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História Canção Vintage (Crânio Magrí - Os Karas) - Terror é um Beijo no Overlook


Escrita por: Lieh29

Notas do Autor


Acontecimentos antes da A Droga da Obediência, ou seja, tive que tirar o Chumbinho :( mas espero compensar em breve...

Tem spoilers de um filme famoso do Kubrick ;)

Música: Thriller - Michael Jackson

Capítulo 3 - Terror é um Beijo no Overlook


Fanfic / Fanfiction Canção Vintage (Crânio Magrí - Os Karas) - Terror é um Beijo no Overlook

Era com alegria e carinho que Magrí observava as fotos dos seus queridos Karas naquele primeiro ano quando se juntaram como grupo de amigos. Tantas conversas, tantas “aventuras” que viveram no forro do vestiário do Colégio Elite e fora dele. Antes mesmo de se quer sonharem com todos os acontecimentos terríveis como a droga da obediência e o Dr. Q.I., esses grandes perigos eram tudo apenas produto da imaginação deles e dos filmes que assistiram juntos.

Havia uma foto um pouco amarelada pelo tempo de uma das noites de sexta-feira que ela e os meninos combinavam de ver um filme juntos. Magrí reconheceu imediatamente a casa dos pais de Crânio pela mobília em volta que não havia mudado desde aqueles tempos. O coração apertou um pouco mais no peito ao lembrar-se dos momentos felizes que viveu naquela casa junto com seus habitantes pelos anos que se seguiram.

Ainda observando a foto, percebeu, com um riso, que ela estava com uma terrível cara de sono e até um pouco assustada. Lembrou-se então do que aconteceu naquela “sessão pipoca” em particular e de como não conseguia olhar para Crânio sem corar por dias seguidos.

****

- Estou curioso para saber qual foi o filme que Crânio escolheu para a gente assistir.

Calú olhava de relance para as escadas, sentado no sofá da casa do geninho dos Karas com antecipação, aguardando a chegada do amigo com a fita que alugou para mais uma sessão pipoca da sexta-feira.

- Nós já vamos descobrir, Calú – respondeu Miguel – Também estou curioso.

- Aposto que é um ficção de científica. O que você acha, Magrí?

A menina que até aquele momento apenas observava a conversa dos amigos, sentada no outro sofá, deu de ombros.

- Talvez sim, talvez não, Calú. Você sabe que ele é uma caixinha de surpresas.

- Eu acho que não – opinou Miguel – Tenho o palpite que dessa vez é terror. Ele me disse que estava lendo bastante livros do gênero nessas últimas semanas... Talvez tenha ido atrás de filmes também.

- Se for terror – Calú começou a rir-  O primeiro que tomar susto sozinho vai ter que pagar o almoço para os outros três na hora do intervalo!

- Nem pensem que será eu, eu não me assusto fácil – Magrí disse de forma petulante, pescando um salgadinho na mesinha de centro – Além disso, acho os filmes de terror muito bobos.

- Eu gosto muito, até acho alguns bem engraçados – comentou Miguel – Mas a sua ideia é muito legal, Calú. Eu topo.

- Fechado. E você, Magrí?

- Estou dentro – ela riu – Já vão separando o dinheiro da mesada de vocês!

Nesse momento, ouviram os passos apressados de Crânio descendo as escadas se dirigindo a sala, com a fita do filme na mão e um sorriso de satisfação consigo mesmo.

- Quem vai ter que separar a mesada? – entrou perguntando.

Calú acenou, se aconchegando mais no sofá.

- O primeiro que se assustar com esse filme de terror aí que você alugou.

- Não vai ser eu – o garoto riu, sentando-se no tapete perto da TV para colocar o filme – Até porque eu já sei a história, pois eu li o livro.

Magrí franziu a testa em protesto.

- Isso não é muito justo, Crânio!

- Mas pode ser que o filme não seja igual ao livro – disse Miguel - Deixa eu ver a capa.

O geninho dos Karas jogou a capa da fita para o garoto. Magrí e Calú espiaram o conteúdo curiosos. O pôster era amarelo com um rosto bizarro de fundo com o título em letras pretas.

- The Shining – leu Magrí – Não era esse o livro que você estava lendo?

Crânio acenou concordando.

- Era sim e eu nem sabia que tinha o filme! Se eu não tivesse comentado com o pessoal do clube de xadrez, eu não teria conseguindo essa fita.

