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História Camouflage (EM PAUSA) - Chapter Twenty Three


Escrita por: poetyeeun

Notas do Autor


Hallo!
QUE SAUDADES!
Após tanto tempo longe daqui, estou de volta e com um novo capítulo da nossa reta final. Peço IMENSAS desculpas pela demora, mas estou lidando com uma internet bem lixinho e quem está me salvando é a @sabrwnacarpnter (te amo muito, meine liebe). Bem, este é o primeiro capítulo do ano, portanto, desejo-lhes um 2018 cheio de luz e as melhores coisas que o mundo reserva para cada um de vocês. Obrigada por estarem comigo e por terem feito a história crescer tanto. Nunca terei palavras que possam expressar devidamente a minha eterna gratidão.
Sem mais delongas, vamos ao capítulo. Espero, de coração, que gostem.
Boa leitura. MWAH!

➞ Capítulo sem uma revisão mais profunda. Perdoem-me se tiver erros.

Capítulo 24 - Chapter Twenty Three


Fanfic / Fanfiction Camouflage (EM PAUSA) - Chapter Twenty Three

JUSTIN BIEBER

Há exatos quatro dias minhas mensagens não eram respondidas, minhas ligações ignoradas e minhas entradas no prédio haviam sido barradas, com direito a acionar a polícia se continuasse insistindo.

Kelsey estava me evitando, e, assim como fez nos dias em que passou presa em seu apartamento, se escondia de mim. Sabia que ela estava em casa. Mesmo com as luzes da sala apagadas, a de seu abajur se apagava antes das duas da manhã. Soube disso porque, amargurado e muito entristecido, bebi mais do que gostaria e fiquei sentado na calçada do outro lado, me questionando sobre a razão para ela ter aberto mão de nós, logo quando estive disposto a abandonar tudo para que ficássemos juntos. Porra, eu me apaixonei por aquela garota e não me importava em lidar com um monte de merda desde que, no fim do dia, ela abrisse as portas e me deixasse entrar. Não em seu apartamento, mas, em seu coração.

Ela havia me arruinado.

— Drew, cara! — a voz estridente de Harry me faz piscar algumas vezes. — Ouviu alguma coisa do que falei nos últimos minutos?

— Desculpe-me. — solto o celular, pois estava encarando a tela apagada há algum tempo. — Estou um pouco...

— Aéreo? Irmão, duvido até que ainda esteja nesse planeta. — meu amigo tagarela caminha pela sala e arrasta uma das cadeiras de frente para minha mesa, senta-se e estuda-me com seu olhar inquiridor. — O que está acontecendo? É algo com Kelsey?

— Sim. Eu, na verdade, não sei. — apoio minha cabeça em minhas mãos e esfrego meu rosto, em um ato frustrado. — Ela não quer me ver. Você sabe, passamos algum tempo juntos, só nós dois. Havíamos combinado de nos encontrar ao sair do trabalho, mas quando decidi bater em sua porta, minha entrada havia sido bloqueada. Desde então, ela não me atende ou responde minhas mensagens. É como... Como se tivesse desaparecido, porém, sei que ainda está lá.

Harry ergue as sobrancelhas e inclinasse para trás, descansando as costas no encosto da cadeira.

— Você tinha chegado tão radiante naquela manhã que realmente acreditei que estavam bem. 

— Eu também. — murmuro, baixo demais, demonstrando minha fraqueza. — Reanalisei cada ação, não sei onde errei. Fui sincero, disse que havia pedido o divórcio. Pareceu estar tudo bem até o momento em que a deixei em casa.

— Bem, se ela não se opôs a nada, era para estarem marcando um novo encontro agora. — meu amigo torce os lábios. — Talvez ela esteja confusa. Essa situação não é fácil.

