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História Can we always be this close? - Eruri - Not really sure how to feel about it


Escrita por: iamlosingtouch

Notas do Autor


Olá!
Quero agradecer todos os comentários e favoritos!

E agradecer imensamente a maravilhosa @nanduskafig que fez essa capa incrível para fic! Continuo sem palavras para expressar o quanto amei a capa <3

Capítulo 3 - Not really sure how to feel about it


Fanfic / Fanfiction Can we always be this close? - Eruri - Not really sure how to feel about it

O lugar favorito da casa para Levi é o Solarium. Ainda que estivessem tão perto do inverno e todos os dias fossem nublados, com o jardim da casa sem grandes atrativos, ele gosta de sentar ali e fazer qualquer coisa. Algumas vezes ele até mesmo pega no sono, envolto em um cobertor, na poltrona que ele tinha eleito com a melhor da casa. Quando em casa, Erwin muitas vezes acabava trabalhando ali também, uma companhia silenciosa que lhe trazia conforto.

Se de início Levi tinha achado difícil se afeiçoar a Erwin, agora ele acha difícil se desvencilhar da figura do maior. Erwin é um companheiro atencioso, com quem as conversas surgem do nada e depois deixam um silêncio confortável. O maior deixa Levi à vontade e agora é muito fácil entender por que um Levi de 17 anos tinha se apaixonado e decidido passar sua vida ao lado do outro.

Algumas vezes Levi se pega olhando para uma das fotos dos dois em cima do console da lareira. É uma foto do casamento deles, só os dois, e… Droga, ele não sabia que era possível olhar para alguém da forma que ele olhava Erwin ali. Ele já tinha pegado Erwin o olhando exatamente da mesma forma. Era algo tão íntimo e afetuoso que ele quase se sentia corar toda vez que encontrava os olhos tão azuis do maior em si daquela maneira. Ele não se lembra de nada e ainda assim Erwin o olha como se ele fosse tudo para si.

Ele está perdido em pensamentos, envolto no cobertor enquanto segura uma caneca de chá, quando Erwin chega. Ele nem mesmo percebeu que o maior tinha entrado em casa, mas ali está ele, ainda de terno e gravata após uma reunião de trabalho que o fez sair de casa. Erwin já sabe que se Levi não está no quarto, ele muito provavelmente vai estar ali.

“Hey, como foi sua sessão?”, Erwin começa, enquanto desfaz o nó da gravata, num ritual que Levi já percebeu ser costumeiro quando o maior chega do trabalho. Um ritual que ele gosta de observar: como os dedos de Erwin desfazem o nó da gravata e desabotoam cada botão sem o loiro sequer dê atenção a isso, como os músculos de seu peito - ou costas, dependendo da posição de Erwin para si - e braços se movimentam enquanto ele tira o terno e então a gravata. Sempre na mesma ordem. Levi se pergunta se existe algum fetiche da sua parte em acompanhar aquilo, porém ele não sabe responder.

Levi toma um longo gole do chá e então olha bem para os olhos de seu marido. Ele se diz todo dia de manhã, enquanto repassa a lista de coisas que aprendeu sobre si mesmo desde que acordou no hospital, que Erwin é seu marido. Se das primeiras vezes a ideia foi totalmente estranha e sem sentido, agora ela é quase natural e lhe dá uma sensação agradável de pertencimento.

“Bem… Eu acho. No final eu falei tanta coisa que eu mesmo fiquei surpreso. Ela pediu que eu contasse tudo o que aconteceu com as minhas palavras, mesmo ela tendo uma ficha que a neurologista mandou. E ela é… simpática. Foi melhor do que eu esperava”, Levi teve a primeira sessão de terapia da sua vida naquela tarde. Uma sugestão de sua nova neurologista, Dra. Reiss.

Segundo Dra. Reiss, Levi está indo muito bem. É normal que ele ainda esteja com dor e se sentido cansado, dormindo a qualquer momento. Seu corpo está se recuperando e ele deve seguir essas vontades, sem pressa em voltar a ter uma rotina. Por outro lado, ela acha que a terapia vai ajudá-lo no processo como um todo, inclusive com as memórias, uma vez que elas não parecem particularmente interessadas em voltar por conta própria. Por isso eles saíram do consultório com uma lista de sugestão de terapeutas e escolheram, juntos, uma que parecia realmente boa.

