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História Camisa 18 - O garoto de ouro, tão reluzente quanto o diamante.


Escrita por: JMINK

Notas do Autor


Quem é nosso garoto do título? Fica aí a questão.

Tô com a concentração muito ruim hoje, não vou fala nada além de: i'M THE ONE

Capítulo 18 - O garoto de ouro, tão reluzente quanto o diamante.


Poderia dizer que possivelmente não existiam tantos problemas quanto enxergava naquele determinado momento.

Seonghwa sentou-se sobre o piso do terraço já com o cigarro na boca. Não era de seu feitio, porém, certas vezes ele procurava por algum meio eficiente para se desprender de suas emoções ruins e conturbadas. Estava atordoado. Fechou os olhos com força e murmurou um palavrão em seguida. 

Era de madrugada ainda. Não pode pregar os olhos por toda aquela noite. Quando chegou na casa de Mingi, tomou um banho e tentou dormir enquanto Yeosang acariciava os seus cabelos. Ele não sabia muito bem o que dizer para confortá-lo, e não era como se o Park quisesse conversar. Os seus amigos não quiseram ultrapassar esse pequeno limite imposto silenciosamente, então estabeleceram que poderiam prestar apoio no outro dia.

Lembrava que, durante o banho, ele se olhou tantas vezes no espelho que quase podia dizer que encontrou mil outros reflexos ao invés do seu. Ele odiava o que via… Cada pedaço de seu corpo e alma lhe causava repúdio. Não gostava de sua aparência, não possuía confiança em si mesmo em qualquer sentido, nem no físico, sequer no emocional ou psicológico. Achava que não podia fazer nada sozinho. Seonghwa era realmente como um pássaro engaiolado com as asas cortadas; a única opção que lhe foi dada era viver dentro de um cativeiro para sempre.

Será que não era capaz?

Fumou por um longo tempo. As horas pareciam não passar e ele apenas queria que milagrosamente amanhecesse para que pudesse descobrir o que aconteceria no próximo dia. O nível de sua irritabilidade era tão alto que chegou a morder o lábio inferior até que tivesse o gosto metálico de seu sangue espalhando-se por seu paladar. 

Sabia que não adiantaria que se martilizasse, e que a culpa era relativamente dele por sentir-se… daquela forma com relação a todos os acontecimentos que ali se sucediam. Se viu desequilibrado internamente. Sua mente retornava para aquele infeliz jantar inúmeras vezes, e sua consciência questionava-o se fez o certo em fugir após irromper em uma explosão de nervos. Ele se lembrava que a única pessoa que pensava era em Yeosang, que poderia encontrar conforto em seus braços e ser acolhido por ele.

 Alguma coisa fez com que reagisse mediante à proposta absurda de seus pais que queriam o empurrar um casamento por conveniência. Era uma vontade tão lasciva e esmagadora que Park chegou a comparar com o esforço que fazia para se manter longe da dança, quando mais jovem.

Agarrou um dos lados do fone de ouvido e iniciou uma música. O som prazeroso de "Stockholm" do Atlas Genius passou a ocupar todos os campos vazios em seu cérebro que trabalhava rápido demais em um estado de autodestruição, ao mesmo tempo que aqueles outros campos alheios à música estavam encontrando foco apenas em Kang Yeosang e seu perfume inesquecível e expressamente masculino ao mesmo tempo que doce.

Seonghwa ainda o sentia, estava impregnado em sua roupa.

Arremessou o terceiro cigarro em um cinzeiro que havia ali sob os balaústres, assistindo a ponta apagar gradativamente. As mãos suaram e ele já iria alcançar mais um em sua cartela que chegava ao fim, quando o celular começou a vibrar dentro da calça. A música parou e isso o deixou frustrado. Não havia chegado em sua parte favorita, e acreditava que naquela situação apenas o som de teor clássico poderia salvá-lo. Cogitou ignorar a chamada e retomar para a playlist e os cigarros, porém ao checar na tela o nome de sua mãe, descartou a ideia.

Era uma ideia idiota.

Atendeu sem grande ânimo, já imaginando qual seria o conteúdo da conversa. Ou do monólogo. Já que somente sua mãe falaria e ele apenas poderia escutar e fingir consenso quando na verdade ao menos sabia do que ela tanto reclamava.

Anotou mentalmente enquanto a conversa se sucedia:

1 - Seonghwa era um completo irresponsável.

2 - Seonghwa não considerava os sentimentos de seus familiares na maioria de suas ações.

3 - Seonghwa deveria voltar para casa imediatamente caso não quisesse mais causar problemas.

4 - Não importava se era maior de idade ou não, adulto ou não, dependia de seus pais financeiramente, portanto devia satisfações a eles. Além do mais, seus pais seguiam sendo mais velhos, portanto tinham mais autoridade.

5 - Classificou o resto como sessão drama.

Bufou.

Estava cansado.

Droga, estava cansado. Ele nunca passava a noite fora, nunca saía com ninguém, seus pais não conheciam nenhum de seus amigos com exceção de Jongho porque ele era o único que havia sobrevivido à seleção exacerbada dos senhores Park e, ainda assim, expressavam um imenso descontentamento quando ameaçava impor sua merecida independência. Eles aparentemente não gostavam de saber que Park Seonghwa poderia tomar as rédeas de sua vida, e realizar as próprias escolhas. Não confiavam nele, apenas esperavam erros de suas ações.

Seonghwa não era totalmente do avesso.

Desligou a ligação e voltou a guardar o celular, tentando não ficar estressado, mas vendo que isso seria impossível quando o seu sangue era quente por natureza.

Levantou e tomou a decisão de voltar para dentro do quarto, no caminho pensando se desobedecia as ordens de sua mãe ou se voltava para casa. Controlou a respiração, constatando que Yeosang ainda estava dormindo ainda por detrás das portas de vidro fechadas da sacada. A respiração dele ressoava calma. Sua feição era ainda mais formosa quando estava dormindo, os traços suaves, os lábios rosados inchados… Ele devia estar exausto, afinal, na noite passada não descansaram o suficiente, além do mais ele trabalhava muito. Precisava dar um tempo para a sua cabeça. Desistiu de deitar ao seu lado e retornou para a sacada, apoiando todo o seu peso sobre os balaústres e fitando o céu.

Era o começo da manhã. O claro do céu dava uma impressão de falsa felicidade para os dias que deveriam estar manchados pelos tons melancólicos da angústia. O sol ia se escondendo por detrás das nuvens nubladas tão lentamente que quase dava para imaginar que ele não queria ir. Preferia ficar ali bem no alto do céu, brilhando, iluminando tudo que sua luz pudesse alcançar.

Soprando a fumaça, o garoto desejou ser o sol. Não para ficar no centro azulado do imenso céu, ou em órbita no escuro do universo. Ele só queria poder se esconder por trás das nuvens.

Se pudesse ser qualquer coisa, escolheria ser a menos notável.

Sentou-se no piso de novo, achando estar sem forças. Esticou as pernas, fitando o moletom escuro numa tentativa de prender sua atenção em algo interessante ainda com o tabaco entre os dedos. Espalmou uma das mãos no chão, próximo ao piso branco para, em seguida, inclinar as costas para trás numa tentativa falha de relaxar. Sentia os pulmões queimarem, estava carbonizando-os, mas ainda assim não conseguia se importar com isso.

Apertou os olhos, aproveitando a carícia do vento em seu rosto. Tragou com mais vontade e então soltou, respirando bem fundo logo depois. Sentia como se houvesse algo rasgando seu peito, aquela queimação, aquela dor que nunca ia embora. Aquele estúpido incômodo maldito que só servia para perturbar sua alma.

Absurdamente a sensação de falta de ar o acometeu, mesmo que de fato ele estivesse respirando.

Apertou o tecido de sua calça entre os dedos, crispou os lábios e tentou engolir o nó que começava a se formar em sua garganta. Os olhos, mesmo fechados, transbordavam. Socou o chão, cerrando os dentes e reprimindo um grito.

O estômago estava forrado, não comia, completava algumas horas mas isso não fazia a mínima diferença.

Sufocou e, no segundo seguinte, chorou. Deixou com que aqueles sentimentos que mais pareciam pesar uma tonelada de tão nocivos esvaíssem por seus olhos; precisava aproveitar que pelo menos dessa vez conseguia chorar, nada estava querendo ficar dentro de si. Chorar era a resposta que tinha para aquela bagunça que ele não sabia organizar. O mal-estar apenas se propagava e precisou sugar toda a fumaça para dentro de si com mais força para tentar preencher o vazio, aquele buraco, aquela falta de algo.

A música em seus fones era um instrumental clássico ao mesmo tempo que suave como uma pluma, o levava a pensar que talvez estivesse sozinho no mundo e, por um segundo, poder sentir que poderia colocar tudo para fora. 

Encolheu as pernas longas e apoiou os dois cotovelos sobre os joelhos. Os minutos foram passando e não tardou a pescar outro cigarro na cartela que trouxe consigo dentro do sobretudo que pegou emprestado de Yeosang no outro dia, agora em uma das máquinas na lavanderia da casa. 

Ponderou sobre a noite anterior em um exercício para se acalmar; o alaranjado do sol finalmente deu lugar para o esbranquiçado da lua e a mancha negra que era o céu quando a noite caía. As estrelas pareciam mais farelos soprados num espectro preto; e se fosse dessa forma que o universo fosse feito, diria que até mesmo alguém minúsculo e sem propósito como ele poderia fazer um unicamente para servir de refúgio.

Pensar nessas besteiras acabava por arrancar uma risada abafada e sem vida de seus lábios, e não demorou para que sacudisse a cabeça. 

O universo era muito mais do que poeira.

— Desde quando você fuma tanto? — a voz rouca e abafada de Yeosang se tornou presente por cima de seus ombros, sentindo seus braços rodeando o seu pescoço em um abraço frouxo. Ele bocejou e esfregou o rosto, sonolento. — Ainda está muito cedo, por que acordou?