— Não era eu a estar confuso? — ergo as mãos para cima e balanço-as no ar. — Tive cada passo da minha vida arduamente pensado pelos meus pais. Nunca fugi dos trilhos, aceitei tudo e fiz cada mínima merda imposta por eles. Bastou colocar meus olhos sobre ela, me esqueci de tudo e voltei a ser um cara de dezoito anos novamente. Minha vida girou em cento e oitenta para outro rumo, um completamente desconhecido e incerto.

— Vocês dois estão assustados. — reformula seus dizeres. — No entanto, assim como você, Kelsey tem medo. Eleanor ainda é sua esposa e vocês moram sob o mesmo teto, enquanto aquela garota o tem as escondidas. Se coloque no lugar dela. Mesmo com o pedido de divórcio e sem a aliança de ouro em seu anelar... — Harry aponta para minha mãe esquerda. — Existe um vinculo ainda mais forte entre vocês. Há uma criança, fruto do casamento que viveram durante esses anos.

— Você não está facilitando as coisas, porra! — solto o peso do meu corpo no encosto da cadeira. — Sei disso. E não posso me arrepender de nada, porque talvez sem tudo isso, eu não teria Luke e ele é tudo para mim, você sabe disso.

— Sei. E sei também que não abriria mão do seu filho por nada no mundo.

— O que quer dizer com isso? — crispo os olhos para estudar suas feições apreensivas.

— Não é nada demais. Foi apenas uma ideia que me ocorreu...

Antes que pudesse concluir sua fala, a porta é aberta bruscamente e por ela atravessa o corpo rígido e bem vestido do meu pai, logo acompanhado pela impecável presença da minha mãe, terminando a entrada triunfal com o corpo esguio e as pernas longas de Eleanor. Franzo cenho com a aparição repentina das três pessoas que evitei nos últimos dias, embora soubesse que meu pai nunca telefonava ou informava alguém antes de aparecer na empresa. E eu não tinha mais uma secretária particular para tentar barrar a presença da minha família. O que era estranho para muitos, mas não para mim que sei bem o que essa confraternização irá desencadear.

— Pai. Mãe. Eleanor. — saúdo-os sem falso entusiasmo. Não fazia questão de fingir estar contente com a visita inesperada.

Meu dia já estava sendo uma sufocante o bastante.

— Precisamos conversar. — a voz blindada do meu pai ecoa e seu olhar corre até Harry. — A sós.

— Não temos nada para conversar. — ergo as sobrancelhas. — Se não estão vendo, estamos trabalhando.

— Está tudo bem, Justin. Já estava de saída. — meu amigo olha-me nos olhos. Ele sabia que uma onda de merda seria despejada. — Nos encontramos quando o expediente terminar.

Limito-me em um aceno com a cabeça. Rapidamente, ele apanha suas coisas e casaco, encaminhando-se até a porta, mas antes, despede-se educadamente. Minha mãe é a única a retribuir o gesto com um sorriso singelo e quase imperceptível. Ela não parecia feliz. Meu pai era grosseiro quando queria. Eleanor nunca gostou de Harry, segundo ela, ele não era uma boa influência ou compatível financeiramente conosco. O que era uma grande besteira, e havia deixado claro que não estava interessado no seu ciclo de amizades, até porque, em jantares que frequentávamos, preferia arrancar meus olhos com uma colher a ter que ouvir os maridos se gabando de suas conquistas e as esposas criticando as vestimentas de outras mulheres.

Restando apenas nós quatro na sala, estico os braços e abro um sorriso pouco sincero.

— A que devo a honra dessa incrível visita? — Eleanor rola os olhos. — O que foi, querida?

— Você sabe por que estamos aqui. — a morena afunda seus saltos no chão e caminha até a minha mesa. — Não é, querido?

— Soltem de uma vez o que precisam dizer. — ouço um suspiro da minha mãe. — Tenho muito para fazer.

— Oh, é mesmo? — a modelo solta uma risada sem humor e espalma o vidro da mesa com suas mãos cheias de unhas bem feitas. — Pensei que estivesse mais preocupado em foder a sua secretária.

Minha visão escurece rapidamente e inclino-me para frente.

