Petra se move de maneira quase graciosa, seguindo cada movimento como se ela mesma fosse a professora de dança e não apenas um dos alunos na ampla sala espelhada. Levi respira fundo, grato que coordenação motora não seja um problema para si, mas se questionando sobre ter aceitado acompanhar a amiga naquela aula.
Inicialmente a ideia de testar atividades novas parecia uma boa e Petra rapidamente sugeriu que ele fosse em uma aula de dança com ela. Não tinha nada demais em tentar, certo? Errado. Ele descobriu que para si é muito mais simples acompanhar movimentos de luta ou de algum esporte que exige raciocínio rápido, enquanto assimilar passos de dança parece um suplício, além de a música alta o incomodar.
O tempo todo ele se pergunta como as pessoas ficam tão empolgadas com aquelas músicas que faziam parecer que eles estavam em uma rave ou algo do gênero e pensa que talvez, apenas talvez, teria sido melhor jogar squash com Erwin. Quando ele finalmente se vê livre daquela tortura em forma de aula, Erwin já está o esperando do lado de fora da sala, igualmente suado e sorrindo, claramente o observando dançar no final da aula.
"Não ouse", Levi diz de maneira mal-humorada, fazendo o marido erguer as sobrancelhas grossas e segurar uma risada. Ele nem mesmo quer pensar sobre todas as brincadeiras bobas que o outro pode fazer sobre aquele momento embaraçoso. Dançar? Sério, Ackerman? Onde você estava com a cabeça?
"O que? Não foi divertido?", Erwin tenta manter um tom neutro, mas acha graça na expressão taciturna do menor, o seguindo em direção ao vestiário.
Levi resmunga em resposta, se desvencilhando de leve quando Erwin toca sua nuca, "Eu estou nojento", ele faz uma careta para o maior. Ele considera incrivelmente desconfortável ser tocado quando suado daquela forma.
"Eu também estou e não é como se nunca tivéssemos contato com fluídos corporais um do outro, não?", ele fala um pouco mais baixo quando chegam no vestiário, que milagrosamente está vazio.
Levi inclina a cabeça, pensando que, bem, Erwin está certo e não é como se ele se incomodasse quando ambos estão daquele jeito em um momento muito mais íntimo. Ele não diz nada, começando rapidamente a se despir, tentando não pensar muito no corpo de Erwin sobre o dele. Ali não é lugar para ficar excitado imaginando coisas.
"Por um momento pensei que seria melhor ter participado do seu jogo idiota", Levi comenta, percebendo que o outro está focado no que ele faz no lugar de também se despir, então decide desacelerar o ritmo e se demorar mais do que necessário em cada movimento que faz, deixando que Erwin aproveite a visão.
"Por que você odeia todos os esportes que costumo praticar?", Erwin senta-se no banco, acompanhando Levi com o olhar.
"A culpa não é minha se você só gosta de esportes idiotas", Levi deixa que Erwin o puxe para mais perto pela cintura e beije seu abdômen, "Aqui não...", ele sorri de canto, sabendo muito bem onde o outro quer chegar, "Alguém pode entrar a qualquer momento e eu não sou exibicionista, você sabe".
"Hm...", Erwin o envolve em um abraço, encostando a cabeça em seu abdômen e fechando os olhos, "Acho que você está certo. Não seria bom sermos expulsos por atentado violento ao pudor", ele aperta ambas as nádegas de Levi, o soltando e começando a se despir também.
Logo em seguida, dois rapazes entram no vestiário e os cumprimentam, não reparando no olhar divertido que Erwin e Levi trocam. Levi demora o quanto acha necessário em seu banho, deixando o corpo relaxar com a água quente. Apesar de ter considerado a aula um grande fiasco para si, ele fica satisfeito em notar que sua perna não ficou mais dolorida do que esperado.
Ele encontra Erwin quase completamente vestido quando termina o banho, se apressando para se arrumar também e os dois poderem ir para casa de uma vez.
"Ainda bem que te fiz parar", Levi comenta quando entra no carro, um sorriso divertido nos lábios.
"Foi bom porque não fomos pegos, mas foi péssimo porque continuo querendo você", Erwin passa a língua pelos lábios, dando partida no carro, as ruas um pouco mais tranquilas agora que passou do horário de pico.
