Capítulo III:
Cativa
O palácio prateado e friorento reluzia na breve luz que se sufocava em meio ao céu nublado que compartilhava dos mesmos tons álgidos daquelas terras acinzentadas, o povo corria para lugares cobertos, pois uma fina chuva começava a rasgar de maneira inconveniente as nuvens lívidas e plúmbeas. Em meio aos passadiços silenciosos da moradia dos nobres argênteos, uma voz melosa e ríspida arranhava as colunas de tons neutros, a figura emoldurada de maneira delicada e cortês continha um semblante frouxo e inclemente. A alteza rosnava fios enquanto mantinha um olhar entediado em sua fronte.
“Injete em mim seus desejos... Incinere nossas correntes” as palavras fugiam de seus lábios trêmulos e rosados. Cada sentença estava repleta de lasso, vocábulos saídos dos beiços ressecados de uma boneca de porcelana, a mulher, cujo exibia uma coroa sutil em meio às madeixas lisas e tingida por um marrom melancólico e brandamente desbotado, acomodaram-se taciturna ao chegar ao centro do corredor, após ouvir um murmúrio estridente lhe chamar, jogou calmamente seu corpo para a direção aonde até então vinha, fitando a jovem de cabelos arruivados aproximar de si ofegante, segurando a barra do vestido amarelo mostarda – que chamava muito da atenção alheia – com detalhes simplistas como rendas cor creme.
― Minha senhora, seu esposo vós chama para a leitura de um convite de suma monta, ele deseja sua companhia e consentimento. ― Dizia a jovenzinha entre arfados inábeis, seu coração encontrava-se com os batimentos descompassados devido a sua inquietação e procura da rainha em intermédios daquela cidadela ruça de cores tão tuíras e sem graça para as crianças camponesas que procuravam um ideal colorido que esbanjasse o sentido da vida e aquele estágio no qual os mais velhos tinham tanto apego e nostalgia. Não encontravam, trazendo assim adultos duros e com falta de sentimentos: a “consequência do coração gélido” arrasava em grande massa cada um que continha o sangue prateado correndo pelas veias.
― Lalisa, Prapinya, não me importa afinal, o que eu lhe disse sobre essas vestimentas fantasiosas? ― queixou a amorenada, arranhando os tecidos de seu chamativo – e cheio de graça em detalhes primorosos – vestido de cores neutras, puxadas para o acinzentado. ― Não andejo por ai com uma dama de companhia trajando as peças que um bobo da corte usaria. Retire esse vestuário disforme imediatamente se ainda quer habitar este palácio e cargo dado-te. ― Sua maneira de falar fora ríspida e descontente, aquela fora sua deixa para se dissipar-se dali marfada.
Sua ida até a sala do trono foi apressada e completamente aborrecedora para sua pessoa, porém, não demorou muito para serviçais emburrarem as esguias portas, abrindo assim o lineal que seguia em rumo ao tablado no qual suas poltronas reais se encontravam. Seu esposo, o monarca Min, encontrava-se mais emburrado quanto sua mulher, esbanjava certa impaciência, talvez, pela demora do surgimento da cônjuge que governava todo um reino prateado junto a si.
Porém, a figura de aura negra e que esbanjava malícia com seu corpete apertado, surgiu-lhe no seu campo de vista, fazendo assim, desabrochar um sorriso dubitável. ― Como ousa ter tamanha afoiteza de deixar seu homem esperando desta maneira? ― Exclamou cínico com um entortar de lábios rude estampando seu semblante.
― Por obséquio, menos. ― Fez uma cortês referência e se instalou em meio ao grande trono ao lado do homem de madeixas prateadas assim como o brasão – um símbolo de prestígio que fora muito bem arquitetado pelos melhores artesãos da região há anos atrás – de sua potência cinza. ― O que há de tão importante neste convite trazido até nós, marido meu? ― Murmurou tocando-lhe o pulso alabastrino do mesmo, não houve qualquer tipo de choque devido ao laivo, ambas as epidermes encontravam-se gélidas como pedras de gelo.
― Ao que pareça um mensageiro do Reino de Aurum trouxe isto até nós em nome do rei das terras áureas. ― Fora logo muito objetivo, algo já previsível vindo de um imperante tão centrado e de aura tão nebulosa e álgida. Um verdadeiro exemplo, uma figura de excelente exemplo. ― Esperei-te para a leitura, pois estou ciente do quão acha detestável ser a última a saber. ― Pareceu insatisfeito com o mau hábito da consorte, porém deu continuidade, ao abrir cuidadosamente o envelope que esbanjava pigmentos dourados, tomando leitura do que havia escrito ali em uma carta breve. Os ares incertos e a movimentação pavorosa de suas orbes declararam o quão surpreso estava com tais sentenças escritas ali.
Ao notar o semblante enternecido do companheiro a fez em um mal súbito puxar-lhe a missiva e lê-la por conta própria, irrelevante com o olhar de reprovação do homem ao lado que se segurou para não agir de maneira minuciosa e grosseira contra a própria que compreendeu qual era o tal motivo para o outro estar tão surpreendido com o que dizia ali.
― Um jantar no Reino de Ouro para falar de negócios? “Uma reunião para parolear sobre uma possível trégua entre os reinos e fortalecer vossos laços conosco, senhores de sangue flavo. Creio que um tratado de paz entre os povos iria guiar novos rumos e acoplamentos benfazejos”, ― a mulher riu de modo nervoso. ― Muito garrida! ― Gracejou ironicamente. ― Isto é um disparte, um lídimo despautério. Kim Chung-dae declarou mil e uma guerras contra nós e agora deseja harmonia? Habilmente zombeteiro.