Naquela tarde, Levi tinha ido sozinho até um consultório no centro de Chicago. Erwin não poderia acompanhá-lo e até sugeriu que Petra fosse junto, porém Levi preferiu ir sozinho. Ele entrou numa sala bonita e organizada, onde uma mulher de cabelos negros chamada Hannah, provavelmente na mesma faixa etária que ele, o recebeu com um sorriso acolhedor. Levi não fazia ideia do que falar, mas de repente estava contando tudo, do momento que acordou no hospital até ali.

Hannah deixou com que ele falasse livremente e apenas no final pontuou algo que mexeu com Levi, “Por que você passa tanto a mão em sua mão esquerda?”. Levi parou e olhou para as próprias mãos. Aquele era um ato automático que ele vinha fazendo sem se dar conta e a resposta estava bastante clara assim que ele viu a mão direita pousada sobre seu dedo anelar esquerdo. Era óbvio que Hannah sabia a resposta, porém ela perguntou para que ele mesmo se desse conta daquilo.

“Isso é bom”, Erwin se aproxima após terminar seu ritual, sentando-se na ponta do sofá mais próximo do menor, “O que foi?”, ele pergunta e aquilo deveria ser irritante, mas Levi deixou de se incomodar com o fato de que Erwin o conhece tão bem que sabe exatamente quando há algo em sua mente o incomodando.

Levi deixa a caneca na mesinha ao lado da sua poltrona e faz uma careta, pensando em como falar no que está pensando desde o final da sessão, “O que aconteceu com a minha aliança de casamento?”.

Ele observa Erwin erguer as sobrancelhas de leve, como se não esperasse que ele fosse perguntar aquilo naquele momento, afinal três semanas se passaram e apenas agora Levi deu algum sinal sobre o assunto. Erwin puxa uma fina corrente de ouro branco de seu pescoço, revelando duas alianças pequenas que obviamente só podem pertencer ao moreno.

“Me devolveram no hospital…”, Erwin começa, enquanto abre a corrente, tirando a aliança dourada e entregando ao menor, o par perfeito de sua própria aliança de casamento.

Levi pega o anel, olhando com atenção. Muitas coisas passam pela sua mente de uma única vez, mas a primeira de todas simplesmente escapa por seus lábios, “Você sempre anda com elas?”. Como a resposta demora, ele olha o maior e percebe que Erwin está um pouco sem jeito e apenas concorda com um aceno de cabeça, “E a outra?”, Levi indica a pequena aliança que está na corrente.

“É nosso anel de noivado… Você não gostou muito da ideia de se desfazer dele, então decidiu colocá-la num colar”.

Levi pisca algumas vezes, surpreso com a própria atitude. Aparentemente eles eram o casal mais brega do mundo, com Erwin carregando suas alianças por aí e com ele não querendo se desfazer de seu anel de noivado. Ele coloca a aliança e vira-se o melhor que consegue, ficando meio de costas para Erwin, "Você pode colocar, por favor?", ele indica a corrente e sente Erwin se aproximando para fazer o que ele pede.

Depois de alguns instantes ele sente as mãos do maior em sua nuca, assim como sua respiração quente. Erwin é rápido, mas as sensações parecem se prolongar em seu corpo, o fazendo se sentir meio quente. Quando ele vira, encontra Erwin agachado, o rosto quase na mesma altura do seu. Eles se encaram por um instante e Levi se sente esquentar ainda mais, até que Erwin levanta e senta-se novamente no sofá, desviando o olhar, aparentemente sentindo o mesmo que ele pelo jeito que suas bochechas coram de leve.

Levi decide olhar para o anel na corrente, demorando um momento para falar de novo, "Quando você percebeu que queria casar comigo?", Ele ergue o olhar e encontra os olhos de Erwin em si.