"Mesmo?", ele passa a mão pela coxa de Erwin, apertando-a um pouco, observando a reação do outro com atenção, "Eu posso resolver isso em casa, se quiser".
Erwin mantém a atenção completamente focada no tráfego, porém morde o lábio de leve, "Levi", ele ofega quando a mão do outro envolve seu pênis por sobre a roupa.
"O que? Estou te distraindo?", Levi passa os dedos por dentro da calça de moletom e cueca que o marido usa, tocando os fios grossos de seu púbis, mas apenas isso, "Não quero causar nenhum acidente", ele afasta a mão, quase rindo com gosto pela expressão de frustração do outro.
Erwin não responde, parecendo usar todo o foco que tem para dirigir o mais rápido possível até em casa em segurança, ainda que Levi deixe beijos em seu pescoço, mordisque sua orelha e o toque por sobre a calça esporadicamente, notando que ele fica cada vez mais excitado.
Levi é encurralado por Erwin assim que ambos entram em casa e deixam suas coisas de lado. Erwin o pressiona contra a parede, apoiando uma das mãos nela enquanto se inclina na direção do moreno, o beijando com vontade. Levi corre as mãos por seu tórax, sentindo os músculos sob sua blusa, rapidamente o obrigando a tirá-la.
As peças são deixadas no chão enquanto eles vão até a sala de estar, não prestando atenção no caminho que fazem entre os beijos e toques afoitos. É o menor quem corre rápido até o quarto provisório, pegando o que precisa em uma gaveta na cômoda próxima a porta. Ele encontra Erwin parado próximo ao sofá da sala, completamente nu e excitado, o que o faz engolir em seco pelo desejo que percorre seu corpo.
Eles se beijam de novo e Levi faz com que o maior se sente no sofá, deixando o tubo de lubrificante cair ao seu lado no móvel. Ele tenta se apoiar em uma das pernas, dobrando-a sobre o sofá, mas percebe que a posição ainda é desconfortável para a perna machucada, que permanece no chão. Ele xinga baixo, tentando pensar em outra posição, mas é Erwin quem soluciona o problema, fazendo com que ele se sente no sofá para que o maior fique em seu colo.
Levi nem mesmo estranha aquela mudança de posição, notando que ela é muito mais proveitosa para si. Ele puxa Erwin pela nuca e o beija avidamente, deslizando as mãos por suas costas até chegar em sua bunda, apertando-a da mesma forma que o outro fez consigo no vestiário.
Erwin se mantém apoiado com uma das mãos no encosto do sofá, enquanto usa a livre para envolver os pênis de ambos, os masturbando em conjunto, gemendo baixo junto com Levi no meio do beijo. O moreno apoia a cabeça no encosto para poder olhar o marido, mordendo o lábio de leve ao ver a expressão dele, recebendo um sorriso descarado em resposta.
Erwin faz com que Levi incline um pouco a cabeça, expondo seu pescoço para que possa beijar e mordiscar a pele sensível, sentindo o outro se arrepiar pelo contato. Os dedos de Levi passam por sua entrada, um toque sutil e cuidadoso, apenas um leve estímulo que o faz parar tudo por um momento.
Levi ergue as sobrancelhas, parando o contato de imediato, porém Erwin segura seu punho com cuidado, o impedindo de afastar mais o toque, "Não", sua voz é quase autoritária e faz o moreno erguer as sobrancelhas ainda mais, confuso com a reação do marido.
Em sua mente, ambos fazem tudo em termos de sexo, mas eles nunca falaram sobre aquilo e ele não lembra de algo que confirme essa suposição, de maneira que ele questiona a própria conclusão pela primeira vez. Ele observa Erwin umedecer os lábios.
"Eu quero você dentro de mim hoje... Se você quiser isso também", ele explica, não querendo entrar no fato de que eles não fazem aquilo há muito tempo, porque ele não acha que Levi precisa saber naquele momento que a vida sexual deles andou ruim por um bom tempo.
"Eu sempre quero você, Erwin. De todas as formas possíveis", Levi sorri, o puxando para um novo beijo, notando que ele começa a relaxar de novo. O moreno acaricia as costas de Erwin, deslizando as mãos pela lateral do seu corpo para então corrê-las por suas coxas e depois para sua bunda novamente.
