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História Cartas Para Dois - XII - Vestígios do crime.


Escrita por: EliTassi

Capítulo 12 - XII - Vestígios do crime.


 

 A biblioteca, com seus vultos de prateleiras e móveis, parecia até bem iluminada em comparação com o depósito. Acelerara seus passos para fora dali, sem se importar com o barulho, imaginando que a qualquer segundo suas pernas iriam lhe abandonar e cair no chão, mas elas não o fizeram. Fora só quando percebera-se fora da vista (caso Diego desobedece e lhe seguisse) que se teletransportara para seu quarto.

 Por um instante estivera congelado, tremendo e com a mão no peito. No seguinte, por instinto, estava arrancando a gravata e abrindo a gola. No próximo, correra para a frente de seu espelho.

 Fizera questão de não ver o seu visual “sósia de Vanya”. Provavelmente fosse o torpor do momento falando, do tipo “mesmo se eu tivesse que dançar vestido assim na frente da família toda faria com um sorriso no rosto”, mas a peruca, agora, no escuro, não parecia tão ruim. Porque não precisara de maquiagem, muito embora seus lábios estivessem vermelho escarlate, inclusive ao redor, inchados, com quase o dobro do tamanho, como se tivesse usado um batom vermelho e borrado tudo.

 Pusera os dedos ali mais uma vez, sorrindo como o idiota apaixonado que era, pela primeira vez permitindo-se ver a si mesmo de tal forma.

 Dera alguns passos para trás, conferindo todo seu look. A saia denunciava sua excitação, mas fora isso não parecia tão ruim. Valia a pena. Quer dizer, aceitaria se vestir daquela forma todos os dias da sua vida para repetir aquela noite (talvez não todos os dias, mas por um ano todo com certeza).

 Naquele momento, entretanto, estava mais interessado em despir-se das vestimentas pesadas e insuportavelmente restritivas. Jogara tudo para baixo da cama, deitando-se seminu por debaixo das cobertas para apreciar os arrepios e a lembrança conforme continuava se satisfação sozinho, imaginando que Diego estaria fazendo o mesmo, rememorando, desejando...

 Com a mente presa naquele pedaço de outro mundo em que tiveram um momento eterno.

 Nada poderia estragar sua noite.

 

 

 Na manhã seguinte, o alarme lhe fizera resmungar, contrariado. Não tinham tempo parar virar para o lado, caso contrário não poderia escovar os dentes, ou usar o banheiro. Cada segundo naquela casa era uma maldita penitência.

 Menos a noite anterior.

 Lembrar dela lhe trouxera um arrepio, lhe despertando em um solavanco. Nem ao menos sentia mais o sono. Só conseguia pensar na sensação das mãos, dos lábios...

 Tomado por uma curiosidade repentina, pusera-se de pé em um salto e fora até o banheiro, jogando água fria no rosto antes de conferir seu pescoço: lá estava um pequeno e amável problema, na forma de uma mordidinha, como se tivesse sido picado por uma aranha. Tinha o tamanho de uma moeda pequena, mas o roxo era gritante contra sua pele alva.

 Se alguém visse aquilo, principalmente Reginald, seria um tremendo problema. Enquanto se arrumava, rezava para que a gola da camisa do uniforme escondesse. Ela até o fazia, mas qualquer movimento de cabeça acabava com a manchinha escapando pela gola e dando “olá” ao mundo.

 Além do mais, fora com uma satisfação temerosa que notara os pequenos puxões que sentia na região cada vez que movia o pescoço. Era dor, sabia, mas um tipo de dor masoquista. Um tipo de dor que lhe lembrava da sensação de ter a boca de Diego ali.

 Recolhera as roupas de Vanya e as devolvera no quarto dela enquanto a mesma se encontrava no banheiro. Então se teletransportara para o quarto de Klaus, quem estava sentado na cama e dera um pequeno gritinho ao lhe ver.

 - Você vê gente morta. Como pode ter levado um susto comigo?

 Klaus apontara um dedo de forma acusadora.

