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História Caso Encerrado - Deixa que eu cuido disso


Escrita por: kmyeonx

Notas do Autor


Hi, hello, annyeong!

Demorou um pouco mais pra chegar com esse terceiro capítulo, mas quem é vivo sempre aparece! Não sei se vocês sabem, mas já tenho alguns capítulos prontos e queria ir atualizando aqui conforme eu fosse terminando um novo. No entanto, pasmem que desde quando postei o segundo capítulo, não consegui escrever nada do próximo, pior pessoa desse mundo! Mas, como já tinha um tempinho que atualizei, achei melhor jogar logo esse capítulo na rodinha, pra fazer vocês felizes (espero).

Não posso deixar de agradecer à todo mundo que curtiu e que estão comentando... sério! Vocês são muito a razão de eu dar meu melhor a cada dia e colocar essa seho pra botar a cara no sol hahahaha Um obrigado especialíssimo pra minha musa inspiradora @jonnie, que além de me dar energia pra escrever e me aguentar nos momentos de surtos, ainda faz um trabalho perfeito betando os capítulos <3333

Sem mais delongas, espero que gostem ♥

Capítulo 3 - Deixa que eu cuido disso


Junmyeon cruzou os braços e encostou-se na parede, aguardando o melhor momento para uma aproximação. Se sabia que não deveria fazer o que estava prestes a fazer? Sabia muito bem. Porém, a esperança de livrar-se de um parceiro indesejado é sempre a última que morre. Observava enquanto Do Kyungsoo movimentava-se calmamente de um lado para o outro, na lanchonete, conversando brevemente com alguns outros agentes, que o paravam para cumprimentá-lo. Viu o chefe aproximar-se da bancada onde ficavam disponíveis café e chás durante as vinte e quatro horas do dia; afinal de contas, um agente engajado em um caso precisa de altos níveis de cafeína para aguentar horas sem dormir.

Esperou que o outro guardasse o celular que havia acabado de retirar do bolso, respondendo rapidamente à uma provável mensagem recebida e, então, aproximou-se.

– Bom dia, agente D.O! – Exclamou, esticando um dos braços até alcançar uma xícara, que foi rapidamente encaixada na cafeteira livre. Não deixou de reparar o olhar desconfiado do chefe, enquanto este esperava, pacificamente, que sua máquina fizesse o glorioso som que o permitiria pegar sua xícara cheia e voltar para seu escritório.

– Agente Suho. – Apenas acenou positivamente com a cabeça e voltou a encarar o líquido preto e de aroma fresco e delicioso, que lhe deixava com água na boca.

– Então, tem uma coisa que eu queria muito te pedir… – Junmyeon encostou-se no balcão, de frente para o homem, que ainda encarava a cafeteira.

– E a resposta é não. – Kyungsoo nem se deu ao trabalho de desviar seu olhar da xícara quase cheia.

– Mas você nem ouviu o que é.

– Eu não preciso ouvir para saber, agente Suho. Sei que vai falar sobre o agente Oh e, para ser bem honesto, não estou com a mínima vontade de ouvir toda essa história, mais uma vez. Eu não vou trocar o homem de departamento só porque você quer.

– Não tem nada que eu possa fazer pra mudar isso, senhor? Por favor, antes que eu me apegue a ele.

Kyungsoo achava que nada na vida havia ficado tão claro para si quanto o motivo pelo qual Junmyeon não queria estar próximo de Sehun havia ficado. Então era por isso! Colocou um breve sorriso nos lábios, antes de virar-se para o agente, aproximando-se em passos curtos e pousando sutilmente ambas as mãos nos ombros alheios. Olhou-o fixadamente, tentando transparecer ali o quanto entendia os sentimentos que atormentavam a mente de Junmyeon.

– Agente Suho, você precisa entender que… – Não conseguiu terminar a frase, pois o canto dos seus olhos captou uma figura alta, esguia e bem vestida, caminhando graciosamente até onde encontravam-se. Soltou os ombros que antes segurava e ajeitou o próprio terno. – Agente Oh!

– Agente D.O, agente Suho. – Sehun curvou-se brevemente duas vezes, cumprimentando-os. Recebeu de volta um aceno de Kyungsoo e apenas um revirar de olhos do, sempre carrancudo, Kim Junmyeon, que se virou para a cafeteira, tomando em suas mãos a xícara quase transbordando de café. E estava prestes a sair, quando ouviu o chefe pronunciar-se.

– Fico feliz de encontrar os dois reunidos, me poupa um pouco do trabalho, o que já tenho demais. O Secretário de Segurança de Seul acaba de me enviar uma mensagem, precisam da nossa consultoria em um caso e estou designando-o a vocês dois.

Sehun sentiu todo o corpo enrijecer-se, como se o que o outro houvesse acabado de falar fosse uma sentença de morte. Seu primeiro caso real. Não sabia se aquela sensação de formigamento que lhe percorria por inteiro era felicidade por finalmente poder mostrar seu potencial e tentar livrar sua barra do fiasco que foi o treinamento, ou se era apenas medo de imaginar-se bom o suficiente e, no final, não passar de um agente mediano e esquecível.

– Então, sobre o que é o caso? – Junmyeon questionou, tomando um gole cauteloso da bebida quente. Viu Kyungsoo afastar a manga da camisa que usava, deixando à mostra um lindíssimo relógio dourado, enquanto fixava seu olhar no objeto.

– Vocês devem receber a notificação sobre o caso… agora. – Quando a última palavra foi proferida, os celulares de Junmyeon e Sehun vibraram em seus respectivos lugares.

