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História Caminho da Discórdia - Culpa


Escrita por: sttardust

Notas do Autor


oi! postei rapidinho dessa vez!

bora ler ♡
boa leitura!

Capítulo 19 - Culpa


P.D.V. Guilherme

Eris, Beth e eu subimos pelo elevador até o sexto andar, onde eu descubro ficarem as salas da supervisão e direção. Seguimos até uma sala de número sessenta e um. Em frente à porta fechada está um homem de roupa social, este careca e de olhos claros. Eris fala com ele assim que nos aproximamos.

— Jean, onde está o Zac?

— Ele pediu pra vocês esperarem aqui. Não saiam e nem entrem.

— Mas como está o Seu Augusto?  — Eris pergunta preocupada.

Ele a ignora sem o menor dó. Só entra pela porta, deixando-nos sozinhos, tão rápido que nem consigo ver o que tem lá dentro. Eris caminha até a lateral do corredor, onde tem algumas cadeiras de espera. Ela se senta na primeira e eu, na última. Beth ocupa o espaço entre nós.

Não falamos nem uma palavra.

Apoio minha cabeça na parede. Tento respirar fundo por cima da máscara, mas me sinto sufocado e acabo tirando-a agora mesmo. Fecho os olhos. As escolhas que fizemos começam a pesar e a me atordoar. Lembro de tudo que aconteceu naquele leito, desde os primeiros sinais até as últimas consequências, e como nós estávamos com medo do pior. Só queria saber como ele está, porque até agora não me sinto nem arrependido nem certo do que fiz.

Eris, na mais distante cadeira, parece tensa, balança uma perna sem parar. Mas fora isso, nenhum outro sinal. Nenhum contato. Passam vários minutos e nem olhamos um pro outro. Mas não é como se estivéssemos com raiva; pelo contrário, estamos igualmente tensos e ansiosos. Estamos quase na mesma condição. Ela mais responsável, e eu mais culpado.

Os minutos vão se arrastando e nós continuamos aqui sem trocar nenhuma palavra. E ninguém também vem falar conosco. Minha cabeça dói. Eu fico prestando atenção nos detalhes deste andar e, bem diferente lá de baixo, aqui há muita movimentação dos enfermeiros, eles ficam entrando e saindo das várias salas sem parar. Se fosse assim lá embaixo também, tudo seria diferente. Por que foi tão difícil fazer alguém chegar lá?

Mais um tempo se passa, sinto meu corpo ficar mais cansado. Ainda não sei que horas são. Eris e eu ainda não fizemos nem um contato visual. E Beth, parecendo no limite do incômodo, rompe o silêncio.

— E se tiver sido hemorrágico? — pergunta, olhando com medo para mim.

Estava tentando não pensar nisso.

— Não foi. — Ainda tento parecer seguro.

— Esse vai ser o fim da minha carreira que ainda nem começou! Que maldição de lugar! — reclama.

— Do que vocês estão falando? — Eris soa confusa.

— Se o paciente teve derrame hemorrágico, terminamos de matar ele com a medicação — Beth comenta com uma frieza invejável.

Antes que ela reaja, aquele homem chamado Zachary surge em nossa visão, vindo de uma porta no fundo do corredor. Ele agora já tem uma capa transparente por cima da roupa social preta, e usa também luvas transparentes. Ele para em nossa frente e pigarreia. Eris se levanta. Beth e eu não hesitamos em fazer o mesmo.

— Zac, como ele está? — Eris pergunta.

O homem olha pra mim sério. Em seguida, parece respirar aliviado.

— Fizeram uma tomografia, e constataram o AVC isquêmico — ele revela. — Já o levaram para o centro intensivo para continuar o tratamento. Vamos esperar alguns dias para diminuir a dosagem e ver como ele vai reagir e acordar. Mas acreditamos que, por conta do atendimento… — essa parte ele fala olhando pra mim. — As sequelas não serão tão graves.

Beth e eu nos entreolhamos. Foi isso mesmo que acabei de ouvir? Seu Augusto pode não ficar tão mal por conta do medicamento que usamos?

— Qual é o nome do seu colega, Eris? — ele segue olhando pra mim.

— Meu nome é Guilherme — eu mesmo respondo.

