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História Caminhos Cruzados - Muito Barulho por Nada


Escrita por: secretlove31

Capítulo 44 - Muito Barulho por Nada


Fanfic / Fanfiction Caminhos Cruzados - Muito Barulho por Nada

Camila POV

Estava anoitecendo. A única coisa que confiava ver era que aquela imagem à minha frente se tratasse apenas do reflexo de um desconhecido, mas permaneci ali, parada, e me encontrei cogitando o irrelevante. Estava longe, mesmo que o olhar permanecesse adsorvo em Shawn, como tudo o que acedia. Não devia observar tanto, nem pensar em tão alto grau.

Girei o corpo devagar em direção à Lauren, que parecia impenetrável, indecifrável e tudo o que eu almejava saber era o que estava sentindo. Cheguei ao seu lado e subsisti tácita. Em situações onde o silêncio significa refletir, refletindo chegaria ao ponto de equilíbrio.

Alternei a atenção entre Dinah e Vero, que incontestavelmente pareciam confrangidas. Sopesei mais a longe que Lucy e Normani continuavam no mesmo lugar, petrificadas. Então volvi meu olhar a Shawn novamente, ele abriu um sorriso amplo e balançou a cabeça numa negação boba. O corpo magro se moveu, junto a bagagem, procurando uma união mais próxima.

- Quanto tempo! Sentiram minha falta?

- Eu, sinceramente, preferiria que você não tivesse voltado. – Lauren articulou pela primeira vez. Não havia pena na voz inexpressiva, mas nada que denunciasse que estava recordando o passado, mas eu sabia que estava, percebi com tamanha segurança, como se tivesse confessado. Fiquei observando até ver o vulto de Normani e Lucy se aproximarem.

- Jauregui – objetou gentilmente, colocando uma mão apaziguadora no braço dela, que nem sequer girou a cabeça, seus olhos verdes permaneceram sobre a face de Shawn. – Guardar raiva é como segurar um carvão em brasa com a intenção de atirá-lo em alguém: é você que se queima.

- Obrigada pelo conselho, Buda, mas declino. – ela sobressaltou visivelmente, tratando de tirar sua mão em um puxão. – É fácil pedir para que eu não sinta raiva, afinal, não foi você que passou pelo que passei.

- Você também já me fez passar por situações semelhantes.

- Em contextos completamente diferentes. – rebateu indignada, irritada pela acusação. A atmosfera se revolveu mais carregada, e pensando nisso, com o silêncio remoendo o ambiente, tossi para limpar a garganta e encontrar a voz.

- Shawn, porque você voltou? – interpelei, franzindo as sobrancelhas.

Em resposta, ele volveu vagarosamente os olhos. Atinei notáveis diferenças no semblante. Primeiro, não usava mais canadianas, sua beleza ainda era primorosa, porém estava mais altivo e forte, como uma estátua atemporal. O maxilar mais anguloso, de aspecto severo, olhos penetrantes, intensos, e os cabelos estavam mais longos, cujos cachos caíam em cascata sobre o rosto.

- O treinador Bieber foi até o JPMorgan & Co. falar com meu pai, e em pessoa solicitou que eu retornasse para a Dunbar Cup. Ele pediu um tempo para pensar, depois mandou seu assistente me ligar e perguntar o que eu achava. Logo, o jatinho foi me buscar e aqui estou.

- E o Justin achou que isso seria uma boa ideia? - Vero inquiriu, suas sobrancelhas levantando rapidamente. - Ter Lauren e você no mesmo time, sabendo que não se suportam e que quase se mataram nas vezes que estiveram juntos? Ele ficou maluco!

- Tenho uma personalidade forte, confesso, e isso ninguém pode negar. Exatamente por isso percebi a necessidade de uma mudança para uma renovação interna e foi a melhor escolha que fiz. Amei certa pessoa ardentemente e meu sentimento não foi correspondido, mas daí que transformei minha vida em algo novo, um grande passo que esse tempo longe me ensinou.

