História Change. - Sensation

Quando voltamos para o Loft já é quase de manhã. Limpamos tudo, depois de estável colocamos Meghan na cama e deixamos um bilhete avisando que eu a deixei la e alguns mantimentos para ela se hidratar. Com sorte ela não se lembraria de nada e colocaria a culpa na bebida.

Levamos Hayden para o quarto dela. Em toda a noite ela acorda e apaga, zonza e reclamando quase delirando. Mason lhe da um chá de ervas para relaxar e me oferece um pouco que aceito de bom grado.

Dou meu quarto para Maria dormir, Dan e Yara dormem no sofá, eu fico no quarto com Hayden, ela me puxa para deitar ao seu lado.

- isso pode acabar mal. – provoco e ela ri.

- você não vai fazer nada, apenas durma, você está péssimo. – diz baixo para mim.

- estou bem. – afirmo e ela se enrola em mim como se eu fosse um urso de pelúcia.

- uhum. – concorda ajeitando em meu peito. – não foi uma batalha perdida. Ninguém morreu.

Beijo sua testa.

- tem razão. – concordo em um suspiro antes de apagar.

Acordo com Hayden saindo da cama, ela tenta não me acordar, mas é inevitável.

- está melhor? – pergunto baixo.

Ela se vira para mim e sorri de leve.

- sim, bem melhor. – acaricia a perna praticamente curada. – pode voltar a dormir.

- que horas são? – pergunto meio grogue, é difícil saber com as janelas fechadas.

- hum... 15:30. – ela responde olhando no relógio do lado da cama. – pensando bem, melhor levantar.

Levanto em súbito.

- ah meu Deus! Droga, droga! – reclamo vestindo minha camisa.

- o que? – pergunta ela confusa.

- é quinta! Droga, Jade vai ter um ataque... – reclamo já saindo as pressas para meu quarto que graças aos céus está vazio.

- tudo bem Liam, respire, não surte. – Hayden vai atrás de mim enquanto arrumo roupa para me trocar. – Jade é um anjo, o máximo que ela vai fazer é ficar preocupada. Você pode falar que o carro quebrou.

- eu não tenho carro Hayden. – reviro os olhos indo para o banheiro.

Sei que estão na sala e na cozinha, mas os ignoro.

- ok, então diz que eu passei mal, pronto. Não é total mentira. – da nos ombros.

- isso não é muito engenhoso, mas pode dar certo. – concordo.

Entro no banheiro e ela para na porta.

- você não precisar ir sabe? Pode... ficar com a gente hoje. – pede receosa.

Olho para ela e estranho seu jeito, seu receio, seus braços ao redor do corpo, o jeito que me olha...

- Ei, tudo bem? – pergunto tocando seu braço gelado.

Seu olhar frágil vai para o meu.

- eu... – engole em seco. – estou, é, estou bem. É só que... foi uma noite longa e confusa...

- Hay. – a analiso. – tudo bem em ficar assustada. – seus olhos briham, mas ela é durona, não vai deixar as lagrimas caírem. – se você quer que eu fique, eu fico.

- tem certeza? Eu não quero atrapalhar nada...

- para. – a abraço e ela retribui forte. – estou aqui por você.

- eu só... – ela hesita. – posso vê-lo toda vez que fecho os olhos. – confessa. – não sei se eram alucinações ou... eu não sei.

- ok. Tudo bem. – a abraço mais forte, sinto seu medo, sinto a semelhança.

Hayden morreu da ultima vez daquela forma, a sensação deve ser assustadora.

Depois de um momento sorrio em seu ouvido.

- vai querer tomar banho comigo também? – solto sarcástico.

Ela me da uma cotovelada antes de me soltar.

- não tem nada de novo ai. – ela zomba.

- novo não, mas bonito... – ironizo já me afastando e tirando a camisa.

Hayden fica me olhando por um momento, não meu corpo, mas meus olhos, pensativa.

- Hayden. – chamo e ela volta a si. – ainda preciso tomar banho. – digo obvio.

- ah, ok. – ela se atrapalha. – ok. – repete antes de sair fechando a porta.

Faço uma careta para mim mesmo.

- Sutil. – ouço Theo provoca-la.

- vai pro inferno. – ela responde voltando para o quarto enquanto eu vou tomar banho.

Mando mensagem para Jade avisando que não irei trabalhar hoje, aviso que é uma emergência, mas sem dar muitas explicações. Para minha sorte ela responde que tudo bem e depois conversamos.

A casa está calma e o clima é preguiçoso. Maria toma chá com Yara na mesa atrás do sofá enquanto Dan e Theo se jogam no sofá vendo um filme qualquer na TV.

- vocês parecem bem. – observo levemente sarcástico.

Dan levanta a mão como se comemorasse.

- sai. – falo depois que pego café e empurro os pés de Theo para que me deixe sentar.

Ele deixa, mas coloca os pés no meu colo me fazendo encara-lo feio, o que ele retribui com um sorriso provocativo.

- estou aqui primeiro. – argumenta.

- é minha casa imbecil. – indigno absurdo.

- parcialmente. – ele destaca.

O encaro incrédulo.

- isso importa? Não tem parte sua.

- sim. Porque se Hayden e Mason me deixarem colocar o pé aqui, ai você perde.

- coisa que eles não fariam. – aponto.

- poderia. - Ele pondera.

- não.

- talvez... – considera.

- cala a boca. – corto.

- calem a boca os dois. – Dan diz apontando pra TV. – a tv americana é muito mais interessante.

- você mal vê tv Daniel. – Yara faz uma careta.