A mensagem continha apenas informações básicas sobre a identidade da vítima e o local onde havia sido encontrada, sendo solicitado, ao final do texto, que os agentes designados para o caso comparecessem à cena do crime o mais rápido possível.

– Cho Changsoo? Quero dizer, Cho Changsoo, a atriz? – Sehun alternava olhares entre a tela do celular, fornecido pela agência, e seu chefe, que apenas balançou a cabeça, confirmando as suspeitas do agente. – Nossa, a mídia vai ficar louca quando souber da morte dela…

Junmyeon pegou-se concordando com o novato. Afinal de contas, ele estava certo. Morte de celebridades, principalmente suspeitas de assassinato, eram sempre um prato cheio para o covil pútrido em que vivem os jornalistas e os fofoqueiros de plantão. Ele até assumia que, muitas vezes, quando uma investigação chega a um beco sem saída, são os jornalistas quem os ajudam a levantar pistas relativamente relevantes ao caso. No entanto, na maioria das vezes, são eles quem espalham a notícia de que a polícia suspeita de fulano ou ciclano, o que dá ao suspeito a oportunidade certa de fugir, atrapalhando e dificultando – ainda mais – o trabalho da polícia e dos agentes federais.

– É exatamente por isso que precisamos ir logo. Pegue o que precisar e me encontre no carro em dez minutos. E eu dirijo. – Junmyeon encarou o mais novo apenas por tempo suficiente para que passasse essas informações e retirou-se do recinto assim que recebeu um aceno positivo do outro, indicando que havia entendido o que lhe fora passado.

O agente Suho estacionou a SUV do departamento próximo às fitas de contenção que indicavam o local do crime. Sehun podia ver, mesmo de dentro do carro e com o vidro escuro fechado, que os policiais já estavam exercendo as funções que lhes haviam sido designadas, fosse vigiar a entrada da cena do crime ou conter os civis, que começavam a aglomerar-se, curiosos sobre o que poderia ter acontecido ali. Foi com certo desgosto que percebeu uma van cinza, estacionada do outro lado da rua, plotada com o nome e o logo de uma emissora de TV. Não muito longe dela, estava uma jornalista, no meio de uma gravação, e seu cinegrafista. Os abutres já haviam farejado a carniça.

Ao mesmo tempo, Sehun e Junmyeon desceram do carro e caminharam lado a lado até alcançarem a porta da casa onde o crime havia sido cometido, depois de passarem pelo policial que vigiava a fita de contenção, após mostrarem suas identificações. Sehun massageava o pescoço, na tentativa de dissipar a tensão muscular que se acumulou durante a rota até ali. Faltava apenas um passo para que atravessasse a soleira da porta para o interior da residência, porém uma mão firme agarrou seu braço e puxou-o dois passos para o lado.

Havia evitado encarar muito, pois não queria que seu parceiro notasse qualquer atividade estranha vindo de si. No entanto, achava aquela tarefa extremamente difícil, já que a droga do óculos escuros, tipo aviador, que Junmyeon usava, apenas o deixava infinitas vezes mais atraente. Como se já não fosse charmoso o suficiente sem aquela porcaria de acessório. Sehun amaldiçoou-se mentalmente por só conseguir pensar em como a armação valorizava o rosto do agente Suho, destacando, principalmente, seu maxilar. Piscou algumas vezes, tentando afastar os pensamentos inapropriados que insistiam em nublar sua mente, focando-se no caso que vieram investigar e em qualquer outra parte do agente baixinho, que parecia pronto para dizer-lhe alguma coisa.

O que não sabia era que Junmyeon sentia-se no mesmo dilema sobre um certo Oh Sehun, que parecia ter escolhido usar hoje a camisa que mais caía-lhe bem e ainda, como a cereja no topo de um bolo –  que já era pecaminosamente delicioso –, completar o look com os óculos escuros redondos. Aquela não era uma escolha típica dos agentes – que costumavam preferir o estilo aviador –, mas que combinava perfeitamente com o corte de cabelo que o mais novo usava. “Kim Junmyeon, você odeia esse cara! O que é que você está fazendo? Apenas diga logo pra ele o que quer dizer e entra na droga da cena do crime!”. Junmyeon tinha certeza que aquela era a voz da sua consciência e ela estava certa. Portanto, apenas pigarreou e soltou o braço do agente, que nem havia percebido ainda estar segurando.

– Já que é seu primeiro caso, é melhor só observar. Deixa que eu fico à frente desse caso e você vai tomando nota de como é que se faz. – Junmyeon retirou os óculos escuros e passou pela porta da frente aberta, perdendo-se no interior da casa.

Sehun suspirou profundamente e também retirou seus óculos, pendurando-os na camisa. Balançou a cabeça negativamente. Não sabia se estava com ódio do agente que não lhe dava a menor abertura para serem parceiros de verdade ou se estava decepcionado consigo mesmo, por ser um covarde medroso, que não tinha os culhões necessários para enfrentar o baixinho mal-humorado, principalmente depois de ter sido empurrado violentamente contra a parede – e não no sentido que ele gostaria. Sentindo-se praticamente de mãos atadas, apenas seguiu o outro para a cena do crime.

Sentiu a tensão que envolvia seu corpo dissipar-se, mesmo que apenas um pouco, quando viu aquele rosto conhecido, em meio aos outros policiais. Lee Taemin. Não sabia ao certo o motivo para sentir-se tão confortável na presença do policial, já que encontravam-se apenas ocasionalmente. Talvez fosse o semblante amigável que o mesmo exibia sempre que se viam, que não era diferente naquele momento. Um sorriso sutil surgiu nos lábios do agente, apenas correspondendo aquele que via no rosto agradável do colega de trabalho.

