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História Change Of Time - Secrets


Escrita por: SheniaSoilho

Notas do Autor


♥Fala meu lindxxxs, como estão?? Batemos quase 28k de leituras no Wattpad aeee! Eu voltei com 13k de palavras, ou seja, tem DOIS capítulos dentro desse, então aproveitem que estou sendo mó legal, chuchus.

♥ Você ainda NÃO VIU que eu fiz uma Oneshot que tá "de cair o cu da bunda" segundo quem já leu?? Corre lá no meu perfil, se chama Rewrite History. ;)

♥Gente, eu fiz a playlist da fic com todo o carinho do mundo pra vocês, segue lá no spotfy, ta no meu perfil daqui o link <3

♥♥♥♥Temos QUATRO músicas pra esse capítulo só que UMA delas não tem no Spotfy, então já baixem, preparem no youtube, o que der. Como sempre, eu indico quando é pra dar play e quando é para trocar ou findar:
-> Someone you loved - Madilyn Bailey
-> Charriot - Jacob Lee
-> Emerald Eyes - Anson Seabra (Não tem no Spotfy)
-> Dancing with a stranger - Sofía y Ander
Obs: é MUITO IMPORTANTE que as músicas sejam das versões dos cantores que escrevo aqui. Nos vemos no fim!

Capítulo 17 - Secrets


Fanfic / Fanfiction Change Of Time - Secrets

Julho de 2014

Ninguém culparia Lauren por estar ali, sendo vítima do espetáculo que seus olhos acompanhavam. As pupilas extremamente dilatadas e seu interior queimando em excitação.

Diante do exumo dos esclarecimentos internos recentes — desde o momento nas pedras com Camila — permitia que a enxurrada de sentimentos por ela seguisse seu curso, fluindo pelo seu sangue, abastecendo seus desejos cada minuto mais.

Suspirou pesado enquanto analisava um pouco dos próprios pensamentos e, se não fosse pelo soar da música, Camila a teria escutado enquanto rodopiava em um só pé. Em quatro apoios, a dançarina alongou o corpo para trás em um movimento lento, mantendo sua bunda elevada no ápice da dança, ao passo que Lauren sentia sua respiração falhar.

A desejava.

Inevitavelmente como uma sensação nova, desejava o toque das mãos por sua pele, por entre os cabelos escuros, pelos lábios fartos e em controvérsia desejava não desejar.

O quão frustrante e clichê pode ser se apaixonar pela melhor amiga heterossexual que tem um namorado?

Se recordou do momento no qual jogou fora todo o maço de cigarros que havia comprado e agradeceu toda a força de vontade e paliativos saudáveis apresentados por ela que a ajudaram a fazer disso uma tarefa até "simples". "O sorriso dela". Era impossível não sorrir ao lembrar de Camila pulando em seus braços super animada quando a contou que tinha jogado na lixeira seu mais recente "vício".

O cigarro, de certa forma, foi fácil, mas o que ela diria se soubesse que ela era em carne e osso o vício que aparentemente Lauren não conseguia se livrar?  

Balançou a cabeça negativamente para afastar os pensamentos e sair daquela porta antes que a música findasse de vez.

Camila estreitou os olhos para o espelho e prendeu os cabelos, era um gesto que repetia sempre, mas dessa vez havia algo diferente. Sorriu de canto com o reflexo e pegou sua bolsa deixando várias coisas caírem de um bolso aberto. O desastre não caminhava com ela, ela o era.

— Rabetão! — Dinah acenava para que a latina se juntasse a ela e as outras no pátio, ao que Camila prontamente atendeu. — Tá vendo? Ela sabe que é com ela.

Camila mirou Lauren com um pequeno sorriso brincalhão nos lábios enquanto ela a cumprimentou com um leve aceno de cabeça, já desconfortável com o tema da conversa.

Dinah chamou de volta a atenção da amiga, Ally ficando cada vez mais envergonhada. — Bunduda, a gente estava falando sobre posições sexuais pra quem é marinheira de primeira viagem, porque, PASME, nosso pigmeu santa do pau oco vai agasalhar o croquete pela primeira vez. Como você é a única aqui que tem experiência, podia dizer pra ela qual é a melhor.

Camila arregalou os olhos e voltou sua atenção a Ally, que rolava os olhos ao mesmo tempo que mantinha a face super constrangida.

Os olhares de Dinah, Ally e Normani expressavam pura curiosidade. Ao contrário de Lauren, que se fosse o centro das atenções naquele momento, ficaria nítido para qualquer um o quanto começava a sentir-se mal.

— Você tem certeza? Quer dizer... É um passo sem volta. — perguntou Camila.

— Pelo amor, Mila, a gente está num papo super legal e você vem com essa pergunta de mãe? — diz Dinah e Camila rola os olhos.

— É uma coisa muito pessoal, de qualquer forma. — Não quis prolongar o assunto. Nunca havia tido problemas em falar nisso, mas, algo a incomodou internamente quando não conseguiu olhar para a garota de olhos verdes ao seu lado.

— Tudo bem, Mila. — Ally deu um sorriso compreensivo.

— Só isso? Estraga prazeres. Eu sei qual que tu gosta. Será que eu digo? — Dinah ameaçou dizer com tom brincalhão, adorando a provocação que conseguiu com a expressão da dançarina.

Antes que Camila pudesse contestar, Lauren se adiantou. — Eu tenho que ir, gente. — Foi direta, precisou cortar aquele assunto, eram imagens pesadas demais para aguentar. Mal explicou que precisava treinar e saiu. Normani torceu a boca e se despediu também com a mesma desculpa, indo atrás da amiga. Afinal, elas realmente treinariam.

— Lauren! Espera! — gritou Normani, alcançando a amiga. De longe, Camila estreitava os olhos para a duas antes de voltar sua atenção para Dinah e Ally. — Você está bem? Eu... Não me liguei antes, desculpa, devia ter parado a Dinah.

Lauren continuou andando, apertava o maxilar com força. — Esse é o problema, não devia. Essa é a realidade, eu tenho que lidar com ela. Só não estou com cabeça para isso, prefiro guardar minhas frustrações pra descontar nas jogadas com a Vives.

— Engraçado, desde que o treinador colocou ela no time vocês não brigaram, não fora das regras do jogo. O que aconteceu? — Normani perguntou e Lauren olhou para o nada lembrando-se do trato que fizera com Lucy após o primeiro treino de apresentação dela, depois de uma longa conversa esclarecedora.

