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História Cartas nas Sombras - Fuja!


Escrita por: FresadelaLuna

Capítulo 18 - Fuja!


Fanfic / Fanfiction Cartas nas Sombras - Fuja!

“Mamãe me implorou

Sim, ela até ajoelhou

Disse: você vai queimar naquele sol do Mississippi

Mas eu sou a única que está aqui

Então, mamãe, não tenha medo

Ou eu serei a última ou eu ganharei

Aqui vou eu!”

 

 

“Fuja!”, foi o que mamãe me disse, e eu obedeci.

Assim que ela caiu no chão e o pé-de-cabra começou a fazer o seu trabalho, eu abri a porta da caminhonete e corri. Corri o mais rápido que pude, sem saber em que direção tomar, eu não havia aprendido o caminho e nem sei se conseguiria. Tinha raiva das minhas pernas serem curtas ainda e das minhas mãos serem tão pequenas que não podiam agarrar nenhum objeto para me defender, além dessa varinha.

Eu não podia ir para a casa da Tia Hera, duvido muito que ela me aceitaria, não depois do caso que mamãe e ela tiveram. É incrível como consigo lembrar das coisas, desde que eu estava no ventre macio e quente da mamãe, das noites que a ouvia gemendo dentro do meu quarto, até agora, quando me pego lembrando da pele flácida que chacoalhava no rosto do papai quando ele fala.

Droga!

O que eu estava fazendo aqui? Nesse corpo? Nessa cabeça? Isso aqui, não parecia eu, não parecia nada que eu me lembrava. É como se a minha mente não funcionasse do modo habitual, como se tudo isso fosse apenas um poço de mentiras que consegui suportar até agora.

Papai gosta de brincadeiras, adora machucar quem brinca com ele, gosta de torturar e fazer com que tudo seja mais divertido para ele.

Mamãe gosta de se divertir, gosta de fazer com que tudo pareça mais alegre mesmo sendo um mar de merda, gosta de me fazer rir e principalmente, de comer tudo aquilo que eu quero porque com certeza ela é a parte criança que eu nunca fui.

Agora, sem fôlego, eu me desviava dos galhos baixos e batia meus pés em cascalhos, arranhava meus braços em arbustos e me desviava de poças de lama na mata.

Eu não podia continuar assim, eu tinha que fazer alguma coisa. Mami estava lá atrás, provavelmente morta, inconsciente, com um ferro enfiado no crânio, e eu corri, porque não sabia me defender.

Que filha ingrata eu sou?

Nosso apartamento ficava a poucos quilômetros daqui e eu nem sabia se conseguiria chegar no caminho certo para casa…

Ouvi os ganidos e risadinhas atrás de mim, o som das patas destroçando as folhas secas e eu parei, olhando para trás, vendo como Bud e Lou se aproximavam, tentando acompanhar meus passos.

Suspirando, passei as mãos pelos moicanos coloridos dos dois, agarrando suas coleiras nas partes sem espinhos metálicos e comecei a segui-los. Com certeza eles me levariam ao lugar certo, quase posso apostar nisso.

----------+----------

Subi as escadarias do apartamento sem me importar com quem me visse. Eu não queria mais me esconder. Eu não vou me esconder. Eu vou conseguir fazer com que papai pague e traga mamãe do jeito que ela foi construída geneticamente, porque é assim que vai ser.

Suspirando, empurrei a porta do apartamento com o ombro, vendo Bud e Lou se aninhando no sofá arranhado por suas unhas, então fechei-a atrás de mim, correndo para o quarto da mamãe. Havia, abaixo da cama, um kit de prontos socorros, onde ela guardava tudo o que não era exatamente para salvar vidas.

Puxei o kit para fora e busquei, entre as facas, agulhas e outros objetos de tortura, o frasco que a Tia Hera dera para mim e o encontrei, bem ao fundo, enrolado num pano de couro artificial pardo.

O minúsculo frasco parecia aquele pequeno objeto que a Alice encontra no País das Maravilhas escrito: Me Beba. E era exatamente essas palavras que eu ouvia quando olhava para o líquido verde fosco dentro dele.

"Uma gota no mês era necessário", foi o que Titia Hera disse a mamãe.

Então… O que o restante faria? 

Eu queria saber, logo, arranquei a rolha e o bebi todo, sentindo aquele gosto azedo e amargo, pensando em balas e guloseimas, com a intenção de fazer tudo parecer melhor.

Suspirei, jogando o frasco vazio no chão, me erguendo, olhando ao redor, vendo como tudo começava a turvar e se tornar um amuleto psicodélico de pura exaustão.

Meu corpo caiu sobre a cama, sentindo o colchão macio e quente abaixo de mim.

- Como no útero da mamãe… - sussurrei para mim mesma, me escolhendo, podendo sentir meus órgãos se mexendo dentro de mim.

Fechei os olhos com força, ouvindo as risadas de Bud e Lou ao fundo, como um coro de Deus.

----------+----------

Eu tremia e suava como se houvesse tendo uma convulsão, como se todo o meu corpo pedisse para ser expulso dessa alma maldita.

Assim que olhei para o outro lado do quarto, pela janela notei que já era noite e que mamãe não apareceu, que ela não iria aparecer, o que isso significava que eu teria que buscá-la... Mas como?

Sentando-me num impulso, passei as mãos pelo rosto, tentando tirar o máximo de suor que eu podia de mim.

Sai da cama, sentindo o chão mais longe e mais perto ao mesmo tempo.

Se eu não estivesse em casa, poderia jurar que alguém havia me drogado.

Meus cabelos desgrenhados pareciam maiores, mas eu não me importei, eu iria ao banheiro e vomitaria horrores até tudo ficar bem novamente.

Escorando-me na porta do quarto e na parede, arrastei-me por elas até chegar a entrada do banheiro, ouvindo Bud e Lou rosnando para mim como se eu fosse um estranho.

- Shhhh… - murmurei, pondo o indicador frente aos lábios trêmulos - Eu estou passando mal aqui, mais respeito!

Virando-me, fiquei diante da pia, olhando fixamente para o reflexo que me encarava de volta, assustado, espantado, como se estivesse vendo um fantasma. Apertei os dedos e unhas contra a porcelana da pia.

Sorri, rindo, esperando que tudo não passasse de uma ilusão.

Mas tudo era real.

Estava aqui.

Ali.

Bem a minha frente.

Senti os meus cabelos novamente, maiores, mais volumosos. As mãos do tamanho certo, as pernas mais largas e o rosto mudado.

Eu havia mudado.

Ri mais alto.

Apontando meus dois dedos para a frente, formando uma arma imaginária, apontando para o espelho a minha frente.

- Pushhh!!! - fingi atirar - Você está morto, papai!

 


Notas Finais


E CHEGAMOS AO FINAL DESSA FIC, PUDDINS! SIM, INESPERADO! SIM, SEM AVISO! MAS VOCÊS JÁ TEM COMO FAVORITAR A OUTRA PARA ACOMPANHAR, ALÉM DO MAIS, VAI SER BEEEEEEEM MAIS SÁDICA E VAI EXPLICAR TUDO O QUE EU DEIXEI EM ABERTO NESTA!!! <3 <3
https://spiritfanfics.com/historia/lucy-o-nome-do-caos-6462211

E se quiserem ver minha nova fic, assim, só por curiosidade...
https://spiritfanfics.com/historia/carne-muerta-6919507 <3


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