Ele decide não instigar mais o outro, parando o toque para lambuzar os dedos com lubrificante, os passando em volta da entrada de Erwin em movimentos circulares, em uma espécie de massagem que faz o outro gemer baixo e relaxar mais. Levi o prepara sem pressa, colocando primeiro um dedo, o movendo com calma, adicionando mais um quando percebe que é possível.
Conforme fica mais confortável, Erwin volta a segurar o punho do outro, fazendo-o movimentar os dedos mais rápido e fundo. Levi beija o peito dele e passa a língua por seus mamilos, sugando um deles em seguida, enquanto usa a mão livre para segurá-lo pela cintura. Ele adiciona um terceiro dedo e os movimenta com mais vontade, da maneira que Erwin deseja, ouvindo-o gemer quando acerta sua próstata.
Levi estimula aquele ponto um pouco mais, impedindo que Erwin se mova. Ele observa o outro com os lábios entreabertos e os olhos cerrados, completamente envolvido pelo que Levi faz. Eles se encararam e Erwin se aproxima para beijar seu pescoço e sussurrar em sua orelha, "Preciso de você, agora".
Eles se ajeitam no sofá de forma que Erwin possa direcionar melhor o pênis de Levi para dentro de si, deslizando sobre ele de maneira controlada. Inicialmente, Levi apenas foca em observar, quase enfeitiçado pela expressão de prazer do outro com aquilo. Erwin age como se cada parte sua precisasse daquele momento, o que faz com que o corpo de Levi reaja e o moreno sinta o próprio pênis pulsar e precise conter a vontade de se mover ou empurrar Erwin para baixo de uma vez.
Erwin para quando tem Levi completamente dentro de si, apoiando a testa em seu ombro. Levi aperta a parte interna de suas coxas, as acariciando em seguida, deixando que Erwin tome seu tempo para se acostumar. Ele beija o rosto, pescoço e mordisca a orelha do maior, tocando seu corpo livremente, tentando se manter concentrado para não investir contra ele.
O maior começa a se mover, primeiro devagar, se acostumando com a sensação, depois mais rápido, de forma que Levi não precisa mais se conter, podendo puxá-lo pela cintura contra si mesmo ou erguer os quadris para investir. Os movimentos controlados passam a ser erráticos e eles gemem contra os lábios um do outro, entre beijos sedentos e ao mesmo tempo confusos.
Levi passa a masturbar Erwin no mesmo ritmo em que eles movem, o fazendo gemer mais alto e pedir por mais de uma forma que faz com que Levi se arrepie por completo. Por um momento, ele até mesmo chega a cogitar em deitar Erwin para que possa ter melhor controle da situação, mas sua perna parece entender o pensamento e não concordar com ele, pois ele sente uma leve fisgada de aviso.
Com a mão livre, Levi sobe o toque até o pescoço do maior, o apertando de leve e deslizando um dos dedos por seu lábio inferior, o tendo envolvido pela boca de Erwin, que o chupa com vontade e faz com que Levi fique completamente hipnotizado, como se outra parte de seu corpo estivesse sendo chupada com o mesmo afinco.
"Caralho, Erwin...", ele sussurra e o maior dá uma risada entre um gemido quando Levi investe contra si ao mesmo tempo que ele se move para baixo, acertando sua próstata em cheio.
"De novo...", Erwin esquece tudo o que estava fazendo, pensando que apenas quer sentir aquela sensação de novo e de novo e mais uma vez. E é o que Levi faz até que ambos gozem de maneira quase simultânea, com os músculos do maior contraindo-se contra Levi e os movimentos de sua mão sendo mais erráticos no pênis de Erwin.
Eles pararam, ofegantes e suados, o corpo de Levi relaxado contra o sofá e Erwin apoiado contra seu peito, a cabeça ao lado da sua contra o encosto. Eles ficam em silêncio por algum tempo, respirando fundo, olhos fechados e toques delicados do moreno contra a pele arrepiada de Erwin.
"Que bagunça...", Levi fala quando Erwin se ergue e pode finalmente olhar para o próprio abdômen sujo. O loiro ri, o puxando pela mão para que ele também se levante e eles possam se limpar.