— Nada. Só não faz sentido discutir, sou civilizada, Mani. — Dissimulou um sorriso. Não podia revelar um segredo que não era seu. Não eram amigas, mas diante das palavras de Lucy, ao menos estavam em trégua. 

— Aham, tá, você. Mas ok, melhor mesmo ficar longe de problemas. — Ironizou e recebeu um sorriso de Lauren antes de um abraço de lado.

Trocaram de roupa e se prepararam para mais um treino. Prestes a chegar o dia do primeiro jogo de Lucy nas Miami Sol, elas precisavam treinar mais que nunca.

Março de 2019

— E como você se sente desde que voltaram a se falar? — O psicólogo a olhava diretamente, com as pernas descruzadas e as mãos sobre os braços da cadeira de couro. O escritório parecia ficar menor enquanto ela refletia sobre aquela pergunta.

— Nós ainda não voltamos a nos falar. — Uma pausa.

— Por que não? — Ele mostrava indiferença, mas fazia parte de suas intenções psicológicas.

— Não sei. — Suspirou.

— Não sabe? — Esticou as sobrancelhas vendo-a respirar e o silêncio reinar no ambiente. — Só posso ajudá-la se for sincera comigo. — Mais silêncio. — Bom, nosso tempo acabou de qualquer forma, mas sugiro que faça os exercícios que eu passei, são para ajudar nesse processo. Voltamos a conversar sobre isso na próxima consulta. — Disse despontando no canto dos lábios um sorriso acolhedor. A despedida a fez suspirar em alívio.

— Obrigada. Até a próxima.

Saiu do consultório se perguntando o porquê era tão difícil admitir aqueles sentimentos para o psicólogo àquela altura do campeonato.

~~

No gramado da casa dos Jauregui, uma cesta improvisada passava a ser a alegria e distração de Lauren com seu antigo amigo.

— Toca aqui, garoto! — Lauren estendeu as duas mãos a frente de Jordan, que as alcançou com as duas patas dianteiras e emitiu um latido de felicidade. Ele acabara de acertar uma cesta batendo na bola com o focinho. — Não desaprendeu, garoto, NBA está perdendo você! — disse sem pensar e rapidamente lembrou-se de quando ensinou Camila a jogar basquete na quadra a sua frente. "Cristiana Ronalda", ela dizia sem entender nada do esporte. Sorriu com a lembrança, mas logo balançou a cabeça para afastar os pensamentos indesejáveis ou, quem sabe, desejáveis até demais.

Subiu as escadas para o quarto ligeira, se precisaria enfrentar seus demônios, que fizesse isso de maneira correta. Pegou um pedaço de papel e, assim como as cartas que nunca enviou, expôs com a tinta azul um pedaço mínimo de seus sentimentos, só o que pudesse ser usado para desejar um feliz aniversário para alguém especial.

Sentiu com a ponta dos dedos a fibra ser enrolada em uma espécie de pergaminho, no qual amarrou um pequeno pedaço de fio vermelho de lã. Colocou-a junto ao presente que havia comprado, uma lembrança singela de algo que sabia ser especial para Camila. Seria uma oferta de paz. Deu um longo suspiro em contentamento imaginando que toda aquela fuga se findaria.

Talvez tivesse exposto na carta um pouco mais do que deveria, mas talvez fosse o melhor a ser feito: esclarecer as coisas, parar de fugir e voltar a ter algo parecido com um convívio, dentro dos limites do que pudesse ser.

A alguns minutos dali o vento batia forte e incomum, mas, inversamente, Camila estava lá como sempre, sua pasta de desenho a seu lado, nas mãos o livro favorito, no rosto o tapa da maresia e ao redor a solidão. Longos anos da mesma rotina sustentada pela sensação de ternura e completude do ato em si.

Diferente das primeiras vezes da ausência, quando o que a preenchia era esperança, agora ela se contentava com a temperatura da pedra gelada, o som do silêncio tocando o vento e empurrando as ondas tão abaixo de si. De qualquer forma era lindo assistir aquele espetáculo natural e se esgueirar nos momentos que teria ali, antes de ter que voltar para casa a tempo de Alessandro não notar sua ausência.

Fechou o livro que devorava pela segunda vez enquanto o próximo da série não saía, pegou a pasta bem conservada a seu lado, tomando cuidado para que nenhum papel voasse, abriu a tampa da caneta e começou a criar aquela visão no papel, aproveitando os últimos minutos. Logo seria seu aniversário e não poderia se dar ao luxo de não ser encontrada.

Naquele mesmo instante, um buquê gigante entrou pela porta de sua casa. Alessandro chegava mais cedo, queria fazer uma surpresa, mas encontrou a casa vazia, assim como ficava seu coração quando sua noiva não estava lá.

Pôs as flores em um lugar estratégico e não se abalou com suas ligações para ela indo direto para a caixa de mensagens. Como esperava, devido à falta de dotes culinários de ambos, não havia jantar, então fez o pedido pelo celular e organizou a mesa, cada detalhe pensado para que ela iniciasse seu aniversário do melhor jeito possível.

Finalmente recebeu uma mensagem dela dizendo que estava sem sinal e que chegaria logo. Sorriu ao final e, com a meia luz da sala, se posicionou no centro com o buquê de tulipas em mãos.

Sabia que teriam a festa surpresa de Camila no dia seguinte, mas podia começar com os agrados desde já. Sua futura esposa merecia as melhores surpresas do universo, pensou. Aguardava ansiosamente por seu sorriso ao entrar e ligar as luzes de casa.

Julho de 2014

Fazia poucos minutos que Camila se sentia invisível encostada na parede de seu armário, os traços riscados no papel à sua frente formavam a figura de um olho, um em particular, que não saía de sua cabeça, não importava o que fizesse. Para quem já o tivesse visto, não precisaria estar pintado para saberem que a cor seria verde.

De repente, à sua esquerda no corredor, começava uma espécie de alvoroço e, antes que pudesse ver, já estava lá, em frente a Lucy em seu armário azul pichado com tinta vermelha "sapatão nojenta". A pessoas em volta cochichavam e riam dela, apontavam e repetiam as palavras "nojenta" umas para as outras enquanto Lucy fechava os olhos e apertava o punho, tentando manter a calma.

