História Cela 132 - Learn with Shakespeare

Tradução do título do capítulo: Aprenda com Shakespeare

Sorte. Com apenas cinco letras, essa pequena palavrinha com toda certeza nunca se encaixara na vida de Park Jimin; como no dia que ele finalmente havia ganhado o jogo caro que tanto queria e quando ele o tirou da caixa, o CD caiu no chão se partindo em milhões de pedacinhos.

Mas, o que acontecia agora era mais tenso que um simples jogo quebrado. Jimin estava completamente cercado pelo azar e não podia fugir, afinal, foi o que ele mesmo quem escolheu estar ali.

Ele se sentia esgotado. Nunca pensou que a prisão iria ser ainda pior como agora. Estava sendo obrigado a andar grudado com Gong, suportar todas as provocações e piadas dos amigos idiotas dele, e o pior de tudo: Os toques de Wooyeol. Não, Jimin não tinha sido forçado a fazer nada sexual com ele, por enquanto. Gong Wooyeol queria mostrar posse sobre Park, então não poupava em bater na bunda do garoto ou fazer com que ele sentasse em seu colo, apertasse sua cintura ou beijasse seu pescoço em público.

E agora – depois de quatro tensos e longos dias – a qualquer lugar que ele fosse, Jimin se tornava alvo de olhares e cochichos.

Por que ele se transformou no centro das atenções? Bem, os inúmeros hematomas roxos espalhados por todo o corpo do garoto, não eram mais um segredo depois de ontem.

Shin Byungho segurava com brutalidade os braços do garoto enquanto o mesmo se rebatia, na tentativa de se soltar. Ele o levava em direção ao banheiro, e quanto mais se aproximava, mais sentia o desespero tomar conta de seu corpo. Por mais que ele usasse todas as suas forças para lutar contra, não conseguia.

— V-Você não pode me obrigar! — Gritou escandaloso, porém foi ignorado.

Jimin quase perdeu o equilíbrio ao ser empurrado com força para dentro do banheiro, por um triz, não caiu no chão, na frente de todos os detentos presentes lá.

— Eu tenho cara de babá Park Jimin? Não! Eu sou um policial, não sou pago para dar banho em malditos detentos, como você, que gostam de ficar imundo por quatro dias. Mas se você não entrar debaixo desse chuveiro agora, eu juro que eu mesmo te lavo na frente de todos esses inúteis aqui! — Byungho falou alterado. Os dois eram o centro das atenções no momento. Jimin olhou assustado ao seu redor, vendo que era o centro das atenções ali. O encaravam com deboche, risadas... — E então Park como vai querer? Quer o jeito fácil ou o difícil? Se preferir o difícil, posso pedir ajuda desses caras pra me ajudar. — Disse com ironia, jogando uma toalha em direção ao garoto que pegou desajeitadamente.

Começaram a rir alto, muitos se voluntariando para "ajudar" o guarda, outros faziam piadas infames, e por mais que ele tentasse ignorar tudo ali, parecia e era impossível. Aquele banheiro nunca esteve tão lotado como hoje, em todos esses dois meses que Park estava preso. Com certeza, uma nuvem negra cheia de azar estava o seguindo, não tinha outra explicação.

Suspirou fundo e foi para o vestiário. Despiu-se de suas roupas, e escondeu seu corpo com a toalha cor verde clara, criando coragem para entrar no chuveiro.

Não, ele não havia ficado quatro dias sem tomar banho. Por mais absurdo que pudesse parecer, Jimin tinha sido proibido por Gong, de usar o chuveiro no mesmo horário dos outros detentos, então na parte da tarde – onde a maioria dos outros estavam trabalhando – ele era acompanhado até o banheiro por Jongup e Yongguk, que ficavam de "vigia" na porta verificando se nenhum guarda ou qualquer outra pessoa entrasse lá, enquanto o menino tomava banho.

Motivos?

Gong queria esconder o corpo cheio de hematomas de Jimin, pois se a direção soubesse de tais agressões às punições seriam severas para ele, Moon e Bang: Meses na solitária, pena estendida, ou os dois juntos. No início, pensou que seria infalível, porém Shin Byungho começou a perceber que o garoto sempre ficava em sua cela nos horários de tomar banho e logo percebeu que Jimin estava "faltando" aos banhos.

Ele se encontrava naquela situação tensa agora. O banheiro ficou em silêncio, apenas alguns cochichos eram ouvidos. Park sentia o olhar de todos queimarem nas lesões roxas esverdeadas de seu tronco. Tentava focar-se apenas na água morna que lhe molhava no momento, mas os múrmuros realmente o incomodavam ao ponto de ele querer chorar.