— Não ouse ofendê-la, Eleanor. — rosno e arranco uma respiração pesada da morena.

— Você está completamente enfeitiçado por aquela interesseira. — meu pai vocifera, atraindo minha atenção. — Como pode estar agindo dessa forma? Onde está sua racionalidade?

— Possivelmente enterrada em uma das calcinhas dela.

— Basta! — levanto-me bruscamente, deixando a cadeira pender para trás com o forte impulso em que usei para me colocar de pé, encarando-a de frente. — A discussão que teremos aqui envolve apenas eu e você, ela está fora.

— Ela não está fora, até porque, aquela menina é a causadora disso. — Abel, mais uma vez, intervém. — Não sei o que ela fez com você e nem como conseguiu, mas está acabado.

— Como é? — olho-o, verdadeiramente confuso.

Não sabia onde aquele homem queria chegar e não sabia se gostaria de descobrir.

— É o que ouviu. — ergue um de seus indicadores. — Você irá voltar a agir como um homem de verdade, e nós iremos esquecer que um dia essa tolice ocorreu.

Solto uma risada.

Era uma risada real e cheia de humor. Ouvir suas palavras era no mínimo engraçado.

— Você não dita mais os meus passos, pai. — indago, olhando-o nos olhos, mantendo minha postura firme. — Era para me fazer rir que se deram o trabalho de vir até aqui? Bem, obrigado. Já podem se retirar.

— Quero ver se irá ter esse senso de humor quando o meu advogado enviar o primeiro requerimento pela guarda de Luke. — Eleanor sorri. — O que? Não irá soltar nenhuma risada agora?

— O que está dizendo?

— Pensou que fosse deixar meu filho com você e aquela usurpadora? — rola os olhos brilhantes. — Isso nunca irá acontecer. Seus pais me fizeram ficar quieta e, por eles, não irei espalhar para a imprensa a seu ato desonroso com a família, mas, pode ter certeza que irei arrancar-lhe tudo o que estiver ao meu alcance. Basta dar entrada no divórcio, e nos veremos no tribunal.

— Isso nunca irá acontecer! — meus punhos fechados entram em contato com a base da mesa e alguns lápis e papéis caem com o impacto. — Luke ficará comigo.

— Nem por cima do meu cadáver, querido.

A morena me enfrenta com um olhar feroz.

— Eleanor terá total direito a isso. — meu pai entra a favor da mulher que escolheu para ser mãe do seu neto. — E nós iremos dar a ela o apoio que precisa para vencer a causa.

— Porque estão fazendo isso? — meus olhos cansados correm por ele e pela minha mãe que chorava em silêncio. Envergonhada, desvia o olhar, mas não o homem. Ele me encara com toda a frieza e bravura que tinha correndo nas veias.

— Você está fazendo isso consigo mesmo. — limpa a garganta, antes de continuar. — Há mais em jogo que uma simples amante, Justin. Eu lutei para construir essa empresa e dar a você um futuro, e o seu dever era fazer o mesmo pelo seu filho. Se quer jogar tudo para o alto, ao menos pare e analise o que está perdendo. Eleanor está disposta a recomeçar e não remoer mais esse lamentável episódio que a fez passar, para isso, terá que fazer sua parte também. Sem mais encontros ou qualquer contato com aquela garota. Ou com qualquer outra.

Meus ombros pesam.

Minha cabeça lateja.

Meu coração se aperta.

Meu interior fraqueja.

Luke era tudo. Tudo para mim. Ninguém poderia tirá-lo de mim, e eu não poderia perdê-lo. Nunca. Desde a primeira vez que o tive em meus braços, jurei protegê-lo e fazê-lo feliz. Não fui o pai mais presente, no entanto, esforcei-me para ser um exemplo de homem, porque, por ele, vali a pena continuar lutando para manter um patrimônio que um dia será dele. Jamais o farei passar pelo que o meu pai fez comigo. Meu garoto será livre para fazer suas escolhas, sejam elas quais forem, desde que o faça feliz.

