História Cartas avulsas- Pedresa - Correspondência

Minha amada esposa,

É com imensa alegria e com os olhos ainda molhados que te escrevo esta carta. 

Gastão chegou ontem, pela manhã, e contou-nos a novidade, que tu já sabes... Serei avô! Serei avô! Não podes imaginar o meu contentamento! A minha felicidade! Como se acabasse de receber eu mesmo a notícia que iria ser pai! A mesma felicidade de quando descobrimos que esperavas nosso Afonso! Que saudades dos tempos idos...

Nossa pequena, que ainda ontem era uma menininha, e sempre é nas minhas lembranças, tornou-se mãe e nos fez avós. 

Augusto está exultante. É certamente o mais feliz dos homens deste acampamento. Ficou em lágrimas com a carta de nossa filha e, assim que soube, quis partir para junto dela. 

Tive o ímpeto de mandá-lo de volta ao Rio de Janeiro, que fosse tratar de ser pai como queria. Mas tão logo a consciência trouxe-me de volta aos fatos. Precisamos dele aqui. 

Confesso que passei a noite em claro. Ora revendo nosso plano de avanço das tropas, ora me pegando sorrindo lembrando que sou avô, ora pensando se deveria despachar Augusto de volta. 

A alegria dele, as inseguranças, as incertezas, em tudo me lembra a mim mesmo, quando me fiz pai. 

Isso tem me dilacerado o peito. Por ter de afastá-lo de Leopoldina e da pequena família que acaba de construir. Faz-me pensar também nas tantas outras famílias que estamos afastando... Ainda assim, espero voltarmos todos logo... 

Não só Augusto é desejoso de reencontrar sua família, eu também o sou. Rever minhas filhas queridas, conhecer meu precioso neto ou neta e reencontrar a ti, minha Teresa. 

Peço que cuides da nossa pequena, pois sabes bem como eu, como é levada. Diga-lhe que mandei os mais sinceros parabéns e votos de que cuide de nosso pequeno herdeiro.

Mande um afetuoso abraço a  Isabel, faz-me falta nossas conversas no gabinete ou após o jantar. 

E a ti, minha esposa, um grande beijo. Saibas que estás sempre comigo, nas minhas lembranças. 

Com imenso carinho,

Teu 

Pedro.