— Sabemos que não foi uma situação ideal, mas dentro das circunstâncias… Vocês tomaram uma atitude correta e corajosa. Parabéns, Beth, e parabéns, Guilherme.

Fico incrédulo. Cada parte do meu corpo se arrepia, eu sinto frio na espinha.

— Então está tudo bem? — Eris pergunta para confirmar, parecendo tão surpresa quanto eu.

— Com o paciente sim, mas fora isso, não, né, Eris? Está tudo errado! O visitante que teve que salvar o paciente? Nem você estava lá!

— Zachary, eu estava atrás de você, e justamente pra falar sobre isso! Nenhum setor respondeu ao meu pedido de ajuda!

Ele passa a mão pelo rosto enquanto ela fala.

— Já chega! A minha cabeça está explodindo de tanta coisa que está acontecendo — ele a interrompe. — Você e eu teremos uma conversa séria amanhã sobre tudo. Combinado?

Eris bufa.

— Sim, senhor — concorda, mas não parece nada satisfeita.

— Como nossa equipe ainda está incompleta, poucos estão sabendo do ocorrido. Seria um escândalo se soubessem que um paciente quase veio a óbito se não fosse por dois estudantes. Capaz até de perdermos verba. Por favor, vamos manter toda essa situação em sigilo. Vocês ouviram?

Que cara babaca. Enquanto Beth e Eris confirmam, eu só aceno com a cabeça.

— Vamos suspender essas visitas da universidade enquanto não arrumamos essa bagunça. — Ele olha pra mim. — Você será muito bem vindo se quiser se integrar ao nosso internato, mas fora isso, é melhor que não apareça mais por aqui. Então, pense nessa proposta.

Que ótimo! Essa informação só confunde mais o que já estava tão confuso. Eu nem consigo pensar muito no que ele acaba de dizer, nem sentir nada ou reagir. Como ele mesmo disse, é muita coisa acontecendo.

— Sim, senhor.

— Então já está tudo acertado — ele finaliza. — Vocês três estão liberados, já até passou da hora do serviço. Boa noite!

— Boa noite! — nós três respondemos juntos, mas sem nenhuma energia.

Descemos pelo elevador e depois pela escada até o segundo andar, onde ficam os vestiários. Beth se despede de mim com um aperto de mãos antes de seguir para seu setor. Ficamos só Eris e eu, ainda sem nos falar ou olhar. Eu entro no vestiário privativo masculino e ela segue até o feminino.

Tiro as roupas do uniforme e coloco as minhas de volta, sendo uma camisa preta, calça jeans escura e tênis brancos. Coloco as roupas sujas num cesto ao lado do armário. Depois, pego minha mochila da faculdade e a penduro em meu ombro. Deixo tudo arrumado como estava antes e saio do vestiário.

Ao sair pela porta, deparo-me com Eris na frente do vestiário, encostada na parede, me esperando. Ela também usa agora sua roupa da faculdade, uma saia longa preta que cobre até seus pés e uma pequena blusa branca com alças finas. Leva sua mochila nas costas também. Nós trocamos um olhar rápido. Conheço-a há pouco tempo, mas sei que está tão confusa e cansada quanto eu.

— Posso te levar pra casa hoje? — pergunto.

As coisas estão tão estranhas que dessa vez ela aceita sem hesitar. Descemos as escadas um atrás do outro e saímos juntos pela frente do hospital. Vamos até meu carro estacionado e entramos ao mesmo tempo.

Deveria ter aberto a porta para ela?

Dirijo pelas ruas de paralelepípedos, iluminadas apenas pelas luzes douradas dos postes. Nós continuamos sem trocar palavras, mas esse silêncio não é constrangedor ou tenso, mas na verdade parece fazer bem para nós dois.

Demora cerca de dez minutos até eu estacionar em frente ao dormitório feminino. Dessa vez não paro na praça no início da ladeira, mas bem na porta, sem me importar se aquela vigilante rabugenta está ali espiando. Nem olho naquela direção para certificar. Não me importo.

— Pronto. Está entregue — digo assim que desligo o carro.

— Obrigada.

— De nada.