Camila poderia não saber que Lucy havia finalmente se deixado ser vista aos carinhos e beijos por outras pessoas quando dera uma chance de verdade para Verônica no dia anterior, poderia não saber de nada da história e que o coração de Vives ainda pertencia a Keana, mas certamente sabia que odiava bullying.

— Vocês não têm vergonha? Qual o problema nisso? Vão cuidar das suas vidas! — Camila elevou seu tom de voz, a raiva se formando em seus olhos.

— Não preciso que ninguém me defenda, Cabello. — retrucou Lucy, ainda de olhos fechados, tentando não explodir.

— Olha só a briga do casal. Vão dar beijinho também? — Alguém disse no amontoado de pessoas e Camila foi atingida diretamente, uma memória passada de família trouxe-a de volta a uma forma de trauma.   .

— Eu não sou lésbica! — gritou um pouco mais alto do que desejava. Até Lucy a mirou assustada.

O peito de Camila subia e descia conforme as pessoas continuavam a rir ainda mais com seu "ataque de histeria".

Às vezes, certas dores e segredos não nos abandonam, deixando uma ferida aberta, exposta e vulnerável a qualquer dedo maligno que possa tocar e afundar ainda mais o corte.

O melhor que havia para ser feito era ir embora dali. Pegou suas coisas do chão e andou sem olhar para trás, imagens de um passado que não mexia há tanto tempo, rondando sua cabeça. Mas, como tudo em sua vida, entrariam mais uma vez no esquecimento, só precisava de um tempo, já estava acostumada a guardar de novo e de novo aquilo em um calabouço de sua mente.

~

— Ke... Obrigada por você ter feito aquilo, me mostrado o Arthur, me contado sobre a história deles. — disse Lauren, se ajeitando em sua cama, a qual compartilhava com a melhor amiga agora. Tinha toda sua atenção. — Não me leva a mal, ainda não gosto dela, não é como se fosse gostar, mas estamos em trégua e... Todos temos nossos fantasmas, isso nos faz pessoas que às vezes não queremos ser. — Torceu a boca em pesar olhando para Keana.

— Uau. Quem é você e o que você fez com a minha Lauren? Eu pedi pra você pensar sobre e agora além de me perdoar você dá uma aula sobre maturidade? — Keana sorria, recebendo um tapa brincalhão no ombro, feliz por ter contado a verdade sobre o que aconteceu, finalmente um peso saiu de suas costas. Sabia que era arriscado e que talvez Lucy pudesse não gostar de ter sua situação revelada, mas nunca havia pedido um segredo realmente. E era preciso, a líder de torcida sabia que Lucy havia sido expulsa, por mau comportamento, do antigo colégio, não podia ser expulsa novamente. Sabia que Lauren era fogo para seu pavio curto, precisava ajudá-la de alguma forma, mesmo que ela negasse sua ajuda. 

Lauren sorriu olhando para o nada, as memórias de todas as vezes que Camila a ensinou algo, a mostrou como lidar com as diversas situações que antes a faziam surtar, aparecendo como flashes em sua mente. Seu sorriso se alargava ainda mais enquanto ia constatando que algumas pessoas só precisam de cuidado. 

— Às vezes as pessoas aparecem na nossa vida pra ajudar a amansar nossas selvagerias que as frustrações trazem. E pelo que me contou, você deve ser essa pessoa pra ela. — Suspirou, Camila a enchia de poesia, filosofia e tudo aquilo que tornasse seu olhar mais brilhante e sua fala mais enfeitada.

Keana sabia a quem ela estava se referindo em sua própria vida quando dizia aquilo. E sempre doía, mas, agora um novo sentimento a atingiu e a fez perceber como as coisas funcionavam.

A vida era uma sucessão de violências psicológicas por amores não correspondidos em loopings infinitos que nunca se cruzavam.

Passava a enxergar que a história se repetia uma vez atrás da outra e ao mesmo tempo. Se Camila era para Lauren o que ela era para Lucy, seu sofrimento não seria maior que o dela nem de ninguém. Nunca considerou que Lucy pudesse estar sofrendo tanto quanto ela mesma. Ao mesmo tempo estava de mãos atadas.

Ela se curaria em algum momento, elas se curariam. Assim esperava. Sua parte, havia feito.

Lauren, sem dúvidas, mostrava-se alguém muito mais carinhosa. E isso estava sendo refletido em seus braços se abrindo e puxando Keana para um abraço apertado.

No auge de suas emoções, Keana percebeu o quanto era possível que Camila houvesse feito em tão pouco tempo o que ela em anos não conseguiu. Ela estava abraçando o amor de sua vida e sabia que o único amor que conseguiria dali seria o de sua amizade. Mas não menos importante, aquele amor era incondicional e, se ele era o que cabia a ela merecer, ela a abraçaria com todas as forças do mundo.

E com os braços ela apertou Lauren um pouco mais, assim como parecendo espremer também algo dentro dela, uma lágrima escorreu por seu olho.

Aquela simples gota que escorria, levava consigo aquele segredo guardado dentro dela, mas ao mesmo tempo libertava toda a admiração e gratidão que tinha por Lauren.

As horas passaram após Keana despedir-se e partir para casa com uma nova tentativa mental de aceitar o único lugar que teria na vida da titular do time.

A noite caía junto com a temperatura, ainda que não fizesse muita diferença para a morena, que agora se olhando no espelho, revisava cada detalhe de sua aparência e sentia que seu coração estava quente e frenético com a ansiedade de ver Camila. Seria a primeira vez que dormiria em sua casa. Por algum milagre do destino — talvez por seu aniversário estar próximo — obteve o aval de seus pais.

Camila abriu a porta com um sorriso enorme, havia planejado tantas coisas, havia pensado tantas coisas que seria melhor serem esquecidas.

Jantaram dando continuidade a uma rotina de sorrisos entre as três, na qual Camila ficava envergonhada por coisas constrangedoras do passado que Sinu contava, Lauren ajudava a tirar a mesa e a lavar a louça. Nunca precisou fazê-lo em casa, mas para ter uma família como aquela, juraria ser um prazer fazer aquilo todos os dias.

Seus melhores dias eram quando estava na companhia das duas, se sentia em casa ali mais que em sua própria.

Pela primeira vez a morena conheceria o quarto de Camila. Era algo normal, mas seu interior borbulhava, parecia como adentrar mais um lugar secreto dela. Seria mais uma porta, literal ou não, que atravessaria naquele contato.

