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História Castle of Glass - A Garota sem Sorte


Escrita por: CherryCool

Capítulo 4 - A Garota sem Sorte


Fanfic / Fanfiction Castle of Glass - A Garota sem Sorte

Freya nunca se viu em uma circunstâncias tão adversa, destoante de sua vida monótona e segura por trás das paredes reforçadas da mansão Reinhard. Tudo que pensou foi que, para Crow, deveria ser recorrente sobreviver arduamente a base de políticas de segurança injustas e a discriminação que cerca as autoridades que geriam Satellite. O inescrupuloso poder e a rígida postura que exerciam sobre aquele povo sofrido e marginalizado permitiu que interpretasse melhor as ações do ruivo e enxergar nele um símbolo de liberdade, sobretudo, que oferecia esperança e condições mais dignas as crianças pobres a abandonadas.

Ousou, inclusive, a se questionar quem seriam os verdadeiros vilões ao testemunhar a negligente realidade com seus próprios olhos. O rugido do motor da Black Bird, rompeu seus devaneios, ofuscando suas conjecturas quanto as posições sociais na qual, no atual momento, não passavam de distrações sem relevância.

O som estridente que alertava a proximidade da Security forçou o jovem fugitivo a aumentar a velocidade do D-Wheel para que, dessa forma, os despistasse com percursos irregulares e intersecções pelos becos e prédios em ruínas que, aparentemente, ele conseguia, sem muito esforço, percorrer. A vantagem de Crow consistia no quanto ele conhecia a área, mapeando mentalmente cada seguimento do local.

Em um movimento um tanto brusco, entrou em um conjunto de apartamentos velhos e arruinado, reduzido a um monte de escombros e móveis avariados. Desligou veículo tendo a cautela de cobri-lo com uma lona suja que não levantaria suspeitas para investigação desnecessária. Ainda com o corpo tenso da perseguição e pelo sentimento aflorado de perigo constante, se sentou próximo a janelas para vigiar a circulação dos guardas e ter um conhecimento prévio de quantos estavam lidando. Freya se limitou a copiar cada mínima ação executada pelo rapaz, cônscia de que ele, mais experiente, saberia a melhor maneira de se comportar diante de um risco iminente.

– Teremos que ficar aqui até irem embora, você não se importa, não é? – a pergunta dirigida a ela, fez com que considerasse que o rapaz se importava mais com sua opinião do que pensou para uma desconhecida. – Se tiver algum lugar melhor para a senhorita ir, podemos arriscar. – acrescentou bem humorado.

– Estou bem aqui – não resistiu ao ímpeto de rir, por mais bobo que soasse.

– Esses caras são insistentes, mas uma hora acabam desistindo – afirmou circunspecto, apoiando a cabeça nos braços atrás da cabeça. – Bem previsíveis.

– Não é sua primeira vez? – inquiriu com a mesma dose de gracejo do ruivo.

– Minhas marcas me denunciaram? – arqueou uma das sobrancelhas convencido, esboçando um sorriso franco. – Não se preocupe, senhorita. Vou garantir que voltemos inteiros.

– Que lisonjeiro.

– Já que seremos obrigados a ficar um tempo aqui, me conte sobre sua busca. Claro, se não for um incômodo.

Freya suspirou.

– Minha família é apenas eu, meu avô e minha irmã Eva – começou, um pouco incerta se deveria se abrir tanto após, durante muitos anos, manter seus sentimentos trancafiados a sete chaves. Intocados e silenciados até de seu pai, como muitas vezes chamava seu avô. – Meus pais morreram quando era muito jovem, em um acidente... Pelo menos, foi o que me disseram. Eva seguiu carreira como uma renomada estudante e uma cientista em ascensão, sem nunca deixar de conversar comigo seja por mensagens, telefonemas e cartas. Ela sempre foi muito cautelosa e, enquanto metade das pessoas faziam algo sem pensar, Eva avaliava profundamente tudo antes de se mover. Nos últimos meses, a faculdade dela cobrava mais tarefas dela e resultados de um projeto confidencial e o tempo livre que desfrutávamos juntas diminuiu gradativamente. Então, repentinamente, mandaram a carta anunciando que ela teria morrido em um acidente no laboratório... Algo que não faz o menor sentido – abraçou firmemente os joelhos. – Sinto que eles estão tentando distorcer a verdade sobre o que houve e sou a única que pode apurar os fatos.