Não estou feliz agora.

Kelsey havia roubado o meu coração sem um aviso. Sem que pudesse me proteger, estive enfeitiçado por ela, ligado através de um erro cometido em que não me arrependi. Pensei nela nos dias seguintes e em tudo o que havia me proporcionado. Ela me fez sentir-me livre, embora não fosse. Sua beleza inocente me intrigou. Sua simplicidade me ganhou. Sua alma bonita me fez querer ficar. E a luxúria impetuosa me fez cobiçá-la de corpo, alma, e coração. Seria capaz de abrir mão de tudo por ela.

Não poderia perder Luke.

Também não poderia deixá-la.

Mas teria que escolher.

O quão cruel a vida precisa ser para escolher entre duas formas de amor?

— Não precisa dar uma reposta agora. — meu pai pontua, mas meu olhar estava completamente perdido em um ponto qualquer. — Você tem até o fim de semana para se decidir. Um jantar de caridade será organizado pelo governador George Bahn, nós fomos convidados. Eleanor irá acompanhá-lo, e Luke ficará um tempo na casa de campo com Isobel. Ao fim da noite, irei querer saber a sua decisão. — antes que pudesse contestá-lo, continua. — Dependendo de qual for a sua decisão, além de perder seu filho, seu cargo na empresa também lhe será arrancado. Seu sucessor será Nicholas. 

— O que? O senhor não pode...

— Não há o que discutir, Justin. Esse jantar irá servir para mostrá-lo onde pertence e que mulher deve manter ao seu lado. — fuzilo-o instantaneamente. Não existia um mínimo resquício de culpa em seu olhar. Muito pelo contrário, ele parecia tranquilo com cada palavra que dizia. — Sua escolha traçará o seu futuro.

Não sou capaz de lhe dar algumas palavras duras. De nada adiantaria. Ele estava seguro demais para voltar atrás. E este homem nunca recuava, não importava a situação em que estivesse. Sua determinação era tanta que, seria corajoso o bastante para fazer qualquer coisa, sendo movido pela ambição que sempre o colocou na beira de um abismo.

Entretanto, dessa vez era ele quem estava me colocando na beira de um despenhadeiro.

— Tenho uma reunião com alguns acionistas chineses. — verifica o horário em seu relógio de ouro, graciosamente abraçando seu pulso esquerdo. — Continue trabalhando. Se quiser saber de Luke, telefone diretamente para a casa de campo.

— Você não poder afastar o meu filho de mim.

— Tanto posso como fiz, filho. — endireita sua gravata. — Não pense que estou fazendo isso com prazer. Mas, se não tomasse uma atitude, depois poderia ser tarde demais, e não estou disposto a assisti-lo cair em um jogo de sedução barato, nem mesmo permitir que perca o que lutei para dar a você e ao meu neto.

Solto uma risada forçada.

— Se alguém o escutasse dizendo isso poderia dar-lhe o título de pai do ano. — o gosto amargo em minha garganta me faz engolir em seco, como se estivesse ingerindo ácido puro.

— Não sou seu inimigo. Estou fazendo isso para o seu bem. — olha para Eleanor e minha mãe. — Terminamos por aqui. Vamos embora.

A bela e tempestuosa morena endireita as alças da sua bolsa de grife em seu ombro direito e lança-me um olhar carregado de orgulho e ira. Eram raras as vezes que Eleanor me encarava dessa maneira. Na verdade, raras eram as que ela me olhava nos olhos. Nossos contatos visuais eram tão limitados quanto os corporais, como se fossemos separados por uma muralha que nunca seria destruída, pois não estávamos compromissados a tirá-la do meio de nós. Havíamos nos acomodado a isso.  Éramos um casal impecável para os outros, enquanto em casa beirávamos a era glacial. Ainda me esforçava para acompanhá-la aos lugares e a conversar sobre nosso filho, mas era tudo.