Terminou de secar a última peça de louça quando Camila a pegou pela mão e puxou delicadamente em direção as escadas.

A cada degrau que subia, igual fazia seu coração em direção a garganta. Suas mãos suadas só não escapavam da pele da mão dela por conta do entrelaçar de dedos.

Tensão.

Ao entrar no lugar, Lauren sentiu imediatamente o cheiro gostoso que exalava no ambiente, o quarto tinha o cheiro dela, o cheiro que tantas vezes a acalmava quando deitava sua cabeça naquele casaco enrolado em seu travesseiro.

Camila apenas observava enquanto Lauren vasculhava o lugar com os olhos curiosos. Ela era tão linda. Os verdes aprisionando cada detalhe do cômodo, um de cada vez e, em todas elas, o olhar da latina.

Passou seus olhos rapidamente, propositalmente não se demorando, em uma foto dela e Alessandro que havia na tela de fundo do computador. Um leve gelo percorreu seu corpo.

Logo sua atenção estava voltada ao alto, no teto.

— Ei! — chamou-a para que respondesse. — Aquela ali parece eu, dormindo... A cama, o quadro acima dela, o edredom... São iguais os meus.

— É porque é você, boba. — respondeu Camila, gerando ainda mais dúvidas antes de voltar a explicar. — Eu desenhei no dia que você se afogou e eu fiquei lá.

— Por que o colou ali?

— Vem, deita aqui comigo. — Camila deitou-se na cama e deu duas batidinhas a seu lado, esperando Lauren fazer o mesmo. Parecia receosa, mas em segundos já estavam deitadas lado a lado. — Está vendo? Quando eu deito pra dormir, é isso que vejo, me acalma, junto com o ep que você me deu. E então eu durmo melhor. — Sorriu convencida de que havia explicado que não era só Lauren usando seu casaco para dormir que poderia encontrar nela um calmante natural.

A recíproca acontecia e era verdadeira.

Lauren estava muito consternada, era muita informação, muito contato, muita aproximação. Seu ombro encostado completamente ao dela a paralisava por instantes.

Por toda a emoção que sentia, seu peito inflou de todas as partículas de informações proferidas por Camila, estourando algumas resistências na sua cabeça. Então ela, a garota agitada, a jogadora de basquete "rebelde", a acalmava.

Aquela informação veio como uma cesta de três pontos na final do campeonato. Era tanta emoção que se esqueceu de sorrir, seus músculos da face ainda não haviam digerido.

Os orbes castanhos que lambiam os lábios carnudos da morena ficaram atentos a porta quando elas ouviram passos cada vez mais altos.

A latina levantou de supetão, constrangida por sua própria sinceridade somada ao banho de incredulidade na expressão de Lauren.

— Se comportem, meninas, eu já vou indo. Não façam nada que eu não faria. — disse Sinu, após dar três batidinhas na porta e se despedir para então encontrar Simon do lado de fora esperando para fazê-la feliz por aquela noite. Fez Camila prometer que ligaria caso precisasse de algo. Confiava na filha e passou a confiar em Lauren também.

Se olhassem pela janela, veriam a típica cena de Simon abrindo a porta do carro para sua dama, não que ela não pudesse abrir, mas sempre fazia questão de lhe fazer a gentileza.

Camila lhe entregava uma toalha limpa com um cheiro gostoso de lavanda, antes de avisar que tomaria seu banho primeiro.

— Olha só, ela toma ban... — Lauren travou sua tentativa falha de gozação sem qualquer possibilidade de volta quando Camila virou-se de costas e retirou sua blusa por completo.

A morena engoliu em seco.

Camila não usava sutiã aquela noite, fato que desmoronou qualquer defesa da outra.

Suas costas nuas queimavam com a própria ardência dos impulsos de Lauren, escorrendo em seu interior. Sabia que era observada.

A latina estava em iminência de entrar no banheiro, mas não satisfeita com o gesto "ousado", virou apenas sua cabeça e, olhou sobre o ombro, analisando cada detalhe da expressão de Lauren, nem ela sabia o porquê, tinha algo que a puxava para aquilo, expondo sua pele nua por longos e dolorosos segundos. — Disse alguma coisa? 

O perfil de seu rosto alcançava os verdes de Lauren. Eles diziam tudo, mas de sua boca saíam apenas pequenas lufadas lancinantes de ar.

Não precisou de uma resposta verbal, pelas bochechas da jogadora — claramente mais vermelhas que o tomate da salada do jantar —, tomou o silêncio como suficiente e rompeu com aquele contato, prosseguindo sua caminhada de dois passos até fechar a porta do banheiro deixando no ar um falho "eu já volto". Nem ela sabia que teria dificuldades para falar.

Lauren até tentou pronunciar um "tudo bem" ou qualquer coisa que não parecesse que ela havia perdido a língua em algum lugar qualquer daquele cômodo. Falhava, como suas pernas que fizeram o dobro do esforço para continuar sustentando o próprio corpo.

Soltou um ar preso contraindo as sobrancelhas em uma expressão quase dolorida. Refletindo seu centro, que doía de verdade.

A latina despertava em si uma ânsia pelo desconhecido, fazia seus órgãos entrarem em ebulição. Cada milímetro de pele parecia feita para adaptar-se a seus mais ávidos desejos.

De banhos devidamente tomados e pijamas devidamente vestidos, seus corpos afundavam o sofá da sala, iluminados pela TV que exibia o final de "Brilho eterno de uma mente sem lembranças". Após fazerem seu debate usual sobre todas as teorias do filme, tomaram água e subiram para o quarto aconchegante de Camila, lugar que agora disputava — nos pensamentos de Lauren — com o quintal dos fundos e a sala de jantar pelo título de lugar favorito naquela casa.

— Sua mãe não volta hoje, né?

— Provavelmente não, ela foi naquele lugar que tem uma réplica em tamanho mini da torre de Paris. — Suspirou e Lauren prestava atenção em cada detalhe. — Bom, eu não voltaria tão cedo se tivesse ido pra lá.

— Gosta de Paris? — Sentou-se de frente para ela em cima de uma perna na cama.

— Quem não? — Deu de ombros em obviedade. — Na verdade, eu gosto um pouco demais. E você? Me conta um lugar que gostaria de conhecer. — questionou, enquanto Lauren divagou momentaneamente em sua boca.

"Seus lábios", pensou.

— Lauren? — Ruborizou.