- é por isso que agora é interessante. – argumenta e ela revira os olhos.

Troco um olhar cumplice com Theo que praticamente diz que sempre soubemos que eles acabariam daquela forma, de certa forma como nós.

Esse pensamento me incomoda, então desvio os olhos para meu celular.

- ótimo, perdi uma prova surpresa. – bufo. – odeio a faculdade. – reclamo.

- mais que o ensino médio? – Theo pergunta.

- pelo menos no ensino médio eu era bom em algo, como Lacrosse. – penso. – e isso não conta como matéria então, basicamente nunca fui bom em nada.

- Dramatico e altamente autodepressivo. – Theo destaca. O encaro serio e ele revira os olhos. – ok, você era o melhor no esporte e tudo o mais, mas as coisas mudam e agora você tem que achar outra coisa em que é melhor. Então, ache e pare de resmungar.

O fito firme.

- eu havia esquecido como você pode ser insuportável.

- posso ser amável também. – pondera ele. – muito amável se você quiser. – ele pisca com um olho e apesar de isso ser uma flecha direto no meu coração, faço uma careta.

- ah agora você flerta comigo? Melhor mudar seu conceito de ser amável Theo. – empurro suas pernas para fora do meu colo. – não funciona comigo.

Ele ri curto e indiferente enquanto ando até a cozinha e começo a fazer pipoca de micro-ondas.

Conforme me distraio preparando as coisas para comer vejo Hayden sentar quieta no balcão a minha frente. Ela fica me olhando de modo estranho e tento ignorar, mas é impossível.

- o que? – pergunto enfim.

- você se lembra? Como foi daquela vez? – sua voz soa distante.

Paro e a encaro.

- Hayden...

- lembra ou não? – insiste.

Respiro fundo.

- eu me lembro. – respondo com a boca seca ao lembrar, fecho as mãos sobre o balcão. – mais do que gostaria.

- eu não. – ela confessa. – não me lembro bem.

- isso é bom então. – digo descontraído quando o micro-ondas apita e pego a pipoca.

- Só lembro do antes e do depois. Quando você estava la e depois ele estava lá. – ela continua relembrando o que me faz suspirar.

Vejo o olhar de todos em nós, principalmente de Theo que franze o cenho.

Apoio no balcão me inclinando de leve pra ela.

- ok, Hay. O que está acontecendo? – pergunto o mais delicado possível.

- eu não me lembro de você la. – ela conta.

- é porque ele não estava la. – Theo diz me fazendo olha-lo feio.

Hayden o ignora continuando a falar:

- mas eu me lembro da sensação. – confessa me fazendo gelar. – a vida indo embora aos poucos e tudo se desfazendo diante de mim... – ela hesita, respirando devagar. – eu senti isso ontem. – conta com dificuldade. – eu ainda sinto.

- Ei... – dou a volta e vou até ela tocando seu rosto, seus olhos levantam frágeis para mim. – você não está morrendo. Está aqui, nós estamos aqui e estamos bem. – afirmo carinhosamente.

- eu não sei como fazer passar. – diz já segurando o choro.

- vai passar. – aperto meu lábio em sua testa, depois a olho nos olhos. – porque você ja venceu isso. Tudo de pior até. – aperto sua mão. – você está aqui Hay e é incrível. – digo sincero.

Ela enxuga uma lagrima e sorri.

- obrigada. – diz baixo e sem jeito.

Um suspiro corta o clima.

- e eu achando que não precisaria aguentar isso de novo. – Theo resmunga se virando para TV de forma que não posso ver seu rosto.

No fundo acho que ele só quer descontrair, tentar ser o mesmo insuportável de sempre. Porque assim é mais fácil.

Troco um olhar com Hayden que diz sem som “ciúmes” e eu respondo com um “calada” a fazendo rir.

- então, - ela se levanta já recomposta. – quem quer pipoca?

- vai vir com melodrama? – Theo provoca enquanto ela distribui em bacias. – porque já estou bem cheio.

- hum... não. Mas pode ir com um soco na cara e uma pitada de ódio. O que acha? – responde ela me fazendo sorrir orgulhoso.

- acho que está convivendo muito com o Liam, porque há certa distribuição de raiva por ai. – ele responde despreocupado.

Pego uma bacia e dou para Maria e Yara que apenas observam enquanto jogam algum jogo estranho de cartas na mesa. Pego outra pra mim enquanto Hayden pega duas dando uma para Dan e outra para o Theo.

- é que geralmente nós dividimos as coisas. – ela o provoca depois se vira para mim enquanto sento em uma almofada no chão a frente deles. – Ei Liam, o que acha de dividimos o Theo?

Faço uma careta sentindo os olhares em mim.

- pode ficar, todo seu. – solto por fim dando nos ombros enquanto como.

Hayden faz um barulho com a boca como se tivesse com dor.

- se ferrou. – ela diz o provocando enquanto senta ao meu lado. – agora você é meu.

Theo revira os olhos.

- e quem disse que sou dele para que me de assim?

- eu aceitaria uma parte. – Yara confessa nos fazendo rir e Dan a olhar feio. – estou brincando. – diz ela pra ele e depois baixo para Hayden. – lado direito.

Hayden faz um sinal de positivo o que faz Theo jogar a almofada nela.

- quantos anos vocês tem!? – ele indigna incomodado.

- não fique tão chateado. Olha o lado bom, há muita gente querendo você em pedaços. – aponto.

E com isso descontraímos e tentamos nos distrair. Quando Mason chega entra na nossa onda e por um momento posso sentir que é possível que tudo fique bem de novo.