— Eu não consegui dormir — se livrou do cigarro, envergonhado por ter sido flagrado recorrendo àquilo. Limpou o rosto molhado com as costas das mãos, fungando. — Eu sempre ando com uma cartela para tentar… buscar algum alívio quando as coisas fogem do controle dessa forma. Ainda estou ansioso, e vejo o olhar reprovador dos meus pais a cada vez que eu pisco. Eu sinto tanto medo de revê-los de novo que posso sentir cada parte do meu corpo tremer.

— Ontem você não quis conversar muito sobre isso — sentou-se atrás dele, ainda o abraçando. Seonghwa apreciou aquele ato, deixando sua nuca apoiar-se sobre o peito do mais novo enquanto observavam o amanhecer juntos. — Ficou calado, parecia estar se contendo muito. Às vezes eu olho para você como alguém que tenta recorrer à frieza quando não sabe o que fazer exatamente com os seus sentimentos. Veja bem, você está aqui chorando sozinho e quase nunca tem coragem de fazer isso na minha frente.

— Você também não gosta de chorar na minha frente.

— Que seja — deu de ombros. — Eu não sou o melhor em me expressar embora eu finja. Não é mesmo parte do que eu faço no meu dia-a-dia. Apesar de dizerem que sou agradável da minha própria forma, eu nunca realmente entendo como as pessoas se sentem, então eu uso palpites para tentar escolher a maneira certa de agir perto delas. Mas, com você, eu realmente prefiro deixar as coisas fluírem mais naturalmente. Eu sei que pareço desinteressado, mas, acredite, se quiser contar comigo, eu vou estar aqui.

Honestamente, Yeosang não era mesmo o melhor com aquilo. Ele era tímido com relação à expressar as suas emoções, e apenas selecionava palavras que havia aprendido serem as certas em determinadas situações. Não era uma pessoa fria, mas extremamente cético algumas vezes. Era tenaz num nível o qual suas ações podiam ser medidas com base em seus objetivos. No entanto, se tratando de Seonghwa, ele se via muito perdido e impotente. Tentava agir da melhor maneira possível, e passar por cima de alguns de seus bloqueios para ser alguém bom o suficiente para ele. Suas inseguranças o diziam que falhava, e Seonghwa mergulhado em angústia como estava vendo apenas o provava de sua imprecisão.

Apesar de entender que não era culpa sua. De fato, as pessoas têm as suas próprias maneiras de lidar com as coisas, e Seonghwa nunca realmente teve alguém ao seu lado para ajudá-lo além dele mesmo, e por isso era tão eficiente ser frívolo, apático e fingir não sentir nada. 

— Não quero que se sinta responsável por me fazer feliz o tempo inteiro — Seonghwa disse algum tempo depois. — Você foi até mim quando eu mais precisei de você, e está comigo até agora mesmo eu me comportando desse jeito… como se eu fosse inepto em lidar com acontecimentos infelizes. Eu nunca tive uma escolha, e passei a me conformar com o que me era oferecido acreditando que era o melhor que eu iria conseguir sendo eu. Só que, ontem, foi diferente. Eu senti que os meus pais estavam cruzando uma linha muito pessoal da minha vida, e não que eles já não tenham feito isso outras vezes. Meus pais já me fizeram desistir de tudo o que eu amava para me manter em baixo da autoridade deles. Eu já deixei de dançar ou de sair com outras pessoas, eu já deixei os meus sonhos de lado por não ter confiança nas minhas vontades e por me achar ineficiente. Eu só não queria ser repreendido — Yeosang reparou em algumas cicatrizes nos braços do Park, e os seus olhos transbordaram. Sabia que existiam algumas delas nas costas, nas pernas… Eram marcas de punições severas. — E eu acho que se eu não tivesse tanta vontade de acordar ao seu lado todos os dias, eu teria aceitado o casamento arranjado por não me importar o suficiente comigo mesmo para negar.

Um choque permutou interinamente o peito de Yeosang. Às lágrimas escorriam por seus olhos redondos conforme seus dedos iam passeando pelas cicatrizes; ele nunca jamais se viu ficar tão emocionado ao entrar em contato com as marcas de outra pessoa… pois, muito provavelmente, isso nunca aconteceu antes. Era o tipo de pessoa indiferente que não gostava de encarar molduras que não protegiam os seus próprios quadros. Seonghwa estava lhe mostrando um novo lado de si mesmo.

— Está dizendo que enfrentou os seus pais e foi contra esse casamento por minha causa?

— Eu não quero ter outra pessoa do meu lado que não seja você — declarou, convicto. — Você faz com que eu acredite em mim mesmo, e eu me sinto feliz ao seu lado. Eu quero ficar com você a qualquer custo, não importa o que eu tenha que enfrentar. É graças a você que eu não me sinto mais tão sozinho, e é com você que eu compartilho os meus medos. Eu comecei a olhar para os meus sonhos, e me sinto inspirado por você. Eu quero estar com quem verdadeiramente me inspira, Yeosang. E essa pessoa é você. 

Seonghwa apreciava Yeosang profundamente.

As bochechas do mais novo esquentaram e ele achou que nunca teria o seu coração acelerando tão rápido quanto naquele momento. Ele era uma inspiração para uma pessoa que fazia cada uma de suas células vibrarem. As sinapses de seu cérebro passaram a funcionar de forma desordenada, enviando sinais descontroladamente. Em seus lábios corados se esticou um sorriso genuíno do qual mudou todas as linhas de seu rosto extremamente belo. 

Tentou esconder o seu abalo evidente. Não deixava de fitar Seonghwa, preso nos detalhes de seus traços tão impecavelmente distribuídos por cada uma de suas feições. Reparou nas olheiras que marcavam os arredores de seus olhos que o lembravam jabuticaba, inchados e que, ao mesmo tempo, transbordavam uma autenticidade densa. 

Seonghwa havia narrado superficialmente como foi o jantar com a sua família. Ele contou que inicialmente eram somente os seus pais e seu irmão — o relacionamento entre eles era instável ao ponto de sentirem serem como desconhecidos algumas vezes. Após algum tempo um casal de amigos da senhora Park chegou com a sua filha, e realizaram a apresentação dela para o jogador, que tentava agir compassivamente, com obediência e temor. Uma conversa fluiu entre os presentes, e logo o assunto "casamento" veio à tona. 

Para os senhores Park era recomendável se casar, com base na religião, o mais cedo possível para não cair ao pecado da luxúria e etc, e um casamento por conveniência também viria a calhar se tratando de negócios e influência. A filha do casal de amigos que, mais tarde, Seonghwa descobriu que possuíam uma firma muito rica voltada para o ramo religioso, e igrejas estabelecidas pelo país, era bem aceito e gostariam que dessem início aos preparativos o mais rápido possível. Seonghwa ficou estarrecido pois, além de tudo, ninguém estava interessado em escutar o que pensava, e a ideia de ter que dividir uma casa e uma vida, com uma completa estranha, soava assustadora e deprimente. No fim, seus pais estariam o colocando em outra prisão. 

Ele jamais ergueu a voz para os senhores Park como fez naquela noite, exigindo que fosse consultado antes de ser colocado em um acordo que sequer sabia da existência. A discussão fervorosa com o seu pai foi notada por todos os presentes do restaurante requintado. Recebeu um tapa na face de sua mãe, o qual fez a estrutura de seu rosto latejar, exigindo que ele voltasse a se comportar. Ela era tão dura quanto o seu pai. No fim, Seonghwa conseguiu fugir tomado pelo desespero. 

Narrou o medo que sentiu enquanto discutia com os seus pais. Ele concluiu que fosse ser digno de retaliação e que merecia ser punido por isso logo depois de praticamente se rebelar contra eles. Achou que nunca fosse conseguir fazer isso, que fosse impossível… Mas agora o seu futuro era incerto. Ele não tinha certeza se conseguiria levar sua manifestação mais para frente. Tomado pela raiva e fúria pode fazer isso, afinal, não queria se casar tão logo, muito menos com alguém que ele não amava, mas, quando voltou a si, viu que nem em um milhão de anos faria aquilo em seu estado de nervos normal. O seu apavoramento era tão forte que ele podia tremer só por lembrar-se dos olhos fumigados dos senhores Park, do tom de voz elevado e das ameaças.

Em contato com a memória dessa conversa nada agradável, com os seus braços abraçando o mais velho, repentinamente Yeosang passou a chorar como nunca tinha feito antes. Seu corpo sacudia pela intensidade do pranto, os gemidos sofridos escapavam de seus lábios secos que tremiam assim como toda a sua extensão. A cabeça latejava, o coração ia violentamente contra a caixa torácica. Ele nunca havia provado nada daquilo que Seonghwa falava, apesar de ter desentendimentos com os seus pais, nunca sequer soube como era se ver ameaçado por eles. A sua mãe odiava o que vestia, ou como se portava, era contra até mesmo a profissão que escolheu e o fato de ser conhecido por milhões de pessoas mundo afora, porém, ela jamais fez algo efetivo para pará-lo além de reclamar e dizer ser contra, ou iniciar discussões que o senhor Kang podia, com muita paciência e diligência, apartar e, ao mesmo tempo, apaziguar o clima pesado que podia se instaurar por dias embaixo do teto de sua casa. 

Além do mais, possuía amizades que conheciam até mesmo o seu segredo mais estúpido. Yunho, Hongjoong e, sobretudo, San estiveram ao seu lado sempre que piscava os olhos. Podia contar com eles, tê-los como suporte, apesar de gostar de ser independente em quase todos os sentidos. Já os amigos de Seonghwa mal o conheciam direito, ele não contava para ninguém nada do que acontecia com ele e nem mesmo acreditava quando alguém expressava amá-lo… Park não achava que alguém gostava dele verdadeiramente, e vivia reinvestido em uma armadura de gelo para se proteger de ser um alvo fácil. Seus pais montaram um projeto perfeito de um ser humano apático, vulnerável e sem qualquer autoestima para que pudessem fazer o que quisessem com ele.

