem, pra começar, acho que posso diminuir de dois dias para um. – Explicava com uma voz quase conciliativa — Só no sábado a noite.

— Não, sábado não – Kakashi a interrompeu — Porque eu quero poder persuadir você a dormir lá em casa nos finais de semana – Explicou sem nenhum pudor enquanto ela ria de sua insolência — Sexta, sábado e domingo.

— Céus! Você quer me monopolizar! – Disse num tom de falsa acusação.

— Culpado! – Ele rebateu sem nem pensar numa justificativa, não precisava de uma, e por isso ela apenas balançou sua cabeça negativamente com aquele humor leve que estava no ar.

— Tudo bem, quinta a noite está bom? – Ela perguntou recebendo uma confirmação de cabeça como resposta — Viu, estamos chegando a algum lugar.

— No que mais você pensou? – Ele perguntou sentindo que ela não tinha terminado.

— Hm... – E ficou um pouco mais séria, com as bochechas mais vermelhas, desviando seu olhar do dele para a parede além — T-talvez eu possa colocar uma regra de não-penetração nas lives – Disse um pouco mais baixo, um pouco mais depressa — E ai eu não colocaria nada em mim mesma. Sem masturbação. – E olhou para ele por um segundo, e ele só queria ter uma câmera para fotografá-la naquele momento. Tão vermelha. Falando de sexo daquele jeito, parecendo uma adolescente. — M-mas eu ainda usaria a boca pra coisas, e dançar. Eu adoro dançar.

— E eu adoro ver você dançar – Respondeu levando sua mão livre ao rosto dela, tocando sua bochecha com ternura — Sinto que estou ganhando nessa barganha sem nem me esforçar – Falou recebendo aquele olhar charmoso dela, como se o chamasse de convencido — Mas eu tenho um pedido.

— Um pedido?

— Sim. – Disse se empertigando, puxando-a para seus braços de novo, aconchegando-a ali — A primeira vez que vi você, eu fiquei irritado com seu chat e seus fãs... Queria sua atenção toda pra mim, e foi por isso que pedi um show privado. Eu queria você pra mim desde o começo. E aquele espaço onde só havia eu e você, foi ali que eu me apaixonei... E pra ser sincero, me incomoda muito que alguém possa ocupar aquele espaço. Alguém que não seja eu. Então, Sakura, você pode... – E a olhou deixando as palavras irem embora.

Na verdade, enquanto ela falava todas aquelas coisas, enquanto estavam ali completamente nus falando sobre a vida e qualquer coisa, enquanto se amavam com olhares e gestos no ambiente que era só dela, Kakashi conseguia perceber tudo tão claramente. Quantas vezes ele não foi dormir pensando nela? Era o mesmo para ele.

E ela tinha razão, já parecia que faziam séculos que estavam juntos daquela forma, porque tudo era tão fácil e natural. Estar com ela era tão normal, tão comum, e ao mesmo tempo era extraordinário. E ele sentia todas essas coisas se misturarem, sentia que a queria daquele jeito e de todos os outros jeitos também.

Naquele dia, meses atrás, Kakashi encontrou uma camgirl sexy e misteriosa que lhe fez gozar como nunca antes. Ele foi incapaz de esquecê-la, foi incapaz de ignorar todos os sinais, e seus pensamentos giravam sempre em torno dela, do dia em que a veria novamente, se sentiria as mesmas coisas quando se encontrassem novamente.

Ela ainda seria tão sexy? Ainda seria tão interessante?

E a resposta era sempre sim. Sim... Ela era sexy e interessante. Ela era ousada e conversava sobre qualquer coisa, como se tivesse uma vasta experiência de vida ainda que parecesse tão jovem. Sakura, o nome pelo qual escolheu chamá-la, porque ela tinha todas aquelas cores, e céus! até seus pelos eram rosas.

Sem falar no olhar matador que aos poucos se transformavam em olhos divertidos. E ela tinha essa mania de revirar os olhos por qualquer coisa, morder os lábios quando pensava em algo, passar as mãos nos cabelos quando deixava algo para trás.