Ambos tomam banhos rápidos e comem qualquer coisa prática que conseguem fazer com o que possuem em casa, voltando para o sofá em seguida, procurando uma série qualquer para verem juntos e se distraírem até a hora de dormir. Eventualmente Erwin deita-se e puxa o menor para si, o fazendo deitar sobre seu corpo, a cabeça apoiada em seu peito. Eles continuam assistindo por algum tempo, até que os únicos barulhos na casa sejam da televisão e de suas respirações relaxadas.
"Eu quero sua opinião em algo...", Erwin desliza os dedos pelas costas do moreno, recebendo um grunhido como resposta de que Levi está o ouvindo, "Edgar me procurou hoje com uma proposta", ele observa o menor franzir a testa, o olhando em dúvida, "Senador Corey".
"Não sabia que vocês estavam íntimos a ponto de se tratarem pelo primeiro nome", Levi se ajusta de maneira que possa olhar melhor para Erwin, deixando os braços sobre peito e apoiando o queixo sobre eles, "Qual proposta?".
"Aparentemente ele está bastante envolvido com a eleição presidencial esse ano e está com alguns projetos para melhorar a visibilidade da candidata que ele está apoiando. Um deles é de apoio às vítimas do incêndio em West Englewood e ele acha que eu poderia ajudar com a parte de direito social".
"Parece bastante interessante. Você quer fazer isso?", Levi diz após ponderar por um instante, lembrando-se da situação caótica em uma das áreas mais pobres e violentas de Chicago.
"Sim, mesmo que seja basicamente um trabalho voluntário, acho que seria muito bom. É o tipo de coisa que sempre me atraiu e me fez escolher essa área, afinal", ele mexe nos fios escuros do cabelo de Levi, os ajeitando atrás de sua orelha. O moreno raramente deixa o cabelo crescer aquele tanto, mas ele realmente gosta quando o faz.
"E você quer minha opinião por causa da Ava?", Levi conclui, pois sabe que o marido já tomou a decisão sobre querer ajudar naquele projeto ou não.
"Sim", ele desliza a mão pelas costas de Levi, parando na base da sua coluna, "Eu não acho que ela vá participar e Edgar não falou nada sobre isso. Ainda assim, não deixa de ser uma possibilidade e não sei como ela agiria num ambiente diferente do profissional".
"Se você quer participar desse projeto, eu não vejo problema algum, mesmo que ela acabe participando também. Não é como se desse para fugir dela de toda forma, não é? Eu confio em você", ele dá um sorriso de canto, observando o rosto do outro se iluminar pelo o que ele diz.
Erwin segura o impulso de agradecê-lo por aquilo, apenas o envolvendo em uma espécie de abraço e afundando o rosto nos fios escuros, plantando um beijo no topo de sua cabeça, "Tem mais uma coisa", ele diz após soltar o menor, recebendo um olhar de indagação como resposta, "A esposa dele é bastante envolvida com causas sociais e como várias crianças e adolescentes estão sem casa, ou até mesmo órfãs, ela gostaria de fazer algo por elas enquanto ajudamos seus pais e cuidadores. Eu disse que ia ver se você e seus colegas de trabalho não podiam ajudar com alguma atividade", ele morde o lábio, fazendo uma cara levemente culpada por ter sugerido algo sem consultar o marido antes.
"Eu acho que isso seria legal e tenho certeza de que Armin e Petra vão ter várias ideias. Os outros vão simplesmente concordar se eu pedir", Levi diz após um momento, sorrindo pequeno e em seguida dando um bocejo, "Diga para eles que nós vamos", ele dá um selinho em Erwin e volta a deitar contra seu peito, pegando no sono com o maior acariciando suas costas.
O dia é ensolarado e as temperaturas são amenas de forma que eles puderam deixar de lado as roupas mais pesadas e organizar parte das atividades ao ar livre. Eles usam o grande salão de reuniões como uma sala de espera para as diversas orientações que serão dadas durante todo o dia, enquanto há brinquedos do lado de fora e a maior sala usada para cursos foi arrumada para atividades de artes com crianças e adolescentes.
Armin foi quem planejou cada mínimo detalhe das atividades artísticas e, por isso, orienta como tudo será feito, realmente empolgado com o que farão. Levi fica feliz em apenas seguir as orientações do amigo, não ligando muito para as pequenas discussões que acontecem entre Armin e Oluo, geralmente intermediadas por Petra.