- Pela capa parece ser bem aterrorizante – comentou Calú observando também a capa – E tem o Jack Nicholson no elenco!

Magrí pegou a capa do VHS que tinha saído das mãos de Miguel para as de Calú ainda indiferente.

- Como você conseguiu a fita, Crânio? – perguntou ela – Pelo jeito não tem nem legenda em português.

O garoto, que até o momento estava de costas para os amigos ocupado com a TV, virou-se parecendo embaraçado.

- Bem... É emprestado da Alícia.

Miguel caiu na gargalhada. Calú e Magrí se entreolharam sem entender nada. Crânio parecia que gostaria de cavar um buraco e se enterrar em nele, olhando de cara feia para o líder dos Karas que não conseguia parar de rir.

Por fim, Miguel provocou:

- O que a Alícia pediu em troca da fita, Crânio? Eu sei que ela te pediu algo em troca. Ela não ia deixar essa oportunidade passar.

O pescoço do garoto estava muito vermelho e ele amarrou ainda mais a cara. Magrí não estava se aguentando de curiosidade.

- Mas do que vocês dois estão falando? Quem é Alícia?

Depois que conseguiu parar de rir, Miguel sem olhar para a cara de desgosto de Crânio, explicou para Magrí e Calú o motivo do riso.

- Alícia é uma bonitinha do sétimo ano que é apaixonada pelo Crânio. Já escreveu até cartinha de amor e só entrou para o clube de xadrez para ficar bisbilhotando ele.

O líder dos Karas começou a rir de novo, acompanhado de Calú que nunca perdia oportunidade de tirar sarro do amigo.

- Ah então quer dizer que o Presto* anda arrasando corações por aí, hein? Quem diria! Eu sei que é por conta da minha influência...

O ator dos Karas não terminou a sentença porque Crânio, apanhando o travesseiro do sofá, jogou na cara do amigo com força, este último que caiu para trás gargalhando mais ainda.

- Ah cala essa boca, Calú! E você é um fofoqueiro, Miguel!

- Foi mal! Mas você está fugindo da minha pergunta – ele levantou a sobrancelha com a expressão irônica - O que a Alícia pediu em troca da fita?

Magrí que até aquele momento ria da conversa dos meninos, parou, um pouco apreensiva. A situação era de fato engraçada, mas a menina sentiu uma pontada esquisita no estômago que a estava deixando desconfortável em antecipação às palavras de Crânio. Tentando disfarçar, abriu uma lata de refrigerante bem devagar, sem olhar diretamente para ele.

O garoto em questão suspirou em derrota. Os amigos não iam deixar ele se safar daquela situação de forma fácil, em especial Calú que adorava provocá-lo sobre garotas. Porém ele tinha agora o apoio de Miguel para piorar tudo. Resolveu acabar logo com aquela história.

- Ela me pediu um beijo na bochecha. Só isso. Satisfeitos?

Virou-se novamente para TV ao som das gargalhadas e assobios de Miguel e Calú. Magrí riu também de forma mais discreta, a pontada no estômago um pouco mais forte.

Era tudo ridículo, uma paixonite adolescente que Alícia sentia pelo seu melhor amigo, situação que na idade da garota, a própria Magrí entendia o que era. Porém não sabia explicar porque aquela história a estava incomodando tanto a ponto dela não querer mais ver o filme.

Despertou quando percebeu que as luzes da sala foram apagadas e os garotos pararam de rir. Crânio foi para o meio do sofá ao lado dela com um balde de pipoca, o rosto ainda um pouco vermelho à luz da TV, observou.

Misturando-se a pontada esquisita no estômago, veio um sentimento ainda mais bizarro de ternura pela visão. Outros garotos na mesma posição talvez até estariam se gabando ou fazendo piadinhas do ocorrido com a menininha, mas ela achou fofo como o rapaz ficou embaraçado.

Os quatro se calaram atentos ao filme que se iniciava com uma longa abertura, embalada por uma música de suspense. Magrí que esperava que fosse mais um filme de terror bizarro, se viu surpresa ao se interessar de verdade pela história e por seus personagens. Passados então trinta minutos de filme, a menina comentou baixinho para Crânio:

- Não parece muito um filme do terror dos que eu já vi, está mais para um suspense.

- Filmes de terror que tem cenas grotescas somente para dar susto não são tão legais – cochichou Crânio de volta – O legal dessa história é o terror mais psicológico que vai se construindo aos poucos. Nada pode ser mais assustador do que a sua própria mente. Mas percebi alguns diferenças com o livro...