O maior passa a mão pelos cabelos loiros, os desalinhando um pouco, "Eu não consigo dar um momento exato. Não foi como se algo tivesse acontecido e eu notei, entende? Mas no final do ensino médio eu definitivamente sabia que eu queria me casar com você".

Levi relaxa no próprio lugar, aquela é a primeira vez que ele decide perguntar algo assim sobre eles desde a primeira conversa que tiveram no carro, logo quando chegaram de viagem. Na verdade, ele percebeu durante a terapia que ele tinha milhares de perguntas para Erwin, porém ele sempre as jogava para o fundo da sua mente no lugar de perguntá-las.

"E você esperou quatro anos para me pedir…?", Levi franziu a testa, vendo Erwin sorrir, "O que?".

"Mike e eu íamos viajar durante o verão antes da faculdade. Era um plano antigo nosso. E… bem… Eu realmente pensei em te pedir na nossa última noite juntos antes da viagem".

"Sério? O que te impediu?", Levi se vê inclinando para frente, olhando para Erwin, que sorri ainda mais, parecendo se divertir com a reação dele.

"Eu estava com o anel no meu bolso e eu sabia exatamente o que queria dizer, mas… Eu quase conseguia te ouvir dizendo que tínhamos a faculdade pela frente e esse era um passo grande demais para o momento, que isso provavelmente ia adicionar uma pressão que não precisávamos e, bem, eu acho que você estaria certo", Erwin dá de ombros de leve, o sorriso ainda brincando em seus lábios enquanto ele parece lembrar daquilo.

"O que eu te disse quando você me contou isso?", Levi se sente realmente envolto pela história e quase consegue imaginar tudo aquilo, inclusive a própria resposta naquela situação.

"Exatamente o que eu imaginei", Erwin ri fraco, "Mas também disse que teria dito sim de qualquer forma. E essa é uma coisa sobre você: eu nunca consegui te ler 100%. Claro que fiquei muito melhor com o passar do tempo, mas você sempre encontra uma forma de me surpreender".

"Bem, veja pelo lado positivo, pelo menos você nunca está entediado comigo", Levi pisca para o maior, que rola os olhos de uma forma divertida e se aproxima para segurar sua mão, a apertando de leve, "Nosso anel de noivado é o mesmo da época em que pensou em propor a primeira vez?", Erwin concorda com um aceno, "Acho que entendo porque não quis me desfazer dele…, mas isso não nos torna menos clichê".

"Você nos acha clichê?", o maior fala, meio rindo.

"Porra, Erwin. Super clichês. Eu guardei nosso anel de noivado numa corrente e você ficou andando com ela por aí enquanto eu não a pedia de volta", Levi se sente sorrir enquanto Erwin ri de verdade, parecendo se divertir com aquilo.

"É. Nós somos meio clichês…, Mas eu gosto disso", ele se ergue, dando um beijo nos cabelos escuros do marido, “Eu vou tomar banho e preparar algo para jantarmos”.

Levi acena com a cabeça, observando o maior se afastar enquanto passa a mão pela corrente em seu pescoço. Parece a coisa mais boba do mundo, mas aqueles pequenos objetos o fazem se sentir um pouco mais completo.

 

 

As vozes enchem a casa, o que é inesperado para Levi. O sol muito fraco de fim de outono já está alto e ele sabe que dormiu mais do que de costume, mas aquela tinha sido uma noite particularmente boa, onde ele tinha conseguido descansar sem as típicas interrupções causadas pelas dores. Ele reconhece as vozes de uma ligação de vídeo alguns dias após voltar para casa, então ver Linda e Conrad Smith na cozinha de sua casa não é algo inimaginável.

Erwin está de pé, próximo a pia da cozinha, ainda de pijama e com cara de quem não acordou há muito tempo. Linda lhe serve café numa caneca, enquanto Conrad termina de preparar ovos mexidos e torradas.

“Ah, aí está nosso paciente!”, Linda diz alto, abrindo um grande sorriso para Levi assim que o vê, “Sente-se para tomar café da manhã, querido”.