Levar tudo isso em consideração quebrava Yeosang. Realmente o destruía, era horrível enquanto que indescritível a um nível considerável. 

Seonghwa sentou-se para poder encará-lo, surpreso com o seu pranto copioso. 

— Que merda, olha o que você fez… — Yeosang balbuciou, escondendo o rosto com as mãos, soluçando. — Eu nunca nem mesmo chorei assim. Por acaso eu sou o quê? Idiota?

— Por que você está chorando? — juntou as sobrancelhas, aflito. 

— Não é nada — restabeleceu o controle de sua respiração, comprimindo os lábios. Buscava se recompor, mas era tão difícil quanto desatolar os pés de areia movediça. Concluir que todos os relacionamentos de Seonghwa eram abusivos e destrutivos o deixava tão… tão amargurado e aborrecido, que achou que fosse sucumbir a essas emoções não classificáveis. — Quer dizer… Você tem mesmo que passar por isso? Por que não pode viver em paz? Ninguém merece passar por algo assim. É tão cruel...

— Yeo… desculpe, não pense mais nisso —  sentou para ser capaz de acariciar os seus ombros, sorrindo timidamente. — Eu não entendo o porquê está chorando se… se sou eu quem deveria estar triste.

— Estou triste por você! Me deixe ficar triste em paz, eu posso?!

Com um sopro, Seonghwa riu, aquiescendo.

Ficaram na sacada de um dos quartos de hóspedes da casa de Mingi até que precisassem se preparar para ir até a universidade. 

— É surpreendente que as nossas roupas de ontem estejam limpas e secas — Yeosang proferiu saindo do banheiro grande, vestindo um roupão branco e indicando a cama de casal que dividiram com um olhar suspeito. Se aproximou das peças devidamente dobradas, cheirando uma delas. — E o perfume de amaciante é tão gostoso… Acha que a senhora Song se importa de adotar mais um filho?

Seonghwa veio logo atrás, também vestido em um hobby de cor preta, após escovar os dentes.

— Estou me sentindo em um hotel.

— Você fala isso, mas deve ser tão rico quanto ele.

— Ah — deu de ombros. — Você tem um bom emprego e pode ter todas as regalias que quiser desde que ofereça uma publi nas suas redes sociais.

— Eu sou uma pessoa cara, Seonghwa — advertiu Yeosang, começando a se vestir. — Para eu levar uma vida dessas teria que fazer publicidade para uma marca multimilionária e ter um caso com a CEO ou o CEO.

— Está brincando comigo? 

— Não, na verdade, é uma forma de alcançar esse tipo de coisa, se você quer saber. Já recebi muitos convites… mas, é nojento. 

— Alguém já… — iria questionar, a preocupação latente, porém foi prontamente interrompido.

— Não, apesar de já terem tentado me tocar por debaixo da mesa, em um desses jantares de negócio — falava como se não fosse nada, escondendo o extremo desconforto diligentemente para não alarmar o mais velho. — Eu sei me cuidar, não se preocupe. É um mundo bem sujo, mas não é como se eu fosse uma presa fácil.

Na realidade, ele estava longe de ser uma presa fácil.

— Ontem… isso aconteceu? Por isso pediu para o Mingi te tirar da mesa? — Park ficou encucado, quase que enclausurado. Chegou mais perto, apoiando as mãos na cintura e procurando o olhar do mais novo, que se concentrava em vestir suas roupas. — Ela passou a mão em você? — se referiu à mulher que iria tratar do fechamento da publicidade com o Kang, arqueando uma sobrancelha.

Yeosang fechou os olhos, voltando a abri-los devagar. Em seguida, ele riu amargamente.

— As pessoas acham que quem trabalha com imagem ou na indústria em qualquer área que seja ligada ao cenário artístico, deveria se prostituir por alguns trocados ou por um ou dois favores — umedeceu os lábios com a língua, semicerrando os dentes. — Esquecem que não somos produtinhos ou bonecos infláveis. Nos tratam com uma superficialidade como se não fôssemos pessoas como qualquer outra — seu tom de voz se tornou abafado, pesaroso. — Eu não vou deixar que pensem isso de mim ou me tratem assim. Eu não sou só… a porra de um corpo bonito e um rosto dentro dos padrões de estética. Eu, Kang Yeosang, tenho muito mais a oferecer e sou talentoso o suficiente para provar isso.

Ele deu aquele assunto por encerrado. Era incômodo e retratava uma parte obscura da indústria da qual inevitavelmente fazia parte. 

— Tem certeza de que está bem com isso? — Seonghwa estendeu suas mãos até os seus fios molhados, acariciando-os ternamente. — Eu queria que você nunca precisasse passar por esse tipo de situação.

— Não seja dramático — Yeosang riu mais uma vez, sacudindo a cabeça. O outro permaneceu sério, então teve que encará-lo face a face para confirmar que estava bem. — Se me olhar desse jeito de novo, eu vou te matar.

— Eu reconheço que você é forte, mas não posso deixar de me preocupar — balbuciou. — Se eu tivesse me dado conta disso ontem, teria ido eu mesmo ir buscar você. Sinto muito te dar tanto trabalho quando você tem os seus próprios problemas.

— Por um acaso eu disse que precisava da sua ajuda? — arqueou apenas uma sobrancelha, petulante, virando-se completamente para ele. — Se quer me compensar, faça isso agora então — sorriu malicioso, derrubando Seonghwa na cama com um empurrão e caindo por cima dele, o escutando dar risada. 

Os lábios foram colados imediatamente.

Yeosang segurou o rosto de Seonghwa antes de morder seus lábios, juntando-os com os seus. Não vacilou em pedir passagem com a língua, procurando pela do Tight End enquanto explorava sua cavidade. Sentindo o gosto dele, um sabor de menta e pasta de dente. A mistura de ambos sempre resultava em algo tão bom, imprescindivelmente satisfatório.

Separou-se de Seonghwa apenas para observar a face ludibriada que pedia por mais beijos, por mais toques. 

Esparramou as mãos pelas costas do Park por debaixo do hobby, segurando sua cintura e o apertando contra o seu corpo, voltando a beijar a boca dele com destreza. O camisa 80 tinha as mãos por seus cabelos úmidos, arranhando até a nuca e puxando alguns fios enquanto brincava com a maciez deles usando os dedos.

O peito se tornou pequeno para as batidas de seu coração desesperado, mal sentia as pernas, e seu íntimo implorava por mais do mais novo, de seus toques… dele.

Beijou de novo, de novo e de novo.

Inúmeras vezes, em ritmos diferentes, compartilhando uma dimensão inteira de sentimentos.

[...]

— No fim, Wooyoung não prestou apoio nenhum. Nós ficamos metade da madrugada conversando, e na outra metade preocupados com o Seonghwa e sem saber o que fazer para ajudá-lo, até que Yeosang nos disse que ele tinha conseguido dormir e deveríamos falar com ele na manhã seguinte — Mingi contava para a sua mãe na mesa extensa de café da manhã, repleta de pratos e mais pratos. A senhora Song ouvia atentamente tudo o que o seu filho tinha a dizer sob o olhar de seus outros dois amigos, aflitos. — Foi um caos, mamãe. Mas eu consegui resolver tudo.

— Fico feliz que tenha sido responsável ao menos uma vez — a mais velha proferiu, bagunçando os cabelos escuros do mais jovem. — Estão todos bem e você cuidou deles, fez o certo.

A família Song tinha um coração gigantesco. Eram pessoas tão boas e agradáveis que sequer pareciam reais; era como se eles tivessem saído de um seriado americano de uma família que funcionava bem, apesar dos pesares. 

— Acho um exagero que os pais do Seonghwa queiram o casar à força — o senhor Song criticou duramente na outra ponta da mesa, atraindo a atenção de todos enquanto degustava de uma refeição elegantemente. — Eu conheço essa tal família dessa moça, são muquiranos que ganham dinheiro usando da fé das pessoas… Que conveniente!

— Bem, casamento arranjado é algo muito ultrapassado mesmo — a senhora Song esboçou uma careta em desgosto. — Não acho que seja o melhor plano se você é uma mãe que quer ver o seu filho sendo feliz, e se preocupa com isso. No fim, nossos filhos realizam as próprias escolhas da vida deles, e têm todo o direito de fazer isso.

— Eu concordo, amor.

Mingi meneou a cabeça positivamente para os seus pais, estalando a língua enquanto apoiava o queixo em uma das mãos, brincando com a comida em seu prato.

— Com quem vocês iriam querer que eu me casasse se pudessem escolher? — ele perguntou, entediado e levemente curioso.

— Eu não me importo o suficiente para escolher uma noiva ou um noivo pra você ou o que seja, meu filho. Sendo uma pessoa, para mim está ótimo — a Song mais velha riu sendo acompanhada por seu marido, nem mesmo Jongho pode se segurar. Mingi os fitou, incrédulo. — Fala sério, tanto faz, escolha isso você mesmo, é você quem vai acordar todos os dias com a mesma pessoa. Se não quiser se casar também, você pode. Eu não queria me casar, mas o seu pai me obrigou quando tivemos o seu irmão mais velho.

— Fala isso como se tivesse se arrependido — o homem maduro choramingou. — Não me ama mais? Quer o divórcio? 

— Não, estou bem assim — a Song riu em deboche. — Se quisesse me divorciar já teria feito isso há tempos. Mas, digamos que você tem bons motivos para me ter por perto.

— É o kimchi que o meu pai faz — Mingi murmurou em esclarecimento para os seus amigos ao mesmo tempo que uma curta e calorosa discussão se desenrolava entre seus pais que nunca se ofendiam realmente, apenas desfrutavam de um humor nada genérico. — Mamãe ama kimchi, e o pai conquistou ela por isso.

