Lembro-me de tudo, como se tivesse acontecido ontem... A sensação era de como se fossemos crianças novamente, observando o céu numa noite estrelada; deitados lado a lado nas areias frias de Busan. Faltava pouco para amanhecer, e o sol já dava seus primeiros sinais de vida. Estávamos sorrindo, eu para você, e você para mim. Éramos apenas nós dois. Eu e você. O sorriso mais lindo do mundo. O par de olhos mais brilhante de todos.
Jamais esquecerei esse dia, o dia em que você me disse as palavras mais importantes de minha vida: Eu nunca vou te deixar.
Engraçado como eu sorrio bobamente toda vez que lembro de sua voz relaxada e extremamente doce repetindo essa frase, várias e várias vezes em minha cabeça.
Nossos dedos se entrelaçavam fortemente, sentia que absolutamente nada podia nos separar naquele momento. A brisa fria da madrugada batia em nossos rostos, me causando leves calafrios. Você estava tão lindo naquela noite, hyung.
Havia me ligado tarde da noite. Acordei assustado pensando que algo tinha acontecido e a primeira coisa que fiz foi pegar o celular que tocava desesperadamente. Podia sentir seu sorriso do outro lado da linha quando atendi a chamada, podia perceber o quanto estava hesitante ao me pedir algo pra lá de estranho. Estava com medo de eu recusar, certo?
— Desculpe ter te acordado a essa hora da madrugada...
— Não se preocupe com isso, hyung. Aconteceu alguma coisa?
— Sim.
— Algo grave?
— Gravíssimo..
— Pode me contar?
— Devo.
A ligação ficou muda por vários minutos, podia "vê-lo" tentar algumas palavras, mas desistindo na hora em que ia ditá-las. Não entendia o motivo da ligação, mas sentia uma dor em meu peito ao pensar que algo grave podia ter lhe acontecido. Por que tinha que ser tão complicado lidar contigo?
Por um instante, pensei que iria desligar; que iria recuar e desistir, como sempre fez. Não seria a primeira vez que você me chama atenção, aparentemente sem motivo, e desiste antes de me explicar o que está acontecendo. Ah, droga. Por que faz isso comigo?
— Eu...
— Você...?
— Eu sinto sua falta.
E novamente, a ligação ficou muda. Por um momento, achei estar sonhando. Sentia borboletas em meu estômago, e meu peito estava quente. Meu coração estava acelerado, podia senti-lo bater fortemente. Você ficou em silêncio, eu fiquei sem palavras.
— Preciso te ver. Agora.
— Agora?
— Sim.
— Mas são quase cinco horas da manhã..
— Eu sei.
Você respondia rápido as minhas perguntas, como se estivesse ansioso para algo. Era direto.
— Onde?
— Virá mesmo?
— Sim. Só me diga onde.
— O lugar de sempre.. Estou esperando por você.
Hyung.. Você estava sorrindo? Sempre me perguntei isso. Apesar de sua voz quase semore grossa e séria, sentia em meu coração que você estava feliz. Estava feliz por eu ter aceitado o seu convite? Sei que muitas vezes você diz que devo parar de fazer perguntas, mas eu não posso evitar. Você me fascina, me encanta, me desperta curiosidade. Não posso mesmo evitar de querer te conhecer e te entender melhor.
Meu coração parecia que iria sair pela boca a qualquer momento enquanto pedalava, às cinco horas da manhã, em uma estrada qualquer, indo em direção a algo que poderia mudar completamente minha vida. Apenas o pensamento de que eu iria encontra-lo já era o suficiente para me fazer pedalar mais e mais rápido.
Adorávamos aquela praia, não é, hyung? Porém, era a primeira vez que visitávamos ela durante a madrugada, juntos. Juntos... Essa palavra me deixa tão feliz. Me faz sorrir feito bobo ao pensar em nós dois juntos; apenas eu e você.
Senti a emoção tomar conta de meu corpo ao ver que as areias frias e quase brancas da praia de Busan tomarem cada vez mais conta da paisagem. Os meus batimentos cardíacos ficavam cada vez mais fortes e rápidos, não apenas pelo esforço físico que fiz ao pedalar até as areias finas e o mar quase sempre congelante ou correr em sua direção como se não nos víssemos há séculos. Eu me sentia daquela forma graças à apenas três simples palavras suas...
"Sinto sua falta."