- Ha! Gosto assim – disse Calú – Detesto essa galera que acha que uma adaptação tem que ser igual ao livro.

- Mas deveria ser o mais fiel possível ao original, Calú! – protestou o geninho dos Karas.

- Claro que não! O cinema pode e deve tomar certas liberdades com um roteiro adaptado de livro para fazer a sua própria versão.

- Mas Calú...!

Miguel cortou a fala do amigo:

- Quer calar a boca vocês dois, estou tentando ver o filme! Depois vocês discutem.

Amuado, Crânio se calou ao som do riso abafado de Magrí.

Livro ou filme, The Shining prendeu a atenção dos quatro amigos quando o cenário do Hotel Overlook se mostrava cada vez mais macabro e sinistro. O que deixava a garota mais aflita eram os perigos que o pequeno Danny se colocava, enquanto que a expressão cada vez mais psicótica de Jack Torrance interpretado por Jack Nicholson começava a aterrorizá-la.

De fato, quem roubava a cena era o ator em questão, no qual Calú não se conteve em soltar alguns elogios de técnica de atuação que somente ele entendia.

Não tinham esquecido da aposta e a cada momento de suspense, um observava o outro de forma conspiratória para ver quem se entregava primeiro, porém nenhum dos quatro dava o braço a torcer. O momento mais difícil de segurar o susto foi na cena do quarto 237, além do fato de ser muito nojenta.

O filme crescia em suspense a cada minuto. Magrí, Crânio, Calú e Miguel mal piscavam e respiravam em frente à TV quando Wendy Torrance, em horror, descobria o estado de loucura do marido, já chegando por fim ao clímax do filme.

A tensão estava no último grau. A música crescia junto com a expressão de pânico e puro medo da atriz. Magrí abraçou o travesseiro que estava no colo com mais força. De forma inconsciente chegou mais perto de Crânio, este que nem piscava os olhos.

- Sai daí, sai! – murmurou ela como se a personagem pudesse ouvir.

A câmera mostrou uma sombra atrás de Wendy. A música cresceu mais ainda, os nervos já estavam à flor da pele.

- Aaah!

Ninguém viu quem gritou e se assustou primeiro quando Jack Torrance surgiu na tela com um corte brusco da câmera. Os quatro, passado o momento, riram.

- Quem se assustou primeiro? – disse Miguel olhando em volta em direção aos amigos.

- Acho que foi o Calú, eu ouvi a voz dele primeiro! – acusou Magrí.

- Eu?! Claro que não, foi você!

- Acho que eu ouvi sua voz antes de todo mundo – Crânio emendou.

Miguel encerrou a questão:

- Eu não tenho certeza de quem se assustou primeiro, mas acho que foi os quatro de uma vez. Na próxima, a gente decide.

Houve tantas próximas vezes até o final do filme que eles não conseguiram acusar com precisão quem se assustou primeiro, tornando a atividade uma pequena balbúrdia com risadas, que quebrava um pouco a tensão da história que se desenrolava na TV.

Magrí mudou a ideia que tinha de filmes de terror. The Shining era o melhor que já havia assistido, muito por conta do enredo bem construído que dava um sentido ao medo. Observou o geninho dos Karas com carinho compreendendo por fim o que era uma boa história de terror.

O filme já estava nos minutos finais. O pequeno Danny Torrance corria no meio da neve para salvar a própria vida do pai que queria matá-lo, para o desespero de Magrí.

-Se esconde, criança! Vai logo!

- Mas não tem onde ele se esconder, Magrí – comentou Miguel.

- Mas ele vai ser pego...

- Mudaram completamente o final – disse Crânio – Eu não me lembro disso acontecendo...

Calú riu satisfeito.

- Que bom que mudaram mesmo!

Magrí ainda não conseguia se livrar de preocupação pelos personagens.

- Estou com pena da Wendy também... O que será dela e do Danny?

Eles finalmente descobriram qual seria o destino daquela família com toda aquela tragédia, com um desfecho satisfatório para Magrí. Foi com alívio que o final chegou junto com os créditos que subiam na tela. Os quatro soltaram a respiração que haviam segurado nos últimos vinte minutos.

Espreguiçaram-se no sofá e Crânio acendeu as luzes. Miguel e Calú já se levantaram comendo o resto dos salgadinhos, enquanto Magrí ainda continuou aconchegada nos travesseiros.