Passei anos da minha vida observando o comportamento dos meus pais como um casal. Minha mãe era uma mulher elegante, bonita e de família honrosa. Meu pai não nasceu em berço de ouro, mas quando seus pais se foram, seu avô paterno apareceu e deu-lhe um novo mundo, o tornando em um jovem ambicioso e destemido. Foram ligados pela cobiça pelo dinheiro e, talvez, pelo amor. Talvez se amassem de verdade, no entanto, não o bastante para se desligarem de suas origens e seguirem seus corações. E é por isso que fui obrigado a seguir um legado que nunca desejei.

De soslaio, vejo-os se mover pela sala, caminhando até a saída. Balanço a cabeça e fecho meus olhos, apertando-os com força ao mesmo tempo em que pressiono as pontas dos meus dedos.

Minha respiração escapava irregular, e sentia minha pulsação tão forte que minhas veias poderiam explodir a qualquer instante. Apenas meu pai conseguia me deixar tão irritado assim, o que era estranho, porque devíamos estar do mesmo lado. Devíamos ser amigos. Mas isso era algo que deixei de acreditar ainda cedo, percebendo que nasci para manter sua fortuna e suceder o seu império. Nunca existiu nada além disso. O que é completamente diferente do que sinto por Luke. O garoto é meu filho, sangue do meu sangue, e o meu bem mais valioso. Suas escolhas serão apoiadas, não importa contra quem tenhamos que lutar.

Ele tem total direito de dar seus próprios passos. Talvez aqueles que nunca dei por medo de desapontar meu pai.

 — Filho... — um sussurro quase inaudível chama minha atenção e, mesmo que a voz estivesse embargada, sabia bem a quem pertencia.

Ergo a cabeça e o olhar, encontrando os olhos marejados da minha mãe.

— O que ainda faz aqui?

— Preciso que saiba que não estou de acordo com o seu pai. Mas...

— Mas o que? — esbravejo. — Não tem coragem o bastante de confrontá-lo? Ou simplesmente acha que estou errado de me sentir farto desse casamento que vocês me empurraram como se eu fosse uma marionete? Como se não tivesse emoções e vontades?

 — Filho...

— Não. Por favor... — balançando meu indicador esquerdo no ar, olho-a suplicando. — Não prolongue isso. Vá embora. Apenas diga ao seu marido que irei telefonar para que tenhamos uma conversa junto ao meu advogado.

Soluçando em meios as lágrimas que pareciam verdadeiras, a mulher enfraquecida arrasta os dedos trêmulos pelo rosto e suspira pesadamente. Quando era criança, flagrava minha mãe chorando, vez ou outra, mas sempre escondida do meu pai. Era como se fosse nosso segredo, porque nem uma outra pessoa a assistia dessa maneira. Me sentava ao seu lado e secava suas lágrimas, uma a uma. Meu coração doía, porque não gostava de vê-la aos prantos, ainda mais sendo por causa daquele homem.

Dessa vez, não podia ser um bom filho e secar suas lágrimas. Porque no fundo e infelizmente, ela havia se tornado uma máquina. Como todos aqueles que conviviam com Abel Bieber. Eu sabia disso, porque ele tentou fazer o mesmo comigo.

Mas, antes que fosse tarde demais, uma garota me resgatou.

A garota que terei que deixar para trás.

Assim que a porta se fecha, giro-me em meu lugar e caminho até o pequeno bar ao fundo da minha sala. Alguns subordinados sempre repunham as garrafas vazias que, na maioria das vezes, eram esvaziadas por Harry e outros colegas de trabalho. Eu não costumava beber durante meu expediente. Também não costumava fumar. Mas, muitas coisas mudaram desde que minha vida girou depressa para o lado contrário.

Soltando meus ombros ligeiramente tensos, apanho uma garrafa de uísque irlandês, destampo-o e, sustentando um copo, despejo uma boa quantia do liquido escuro. Sem me preocupar com as pedras de gelo que estavam mantidas no congelador da pequena geladeira, beberico até a última gota, em um único gole. Fazendo uma breve careta pelo gosto amargo e a garganta aquecida, sirvo-me com a segunda rodada, sem me importar com nada.