"Oluo, por que você simplesmente não cala a boca?", Eld diz do outro lado da sala, separando grandes folhas negras para deixar em cada mesa, junto com uma pilha de revistas, colas e tesouras.
Oluo resmunga algo, mas é interrompido por Gunther, que entra no cômodo com uma prancheta em mão, "Certo, nosso primeiro grupo é de 15 adolescentes. Em seguida, um grupo de crianças entre 7 e 10 anos. Armin, eu estava pensando se podíamos fazer um grupo de crianças menores a tarde, até lá eles vão estar cansados de brincar e vão querer se ocupar com outra coisa. O que acha?".
"Parece ótimo. Eu acho que temos material para fazer algo legal com crianças pequenas. Você acha que as crianças entre 4 e 6 anos? Não sei se conseguiria fazer algo muito produtivo com crianças menores do que isso e não quero... Criar um grande caos de tinta nas coisas e nas crianças", Armin para de organizar as tintas na ampla bancada próximo da janela e olha para Gunther.
"Ótimo. Acho que temos um grupo considerável de crianças nessa faixa etária", Gunther anota algo na prancheta, "Vou falar com Claire".
Gunther sai da sala e Petra se aproxima de Levi, que guarda as caixas com mais materiais dentro de um armário no fundo da sala, "A Claire é muito legal, não? Eu não fazia ideia que ela conhecia tanto sobre programas sociais. Ela me contou que trabalhava como assistente social e foi durante uma ação que conheceu Edgar, todos esses anos atrás".
"Nem mesmo parece mãe da Ava, não é mesmo?", Levi comenta antes que consiga se conter, recebendo uma risadinha como resposta.
"Não. Não parece. E achei muito legal que ela tenha nos incluído nisso. Acho que poderíamos fazer mais coisas para a comunidade, no final", Petra senta-se sobre uma mesa próxima, "Fico pensando em como essas crianças e adolescentes estão nessa situação horrível e que talvez a gente consiga trazer um pouco de cor e alegria com o que sabemos. Você não acha?".
Levi fica quieto por um momento, ajeitando a última caixa no armário e fechando a porta, se apoiando ali para olhar a amiga, "Acho que sim, mas também acho que se dependesse de mim as crianças acabariam traumatizadas. Não sou muito bom com elas".
Petra ri, balançando a cabeça de forma negativa, "Você sempre diz isso. Inclusive quis saber se eu não considerava um erro você e Erwin quererem filhos porque você não sabe o que fazer com crianças, mas, sendo sincera, você sempre pareceu muito bom com elas".
Levi abre a boca, pronto para perguntar algo, mas é interrompido por Armin, que está parado no meio da sala, "Oluo vai monitorar essa atividade e eu a próxima", ele anuncia, o tom tipicamente diplomático, apesar de uma expressão de leve insatisfação pelas discussões com Olho, "Petra, você e Levi poderiam monitorar a atividade da tarde com as crianças menores? Crianças costumam gostar de vocês dois", ele dá um pequeno sorriso.
"Claro que sim!", Petra responde por ambos, dando um abraço em Levi antes que ele consiga pensar em uma desculpa para se esquivar da tarefa.
O dia passa rápido e as atividades fluem melhor do que o esperado. Levi consegue ver algumas crianças e adolescentes com grande potencial para arte e quando percebe já está conversando com algumas delas, as ouvindo falar sobre seus interesses e inspirações. Oluo deixa de implicar com Armin após monitorar a primeira atividade, parecendo feliz em receber algum destaque. Em vários momentos, Claire entra na sala e os ajuda com a organização, muitas vezes perguntando se eles precisam de algo mais e agradecendo a disponibilidade.
Quando a tarde está quase terminando, eles organizam a sala para a mesma configuração na qual a encontraram no início do dia, recolhendo sacos de lixo com revistas despedaçadas, papéis coloridos picotados e frascos de tinta vazios. Todos vão embora com bem menos material do que chegaram, cansados, mas muito satisfeitos. Levi fecha a sala, carregando uma pequena caixa com alguns materiais que trouxe e sobraram.
O prédio está quase vazio agora, a maioria das pessoas voltaram para abrigos temporários ou casas de parentes nas redondezas, torcendo para que as orientações que receberam sobre seus direitos surtam algum efeito em breve. Levi vai até a sala na qual Erwin atende uma moça jovem com duas crianças pequenas e inquietas.
