– M-mãe? – Changkyun encarou a deusa. Nunca havia conhecido a mãe antes, não daquela forma. Sempre viu Atena por imagens, esculturas e até pelos olhos de outros filhos que já haviam a visto e contavam para o menor. Atena não parecia em nada com o que Changkyun imaginava. Nada. Era negra*, com os cabelos cacheados e longos e a aura de superioridade era tão grande quanto à do próprio Zeus. – Mãe? – Repetiu.
– Olá meu menino. – A deusa sorriu. – Vim ver como estava e, claro, conhecer seus amigos. – O olhar de Atena percorreu os meninos jogados na grama, completamento exaustos depois de quase morrerem afogados, e parou em Jooheon.
– Er... bom. – Changkyun os apresentou e por fim olhou para os pés, constrangido. – Só veio pra isso?
– Na verdade, porque não damos uma volta? Serei breve. – Ela o convidou e Changkyun a seguiu. – Ah! Já ia me esquecendo... Sabe, não sou muito chegada a relacionamentos, os acho saudável é claro, apesar de serem totalmente destrutivos e nos distrair dos nossos objetivos, entretanto tenho certo apreço por poesias, afinal não é todo mundo que consegue escrevê-las, então costumo gostar dos filhos do meu irmão Apolo. – Ela sorriu docemente para Jooheon. – Magoe meu menino e minha maldição será pior que um cabelo rosa. – Completou e Jooheon só faltou cagar na calça. Changkyun podia cavar um buraco ali mesmo e se atirar pro Tártaro. Minhyuk riu entretido, totalmente desperto, e Atena deu um leve tapinha de consolo nas costas de Jooheon.
– Vamos mãe! – Changkyun a chamou rezando para aquele constrangimento acabar logo.
Caminharam juntos alguns metros, o suficiente para não serem ouvidos pelos outros. Atena vinha acompanhando Changkyun desde que o menor nasceu, ciente de que ele poderia ser um grande herói e uma boa pessoa. Como mãe e deusa onisciente, a mulher também sabia que o menor se encontrava numa grande confusão mental e resolveu que era hora de finalmente aparecer e conversar com o filho.
– Sinto muito se demorei tanto tempo, mas você precisava aprender e evoluir sem a minha ajuda. – Ela se desculpou quando pararam de frente para o rio. – Mas sei que precisa de mim agora e eu posso ouvir suas preces Kyun, um “mãe, me ajuda” corta o coração de qualquer uma.
– Desculpe por isso, mas eu realmente precisava de alguma ajuda e não sei se posso confiar nas mensagens de Iris. – Changkyun chutou a grama. – Estamos sendo observados, não estamos?
– Kyun, primeiramente quero que saiba que estou proibida de tentar ajudá-los. Meu pai acha que vocês estão tentando pregar uma peça nele e não importa o que eu diga, ele sempre vai agir como bem quer. – Atena bufou. – Então eu não posso lhe dar todas as respostas, até porque gosto de ver o seu cérebro funcionando.
– Então estamos sendo observados. – Changkyun concluiu e Atena assentiu. – E suspeito que não estamos falando apenas de Zeus, correto?
– Vejo que tem um raciocínio maravilhoso. – Atena sorriu. – Não, vocês não estão sendo observados apenas por Zeus.
– Alguém está tentando sabotar nossa missão. – O moreno suspirou e olhou para os amigos. – Eu imaginei assim que deixamos o acampamento. Zeus e Poseidon podem estar bravos, mas duvido que permitiriam que as Eríneas nos caçassem. Das últimas vezes que elas deixaram o Tártaro foram enviadas por alguém e com algum propósito, não é mesmo? Mas quem ganharia com a nossa falha?
– Isso você terá que descobrir sozinho meu pequeno. – A deusa acariciou o rosto do menino. – E sei que também tem a resposta para o enigma da profecia, não duvide tanto do seu julgamento.
– O molde...
– Sim, o molde. – Atena riu. – Bem simples não?
– Eu achei que seria mais complicado. – Changkyun riu envergonhado.