- Você bem que poderia pedir para sua namoradinha deixar você me emprestar o filme, né Crânio?

O garoto que estava tirando a fita VHS do aparelho, olhou para o amigo de cara feia.

- Não enche o saco, Calú!

O ator dos Karas riu dando de ombros.

- Por mim sem problemas. Até levo ela para tomar sorvete se ela quiser.

Crânio ignorou a provocação, revirando os olhos. Magrí sentiu pena, porque ela conhecia Calú o suficiente para saber que o amigo não ia deixar o geninho em paz com essa história da Alícia tão cedo.

- Aí Calú, deixa essa história para lá. Não é como se você nunca tivesse feito isso, só que garotas bem mais velhas – comentou ela rindo. O garoto fitou a amiga com irritação.

Crânio abriu um sorriso largo para Magrí.

- Pelo menos alguém ainda me defende aqui. Obrigada, Magrí.

A garota sorriu de volta, fitando o amigo um pouco corada. Percebeu que Miguel observava a cena com atenção até demais, então ela tentou disfarçar desviando o olhar.

Menos de meia hora depois, Calú e Miguel pegavam um táxi para ir para casa já que moravam em ruas próximas, enquanto Magrí aguardava a chegada da mãe que viria buscá-la de carro. Ela estranhou da expressão descontente de Miguel quando deixou a casa de Crânio - esperava que não tivesse alguma coisa a ver com o fato dela ficar um tempo ainda sozinha com ele. Mas sabia que era por isso...

Magrí, preferindo deixar essas questões delicadas que não queria lidar para depois, juntou-se ao amigo no tapete para terminarem de comer as pipocas, enquanto jogavam conversa fora sobre o filme. Crânio havia praticamente escrito um ensaio de cabeça sobre a diferença do livro com a adaptação, com diversos pós e contras para a diversão da garota.

Ela não queria admitir para si mesma que gostava muito de conversar com ele mais do que os outros dois. Não que Miguel e Calú não fossem legais de conversar, mas o bom humor inteligente de Crânio era contagiante e estimulante para ela, que sem perceber, começava a compartilhar muitas das opiniões dele. E assim prosseguiam pelo próximo quarto de hora, quando de repente, caiu uma grande escuridão na Terra.

***

Estava escuro. Magrí abriu os olhos e se viu dentro de um grande e elegante hall, tão grande que se sentiu oprimida pela opulência do lugar. O silêncio era quase total, se não fosse pelos flocos de neve que caíam lá fora e batiam nas enormes janelas. A menina atravessou o hall confusa sem saber onde estava.

- Olá? Tem alguém aqui?

Em vão. Ninguém respondeu. O vento uivou lá fora, a mobília gemeu como se quisesse falar. Magrí controlando as batidas do coração, atravessou o primeiro longo corredor à frente dela o mais rápido que pôde. Já na metade porém, estacou no lugar.

Elas vieram do nada.

Duas lindas menininhas quase gêmeas em vestidinhos azuis de mãos dadas a esperavam no fim do corredor. Vozes delicadas ecoaram:

- Venha brincar conosco, Magrí! Venha brincar conosco para sempre!

O terror fechou a garganta da garota mais velha que se sentiu presa ao solo. Não podia ser, era impossível! Impossível!

Contou até dez e andou para trás devagar, até conseguir recuperar a força das pernas bambas para sair correndo sem rumo, com o ar faltando no peito.

Chegou em uma ampla sala que dava para a escada do segundo andar daquele lugar. Não havia uma alma e as menininhas não a tinham seguido para o seu alívio. Sentou-se no primeiro degrau da escada respirando com dificuldade. Precisava fugir dali, mas como? Onde estava a saída?

Silêncio. A mobília rangeu, uma porta pesada bateu no andar de cima fazendo a menina pular novamente com susto. Olhou ao redor e viu mais corredores do lado esquerdo e direito da sala. Ao seu lado, um bastão pesado de baseball que ela não tinha visto ali antes, disso tinha certeza, estava jogado no chão.

Pegou o bastão com a sensação que precisaria dele a qualquer momento.

Passos. Ela se pôs de pé com a arma em punho.

Alguém corria até ela pelo corredor esquerdo. Contou. A coisa se aproximava. Contou mais.

Segurou a arma com mais força, pronta para desferir o primeiro golpe. Os passos já estavam próximos.