- Em todos esses anos, nunca vi tamanha sensatez partindo dele. – sussurrou Normani para Lucy. Parecendo ouvir o discurso, Shawn sorriu, uma pequena careta sem humor, que trouxe um indistinto brilho álgido em seus olhos.

- Bem, se me derem licença, foram mais de doze horas de viagem, preciso descansar. – em seguida se virou e saiu.

 

Dinah POV

O vento açoitou com mais força quando chegamos ao Foxcroft Hall, o ar estava pesado com a respiração densa de Lauren. Serpenteamos por um labirinto de corredores e meus pés se esforçaram para se acostumar com a rapidez dos passos enquanto eu e Iglesias seguíamos Lauren, que marchava mais à frente, com punhos cerrados. Por fim, chegamos a porta do dormitório. Ela abriu e entrou, batendo em seguida, mandando a madeira contra o nariz de Vero, que passava pela soleira. Com um estalo nauseabundo, o rosto irrompeu em vermelho e ela caiu para trás.

Fiquei olhando em choque Vero no chão, clamando de agonia, ofegando e segurando o rosto. Ajudei-a a levantar com calma e abri novamente a porta. Lauren estava arquejando enquanto andava nervosa pelo átrio, de um lado para outro, parecendo cada vez mais aflita à medida que pensava.

- Vem cá, você não percebeu que quase arrancou o meu nariz fora agora a pouco, não, Jauregui? – ao se virar, Lauren se deparou com uma Iglesias, de pé frente à agressora, sangrando profusamente com a cabeça inclinada para trás.

- Desculpe – recitou arrependida, passando a mão direita no rosto.

- Você vai pagar a minha cirurgia plástica. Dinah, me ajuda a chegar até a cama. - estendi uma mão até seu braço, guiando-a até o destino, onde repousou vagarosamente.

- Vou pegar alguma coisa para estancar isso. – deslizei até o toalhete.

Embora parecesse cética, abri o armário discretamente feérico, que continha três coisas: uma válvula para controlar o nível de água da pia, um interruptor para acionar a luz acima e uma pilha de toalhas de linho. Peguei uma e rapidamente voltei ao quarto.

- Obrigada – articulou Vero, olhando de relance para o pano. Com delicadeza, transferiu o objeto para o rosto e deixou escapar um arquejo alto.

Parando um momento para reafirmar as ideias, Lauren foi até a janela e encarou a paisagem. Parecia buscar afastar a inquietação que havia se instalado, estava em posição de enfrentar praticamente qualquer situação adversa, menos aquela. Ver minha amiga assim me causou uma estranha aflição.

- Como você está? – Vero questionou.

- Nada bem. A volta do Shawn altera as coisas, e não acredito que alguém possa mudar tanto em tão pouco tempo. Camila adora ele, sabe-se Deus porquê, e sei que eventualmente vai perdoá-lo. Ela tem um coração muito bondoso, as pessoas costumam se aproveitar disso.

- Ele me pareceu sincero. – proferi. Vero me lançou uma atenção perplexa. Virando-se abruptamente de volta para nós, Lauren me fitou com um olhar tão intenso que chegava a ser perturbador. – O que?

- Você bebeu? –inquiriu Vero.

- Shawn estava tendo acompanhamento psiquiátrico, naturalmente pode ter apresentado resultados. O que quero dizer é que, se a Cabello gosta tanto assim dele, deve ter algum motivo.

- É justamente por se conhecerem a tanto tempo que deveria ter aptidão para saber do que ele é capaz. – Vero expressou. – Shawn é obcecado por ela e não faz questão de esconder. Na cabeça dele, eles não estão juntos porque Lauren apareceu. – pôs um fim ao debate. – Claro, no fundo tem um pouco de razão.

- Discordo. – declarei. – Eles se conhecem a anos. Se Camila tivesse o mínimo interesse, já teriam se envolvido de alguma forma.