– E seu avô?

– Ele não faria nada, somente se resignaria com a suposta morte. – o fitou com semblante cansado. – Sempre foi assim. Ele se nega a conversar sequer sobre a morte dos meus pais e certamente não vai me auxiliar com esse assunto, estou sozinha.

– Sozinha não, eu ainda posso te ajudar como eu puder se quiser – roçou o indicador pela bochecha, evitando contato visual para não perder a compostura.

– Agradeço, Crow. – encarou o tento decomposto pelo efeito devastador do tempo. – E você? Não tem família?

A feição tranquila se desfez com a finalização da sentença proferida, sendo, gradativamente, substituída pela melancolia que esculpiu uma máscara de conformidade em sua face. Não obstante a mudança nele e na própria atmosfera que os envolvia, Freya se encolheu com receio de ter, sem intenção, tocado em um tópico muito pessoal e sensível da vida do rapaz.

– É complicado de explicar. Na verdade, não sei como pôr isso em palavras. – se aprumou, recostando despreocupadamente na parede empoeirada.

– Lamento minha intromissão - desculpou-se com um rubor fraco salpicando suas bochechas.

– Relaxa, não vejo problema nisso.

Crow se calou ao escutar, bem vagamente, ruídos de botas no piso arenoso, ficando totalmente em alerta. Os anos de constante ostracismo e perseguição lhe conferiam uma mais adaptável percepção do espaço ao redor, sabendo diferenciar os sons para determinar uma ameaça. Arrastou Freya com cuidado para um dos cômodos vazios, procurando um acesso rápido a uma rota de fuga. Sinalizou para que ela o acompanhasse, o que prontamente acatou, descendo por uma abertura na parede. Ele tinha que ser o mais breve possível, conseguir a proeza de dar a volta sem levantar suspeitas, pegar Black Bird e tudo isso em menos de três minutos para evitar a captura.

Engoliu e seco e verificou minuciosamente o lugar na qual jazia seu D-Wheel, o descobrindo e o ligando em um intervalo de tempo recorde que, certamente, não conseguiria repetir. Nesses minutos cronometrados, um dos guardas acabou os flagrando, preparado para atirar a rede de contenção: o ruivo puxou Freya para seu colo e disparou em velocidade máxima para fora, atraindo mais atenção. Não estava em seus planos ser preso tampouco permitir que Freya fosse junto, as coisas para os prisioneiros homens eram cruéis, mas estava consciente de que, para uma mulher, seriam piores.

– Parem! Esse D-Wheel irregular não será tolerado! – a voz autoritária berrou através do comunicador. – Se não pararem, seremos obrigados a usar a força.

Crow crispou os lábios com a hipocrisia deles ao agirem como se já não fossem abusivos o suficiente.

– Invocação Synchro! Apareça, Avenging Knight Parshath! – um zunido, alto, semelhante a badalar de sinos ecoou. Dos céus, sob feixes de luzes inócuas, uma criatura de aspecto angelical desceu em toda sua graça e glória, empunhando um escudo e uma espada pronta para batalha.

– Como conseguiu invocar um monstro synchro do nada? – gritou estarrecido através do ronco do motor em sua potência máxima. – Isso é impossível!

– Ele não é uma simples carta e está projetado fisicamente nesse mundo, não é uma mera ilusão dos nossos discos – esclareceu séria, sem dar brechas a interrogatórios desnecessários. – Assim teremos tempo para fugir.

Sem alternativa, Crow desistiu de encontrar uma lógica para o ocorrido, apenas se concentrou em sair das ruas sem serem interceptados pela Security. Freya limpou o sangue do canto da boca, um pouco cansada por ter usado sua amaldiçoada habilidade que lhe concedia a capacidade de trazer monstros de duelo ao mundo físico, como se criasse um portal para que as criaturas transcendessem de acordo com seu chamado, no entanto, o preço cobrado para tal façanha era perder parte da sua energia vital.