– As coisas ficam complicadas porque é o mau do homem querido, complicar tudo. – Ela deu de ombros. – Mas... eu estou aqui de qualquer forma e mesmo proibida, Kyun, quero que me escute com atenção.
– Tudo bem.
– Primeiro, nunca duvide da sua capacidade de percepção e inteligência, as vezes acertamos até mesmo quando não queremos. Segundo, mantenha os olhos um pouco mais abertos e você perceberá coisas que não está vendo. – Ela olhou para os amigos que já estavam sentados na grama e Minhyuk parecia querer matar Kihyun. – Tem coisas acontecendo e você não percebe porque está preocupado demais tentando ser um grande líder e um bom, como eu poderia dizer, namorado?! Acho que vocês dois ainda não chegaram nessa fase. De qualquer forma, preste mais atenção.
– Está sugerindo que alg...
– Estou te alertando. – Ela fez mais um carinho no rosto do filho. – E por último, minha criança, eu sou considerada a deusa soberba e independente porque me guio apenas por mim mesma, sem me deixar levar pela opinião e pensamento alheio, afinal eu sou inteligente o bastante para lidar com meus próprios problemas e os alheios, mas, Kyun, as vezes precisamos seguir nossos instintos e não nossa razão, entende? As vezes o nosso instinto nos ajuda muito mais e você não deve ignorá-los. Não importa o que digam. Me entendeu?
– Mãe, o que quer dizer com isso?
– Quero dizer e vou ser bem clara com isso Kyun. – Ela suspirou. – Chegará o momento em que você precisará agir rápido e nesse momento não escute a razão, siga seus instintos.
– Agora a senhora me deixou preocupado.
– Não se preocupe, você estará sob a minha benção quando o momento chegar. – Ela o puxou para um abraço. – E ninguém toca em um filho meu.
Changkyun se permitiu ser abraçado e aquele foi, provavelmente, o melhor abraço que já recebeu em toda sua vida.
– Eu te amo mãe. – Ele disse entre lágrimas.
– Eu também te amo minha criança. – Atena segurou o rosto do menino em suas mãos. – Acho que vocês vão precisar de ajuda não é mesmo?
– Anfitrite destruí nossa carruagem! – Changkyun bateu o pé e fez bico igual uma criança que vai contar pra mãe que brigaram com ele. Atena riu alto.
– Aquela deusa boba! – Riu mais alto ainda quando um jato de água a acertou em cheio na bunda. – Ficou nervosinha? – Outro jato de água. – Já entendi. – Atena revirou os olhos e Changkyun riu.
– Pode nos ajudar a chegar na Grécia?
– Claro! Venha! – Puxou o garoto para encontro com os meninos. Kihyun estava de pé em posição de defesa enquanto Hoseok segurava um Minhyuk puto da vida e Hyungwon ria. Jooheon e Hyunwoo assistiam a cena um pouco assustados. Changkyun tentou ouvir melhor enquanto se aproximavam.
– Eu não acredito que você tocou esses lábios de mel antes de mim, sério, eu te odeio. Que seu cabelo fique pra sempre rosa! – Minhyuk tentava segurar o pescoço de Kihyun. Nem parecia que estava morrendo há poucas horas atrás.
– Minie, foi pra salvar a vida dele. Você preferia que eu tivesse feito respiração boca a boca em você?
– Cruzes! Deuses me livrem!
– Então você queria o Hyunwoo morto? Porque eu não tinha muito escolha! – Kihyun gritou fazendo um pequeno buraco perto de onde Hoseok e Minhyuk estavam. Hyungwon parou de rir e puxou os dois pra longe.
– Eu queria que você tivesse feito no Hoseok e deixava que o Changkyun fizesse no Hyunwoo, você é meu melhor amigo, tinha que respeitar o templo sagrado que é a boca do meu mozão, seu maldito!
– Você está sendo irracional! – Kihyun rebateu.
– E você vai tomar bem no meio do seu c...
– Eita, cof cof. – Atena interrompeu antes de Minhyuk completar. – Que dialogo mais construtivo.