Seu banho não durou mais que dois minutos sequer. Secou-se, vestiu suas roupas e saiu do banheiro às pressas sem ao menos olhar para o lado ou para Shin, que tinha uma expressão desnorteada no rosto.

Naquela mesma noite, Jimin estava do lado de fora da cela ao lado de Jungkook, ambos posicionados para a contagem. Durante todo este período de quatro dias eles não haviam trocado uma palavra sequer. Na verdade, assim que saiam da cela no soar da sirene matinal, eles apenas se "encontravam" outra vez no período da noite onde eram obrigados a dividir a mesma cela para dormir e quando eles estavam juntos o clima parecia sempre ser muito pesado. Mas, hoje, em especial, estava ainda mais tenso.

O guarda mandou que os dois entrassem e os trancou lá dentro. Jimin tirou suas botas e as colocou no canto e quando virou, viu Jungkook a sua frente o encarando com um olhar indecifrável. Jimin automaticamente deu um passo para trás receoso por causa da repentina aproximação.

— Levante sua blusa. — Murmurou de repente.

— O que? — Park perguntou confuso, arqueando a sobrancelha esquerda.

— Sabe do que eu estou falando.

— Não, eu não sei. — Disse paciente.

— Dos roxos, Jimin. Levante logo essa blusa, antes que eu mesma faça isso! — Jimin tentou sair de sua frente, porém seu braço foi segurado com força. — Quero ver se o que eu acabei de ouvir na cantina é realmente verdade.

— Me deixe em paz, Jungkook! — Exclamou estressado, e puxou seu braço com força, soltando-se do outro, porém assim que se virou para subir as escadas do beliche, foi empurrado até seu rosto e barriga estarem colados contra a parede com força. — Me solta! O que pensa que está fazen... — Parou de falar quando sentiu sua blusa ser levantada, expondo suas costas, logo os hematomas também. Indignado com o atrevimento de Jeon, Jimin impulsionou seu corpo para trás assim que o outro afrouxou o aperto, assim o afastando bruscamente. Jeon deu dois passos pra trás para manter o equilíbrio.

— Qual deles fez isso com você? — Perguntou com os olhos arregalados, ainda em choque pelo que tinha acabado ver. — Me diz, porra! — Falou alto, quase gritando. — Me diz, ou...

— “Ou” o que? Vai me matar? Como fez com Kim Minjae? — Jimin berrou, já quase sem fôlego pelo nervosismo.

Ao ouvir aquilo Jungkook mordeu a parte interna de sua bochecha, sentindo o corpo tremer.

Como ele sabia daquilo? — Se perguntou mentalmente, fechando os olhos.

Precisava se controlar. Por mais que aquele assunto deixasse sua cabeça a ponto de explodr.

— Park... — Disse em tom baixo, quase como se tentasse se controlar, abrindo os olhos e o fitando. — Se eu te quisesse morto, você não estaria mais aqui. — Balbuciou, engolindo seco. — Me diz... Por favor.

— Eu disse pra me deixar em paz, Jungkook. — Jimin falou pausadamente, cerrando os dentes e fechando os punhos.

Agora Jimin estava sentado no chão com os olhos inchados na biblioteca, fingindo ler um livro enquanto pensava e lamentava o que estava acontecendo nesses últimos dias, depois de ter terminado as tarefas impostas por Yunhyeong mais cedo antes de ele sair. Era assim que quase sempre funcionava. Song ditava o que o mais novo deveria fazer e saia de lá com Koo Junhoe – isso quando ambos não decidiam se pegar na própria biblioteca, atrás do balcão, ignorando completamente a existência de um Jimin enjoado e desconfortável ouvindo os estalados dos beijos molhados e às vezes até alguns gemidos.

— Eu estava procurando esse livro em todo lugar! — A voz de Yunhyeong soa não tão longe dele. Jimin limpa as lágrimas rapidamente e levanta o olhar fitando o homem parado a sua frente. — Por sorte suas vergonhosas lágrimas não molharam as páginas do livro! O que estava fazendo com ele?

— Lendo? — Perguntou fungando como se fosse óbvio. Não respondeu nada, apenas puxa o livro da mão do outro por atrevimento, apertando o livro de capa marrom contra seu corpo, como se estivesse enciumado do objeto.

— Desde quando putas se interessam em ler clássicos do Shakespeare, uh? Hamlet é um livro muito avançado pra você, Park. Por que não vai ler "Dorme Bem, Lobinho"? — Ironizou, fazendo Jimin revirar os olhos com a sugestão de que ele lesse um livro infantil. — É o livro perfeito para sua capacidade de entendimento!

— Para a sua informação, essa é a terceira vez que leio Hamlet, e para completar, já li a maioria dos livros de Shakespeare, e os entendi muito bem! — Falou dando de ombros.