Não sabia ao certo como ou porque desenvolveu esse poder, mas servia algumas vezes para atenuar sua solidão. Pigarreou de leve para desobstruir as vias respiratórias provando o sabor de ferrugem desagradável. Assim que o rapaz estacionou, a garota explodiu em uma crise de tosse molhada, disfarçando a gravidade o melhor que pôde para gerar mais tensão ainda, com toda classe no qual fora moldada, se recompôs e esquadrinhou os arredores.

– Acha que eles perderam nosso rastro?

– Depois do seu truque, com toda certeza. Como conseguiu fazer aquilo? – se interpôs na frente de Freya que recuou por instinto.

– Longa história.

– Foi incrível, um pouco louco, mas realmente incrível – a aceitação prestigiosa do ruivo comoveu a garota que sorriu. – Melhor irmos logo, ficar a toa vai dar mais chances deles nos pegarem.

Assentiu.

O percurso de volta fora contemplado pelo sol forte e céu límpido, sem nuvens. A criançada afoita os receberam com lindos sorrisos afetuosos, aqueles que aqueciam o coração, todas felizes com o retorno de ambos. Freya assistiu em silêncio o grupo de pequenos rodear Crow, todos falando ao mesmo tempo para tentar, em meio a cacofonia, obter a atenção do rapaz que se desdobrava para acompanhá-los sem ignorar ninguém, porém, até alguém com a extraordinária paciência como a dele, não suportaria muita algazarra, sem esquecer o decoro ao dar sermões a eles. Cuidar de tantas crianças carentes seria um trabalho complicado e o ruivo o exercia com louvores e parecia não se importar com o empenho extra.

Entretanto, o momento de ternura fora arruinado com a rajada de vento criada pelo helicóptero da Security.

– Senhorita Freya, sob as ordens do diretor Goodwin e do sr. Reinhard, viemos resgatá-la – a voz no auto falante se prontificou à declarar com tom exigente e inflexível. – Cercamos o perímetro e qualquer movimento não coordenado será visto como um desacato e, como tal, iremos tomar todas as medidas cabíveis.

Com o coração martelando contra a caixa torácica, um tambor que pulsava em suas orelhas tamanha pressão e horror exposto: a ameaça era real, o medo rastejava em suas entranhas. Voltar para casa representava ser novamente trancafiada sem ter um julgamento digno. Aturdida com a abordagem, olhou para Crow e as crianças apavoradas e tomou a decisão.

– Eu voltarei sem resistência

– O quê? – o ruivo gritou surpreso.

– Mas somente com um acordo

– Não estamos aqui para fazer acordos, mocinha – retrucou impassivo.

– Ou façam ou terei que tomar minhas próprias providências – alertou em tom imperativo, algo que detestava usar, contudo, não via outras opções e a vida de seu novo amigo e dos pequenos estava em jogo. – Irei com vocês em troca de deixar essas pessoas em paz.

– Eu não posso deixar que te levem – Crow objetou, segurando de leve seu braço. Freya distinguia bem a apreensão parcialmente oculta nas chamas de fúria e adrenalina no olhar do rapaz. – Prefiro ficar e lutar para proteger você e as minhas crianças do que simplesmente te ver ir com eles.

Ela sorriu com a sincera afirmação e o abraçou.

– Não quero causar mais problemas. Prometo que quando tudo isso terminar, vou te procurar – prometeu, sentindo-o apertá-la com extrema delicadeza, como se fosse um artefato de porcelana. – O que acham?

– Você tem a nossa palavra.

Crow hesitou por um instante avaliando todos os pormenores, percebendo que eles detinha a vantagem e o correto era aceitar a ideia e priorizar a segurança dos inocentes e levá-los para outro abrigo para não desperdiçar a oportunidade, ajeitou os cinco no seu D-Wheel. Deu uma última olhada em Freya, sem conter a preocupação, mas ainda sorrindo com a coragem dela.

– Pronta, senhorita?

Para certificar que eles cumpririam sua parte, aguardou o som do veículo sumir para só então se encaminhar ao helicóptero.