– Agente Oh! Que bom que juntou-se à nós. – O policial Lee curvou-se em um cumprimento breve, sendo reverenciado da mesma maneira por Sehun.

Já havia visto como muitos agentes cumprimentavam os policiais, como se fossem menos importantes apenas por não portarem o título de “agentes”. Bom, aquela diferença pouco importava para Sehun, que havia sido criado sob a ideologia do pai, de que todos, independente de raça, cargo ou posição social, merecem respeito.

– Já era tempo, não é mesmo? – Sempre áspero, Junmyeon nem se deu ao trabalho de encarar Sehun, que o olhava, reprimindo a enorme vontade de revirar os olhos diante daquela frase completamente desnecessária.

– Então, policial Lee, o que temos aqui? – Sehun tomou a dianteira, agora sim, sendo fitado de volta pelo agente Suho, que não parecia nada feliz com o fato do agente Oh ter feito aquela pergunta.

“Qual a parte de ‘eu fico à frente desse caso’ esse idiota não entendeu?”, Junmyeon questionou-se mentalmente e estava prestes a resmungar algo para o novato que não se colocava em seu lugar, quando o policial Lee iniciou a passagem do caso. O Kim apenas bufou e voltou sua atenção para o rosto já tão familiar, que costumava passar-lhe os casos, quando ele e Hyuna ainda eram uma dupla.

– A vítima é Cho Changsoo, 23 anos, encontrada há aproximadamente uma hora pela amiga, Son Naeun. As duas deveriam se encontrar às 07h para exercitarem-se juntas, como de rotina, e a senhorita Son preocupou-se quando a vítima não apareceu no local e hora marcados, vindo até a residência da mesma e encontrando-a desta forma. Segundo a Polícia Científica, a causa da morte foi por asfixia e o horário da morte, de acordo com a temperatura e rigidez do corpo, foi entre as 22h e 23h da noite de ontem. – O policial Lee discursava com destreza sobre o caso, vez ou outra olhando em seu bloco de anotações. Provavelmente já havia feito discursos semelhantes a este muitas outras vezes e era muito bom nisso.

Antes de agachar-se para analisar o corpo da atriz, Sehun deixou que seus olhos percorressem o ambiente no qual se encontravam. Era uma sala de jantar simples, porém muito bem decorada, separada da cozinha apenas pelo balcão de mármore, no estilo americano. Sob a mesa de vidro, utensílios usados estavam espalhados, indicando a possibilidade de uma refeição ter sido realizada ali, pouco antes da morte da vítima.

Focou-se naqueles utensílios: dois pratos, ainda com resquícios de comida, os talheres usados, abandonados desordenadamente sobre a superfície, dois castiçais dourados, cujas velas já haviam queimado até o final, restando apenas cera fria em suas laterais e respingos sobre o vidro, uma garrafa de vinho não terminada e, por fim, duas taças quase vazias.

Sehun poderia estar completamente errado. No entanto, depois de visualizar e memorizar cada cantinho e objeto presente naquela cena, a única suspeita que lhe restava era a de que a vítima estava em um jantar romântico, um encontro.

– Encontraram vestígios de DNA? – O agente Suho, que analisava de perto o corpo da atriz, questionou.

– Os peritos encontraram duas digitais distintas nos utensílios sobre a mesa e DNA tipo saliva nas taças e talheres. Quanto ao corpo da vítima, encontraram resquícios de pele sob as unhas das mãos e disseram que é provável que as digitais do suspeito tenham ficado marcadas no hematoma ao redor do pescoço, mas que só o legista poderia dizer com certeza.

No mesmo momento em que o agente Oh abaixou-se para analisar melhor o corpo rígido, que descansava não tão pacificamente contra o chão frio da sala de jantar, o agente Suho levantou-se e pôs-se a analisar o restante da cena do crime. Sehun, focado na expressão pavorosa que aquele rosto tão bonito portava, podia ver o medo estampado nas íris enegrecidas da vítima, cujos olhos estavam vidrados, encarando agora o que parecia ser o além. A boca levemente entreaberta, como se sussurrasse um pedido mudo de ajuda.

Em seu pescoço, a marca arroxeada cobria quase toda a pele exposta, relativamente grande demais para ter sido provocada por mãos femininas. Não haviam hematomas nos braços, o que poderia indicar que o suspeito não a segurou pelos braços, mirou diretamente em seu pescoço. Porém Sehun percebeu uma ou outra unha quebrada, provavelmente resultado da luta que tivera com assassino. Os joelhos estavam levemente flexionados e tombados para o lado. No entanto, seu torso permanecia ereto.

– Parece pessoal. – Sehun murmurou, mais para si mesmo, com uma nota mental. No entanto, o policial Lee estava perto demais.

– O que disse, agente Oh? – O jovem de olhos arredondados questionou.

Sehun levantou-se e, imediatamente, procurou pelo agente Suho, que parecia imerso em seus próprios pensamentos, observando atentamente a cena do crime, como ele mesmo havia feito minutos atrás. Suspirou baixinho e aliviado, pois tinha a mais absoluta certeza de que seu parceiro não gostaria de vê-lo especulando possibilidades e, muito menos, compartilhando-as com qualquer pessoa, independente de quem fosse.

Abriu a boca na intenção de explicar-se melhor para o policial, porém sua fala logo foi interrompida pela voz ríspida do agente Suho.