— Am, não sei, já viajei o mundo todo com meus pais, mais com minha mãe. — Lembrou-se das viagens de negócios de sua mãe, que contrariando as inúmeras promessas de lhe fazer companhia, sempre a deixava sozinha. — Mas nunca aproveitava direito, sempre ficava sozinha porque minha mãe trabalha muito.

Camila percebeu que algo ali a chateava mas decidiu não aprofundar aquele assunto, pelo olhar perdido dela parecia não serem boas lembranças.

— Você então já foi a Paris?

— Subi a torre, como uma boa turista, três vezes.

— Ao contrário do que diz a receita, eu não queria subir na Torre Eiffel... — Lauren a lançou um olhar confuso. Quem vai a Paris e não quer visitar o monumento mais famoso do lugar? Camila, aparentemente. — Não me olha assim! — Deu um tapa de leve em seu ombro antes de explicar. — Ela é linda, com certeza, mas é aí que está, não vou poder contemplar a beleza da estrutura dela como realmente é a vendo de cima dela mesma. Queria mesmo era estar no topo da Torre Montparnasse, a neve caindo e eu podendo observar a beleza daquela vista por um dos pontos do observatório no terraço, quem sabe até desenhá-la. Principalmente pela neve, eu amo a praia, você sabe, mas sempre quis saber como é tocar a neve. E depois apreciar os jardins de Luxemburgo, comer uma iguaria, ver um artista... Ai, me desculpa, estou tagarelando aqui e enchendo você.

— Só de coisa boa. Eu amo quando você se empolga com algo. — confessou. Admirada e surpresa era como se sentia, perguntou-se o porquê de ainda não ter se acostumado com isso. A outra sorriu, não esperava uma resposta tão positiva. — Posso te levar lá algum dia. — disse de repente, percebendo em seguida o olhar assustado de Camila pelo convite inusitado. — Podemos ver a Torre Eiffel sob a neve desde o Montparnasse, fazer bonecos de neve, guerra e até comer neve se você quiser, desde que você me chame para jantar a comida da sua mãe para sempre. — Era algo tão fácil de realizar para si, viajar até Paris era tão alcançável em sua história de vida que fazer aquela proposta foi até fácil, ao menos no momento.

— Desculpa, você acha que pode me comprar com Paris na neve? — Sua cara indignada foi tão bem simulada que por um instante Lauren chegou a se perguntar se ela havia se ofendido de verdade. — Pois está certíssima! — Explodiu em uma gargalhada gostosa acompanhada por ela. — Até agora eu sempre pensava em ir sozinha, mas adoraria ainda mais se fosse com você. — Um pequeno sorriso despontou de seus lábios no final da frase e as bochechas de Lauren ficavam tão quentes que derreteriam qualquer neve.

— Por que?

— Porque nos damos bem, eu adoro sua companhia. Eu... Eu me sinto bem quando estou com você. Sinto... Me sinto diferente, um diferente bom, muito bom. — Deu graças aos céus por não estar olhando em seus olhos.

— Então está decidido, nós vamos! — Lauren disse, ocultando em sua boca todos os "eu também me sinto assim" que quase rolavam para fora dela.

— Quando eu tiver idade para ir, né. — Riram juntas.

— Claro!

— Que sonho! Você e eu contra a neve em Paris. — Fechou os olhos e sorriu antes de capturar os dela novamente levantando o dedo mínimo. — Promete de dedinho?

— Eu prometo, Camz.

Março de 2019

— É, amigão, o que você acha? Não é "Oh, grande coisa", mas será que ela vai gostar? — perguntava Lauren retoricamente ao monte de pelos em relação ao presente que escolhera para Camila.

Havia finalmente chegado o dia do qual Lauren não poderia se esquivar: o aniversário de sua antiga paixão. O único dia que não poderia dar-se o direito de faltar era aquele. Levaria aquela pequena lembrança e a carta autoexplicativa juntas como uma solução pacífica a todo aquele desencontro arquitetado por ela.

Dirigindo-se ao banheiro para se aprontar, agradeceu mentalmente já ter estado naquela casa para visitar Sinu recentemente, talvez não se sentisse totalmente deslocada. A festa seria lá justamente para causar a surpresa que queriam e deixar Camila confortável.

Fez questão de demorar-se o máximo que conseguiu enquanto a água quente escorria pela pele branca, ajudando no alívio da tensão dos músculos, não queria estar lá para gritar "Surpresa! ", mas iria.

Agora era certo: iria encontrar Camila.

Rodou calmamente o registro do chuveiro para cessar a água, sua falta de pressa a permitiu olhar o relógio e saber que neste momento a surpresa já estaria acontecendo.

Terminou de se aprontar e pegou as chaves do carro dando uma última olhada no espelho. "É, até que ficou bom.", sua falta de autoestima a fez pensar. Mas a verdade é que ela estava verdadeiramente destruidora, colocaria qualquer um a seus pés aquela noite.

Sinu sorriu largamente ao ver que era Lauren quem estava tocando a campainha, antes de guiá-la ao quintal dos fundos onde acontecia tudo. A festa estava animada, claro, se tratando de uma organização de Dinah Jane, era muito improvável que fugisse disso.

Alguns garçons de uma equipe completa passavam servindo as pessoas, um pouco exagerado talvez, mas foram contratados e pagos por Alessandro porque ele queria que ninguém tivesse que deixar de aproveitar a festa em qualquer momento para se ocupar com algo da organização.

Cada detalhe estava lindo, algumas luzes externas ligadas davam um clima moderno e fino ao lugar, sem deixar de parecer divertido. O ritmo da bachata tocava sendo dançada por algumas pessoas em uma pista de dança improvisada com madeira. Foi nesse momento que Lauren a enxergou.

Os movimentos que Camila fazia a acertaram como tapas em seu rosto, a nostalgia lhe preenchendo o peito até as pontas do corpo.

Como sentia falta daqueles movimentos.

Pareciam estar mais graciosos enquanto ela rodopiava e seu vestido acompanhava o balanço espiral do vento. De repente se sentiu com dezessete anos de idade outra vez,  perdida, confusa e ferrada. Algumas coisas não mudaram.

— Oi, Lauren! Não tinha te visto aí, que bom que veio. — Alessandro se aproximou chamando sua atenção e lhe cumprimentando, trazendo Troy em seu encalço que fez o mesmo, porém dando um abraço apertado nela. — Me dá aqui o embrulho, deixa que eu coloco na mesa de presentes pra você. — Sorriu gentil e ela lhe entregou apenas o que havia comprado. — E esse papel, não é o cartão? — questionou sobre a carta em sua mão fazendo Lauren ficar alerta.

