História Caramel Macchiato - Foi Como Um Café Americano Amargo

Jungkook havia acordado cedo, mais disposto. Depois de algumas semanas, finalmente a dor em seus membros haviam passado e o pior ferimento estava visualmente melhor.

Resolveu esticar as pernas e, acima de tudo, explorar a casa alheia. 

Se espreguiçou, olhou com os olhos cerrados em direção a janela e notou as gotas de chuva batendo contra ela. Levantou sonolento, calçando suas meias dobradas até o tornozelo por serem um pouco grandes por conta da sua roupa social. Alguns botões de sua camisa foram fechados, mas tirando essas coisas, estava do mesmo jeito que Jimin o deixara ao tratar seus ferimentos. 

Por causa do pouco frio que se instalava ali, cobriu-se com o cobertor, andando lentamente para fora do quarto. Olhou em volta, tudo estranhamente quieto além do barulho da respiração do ruivo, este que se encontrava deitado no sofá da sala. Cautelosamente chegou perto, observando-o, parecendo inofensivo. 

Rodeou o móvel, analisando as coisas que tinha ali no cômodo. Um porta cd’s, aparelho de vídeo-game — este que ele pegou por entre as mãos, analisou, chacoalhou e se perguntou para que diabos servia aqui, até mesmo puxou junto com o fio — alguns objetos de decoração e um aparelho de som. Por fim, achou o controle remoto, clicando em um botão aleatório que tinha no meio de tantos. 

Nada aconteceu.

Continuou a apertar todos, esperando que algo de interessante acontecesse, achando que as coisas do humanos eram tão chatas e desinteressantes. Até que um brilho forte o obrigou a fechar os olhos. Assim que se acostou com o clarão repentino —  e as suas orelhas abaixadas por conta do som — finalmente ficou surpreso com algo.

Seus olhos se arregalaram antes de correr para de trás do sofá, totalmente acuado. Claro que nesse momento Jimin já tinha despertado com o barulho, esfregando os olhos embaçados antes de tentar entender o que estava acontecendo. Franziu o cenho, olhando para os lados, até encontrar duas orelhas pontudas por detrás do sofá. 

— Jungkook? —  Chamou, agora vendo dois olhinhos aparecerem também. —  O que está fazendo? 

— Tem pessoas aqui! —  Sussurrou, voltando a se esconder. O ruivo, que nada entendia, voltou a olhar o local, não encontrando absolutamente nada além dos dois. 

— Onde? 

—  Ali, ali! —  Um mão apareceu, apontando afoitamente em direção a TV. Demorou alguns minutos até que o Park  raciocinar e então sorrir com a conclusão — Como que eles entraram ali?! — Indagou, confuso — Apareceram do nada!... OH! —  soltou, parecendo concluir algo. As duas orelhas levantaram junto com o som, ficando eretas — São bruxos! 

— E bruxos existem? — Indagou risonho, apoiando o braços no topo do encosto do sofá, olhando melhor o elfo encolhido ali, este que olhou para cima, com uma expressão de quem estava ofendido.

— É claro que existem! — Um bico se formou em seus lábios, parecendo lembrar de algo — São traiçoeiros. — Murmurou, parecendo lembrar das brincadeiras maldosas que provavelmente foram feitas contra si. — Inimigos! — O sorriso do ruivo aumentou, achando aquilo muito fofo, porém preocupado com o tipo de travessuras poderiam ter feito. Além de que, pelo que parecia, pelo menos mais uma raça estava protegida até o momento e agora descobrira sua existência. Qual mais seres poderiam ter por aí? 

— Aquilo é só uma filmagem, não é de agora — explicou, vendo os olhinhos brilhantes em direção a si, atento às palavras — Eles não estão aqui de verdade — Jungkook parecia um pouco confuso ainda, mas acenou de forma positiva com a cabeça, mostrando que entendeu.

— Só um vídeo. 

— E como está seu curativo? — Indagou, se permitindo acariciar de leve aqueles fios macios e sedosos. Ah, estava querendo fazer aquilo a tanto tempo, que nem ao menos se segurou. A cabeça alheia retesou com o toque, pensando em fugir, porém mudou de ideia ao ceder um pouco aquele carinho. Tentava ao máximo ter o mínimo de contato possível com estranhos, porém aquele leve toque foi estranhamente bom para recusar. 