- Exatamente. – Lauren concordou. Suspirei lentamente e andei até ela.

- Olha, independentemente da nossa divergência de opiniões, fale com Camila e diga como se sente. Conversem e estabeleçam um diálogo sobre isso.

- É o que vou fazer. – respondeu, assentindo e depois abaixando a cabeça.

Apesar de tentar parecer menos preocupada, podia sentir que ela ainda estava extremamente apreensiva. Queria reconforta-la, mas sabia que não havia nada que pudesse dizer para ajudar, então, apenas avancei ousadamente e a abracei com calma. Ela me recebeu de maneira calorosa, com as mãos fortes nas costas, puxando-me para perto, aparando a tristeza.

- Vocês podem me ajudar a levantar daqui para que eu possa participar desse momento? – Lauren sorriu, me soltando gentilmente e deslizou até Vero, que se ergueu com auxílio, pousou a toalha sobre a mesa de cabeceira, e se juntou a nós, no centro do dormitório.

No minuto seguinte, a porta do quarto se escancarou e me virei, vendo Harry entrar. Ele cantava uma afinada canção, usando uma camisa que mal cobria sua barriga.

- Onde estava? – Lauren perguntou.

- Transando. – respondeu simplesmente, nos causando um leve riso.

- Onde, não o que estava fazendo.

- Dá no mesmo. – retrucou e viandou até a cama, lançando-se sobre ela. – Eu estou suado.

- Nos poupe dos detalhes. – Harry ergueu a cabeça para retrucar e logo sua testa franziu, entre a espanto e a risada histérica.

- Nossa! O que aconteceu com seu nariz?

- A Jauregay jogou a porta na minha cara. – Vero articulou, voltando para seu leito. – Soube da notícia? Shawn está de volta.

- O que? – Harry gritou, içando o corpo, o riso se transpondo em aversão. – É brincadeira, não é? – Lauren negou, muito séria. – O que ele veio fazer aqui? O pai dele não o tinha obrigado a ir para um colégio militar na Suíça?

- Era na Inglaterra, na verdade. – corrigi. – Shawn afirma que veio apenas para a Dunbar Cup.

- Duvido que seja apenas isso. Ele é calculista, é um psicopata narcisista e completamente doente. Estou certo de que está fingindo para armar mais um plano e destruir o que restou de nós.

- Ainda acho que o acompanhamento pode ter ajudado. – recitei, Harry logo contrapôs.

- Não existe cura para a psicopatia

- De fato, mas tem controle, e nem todo psicopata é perigoso.

- Esse já deixou bem claro que é!

 

Shawn POV

O sol já completara cerca de um terço de sua trajetória e seus raios de verão, quentes e vivificantes, batiam nos prédios, que também pareciam sensíveis a seu calor; milhares de estudantes visíveis nos corredores transmitiam um murmúrio monótono e contínuo; alguns agitavam-se, hesitantes, formando um ruído quase metálico; a cada passo que eu dava sobre o granito da Gelb Science Center, via saltar os olhos das pessoas atraídas pela minha inesperada presença depois de tanto tempo.

Olhei ao redor, como fazem os irresolutos, meu olhar pousou em uma Camila recostada no armário, segurando um exemplar de Orwell enquanto lia com sua roupa de cheerleading xadrez em azul Royal e verde.

- Olá! – falei suavemente, presenteando-a com um sorriso largo. Camila ergueu os olhos, continuando séria.

- Oi.

- Não pretendo tomar seu tempo, só quero saber se ainda podemos ser amigos.

- Não é tão simples, Shawn – sussurrou entristecida – Acho maravilhosa a ideia, mas nossa amizade não tem rendido nada. Porque deveria te dar mais uma chance? Me dê um motivo. Pensei que poderia confiar em você, mas claramente não se importa com meus sentimentos.

- Camila...