A viagem de volta já anunciava sua condenação: as torres altas e os prédios que se sobrepunham imponentes sobre a cidade agitada. Eles a levaram, para seu desgosto, direto ao Departamento de Segurança Pública, conduzindo-a diretamente a sala onde se encontrava a figura de poder maior ali, aquele que só a simples menção a inquietava.

– Bem vinda, senhorita Reinhard – Goodwin saudou plácido. – Desculpe-me os modos, seu avô me contatou para buscá-la e como um velho amigo, não pude negar.

Estremeceu com a brisa fria invadindo a sala, temendo permanecer com aquele homem estranho que lhe despertava sensações pouco agradáveis.

– Não é comum que alguém da cidade, ainda mais uma nobre, fugir para Satellite. Ou talvez, tenha sido coagida a tal ato impensado.

Freya não era tola para cair no jogo dele que, ao montar um álibi falso para conservar a fachada de que não passava de uma vítima, uma dama da alta sociedade que foi submetida a alguma manipulação para abandonar a vida pacata e luxuosa para se esgueirar pelos esgotos igual o povo de Satellite. Além disso, não via verdade nos trejeitos e nas falas dele. Não iria corroborar com a intenção de manchar mais a imagem de pessoas que não tinham direito de se defenderem dessas acusações.

– Eu fiz por livre e espontânea vontade, não tenho vergonha em admitir isso. Foi uma boa experiência, é bom sair da bolha, respirar outros ares. Ver como as coisas realmente são – havia um timbre provocador que não fez questão de disfarçar.

Goodwin não esboçou afetação em sua postura estóica, embora não tivesse gostado de ser confrontado de modo tão petulante por uma criança. No entanto, optou por guardar suas opiniões para si e esperou Nikolai Reinhard se manifestasse com uma expressão nem um pouco satisfeita.

– Eu os deixarei sozinhos para que possam conversar.

– Estou decepcionado com você, Freya – aniu com pesar assim que Goodwin se retirou. – Já tenho problemas para resolver a respeito da investigação do acidente com sua irmã e todo necessário para o velório e ainda me faz passar por tamanha vergonha!

– Por favor, me ouça...

– Silêncio! Não quero ouvir desculpas, você provou que não pode ficar sem supervisão. Traiu minha confiança! – Freya se retraiu com o olhar severo que recebeu. – Eu passei os últimos meses ponderando sobre o assunto, mas você deu o passo decisivo para minha escolha final.

– Do que está falando?

– Eu sou um homem velho e não posso me desdobrar para mantê-la na linha. Junto com Goodwin, resolvi que está na hora de que você assuma seu papel como futura herdeira e contraía casamento.

– Eu me recuso! – vociferou num ímpeto selvagem. – Eu tenho dezoito anos, não sou uma criança! Não podem decidir algo assim por mim!

– Eu posso e vou. Além disso, com um marido do seu lado, você terá sua vida assegurada. Não quero que siga pelo mesmo caminho que Lydia – o rancor tremulou a voz dele, o que fez Freya quase se desfazer em lágrimas. – Sua mãe escolheu aquele idiota que ela chamava de visionário e acabou... – pausou, recuperando a compostura. – Você é minha neta e vou providenciar para que não cometa os mesmos erros que ela.

– Isso não é justo.

– Seu noivo é o filho de Goodwin. É um bom rapaz, tem personalidade, caráter e poderá lhe oferecer a vida que está acostumada. Ficarei muito satisfeito se você não se opor, Freya – seu tom diminuiu, transformando a ordem à um pedido singelo. – Eu quero o melhor para você. Sei que soa injusto agora, porém é o correto. Quero somente o seu melhor. Certamente no futuro irá me agradecer.

– Não tem como isso acontecer – cerrou os punhos, consternada e indignada.

– A partir de agora, estarei de olho em você. Quanto ao seu futuro marido – a dureza exprimida no olhar outrora gentil e terno a desencorajou a lamentar. – É ninguém menos que o jovem Jack Atlas.


Notas Finais


Fui pega de surpresa com o destaque e demorei pra digerir (estou feliz com isso *3*), mas voltei pro trabalho e encaminhar a história. Agradeço a todos que começaram a acompanhar :3


Até a Próxima!


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