— As pessoas amam por uns motivos estranhos — Jongho deu risada. — Qual foi a razão mais estúpida que fez você se apaixonar por alguém?

— Eu já me apaixonei por uma garota porque ela piscou pra mim — Song Mingi não poderia ter sido mais julgado, mas mesmo assim não se acanhou. — Já me apaixonei por outra porque ela ficava bem de vermelho, e gostei de um menino porque ele sempre me emprestava um "lápis da sorte" que ele dizia ser especial, na época da escola… Eu sempre ia bem nas provas por causa daquele lápis — sorriu, nostálgico. — Foi nessa época que eu percebi que podia gostar de meninos também.

Acabou tão submerso em entusiasmo pois os seus amigos se interessaram em ouvir parte de uma experiência que teve no passado, que mal notou quando os mais velhos da mesa começaram a prestar atenção no que conversavam.

— Me lembro como se fosse ontem Mingi chorando e chorando, descendo pelas escadas após passar uma semana trancado no quarto — a única mulher começou, bem-humorada. — Ele se jogou nos meus braços assim que cheguei em casa, inconsolável. Meu marido estava sentado na poltrona da sala lendo um jornal, e quase se preparou para levá-lo ao médico porque achava que nosso garoto estava sentindo alguma dor.

O senhor Song meneou a cabeça, dizendo:

— Minha esposa perguntou a ele o que estava acontecendo, quase se afogando de preocupação, os olhos cheios de lágrimas. Estava se preparando para o pior… Mingi estava agindo muito estranho por aqueles dias, e nós não sabíamos o que fazer.

— Eu não chorei! — ela protelou. — Eu só… fiquei comovida, não gostei de ver o meu filho sofrendo e não saber o porquê.

— Lembro que mamãe se ajoelhou na minha frente e limpou o meu rosto enquanto ela mesma chorava. Eu olhei pra ela com muito medo e tristeza, e disse pra ela que achava que tinha alguma coisa muito errada comigo — Mingi deu continuidade, rindo. — Eu disse: "Mamãe, estou doente… tem alguma coisa errada com a minha cabeça?" e ela perguntou o porquê algumas milhares de vezes enquanto eu me acabava de chorar. Eu disse pra ela, depois de muito tempo, que eu podia ser gay, porque na época eu achava que eu só poderia gostar de um gênero, e claro que esse deveria ser o feminino. Sabe o que a minha mãe fez? Ela riu.

— O que queria que eu fizesse? Aquilo foi ridículo. Eu achei que você tinha um problema de verdade — a senhora Song alisou o arco do nariz, meio irritada só por se lembrar. — O meu coração estava batendo tão forte que eu achei que fosse ter um infarto.

— Pra mim aquilo ainda era visto como um problema! Ninguém nunca me contou que era possível. Quando contei ao Minhyung três dias antes, ele disse pra eu desencanar e ir jogar futebol! — protestando, Mingi fez todos rirem. O clima estava bastante agradável e nostálgico. — Mamãe olhou pra mim, segurando o meu rosto, e com um sorriso disse: "Eu já sabia" e eu fiquei muito confuso. Papai só falou "Certo, onde está o dever de casa? Você tem que voltar para a escola". E no final, eu descobri que eles haviam apostado uma de suas ações na bolsa de valores para tentar adivinhar quando eu iria contar! Vocês são inacreditáveis…

Era mesmo fora do comum… Wooyoung se viu muito acolhido no meio de toda aquela conversa, pensando que Mingi era muito sortudo.

— Eu ganhei uma ação na bolsa de valores naquele dia — a Song se vangloriou, enxergando uma careta nítida na face de seu marido. — Foi um ótimo dia. Pude ver Mingi respirando bem de novo, tomando um fôlego. 

— Um mês depois ele estava chorando porque o garotinho que ele gostava tinha se mudado para uma outra cidade, aquele do lápis da sorte. Min sempre diz que nunca esqueceu dele — arremessando uma uva no filho, o Song mais velho não podia deixar de achar tudo muito cômico. — Mas depois ele disse que gostava de uma menina que mora na vizinhança, e ficamos confusos. Deixamos o tempo nos dizer o que estava acontecendo.

— Louvada seja a panssexualidade e o melhor dos cinco mundos — Mingi se pôs de pé, se preparando para sair da mesa. — Bem, eu vou chamar o Seonghwa e o Yeosang para tomarem café para que a gente possa sair, ou vamos nos atrasar. Acha que eles estão dormindo ainda?

— Não precisa, estamos aqui — Park disse no fim do conjunto de degraus, seguindo Yeosang. — Demoramos porque estávamos arrumando o quarto — era verdade, apesar de estar ocultando a parte dos amassos que, no fim, ninguém precisava saber. 

— Uns beijos matinais não matam ninguém, está certo — Jongho brincou. — Comam rápido porque precisamos sair em, no máximo, quinze minutos.

Os recém-chegados cumprimentaram os mais velhos com reverências, meneando a cabeça e assistindo oferecer os lugares na mesa.

— Não precisavam arrumar o quarto — a senhora Song disse, calma. 

— Foi muita gentileza da parte de vocês — o senhor Song por outro lado parecia parabenizá-los pelo zelo. — Minhyung quando traz os amigos faz a maior bagunça. Eu o mando arrumar tudo depois.

— Meus amigos, ao contrário dos do Minhyung, têm um cérebro — Mingi bagunçou os cabelos de Seonghwa quando este sentou ao seu lado, e Yeosang em frente à Jongho. — Dormiu bem?

— Sim, obrigado — Seonghwa respondeu, doce. Estava genuinamente agradecido pela cordialidade e gentileza de Mingi. — Do que estavam conversando? Eu só ouvi uma parte.

— Meus pais estavam contando para Jongho e Wooyoung como foi o dia em que eu contei que gosto de gente — seu vocabulário não foi censurado pelo mais velho, que somente assentiu. — Yeosang, você é uma estrela da internet, não é? Mamãe adora os seus vídeos, a minha irmã também e até eu sigo uns de vez em quando.

— Eu também. Como acha que eu sou tão galã? As moças do trabalho ficam babando por mim.

— É bom que elas fiquem bem longe de você, senhor Song, ou vão servir de tapete para os meus calçados — a esposa advertiu, revirando os olhos, mas concordando com o que seu filho disse. — É uma honra te conhecer pessoalmente. Eu não esperava que Seonghwa tivesse tão bom gosto, por causa da péssima experiência com Haeryung.

A família Song podia ser considerada como uma opção viável se tratando das relações próximas que Seonghwa tinha com os pais e responsáveis de seus melhores amigos.

— Certamente aquela garota era uma dissimulada, e não te tratava bem, é bom que tenha terminado com ela — o senhor Song acentuou. — Esse rapaz, sem dúvidas, gosta de você de verdade. Posso ver só de olhar. Ele é talentoso. Tirou a sorte grande, rapaz.

— Pai…

— Mingi, deixe ele falar, o senhor Song sabe o que diz — Seonghwa sorriu, grato. 

— Eu concordo com o meu esposo — proferiu a Song.

— Obrigado — Yeosang não sabia como agradecer, estava profundamente lisonjeado. Seu público majoritariamente era formado por pessoas mais jovens, porém, não deixava de ser incrível que alcançasse outras faixas etárias também. Abaixou minimamente a cabeça, tímido. 

— Estou curioso para saber como os seus pais lidam com isso — Jongho pontuou, servindo o Kang. — Quer dizer, a minha mãe também adora o seu trabalho, mas o meu pai é um pouco mais fechado, embora ele não veja problemas… e a opinião dele não importe.

— Deveriam ficar orgulhosos — a Song revelou parte de suas expectativas, otimista.

— Hum, bem… — Yeosang começou, devagar, esperando Jongho terminar de servi-lo. — Minha mãe não gosta muito, por ela eu seria qualquer outra coisa. 

— Não acredito… — Mingi arregalou os olhos. — Ela sabe sobre o Seong-hyung? Como foi que você disse isso pra ela?

— Ela não sabia sobre o meu trabalho na internet, e acabou descobrindo quando eu comecei a ganhar popularidade. Meus pais sabem sobre a minha sexualidade há muito tempo, na verdade, mas eu não contei pra eles porque nunca vi necessidade. Teve um dia que eles me perguntaram e eu só disse que sim — tomou um gole de chá, sentindo sua garganta seca. Ele fazia tudo com uma elegância impressionante, os senhores Song não podiam tirar os olhos dele. — Mamãe ficou muito irritada e me disse muitas coisas ruins, nós discutimos e ficamos sem nos falar por quase seis meses. Já o meu pai… eu acho que ele só ficou decepcionado. Sabe, a maioria quer ter um filho tipo… tipo o Wooyoung — indicou o mais novo, calado enquanto ouvia a conversa. — Eu discuti com a minha mãe e saí de casa, passei algumas semanas morando na casa do San, o meu melhor amigo. A mãe dele me acolheu e me deu bons conselhos. Até que em uma tarde o meu pai apareceu por lá para me buscar. Ele estava triste…

— Por quê? — Jung franziu o cenho, interessado.

— Ah, bem… ele sabia que eu tinha saído de casa por não querer ser recriminado e ofendido. Papai disse que ficou decepcionado consigo mesmo por não saber como reagir, e por ter sido estúpido a princípio, enxergando como se fosse o fim do mundo. Ele disse que no tempo em que eu fiquei fora, sentiu muito a minha falta, e que me amava tanto ao ponto de não querer que eu mudasse em nada — sorriu ternamente, ignorando os olhos marejados de sua "plateia". Seu coração aquecia apenas por se lembrar. — Meu pai não me contou, mas enquanto eu mexia em seu celular, li em seu histórico de navegação inúmeros sites que falavam sobre a homossexualidade. Ele leu artigos sobre isso, ele até mesmo conversou com outros pais que também têm filhos como eu. Tudo porque ele queria entender, e aceitar, por mais difícil que fosse.