— Oh, não! Isso... Isso é meu. — Sorriu amarelo escondendo a carta um pouco mais consigo vendo-o concordar e sair para colocar a caixinha na ponta da mesa consideravelmente cheia de presentes. Normani chegou a seu lado e cochichou em seu ouvido palavras das quais ela se lembrou bem. "Não solte o ar ainda, o pior está por vir.". A conhecia absurdamente bem.

Quando direcionou seu olhar para onde Normani disfarçadamente apontou com a cabeça, Lauren congelou no mesmo lugar. Não haviam dúvidas que aquele olhar no seu se fincaria com a força de uma galáxia inteira ao mínimo contato.

Os batimentos involuntários de Lauren sambavam no peito, esquecia como era respirar por segundos até ser forçada a subir e descer o peito totalmente acelerado.

Camila colocou sua aluna mirim, que estava em seu colo, gentilmente de volta ao chão. Não houve um único momento no qual desviou o olhar depois de enxergar os verdes ali. Mal podia acreditar que estava de verdade acontecendo, finalmente ela estava ali por vontade própria. Cuidou para não se precipitar em sorrir, mas era tão impossível diante daquela carga energética que a atingia por dentro.

Normani puxou Troy para que a levasse até Ally com uma desculpa qualquer, logo após deixar no ar um "boa morte, não surte" para que só Lauren conseguisse ouvir. Mas ela mal pôde escutar realmente qualquer coisa que não fosse Camila, ainda que o som de seus passos vindo em sua direção fossem inaudíveis, ela sentia um estrondo como um terremoto a cada um que encurtava ainda mais sua distância. Ou aquilo seria seu coração?

— Você veio. — Algo no seu sorriso e no jeito como a olhou dos pés à cabeça deram a dica da frase que viria a seguir. — E está linda.

— Pra mim também. — Se atrapalhou no nervosismo enquanto a outra estreitava os olhos tentando entender. — Am... Quero dizer, você também. — Pronunciou um "droga" para si mesma enquanto a latina agradecia com um sorriso e Normani, não muito longe dali, batia com a mão na testa e escondia o rosto rindo por ouvir a conversa toda.

— Eu coloquei a primeira coisa que apareceu, achei que seria só uma visita a minha mãe. — Silêncio. — Mas obrigada, você já comeu? Beber eu imagino que já. Pode ficar à vontade. — disse Camila praticamente tudo de uma vez, sentindo-se estranha. Quando foi que se tornaram tão... Estranhas?

Ambas sabiam que aquela atmosfera tranquila e puramente amigável não cabia e, talvez justamente por não quererem dar espaço para o que sobrava, deixavam-se fazer parte dessa máscara teatral que ao menos lhes entregava um pouco daquilo que desejavam: contato. Qualquer resquício de interação, ainda que movida a educação e sentimentos camuflados já seria suficiente, como um respiro após um afogamento.

— Er... A propósito, feliz aniversário, eu te trouxe um presente. — Estendeu sua mão vazia e Camila enrugou as sobrancelhas em questionamento. Em seguida Lauren olhou também e se sentiu ainda mais idiota. — Que claramente não está mais na minha mão. — Normani esfregou a mão na testa balançando a cabeça em sinal negativo, não aguentava mais a vergonha alheia, virou o vinho de uma vez e decidiu sair dali. "Elas que lutem", pensou.

A morena escondeu a carta na outra mão, de repente parecia ser a pior ideia de todas, já estava tudo bem com elas, não? Era o que parecia. Camila percebeu o gesto, já havia reparado o papel e aquele fio vermelho, que significava tanto, mas preferiu não comentar, se Lauren não queria dizer, não seria ela a perguntar.

— Você aqui já está suficiente. — Respondeu, prendendo seus orbes verdes aos castanhos dela.

Camila pegou a mão estendida com a sua e apertou fraquinho como quem confirma sua sentença, como quem quer confirmar se ela era real, se estava realmente ali.

Lauren percebeu seu coração bombear com toda a força para tentar sustentar o impulso de seu próximo ato já que suas pernas já davam sinais de que não aguentariam e, antes que pudesse se conscientizar, seus braços já rodeavam as costas dela.

Aquele cheiro gostoso e levemente adocicado de seu cabelo invadiu seu subconsciente trazendo tantas sensações. Era quase como se pudesse tocar o passado, como se um único gesto fizesse todo o restante desaparecer.

Seus membros, devagar, estreitaram o contato com a pele dela pouco a pouco, parte por parte, braços, cotovelos, pulso e finalmente a palma da mão vazia.

Uma descarga elétrica fluiu aviltante cavada na espinha, multiplicando-se. O suspiro foi inevitável ao fecharem os olhos. Alguns abraços nos remetem a um lar. Aquele, depois de anos, ainda era um desses.

De repente, Dinah — já bêbada —, se aproximou e as abraçou também, transformando o momento particular em um abraço engraçado entre três amigas. Por um momento esqueceram que a tensão estava lá, vivíssima e presente.

— Vem, Bunda! Vamos cantar o parabéns!! — Saiu puxando Camila pela cintura, que não teve alternativa.

Lauren deixou que as pessoas se aproximassem mais da mesa e se manteve um pouco mais atrás. Havia dado um grande passo, mas sentia tudo ainda muito instável, não queria arriscar, ainda mais por ter que aguentar ver o primeiro amor de sua vida ao lado do noivo. Nunca iria se acostumar?

Normani se aproximou dela e cochichou "parabéns, foi uma merda.", levou um tapa no ombro de brincadeira da mais baixa e as das duas riram.

Alessandro olhava a interação delas de longe e aguardava Dinah levar Camila até a mesa do bolo para o discurso, que havia virado tradição nos últimos anos.

— Bom, eu queria agradecer a todos pela surpresa, eu não fazia ideia, foi uma... surpresa!

— Ah, não diga! — gritou Ally, abraçada pelas costas por Troy fazendo todos rirem. Estendeu a taça com o liquido borbulhante para ela assim que Camila lhe deu língua em resposta.