Kakashi foi atrás dela por sexo, e encontrou coisas que ele nunca esperava ter.

Ele encontrou muito mais do que podia imaginar.

Ele encontrou Healer.

Encontrou Sakura.

E assim que pode, ele a fez sua.

Sua Sakura, sua Healer, sua camgirl.

— Feito – Ela respondeu como quem acaba de fechar um contrato — Os shows privados são todos seus, e só seus. – Disse sorrindo.

E só restava a ele toma-la em seus braços num longo e caloroso beijo, sentindo-a sobre si com todo seu calor, com toda sua pele, com seus sorrisos e sentimentos.

— Agora que resolvemos isso – Ela disse ainda em cima dele, dando mais um beijo breve nos lábios masculinos — Só tenho mais uma pergunta para você.

— Então a faça de uma vez, mulher – Respondeu ainda sentindo aquele clima leve o contagiar, deixando suas mãos passearem pelas costas femininas enquanto ela fazia aquele suspense barato.

— Quer namorar comigo?

— Eu não acredito – Ele falou agarrando-a com humor, enchendo-a de beijos longos, curtos, molhados e estalados... De todos os jeitos — Você estragou minha surpresa! Eu ia te chamar pra ir ao Hanami na segunda, lá no parque. Íamos ver as flores de cerejeiras desabrocharem e aí eu te pediria em namoro. – Explicou vendo-a rir.

— Então retiro minha pergunta – Falou como se resolvesse tudo.

— Não pode! – Retrucou — Eu vou ficar achando que tem algo errado comigo se você o fizer.

— Então responde durante o Hanami – Ela disse como se estivesse rindo de uma criança fazendo birra por nada.

— Não, aí você ficaria ansiosa – Kakashi dizia — Não tem jeito, você estragou a surpresa.

— Desculpe.

— Já falei para não pedir desculpas quando você não se arrepende.

— Então retiro minhas desculpas.

Eles riram enquanto aquela conversa estranha, divertida e leve se prolongava levando-os a lugar nenhum. Kakashi a puxou para mais um beijo, se deixando relaxar na boca tão gostosa de Sakura, que escapou dos seus lábios apenas para cobrar uma resposta para sua pergunta num sussurro contra o seu ouvido.

Quer namorar comigo ou não?

Kakashi a encarou por um momento naquele desafio barato que tinham em momentos tão aleatórios, e dessa vez era ele quem perdia. Dando aquele sorriso para ela, aquele radiante que contagiava tudo e todos.

— É claro que eu quero – Respondeu finalmente recebendo um beijo estalado da mulher como recompensa.

— Finalmente. — Resmungou com uma reclamação e ele riu.

Sim, finalmente.

Finalmente.

Ficaram naquele clima conversando por mais longas horas, até que o dia começava a clarear sem que percebessem. Sakura teve que se levantar para apagar as luzes e Kakashi a recebeu na cama com o melhor dos abraços. Dormiram em algum momento se se preocuparem com nada no dia de amanhã, e antes de ceder completamente ao sono que o dominava, Kakashi viu na prateleira a luz do seu celular acender numa obvia chamada perdida, mas ele não se importou.

O que quer que fosse, esperaria mais um dia.

Dormiu finalmente sonhando com Sakura.

.

.

.

 

 


Notas Finais


E AI MENINES TUDO BOM?
Demorei? Sim, não?

Gente, eu trabalho com política HAHAHAH e tá na época das eleições. Tá complicado postar, então é provavel que eu vá ficar um tempo ai meio ~away~, mas a fic continua hein? Vocês sabem que meus capítulos são LONGOS PRA CARALHO, então eu demoro um pouco mais pra produzir, porém não se preocupem que assim que termino vem pro site (revisão pra que?) por isso não me abandonem!

Continuem comigo, mandem reviews! Pequenas, grandes, super grandes, médias, super curtas, mandem reviews! HAHAHAHA

MAS E AI, GOSTARAM?

Próximo capítulo tem casais secundários pra todos os gostos e TALVEZ SasuNaru venha com força <3 (MAS É TALVEZ)

Comentários são bem vindos e fiquem comigo!!!


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