Será que estava fazendo a escolha certa? se perguntava, encarando o rosto sorridente do cara que o salvou mesmo com uma faca no pescoço a horas atrás. O que ele queria, afinal? 

— Ainda dói — Murmurou manhoso, saindo dos seus devaneios, como quem não gostava nada disso, suspirando com um bico. — Mas acho que logo estarei melhor — Alisou o curativo, irritado com a dorzinha chata que se instalava por seu corpo. — E logo poderei ir embora. 

Jimin gelou. Sentiu como se todo o ar dos seus pulmões saíssem de uma vez só, tirando sua vida lentamente. Como um soco no estômago, aquela facada doeria menos que essas palavras. A mão afastou lentamente do cabelo, a cabeça abaixou, mas tentou manter a postura. 

—  Acho… Acho que… — Sua garganta travou, seca, enquanto seu rosto se contraiu aos poucos devido a futuras lágrimas que viriam —  Acho que logo. — Murmurou, tocando na própria bochecha ao sentir algo molhado. Estava chorando? Por quê? Não tinha nem se passado um mês direito ou algo assim para que sentisse tanto a falta dele mesmo não estando longe ainda. —  Eh… — Soltou, enxugando rapidamente, tentando manter o sorriso — O que quer de café da manhã?

— Caramel Macchiato. 

O ruivo concordou, levantando-se lentamente e seguindo para a cozinha às pressas. Precisava manter a cabeça distante por um tempo. E claro que o elfo percebeu. Ele não era sensível apenas a cheiros, mas a sentimentos também. Era fácil rastrear o predominante no momento e tudo o que ele sentia era tristeza. Ficou confuso, sentando-se lentamente no sofá, pensativo. Será que, mesmo nesse curto tempo, Jimin já estava achando incômodo demais? 

— Está chorando? — A voz surgiu de trás do Park, pegando-o de surpresa. 

— Não, por quê? — Não ousou virar, sentia que iria desabar. Apenas focava-se no que estava fazendo sobre a bancada da cozinha, pegando os ingredientes. 

— Não subestime minhas orelhas, isso é rude — Ouviu a resposta rápida, finalmente virando e dando de cara com aquele rostinho tão perto de si. Os olhos cerrados, concentrados e nervosos. 

— Desculpe — sorriu, tentando descontrair. 

— Não sorria, não está feliz. 

— O que? — Arregalou os olhos, surpreso do outro adivinhar tanto sobre si. — Como…?... Com licença. — E assim saiu, deixando Jungkook para trás, encarando a bebida quentinha preparada para si. 

Tinha feito algo errado? Realmente não entendia. Será que emoções humanas eram diferentes? A cabeça do moreno começou a borbulhar de pensamentos.

[...]

— Eu não sei o que fazer, Hobi — Esfregou a mão sobre o rosto, cansado. 

Não entendia. Era óbvio que o elfo não ficaria aqui, consigo, então não conseguia entender o porquê daquela dor. Não queria deixá-lo ir.

Era isso. Mas por quê?

— Se declarar para ele? — aconselhou como se fosse óbvio, afinal o Jung queria que isso acontecesse há tempos.

— Tá maluco?! — Indagou alto, corando só de pensar na ideia — Eu não posso fazer algo assim, não agora. 

— Então apenas diz o que pensa. Diz que não quer que vá.

— Não vou obrigá-lo

— Não obrigar, é da escolha para ele decidir o que quer, sabendo de todas as possibilidades. — Ok, tinha que admitir, às vezes o amigo era bem sábio ou coisa do tipo. — Até esse momento ele pensa que não tem onde ficar, que o seu lar é temporário. — Jimin pensou um pouco, chegando a conclusão de que não custava nada tentar do que não agir e o perder para sempre para sabe-se lá quem ou o quê. 

— Eu estou atrapalhando? — A voz repentina novamente o assustou, quase derrubando o celular — Perdão, não queria espiar. 