"Luke, só um momento, por favor", ele escuta a moça falar com uma voz cansada, desviando rapidamente os olhos para o pequeno garoto de cabelos e olhos castanhos que puxa sua blusa com vontade, requisitando atenção.
Erwin espera pacientemente, brincando com a garotinha de cabelos castanhos cacheados que se remexe no colo da jovem, interessada nos formulários espalhados pela mesa, parecendo tentar roubar a caneta na mão de Erwin para poder rabiscar todas aquelas folhas.
"Precisam de ajuda?", Levi se aproxima depois de deixar a caixa sobre uma mesa desocupada, atraindo a atenção dos quatro. Ele não sabe o que deu em si, mas sente que a moça precisa de alguém que a ajude com as crianças antes que ela tenha um pequeno surto.
A jovem mulher parece confusa, segurando a menina mais firme em seu colo e pegando a mão do pequeno menino com força. Erwin intervém de imediato, "Tudo bem. É meu marido", ele explica para a mulher, "Acha que consegue distrair as crianças por alguns minutos? Estamos quase acabando aqui e elas estão impacientes", ele sorri grande para Levi, enquanto a moça relaxa.
"Claro. Eu dou um jeito", Levi se abaixa para que possa olhar as crianças nos olhos, se apresentando e as convidando para ir com ele até a mesa no outro lado da sala. A menina, Emma, de pronto sai do colo da moça, segurando a mão de Levi, enquanto Luke olha em dúvida para a mulher, como se esperasse uma confirmação de que pode ir.
"Vai lá, Luke. Vou estar aqui esperando vocês", ela diz para o menino, que enfim parece convencido e aceita ir com Levi.
O moreno tira da caixa algumas folhas e lápis de cor, colocando sobre a mesa para que as crianças possam se distrair. Ambos são pequenos, provavelmente com menos de quatro anos e gêmeos. Emma é falante e conta histórias em sua linguagem simples enquanto desenha, mostrando coisas para Levi com frequência. Luke é mais tímido e desenha em silêncio, tão concentrado em seu trabalho que parece estar no processo de criar uma obra de arte.
Eventualmente Luke imita a irmã, mostrando o que fez e contando uma história sobre seu desenho, ao qual Levi escuta pacientemente e faz pequenas perguntas para que o garotinho lhe conte mais coisas. Os dois são interrompidos por Emma, que começa a mexer na caixa com materiais e solta uma exclamação feliz quando vê as várias tintas.
"Quero esse. Esse é legal", Emma mostra os potinhos para Levi, os olhos castanhos brilhantes de empolgação, "Luke, quer?", ela mostra para o irmão, que prontamente concorda e fica tão interessado quanto ela.
Levi olha para Erwin e a moça, notando que ambos parecem longe do fim daquela conversa. Ele respira fundo, olhando as duas crianças, "Tudo bem, mas vamos guardar esses primeiro", ele indica os lápis, recebendo ajuda na organização mais bagunçada que ele já fez em sua vida.
Levi coloca uma grande folha de papel pardo sobre a mesa para garantir que eles não derrubem tinta em tudo e de repente tem uma ideia que parece ser mais uma memória do que qualquer outra coisa. Rapidamente ele coloca um papel cartão na frente de cada uma das crianças.
"Vocês querem pintar um arco-íris?", ele pergunta, recebendo respostas empolgadas de imediato. Levi pega duas esponjas sujas de tinta seca de dentro da caixa, um pincel e sete frascos de tinta, abrindo cada um em uma ordem bem específica, fazendo ambas as crianças repetirem os nomes das cores conforme ele as adiciona em cada esponja com ajuda do pincel. Ele entrega uma esponja para cada e deixa que as crianças as deslizem sobre as grossas folhas de papel.
Ele observa as crianças fazerem os mais variados movimentos sobre o papel, empolgadas e concentradas na arte que criam a cada movimento. Algumas vezes, Levi precisa adicionar mais tinta às esponjas e dar novos papéis, mas as crianças esperam pacientemente, voltando para suas criações assim que possível.
"Nossa, que grandes artistas temos aqui", a jovem se aproxima, abaixando-se ao lado de Luke para ver o que eles fazem, "Vamos agradecer o tio Levi e ir embora, okay?".