 - Eu vejo gente morta, não viva. Você está vivo. – Os olhos dele desceram por todo seu corpo, como se lhe examinando e conferindo sua vividez. No segundo seguinte um enorme sorriso se abrira no rosto do mesmo. As sobrancelhas erguendo-se em arcos generosos. – E aí...?

 Cinco desviara o olhar, mordendo as bochechas com força para tentar lutar contra o sorriso que queria fugir de seus lábios.

 - Não me faça perguntar, Romeu. Valeu a pena ou não? Ele beija bem? Teve mãozinha boba? Você acabou contando?

 - Não temos tempo para isso – retrucara, apressado, chegando perto de Klaus, quem pusera-se de pé. – Eu tenho um problema.

 - Outro problema, você quis dizer.

 Não rebatera a pergunta espertinha de seu irmão. Virara o pescoço ao máximo, revelando a marca púrpura para os olhos surpresos e radiantes de Klaus.

 - Ah meu deus...! Seu danadinho. Tsc, tsc, tsc – Klaus estalara a língua em falsa decepção, incapaz de esconder o tom animado da voz. As mãos dele vindo parar em seus ombros conforme ele lhe encarava nos olhos. – Meu irmãozinho está tão grande! Você é quase um adulto!

 - A gente tem a mesma idade, babaca – retorquira, revirando os olhos para o teatro de Klaus.

 - Mas há algumas coisas, pequeno homem, as quais você precisa passar na vida para se tornar adulto de verdade.

 - Jovens mestres, desçam para o desjejum! – Pogo gritara do corredor, mesmo sendo desnecessário.

 - Não temos tempo para as suas besteiras, Klaus. O que eu vou fazer com isso?! Se eu mexo o pescoço ela aparece.

 Klaus retirara as mãos de seus ombros e estalara os dedos, como se tivesse tido uma ideia, então correndo para as gavetas, removendo um fundo falso de lá. De repente, tivera a percepção de que Quatro deveria ser quem melhor conhecia todos os esconderijos da mansão antiga. Principalmente no que dizia respeito ao quarto dele.

 - Eu tenho um corretivo que usava nas minhas espinhas. Não vai ficar tão bom em você porque você é branco demais, mas vai ficar melhor do que esse beijo de vampiro no seu pescoço. Quero dizer, não me leve a mal, caiu muito bem em você, mas o papai costuma não gostar desses acessórios e você vai teria que inventar uma incrível desculpa para o GoGo. – Enquanto falava Klaus viera na sua direção, lhe obrigando a segurar a gola puxada para baixo enquanto começava a espalhar um líquido cremoso não só pela mancha, mas por todo seu pescoço. – Falando no nosso pai, não chegue muito perto. O velho não é tão cego quanto parece. Ele pode pegar leve com você na hora, mas vai lembrar disso mais tarde e te chamar para o escritório.

 As mãos de Klaus, apressadas, pareciam estar lhe estapeando por todo o pescoço.

 - Por que precisa espalhar tanto isso?!

 - Para nivelar a cor, senão fica uma manchinha mais escura no meio da pele branca. Mais tarde você pode pegar uma paleta de iluminador no quarto da Alli e eu te ajudo a melhorar isso.

 Klaus correra novamente, pegando um pó compacto e batendo os dedos limpos nele, espalhando por seu pescoço com uma rapidez que ele jamais tinha para algo importante.

 Seu irmão terminara o serviço, dando um passo para trás e analisando antes de murmurar em aprovação, levando os dedos fechados aos lábios e os beijando de forma dramática.

 - Perfecto.

 Não tinha tempo para conferir, só pudera puxar a gola para cima e rezar para Klaus estar certo. Segurara no pulso dele e os levara para a entrada da cozinha, em seguida realizando um segundo salto temporal para seu lugar à mesa, onde Reginald esperava os dois filhos atrasados (que não poderiam chegar juntos).

 - Número Cinco, Número Quatro. Atrasados – Reginald anunciara no tom frio e sério de sempre conforme Klaus adentrava o local. – Irão auxiliar Grace com as tarefas domésticas.

 Resmungaram porque fazia parte do protocolo, mas algumas tarefas eram até melhores do que as aulas e treinos exaustivos.