— Não, não mesmo — O ruivo tentava se recompor, desligando mais uma vez na cara do amigo, mas não era por mal. Na verdade, tinha vergonha de que ouvisse as conversas, mesmo que não fosse nada demais — Não está atrapalhando em nada.

— Então… — deu alguns passos a frente, aflito — Então por que está triste? — O park abaixou a cabeça, envergonhado. Não tinha tomado coragem ainda para dizer ao elfo.

— É… É que… — Gaguejou, passando nervosamente a mão pela nuca. Frisou os lábios, suspirando — Eu… não quero que…

— Que eu fique aqui?

— Não! 

— Que gaste seu tempo em mim?

— Isso também não.

— Que eu não pague o que te devo?

— Não, Jungkook! — Gritou, apertando com força o lençol da cama, assustando-o um pouco, afinal nunca o tinha visto dessa forma. O novo amigo sempre foi calmo, paciente e tímido — Eu não quero que vá! 

No primeiro momento, o elfo ficou sem expressão, neutro como se não tivessem dito nada. Segundos depois, seus Olhos se arregalaram um pouco, surpreso pelas palavras do outro. Não estava esperando Aquilo, que pedisse para ficar, sem ao menos saber se ganharia uma recompensa pela ajuda que tinha recebido. Mal sabia que só a sua companhia já era o bastante, valia mais que milhões de dólares.

— Por quê? — Murmurou, olhando para os lados, juntando as mãos em seu peito — Eu não entendo. 

— Não precisa entender — Jimin sorriu, suspirando. Já tinha entendido que, provavelmente, o moreno ainda não nutria o mesmo sentimento por si — Só quero que saiba… — Levantou-se lentamente, seguindo em direção ao outro, tomando toda a coragem que possuía dentro do seu ser — Que você tem um lar aqui — Concluiu, parando rente ao corpo um pouco maior que si. Os olhos se encontram momentaneamente ao mesmo tempo em que tocou em seu pingente pendurado — que tem alguém aqui. — Sussurrou, cerrando os olhos ao pensar no que aquilo significava para quem os tinha — E que tem a liberdade para escolher, independente do que eu queira. — sorriu uma última vez. 

E assim saiu, escondendo o rosto o entre as mãos, quente de vergonha. O que tinha falado? Sentia-se um bobo apaixonado dizendo bobagens. Não iria encará-lo novamente. Contudo, apenas não sabia que deixara Jungkook da mesma forma que si.

O moreno nunca tinha ficado dessa forma. Vermelho até as pontas das orelhas, estas que balançavam afoitamente, enquanto seu coração batia de forma desenfreada. 

— ChimChim. — Sussurrou, mesmo que ele não pudesse ouvir. 

[...]

O clima pelo resto do dia foi de constrangimento. Nenhum ousou se encarar ou chegava perto, não sabendo como dar os próximos passos. O elfo tentava se adaptar ao vídeo-game sem querer quebrá-lo, de vez ou outra corando nas pontinhas das orelhas quando o ruivo chegava para ensinar algum comando, este que ele atendia prontamente apenas com acenos afoitos. 

Ele já tinha uma resposta, por mais que o Park não tenha feito nenhuma pergunta formal. Desde que começara a ser cuidado pelo outro, sentia hesitação em sair desse conforto. Passou tantos dias lutando e desconfiando, que foi difícil não se derreter a todo aquele carinho em excesso. 

Aquele foi seu único abrigo. Único que Sentia-se bem depois de tanto tempo, tão bem que aquela coragem que alimentava seu coração e impulsionava suas pernas fora substituído pelo receio de nunca mais encontrar um lugar para chamar de casa ou alguém que entendesse seus medos. 

Mas tinha medo. Medo de todo ser uma ilusão, medo de ser traído, de ser levado, de nada ser o que pensa.  Estava em um conflito, em um impasse. E tinha receio de tomar a decisão errada. Se fosse embora, perderia Jimin para sempre.

Se ficasse, poderia correr riscos… Olhou para o ruivo, deixando sua vergonha lado pelo menos naquele momento, roendo nervosamente o cookie que estava em suas mãos.  Se tudo for uma mentira, pode fugir novamente, não é? Mas e se já estiverem preparados para isso e não tiver chances?

