1. Spirit Fanfics >
  2. Caminho de Narciso >
  3. Capítulo 1 -

História Caminho de Narciso - Capítulo 1 -


Escrita por: NaboInigualavel

Notas do Autor


Olha só quem voltou :))))

Capítulo 2 - Capítulo 1 -


Fanfic / Fanfiction Caminho de Narciso - Capítulo 1 -

 

À medida em que via as paisagens passarem com rapidez pela janela, Wangji sentiu o vento gelado do inverno bater no rosto, lhe trazendo uma corrente de paz por seu corpo que não sabia explicar. Estava tão absorto observando a natureza do interior, que pouco se importou em prestar atenção no que Lan QiRen estava dizendo.

— Você ouviu o que eu disse, garoto? — O Lan mais velho repousava na poltrona do outro lado da cabine. Haviam saído da casa de Wangji a dois dias. Dois dias que a cauda azulada estava escondida dentro da calça folgada de moletom que usava, enrolada no meio das duas pernas de Wangji. Segundo Lan QiRen, aquele era o último trem que pegariam antes de chegarem a Sichuan. Onde Wangji ficaria.

— Não senhor. Desculpe

Lan QiRen respirou fundo, controlando a paciência 

— Estava dizendo que pode soltar sua cauda aqui. É uma cabine reservada. Ninguém irá entrar. 

Wangji o encarou por alguns segundos, estudando o rosto do outro Lan, queria confirmar se poderia realmente fazer aquilo. 

Tendo a confirmação do outro, Wangji olhou para a porta da cabine rapidamente enquanto levava a destra para o cós da calça, abaixando brevemente, sentiu a cauda escorregar entre as pernas de forma lenta e sozinha, até que saísse por inteiro. Arrancando um suspiro de alívio de Wangji enquanto massageava a pobre coitada dolorida. 

O silêncio voltou a reinar dentro da cabine. Lan QiRen estava lendo quieto um de seus livros enquanto Wangji estava novamente olhando a janela.

Apesar da face neutra e sem emoções, Wangji estava extremamente feliz. Em dois dias tinham atravessado metade do país e visto coisas que o Lan mais novo nem poderia imaginar. O trem poderia ser velho e barulhento, mas proporcionava ao Lan paisagens tão belas quanto as fotos de seus livros.

O misto de alegria e ansiedade ainda pairava em seu peito. Sabia que não moraria com Lan QiRen ou com alguma outra família, então para onde estava o levando? Existiam centenas de orfanatos em Pequim para se escolher, porque escolher justo um do outro lado do país? Passara tanto tempo escondido que Wangji não duvidaria se o Lan mais velho estivesse o levando para algum abatedouro ou laboratório no interior. Ou talvez Lan QiRen estivesse apenas tentando esconder mais ainda a aberração que era o parente.

Bom, em breve, Wangji descobriria.

Voltando a prestar atenção na paisagem, viu a natureza ser tomada aos poucos pelos humanos. Casinhas pequenas construídas próximas a estrada onde poucas pessoas circulavam. Logo, o número de casinhas foi aumentando gradativamente enquanto circulavam uma das montanhas, já era possível ouvir carros e mercadores gritando ao longe enquanto entravam na pequena cidade.  

Sentindo o trem frear bruscamente, Wangji bateu com força os chifres na parede do vagão, fazendo a dor forte e aguda se alastrar por sua cabeça inteira, fechando os olhos com força.

— Pegue sua mala e esconda sua cauda. Estarei na estação te esperando. — Lan QiRen disse,  guardando o livro que lia por dentro do paletó, checando o corredor do vagão antes de sair e deixar o parente sozinho. 

Wangji ficou alguns segundos acariciando o local do impacto, esperando a dor passar para poder se arrumar. Colocando novamente a cauda por dentro da calça e ajustando ao corpo, suspirou aliviado por não precisar esconder os chifres também. Já era torturante demais deixar a cauda escondida durante dias.

Agarrando a mochila no compartimento acima das poltronas, a colocou nas costas e soltou o longo cabelo preso, respirando fundo uma última vez antes de encarar mais uma vez o Lan mais velho e a realidade entediante viveria trancafiado nos próximos anos.

Nada muito diferente do que viveu sua vida inteira.

Desviando o olhar para a janela da cabine, Wangji observou a floresta que cercava a cidade. Certamente era uma cidade bem no interior do país. Toda aquela paisagem lhe trazia uma imensa calma, o silêncio e a tranquilidade eram mistos que sempre acompanhavam o jovem Lan.

Analisando a natureza que o cercava, Wangji pôs os olhos no ser que o observava, gelando seu sangue. Alto, de pele clara, roupas rasgadas e sem olhos. Não era humano e tampouco um animal. Recuou quando a criatura abriu lentamente sua enorme boca, deixando bem a mostra seus dentes animalescos e sua língua em forma de tentáculo.

O sangue de Wangji gelou. Pois apesar da criatura não possuir olhos, Wangji sentia que o ser o encarava diretamente, como um lobo encara o cordeiro antes de devorá-lo. Os espetos no lugar das mãos e dos pés logo cravaram na terra molhada, como se estivesse se preparando para saltar e atacar o trem velho e enferrujado.