 Então sentaram-se em silêncio.

 Sentia um misto de vergonha com excitação e felicidade ao estar de frente para Diego. Queria olhá-lo, dar um rosto para o vulto que sentira tão próximo, mas ao mesmo tempo parecia suicídio. Vê-lo e lembrar a noite passada no meio do café da manhã, bem diante de seus olhos.

 Mas o fizera mesmo assim.

 Roubara um olhar para Diego, sentado apenas uns dois metros de distância, sentindo uma nova excitação só de poder vê-lo novamente, sem a escuridão ao seu redor. No fundo, nutria uma esperança tola de que ele retribuísse seu olhar e, de repente, até um pequeno sorriso cúmplice, comprovando que aquela noite não fora um delírio seu.

 Mas ele não o fizera. Cabeça baixa enquanto começava a comer.

 Com uma pontada de decepção inquietante, também abaixara o olhar para seu próprio prato, tomando o cuidando para não mover demais o pescoço, não tão confiante na cobertura que Klaus fizera pela região.

 A marca que Diego pusera em si.

 A marca que Cinco queria ostentar, livre e desimpedido pela pressão esmagadora do silêncio daquela mansão.

 Enquanto comia sua mente corria longe, guardando as memórias da noite como se fossem uma relíquia para mais tarde, e preenchendo seus pensamentos com fantasias de como poderia ser. Ostentar a marca, ver os olhos arregalados de seus irmãos ao descobrirem que Cinco tinha libido, e bastante. Ou o suficiente. Tudo o que faria seria retribuir com um sorriso convencido e recusar-se a responder as perguntas. Poderia fazer aquilo, longe de Reginald. Poderia...

 Se Diego soubesse.

 Espiara na direção do homem sentado do outro lado, mas ele não retribuíra seu olhar. Estava ocupado com o próprio, espiando para a direita dele; esquerda de Cinco...

 Espiando Vanya.

 Seu coração afundara e assim que se voltara para o seu prato sentira uma falta de fome avassaladora, como se seu estômago e seu esôfago estivessem colados e a comida não quisesse mais entrar. Engolir era difícil.

 Pensar era difícil.

 A sensação de choro estava lá, ardendo na sua face, mesmo que não conseguisse ter lágrimas nem se não estivesse na mesa.

 Tudo o que conquistara era uma mentira. A fundação construída em um terreno lamacento que, não importava o quanto a casa fosse bonita e grandiosa, estava fadada a afundar e afundar...

 E mesmo quando sabia, de forma consciente, que estava condenado, ainda nutria a esperança lá no fundo. Aquilo não poderia ter sido uma mentira. Ele não poderia lhe rejeitar, depois de ter sentido... O mesmo, certo? Diego sentira o mesmo... Assim esperava.

 Assim esperava.

 

 

 Quando conseguiram um descanso no meio da manhã combinara com Klaus de encontra-lo, conferira o paradeiro de Allison (no jardim, com Luther) antes de se teletransportar para o quarto dela, aproveitando a ausência da dona para pegar emprestado uma paleta de iluminador. Não tinha ideia do que era, mas uma rápida olhada nas suas opções fora o suficiente para deduzir que precisaria da caixinha de pó com tons brancos e beges claros. E um pincel... Grande ou pequeno? Para que havia tantos?!

 Voltara para o quarto de Klaus e o mesmo fizera o serviço – reclamando por ter pego o pincel errado.

 - Klaus – chamara, interrompendo o monólogo do irmão sobre a decepção em não poder compartilhar a cor com Allison, assim teriam maquiagem em dobro.

 - Hm? – Ele soara distraído e concentrado.

 - Obrigado.

 Por um momento pudera ver a surpresa na face dele, mas logo transformara-se em um sorriso contagiante, alegre, quase como se fosse com ele.

 - De nada, pequeno homem. Meus serviços de cupido estão disponíveis sempre que precisar – fora a resposta dele, sem implicâncias e sem lhe questionar mais sobre aquela noite.

