História Casamento real - Levi Ackerman - Frio.

Tédio.

Era isso o que eu sentia enquanto batia os dedos no braço do trono de ouro, em uma sala tão fria e silenciosa como aquela. O cansaço era nítido, além do sono estar começando a surgir de tanto tempo parada naquele lugar, que querendo ou não, era ajustado para ser confortável também, mas dormir ali era uma suposta falta de respeito.

Eu apenas precisei por hoje verificar a situação dentro das muralhas, claro, não posso deixar meu povo passar fome e muito menos frio. O inverno já havia chegado e isso me deixava preocupada cada vez mais com o povo, me fazia sentir um grande frio na espinha. E se tivesse alguém morrendo de fome agora? Justamente por isso, ordenei que alguns guardas — também bem protegidos do frio — fossem patrulhar, um mês atrás, utilizei os edifícios abandonados que tinham em fazendas, reformando-os com beliches semelhantes a da tropa de cadetes, para que os sem teto ficassem ali durante a temporada do frio inimaginável, e várias pessoas doaram suas roupas que não utilizavam para eles também, além dos alimentos. Então tudo está numa situação… estável.

Espero que a tropa de exploração esteja bem, na base, sinto até certa saudades de quando todos tinham que se juntar para deixar aquele lugar brilhando.

Levantei meu olhar para observar o teto do castelo, aquilo era incrivelmente alto e me pergunto se realmente não foi construído por um titã, afinal, não é impossível já que na capela Reiss, no subsolo para ser mais específica, foi construído por um, se eu tivesse me tornado um titã, o que aconteceria? Bom, Eren estaria morto, isso é um fato inegável, Mikasa me odiaria..

Enquanto estava em meus pensamentos, de repente, senti uma brisa gelada passar pelo meu corpo, com isso direcionei bem meu olhar para os portões e vi que foram entreabertos para que um dos nobres próximos ao palácio, Edmund, entrasse.

-Vossa Majestade. — O nobre estava tendo o acompanhamento de sua mulher, Amber. O cumprimento real foi feito, uma reverência (que as vezes eu acho até mesmo meio exagerada) vindo de ambos. — Viemos falar com a vossa excelência sobre algo.

Era óbvio, mesmo que eu dissesse que não precisava disso tudo, se eles saíssem um pouco dos trilhos em relação ao cumprimento real, iria dar uma grande confusão onde poderia espalhar boatos sobre a falta de respeito vindo da família Eckart, sendo eles: Edmund Eckart, Amber Eckart e por fim, o filho deles: Mikhail Eckart. Todos três possuíam aparências comuns, porém, bem mais arrumados por conta da classe alta, tendo a dama cabelos negros, o senhor cabelos loiros e Mikhail tinha cabelos loiros com os olhos de suas mãe.

-Prossiga. — Avisei enquanto me ajeitava ali, a cabeça pesava um pouco por conta da coroa que era necessário ser utilizada naquela situação, encarei ambos, como se fosse um sinal que estava sendo toda ouvidos. — Qual é o problema?

-Em relação aos edifícios das fazendas, especificamente os abandonados, sendo utilizados.. compreendo que vossa excelência queira o melhor para cada cidadão das muralhas, mas a quantidade de árvores que podem diminuir é capaz de ser extrema. — Mantive meus olhos nele, que continuava — além que os fazendeiros podem ficar com uma grande fadiga trabalhando tanto para aqueles que não pagam por aquilo, que são, os sem teto.

-Edmund Eckart, nossas florestas são vastas e imensas. — Comecei a retruca-lo, de maneira firme, mas tendo uma certa ansiedade pelo fato que ele tinha, em parte, razão. — A floresta das árvores gigantes é sempre utilizada pelos cadetes para o treino, ou pela própria tropa de exploração. Como eu era uma, eu sei pessoalmente que os titãs de madeira que são de treino, quando muito gastos, são substituídos por outros e aqueles são distribuídos para fazendeiros para que possam ter uma lareira quente dentro de suas casas, as árvores também, muitas vezes algumas podem apresentar dificuldade em se mover, por ser alta ou baixa demais, sempre retiramos e distribuímos tanto para as reformas e para os trabalhadores. — Suspirei enquanto falava, precisava me recordar de cada palavra de Edmund para que conseguisse apresentar motivos convincentes para o que eu fiz. — E eu não deixei claro o suficiente que, a comida era apenas três refeições ao dia com comida quente? Além que temos bastante coisa, com as doações que o povo ofereceu, com as roupas também.