Sabe o quanto eu fiquei feliz ao ouvir aquilo, hyung? Sabe o quanto eu me senti importante? Consegue imaginar o quanto meu coração estava acelerado e as borboletas em meu estômago pareciam querer sair a todo momento? Ah. Eu nunca tinha sentido aquilo antes. Nunca me senti como eu me sinto ao seu lado.
Seus fios descoloridos ao vento, sua pele pálida observando o mar, suas mãos geladas em seus bolsos e seu pensamento distante. Eu congelei quando te vi. Não sei o motivo, mas eu não conseguia me mover. Meu coração voltava a martelar incansavelmente em meu peito, podia sentir uma vontade imensa de gritar, de chorar, de tudo... Apenas pelo simples fato de você estavar lá, parado, me esperando enquanto olhava para algo que parecia inalcansável.
Até que você virou, me pegando de suspresa. Podia sentir naquele momento o meu desespero, o meu coração dizendo para correr, minha mente em branco, e eu... Completamente paralisado. O silêncio se fez. Ficamos apenas trocando olhares. Eu olhava em seus olhos negros e profundos. E no fundo deles, enxergava uma personalidade difícil e praticamente incompreensível, mas adorável. Podia jurar ver sua alma, sentir o que sentia, porém, sua mente continuava sendo um mistério para mim... Até que você sorriu.
Oh, aquele sorriso me fez desmontar, cair; derreter. Você parecia feliz, e eu estava feliz em te ver. Te ter ali, apenas para eu olhar, admirar cada parte de ti. Hyung, como pode ser tão encantador? Me sinto tão hipnotizado toda vez que te vejo.. É uma sensação tão boa.
Você resolveu se mover, então. Meu corpo todo dizia para correr ao seu encontro, para simplesmente abandonar todas as preocupações, o mundo ao meu redor; e correr para os seus braços. Proteger-me em seu abraço e esquecer todos os problemas, apenas aquecendo-me com o seu calor. Sentindo sua respiração enquanto ouvia seus batimentos.
Você estava perto, muito perto.
Hyung, você se lembra disso? Se lembra de como eu sorri bobamente quando você se aproximou e ficou sem fala? Lembra-se do modo que eu ri quando tentou se explicar e falhou? Ah! Tão fofo!
— Eu.. Bem.. Eu te chamei aqui porque...
Você começou. Uma de suas mãos foi até sua nuca; seu olhar desviou-se para o chão, enquanto suas bochechas pálidas tingiam-se de vermelho-rosado.
— Porque sentia minha falta.
Completei, fazendo-o me fitar intesamente.
— ... Não é? Bem, foi isso que você disse no tele-
Não tive tempo de completar. Logo meus lábios já estavam grudados nos seus, suas mãos em minha cintura, aproximando nossos corpos; meu rosto corado, minha expressão de surpresa, e ao mesmo tempo, satisfação. Eu certamente não estava esperando por aquilo. Você, que sempre pareceu tão inalcançável... Estava acessível. Estava ali, só para mim. Me surpreendeu tanto naquela madrugada. Foi a noite mais inesquecível e incrível de toda minha vida.
O beijo logo se acabou pela falta de ar de ambos os lados. Eu, já ofegante pelo exercício extra que fiz chegando até ali, estava nas nuvens naquele momento. Completamente entregue aos seus toques, seus olhares, sua boca. Aquilo foi maravilhoso. Não sabia como agir. Meus olhos se encontravam com os seus; os meus, totalmente surpresos; os seus, satisfeitos. Após esse tempo em transe total, pisquei algumas vezes e voltei a realidade, me assustando com tamanha proximidade. Você nunca deixou que eu sequer encostasse em qualquer parte do seu corpo, e agora parecíamos um casal! Sim, um casal. Eu e Min Yoongi, um casal. Isso só acontecia em meus sonhos, e ainda sim você nunca me tocava. Nunca se aproximava tanto.. Jamais estaríamos com os quadris colados. Nem em sonhos nossos lábios se juntavam e se separavam tantas vezes assim. Ofegantes, mãos bobas passeando um pelo corpo do outro, por debaixo das roupas.. Hyung, como fomos chegar nisso?
— Jimin..
Me chamava sua voz falha, ofegante e necessitada.
— Uh?
— Eu preciso ir.
Meu coração parou.
— Ir...?
— Sim. Há uma coisa que tenho que te contar.
— Você aprontou de novo? Yoongi, sabe que não po-
Você sorriu, então me olhou fixamente. Sua mão esquerda foi levada à meu rosto, e seu polegar foi até meus lábios, os calando imediatamente.