 Depois de feito, devolvera as coisas de Allison para o local, dando uma olhada mais minuciosa com a esperança de que precisasse comprar produtos do tom da sua pele para os próximos dias (embora, no fundo, soubesse que era apenas uma fantasia boba, dentre tantas que infestavam sua mente).

 Então um salto para o quarto de Vanya, encontrando a mesma sentada na cama com um livro. Ela erguera o olhar para si e sorrira. Cinco não tivera como não retribuir.

 - Foi incrível? Deu tudo certo? Ele disse algo? – ela quisera saber, lhe bombardeando com perguntas entusiasmadas enquanto o livro era esquecido em um canto.

 - Vanya... – chamara pelo nome como forma de ganhar tempo, olhando ao redor em busca das palavras antes de voltar a encarar sua irmã. – Eu não sabia que era possível se sentir daquela forma – desabafara, sentindo o peso da sinceridade. – Sempre achei que era um exagero da literatura romântica.

 Sete estava sorrindo ainda mais, empoleirando o corpo na cama e abafando um gritinho entusiasmado. Aquilo lhe deixara ainda mais sem graça, mas, ao mesmo tempo, satisfeito por ter apoio.

 - Eu sei! – ela falara sobre seu desprezo para o sentimentalismo dos livros. – Eu sabia...! – Agora era sobre Diego. – Ele gosta de você. Ele já deve estar apaixonado! Olha!

 Ela pulara da cama em um impulso, animada como raríssimas vezes vira sua irmã ficar. Seu normal era desânimo com tudo. Ela fora até a escrivaninha e pegara o papel dobrado já de fora familiar. Os olhos de Cinco dobraram de tamanho ao vê-lo.

 - Isso chegou rápido demais, então só poderia significar duas coisas: ou foi muito bom ou muito ruim.

 Teletransportara-se para pegar o papel da mão dela, um tanto quanto afobado, quase rasgando o papel para desmanchar.

 

“Baby...
 Eu estou sem palavras. Você é mais esperta e deve ter elas para mim.
 Isso foi... Uau.
 Voltei para o quarto deve fazer uma hora, mas não consigo pensar em outra coisa. Eu imaginava que seria bom, claro, mas não que fosse ser tão bom.
 Você é incrível!
 Não há sonho que eu possa ter essa noite que vá superar a sensação de estar com você. Eu espero mesmo que você tenha sentido o mesmo que eu. Você acabou de conquistar lugar de honra em meus pensamentos antes de todas as próximas noites antes de dormir.
 Suas regras deram um toque especial, mas eu espero que na próxima vez eu possa ver você.
 Com carinho,
D.”

 

 Estava sorrindo como um completo idiota. Todos seus pensamentos eram de Diego naquele momento. Dessa vez, era Cinco quem sufocara um ruído de entusiasmo por ter uma confirmação tão sincera e perdida sobre o mesmo sentimento.

 Não se importara que Vanya estivesse espiando ao seu lado, lendo a carta sem sua autorização (tecnicamente ela estava autorizada, uma vez que Cinco não a puxara de volta).

 - Aí Deus... – Vanya murmurara, inquieta. – Deu tudo certo. Ele está mesmo, mesmo todo apaixonado por você.

 Balançara a cabeça em negação. Mesmo que estivesse evitando o pensamento, ainda havia a percepção de que estava o enganando.

 - Eu tenho que ir. Castigo. Venho te contar essa noite.

 Sua irmã concordara com vários acenos e um sorriso de orelha a orelha.

 Fizera um salto espacial para seu próprio quarto, guardando a carta junto das outras, pensando em Diego sonhando acordado com o beijo (e fazendo o mesmo que Cinco fizera com tais fantasias). Então um segundo salto para a cozinha, pronto para receber as ordens de Grace e dando de cara com Diego lá.

 Não conseguira esconder o susto de dar de cara com o dono de seus pensamentos daquela forma.


Notas Finais


Acho qe o cap seginte está ficando bom, maaas como eu me animei mais com o anterior do qe vcs, pode ser qe n kkkk
Me deixem saber se estão gostando dessa fic deles teen ou n, pra ver se devo encurtar caminho e investir tempo em outra ou continuar por aqi, yess? 💙


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