Ele bateu três vezes na minha janela e eu fui atendido. Eu tinha por volta dos sete anos e a inocência ainda corria pelas minhas veias. Vitor fez um sinal com a mão, pedindo silêncio, e eu atendi prontamente. Ele estava na frente, me guiando na escuridão daquela cidade do interior paulista. Dois dias antes, ele me falou do seu novo esconderijo secreto: um carro velho abandonado na antiga serraria da cidade. Ele caminhava na frente, sem medo e confiante, e, avançava, um pouco mais calado do que o normal.
Cruzamos aquela cerca enferrujada e seguimos pelo terreno adquirido pelo mato. A luz da lua reluzia no teto do carro velho. Ele apontou com o dedo, como se quisesse que eu investigasse seu interior. Olhei dentro do Simca verde e não vi nada, apenas ouvi uns grunhidos, como de ratos grandes. Olhei com mais atenção, investigando com mais cuidado, até que percebi um pouco de sangue perto do piso. Abaixei e pude ver o corpo do meu amigo Vitor preso entre o chassi e o chão. Seu rosto estava com os ossos à mostra e seus olhos desaparecidos.
Corri desesperada para minha casa. Contei aos meus pais o que tinha visto e eles logo chamaram a polícia. Bem depois, quando me tornei um jovem, foi que tive conhecimento de todos os fatos: Vitor havia desaparecido no dia anterior àquele em que o encontrei naquele estado mórbido. Disseram que ele tentou pegar umas bolinhas de gude que caíram do bolso e acabaram ficando presas embaixo do carro. Seu rosto havia sido devorado por gambás... Mesmo agora que sou adulto, tenho medo daqueles animais, que parecem sorrir quando olham nos meus olhos...
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