– Parece que o encontro da senhorita Cho não terminou como o esperado. – Junmyeon ia caminhando lentamente de encontro aos outros dois, observando um detalhe aqui e ali, que poderia ter deixado passar à primeira vista. – Os objetos sobre a mesa indicam que a vítima e o suspeito estavam em um jantar romântico. Afinal de contas, não se costuma acender velas para jantar com amigos.

– Tem razão. – O policial Lee concordou, anotando algo rapidamente em seu bloco de notas. – O agente Oh também parece achar que o motivo da morte foi pessoal. – Sehun sentiu algo gelado percorrer sua espinha. Sabia que Taemin estava tentando ajudá-lo, era bom o suficiente para perceber o tom de voz amigável e a expressão facial complacente que o outro portava. Porém, presumia que a reação do agente Suho não seria tão boa quanto, já que ele deveria apenas “observar e tomar nota”.

– É mesmo, agente Oh? – Junmyeon cruzou os braços à frente do peito, lentamente. Não conseguia acreditar na petulância do novato, que parecia ser burro o suficiente para não entender – ou fingir não entender – as instruções claras que lhe foram dadas.

Sehun engoliu em seco. Não sabia se aquela era uma pergunta retórica ou se o agente apenas ficaria com mais raiva, mais do que já aparentava estar, se ele apenas o ignorasse. Apesar de que o mais novo estava quase acostumando-se àquela carranca, já que parecia ser a única expressão que Junmyeon conhecia.

Durante os dias que se seguiram desde o treinamento, Sehun passou a observar Junmyeon de longe. E, de todas as milhares de vezes que se pegou olhando escondido para o mais velho, não o viu sorrindo nem uma única vez. Nem quando navegava no celular nas horas vagas. Nem quando estava na presença de Jongdae e Minseok – momento em que era humanamente impossível não soltar nem uma risadinha que fosse. Junmyeon parecia ser cheio de tédio, rancor, remorso e raiva.

– Sim, agente Suho. O enforcamento é uma das formas de assassinato mais pessoais que há, já que o assassino consegue olhar diretamente nos olhos da vítima enquanto toda a vida se esvai. Eles estavam em uma sala de jantar e há inúmeros objetos que ele poderia escolher para matá-la, mas ele preferiu enforcá-la. Se ele realmente queria enforcá-la ou se agiu impensadamente, num momento de raiva, só saberemos quando o encontrarmos. No entanto, qualquer uma das opções sugere que os dois já eram próximos e que esse jantar não era o primeiro encontro dos dois.

Junmyeon pendeu a cabeça para o lado, quase imperceptivelmente, analisando o homem alto e de camisa social que o encarava de volta. Lembrou-se do agente D.O dizendo que Sehun havia se formado com honras na Academia de Polícia e que também havia terminado em primeiro lugar o curso de Agente Federal. Talvez ele não fosse tão idiota como vinha pensando durante todo esse tempo. No entanto, ele não deveria ter nada de especial, já que precisou da ajuda do pai para ser aceito no departamento. Continuava sendo patético e Junmyeon não precisava de um parceiro deste tipo.

– Finalmente, você não está errado em algo, agente Oh. Já era tempo de acertar alguma coisa, mas acredito que tenha sido sorte. – Junmyeon podia jurar que vira uma mistura de confusão e satisfação na expressão facial de Sehun. Talvez tivesse sido pego de surpresa pelo quase elogio. – O que foi? Tá esperando um agradecimento?

Sehun balançou a cabeça, em uma negativa. Não porque estava negando a pergunta do agente Suho, mas porque sentia-se decepcionado com a reação do outro. Será que algum dia ambos se dariam bem? Recusava-se a aceitar que alguém podia ter uma natureza tão complicada de lidar como Junmyeon e acreditava que, mesmo que bem lá no fundo, existia alguém bom, apenas machucado pelos acontecimentos do passado. E pretendia alcançar esse Junmyeon preso e ferido, pois ele mesmo sabia como era desagradável e solitário trancar-se em um calabouço de ódio, mágoa e pesar.

– O IML chegou para levar o corpo, policial Lee. – Uma voz feminina tirou Sehun de sua divagação. No entanto, não chegou a ver a quem pertencia, já que tão rápido quanto a mulher entrou no recinto, tão rápido ela saiu depois do aceno positivo do policial.

– Fiquem à vontade, agentes. Vou acompanhar a remoção do corpo. Se soubermos de mais detalhes, entro em contato com vocês. – Taemin curvou-se em despedida, sendo respondido por ambos agentes.

Antes que o policial pudesse sumir de vista, Sehun lembrou-se de algo que ele havia dito logo quando começou a repassar o caso: o corpo havia sido encontrado por uma amiga. Precisariam conversar com a moça, que já poderia ser considerada uma testemunha. Chamou uma vez pelo sobrenome do policial, que parou de seguir seu caminho e virou-se para encarar Sehun, sempre portando uma expressão amigável. Sehun apressou-se a ir de encontro ao colega, deixando para trás um Junmyeon intrigado.

– Policial Lee, você disse que o corpo havia sido encontrado por uma amiga da vítima. Sabe como podemos encontrá-la?

– Sim, claro! Perdão pelo deslize. É verdade, quem a encontrou foi a senhorita Son Naeun, também atriz e amiga da vítima há alguns anos. Ela está nos fundos da casa, acompanhada por um dos nossos e já foi informada que irão falar com ela.

– Obrigado! – Sehun elevou o braço e tocou cordialmente o ombro de Taemin, que exibiu um sorriso em retorno e retomou sua rota.