- Não! Agora que voltou, vai me ouvir. – fechando o livro e colocando no armário, sua voz cortou o ar matinal com uma intensidade rara, as orbes cravadas em mim. Pude perceber o sentimento de traição na voz dela e não soube direito como responder – Toda vez que você atinge Lauren, me afeta, me aflige, mesmo que não seja comigo, e no fundo sabe disso. Pode parecer pouco para você, mas isso machuca. Que tipo de sentimento espera que eu manifeste por você? Porque se continuar agindo assim, só vai conseguir me afastar.

- Entendo.

Estava mais próximo do que esperava e meus lábios se separaram em surpresa. Por reflexo, me desloquei para a frente, procurando o que havia perdido e quando a distância me permitiu pensar, voltei a minha posição anterior.

- Peço desculpas por tê-la magoado e por trair sua confiança, se algum dia a tive.

- Você a tinha. – completou prontamente e afirmei com a cabeça, convencido. Sabia que meus olhos estavam brilhando, uma decisão estava se formando, se concretizando.

- Então, vou me esforçar para reconquistá-la – falei decidido, mas Camila parecia desconfiada. – Estou pedindo uma oportunidade para corrigir meus erros. E depois, se ainda tiver dúvidas, não vou questionar sua decisão.

Permaneceu em silêncio, me fitando.

- Preciso falar com Lauren primeiro. – falou controlada. Senti a raiva crescer dentro de mim. Minha personalidade confusa oscilou entre picos de humor, mas esbanjando uma confiança soberba, apenas assenti.

Camila conseguiu dar um sorriso, que teve vida curta. Observei aquela mulher linda por um longo momento. Ela se virou, segui seu olhar paralisado e vi a forma de Lauren vindo na nossa direção, se aproximando desacompanhada. À medida que chegava, diminuiu a velocidade e começou a deslizar, parando perfeitamente ao nosso lado.

- Bom dia. – cumprimentei. Na mesma hora, a expressão no rosto de Lauren se transformou em raiva, ela me encarou com um olhar furioso, depois volveu e fitou Camila.

- Atrapalho, Camz?

- Eu estava apenas pedindo uma chance de provar minha mudança, mas parece que ela agora precisa de permissão para aceitar. – ironizei, em um comportamento dissimulado de hostilidade. Os olhos de Lauren se ergueram de novo, bruscamente, e ela deu um passo à frente.

- Uma relação envolve diálogo, então é natural ela querer saber minha opinião, sobretudo levando em consideração todo o mal que já causou. Mas não é como se você soubesse o que é ter um relacionamento, principalmente com sua negligência emocional infantil e raiva não processada.

- Deveria ser mais condescendente, Jauregui

- Pessoas são diferentes. Algumas perdoam, outras guardam rancor. Cada um reage de um jeito e você querer controlar como eu me sinto é genocídio à adversidade. Então, porque não se põe em seu lugar e me deixa em paz? Deixei claro que não quero aproximação – falava com uma seriedade indiscutível na voz.

- Está bom. Já chega os dois. – Camila se pronunciou, uma fagulha de exaltação relampejou nos olhos e desapareceu em seguida. – Shawn, acho que já terminamos.

Precisei admitir que fiquei espantado com o tom agressivo, no entanto a mensagem não me amedrontou tanto. Serviu mais para aumentar minha curiosidade sobre uma decisão iminente.

 

Lauren POV

Quando ele saiu, senti toda a frustração se acumular. Em um raro momento de descontrole emocional, joguei a cabeça para trás e soltei um urro de raiva. Naquele espaço confinado, o som foi quase ensurdecedor.

- Calma! – exclamou, tocando meu ombro carinhosamente. Houve tanta ternura em sua expressão. - Está preocupada com a possibilidade de ele não ter mudado, é isso?