Alessandro se pôs ao lado da noiva e começou uma espécie de discurso. — Eu queria aproveitar esse momento para agradecer a presença de todos e entregar meu presente em mãos para a mulher da minha vida. — Estendeu um envelope para uma Camila levemente variada entre receio e surpresa, quantas mais aconteceriam aquela noite?

— Como ousas, nerd? Que marmelada é essa?? Vai abrir o meu antes também então, toma, Big Butt! — Dinah, bêbada, gritou entre as pessoas fazendo todo mundo rir por quase cair e tropeçar para entregar a caixa de tamanho médio para Camila.

— Eu vou abrir o dela antes que ela caia em cima do bolo, ok, Alê? — Disse disfarçadamente para o noivo que concordou rindo, não queria que nada desse errado.

Camila retirou o laço e abriu a caixa, puxando de uma vez o presente que estava mergulhado em centenas de pedaços de espuma, arrependendo-se no segundo seguinte. Arregalou os olhos e escondeu rapidamente de novo o objeto dentro da caixa, mas já era tarde demais, todos estavam explodindo de rir do vibrador cor de rosa que ela exibiu para a festa inteira.

Camila era um tomate enquanto lançava um olhar matador para Dinah que apenas não conseguia entender o motivo de toda a graça.

— Pra quando você ficar sozinha em casa nos plantões do nerd. — Dinah tentou quase apenas sussurrar para Camila, dando uma piscadela, mas falhou.

— Tem crianças aqui, Dinah! Meus alunos, inclusive. — Abaixou os olhos e negou com a cabeça, enquanto todos riam. 

— Seu desempenho não foi a coisa mais vergonhosa de hoje. — Normani comentou rindo loucamente com Lauren antes de ir lá para a frente tirar Dinah de perto do bolo.

Ao acalmar das pessoas, Dinah ser contida por Normani e Alessandro assegurar que ela não precisava temer pelo conteúdo do envelope, ela abriu o presente dele e retirou de dentro dois pedaços de papel.

O silêncio já se fazia novamente presente, ainda que o clima sorridente permanecesse na áurea de todo o quintal. Estavam todos ansiosos com o conteúdo daqueles pedaços de papel que simplesmente fizeram o queixo de Camila tombar olhando para o namorado.

O interior de Lauren gelou de repente.

Finalmente Camila anunciava do que se tratava.

— Duas passagens para França, Ale. — disse devagar, mais para si mesma, ainda olhando para ele, mesmo que tenha saído alto o suficiente para que todos ouvissem.

— Sim, meu amor! Vamos para Paris! — Ele exclamou, abraçando-a e levantando-a do chão.

Play Someone you loved - Madilyn Bailey

Naquele momento todos comemoravam como se tivessem ganhado a viagem também, assobiavam e batiam palma, gritavam e festejavam o presente, colocando Alessandro no topo do sonho de consumo das mulheres ali e de alguns homens também. E de todo aquele barulho, Lauren não escutava nada, era como se assistisse tudo em câmera lenta e sem qualquer som.

I'm going under and this time I fear there's no one to save me

(Estou afundando e desta vez temo que não haja ninguém para me salvar)

O flash de Alessandro levantando Camila em um abraço após um presente, exatamente como aquele ano novo.

This all or nothing really got a way of driving me crazy

(Esse tudo ou nada realmente me deixa louco)

Um soco no estômago doeria menos.

Então era isso, seu corpo tentou congelar como uma medida de segurança para amortecer a dor daquela queda, como uma defesa pessoal, como se ele soubesse que não aguentaria a pancada que viria a seguir.

Era única pessoa que não compartilhava daquela felicidade e não conseguia ao menos disfarçar. 

Por sorte não precisava, já que todos estavam atônitos e eufóricos demais para olhar para trás.

Seu peito queimava, irradiando a ardência por debaixo de sua pele em todo o corpo, chegando ao rosto e vincando sua testa.

Now the day bleeds into nightfall

And you're not here to get me through it all

(Agora o dia sangra dentro do anoitecer

E você não está aqui pra me ajudar a passar por tudo isso)

"Não posso fazer isso", soltou fraco. Cada lufada de ar que entrava incendiava seu pulmão.

Engoliu rapidamente e passou na mesa de presentes como um foguete, pegando o seu de volta.

I let my guard down and then you pulled the rug

I was getting kinda used to being someone you loved

(Eu baixei minha guarda e então você puxou o tapete

Eu meio que estava me acostumando a ser alguém que você amava)

Se lembrava o porquê era tão difícil fazer isso. Parecia que a cada dia um pedaço diferente de sentimento do passado a atingia fazendo a história se repetir. Só lembramos o quanto foi longo o tempo da tormenta quando o sentimos novamente.

E estava lá, o sentimento de inutilidade estava ali, como no dia quando partir foi a única opção e como naquele primeiro dia onde ele surgiu, quando Camila queimava em febre e ela só conseguia ser um objeto inanimado. Como naquela noite, mesmo depois de anos, Alessandro tinha tudo sob controle, ele parecia feito para realizar tudo o que ela não foi capaz.

A tristeza começava pequena, porém ligeiramente se multiplicava. Caminhou passando pela sala, perto de ter um colapso nervoso, implorando para as lágrimas não saírem.

I'm going under and this time I fear there's no one to turn to

his all or nothing way of loving got me sleeping without you

(Estou afundando e desta vez temo que não haja ninguém a quem recorrer

Esse jeito tudo ou nada de amar me faz dormir sem você)

Havia uma lixeira em um dos cantos, onde largou o presente com embrulho e tudo em cima da pilha de papéis amassados. Arregalou os olhos para retardar as lágrimas, não podiam chegar até que estivesse segura e sozinha.

— Lauren? — Sinu chamou-a desde suas costas a fazendo virar-se assustada. — Vamos cantar os parabéns, venha. — Era o que saía da boca da mulher, mas seus olhos diziam calados que entenderiam se ela não conseguisse ficar. E Lauren sabia disso.

Apenas balançou vagarosamente a cabeça em sinal negativo comprimindo a boca e evitando olhá-la antes de dar um beijo em sua testa e sair em disparada.

Sabia que falar qualquer coisa ou abraçá-la tiraria da mulher um momento de felicidade com a filha e isso não era justo. O torpor era somente seu.

É incrível como um abraço pode ser gasolina em fogo quando estamos prestes a chorar.

Sinu suspirou abaixando a cabeça e recuperando o humor a fim de voltar para fora com as velinhas que fora buscar, quando viu algo no lixo: o presente bem embrulhado que sabia ter sido levado por Lauren, quando lhe abriu a porta.