O agente virou-se para procurar Junmyeon e foi surpreendido pela proximidade do outro, que encontrava-se logo atrás de si. Notou que ele estreitava os olhos e pendia levemente a cabeça para o lado, como se possuísse milhares de questionamentos internos. Estava pronto para ouvir o sermão que sabia que seria dirigido à si, por estar sendo pró-ativo demais. Respirou fundo quando o outro começou a falar.

– Agente Oh… desde quando você e o policial Lee são amigos?

O mais novo foi pego de surpresa. Nem em um milhão de anos poderia imaginar que seria aquilo que sairia da boca de Junmyeon. Esperava que o outro fosse lhe repreender por estar perguntando demais, dando opinião demais, sobressaindo-se demais. Não pôde evitar piscar algumas vezes, confuso, tentando entender o sentido por trás daquela pergunta. Estaria Junmyeon com ciúmes do policial Lee? Afinal de contas, os dois se conheciam há mais tempo e pareciam ter um relacionamento cortês, porém não era exatamente o que Sehun chamaria de “amizade”.

– Hum… Eu diria que somos conhecidos? Só nos encontramos algumas vezes na lanchonete do departamento, enquanto almoçava com Minseok e Jongdae e conversamos sobre assuntos comuns, eu acho…

Junmyeon sentia algo dentro de si lhe incomodar e, por esse motivo, sabia que algo não estava certo. A explicação de Sehun deveria acalmar-lhe, no entanto, parecia que aquilo somente piorou a situação e o deixou como se tivesse uma pulguinha atrás da orelha. Estava sendo muito duro com o agente Oh? Se o Tico e o Teco haviam aproximado-se tanto do novato, isso significava que ele não era uma pessoa ruim, assim como já havia demonstrado não ser um agente ruim. Talvez devesse dar uma chance a ele.

Balançou a cabeça, afastando tais pensamentos. Não podia. Pensava em si mesmo, porém, lá no fundo, pensava no agente Oh. Seria melhor para ambos se seguissem caminhos separados, seria melhor se Junmyeon jamais tornasse a ter um parceiro.

– Você veio aqui para ficar de conversinha nos corredores e fazer amigos, agente Oh? Não há lugar para pessoas assim na minha equipe. Ou você foca em tentar ser o melhor agente daquele departamento, ou cai fora. – Junmyeon segurou o ímpeto de agarrar o novato pelo colarinho, mais uma vez. Porém sabia que mais uma explosão lhe renderia novas consultas com o Dr. Lee e, para ser sincero, estava ficando cansado de olhar para a cara do psicoterapeuta. Sentia que há algum tempo já não havia avanços na terapia, como se tivesse alcançado tudo que o Dr. Lee pudesse oferecer. Se não conseguia encontrar o assassino de Hyuna, então precisava encontrar outra coisa que o ancorasse à realidade e, quiçá, o curasse.

Por esse motivo, apenas deixou que a voz sussurrada em tom de ameaça surtisse o efeito desejado no agente mais alto e pôde ver seu pomo de adão movimentando-se uma vez, indicativo de ansiedade. Ótimo. Talvez se Sehun se sentisse pressionado demais, pediria troca de parceiro ou até mesmo de departamento. Deu as costas para o outro e rumou aos fundos da casa, onde o policial Lee dissera que poderia encontrar a tal amiga da vítima.

Mal havia cruzado a porta que levava à parte de trás da casa, quando viu o agente Oh em seu encalço. Contraiu os músculos da bochecha e deixou que uma careta de desgosto fosse desenhada em sua face, suspirando fundo apenas uma vez. Livrar-se daquele homem seria tão difícil quanto livrar-se dos pensamentos que o corroíam durante a noite. Mais um problema a ser adicionado em sua já não tão pequena lista.

Tentou ignorar o carrapato que parecia não desgrudar de si e seguiu rumo à testemunha, que estava sentada em uma cadeira de balanço, acompanhada de um policial. Seu olhar estava fixo em algum ponto do horizonte e ela pareceu não perceber a aproximação dos dois agentes. Levou mais que duas tentativas de chamá-la pelo nome, antes que a mesma piscasse algumas vezes e, finalmente, virasse o rosto para encarar os recém-chegados. Seus olhos e nariz possuíam um intenso tom avermelhado, indicativo de que poderia estar chorando há algum tempo.

Caminhando até a testemunha, era como se Sehun visse a si mesmo sentado naquela cadeira. Era sempre assim. Durante toda a sua formação, não conseguia deixar de se colocar no lugar daqueles que perdiam o ente querido, não conseguia evitar que imagens do próprio passado viessem à tona em sua mente e, o pior de tudo, não conseguia impedir a si mesmo de absorver a dor do outro. Aquilo o machucava muito mais do que qualquer agressão física e Sehun sabia que se sentir assim não era nem um pouco saudável. Talvez devesse seguir o exemplo do agente Suho e voltar para a terapia.

O único pensamento que apaziguava as turbulências de seus sentimentos era o de que ele era bom o suficiente para encontrar o suspeito e levá-lo à justiça. E era nisso que se apegava, era isso que o impedia de afogar-se em mágoas e vícios. Na verdade, ajudar a capturar assassinos era seu vício.

– Senhorita Son, sou o agente Suho, do Departamento de Homicídios. Sinto muito por sua perda.

– Obrigada, agente. – A moça portava um sorriso breve, porém nada refletido em seus olhos. Aquele gesto era apenas cordial, um agradecimento à gentileza dita, mas que não retratava seus verdadeiros sentimentos.

– Tudo bem se eu lhe fizer algumas perguntas?