A mesa foi tomada por uma comoção sem precedentes. Todos fizeram algum comentário pertinente, em ressalva os mais velhos, com exceção de Wooyoung e Seonghwa. A conversa continuou entre eles, navegaram por aquele assunto até que partiram para outro, desatando a rir com as piadas feitas pelo Song mais velho.

— Minhyung me pediu para te lembrar de deixar as camas infláveis que estão no seu carro no quarto dele, hoje ele vai viajar com os amigos e a namorada para… para onde mesmo? Incheon? — o pai de Mingi ficou confuso, e sua esposa apenas meneou a cabeça.

Mingi bateu contra a própria testa como se houvesse lembrado de algo.

— Tenho que levar os novos livros para a aula hoje! — retirou as chaves dos bolsos para arremessá-las para o mais maduro, se levantando para correr até o seu quarto onde estavam os tais livros. — Pai, pega lá no meu carro, está no porta-malas. Eu vou organizar os meus materiais para sair logo. Que droga, eu quase esqueci!

O senhor Song suspirou, assentindo.

— Seong, pode me ajudar? São duas camas, e elas são pesadas — pediu com um sorriso terno, recebendo um assentir de imediato.

Foram até a garagem e o mais velho abriu o porta-malas para retirar as camas infláveis, reclamando do quanto o seu filho do meio só lhe dava trabalho. Minhyung era o oposto de Mingi, mas os dois não podiam evitar de serem quase como melhores amigos.

Quando terminaram o trabalho, Seonghwa estava se preparando para voltar para dentro da casa, no entanto, o senhor Song lhe impediu quando o estendeu um cartão de visita.

— Esse é o número de telefone da minha esposa e o meu — indicou, ainda sorrindo, sua voz era bastante afável. — Pode nos ligar caso precise de qualquer coisa.

— Senhor Song… — Seonghwa paralisou, surpreso.

Palpitou que Mingi havia contado tudo para os seus pais — ou seja, eles já estavam a par de toda a situação. Foi impossível não ficar apreensivo ao ter essa constatação caindo como raio, mas o ar paternal exalado pelo Song à sua frente logo fez esse sentimento se desfazer.

— Sabe, Seong, eu não sou o mais religioso, a minha mulher é um pouco mais do que eu, mas não somos tão apegados a isso tanto quanto à filosofia de que todos merecemos ser felizes. Só pelo fato de alguém existir, a faz merecer respeito. A vida é curta demais para nos prendermos à coisas pequenas — proferiu, incentivando o mais novo a pegar o cartão que acabou o fazendo, cabisbaixo, pois… não imaginava que uma pessoa como o pai de um de seus amigos fosse ser solidário ao seu problema familiar, e agradecia por Mingi não ter pais como os seus. — Mas, acredito que se Deus existe, ele ama todos igual. Velhos como eu precisam parar de pressionar os jovens como você. A taxa de suicídio tem crescido tanto, principalmente entre os jovens, e ninguém realmente para pensar sobre isso por mais preocupante que seja… A vida das pessoas é preciosa, independente de quem elas são. Se Deus existe, espero que ele olhe para o que importa — protelou, bagunçando os cabelos negros do Park que tinha os olhos brilhosos arregalados. — Se precisar de alguma coisa, saiba que as portas da nossa casa sempre estarão abertas para você… e para o seu garoto. Eu sei que os seus pais não sabem ainda... Se se sentir ameaçado, ligue para mim ou para a minha mulher, e nós vamos tentar ajudar como pudermos. Mingi e os rapazes também estão dispostos… Não se preocupe com nada disso, tudo bem? Na verdade, passe uns dias aqui até as coisas com os seus pais se acalmarem, e se quiser ir para casa depois, faça isso. Se lembre que não está sozinho, por favor. Não se precipite ou faça qualquer besteira, lembre-se que sua vida vale a pena. 

Trouxe Seonghwa para um abraço fraternal, dando tapinhas em suas costas como faria se fosse Mingi ou os seus outros filhos. 

— Obrigado, senhor Song — o jogador tentava conter-se para não voltar a chorar, embora estivesse muito emocionado. — Muito obrigado.

— Ora, não precisa me agradecer. Meu filho adora você, e você é um bom menino — limpou uma lágrima teimosa, revirando os olhos ao ouvir a risada de Mingi e Jongho logo em suas costas, acompanhados por Yeosang, Wooyoung e a senhora Song. — Uma palavra e eu te deserdo, Song Mingi! 

[...]

Nem mesmo assistir Cavaleiros do Zodíaco podia distrair San. Desde que voltou da casa de Mingi, ele dormiu um pouco, mas acordou muito mais cedo, totalmente inquieto ao ponto de não ser mais capaz de pregar os olhos. Partiu para a sala com o seu cobertor e travesseiro, deitando sobre o sofá e optando por assistir algum anime enquanto cochilava em alguns momentos e se via completamente aceso em outros.

Quando seu celular avisou que já era a hora de levantar efetivamente para se arrumar e ir para o campus, San afundou ainda mais o seu corpo no estofado confortável. Sua mente estava tão cansada que era difícil até mesmo ler a legenda que era exibida na tela, seja lá qual fosse aquele episódio. Viu tantos deles desde a madrugada que perdeu a conta. Suas pálpebras pesavam e seus reflexos se encontravam tão lentos, que a senhora Choi pode arremessá-lo um travesseiro sem que ele desviasse para chamar sua atenção.

— Passou a noite vendo CDZ? — ela perguntou, sentando-se ao seu lado ainda vestida em seu pijama confortável. O mais novo apenas assentiu, bocejando. — Como planeja prestar atenção na aula se mal dormiu?

— Não existe a mínima possibilidade de eu não ir e você não me encher o saco por causa disso a manhã inteira, não é? — murmurou, piscando lentamente. Como o esperado, a Choi concordou. — Se eu disser que estou com dor de cabeça, isso não vai amolecer o seu coração de pedra ao ponto de você se compadecer?

— Não — negou de imediato. — Tome um remédio e faça uma boa refeição. Volte cedo para casa e durma pela tarde — recomendou, se esticando para bagunçar os seus cabelos que eram uma mistura de preto e vermelho. — Não me contou o que aconteceu ontem. Woo e você brigaram? Jina não parava de especular, toda hora ela se virava para me perguntar se eu sabia o que estava acontecendo. Mas, adivinha, Choi San não conta nada para a sua própria mãe.

— A ignorância é uma dádiva — bufou, virando-se para o teto e cobrindo o rosto com uma almofada. — E, às vezes, uma maldição. Muitas dessas vezes a maldição é mais direcionada aos outros do que a si mesmo — sua voz era abafada pelo tecido que sustentava contra sua face, pesada. — Não está acontecendo nada, Yuna.

— "Yuna" — imitou, esboçando uma careta. — Pra você é "mamãe"! — reclamou audivelmente, recebendo um dar de ombros. — Sabe que estou aqui caso queira me contar algo. Foi assustador te ver entrar por aquela porta todo encharcado, e pior! Sem o Wooyoung.

— Você gosta tanto do Jung que deveria adotar ele para ser seu filho no meu lugar!

— Eu gosto de você também, não se preocupe — deitou sobre o mais jovem, a fim de importuná-lo. — Quando duas pessoas saem juntas, é de se esperar que elas voltem juntas. Não tenho culpa de ficar surpresa por isso não ter acontecido ontem — ela estava o provocando, San conhecia aquela tática.

— Saiba, Choi Yuna — proferiu, petulante, retirando a almofada branca do rosto e batendo de leve em sua mãe com ela. — Que esse jogo sujo não funciona comigo. Não tem nada acontecendo, então não fique pensando muito nisso.

Yuna continuou choramingando, pedindo para que ele lhe contasse o que evidentemente escondia. No fim, ela não conseguiu nada, e San fugiu na primeira oportunidade que teve. 

Não queria conversar com ninguém. Era de extrema importância que avaliasse os últimos acontecimentos sozinhos… Isso até que encontrou Hongjoong na cafeteria, e saltou sobre ele para reclamar do quão aqueles dias estavam sendo estressantes e ele já não suportava mais. Yunho passou por eles, e San não se acanhou em puxá-lo para dentro de sua roda também, faltava apenas Yeosang que não foi visto pisando naquele prédio por aquele horário.

O clima entre Yunho e Hongjoong era realmente, e inegavelmente, ruim do tipo que soavam como desconhecidos um para o outro. Quando o mais velho decidiu se afastar do Jeong, ele achou estar fazendo a coisa certa a fim de respeitar os sentimentos de seu amigo — além do mais, não era o mais apto para lidar com alguém tendo sentimentos por ele, temia ter de caminhar sobre ovos por culpa da responsabilidade emocional que adotaria ficando ao lado do mais alto. Porém, isso não era totalmente verdade, e Yunho ficou tão aborrecido com esse seu comportamento um tempo depois, que tentou criar dentro de si uma espécie de indiferença ensaiada. No fundo, ele apenas queria dizer que sentia muito e fingir que a sua paixão pelo melhor amigo havia ido embora do dia para a noite, tudo para tê-lo de novo em sua vida. 

San se enquadrava no que chamam de "aéreo". Ele ficou tão alheio ao clima entre os dois amigos, que não pode se incomodar muito com isso. Tudo o que ele sabia, e conseguia, cogitar era o que aconteceu na noite de ontem. Em partes, se sentia culpado porque por sua culpa Wooyoung molhou todo o gesso e expôs sua fratura na perna a uma piora, por outro lado achava ter razão, afinal, não podia negligenciar completamente os seus sentimentos. Assumia ter agido por impulso, assumia também que não sabia como reagir agora. Deveria levar em consideração o preconceito disfarçado de conselho do senhor Jung? No fim, ele tinha os seus motivos para estar recomendando que ficasse longe de Wooyoung. E o jogador nem mesmo negou não estar mais em um relacionamento com Bae Suji.

Tomou como conclusão que para pessoas como Jung Wooyoung, o melhor era viver comodamente. 