Ela olha diretamente pra mim. Seus olhos possuem alguma emoção diferente, parecem emocionados e intensos enquanto vagueiam pelo meu rosto.

— Desde que tudo aconteceu eu ainda tô organizando meus pensamentos… Pensando no que devo falar pra você... Mas eu não consegui me encontrar ainda — ela fala com a voz fraca.

— Eris, você nem imagina como eu tô confuso… — Eu suspiro. — Eu não sabia se devia fazer aquilo. Não queria te comprometer.

— Não comprometeu. Meu Deus, ainda bem que você estava lá!

— De certa forma… — Dou de ombros.

— Obrigada por não ter se omitido. — Ela põe uma mecha do cabelo por trás da orelha enquanto fala olhando pra baixo. — As coisas não eram pra ser assim. Eu não queria te colocar naquela situação, mas também não tinha ideia que ia chegar nesse ponto.

— A culpa não foi sua — falo sério. — De nada. Entendeu? — pergunto, e espero seu aceno para prosseguir. — Estou abismado em como você atura aquilo tudo sozinha.

— É uma boa pergunta. — Ela ri de nervoso e funga o nariz uma vez.

Respiro fundo, olhando pensativo para o lado de fora da janela. Solto uma risada quando tenho um pensamento, e compartilho com ela:

— Pelo menos meus dias colado com meu pai me serviram pra alguma coisa.

Ela olha pra mim mais uma vez.

— Seu pai te faz ir trabalhar com ele? — pergunta divertida.

— Ah, sim. Muito. Principalmente nas férias. — Relaxo minha postura no banco. — E eu reclamava, porque meus amigos estavam na praia e eu naquele hospital vendo pessoas doentes ou morrendo. Mas hoje… Parece que tudo fez sentido. Finalmente.

Ela assente.

— Você tem muito privilégio — fala calmamente. — E se usar isso a seu favor, da forma certa, você vai longe. Só tem que encontrar o seu caminho de verdade.

— Eu sei. — Olho fixamente para o volante. — Eu juro que quero encontrar.

— É uma pena que ele tenha suspendido as visitas. Eu fui lá por quase um mês antes de assinar o contrato. — Eris deita sua cabeça no banco do carro, olhando diretamente para mim. — Não é justo que você tome essa decisão assim. Você viu bem as condições e os problemas que temos lá. Tem muita coisa errada naquele lugar. Eles fingem que não existimos ou que sempre podemos nos virar sozinhos, até que uma merda dessa acontece. Aí a culpa cai toda em nós.

— Será que alguma coisa vai mudar depois disso? — pergunto e olho pra ela. — Poderia ter acontecido uma tragédia ali, mas o cara tá preocupado em manter sigilo para não perder verba.

— Isso é pouco. Ouvimos muito pelos corredores. Ah, “o cara” se chama Zachary. Ele é o supervisor. Meu chefe.

— Hm. Não gostei do jeito que ele falou com você.

Ela segura uma risada.

— Você ainda não viu nada! Ele é um nojo de pessoa.

— Tá, mas ele estava errado. Agindo como se a culpa de tudo fosse sua.

— Eu sei…

— Queria que ele te visse como eu vi, sabe? Correndo o tempo todo, falando com todo mundo. E em todas as vezes sendo gentil e paciente. Se ele te valorizasse como deveria, as coisas não estariam tão ruins.

Ela sorri fraco pra mim e olha para o chão envergonhada.

Os segundos de silêncio voltam a se instalar entre nós. Ficamos quietos. A rua lá fora também está silenciosa, quase não há ninguém circulando. A praça no início da rua tem apenas alguns vendedores já se preparando para irem para casa. Olhando para cima, vejo uma linda lua cheia no céu negro, redonda, prateada e brilhante. Sua luz chega a refletir nos vidros do carro.

Então eu olho novamente para ela, e ela para mim.

Levo minha mão aberta até sua direção. Ela olha pra mim, confusa e hesitante. Vejo o brilho da lua em seus olhos quando se dirigem a mim. Eu sorrio fraco e ela me retribui. Em seguida, segura na minha mão. Aperto as duas, deixando-as unidas e entrelaçadas. Sua pele está gelada, mas mesmo assim, é como se uma energia se instalasse a partir do nosso toque. Posso jurar que nunca senti algo parecido antes.