Encarei seus poderosos olhos castanhos e mordi o lábio inferior apreensiva. Não queria discutir com ela e já estava confusa e assustada o suficiente por nós duas. Como poderia nos proteger diante daquele retorno? Como explicar meu medo de Shawn finalmente nos separar, quiçá de forma permanente? A única coisa que desejava era poder fazer Camila entender que deixar ele se aproximar era arriscado demais. Mas a conhecia o suficiente para saber que iria perdoá-lo, que talvez amanhã iria desencadear tudo outra vez. Eu admirava essa capacidade, revelava algo muito maior do que somente a absolvição. Compreendia, mas doía, era incômodo.

- Sim. Tento me manter controlada, com uma segurança excelente, mas estou preocupada com o que acontecerá se porventura der uma chance. – de repente Camila pareceu lamentar ouvir isso. Virei o rosto para longe, no intento de ocultar o receio. Minha mente estava trabalhando furiosamente, tentando encontrar uma solução. – Esquece. É idiotice. Nervosismo. Apenas isso.

- Olha para mim, Lauren – as pontas dos dedos tomaram-me o queixo, levantando-o. Então suas mãos emolduraram meu rosto, acariciando meigamente. Camila me examinou com preocupação crescente, um suplício incomum. – O que está acontecendo?

- Eu só... estou tentando entender porque adora tanto ele.

- Conheço Shawn praticamente a vida inteira. Gosto muito dele, como um irmão. Mas não deixei de gostar de mim, das minhas convicções nem dos valores que tenho. Sobretudo quando o ego possessivo dele me afasta de você.

- Porque o deixou ser assim durante tanto tempo?

- Não me importava, estava habituada. Sabia que não era natural a forma em que vivia, me asilando de qualquer relação íntima, mas nunca tinha interesse em ninguém e agindo de tal modo, Shawn afastava quase todo mundo. Me poupava trabalho. – um sorriso fraco nasceu. – Aí você apareceu, contradizendo ousadamente quase todas as doutrinas estabelecidas e fazia isso de um modo perturbadoramente simples e convincente. – assimilou. – Sei perdoar, mas não significa que aceite que cometa um erro novamente. Portanto, preste atenção. Posso ser boa, mas não burra. Quanto mais Shawn procurar me afastar de você, mais vou entrar na sua vida.

- E qual o seu instinto com relação a isso? – por alguma razão, isso me fez sorrir. Deslizei o braço ao redor da cintura.

- Meu instinto diz que mudou, porém jamais iria impor a presença dele. Uma palavra sua e eu me afasto, permanentemente. Mas realmente gostaria de tentar.  – inclinou a cabeça para acariciar minha boca com seus lábios, enviando ondas de sufocante calor que subiam em espiral, fazendo arder a pele. – Pode fazer isso por mim? – assenti solenemente. - Ótimo. Então acho que podemos dar esse assunto como encerrado.

O fogo que ardia sobre os olhos deixou entrever uma gota de acalanto e distração. Suas mãos arremataram meus cabelos, nos aproximando ainda mais e me apanhou a boca em um beijo elusivo, misturando as duas línguas enquanto a embalava de forma protetora. Seu corpo era minha âncora em uma procela de turbulenta paixão.

Ela me empurrou, enquanto fechava os braços ainda mais em torno do pescoço, jogando minhas costas contra o armário. Me sujeitei de encontro ao corpo fremente de forma possessiva, consciente de que não poderíamos nos liberar do contato. Minhas mãos se moviam inquietas, esboçando a pele nua abaixo do top em uma ardente necessidade encarcerada no abraço.

Camila então desceu a boca. A língua atrevida me acariciou o pescoço numa carícia aveludada que me fez fechar os olhos e enviou uma onda de calor até o interior. Seus dedos envolveram-me a nuca novamente, com força.

 

Andrea POV

Sozinhas em seu escritório, Wintour estava ficando ansiosa. O telefonema programado já estava atrasado quase dez minutos.