— Se gosta tanto assim de Shakespeare, por que não aprende com ele então? — Perguntou dando de ombros.

— Já aprendi muitas coisas com ele! — Exclamou tentando entender onde ele queria chegar com aquela pergunta.

— Não é o que me parece! Chorar sobre as desgraças passadas é a maneira mais segura de atrair outras. Conhece essa frase dele? Se não, deveria adquirir ela em sua vida.

— Aonde quer chegar com isso, Song?

— Acha que eu sou burro? Num dia, o idiota do Jungkook diz no banheiro na frente de todos que você não é o garoto dele, e depois você começa andar com Gong Wooyeol. Todos aqui sabem da rivalidade de Gong com o Jeon, é explicito para qualquer pessoa que Wooyeol está te usando para provocá-lo! E sabe o que é mais explícito que isso? O papel de pobre coitado que você está fazendo diante dessa situação. Eu te vejo todos os dias aqui chorando como se fosse um derrotado, como se fosse fraco. Eu vi você ontem no banheiro. Vi o seu corpo! — Jimin havia sido pego de surpresa, e seu rosto não negava isso. — Sei que você não tem força física para lutar contra Gong e sua gangue, mas você tem algo maior. 

— Tipo..? — Falou sem pensar.

— Jimin... — Ele suspirou negando com a cabeça. — Eu odeio admitir isso. Então, escute bem, pois vai me ouvir falando isso somente uma vez. — Assinto com a cabeça — Você não é forte, mas é inteligente. Por que não começa a usar isso a seu favor? Coloque sua cabeça para pensar um pouco.

Ele tem razão — Pensou Jimin. Jamais imaginara que receberia esse "tapa da realidade" vindo de Yunhyeong.

— Por que está me falando tudo isso? — Balbuciou ainda atordoado com todas as palavras de Song.

— Não pense que eu me importo com você ou o que está acontecendo. — Falou em tom sarcástico. — Porém, eu me sinto enojado vendo alguém virando refém da dor como você está fazendo agora, chorando, sentado nesse chão sujo, provavelmente lastimando o 'por que disto estar acontecendo comigo'. Não se sinta especial, coisas ruins acontecem com todos nós, à diferença é que cada pessoa desenvolve uma maneira de lidar ou acabar com elas. Você só precisa aprender a desenvolver a sua. — Encostou-se a uma das prateleiras, e depois de alguns segundos em silêncio, estalou a língua no céu da boca. — Vá para a sua cela. Pense no que eu te falei, organize seus pensamentos e ponha sua cabeça no lugar.

Jimin fungou mais uma vez e assentiu com a cabeça. Levantou-se e em forma de agradecimento fez reverencia para o outro, que apenas deu um meio sorriso, suspirando em seguida.

Andava com a cabeça baixa pelo corredor, digerindo todas as palavras de Yunhyeong. O mais velho realmente tinha razão. Jimin teria que tomar alguma atitude, não ficaria sem mais uma peça no jogo ridículo de provocações de Gong por muito tempo. Já estava decidido e determinado. Colocaria sua cabeça em ordem durante a noite e pensaria no que fazer para se proteger sozinho.

Park chegou a seu destino e estava tão focado em seus próprios pensamentos que nem percebeu de que foi seguido por toda a metade se deu percurso até ali, e só se deu conta de que não estava sozinho, quando seu corpo foi prensado contra as grades de sua cela e a mão de Jongup fechada com força ao redor de seu pescoço.

— Você quer conhecer o inferno mais cedo, garoto? — Perguntou ameaçador, apertando ainda mais. Não estava conseguindo raciocinar direito. — Pensou mesmo que seria uma boa estratégia pra nos ferrar, tomar banho na frente de um guarda? Achou mesmo que conseguiria ferrar eu e o Gong com isso? — Apertou ainda mais, fazendo com que ele tentasse puxar o ar para seus pulmões ainda mais desesperadamente. — Seu rosto está ficando vermelho Jimin, está com falta de ar, uh? — Perguntou maldoso. Park tentou tirar a mão de Jongup de seu pescoço, porém estava ficando fraco demais pela falta de ar.

Quando sentiu que estava começando a perder seus sentidos, Jongup recebeu um inesperado soco na lateral de seu rosto, fazendo com que ele se desequilibrasse por conta do impacto, quase caindo. Jimin se agarrou as grades atrás de si, puxando desesperadamente o ar para seus pulmões, recuperando o fôlego, enquanto massageava seu pescoço e quando olhou para cima, viu Jeon fitando Jongup.

— Some daqui, antes que eu me torne de verdade o "assassino" que você e Gong inventaram, Moon.