Queria realmente não ter com o que me preocupar.

[...]

— O senhor precisa ir. — era a quinta vez em menos de cinco minutos que o porteiro repetia o mesmo pedido.

— Eu preciso vê-la. — imponho, batendo as palmas das mãos na base do balcão.

— A senhorita Doyle deu ordens explicitas para que não liberasse a sua entrada, senhor Bieber. — sua expressão ainda era dura. — Não faça com que tenha que chegar a atos extremos.

— Você não entende... — suspiro pesadamente e recuo um passo, sendo o suficiente para inclinar minha cabeça para baixo, enquanto olhava para o piso empoeirado.

— É o senhor que não está entendendo a gravidade da situação. — pontua. — Se não abandonar o prédio, terei que chamar a polícia.

— Porque ela está fazendo isso? — meu murmúrio é sôfrego e mais para mim mesmo. — Preciso saber o que fiz de errado.

Dando-me por vencido, mesmo que sem respostas, deslizo minhas mãos para longe do mármore frio e lanço um último olhar para o homem que havia me escorraçado diversas vezes, embora dessa vez fosse diferente. Ele parecia mesmo disposto a chamar a polícia, ainda mais que meu estado de embriaguez fosse evidente.

Estava em estado de desordem. Meu paletó estava jogado em algum canto do carro, enquanto minha gravata foi descartada em uma lixeira próxima ao bar em que passei a noite bebendo. Quase fiz o mesmo com o aparelho celular que não parava de tocar no bolso da minha calça, mas, apenas retirei a bateria e guardei-o de volta, decidido a beber para esquecer as grandes merdas do meu dia. Quando me dei conta, deixei o veículo no estacionamento e segui pelas calçadas. Conhecia bem seu endereço, e quando a consciência me atingiu, estava gritando pelo seu nome na entrada do prédio.

Era vergonhoso pensar que estava tão desesperado. De fato, estava mesmo.

Sentia que meu coração havia sido arrancado do peito e minha alma também. Era a única explicação para me sentir tão vazio.

Cambaleando para fora, arrasto meus sapatos pelo início da escadaria, ignorando os olhares dos moradores que me espiavam desde quando comecei a gritar, logo sendo contido pelo porteiro.

Se meu pai me visse nessa situação iria me virar do avesso.

— Recomponha-se. — uma mão feminina me estende uma garrafa de água. Ergo o olhar para encontrar os olhos familiares. — Está agindo como um adolescente desorientado.

— Verônica. — sentencio seu nome, aceitando a água. Minha garganta estava tão seca. — Onde está Kelsey?

— Estou aqui a pedido dela que já sabia que seria capaz de algo assim. — balbucia, olhando por cima dos meus ombros. — O que deu em você?

— Preciso vê-la, com urgência. — meus olhos, possivelmente, suplicam para a amiga da garota que me ignorava. — Me diga onde encontrá-la.

Suspirando e balançando a cabeça, Verônica coloca as mãos para dentro dos bolsos do seu casaco. Era quase madrugada e fazia frio. O inverno se aproximava.

Uma estação que combinaria perfeitamente com meu estado de espírito.

— Olha, Justin. Minha amiga fez um pedido, e vim cumpri-lo para ela. — seus lábios finos vibram. — Vá para casa e tome um banho. Não se preocupe com Kelsey, ela está bem e em um lugar seguro. No entanto, como já pôde perceber, não deseja vê-lo, e tem suas razões. Respeite-a.

— Mas eu não...

— Sua carta de demissão foi entregue diretamente ao RH. — me interrompe e aumenta a voz, como se quisesse se impor de diversas formas. — Não tente suspender, ela não planeja voltar para a empresa.

Apertando a garrafa plástica entre meus dedos, sinto um leve choque correr por meu corpo.

Era a realidade me atingindo bruscamente.

— Porque ela está fazendo isso?