― Kim Chung-dae caiu nas mãos aleivosas da libitina cerca de dois intervalos mensais, pelo que minha pessoa está ciente. Quem reergueu ordem à monarquia amarela é teu filho primogênito, ao fim desta carta está assinado como: “Kim Taehyung”, quando a paz não era atordoada em todos os reinos, lembro-me de ver um pequeno pimpolho a correr como um cordeiro alvoroçado. É este que agora dita arranjos nos territórios cróceos. É um bom gaiato, pelo menos era em tal época.
A rainha não se encontrava deleitante com os ares que o esposo passava. Negava com a cabeça fazendo seus cabelos acastanhados rodopiarem negativamente pelo salão friorento e sem cor. Tal inquietude incomodou os planos do imperante que se ergueu subitamente de seu trono acinzentado assim como suas madeixas curtas e escorrida. ― Mulher, tu não tem opções, tentei ser alguém respeitoso ao esperar-te para a leitura desse inditoso convite. Caso seja do MEU agrado ir até esse banquete, assim será. Ás vezes esquece que quem manda em cada pedaço desse âmbito grisalho sou eu. Apenas a mim.
― Então faças o que achar-te melhor! ― Vociferou a mesma em um retruco desagradável o que fez o semblante do soberano se azedar, os punhos decorados com joias encaixados nos dedos finos e esbranquiçados estavam tensos e se cerrando enervados. Sem delongas, a imperatriz Jennie se deslocou de seu trono e caminhou até o grande lineal que dava entrada a sala dos monarcas. Virou-se exasperada antes de sumir pelas passagens da cidadela. ― Só esteja sabido que vou contra suas concepções sobre aqueles flavos néscios!
Esperou seu repudio ou a movimentação do conjugue atrás de si, porém, não estava em sua mocidade no qual o rei – até então na época um príncipe a pouquíssimos dias de se tornar um imperante – corria atrás de si, demasiadamente apaixonado por seus encantos. A senhorita de feições joviais e impecáveis batia seus saltos contra o piso, roçando a sola ao chão com rispidez em seu caminhar. ― Inepto impuro... Não vê que é tramoia, um embuste contra nós de sangue argênteo? ― “Nós”, sua mente debochou consigo mesma. Apenas uma asquerosa seiva mestiça corria a todo vapor em sua carcaça. Não havia nada de puro e prata em seu corpo além das pedrarias que decoravam seu exterior.
De qualquer forma murmurava aquilo – tamanho absurdo – para si mesma enquanto trilhava em direção ao topo mais alto daquele castelo, exemplo de luxuria e requinte. Ao chegar ao fim dos degraus que já deixavam de ser infinitos para si, seguiu reto ao espaçoso corredor indo em direção a uma única porta com uma maçaneta em forma de aro, mesclada com tons lívidos e ruços. Três batidas fracas sobre a madeira e mais duas, segundos depois com um pouco mais de firmeza foram suficientes para avisar o indivíduo ali escondido que alguém em especial estava ali.
― Que hora mais inoportuna para me incomodar... Minha filha. ― A mulher endureceu um olhar insignificante sobre a figura derivada de seu ventre agora se encontrando seco. A mulher-feita tinha longos cabelos negros com sua franja bem presa na altura de seus olhos para o lado direito. Seu semblante era de desgosto, a pele clara contrastava com os brincos avermelhados e um vestido que deixava os ombros à mostra, algo considerado extremamente chulo e desprezível para uma senhora da época.
Jovial como sua originária puxou sua menina para dentro do cômodo, a levando grosseiramente para leito aonde até então dormia. ― Que dislate, despautério acabou por fazer? Sabe muito bem que qualquer frivolidade pode fazer nosso lugar ao sol se deteriorar e ruir. ― Rosnou enquanto se locomovia pelo aposento, buliçosa. Ao ver a moreninha mordiscar os lábios e entrelaçar os dedos eriçados entre si pode ficar ciente que algo estava disforme do que imaginavam. ― Desembuche mentecapta. Não vê que estou ocupada com minhas poções.
Desde pequenina Jennie era subestimada pelo simples fato de ter se desenvolvido dentro de uma necromante. Após alcançar a idade de dezesseis anos, apta a crescer na vida e trazer fortuna a sua família – que se constituía em si mesma e a progenitora de ego inflamado –, sua mãe volteou um forte feitiço sobre o príncipe de prata, na época de escuridão e luto da nasceu devido à falência de seu imperante, Min Bon-hwa.
― Não chegou aos teus ouvidos tão pormenorizados? ― Suspirou pesadamente, mostrando certa descrença pelo fato da mais velha não estar ainda sabendo. Sempre estava um passo a frente de todos, até mesmo dos monarcas que governavam aquela terra gélida. A filha mordiscou os lábios e enquanto isso foi retirando a coroa que arranhava seu couro cabeludo naquele momento. ― Kim Taehyung, atual rei de Aurum convidou-me junto ao meu consorte para um jantar a fim de criar um acordo no qual anseia por menos conflitos entre os territórios de Aurum, Argentum e Aes. Sabe o que isto significa não é? Sem guerrilhas, sem a morte de Yoongi: sem uma colocação só no salão dos reinantes.
Bo-ah se silenciou em meio ao sua dependência e tomou-se pelo remanso, ruminando concepções sobre tal conjunção aludida pelo fruto de seu âmago. Um gracejo arranhou os lábios finos, um sorriso maldoso se apossou do semblante sombrio que cintilava nequícia e perversidade, retornando seu olhar breve e pravo para a outra dama que ali consigo estava. ― Ora, ora, uma abstração veio-me a psique. Por obséquio, escutai-me com prudência e muito desvelo. É de suma monta para nós.
― Diga-me tudo, mamãe. Estou toda a ouvidos.
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