Levi não tinha sequer lavado o rosto, ainda assim ele se senta, como se aquilo fosse uma ordem que não ousaria desobedecer. Erwin o olha e rola os olhos, enquanto toma um longo gole de café. Aparentemente ele não esperava seus pais ali também. Linda se aproxima da mesa com uma caneca e uma jarra de café.

“Eu não posso consumir cafeína”, Levi diz de imediato, vendo Linda franzir o cenho antes de concordar.

“É claro que não. Vou te fazer um chá, querido”, ela se afasta de novo, começando a mexer nos armários como se estivesse na cozinha da própria casa.

Erwin senta-se ao seu lado na mesa, “Eles vieram para o dia de ação de graças”, ele fala baixo, próximo do moreno, um olho sempre em seus pais.

“Eu meio que odeio esse feriado...?”, Levi franze a testa. Existe algo sobre se reunir para agradecer coisas em torno de uma mesa onde a principal refeição será um peru morto, - enquanto passa desfiles ridículos na televisão - que o incomoda. Na verdade, datas comemorativas o incomodam: o Natal, uma festa cristã enquanto ele mesmo nunca deu a mínima para religiões e deuses, junto do seu aniversário; a comemoração durante a virada de ano, como se todos os problemas deixassem de existir só porque um novo ano chegou; e, neste exato momento, ação de graças. Ele com certeza prefere ficar de pijama comendo algo que pediram ou Erwin improvisou na cozinha, do que ter que lidar com seus sogros após uma merda de acidente.

“Eu sei”, Erwin sussurra, enquanto Conrad chega com a comida, a dispondo na mesa.

“Como você está, Levi? Erwin nos contou que tem progredido bem com a fisioterapia”, Conrad sorri e seus olhos claros se iluminam da mesma forma que os de Erwin.

“É bastante doloroso, mas todos têm certeza de que vou me recuperar 100% em poucos meses. Tenho conseguido apoiar meu pé no chão com segurança, então acho que vamos testar a bengala em breve”, Levi começa a dizer enquanto se serve.

“E a memória, querido?”, Linda se aproxima, servindo chá para ele e sentando-se, começando a se servir também, “Algum progresso?”.

Levi segura a vontade de morder o próprio lábio, optando por soprar seu chá, demorando um pouco mais naquele processo do que de costume. Conrad e Erwin estão focados em comer, mas os olhos de Linda estão fixos nele. Ele busca as palavras dentro de si, como se verificasse uma lista imensa de maneiras de começar com aquele tópico, porém ele desiste de vasculhar sua mente em busca de uma explicação confortável porque ele já sabe que ela não existe.

“Minha memória é um enigma até para mim”, Ele deixa a caneca de volta na mesa, olhando bem para sogra, para seus traços bonitos mesmo com a idade que ela já tem, os cabelos loiros tingidos de maneira impecável presos em uma trança, ela se senta perfeitamente ereta, os lábios comprimidos de leve enquanto escuta, “Algumas vezes eu simplesmente sei das coisas, como se elas estivessem ali”, ele dá de ombros, começando a comer uma torrada.

“O lado realmente bom é que Levi consegue guardar as informações”, Erwin intervém, olhando para os pais, “A neurologista disse que isso é um ótimo sinal e os exames estão bons, então é mais uma questão de tempo”.

Levi tem vontade de rir de maneira amarga, porque aquilo é uma grande mentira: questão de tempo. Ninguém consegue explicar por que ele simplesmente não lembra das coisas, uma vez que ele não possui nenhuma alteração neurológica. Sua médica até mesmo pediu para que a equipe de neurologia clínica do hospital avaliasse seu caso e a conclusão mais plausível é uma espécie de bloqueio emocional. O que é esse bloqueio? Ele se pergunta todo dia e nunca consegue achar a resposta dentro de si, ele não acredita que o trauma do acidente seja o suficiente para justificar algo do gênero. Entretanto ele não ri. Erwin está tentando o ajudar com a situação, impedindo que Linda persista no assunto.

“Vocês fizeram uma boa viagem? Devem ter pegado um voo realmente cedo”, Levi se encarrega de mudar de assunto e nota Conrad se ajeitando no lugar, inclinando um pouco o corpo para frente.