— Aquela menina sempre suportou um peso enorme nas costas, desde que era adolescente. Se ela aparenta ser frágil por fora, por dentro é feita de cristal. — seus olhos não desviam e sua voz não vacila. — Ela está quebrada agora. Portanto, dê-lhe um tempo para que possa se recompor. Volte para casa e sua família. Não a destrua. Se a ama, deixe-a ser feliz.

Se a ama, deixe-a ser feliz.

Era claro que a amava. E ainda mais que a queria feliz.

A questão era que, sua felicidade não estava ao meu alcance. Mesmo que tenha pensado ser capaz, não poderia estar com ela, porque aquela mulher em porte de menina não merece sofrer. Não merece estar a mercê da ganância da minha família e de Eleanor. E eu não a mereço, nem mesmo por um segundo. Sempre soube disso.

A pureza que pairava sob os olhos de Kelsey chamaram minha atenção. Houve o tempo em que pensei terem sido a cor que os tornavam tão brilhantes e convidativos. No entanto, existia algo mais. Algo avassalador. E foi exatamente isso que me fez derrapar na curva rente ao despenhadeiro e, então, cai. A queda foi dolorosa e bruta, os ferimentos ainda latejam. Ainda ardem. Ainda sangram. Deixá-la ir significa que jamais terei chances de me curar. Sei que não. Dizem que o decorrer das estações curam a mente e um coração surrado. Discordo plenamente. Sempre irá doer e queimar.

Sempre irá fazer falta.

Teria que abrir mão da minha cura.

— Pensei que apoiasse nossa relação. — um sorriso trêmulo ergue os cantos dos meus lábios. Não havia humor, apenas amargura.

— Tudo o que apoio é a felicidade da minha amiga. — Verônica balbucia sem titubear. — Se as coisas fossem mais fáceis, vocês poderiam dar certo. Sei que a ama tanto quanto ela o ama. Mas, o amor nem sempre é tudo. Não quando a sanidade mental acaba sendo afetada.

Engulo uma respiração vacilante.

Abaixo meu olhar, não podendo mais encarar a verdade de frente. Estava sendo covarde.

— Ela está bem? — sussurro a pergunta que torcia para ser respondida.

— Tão bem quanto você. — de relance, a mulher vestida casualmente parece conferir que horas eram em seu relógio de pulso. — Está tarde. Você devia ir para casa, espero que não esteja dirigindo nesse estado.

— Deixei meu carro no estacionamento do bar em que bebi.

— Quer uma carona? Posso levá-lo, desde que não vomite nos tapetes que foram limpos essa tarde. — resmunga.

Nego com a cabeça, convencido de que precisava de um tempo sozinho, mesmo que não estivesse sóbrio, ainda tinha que organizar meus pensamentos.

Eu nem mesmo sabia se tinha uma casa. Por isso, encerrar o pior dia da minha vida no quarto de um hotel não deveria ser tão desconexo.

— Obrigado. Irei chamar um táxi. — balanço a garrafa ainda com água em minhas mãos. — Preciso de alguns minutos para me livrar do álcool.

— Não destrua sua vida com cigarros e bebidas. — estreito os olhos. — Meu pai disse que você anda fumando de maneira exacerbada. Pense na sua saúde, principalmente por ter um filho para criar e ver crescer.

— Certo.

Foi tudo o que disse.

Sorrindo amarelo, Verônica acena e passa a caminhar para o outro lado da rua, onde um carro esportivo estava estacionado. Ela era tão diferente de Kelsey, mas podia compreender porque eram amigas. Uma se importava com o bem estar da outra, existia verdade e lealdade. Isso devia ser tudo.

Minha garota seria bem cuidada. Isso devia me reconfortar.

Entretanto, estranhamente, não me fazia sentir nem um por cento melhor.

— Justin? — sua voz atrai meu olhar. — Sinto muito.

Forço um sorriso sem mostrar os dentes e anuo.

Eu também sentia.


Notas Finais




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