Virando para trás, Wangji quis confirmar se ainda havia pessoas dentro da locomotiva. E por muita sorte, o trem ainda permanecia cheio. Voltando a atenção para a floresta, viu que a criatura já tinha partido, porém, no local que estava antes, todas as flores e insetos haviam murchado e morrido.

Ainda muito atordoado, Wangji saiu depressa da cabine e adentrou o corredor do vagão, esbarrando em poucas pessoas enquanto seguia o fluxo para fora da locomotiva.

Saindo rápido e se encontrando com o parente que o esperava, com sua natural cara de impaciência, Wangji respirou um pouco mais aliviado.

— Porque demorou tanto? 

— Desculpe. 

— Que não aconteça novamente. A senhorita é extremamente pontual.

— Hm…

— Venha. A Casa é aqui perto — Lan QiRen disse, sendo acompanhado pelo parente à medida que saíam da estação. Wangji olhou novamente para o trem, sentindo o medo correr pelo sangue apenas pensando na criatura novamente.

Ainda mantendo o olhar baixo, Wangji notou poucos olhares em cima dos dois turistas, a maioria vinha de pessoas idosas espantadas e outros de crianças curiosas. Porém, ninguém lhe dirigiu a palavra enquanto atravessavam a minúscula cidade, todos voltaram a seus afazeres normalmente. Até mesmo uma coruja que estava em cima do telhado de uma das casas pareceu indiferente com a chegada dos dois visitantes. Tão indiferente que logo voou para longe .

Realmente, cerca de 15 minutos depois, Wangji e QiRen já estavam diante da floresta do outro lado da cidade. 

— A partir daqui, você segue sozinho, garoto — Lan QiRen disse, arrumando o paletó no corpo que já se virava para ir embora

— Que ótimo… — Wangji resmungou, preferiria não questionar ou contrariar o homem mais velho — Como eu sei que chegarei em algum lugar?

— Siga a trilha até o pântano. Não demore muito, a senhorita não gosta de atrasos — QiRen disse antes de adentrar novamente a cidade.

Respirando fundo, Wangji entrou na mata, se deparando instantaneamente com uma trilha abandonada e escondida. A vegetação já tinha tomado conta de tudo, mas ainda era possível ver a passarela de pedras cobertas de musgos, mesmo que parcialmente.

Sentindo alguns galhos prenderem um seus fios, Wangji seguiu em frente até o final da trilha, desviando de outros galhos ou árvores que apareciam em seu caminho. Já estava anoitecendo enquanto não conseguia parar de andar, a trilha parecia não ter fim de tão extensa, fazendo com que apertasse o passo pela ansiedade e o medo de se encontrar com aquele ser horrendo novamente.

— Puta que pariu… — Wangji nunca falava palavrões, mas a situação em que estava, estava implorando para que xingasse totalmente frustrado. Estando no final da trilha, o jovem Lan encarava sem reação o pântano a sua frente, juntamente com o templo destruído e abandonado. Não havia nada ali. Nenhum orfanato. Apenas madeiras pobres cobertas de insetos e um pântano questionável. 

Lan QiRen havia o abandonado no meio do nada. 

Mas o que esperaria de alguém desconhecido que dizia ser seu parente?

Sem perceber, Wangji já estava deixando finas lágrimas escorrerem pela pele branca. 

Já sabia que seria abandonado novamente, era inevitável. Mas porque seu peito doía tanto? Estava tão desesperado assim? Wangji só queria se sentir acolhido e receber um pouco de carinho de alguém que o aceitasse como o demônio que era.

Por fim, sem ter muito o que se fazer, e com o sol sendo substituído pela Lua, Wangji encostou as costas na parede da grande montanha, acabando por perceber a pequena gruta presente ali. Era melhor do que passar a noite a céu aberto.

Se curvando um pouco para conseguir entrar, andou até o final da mesma, onde a lua podia ser vista por uma das frestas no teto. Sentando-se em um dos cantos iluminados, retirou a cauda de dentro da calça novamente. Não tinha necessidade de escondê-la mais. 

Enrolando a cauda em todo o corpo na esperança de conseguir calor, Wangji abraçou os joelhos, se permitindo descansar pelo menos um pouco.

No fim das contas, Wangji poderia ser o próprio Monstro do Lago Ness daquela região. Seu destino era ser solitário, viver longe de pessoas normais e se amaldiçoar pelo resto da vida por ter nascido como um ser profano vindo do inferno. 

 

.

.

.

.

.

.

.

.

.

    — Façam silêncio, não podemos assustá-lo mais ainda…!

    — Vocês viram como ele estava quando chegou? Coitadinho…

    — Que irônico você dizer isso na presença de um cego, HuaiSang. 

    — D-Desculpe, não tinha o visto aqui… O que fazemos com ele, Wei- Xiong?

    — Shijie disse para levarmos ele assim que chegasse, mas acho que vai se assustar ainda mais… Além do mais, olha como ele está todo bonitinho dormindo enroladinho…. O que tem na bolsa dele, Cheng?

    — Só livros e um monte de roupas estranhas… E negócio que acende se eu mexo nele.

    — Acho melhor levá-lo amanhã cedo, os outros já olharam ao redor e não tem nada, além da noite estar boa, não tem perigo deixar ele aqui. E ele precisa se acalmar também. 

    — Então ficaremos até ele acordar. Por enquanto, vamos ver o que é esse negócio que acende






 



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...