– O outro rapaz não vai se apresentar? Se Soo estivesse aqui, ela diria que essa é uma atitude muito rude… Ela gostava de conhecer todos ao seu redor, sabe? – Naeun utilizou o lenço em suas mãos para enxugar as novas lágrimas que insistiam em brotar de seus olhos.

Sehun deu dois passos curtos à frente, posicionando-se ao lado de Junmyeon. Sabia que aquilo o irritaria, pois estarem lado a lado é indicativo de que são iguais e, apesar de terem feito o mesmo curso – mesmo que em épocas diferentes –, sentia que o agente não o via como igual.

– Perdão se fui rude, senhorita Son. Sou o agente Oh, mas tudo bem me chamar de Sehun. Eu e o agente Suho somos…

– Afiliados. – Junmyeon nem sequer deixou que Sehun se apresentasse como seu parceiro. Aquela ideia lhe assustava tanto assim?

– “Afiliados” é um novo termo para “parceiros”? – Naeun questionou e nenhum dos agentes se pronunciou. Poderia não ser essa a intenção da moça, mas a pergunta tornou-se retórica assim que foi proferida. – Soo gostaria de ouvir isso, ela era extremamente inteligente… Sempre buscando aprender mais, inclusive palavras novas. – Uma risada sem vida surgiu por entre os lábios da testemunha, seguida de mais lágrimas. – Sabe, agentes, estou aqui sentada há algumas horas e tudo que penso é seguido de “Soo gostaria disso” ou “Isso é a cara da Soo”... Quem faria uma coisa horrível dessas?

– É exatamente isso que estamos tentando descobrir e, sei que é difícil, mas precisamos da sua ajuda. – A moça apenas concordou. – Vocês eram amigas há quanto tempo?

– Acho que há uns quatro anos, agente Suho.

– E quão próximas vocês eram? – Junmyeon questionou e Sehun achou que seria melhor tomar nota das respostas, já que não participaria daquela conversa tão cedo. Retirou seu bloquinho do bolso da calça e pôs-se a anotar o que achava relevante.

– Muito próximas! Ela era uma das minhas melhores amigas e sempre dizia que eu também significava muito pra ela… Nós costumávamos nos encontrar todos os dias e, quando isso não era possível, conversávamos por chamada de vídeo, voz ou mensagens de texto. Mesmo se uma de nós estivesse fora do Estado, a trabalho ou lazer, esse ritual nunca era quebrado.

– E o que te fez suspeitar de que algo estava errado quando ela não apareceu pela manhã?

– Ela nunca se atrasava! Nunca faltava a um compromisso! Pelo menos, não sem avisar antes e pedir mil desculpas. Em toda minha vida, agentes, eu nunca conheci uma pessoa tão organizada quanto a Changsoo! Quando ela não apareceu no nosso ponto de encontro e não mandou nenhuma mensagem se explicando, eu sabia que algo não estava certo. Então eu corri até aqui e… – A realidade era pesarosa demais para que fosse dita em voz alta ou para que o choro fosse impedido de retornar.

– Senhorita Son, você conhece alguém que poderia fazer mal à Changsoo?

– Não conheço, agente Suho… Até mesmo os figurantes, que costumam odiar os atores principais por achá-los esnobes, adoravam a Soo… Ela era atenciosa com todo mundo, iluminava qualquer ambiente em que estivesse… Não consigo lembrar de nenhuma pessoa sequer que pudesse pensar em fazer mal à ela.

– E namorados ou affairs? Ela estava vendo alguém?

– Sim. Nas últimas semanas, ela estava saindo com Kangjoon, Seo Kangjoon, um colega nosso de trabalho. Não era exatamente segredo o romance dos dois, porém, eles também não faziam questão de serem vistos juntos, então acredito que não há muita coisa sobre isso na mídia. – Ela pausou por um segundo e arregalou os olhos. – Vocês não acham que ele poderia ser o assassino?

– Vamos precisar falar com ele primeiro. Ela costumava sair com muitos homens? Preferia os mais velhos ou mais novos?

– Changsoo era muito popular e conseguia ter qualquer homem que quisesse… Ela era encantadora, tinha um sorriso de dar inveja! Mas costumava sair com rapazes da nossa idade mesmo.

– Certo. – Junmyeon alcançou a carteira de identificação e tirou de lá um cartão, que continha seu número e o do Departamento. Estendeu-o para a jovem. – Caso lembre de qualquer coisa que possa ajudar no caso, mesmo que pareça banal, me ligue. – Os presentes despediram-se e o policial acompanhou a testemunha para dentro da casa, depois de ouvir as instruções dadas por Junmyeon para que encontrasse o senhor Kangjoon, deixando os dois agentes para trás.

Depois de vasculharem e coletarem informações no restante da casa e no quarto da vítima, os agentes Oh e Suho seguiram para a SUV, no sempre desconfortável silêncio. A quantidade de pessoas e de repórteres aglomerados nos arredores havia duplicado, se não triplicado. A morte da atriz seria a notícia principal nos maiores jornais e revistas de Seul, talvez até mesmo de toda a Coreia do Sul. Sehun sentia um leve incômodo na cabeça, resultado da pressão que colocava em si mesmo para encerrarem logo esse caso. No entanto, naquele momento, era outra coisa que lhe preocupava.

– Agente Suho, tudo bem se eu dirigir? – Sehun coçou a nuca. Já sabia a resposta para aquela pergunta, porém precisava perguntar. Prezava demais por sua vida.

– Me dê um bom motivo. – Junmyeon retrucou, sem ao menos olhá-lo. Certo, essa não era a reação que esperava, porém respondê-lo estava totalmente fora de cogitação.