Mais passos.

Quando ia girar o bastão para certar em cheio o que quer que tivesse chegado ali, escutou uma voz familiar gritando:

- Não Magrí, sou eu, sou eu!

O bastão girou no ar, mas o possível alvo se abaixou no momento exato em que acertaria sua cabeça.

Magrí levantou o rosto e deu de cara com Crânio, o garoto com a expressão que tinha visto um demônio. Ela se aproximou mais dele com uma leve sensação de alívio por não estar mais sozinha.

- Crânio! Onde a gente está? Cadê os outros? Como saímos daqui?!

Ele ofegava e a menina percebeu que ele estava com um horrível corte na testa.

- Não dá para conversar agora - ele tomou a mão esquerda da garota puxando-a apressado – Temos que sair antes que ele nos ache!

-Ele quem?!

O rapazinho não respondeu. Os dois correram sem olhar para trás. Perceberam que estavam sendo seguidos quando ouviram passos de alguém que mancava no encalço deles, soltando pragas.

- Seu patife miserável! Eu vou arrancar a sua cabeça fora!

Eles correram até chegarem a porta de saída que estava entreaberta com uma grossa camada de neve servindo como suporte para eu ela não trancar. Respiraram aliviados, mas por pouco tempo.

A cara terrível e assassina de Jack Torrance e seu maldito machado surgiu à frente deles, o corpo bloqueando a saída entre os dois amigos e a porta!

- Peguei você!

Ele avançou primeiro com o machado para cima de Crânio, que se jogou de lado. O assassino conseguiu se desviar do taco de Magrí, indo em direção ao garoto no chão com o machado levantado novamente.

Crânio rolou de lado de novo desesperado para ficar em pé e lutar. O erro de Jack Torrance, no entanto, foi ficar de costas para Magrí que sem nenhuma pena, desferiu um golpe violento na cabeça do agressor com o taco de baseball.

Jack Torrance caiu no chão e o machado foi sua mortalha.

A garota correu para junto do amigo estendo-lhe a mão. O menino sorriu fracamente.

- Obrigada, você salvou minha vida.

Ela o abraçou com a garganta querendo se fechar. Se tivesse demorado um segundo, Crânio estaria morto. O garoto a abraçou de volta como se quisesse confortá-la.

Eles se soltaram e deram as mãos de novo, correndo para a saída daquele lugar horrível. A neve que antes caia pesada, havia sumido por completo e o que antes era um amplo jardim, se transformou numa floresta negra com árvores altas.

Adentraram entre as folhagens, já que não havia outra alternativa. Cada pio de coruja que ecoava fazia os dois pararem apreensivos, apertando a mão um do outro para ter certeza de que ainda estavam juntos.  A caminha poderia ter sido apenas cinco minutos ou horas, não sabiam dizer. E a floresta parecia não ter fim.

Crânio parou bruscamente de andar e Magrí voltou-se para ele sussurrando:

- O que foi? Porque parou?

Ele correu os olhos pelas copas das árvores. Um vento suave balançava as folhas. E mais nada.

- Você não percebeu que as corujas pararam de piar? – sussurrou de volta.

Magrí repetiu o movimento do amigo e observou a floresta em silêncio. Era verdade, não havia mais os pios das corujas e tudo estava quieto de uma forma muito perturbadora.

- Está muito silencioso para uma floresta...

Mal Magrí tinha terminado de falar e um rugido de gelar a espinha ecoou entre as árvores na escuridão.

Uma coisa inominável e impossível de descrever se movia entre as árvores ao lado deles. A coisa produzia um som de morte eterna, terrível demais para qualquer ser humano entender e domar. Magrí e Crânio sentiram o coração parar e a alma querer sair do corpo em desespero, para longe daquela coisa. Os ossos de ambos congelaram como se estivessem mortos.

Brancos feito papel, quando recuperaram os sentidos, Magrí e Crânio dispararam a correr como balas floresta adentro, sem olhar para trás e sem saber para onde estavam indo. O que importava era se afastar ao máximo daquilo.

Os dois alcançaram uma pequena clareia. À frente deles, a floresta continuava no breu quase total. Tinham conseguido se livrar da coisa, pois ali as corujas piavam, porém era como se dissessem que os perigos não terminaram.

Era um aviso que estava correto.

Da floresta, por todos os lados saíram, arrastando os pés e encurralando o casal de amigos, os zumbis mais horrorosos e nojentos do que qualquer filme de Hollywood poderia conceber.