-Compreendo, sua majestade, mas não é ruim que eles aproveitem desse “privilégio”.. ou melhor, bondade, que estão recebendo, para ficarem ali ganhando comida de graça para sempre? — Ele disse enquanto sua esposa concordava ao assentir, pûs a mão em meu queixo numa forma de pensar, até que consegui ter uma ideia com mais ou menos cinco minutos de espera, tanto que o casal até aproveitou para se sentar em suas devidas cadeiras que tinham por lá.

-Não seja por isso… a não ser que essa pessoa seja alguém debilitado, ou seja, que não possui um membro do corpo ou uma doença avançada, terá que continuar nessas condições e irei pedir para que toda semana, o médico real verifique-os, utilizando de ervas medicinais encontradas em florestas, e não as que estão aqui no palácio, apenas será utilizada em caso de urgência. — Sorri enquanto falava, era uma ideia boa. — Enquanto aqueles que não possuem isso, irei oferecer trabalhos para eles, seja no orfanato, na colheita, na tropa de cadetes ajudando a manter tudo arrumado, ou até mesmo, aqui no palácio. Além que não seria uma má ideia se fizéssemos com que alguns deles, caso tenham ganhado um pouco mais de peso e possuam roupas que o mantenham aquecidos, já comecem cortando lenha para que possam ajudar a ir vendendo pela cidade, assim, já terá uma melhora em seu físico para trabalhos futuros.

-Vossa Majestade, compreendo que suas ideias sejam boas.. mas.. quem iria doar tantas roupas assim? Ainda mais para várias pessoas, já que são todas das três muralhas? — Dessa vez, Amber se pronunciou ali, recebendo um olhar do marido onde ela apenas o encarou de volta, assentindo, como se tivesse ideia do que falava. — Além que, enquanto aos que tem poucas roupas?

-Não é obrigatório que todos doem suas roupas, além que, não é necessário ser entregue como uma roupa oficial. Eu aprendi a costurar quando eu era uma criança e posso ajudar nisso também, panos comuns podem ser transformados em roupas, além que desde que fui coroada, recebi milhares de vestidos de presente onde metade eu não uso e a antiga rainha, mulher do falso rei, ainda tem vestidos velhos aqui que não são utilizados. Podemos corta-los e começar a realizar o dobro de roupas, sejam femininas ou masculinas.

Notei o olhar de Amber se assustar, ela era o tipo de mulher que valorizava qualquer tipo de vestido da classe alta ou dos nobres, não importa o quão feio seja, contanto que tenha luxo, está ótimo para ela. Eu particularmente não gostava dos vestidos da antiga rainha, além que não me trazia boas memórias.

-E em relação a lenha por enquanto, majestade? Não temos certeza se já tem pessoas capacitadas para o trabalho que vossa excelência ditou. — Isso me fez lembrar de algo interessante, a tropa de exploração estava pronta para voltar, e não fazia a mínima ideia de como estavam, mas certamente, o Titã de Eren pode ser muito útil agora nesse período frio.

-Não se preocupem com isso, sei o que fazer.

Isso me causou um frio na barriga, agora, a sala estava ansiosa e eu poderia estar pedindo demais do Eren. Mesmo que a gente até que se dê bem nisso tudo, soltei um suspiro enquanto via o casal Eckart se despedir numa reverência, saindo do palácio, e no momento que sumiram do meu campo de vista e eu ouvi o barulho do portão pesado fechar-se, retirei a coroa pesada da cabeça para a por em meu colo e a observar um pouco, desde que fui coroada, as coisas vem sendo difíceis, tive muitos trabalhos que o antigo rei resolveu deixar pendente, filho da puta.