Apesar disso, Choi se viu deveras machucado com tudo o que ouviu dos amigos do senhor Jung, e do próprio senhor Jung. Aquilo foi uma experiência muito intensa da qual nunca queria ter provado… porque doeu como o inferno, terminou dilacerado, desamparado e com muito medo. Ficava apavorado todas as vezes que algo o lembrava da existência de mentes como as daqueles homens. Inevitavelmente pensava ser um erro, e procurava se isolar disso em busca de abstenção. 

— Ontem você… mandou algumas mensagens no grupo, dizendo que não estava muito bem e queria conversar — Yunho começou, direcionando sua atenção à San sentado à sua frente, tomando um copo de café gelado. — Mas quando tentamos falar com você, você sumiu.

— Yeosang nem deu as caras, aquele tratante! — um biquinho armou-se nos lábios dele. — Mas… eu sei o porquê — cruzou os braços. — Eu entendo, mas isso não faz eu ficar menos insatisfeito.

— O que você sabe? — Hongjoong perguntou, curioso, na companhia de um sanduíche que trouxe de casa.

— Eu não sei de muito, apenas que ele estava com Seonghwa ontem e que algo muito sério aconteceu. Mandei algumas mensagens, mas não fui respondido até agora — para todos os efeitos, Choi San estava com ciúmes. — Aquele pavão é mais importante que eu, que sou o melhor amigo dele? Quer dizer… eu sei que sou facilmente substituível e— 

— Nem começa — revirando os olhos, o mais velho desdenhou. Checou o relógio de pulso, constatando que era a hora de irem para a aula. — Mais tarde nós vamos conversar sobre o que te fez ter aquele… surto. Quero saber de tudo.

— Por que ele não pode contar agora? — era impressão de Hongjoong, ou… Yunho estava falando consigo? — Não me importo de matar a primeira aula agora para ouvir o meu amigo. Eu juro que quase sai da minha casa de pijamas apenas para ir visitá-lo de madrugada.

— Deveria ter feito isso, seria bem-vindo para me suportar chorando horas e horas sem nem saber o porquê. Eu coloquei "As Aventuras de Chihiro" para assistir no celular porque não conseguia dormir, e chorei durante uma hora e meia. Chihiro estava voando sobre o Haku em sua forma de dragão, e eu estava lá me acabando de chorar. Quando o Kaonashi começou a seguir a Chihiro até o trem, e ela perguntou se ele queria ir junto com ela até a casa da Zeniba, a irmã gêmea da bruxa Yubaba, eu não me aguentei. Eu chorei até mesmo quando a Lin entregou roupas limpas para a Chihiro usar.

— Sim, San, já entendemos que você chorou.

— Hongjoong-hyung, como você pode ser tão insensível? 

— Eu não sou insensível, apenas quero que você pare de enrolar e diga de uma vez o que aconteceu com você. Brigou com a sua mãe ou o quê?

— Sinto falta da época em que os meus problemas se limitavam a ter que tolerar as bobagens da minha mãe — San suspirou, passando as mãos nos cabelos macios e jogando-os para trás. Apoiou sua cabeça sobre o braço entendido em cima da mesa da cafeteria, quase como se quisesse dormir ali mesmo. — Eu conheci o pai do Wooyoung.

— Tinha que ter algo a ver com esse otário — Hongjoong definiu o lado em que estaria logo de início, recebendo um arquear de sobrancelha de Yunho que… somente desejava fazer San desabafar, ouvir dele detalhes sórdidos e justificativas sólidas. — Certo, não vou julgar antes de ouvir… Comece contando tudo. Podemos entrar atrasados na aula da senhora Oh.

Logo San se pôs a narrar a caótica situação em que envolvia ele, o senhor Jung e Wooyoung — os amigos babacas do Jung mais velho eram apenas coadjuvantes. 

Pode encontrar na expressão de seus amigos algo similar ao choque. Yunho ficou enjoado e logo entendeu o que deixou San tão amargurado e aborrecido; Hongjoong, por outro lado, procurou usar argumentos lógicos para contrariar as declarações assiduamente odiosas dos homens amigos de Yoochun. 

— Não sei o que pensar — Jeong se manifestou, bagunçando os cabelos escuros. — Primeiro de tudo… Como assim Wooyoung e você estavam — checou os arredores antes de falar, se certificando de que o lugar se encontrava praticamente vazio. — se envolvendo desse jeito? Ele não era hétero? Namorado da Bae Suji!

— Eu… ia te contar em uma melhor ocasião — San foi rápido em rebater, mordendo o inferior. — É que na verdade nenhum de nós dois levamos isso a sério até agora. Não pode deixar ninguém saber sobre isso. 

— É claro que não, San! Eu só espalho fofocas que não têm a ver com os meus amigos — garantiu o estudante de veterinária. — Porra! — não pode conter a surpresa dentro de si, os lábios estavam bem abertos e olhos meio arregalados. — Jung Wooyoung e você… Céus, eu vou precisar de um tempo para me acostumar com isso. As pessoas ainda estão especulando se Suji e ele terminaram, mas a maioria acha muito improvável. Se não fosse você me contando, eu não acreditaria.

— Eles iriam terminar uma hora ou outra já que o Jung curte mais caras do que meninas — Hongjoong debochou. — Não é culpa do San, ele só adiantou um processo que poderia ser ainda mais tortuoso a longo prazo. Wooyoung deveria agradecê-lo.

— Isso é… surreal.

— Querem saber de uma coisa? Eu não acho que ele goste de mim — San pontuou, sério.

Hongjoong e Yunho piscaram algumas milhares de vezes, confusos.

— O quê? — proferiram em uníssono.

— E o pai dele pode ser um lixo de ser humano, mas nunca ia fazer nada para prejudicar o Wooyoung. O senhor Jung é apaixonado pelo filho dele em termos fraternais, é claro. Ele é maluco por aquele garoto ao ponto de dar a vida por ele cem vezes porque o Youngie é o filho que aquele homem pediu à Deus. E… eu ouvi aqueles caras falando que o jogador que se assumiu homossexual ia ser expulso do time de futebol. Eles falavam sobre esse menino como se ele tivesse morrido no momento em que assumiu a sexualidade dele — fitou as próprias unhas curtas, intercalando entre elas e as pintadas do Kim. Tentava disfarçar sua dor ao reconhecer que, possivelmente, o senhor Jung conhecia o mundo do futebol muito melhor do que ele, e não era para menos… San odiava esportes, quase todos eles sem exceção. — Tem ideia de que isso pode destruir a carreira brilhante do Wooyoung? Eu não quero ser responsável por isso, e… se ele ainda quiser namorar um cara, que encontre outro para enfrentar o pai dele. Eu só quero ter uma vida normal. Fora que moramos sobre o mesmo teto, seria… estranho. Acha que a minha mãe ia lidar bem com isso? E a senhora Jung… Sério, isso tem que parar por aqui.

— No fim você só está magoado com ele — cético, Hongjoong analisou-o clinicamente. — Desde quando se importa com o que a sua mãe vai pensar? Desde quando se importa com o que o senhor Jung vai pensar? Se gostasse mesmo do Wooyoung, não estaria desistindo tão facilmente.

— O senhor Jung foi bem claro quando disse que me quer bem longe do filho dele. Eu sou uma… influência ruim? Eu acho que sim.

— Está concordando com aquele preconceituoso filho da puta? Puta que pariu, Choi San, eu mal reconheço você. Enlouqueceu do dia para a noite? Wooyoung pode ser um otário, mas você o descartar desse jeito sem nem deixar ele saber o que merdas aconteceu e te fez mudar de ideia sobre ele é bem injusto, te torna um babaca — Kim ralhou duramente.

Esfregando as palmas das mãos no rosto, San somente deixou de fazer aquilo quando sentiu sua pele arder. Respirou fundo para puxar ar de volta para os seus pulmões, sentindo a garganta seca e o estômago revirando. A cabeça latejava, e o seu nervosismo chegou num nível tão alto que ele sequer tinha algo para dizer em sua mente que se parecia com uma folha de papel em branco. Parou para refletir no que havia acabado de ouvir, constatando que não era mais uma das peripécias de sua mente confusa. Passou a tentar processar a informação, piscando lentamente, segurando o tecido de sua pasta em seu colo com as duas mãos, pressionando sem perceber. Riu pelo nariz, fazendo um gesto negativo com a cabeça, se recusando a acreditar. Abriu a boca para empurrar algo para fora dela, mas, novamente, se viu mudo. O canto de seus olhos ficaram úmidos e vermelhos.

Ele não se sentiu compreendido, porém, não podia negar enxergar sentido no que o seu amigo estava dizendo. O problema foi como ele o fez, sem se importar em ser grosseiro e ranzinza. O temperamento dele era difícil, mas nunca chegou ao ponto de San pensar que não conseguia suportar.

— Hongjoong, eu acho que… podemos tentar ser mais compassivos com o San, não é? Não é fácil ouvir o que ele ouviu, e lidar com o fato de que ele pode ser um problema para o Jung daqui pra frente, porque… você não sabe, mas é o sonho daquele garoto ser um jogador profissional e todo mundo sabe que engenharia é só a segunda opção dele. Você está sendo meio extremo em assumir tudo isso — Yunho contrapôs, soando baixo e hesitante.

— Apenas estou sendo realista — Hongjoong contrapôs, confiante.

— Está dizendo como se nunca tivesse sido minimamente irracional na vida. Não foi você que se afastou de mim do nada? Não pode criticar o San! 

— Cala a boca! Não foi do nada, eu tenho os meus motivos! — alterou-se.

— Ah, tem? — sorriu em deboche, escondendo o quão magoado ficou. — Quais? Me diga, estou bem interessado em ouvir.

— Quer saber, Jeong Yunho? Vai se foder. Eu não quero mais conversar com você — recolheu a bolsa de cima do banco, preparando-se para se retirar. 