“Foi uma viagem bastante tranquila e saímos realmente cedo. Linda queria muito fazer uma surpresa para vocês... Chegar o mais cedo possível aqui e pegá-los desprevenidos. Ela insistiu que seria bom ficarmos alguns dias com vocês e ajudá-los com o que for possível. O feriado pareceu uma ótima oportunidade”, o homem mais velho coloca a mão sobre a da esposa, a apertando de leve e dando um sorriso afetuoso em sua direção.

Linda o olha de volta, sorrindo maior, “Imaginamos que deve estar meio complicado para vocês, com todas as suas consultas e sessões enquanto Erwin provavelmente está sobrecarregado no escritório, com tantos projetos e a possível promoção”, ela dirige o sorriso para o filho.

Levi franze a testa, olhando na direção de Erwin. Promoção? Que promoção? Por que você não me conta as coisas, Erwin Smith? As palavras se formam em sua mente, porém não passam por seus lábios. Erwin se move levemente desconfortável na cadeira, evitando contato visual com o marido.

“Estou trabalhando de casa, mãe. Temos nos virado bem”, Erwin responde, de repente muito focado no prato a sua frente, “Sem contar que Petra nos ofereceu ajuda com o que for necessário”.

O sorriso de Linda começa a se desfazer e sua expressão se torna mais séria, "Nós queremos ajudar, querido. Somos seus pais e estamos muito preocupados com você e Levi. Obviamente o último ano foi bastante difícil e seria bom vocês poderem relaxar um pouco em um momento como esse, mas podemos ir...”.

“Mãe, sem drama”, Erwin olha bem para ela, igualmente sério, “Não é sobre vocês não serem bem-vindos ou não querermos ajuda, okay? É claro que sabemos que vocês estão preocupados e tudo mais. Só que Levi e eu sempre resolvemos as coisas por nossa conta, só isso”.

Levi franze ainda mais a testa, olhando para o marido, então para Linda e enfim encontrando o rosto de Conrad que certamente é uma cópia da sua própria expressão. Levi limpa a garganta, “Muito obrigado por terem vindo”, sua voz sai um pouco baixa, mas firme e ele observa Linda relaxar no lugar, apesar de sua expressão ainda ser séria.

“Obrigada, Levi”, ela tenta um sorriso e por um instante ela parece querer se concentrar no café a sua frente, mas então ela suspira e seus olhos estão de volta em seu filho, “A questão é que Erwin, como sempre, está sendo teimoso e não aceita ajuda da própria família em um momento em que vocês deveriam ter o máximo de apoio possível”.

“Sério, mãe? Sério mesmo que isso vai virar uma discussão sobre as suas necessidades neste momento?”, Erwin parece desistir, claramente desconsertado de uma maneira que não lhe é comum.

“Não é sobre as minhas necessidades, Erwin! Por que você insiste em me colocar como vilã na história toda?”, a voz de Linda sobe um tom e uma espécie de mágoa parece emanar dela, ao mesmo tempo que ela se mantém firme em seu lugar. Conrad coloca uma mão em seu ombro, chamando seu nome e sendo ignorado, “Não é a primeira vez que você age como se nós não fossemos benquistos...”.

“Mãe, não é isso. Vocês sempre serão bem-vindos, mas neste exato momento o que Levi e eu precisamos é de paz. Eu gostaria, de verdade, que vocês tivessem nos ligado avisando que viriam no lugar de aparecer aqui de surpresa. Nós não precisamos de mais surpresas no momento, sabe?”, Erwin suspira e passa a mão pelos cabelos loiros.

Linda continua, mas de repente Levi não está muito ciente do que está acontecendo. Ele fecha os olhos e se obriga a respirar fundo, mas é como se o ar tivesse que lutar para chegar aos seus pulmões, sua garganta parece ter se fechado, como se um bolo invisível tivesse se formado ali e impedisse que até mesmo uma pequena porção de ar passasse e chegasse aos seus pulmões. Seu coração está acelerado, causando uma espécie de dor no meio do seu peito, uma pressão que o atravessa de um lado ao outro, bem no meio de seu esterno. Seu corpo parece tremer por inteiro, mas quando ele abre os olhos e foca em suas mãos, ele está perfeitamente fixo no lugar.