Suspirou, desviando o olhar para o chão. Suas orelhas balançaram, dando para sentir o peso do pingente… Jimin o tiraria de si? Tomaria a sua posse? Seria de outro então. Era essa a liberdade que dele estava dando? De escolher. 

Sentia que sua cabeça iria explodir. 

— ChimChim — Chamou repentinamente, tendo os olhos do outro em direção a si no mesmo minuto, tensos e medrosos. Até aquele momento estava concentrado em preparar algo mais nutritivo do que macarrão instantâneo, com a ajuda de receitas, pois não era lá muito bom nisso. Tinha medo que a resposta já fosse agora, decidindo partir. — Você deseja ser meu mestre? — O park arfou, os olhos arregalaram e a faca desceu contando algo além da verdura. 

Invés de uma resposta clara, Jungkook ganhou um gemido agudo de dor. A faca caiu no chão, Jimin segurou o local enquanto tentava limpar com água corrente. O elfo, de olhos arregalados, correu para socorrer.

— Perdão! — Disse exaltado, pegando as mãos de Jimin por entre as suas próprias, enquanto caçava com o olhar algum paninho. — Foi minha culpa! 

— Não — Soltava gemidos de dor, remexendo-se por causa da sensação ruim — Eu que sou… ah… um grande estabanado — Sorriu, demonstrando que estava tudo bem. — Por isso sempre… ah… deixo… uhg… Band-Aids na gaveta — o moreno rapidamente caçou, puxando trêmulo de dentro da pequena caixinha e por fim colocando no machucado. — Pronto. 

— Me desculpa mesmo — Murmurou sôfrego, com aqueles olhos tristes e expressivos, abaixando as orelhas — Não achei que fosse resultar nisso. 

— Tudo bem, sério! 

Jungkook encarou-o por alguns segundos, depois desviou para o recém machucado. Então, sem dizer nada, simplesmente selou o local com um beijinho discreto. Jimin, como sempre, corou com o gesto, entrando em seu pane mental novamente.

— Para sarar. — Milagrosamente tinha parado de doer mesmo ou era só a mente do ruivo caindo nos encantos daquele elfo. 

Definitivamente não queria perder aquilo pelos resto da sua vida. 

— Não quero ser seu mestre — O Park soltou do nada e dessa vez a facada foi no peito do moreno. Parece que uma parede caiu dentro de si, aos poucos, até que não sobrasse nada.

— Você não me quer? — Indagou falho, como se tivesse sido amassado e jogado no lixo como um papelzinho de bala. — Não quer que eu seja seu? — Isso era uma sentença de quase morte. Ninguém ligava para um elfo que ninguém quer, não naquela sociedade. 

— Eu quero que seja livre… — Hesitou um pouco, frisando os lábios — Livre para me amar ou não. — um tom vermelho começou a aparecer nas pontinhas da orelha compridas, reagindo a aquela declaração — Se quiser compartilhar essa liberdade comigo, me faria um cara feliz. — Um silêncio, nada pesado ou ruim, se instalou no local. Afinal, o garoto tinha que processar todas aquelas palavras, entender peso delas e principalmente o significado. 

E enfim chorou. Lágrimas brotaram dos olhinhos brilhantes, descendo vagarosamente pelas bochechas e escorrendo o nariz vermelhinho na ponta. 

— O que aconteceu?! — Jimin indagou preocupado, segurando rapidamente o rosto macio. — Disse algo errado?!

— Mestre bobinho — Jungkook sussurrou, esfregando o nariz no pano da camisa puxada pelos dedos da mãos, secando delicadamente as bochechas. 

— Você me ouviu? — repreendeu — Eu não quero que… — encerrou a própria fala, encarando o sorrisinho que apareceu nos lábios fino. Demorou um tempo, demorou mesmo, mas o ruivo no final entendeu o que o outro queria dizer com aquilo — Espera… — arregalou os olhos, mal conseguindo segurar a risada.

— Entendeu? — acenou várias vezes com a cabeça, em concordância.

Jungkook havia o escolhido.