San e Yunho assistiram Hongjoong se afastar em passos fundos, bufando e apertando os punhos. Definitivamente ele não gostava de não ser escutado, ou ser pressionado por qualquer motivo que seja. Ele já tinha os próprios demônios para lidar, não é? 

— Ele… ele disse isso tudo mesmo? — o timbre de San soou tenro, tranquilo, quase desaparecendo em frente ao ruído rouco formado por sua voz que fluía da garganta. O corpo estava dolorido pela quantidade de horas que passou deitado de mal jeito no sofá de sua casa. — Hongjoong pode até estar certo sobre o que falou antes de começar a discutir com você, mas o que eu estou fazendo me torna muito diferente dele? 

— N-não — Yunho fungou, se recompondo rapidamente. O baque ainda repercutiu por algum tempo, se viu tão cansado que seu peso afundou mais no assento, os ombros encolheram. — Eu não sei. Logo ele vai se arrepender por ter estourado e falado esse monte de coisa, e vai pedir desculpas.

— Ele pedir desculpas não faz o que você está sentindo agora desaparecer! 

— O hyung… só está tratando esse assunto da maneira que ele acha certo — sorriu compassivo, se colocando de pé. — Quer dar uma volta? Podemos entrar depois do intervalo.

Fizeram o que o Jeong propôs. Eles trataram de se distrair falando de qualquer coisa, até mesmo Harry Potter virou um tópico o que já era de praxe entre os dois amigos. Yunho não queria expressar o quão magoado e sentido ele ficou após aquela pequena discussão com Hongjoong, nem expor o seu medo de perdê-lo… porque ele era alguém importante demais para ir embora desse jeito, machucava muito.

No fim da tarde, o estudante de veterinária estava recolhendo alguns materiais de seu armário no corredor do prédio de medicina quando notou de soslaio Mingi se aproximar em passos largos. Estava pronto para fechar a porta do armário e fugir, porém o linebacker foi mais rápido e empurrou uma folha sulfite contra seu peito, usando sua outra mão para bater a porta do armário e trazer a atenção do mais alto completamente para si.

— Eu cumpri a minha parte — ele apenas disse isso, passando por Yunho e seguindo o trajeto até os elevadores.

Ainda tomado pelo choque, Jeong segurou o papel que quase foi parar no chão por conta de sua demora para reagir. Leu com bastante lentidão os dizeres "admissão".

Aquela era… uma ficha para o clube de futebol americano?

Um sorriso gigante se emoldurou em seus lábios. A felicidade foi tão grande que ele começou a dar pulinhos, soltando gritos eufóricos e dando socos no ar.

Ele correu até Mingi que esperava o elevador chegar naquele andar e o abraçou bem apertado.

— Isso é brincadeira? Me diz que não estou sonhando! — Yunho irrompeu falando, alegre.

— O treinador resolveu te dar uma chance depois de tanto eu insistir, mostrando os vídeos dos nossos treinos e dos jogos que você participou no colégio. É um posto provisório, mas tenho certeza que você vai se sair bem — o sorriso de Mingi era triste, embora seus olhos refletissem genuína satisfação em ver Yunho radiante daquela forma… Seu coração ficou quente, quase ameaçando explodir. — Não jogue nosso esforço de meses fora. Faça isso valer a pena, beleza?

Yunho se afastou dele, assentindo veementemente.

— Eu prometo que você não vai se arrepender! 

Com um leve menear, Mingi voltou a fitar as portas metálicas do elevador, encarando os números dos andares no painel e se perguntando mentalmente porque estava demorando tanto. Não que não gostasse da companhia de Yunho, no entanto, naquela hora o ar entre eles parecia rarefeito. 

Quando a euforia se dissipou e os neurotransmissores do Jeong passaram a se reorganizar, focalizou novamente no documento que tinha em mãos e em seguida no Song, sentindo um gosto amargo tomar o seu paladar. Era o mesmo que usar sapatos que não lhe serviam, a culpa e a apreensão tornou os seus ombros tão tensos quanto rochas.

— Por que me ajudou, Mingi?

— Foi o que eu prometi, não foi? Você pode não ter cumprido a sua parte, mas eu cumpri a minha — seu tom de voz não revelava raiva ou qualquer emoção similar, e essa era a pior parte.

Sinceramente, Yunho preferia que Mingi brigasse com ele.

— Eu acho que te devo alguma explicação — abaixou a cabeça, coçando a nuca. Ouvindo o som das portas do elevador se abrindo, instintivamente seguiu Song para dentro dele. Ignorou sua consciência o alertando de que, provavelmente, era melhor que deixasse tudo como estava. Jeong, honestamente, não suportava mais ter que continuar fugindo. — Você quer me ouvir?

Pressionando um dos botões no painel, Song assentiu.

— E por que não iria querer? Eu estou te pedindo isso há semanas.

— Certo… — umedeceu os lábios com a ponta da língua, fitando o chão. O nervosismo o transformava em uma gelatina nada consistente. Se fosse outra situação, Mingi estaria rindo. — Pode pelo menos me xingar antes? Eu não me sinto bem com você me tratando bem… Não acho que eu mereça.

Virando o rosto em direção ao Jeong, Mingi possuía uma incógnita na testa. Ele certamente não entendia qual era o intuito de Yunho em querer vê-lo irritado. Somente chegou à uma conclusão viável quando analisou cuidadosamente suas linhas faciais que demonstravam remorso. 

Não fazia mesmo parte da índole de Yunho agir como ele agiu durante todo aquele tempo. Ele não só enganou Mingi como ocultou a verdade dele. O acordo entre eles era, basicamente, unilateral até aquele ponto. Enquanto o linebacker o ajudava a treinar e listava as regras do futebol americano, o ensinava técnicas e outros pormenores, o Jeong se limitava à apenas ser útil ao que se dizia nas atividades da universidade. 

A verdade era que Yunho foi tão egoísta que agora se envergonhava, estava arrependido. Ele só queria que Mingi fizesse alguma coisa para igualar a situação, poderia contra-atacar como acontecia nos filmes americanos, se vingar ou o maltratar por alguns dias somente por equivalência. No entanto, fazendo o inverso, apenas incitava um peso na consciência do mais alto.

Saíram do elevador e seguiram caminhando. Yunho reconheceu aquele caminho como o que levava para o vestiário do time de futebol. Decidiram ir pela parte descoberta do campus para pegarem um pouco da luz do sol e ar fresco. 

— Wooyoung está com a perna quebrada e precisamos de um quarterback urgente. Nenhum dos reservas são tão bons quanto ele, e ninguém esperava que isso fosse acontecer agora. Aqueles filhos da puta dos Saviors... — apertou os punhos, inconformado. — Mas você foi quarterback do seu time no colégio e entende tudo de futebol americano, e está ainda melhor depois de ter umas aulas comigo — sorriu convencido, passando a mão pelos cabelos escuros. — Só me prova de que eu estou certo em te indicar para o treinador, e traga sorte para o nosso time. Eu prometi para o Wooyoung que o faria jogar nas finais, e eu vou fazer isso.

Yunho tomou aquilo como uma obrigação.

— Eu fiquei sabendo o que aconteceu com ele… Dizem que foi em uma briga de torcida organizada. 

— É o que estão falando, não é? — desconversou. — Bom, se apresente para o treinador hoje e dê o seu melhor. Se se sair bem, com certeza vai ser recrutado.

— Eu vou conseguir — parou de andar repentinamente, e o Song o acompanhou, apoiando uma das mãos na cintura. — Ainda está afim do Hongjoong?

A cabeça do linebacker tombou minimamente para o lado, ele piscou algumas repetidas vezes e usou a palma da mão para impedir que a luz do sol fizesse os seus olhos arderem. 

— É claro — confirmou, notando um visível descontentamento por parte do outro. — Por quê? 

— Eu… eu… eu… — Yunho engoliu em seco, mal conseguindo respirar. — Ele vai estar em um evento de Hip-hop depois de amanhã. Ano passado eu fui com ele e mais alguns amigos. Mas, como estamos brigados, ele provavelmente vai com o San. 

— O que quer dizer?

— Você gosta desse estilo de música também, não é? — riu sem graça. Torcia para que a claridade do dia não revelasse seu rosto e orelhas vermelhas. — Rap… Hip-hop… Dê um jeito de ir e faça ele te notar lá, ter alguma coisa em comum com ele vai ajudar com que se aproximem.

— Você é incrível! — um sorriso animado saltou em seu semblante. — É uma ótima ideia. Eu não sabia que ele gostava tanto assim, isso me deixa feliz.

Yunho sorriu. Era bom que pudesse se redimir… ao menos um pouco.

— Boa sorte — voltou a andar, dessa vez mais rápido. O coração dentro do peito passou a bater dolorido; ele sabia que não tinha chance alguma contra Song Mingi, ele era o tipo de adversário formidável, e… Gostaria que, se fosse para Hongjoong ficar com alguém, que fosse com uma pessoa tão excepcional quanto ele. 

Ele acelerou tanto os seus passos que quase tropeçou nos próprios pés, temendo que mudasse de ideia e deixasse seu ciúme interferir em sua decisão final. Um nó se formou em sua garganta assim que sentiu uma das mãos do Song agarrando seu ombro para impedi-lo de ir mais longe.

— Qual é o problema? — era claro que fosse notar que havia algo errado, Mingi podia ser avoado mas não era burro. — Yunho, me diga porque não quis me ajudar e porque agora ficou todo esquisito depois de falar sobre o Hongjoong. 

— Eu… eu não… — que raiva! Por que não conseguia só se livrar do toque dele, o empurrar e ser hostil? Mingi o virou para que pudessem se encarar nos olhos, e Yunho abaixou a destra de novo. — Eu estou bem.

— Jeong Yunho — proferiu em repreensão, apesar de sua preocupação se elevar ao ponto de esconder parte de sua insatisfação. — Se não me contar o que está acontecendo, eu vou ficar com raiva de você.