– Ai graças a Zeus! – Jooheon jogou as mãos para o alto e abraçou Changkyun. Segundos depois se afastou ruborizado. – Desculpa, eu não aguentava mais.
– T-tudo bem. – Changkyun sorriu constrangido e olhou para a mãe que fingia não ver nada. – Bem, minha mãe vai nos mandar para a Grécia!
– Jura? – Hyunwoo perguntou ansioso.
– Ai graças a deusa, eu não to aguentando mais essa viagem. – Minhyuk se jogou nos braços de Hyunwoo.
– Você passou metade da viagem desacordado, se toca viado. – Hyungwon o cutucou.
– De novo não, parou! – Jooheon os cortou.
– Mãe, só manda a gente logo ou eu cometo um assassinato. – Atena riu com o filho e pediu que eles se juntassem.
– Antes disso... – Kihyun se aproximou da deusa, cauteloso. – Você pode pintar meu cabelo de preto? Por favorzinho!
– Oh! Criança... – Ela passou os dedos pelos fios rosa. – Obra de Afrodite, não é mesmo? – Kihyun assentiu. – Ela não tem jeito. Eu gostaria de poder ajudar, mas maldições só podem ser quebradas por aqueles que as lançam. Sinto muito.
– Vai ficar com esse cabelo pra sempre e ainda vou falar com a minha mãe pra dar uma desbotada, uma raiz aparecendo, só pra você ficar com mais raiva. – Minhyuk bufou.
– Eu não vou nem dizer o que você tem que pintar de rosa! – Kihyun disse bravo.
– É? O quê? – Minhyuk provocou.
– Chega, vamos logo! – Changkyun bateu palma e encerrou o assunto. – Mãe, tenha misericórdia.
Atena, que se divertia com a situação, sorriu mais uma vez para o filho e com um estalar de dedos os enviou para Lemnos. Era como se Changkyun estivesse lendo Harry Potter e de repente tivesse aparatado. Sentiu o corpo ser puxado com força e de repente estava em outro lugar. Ouviu marteladas, alguns metais caindo, abriu os olhos e estava numa serralheria. Um homem alto e mais musculoso que o Dwayne Johnson martelava em uma grande mesa de concreto.
– Puta merda! Aquele é... – Hoseok apontou.
– Não use esse linguajar na minha oficina, menino. – O Deus então os encarou. – Dionísio não te ensinou que apontar é feio?
– Você é o... – Hoseok ainda perguntava, visivelmente confuso. Nas histórias Hefesto era descrito como um homem feio e corpulento demais, mas a verdade era que, até coberto de fuligem, aquele deus era, provavelmente, o homem mais bonito que os sete meninos tinham visto.
– Ele parece o Thor! – Hyungwon sentiu as bochechas queimarem.
– Isso deve demorar, não é mesmo? – O deus caminhou até eles. – A que devo a honra?
– Oi, onde eu me candidato para pretendente de Hefesto? – Minhyuk levantou a mão. O deus riu. – Valha-me santa mãe divina! Esses braços são de verdade?
– Minhyuk, controla o fogo no rabo! – Hyunwoo o puxou para perto.
– Ih, não sai me puxando não, vai puxar o Kihyun.
– Me empresta o martelo? – Kihyun pediu. – Eu vou dar uma martelada nele e não me segura não!
– Quero provas! – Minhyuk mostrou a língua pro filho de Hades e eles engataram mais uma lutinha corporal vergonhosa.
– E esse mico, a gente tá passando no débito ou no crédito? – Changkyun suspirou. – Eu só passo vergonha com esses dois.
– A gente separa ou...? – Hefesto perguntou mesmo se divertindo com os dois menores.
– Deixa, uma hora eles cansam. – Hyungwon deu de ombros. – Então, você que é o deus da forja, né? Pode nos ajudar?
– E ajudar exatamente com o quê? – Hefesto desviou o olhar de Minhyuk e Kihyun e fitou Hyungwon.
– Um autômato. – Changkyun respondeu decidido. – Precisamos de um autômato idêntico ao Hyungwon.
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