Me levantei dali, deixando a coroa sobre uma almofada vermelha que estava num pequeno pilar ao meu lado e sai caminhando pelo castelo, queria ver o Duque, talvez eu me distraísse um pouco. Desde o antigo rei que Duque — o cachorro — estava aqui, e pelo que as criadas me contaram, ele nunca tinha ido com a cara do antigo rei, mas me amou, será que é porque ele era um rei falso e sequer possuía sangue real?

Enquanto caminhava, uma das criadas veio a me acompanhar e havia me dado meu casaco, para que eu não sentisse frio enquanto saia pelas portas dos fundos do palácio, indo até um edifício não muito grande, que servia de lugar onde cuidavam do Duque, e, onde podia ficar escondida caso ocorresse outra briga de titã — Que nem Annie e Eren já tiveram —, ou até mesmo a muralha fosse destruída, afinal, felizmente havia uma grande sala no subsolo com um estoque de comida.

Quando entrei, o cachorro veio logo correndo até mim, começando a tentar fazer gracinha para levantar enquanto fazia um carinho em sua cabeça, comecei a caminhar para uma sala que havia por lá enquanto um dos guardas reais me seguia. Ocupei o sofá e fiquei brincando com Duque, para ver se o tempo passava mais rápido.

-Sinto muito não poder passar muito tempo com você, Duque. — Sorri para o cachorro que possuía pelos escuros e ofegava amigavelmente para mim, sorrindo para ele enquanto brincava com o pequenino — Os nobres as vezes.. enchem o saco.

Era surpreendente como Duque me entendia, no momento que eu citei sobre os nobres, Duque começou a latir de maneira brava, mas se acalmou quando fiz outro carinho, talvez ele também não goste.

-Você gosta do pessoal da tropa de exploração, né? — Duque colocou sua lingua para fora, latindo de maneira feliz, já que não possuía um ranger de dentes ou algo assim dele — Não se preocupe, até semana que vem, eles voltam, já sei, o que acha de passear um pouco?

No momento que Duque começou a se agitar, entendi isso como um sim. Me levantei para começar a caminhar pelo pequeno edifício junto com ele, o dando alguns petiscos uma vez ou outra, até que quando estava retornando para a sala, outro guarda entrou no edifício vindo ao meu encontro, onde o outro estava ao meu lado.

-Vossa Majestade! — O guarda se reverenciou, enquanto entreguei Duque a sua criada que havia por ali que tinha ido preparar a ração dele, enquanto sinalizei para que o guarda continuasse. — A tropa de exploração retornou, e pelo que deu a parecer.. Ocorreu perdas!

-O quê?

Corri de forma rápida para dentro do palácio novamente, o guarda real que me acompanhava pedia para eu parar pois eu podia cair e acabar me machucando, enquanto o outro havia voltado a sua posição. No momento que entrei novamente no palácio e uma criada retirou meu casaco de maneira rápida, respirei fundo e fui até a sala do trono, e os vi ali, metade da tropa de exploração, feridos. No momento que ocupei o trono, um guarda que fica logo ao lado colocou a coroa pesada sobre minha cabeça e procurei analisar melhor, muitos possuíam ferimentos no rostos ou em outras partes do corpo com a roupa rasgada, estavam sujos de terra ou absurdamente cansados, mas o que mais me preocupava era: Historia, Levi, Hange e Erwin não estarem com eles, ok que a missão da retomada da muralha Maria estava próxima, mas… porque isso aconteceu?! Historia eu até entendo, por ser a segunda na linha de sucessão ao trono — originalmente, era a primeira, mas eu fui no seu lugar — pode ter sido levada ao médico real, agora os outros três, eu não sei.

-Vossa Majestade.. — Nem permiti que terminassem a reverência.

-Por favor! Digam, o que aconteceu?!

-Hange e Erwin foram dar o relato da situação… e… Levi.. — Eren avisava, felizmente, era o menos ferido por conta da regeneração já que era um titã.

-Eren! Cadê o Levi?! E as perdas que me disseram que havia sofrido?!

Eren continuou.

-Perdemos alguns novos membros da tropa de exploração, pois não seguiram algumas ordens, e, nessa missão deles, muita coisa aconteceu.. e o Levi.. Levi disse que nós alcançaria e ficou para trás, mas… não o vimos até agora, sinto muito!