“Levi?”, é a voz de Conrad que consegue superar as do filho e esposa e chegar até si. Seus olhos se encontram e Levi se vê obrigado a levantar.

Ele se sente tonto e nauseado, porém usa toda sua força para se levantar o mais rápido que sua perna machucada permite. Ele tenta responder, mas sente o gosto amargo subir e queimar sua garganta, o obrigando apenas a sair dali e ir até o banheiro. Ele não vomita, mas de repente o ar parece encontrar seu caminho, enchendo os pulmões, o fazendo ofegar. Ele se apoia o melhor que consegue contra o balcão do banheiro e abre a torneira, molhando os punhos, sentindo a água fria agulhar sua pele.

Levi fecha os olhos por um instante, deixando o corpo se acostumar com a sensação e foca na própria respiração. Inspirar e expirar em um ritmo que aprendeu com sua terapeuta. Quando ele abre os olhos encontra os de Erwin o encarando no espelho. Ele não ouviu o maior se aproximar, eles se encaram por um instante e então Levi se inclina, molhando o rosto e a nuca, focando mais uma vez na respiração.

A pressão em seu peito diminui, assim com a sensação de tremor por todo o seu corpo, aos poucos o ritmo da sua respiração é constante e ele consegue focar nas coisas em sua volta. Ele seca o rosto, a nuca e então os punhos em um processo lento e controlado, uma briga com seu próprio corpo que tenta impor um ritmo acelerado a tudo.

“Você está bem?”, Erwin toca seu braço. Sua mão forte e quente o ajuda a manter algum senso de realidade. Demora alguns segundos até que Levi negue com um aceno de cabeça e deixe que Erwin o guie até o quarto e o ajude a deitar na cama.

Ele fecha os olhos, o corpo relaxando aos poucos contra o colchão firme e ao mesmo tempo macio, seus dedos passam pelas fibras do cobertor sob si, a textura suave contra seus dedos o ajudando a manter a mente naquele lugar e não em qualquer caos para o qual ela queria o levar. Erwin toca seu rosto de maneira delicada, o fazendo abrir os olhos para encontrar-se numa penumbra embaçada. As lágrimas correm livremente e ele só percebe pela visão turva.

Levi funga e passa a mão pelos olhos, tentando parar o choro que ele nem mesmo sabia que estava ali. Erwin está deitado ao seu lado, apoiado em um dos braços, enquanto a outra mão corre pela pele pálida de Levi, pelos cabelos negros bagunçados. Sua testa franze bem no meio e o maior acompanha cada movimento de seu marido com atenção.

“Está tudo bem”, a voz sempre firme de Erwin é baixa e o acalenta. O maior faz que vai se virar e Levi o segura pelo punho, sentindo a garganta se constringir de novo, “Eu estou aqui, calma”, Erwin o olha de novo, “Eu não vou a lugar nenhum, Levi”.

Levi deixa os dedos se abrirem aos poucos, as lágrimas voltando a rolar e embaçar sua visão de novo, porém ele não luta, deixando seu corpo afundar de novo contra a cama e seus olhos fecharem. Uma música calma começa e de repente os braços de Erwin o puxam para si, contra seu peito largo e seu aroma é tão familiar e o deixa tão em paz consigo mesmo.

Os dois ficam em silêncio, uma das mãos de Erwin deslizando pelas costas do menor, o acalentando, aos poucos as lágrimas param por si só e sua respiração é normal sem que ele precise pensar. Levi conhece aqueles sons e toques, porém o lugar em sua mente é diferente do que estão agora. Ele tenta focar na imagem que se forma em algum lugar de sua cabeça e ele vê um quarto pequeno, também na penumbra, em um lugar mais abafado do que ali. Demora um momento até que ele saiba que é memória antiga, no quarto que ele ocupou quando adolescente e Erwin está bem ali, mas é Levi que envolve o maior e não há lágrimas, mas risadas e beijos. Sentido o coração pesar um pouco menos com a lembrança, ele adormece.



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