Era o fim da tarde, Yunho geralmente estaria se preparando para ir pra casa jogar videogame até os seus dedos começarem a doer. Ou ele iria até a loja de seu tio perguntar se ele precisava de ajuda, visitar um amigo que tinha uns quinze gatos e acariciar a cabeça de todos eles já que não era dia para ir até o abrigo de animais onde era voluntário. De qualquer forma, depois disso, procuraria uma tarefa ou outra para fazer ligada ao abrigo de animais, e estudaria até de madrugada. Ele não esperava que, naquele fim de tarde, fosse estar parado em frente à Song Mingi sendo inquirido a assumir os seus sentimentos por seu antigo melhor amigo. 

Após algum tempo em silêncio, Jeong ergueu os olhos até a altura do rosto do linebacker observando como ele ficava bonito sendo manchado pelos feixes amarelados do sol brilhando no céu azulado o qual resolveu dar uma trégua na tempestade desde a noite de ontem. 

Ele respirou fundo e retirou as mãos de Mingi de seus ombros, cambaleando para trás.

— Não é óbvio? — a sentença escapou de seus lábios sem que se desse conta, este ato fez com que um leve vislumbre de susto se evidenciasse. Resolveu aproveitar-se de seu surto de coragem, prosseguindo: — Eu gosto do Hongjoong.

Mingi abriu e fechou a boca como um peixe fora d'água. De repente todas as peças daquele quebra-cabeça se encaixaram perfeitamente, então se perguntou porque nunca se deu conta disso. 

Desde que conheceu Yunho, Hongjoong era apenas o seu melhor amigo. Definitivamente, jamais chegou a pensar que algo além disso poderia existir entre eles, e encarando o rosto desolado de Yunho naquela hora, pode constatar que estava certo… Nada iria acontecer porque provavelmente ele foi rejeitado.

E o que Yunho sentia por Hongjoong era tão intenso e profundo e palpável, que Mingi se sentiu estupidamente burro por nunca ter percebido algo tão óbvio, estampado para quem quisesse ver igual propaganda em outdoor. Ele se sentiu um intruso, como se estivesse colocando os pés em um terreno que não foi convidado para pisar. Foi horrível constatar isso; Yunho estava apaixonado e esse fato parecia tão sufocante para ele, que ele sequer o dividia com alguém. E Mingi queria ser esse alguém, porque o via como um de seus amigos mais próximos e jamais iria se perdoar por deixar Yunho a deriva de qualquer sentimento, principalmente um que estivesse transformando suas estruturas internas em poeira.

Ambos estavam sempre juntos. Hongjoong e Yunho. Um era sinônimo do outro. Então, o quão difícil era para Yunho conviver com o seu amor romântico constantemente por seu melhor amigo em conflito com o seu laço intrinsecamente amigável? Devia ser um inferno, e nunca nem mesmo o escutou reclamar sobre isso. Ele provavelmente não se importava, porque, no fim, tudo o que queria era permanecer ao lado de Hongjoong e compartilhar sua vida com ele, seja como fosse. Independente de quantas vezes precisasse postergar ao desejo que sentia por ele, ou quando se pegava sonhando acordado e imaginando o sabor dos lábios de Hongjoong, ou chorava escondido e sozinho quando ele confessava se sentir atraído por outra pessoa, porém, na frente de Hongjoong, tinha que aparentar felicidade e incentivá-lo a investir em quer que fosse, e ser literalmente o seu ombro amigo quando tudo dava errado.

Ele sempre estava lá por Hongjoong. E, quando precisou dele, Hongjoong não estava mais lá por ele.

Doía mais do que receber socos certeiros na boca do estômago. Doía como se alguém estivesse com as mãos dentro de seu coração formando nó seguido de nó. Hongjoong estava em cada detalhe de seu dia, em cada rosto de um desconhecido na rua, em cada bebida doce que ele tomava. Cada detalhe construído no mundo lhe lembrava Kim Hongjoong, e isso era injusto e conclusivamente um ato de um legítimo filho da puta, quer dizer, o criador disso tudo. Aquele que criou o universo, e adicionou em cada minúsculo contorno um toque que podia ser remetido a existência graciosa de Hongjoong, ou Yunho era apenas um maluco doente de amor condenado a amá-lo até o fim de seus dias. E já fazia muitos deles. Ele o amava há muito tempo, era como um emprego em período integral. Um pouco cansativo, mas valia a pena, porque Kim Hongjoong fazia tudo valer a pena. Ele o encorajava a vestir roupas mais ousadas quando iam sair, e lhe incentivava a provar uma nova bebida no bar e a se divertir e a deixar de se encolher a cada nova experiência que "ameaçava" se aproximar e lhe arrancar da zona de conforto. 

Uma vez, era um feriado que Yunho mal se lembrava do nome, na realidade, mas tinha a ver com melhores amigos e Hongjoong não tinha dinheiro para lhe dar um presente, apesar de ele querer muito. Yunho ama Harry Potter e a capinha do celular de Hongjoong era preta, então ele teve a ideia de usar tinta e pincel e bordar aquela sua case preta com um chapéu de bruxo com as cores da Lufa-Lufa, um óculos igual ao do Harry e uma varinha em forma de raio cheia de glitter. Apesar de simples, aquele foi o melhor presente que Yunho ganhou em toda a sua vida, e ele o usava até os dias atuais, mesmo após tanto tempo. Adorava ganhar artesanatos de seu amigo, pois, cada um deles possuía originalidade e eram elaborados com muito carinho.

Hongjoong o animava nos dias de prova, lhe escrevia bilhetinhos fofos para dar boa sorte e personalizava suas roupas com glitter e lantejoula quando ia dormir na casa de seus avós, e Yunho estava distraído penteando os cabelos de um de seus gatos de estimação. Uma vez, seu melhor amigo até mesmo desenhou e recortou e costurou uma roupa para Crookshanks vestir em seu aniversário. E Yunho se recusava a tirar aquela roupa de seu gato de pêlos laranjas porque gostava de apreciar o bom trabalho do talentoso garoto que tinha o prazer de ter como alguém próximo. Adicionando ao detalhe que, Hongjoong sempre sempre lhe apresentava coisas novas.

Ele apresentou tantas coisas, e uma delas foi o jardim que nasceu no estômago de Yunho para borboletas morarem nele.

 Tudo no que conseguia compulsivamente pensar era Hongjoong Hongjoong Hongjoong, mas ele nunca poderia o ter e agora ainda meio que o "disputava" com um de seus amigos mais próximos que era igualmente apaixonado e caído de amores pelo encantador e ranzinza Kim Hongjoong. O que ele tinha? Açúcar? E Yunho, ele era muito azarado?

— Hongjoong já sabe disso? — Mingi agarrou seu pulso delicadamente, balançando seu braço em um incentivo instintivo. — Vamos ir falar com ele, eu posso ajudar você.

Um comichão remexeu no peito de Yunho. Ele praticamente gemeu em desaprovação, pressionando as pálpebras e apertando as unhas nas palmas das mãos, formando meias luas nas superfícies pálidas. Quase engasgou com a própria saliva, a voz precisando ser empurrada para fora da garganta para que assim fluísse e formasse um ruído humanamente compreensível.

— Você gosta dele, como diabos você está incentivando que eu me confesse? — Yunho praticamente vociferou, irritado. — Droga, Mingi! Não percebe que… que… 

— Eu não quero que isso seja desleal. Se você gosta dele, ele tem o direito de saber. E você é meu amigo, por que eu iria querer te ver triste? Eu prefiro ficar triste no seu lugar.

— Você não faz o menor sentido!

— Dói pensar que Hongjoong pode não olhar pra mim, mas eu iria querer que ele ficasse com um cara legal como você. 

Yunho… estava ouvindo certo? Mingi só poderia estar caçoando de sua cara. Retirou os dedos que rodeavam o seu pulso e bufou, bagunçando os cabelos.

— Ele já sabe.

— Você contou? — arregalou os olhos.

— Não, mas ele já sabe — entrelinhas, significava que Hongjoong não só sabia, como também havia deixado claro que nunca olhou para o seu melhor amigo com outros olhos.

Mingi sentiu seu coração pesar, empático.

— Eu… — suas linhas faciais se moveram para expressar uma densa lamentação. — Eu sinto muito.

— Por que você sentiria muito? — Yunho riu em descrédito. 

— É horrível ter um coração partido, por que eu ficaria feliz vendo alguém passar por algo assim? — sua indignação era palpável.

— Tanto faz, Mingi — bufou, dando de ombros. — Só faça o que tem que fazer, não se preocupe comigo.

Com uma dúvida quase que materialmente manifestada, Mingi acatou aquele aval e assentiu.

 


Notas Finais


COMEBACK DO ATEEZ SEMANA QUE VEM TO MUITO EUFORICA

STREAM AQUI:

https://www.youtube.com/watch?v=CeP3XYwoOcs

VIEWS EM I'M THE ONE

https://youtu.be/xtcVwuauVV0

STREAM AQUI:

https://open.spotify.com/album/1JMc8IZ1Jbax6m5OvswmAB?si=N1549GQbS_mI1I3HVxJ0ww&utm_source=copy-link

PERDI TUDO!!!!1 PRECISO DE UMA REABILITAÇÃO isso que é vontade de viver???????/

voltANDO À FICÇÃO>>>

Por favor, ofereçam apoio para nosso Yunho extremamente apaixonado e com muitas razões e o Mingi... E parte do Seonghwa e Yeosang, novamente, é de partir o coração. Eu acho que o ponto alto dessa cena especifica é o Yeosang tendo compaixão, empatia por ele, e é tão difícil encontrar uma pessoa que realmente se importa ao nível de tomar as suas dores etc. E o San se aventurando na lista de filmes do estúdio Ghibli na Netflix, ele tá tão sensível :(

Comentem, por favor, sim? Fico sempre ansiosa esperando! <3


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