Como dizer a um homem que já te odeia “Ei, você dirige mal pra caralho. Quase atropelou a velhinha no nosso caminho pra cá. Meu pescoço ainda dói de todos as arrancadas e freadas bruscas que você deu. Duvido até que tenha licença para dirigir, então, por favor, me passe as chaves do carro”? Impossível.

– Eu realmente não tenho um bom motivo. Só queria mesmo dirigir.

– E eu realmente não me importo com o que você quer. Pode voltar à pé, se não gosta da forma como dirijo, agente Oh. – Ouch. Era exatamente essa resposta que Sehun esperava ouvir, e, por isso, não deveria afetá-lo tanto. Contudo, a cada má resposta e alfinetada que recebia do parceiro, era como se sua existência diminuísse um pouquinho. Em breve, deixaria de existir.

O mais novo apenas suspirou, tentando convencer-se a não absorver o que era dito pelo outro, que era apenas a dor da perda falando mais alto. Já estava cansando-se de ser tratado daquela maneira. Não merecia, nem em um milhão de anos! Era um bom agente, um bom colega de trabalho e, acima de tudo, era um ser humano! Exatamente igual à Junmyeon. Teria que aprender a conviver com o mau humor constante do outro, se quisesse continuar naquele departamento. Já que mudar a opinião do agente Suho sobre si parecia impossível.

Havia fechado a porta da SUV e estava prestes a colocar o cinto de segurança, quando ouviu um toque ainda não familiar vindo do bolso de sua calça. Era o celular da agência e estava tocando. Pela primeira vez. Por mais bobo que parecesse, sentiu uma onda de animação invadi-lo, associado à uma pontinha de presunção. Afinal de contas, se o celular da agência estava tocando, só poderia ser relacionado ao caso e, quem quer que estivesse ligando, preferia falar com ele do que com o agente Suho. O que não era de se estranhar, devido ao temperamento não tão recém adquirido e que parecia não melhorar nunca.

Levou a mão ao objeto e encarou o visor, não reconhecendo o nome que brilhava na tela. Aliás, reconhecia-o pois lembrava de tê-lo ouvido antes, porém achava que ainda não havia encontrado o dono daquele nome, pois não conseguia ligá-lo a um rosto.

– Quem é “Agente Kai” mesmo? – Seu polegar já estava posicionado sobre o ícone verde, só precisava que sua mente fosse refrescada a respeito daquele que lhe ligava.

– É o agente responsável pela comunicação do departamento com a mídia. Ele costuma atuar quando se tem casos maiores, como o dessa atriz. – Até o próprio Junmyeon estranhou a resposta que deu. Estava tão acostumado em sempre maltratar Sehun, que respondê-lo sem tons ácidos ou sarcásticos parecia… diferente. E não necessariamente um diferente ruim. – Por quê? É ele quem está te ligando?

– Aham.

– Por que ele está ligando pra você e não pra mim?  – Sehun não conseguiu identificar se a indignação presente na voz de Junmyeon era real ou se ele estava apenas brincando. Apesar de não fazer o tipo brincalhão. – Deixa que eu atendo então. – Junmyeon girou o tronco e lançou-se sobre Sehun, com o braço esticado na tentativa de alcançar o aparelho que ainda estava tocando. No entanto, a mão grande de Sehun que se espalmou contra seu peito e o pressionava para voltar ao seu lugar, impediu-o.

Era quente. O toque de Sehun era quente e parecia queimar-lhe a pele do tórax, mesmo sob a camisa, cujo tecido não era tão fino. Não se lembrava da última vez que havia sido tocado por alguém por quem tinha algum interesse. Seus últimos relacionamentos – se é que se pode chamá-los assim – foram movidos a álcool e sexo com desconhecidos, o que não lhe dava o menor prazer. Aquele contato inesperado ardeu em sua alma e, mesmo que por um milésimo de segundo, Junmyeon se perguntou como seria ser tocado em outras partes de seu corpo por aquela mão firme.

Sentiu-se enrubescer e, o pior de tudo, havia admitido para si mesmo que alguma coisa naquele novato o atraía, sentimento que tentava impedir, mesmo que inconscientemente, que viesse à tona. Levemente atordoado pela batalha interna que travava, ajeitou sua postura no banco e girou a chave na ignição, buscando qualquer distração e pedindo à Buda que Sehun não tivesse percebido nada. No entanto, Sehun tinha a certeza de ter sentido um coração disparado contra sua palma. O que o surpreendeu, já que era algo que nem imaginava que o agente Suho possuía.

– Melhor atender logo, antes que ele desligue. – Junmyeon resmungou, manobrando para seguirem o caminho de volta ao Departamento.

– Agente Oh. – Sehun respondeu, logo após limpar a garganta.

Agente Oh! É bom finalmente conseguir associar uma voz ao seu nome! Ainda não tivemos a oportunidade de nos conhecermos, mas sou o agente Kai, responsável pela parte de comunicação do departamento. – A voz do outro lado da linha era grave, suavemente rouca e, Sehun precisava admitir, bastante sedutora, mesmo no tom animado.

– É um prazer falar com você, agente Kai! Em que posso ajudá-lo?

Sei que você e o agente Suho estão trabalhando no caso da atriz Cho Changsoo e preciso ser honesto… Não somente a mídia, como nossos superiores, estão me pressionando para dar um pronunciamento oficial sobre o acontecimento. Então, preciso saber o que descobriram na cena do crime, ou não vão nos deixar em paz!