O toque estridente do celular da editora a obrigou a afastar os olhos da névoa relaxante do mar Atlântico e voltar depressa a sua mesa, inquieta por notícias. O monitor de computador estava aceso e informava que a ligação vinha de um aparelho pessoal de encriptação de voz Sectra Tiger XS, que permitia o envio e recebimento de mensagens privadas e chamadas seguras, eliminando custos de ligação utilizando VOIP.

- Anna Wintour, editora-chefe da Vogue – disse ao atender, pronunciando as palavras de forma lenta e meticulosa. – Pode falar.

- Desculpe o atraso. – respondeu o brado do outro lado, alto o suficiente para dispensar o viva voz. – Infelizmente, o Sr. e Sra. Cabello rejeitaram seu pedido formalmente, descreveram-no como infundado e pretensioso e não querem a filha deles sendo exposta em tão grande escala.

Havia um nervosismo incomum em seu tom. Era muito raro que subordinados se comunicassem diretamente com ela e ainda mais raro que continuassem no trabalho após um fracasso como aquele.

- É mesmo? – perguntou infamada.

- Sim. Lamentavelmente as notícias não param por aí. – a voz fez uma pausa. Anna ficou calada. Era a deixa para que continuasse. Quando falou, usou um tom impassível, numa clara tentativa de mostrar profissionalismo – Acabei de saber que Alejandro proibiu sua entrada na empresa, previamente, sem ser anunciada.

Desta vez Wintour pareceu surpresa.

- Entendido. – falou enfim. – Quero que ligue para os principais jornais, os mais influentes; The New York Times, Wall Street Journal, The Washington Post, Los Angeles Times, e ataque o Sr. e a Sra. Cabello. Quero que todo mundo os ridicularizem como malucos e preconceituosos, deixe claro que Alejandro Cabello é um machista que renega oportunidade à própria filha, impedindo que tenha um início de carreira promissora.

- Wintour! – franzi as sobrancelhas e intervi, tentando atenuar a tensão crescente, mas ela não deu atenção.

- E depois vá ao Phillips Academy Andover... não! Esqueça! Você é incompetente demais para isso, eu mesma vou.  – zombou audivelmente e desligou.

- Com o devido respeito, vai ataca-los dessa maneira?

- Decerto que vou. Minha posição quanto a isso é simples. – articulou Anna. – eu gostaria que eles não tivessem negado meu pedido, mas estou preparada para enfrentar qualquer obstáculo que imponham. Minha preferência enfática é que essa informação chegue até Camila. – fez uma pausa. – Ao mesmo tempo, acredito que com uma acusação dessas sendo expostas aos jornais, manchando sua reputação, e causando uma queda nas ações da Cabello Jauregui Corp., Alejandro não fará mais do que negar tudo. E a melhor maneira de provar isso, é deixando a filha ser a capa da Vogue.

- Essa decisão não deve ser apressada. Não precisamos chegar a esse consenso. Será que posso sugerir que meditemos em particular sobre isso e conversemos de novo daqui a alguns dias? Então poderemos tomar a decisão final. Talvez o caminho adequado se revele através da reflexão.

- Sábio conselho, mas vou fazer do meu jeito.

 

Shawn POV

Assim que fingi sair, depois da conversa, me posicionei, sustentando a sombra oculta, asilado das vistas de Lauren e Camila. Do outro lado do corredor, encontrei um esconderijo com um ângulo privilegiado, do qual tinha uma visão panorâmica delas. Sem pressa, me permiti observar a interação depois de um longo debate.

- Camz... – Lauren ofegou, encontrando alguma reserva de instinto de auto conservação. Se retorceu, empurrando sua cintura com as mãos. Camila mudou a posição sutilmente, mas seus braços permaneceram firmes e inquebráveis. – Estamos no colégio.

- Todo mundo sabe que namoramos.

- Se continuar assim, vão saber que a gente transa também. – Camila riu, mas logo se afastou para poder beija-la gentil e meigamente enquanto segurava seu rosto.