— Obrigado por tudo isso — digo. — Sei que estava precisando de ajuda lá, mas me convidou pra me ajudar também. Mas depois do que aquele cara disse hoje… Que não posso ir se não for ficar em definitivo… Eu preciso pensar.

— Não precisa responder agora. Não se pressione por causa dele.

Respiro fundo e aliviado, percebendo que ela entende.

— Você vai estar sozinha amanhã de novo?

— Não, não se preocupe. Hoje o pessoal estava em  um evento… Amanhã vai ser mais tranquilo, eu espero. — Ela sorri fraco.

Respiro fundo, impressionado com tudo isso. Mas uma vez, vários pensamentos me rodeiam, mas o principal agora é o de gratidão a essa garota. Em tão pouco tempo, ela me fez perceber tantas coisas. Virou minha vida do avesso. Deixando todo o meu interesse prematuro de lado, falando sério, ela é uma pessoa incrível.

— Eu posso conversar melhor com você amanhã? — pergunta.

Aperto os olhos em dúvida:

— Como assim?

— Surgiu uma dúvida maluca na minha cabeça há uns dias… E eu queria sumir com elas de uma vez.

— Dúvidas? Pode falar agora…

— Não, não. — Ela balança a cabeça. — É um assunto meio sério e minha cabeça não tá funcionando direito agora. — Seus olhos voltam a encontrar os meus. — Pode ser amanhã?

— Quer almoçar comigo? — Tomo coragem e peço de uma vez. — Antes de você pegar no serviço?

Ela parece pensar por um instante.

— Tá. Vamos… limpar os pratos.

Mesmo sem entender, eu rio de sua forma de falar, e ela me acompanha. E fica óbvio que nós dois precisávamos rir um pouco. Chega a ser aliviador.

— Tô bem cansada, preciso dormir.

— Você tem que descansar mesmo.

Eris abaixa seu olhar até nossas mãos ainda juntas e calmamente separa a sua da minha. Em seguida, olha pra mim, sorri fraco e se despede:

— Valeu pela carona. — Solta o cinto de segurança. — Até amanhã!

— Tchau, até amanhã!

Observo todos os seus passos sem desviar o olhar, talvez sem nem piscar. Ela deixa o carro, batendo a porta sem nenhuma força, e vira de costas para mim, seguindo em frente até entrar pelo portão do dormitório. Ela continua andando em reta, em direção à porta de entrada. Eu gostaria de acompanhá-la, mas sua figura some na escuridão.

Olho para frente e suspiro. Não sei o que aconteceu aqui. Talvez não tenha sido nada. 

Nada pra ela, porque pra mim só me causa mais uma emoção confusa, mas que não me larga de jeito nenhum. Se eu me concentrar bem ainda consigo sentir o cheiro do seu perfume e a sensação de sua mão pequena e gelada entrelaçada com a minha. Quem diria que depois desse dia maluco, eu terminaria conseguindo fazê-la aceitar dois convites meus?! Consigo até sentir um risco de felicidade queimar no peito. A sensação de estar junto a ela é única. Ela não sabe, mas já está se tornando muito especial para mim.

Acordo dos meus devaneios ao bocejar. Giro a chave e ligo o carro novamente. Tenho que dirigir até o dormitório masculino, que fica a menos de cinco minutos daqui. Tenho primeiro que descansar, me recuperar, e só depois pensar com calma em tudo que aconteceu hoje, e também sobre a permanência ou não no internato.

Por enquanto tento me concentrar somente no trânsito. Dirijo com calma pelas ruas vazias e chego rapidamente no dormitório.

Espero que a noite seja longa.


Notas Finais


guilherme ainda tá achando que a eris só queria ajudar ele, mas até que enfim ela pediu pra conversar com ele, GLORIFICA IGREJA

sobre os últimos capítulos, o gui com certeza tá investindo nessa nova liberdade dele, e por mais que a eris só quisesse uma proximidade forçada pra ver quem ele é de verdade, é óbvio que isso tudo vai mexer com a cabeça dela.

por hoje é só!

O PRÓXIMO CAPÍTULO É TUDO!
posto o mais rápido que puder. beijos!!!


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