Não havia escapatória. Chegaram ao fim da linha.

De repente, Crânio agarrou os ombros de Magrí com determinação na voz:

- Eu distraio eles e você tente sair correndo daqui!

- O quê?! Não! Eles vão te matar!

- Magrí, não tem outro jeito...!

- Tem que haver! Eu não vou deixar você para morrer sozinho!

Havia lágrimas nos olhos da garota. Crânio engoliu em seco.

- Você não percebe? Sou eu quem eles querem, não você! Por favor, por favor, se salve.

- Mas, mas... – Magrí estava atordoada, quase zonza – Por quê, eu não entendo...

As mãos, que antes seguravam os ombros da garota, agora repousavam com delicadeza no rosto aflito de Magrí. Uma lágrima escorreu pela bochecha dela.

- Os piores pesadelos, nossos piores medos estão muito mais na nossa mente – disse o rapa com a voz embargada.

E o garoto a beijou nos lábios.

Naqueles breves segundos que estavam colados, Magrí queria prendê-lo para nunca mais soltar.

- Eu te amo, minha querida.

Então, ele caminhou para a morte, ao som dos soluços e do grito de Magrí.

- NÃO!

- Magrí? Magrí, acorda!

A garota estava sentada no sofá e acordou no susto.

Ela olhou em volta confusa. Sem floresta, sem zumbis e monstros assassinos. Ainda estava na casa de Crânio, e o garoto a olhava aflito.

- Caramba, Magrí. Você está bem?

Ela piscou ainda um pouco atordoada.

- Acho que sim. Não sei.

- Você estava me chamando, pensei que tinha caído ou algo sim...

- Filho? – a mãe de Crânio chamou pelas escadas – Está tudo bem aí?

O garoto se levantou rapidamente para atender a mãe e explicar que não foi nada, que só foi um susto que a Magrí tomou. Nesses breves minutos, a garota tentou colocar os pensamentos em ordem. Foi tudo um sonho, ou melhor, pesadelo. Ela e Crânio estavam salvos.

Ele voltou com um copo d’água para amiga que aceitou de bom grado.

- Sua mãe já chegou, ela está fora te esperando – disse ele franzido a testa ao olhar para a menina – Tem certeza que está bem?

- Estou sim, Crânio. Sério, não foi nada. Acho que tive um sonho estranho com você...

Ela não pensou exatamente nas implicações dessas palavras. Quando notou o que disse, queria se bater por ter falado aquilo. O garoto estava sem expressão.

- Então você teve um pesadelo comigo?

Magrí abriu e fechou a boca como um peixe. Ele estava interpretando a afirmação dela de forma equivocada e ela não sabia como desfazer a besteira que disse! Às vezes ela se surpreendia com a própria capacidade de passar vergonha.

- Não, quero dizer sim, mas... não.

Ela não teve tempo de se explicar, pois a buzina do carro de sua mãe soou, sinal de que a senhora estava impaciente.

- Acho melhor você ir, antes que sua mãe brigue com você.

Com um suspiro frustrado, o rosto queimando em brasa pela gafe, Magrí se levantou do sofá – ainda não sabia como foi parar lá, já que se lembrava de estar sentada no tapete – e se dirigiu à porta com Crânio seguindo-a logo atrás.

Quando chegaram no portão do jardim, Magrí ouviu um riso contido vindo do garoto. Virou-se para ele sem entender. Crânio estava se segurando para não rir para valer.

- O que foi?

- Nada não, deixa para lá...

Ele parou e abriu o sorriso mais traquina que só ele conseguia expressar, o que fez o coraçãozinho da menina bater um pouco mais rápido, desferindo:

– No entanto, você se assustou sozinha, então acho que você vai ter que pagar o almoço de todo mundo na segunda-feira. 


Notas Finais


*Presto é o personagem nerd atrapalhado de Caverna do Dragão.

Devo dizer que a Magrí sou eu assistindo filme de terror :P e recomendo "O Iluminado" tanto o filme quanto o livro - e discordo em partes com Calú lol!

Lembrando que a série se passa na metade dos anos 80, então não faria sentido nenhum Netflix e DVDs rs.

No próximo conto: Após os eventos de A Droga da Obediência, Magrí e Crânio têm uma partida inusitada de xadrez com direito a segredinhos revelados, ciúmes e confusão de sentimentos :)


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