Ouvir a confissão eletiva fez meu coração vergastar pesaroso, pensei que romperia em dois. A suavidade gotejou no frio do meu corpo e senti movendo-se em minha mente, a dor cedeu terreno instantaneamente a uma raiva mordaz. Nesse instante o fio do meu raciocínio interrompeu-se abruptamente quando estaquei e olhei para o lado, vendo Vero e Dinah conversando enquanto caminhavam até elas.

Eu ficava claramente visível ali e agora o ribombar dos passos estava quase em cima, sabia que iriam me notar a qualquer momento, com uma visão desimpedida do corredor. Não tive dúvida, virei à esquerda e subi a toda uns poucos degraus até o eirado entre os prédios.

- Melhor pararem porque daqui a pouco eu me masturbo vendo vocês duas. – Vero articulou. Camila empurrou Lauren com força casual e fez um esforço para fechar a boca e não arquejar completamente atônita. O olhar de Veronica provocou gargalhadas nas duas mulheres, apesar da seriedade da situação.

- Meu Deus! O que aconteceu com você? – Camila perguntou à Vero.

- Sua namorada aconteceu. Mas não é nada.

- O que fazem aqui? – Lauren inquiriu.

- Como não teremos aula, imaginamos que não teriam nada para fazer, então viemos chama-las para ficar conosco nos jardins.

- É mesmo? Não teremos aula?

- A constituição do Phillips Academy Andover acha que descansar é um recurso essencial para um bom desempenho nos jogos. – Dinah contrapôs. – Estava no Blue Book, você não leu?

- Aquele documento tinha mais de oitenta páginas. – Lauren elevou as sobrancelhas, se defendendo.

- Enfim... Normani, Ally e Lucy estão nos esperando. Vocês vêm?

- Ah, bem...

Antes que uma resposta pudesse ser dada, uma mão agarrou meu braço e o puxou. A onda de choque me consumiu violentamente e meu grito alarmado inundou o corredor, rasgando o ar balsâmico, perfeitamente audível apesar dos sons murmurantes das pessoas que passavam conversando. Além de obter toda a atenção e espanto dos outros, minha visão encontrou os olhos arrogantes de Lauren, seguido pelos comtemplares anfibológicos de Camila, Dinah e Vero.

- O que está fazendo aqui? – reconheci o timbre irritado na voz de Matthew. Levantei a cabeça de modo súbito, com os olhos arregalados.

- Você quer me matar do coração?

- Pelo que li no histórico enviado à escola militar, você foi coibido de estudar aqui por tempo indeterminado.

- O diretor Cowell sabe onde estou. Pode tirar a história a limpo com ele, se preferir.

- Irei fazer isso, sr. Mendes. – Com essas palavras, Hussey saiu como um furação e atravessou a passos firmes o longo corredor.

Voltei minha atenção à Camila e Lauren, vendo-as se despedir de Dinah e Vero após trocarem algumas palavras e avançarem em minha direção.

 

Taylor POV

Estava recostada na cabeceira da cama, terminando de ler Muito Barulho por Nada, para a prova da semana que vem. A alegórica obra de Shakespeare era uma comédia brilhante repleta de comentários velados sobre amor, engano e sobre a natureza humana. A novidade está em Beatriz e Benedito. Não querem casar, nem acreditam no amor e nenhum dos dois suporta o outro. Esse é o principal motivo da comédia. Mas como era uma obra que foi apresentada pela primeira vez em 1612, muitas vezes eu a lia como estudavam a Bíblia: lendo nas entrelinhas para desvendar os sentidos ocultos dos escritos. Isso me permitia analisa-lo com mais atenção.

Ouço o barulho do chuveiro ser desligado e logo Alexa sai do toalete usando apenas uma toalha branca felpada, enrolada sobre os seios. Em seguida, Keana entra para tomar banho.