Emma e Luke trocam um olhar e Emma começa rapidamente a pedir para ficar, enquanto Luke faz uma cara de choro. Levi arregala os olhos, não sabendo muito bem como reagir àquilo, mas a moça parece ter tudo sob controle, pois em poucos minutos ela acalma ambos e faz eles limparem as mãos e agradecerem a Levi, como proposto. Para sua completa surpresa, ele ganha um abraço de cada um e acenos até que eles tenham sumido de vista.
Levi joga as folhas e esponjas fora, deixando a mesa impecável, da mesma forma que a encontrou, e então vai até Erwin, que está em pé organizando os papéis que estavam em sua mesa, "Posso te ajudar com isso?", ele questiona.
"Não se preocupem com isso", uma mulher fala da mesa mais próxima, "Podem deixar que terminamos de organizar tudo aqui. Vocês chegaram bem cedo, então não é justo que fiquem até mais tarde também", ela sorri para os dois.
Erwin e Levi tentam insistir, mas outras pessoas reforçam o que a primeira mulher disse e eles finalmente se dão por convencidos, no fundo, Levi até mesmo agradece mentalmente por aquilo, pois sente-se exausto depois do dia atarefado.
“O que era aquilo que você estava fazendo com as crianças?”, Erwin pergunta quando eles já estão à caminho de casa, tirando Levi de seu quase cochilo, “Com as esponjas”.
Levi boceja e se espreguiça, olhando-o em seguida com um sorriso cansado, “É algo que minha mãe e eu costumávamos fazer. Ela me ensinou as cores assim. Nós chamávamos de ‘esponja arco-íris’”.
Erwin dá um sorriso em resposta, mexendo nos cabelos negros do outro quando param em um semáforo, “Você nunca tinha me contado isso. Aliás, você quase nunca fala da sua mãe”, ele fala sem ressentimentos, apenas apontando um fato.
“Eu acho que nunca falei porque simplesmente não lembrava disso”, ele pondera por um instante, “Não tenho muitas lembranças dela, já que eu era relativamente pequeno quando ela morreu, apenas uns dois ou três anos maior do que os gêmeos”, Erwin faz uma espécie de careta ao escutar sobre as crianças, voltando a dirigir. Levi franze o cenho, se voltando um pouco para ele, “O que foi? Você ficou sério de repente”.
O maior suspira pesadamente, demorando um instante para responder, como se pensasse em como falar aquilo, “Emma e Luke ficaram órfãos durante o incêndio. A mãe morreu para salvá-los e Mia, a moça que estava com eles, disse que o pai morreu pouco depois deles nascerem, numa briga de gangues”.
“Achei que a moça era mãe deles. Uma mãe precoce, claro, mas mãe, já que eles estavam claramente à vontade”, Levi fica um pouco surpreso com a informação, lembrando-se como a moça ficou protetora de repente quando ele se aproximou.
“Aparentemente Mia cuidava deles desde sempre para que a mãe pudesse trabalhar e criá-los, então eles são bem apegados à ela. A grande questão é que Mia irá voltar para a casa dos pais, no Michigan, e as crianças irão para um orfanato. Ela está de coração partido, porém não tem condições de adotá-las e eles não têm familiares. Ela nem mesmo tem condições de se manter depois de tudo”, a voz de Erwin é pesarosa.
Levi fica em silêncio. Ele tinha ficado órfão muito cedo, mas, por pior que fosse, ele tinha Kenny. Kenny garantiu que até certo ponto ele tivesse roupas limpas, comida e um lugar para dormir, mesmo que isso viesse acompanhado por palavras duras e depois por brigas. E ele era grato porque nunca tinha precisado ficar em um lar temporário ou em um orfanato. Não sofreu abuso de outras crianças ou de pessoas completamente desconhecidas que enchiam suas casas com órfãos para ganhar dinheiro do governo. Ele não queria pensar naquelas duas pequenas crianças, mas já estava pensando.
“Podemos fazer algo?”, ele pergunta após um longo silêncio.
“Ao menos que as adotemos, não, não podemos fazer nada”, Erwin dá um sorriso triste, ciente de que aquela não é uma opção. Pelo menos não naquele momento.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.