— Não é isso.
— Então o que é?
Você hesitou, e se afastou. Odiava toda vez que se afastava dessa forma, mesmo que nunca tenha se aproximado realmente; o frio que sentia com você longe era quase hipotérmico.
— Eu preciso ir para Seul.
— Por que? O que vai fazer lá?
Sabia que estava sendo um pouco chato e insistente, mas você não me dizia nada!
— Um tratamento.
— Tratamento?
— Sim. Contra o câncer.
Eu não sabia como reagir, sentia toda uma sensação ruim percorrer meu corpo. Minhas pernas ficaram fracas, e por alguma força interna, eu ainda permaneci de pé. Estava mudo, com uma expressão assustada. Você não me olhava, apenas fitava o chão.
— Jimin.
Me chamou atenção.
— Eu vou daqui algumas horas. Preciso te dizer tanta coisa, e só temos trinta minutos.
Respirei fundo, e se fosse nossos últimos minutos juntos por um tempo, eu iria aproveitar cada segundo.
— Se só temos trinta minutos, então é melhor começarmos logo.
Você sorriu e me olhou novamente.
— Jimin. Eu... Eu nunca gostei de alguém como gosto de você.
— O que quer dizer com isso?
— Quero dizer que estou apaixonado por você.
Senti o calor subir em meu rosto, minhas bochechas estavam super coradas. Estava sem fala novamente, com uma alegria enorme no peito. Você riu.
— Está parecendo um pimentão, Park Jimin!
Comentou, me fazendo corar ainda mais. Hyung, eu queria apenas te dar um tapa naquela hora! Mas era impossível. Seu sorriso me derretia por dentro. Seu sincero sorriso derreteria qualquer um, como pode jogar tão sujo?
Você se aproximou novamente, olhando em meus olhos enquanto suas mãos procuravam as minhas. Queria tanto saber o que se passava em sua mente durante aquele silêncio prazeroso que tivemos.
— Não vai me dizer nada?
Sussurrou, fazendo um bico extremamente fofo.
— Vou! Quer dizer... Eu... Que droga, Yoongi!
— Vamos lá, Jiminnie. Não é tão difícil assim.
— É que ninguém nunca me disse isso antes.
Seu sorriso se desfez quando percebeu minha expressão chorosa. Sentia minhas lágrimas se formando e caindo lentamente, era tão bobo. Não queria me acabar em lágrimas à sua frente, mas não conseguia parar. Eram lágrimas de alegria.
— Não chore...
Você estava quase implorando.
— Eu te amo, Min Yoongi! Mesmo você sendo a pessoa mais complicada que eu conheço.
Eu chorava, e você estava paralisado. Foi a primeira vez que te peguei de surpresa, não foi? Eu tenho certeza que sim!
— Jiminnie...
Antes que você pudesse pronunciar mais alguma palavra, eu simplesmente o abracei. Bem forte, como nunca havia feito antes. Você, depois de um tempo, me abraçou também. Meu coração acelerou, nunca me senti tão protegido. Estava tão feliz, e eu só queria chorar cada vez mais, mas não iria desperdiçar nosso tempo assim. Me afastei um pouco, o suficiente para te olhar. Respirei fundo, e sorri.
— Eu nunca vou te deixar.
Você disse, fazendo meu coração disparar novamente. Nunca tinha me sentido tão bem antes, e essa sensação boa vinha de suas palavras.
— Você promete?
— Prometo.
E nos deitamos nas areias finas da praia, com nossos dedos entrelaçados observando o amanhecer lento de uma manhã gelada. O sol parecia querer brilhar mais naquele dia. Aquele momento foi inesquecível, todos os minutos que passamos juntos foram inesquecíveis.
Espero que não se incomode com minhas cartas, talvez esta seja a milésima que mando desde que você foi para Seul. E já é a décima sexta que não responde. Espero que não se incomode também com as lágrimas que caem toda vez eu as escrevo. Mas a verdade é que eu sinto muito, muito mesmo a sua falta. Sem você, Busan é tão fria e vazia. Torço sempre por sua melhora, você é tão forte pra tudo; seja forte pra isso também. Ainda espero um dia te abraçar da mesma forma que fiz aquela noite, e quem sabe contar todas as nossas aventuras para nossos futuros filhos. Acho que eu sonho alto demais, não é? Não faça piadas com minha altura, lembre que temos apenas um centímetro de diferença.
Eu te amo. Volte logo.
- Park Jimin.
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