Está tudo bem, é apenas uma quase cena de nudez, digo para mim mesmo, forçando-me a me concentrar nos versos à frente. Enquanto me debruçava sobre a página, ela começou a andar de um lado para outro. As palavras que havia lido ecoavam em minha mente e invocavam uma lembrança. Nesse tempo, Alexa se volta para mim exibindo duas calcinhas no ar, uma em cada mão.

- Taylor, você prefere essa calcinha fio-dental preta com copas de renda seladas com um laço ou essa de seda branca de amarar com frastaglio de marfim? – indagou como se fosse a coisa mais natural do mundo à medida que balançava os itens. Minha temperatura corporal começa a aumentar quando penso que Alexa é dona de peças minúsculas quase transparentes.

- Nenhuma. – profiro, em tom de completa indiferença, mas minha garganta está seca demais e a voz acabou soando áspera. Ela ergue as sobrancelhas e os lábios se curvam em um sorriso malicioso.

- Nenhuma? Prefere me ver sem?

- Eu sinceramente prefiro não ver você assim. Nunca! –  recitei, tentando debandar da pergunta.

Alexa recoloca uma das peças íntimas na cômoda e fecha a gaveta delicadamente. Inclina a cabeça e me fita com expectativa, enquanto joga a toalha no chão e começa a se vestir. Na minha frente. Ela passa o minúsculo tecido por um tornozelo, depois pelo outro, e então o faz subir lenta e sedutoramente pelas pernas. Meus olhos se abriram e seguiram cada movimento.

- Mas o que você está...? – o cérebro trava e para de processar as palavras. Pela expressão de surpresa nos meus orbes arregalados, não soube o que mais me surpreendeu: a desinibição de Alexa ou a estranha escolha de manter os olhos em mim enquanto se vestia.

Quase sem conseguir respirar, tornei a abaixar a cabeça para o livro, mas assim que recomecei a ler, as três primeiras palavras já me fizeram erguer os olhos.

- Ferrer, é muito difícil se trocar no banheiro? Tinha que ser na minha frente?

- Algum problema, Taylor? – arqueou abruptamente uma sobrancelha.

- Sim. Estou tentando me concentrar.

- Está admitindo que a deixo inquieta?

- Não foi o que eu quis dizer.

- Mas foi o que disse. – ela estava sorrindo novamente, me provocando de leve. – Admita, sente atração por mim.

- Deus me livre.

- Então porque me beijou?

- Fala baixo! Keana pode ouvir. – sussurrei, contrastando os ombros para tentar me proteger e olhei para Alexa com ares de repreensão. – E aquilo foi apenas um impulso.

- Sim, claro, você se encheu de hormônios, me atacou e me deu um beijo.

- Não fale como se fosse só culpa minha, você correspondeu. E porque estamos falando desse beijo? Ele não significou nada, não é? – Uma fúria sem qualquer rastro de misericórdia brilhou ali. Alexa se aproximou em passo acelerado, senti o coração quase parar e dei um salto para trás, tentando impor uma distância entre nós.

- Ah, é mesmo? Tente se convencer disso. – contrapôs. – Vamos apenas ressaltar um fato: quando sugeri que era atraída por mim agora a pouco: você não negou. – ainda seminua, Alexa caminhou até a porta e abriu.

- Você está sem roupa.

- E daí? O que é bonito é para ser visto mesmo.

Caminhou de costas até sair, com os olhos ainda fixos nos meus. Me esforcei para conter aquela fúria sombria, a promessa de desafronta. No entanto, era impossível esconder as emoções.

Alexa estava certa, eu não tinha negado.


Notas Finais


Pessoal, desculpa a demora de novo, mas esse capítulo realmente consumiu muito tempo. E ele iria ser muito maior do que este que estou postando, mas para não ficar um texto tão longo, podendo então se tornar cansativo, eu resolvi dividir ele em dois, inclusive para postar mais rápido.

Espero que vocês gostem e por favor, deixem a opinião de vocês!!!


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