– Certo, vou te colocar no viva-voz, o agente Suho pode me ajudar com isso. – Sehun podia jurar ter ouvido um resmungo baixo do outro lado da linha, porém achava que Junmyeon não ficaria nada satisfeito se saísse dando informações do caso que deveria apenas observar. Apertou o botão com o ícone de alto-falante. – Pronto, o agente Suho também pode te ouvir.

– Jongin! Quanto tempo! – Junmyeon soou íntimo demais, na concepção de Sehun.

Agente Suho. – O outro respondeu, frio. Talvez a intimidade estivesse apenas na cabeça de Junmyeon. – Preciso de alguns detalhes para montar o pronunciamento. O que vocês têm pra mim?

– A senhorita Cho estava em um encontro quando foi morta, é provável que ela já conhecia o suspeito. Foram encontradas digitais diferentes das dela na cena do crime. O hematoma que ela apresentava indica que o crime foi cometido por um homem, provavelmente na faixa de 20 a 30 anos de idade, já que a vítima não deixou indícios de que se relacionaria com homens muito mais velhos ou muito mais novos. Infelizmente, é tudo que temos por enquanto.

Não é muito, mas vai saciar os abutres por enquanto. Sehun, quer acrescentar mais alguma coisa?

– Não, acho que o agente Suho já disse tudo.

Certo… De toda forma, me ligue quando tiver mais informações, sim? Foi um prazer, agente! Espero te conhecer pessoalmente em breve. – Jongin despediu-se de Sehun animado, ignorando completamente Junmyeon. O silêncio incômodo assentou-se entre os dois novamente.

Junmyeon mal pisou dentro do departamento e já pôde ver o Tico e o Teco vindo, com expressões curiosas, em sua direção. Conteve o ímpeto de abrir os braços, no estilo Tony Stark no primeiro Homem de Ferro, esperando seus fãs bombardearem-no de perguntas sobre o mais novo caso. No entanto, da mesma forma que o Tony foi atingido por uma bomba, Junmyeon sentiu-se nocauteado quando viu os dois traíras passarem por si, apenas dando-lhe alguns tapinhas nos ombros e nas costas, e dirigirem-se ao novato, cumprimentando-o animadamente. Parece que a dupla dinâmica havia arrumado um novo melhor amigo. Virou-se para encarar o trio, já preparando seu comentário indignado, quando foi interrompido por Jongdae.

– Junmyeon, você tem visita. – O agente apontava para a mesa do colega.

Sehun não conseguiu impedir-se de observar o parceiro, que havia ajoelhado-se no chão e deixava os dois braços estendidos, com as palmas para cima. Desviou o olhar para onde Jongdae havia apontado alguns segundos atrás e viu uma criança correndo na direção de Junmyeon.

– Tio Myeon!

Era quase como em uma cena de filme e parecia totalmente irreal para Sehun. O agente Suho havia pego a criança no colo e girava-a no ar, abraçando-a. No entanto, não era somente esse fato que surpreendeu Sehun. Junmyeon estava sorrindo. Um sorriso genuíno, repleto de sentimentos e jamais visto antes. Era bonito, muito mais do que poderia sequer ter imaginado. Sentiu-se anestesiado por aquela cena, como se a imagem dura e ríspida do parceiro tivesse sido totalmente desconstruída.

Sehun sabia que havia alguém diferente escondido no parceiro, mas perdia as esperanças a cada segundo que passava ao lado dele, a cada comentário ou resposta indelicada que recebia de volta, a cada olhar grosseiro que era dirigido a si. Contudo, ali estava a prova que precisava para ter a completa certeza de que Junmyeon apenas estava machucado e que precisava de ajuda, além do que apenas um profissional pode oferecer.

– Eu não sabia que o agente Suho tinha um sobrinho. – Sehun comentou, ainda estarrecido pela cena que presenciava.

– Não é sobrinho de sangue dele, é filho da Hyuna. – Minseok corrigiu, também observando o único momento em que as defesas pesadas do colega de trabalho pareciam cair e ele, mesmo que por alguns instantes, deixava transparecer quem ele foi e quem ele realmente era por dentro.

– E ele parece ser a única pessoa no mundo capaz de colocar um sorriso no rosto do Junmyeon. – Jongdae sussurrou; não queria ser ouvido pelo colega, mesmo que este estivesse completamente imerso na presença da criança.

Aquilo era algo ao qual Sehun poderia se acostumar. Ouvir a risada gostosa do parceiro, a forma como conversava e perguntava do dia da criança, deixando que seu rosto se iluminasse ou que um biquinho de desaprovação aparecesse em seu rosto, dependendo da resposta do baixinho. O clima parecia leve, fácil de lidar e era como se algo dentro de Sehun se acendesse, exatamente quando ele olhava para os lábios curvados em um sorriso, talvez o sorriso mais bonito que já havia visto até hoje.

Não sabia exatamente de onde havia saído aquele sentimento, mas se tinha certeza de qualquer coisa na vida até aquele momento, era que não queria deixar que aquela criança fosse a única razão da felicidade de Junmyeon.


Notas Finais


Acho que ser legal é algo que não está no dicionário de Kim Junmyeon... Coitado do Sehun, será que ele tacou pedra na cruz pra merecer esse traste? Aguardando ansiosamente os acontecimentos mudarem hahahahaha

Enfim, se você leu até aqui, quero te agradecer imensamente! E aproveitar pra dizer que tô sempre disponível pra bater um papo e aberta à críticas construtivas, seja por aqui ou no twitter [softmyeon]. Espero ver vocês no próximo capítulo!


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