Pensou ser um embrulho muito bonito para ficar ali.

O barulho da porta daquela casa se fechando atrás de si foi o som de ignição para que as lágrimas caíssem sem controle pelo rosto da jogadora.

Now the day bleeds into nightfall

And you're not here to get me through it all

(Agora o dia sangra dentro do anoitecer

E você não está aqui pra me ajudar a passar por tudo isso)

Procurou as chaves no bolso do casaco encontrando a maldita carta que rasgou enquanto seu coração se rasgava. Se permitiu sujar aquelas ruas com os pedaços de papel, um fio vermelho e lágrimas amargas. Onde estava com a cabeça quando achou que poderia fazer aquilo? Ela ainda era a mesma de sempre, nem a amizade de Camila ela poderia ter, ela não era digna. Ela não tinha nada.

Now, I need somebody to know, somebody to heal

Somebody to have, just to know how it feels

(Agora preciso de alguém para conhecer, alguém para curar

Alguém para ter, só para saber qual é a sensação)

O ronco suave do carro soou quando Lauren virou a chave do mesmo e mal saiu dali passando pela pequena extensão da rua até ficar fora do quarteirão e encostar o carro novamente.

Inspirou e expirou rápido o ar, o pé no acelerador e o olhar fixo à frente em ponto algum, se preparando por cinco segundos contados. E gritou.

 

 

Gritava alto, desmanchava a garganta em ruídos agonizantes entre soluços disfarçados pelo barulho proposital que fazia no motor enquanto apertava o acelerador sem sair do lugar.

 

— Eu já entendi que você não pode ser minha, mas que droga! — Vociferava e batia com força os punhos fechados no volante. — Para de doer, pelo amor de Deus! Só para! — Apertava seu peito com a outra mão, apertando os olhos como se pudesse pregá-los para sempre.

And I tend to close my eyes when it hurts sometimes

I fall into your arms

I'll be safe in your sound 'til I come back around

(E eu costumo fechar meus olhos quando dói, às vezes

Eu caio em seus braços

Eu estarei a salvo em seu som até eu voltar)

Sua boca abria totalmente sem emitir som algum, apenas dando continuidade aos espasmos de dor que seu corpo dava, mais e mais.

Tremeu agonizantemente e finalmente gemeu alto outra vez, espaçado e socando uma e duas vezes mais o volante. — Por favor! Eu já entendi! — Sua voz quase não saía, falava exausta com o nada, com o destino ou qualquer coisa que pudesse tomar o controle de sua vida, porque ela já não o tinha.

Apertava os dentes e os olhos, a face extremamente molhada e vermelha. — Eu já entendi... — A voz tremia em súplica e sumia entre os espasmos de soluços sôfregos forçando brutalmente seu abdômen.

Now the day bleeds into nightfall

And you're not here to get me through it all

(Agora o dia sangra dentro do anoitecer

E você não está aqui pra me ajudar a passar por tudo isso)

A lembrança de quando se prometeram fazer aquela viagem lhe golpeando a cabeça por dentro, como uma faca afiada tentando sair. Ela levou a sério, mas nunca fez nada. Todos os sorrisos que ela não veria, todo o carinho que não seria mais seu. Desejou tanto ter um pouco daquilo. Precisava tanto. Só um resquício qualquer, uma esmola do que tinha no passado, de qualquer forma, qualquer coisa que soprasse um pouco aqueles machucados.

Abriu a boca outra vez por necessidade, por agonia, encostando a testa no volante, dando um descanso para suas mãos já doloridas.

As veias de seu rosto saltadas prontas para estourar. E as lágrimas desceram ainda mais rápidas, sem som, só carregavam angústia e desespero enquanto seu peito simulava involuntariamente um ataque de asma.

— Para, para de doer, por favor. — Já não berrava mas repetia em suspiros até que se acalmasse e recuperasse um mínimo de energia para voltar para casa. 

Conseguiu dirigir mesmo com a visão embaçada.

Entrou em casa, subiu para seu quarto, entrou no banheiro e lavou o rosto esfregando como se pudesse arrancar aquela sensação da pele com as próprias mãos.

Mirou seu reflexo e tomou uma decisão: não poderia ficar lá, não poderia ficar assim.

Now, I need somebody to heal, somebody to know

Somebody to have, just to know how it feels

(Agora preciso de alguém para curar, alguém para conhecer

Alguém para ter, só para saber qual é a sensação)

Ela conseguiria também, ela se divertiria, ela faria o que não fez desde o dia no qual chegou. Ela saberia seguir em frente também. Ela tinha o direito de ser feliz. Não era justo.

Abriu a porta de seu quarto a fim de refazer a maquiagem e renovar com ela seu estado de espírito.

Jordan, chegando perto, cheirou sua mão, sua roupa e deu um meio gemido, quase como um uivo choroso, olhando para ela.

— Eu sei, amigão, também sinto falta dela. — Comprimiu as sobrancelhas o respondendo já tendo a consciência de que ele se lembrava do cheiro de Camila. Fez um carinho em sua cabeça. 

I was getting kinda used to being someone you loved

Eu meio que estava me acostumando a ser alguém que você amava)

— Mas a partir de hoje, precisamos superar. — disse, mais para si mesma que para Jordan, por mais que parecesse que ele parecesse entender devido às reações.

Ela guardaria tudo, ela conseguia, não podia ser tão difícil. Ela veria Camila como apenas mais uma pessoa do seu grupo de amigos. Ela seria justa consigo mesma, podia fazer.

Pronta novamente, ainda que não estivesse no melhor humor de todos, dirigiu obstinada até a boate que sempre tivera curiosidade de conhecer. O lugar trazia uma proposta sobre algo que ela, desde que pisara em Miami, não se permitia usufruir.

Entrou e pediu uma dose de tequila. Sabia que teria que pedir um táxi para voltar, mas não pensou em voltar. Ela só queria expurgar seus demônios.

Não era uma decisão inteligente, mas ela ignorava sua sensatez quase perdida.

Na segunda dose, uma garota morena que a olhava da pista de dança desde o início começou a ir em sua direção. Lauren nem ao menos esperou que ela chegasse e já se moveu ao seu encontro.

Ou aquela noite terminaria bem, ou morreria tentando.

E ainda do jeito errado, ela se jogou na única coisa que acreditava ter sobrado para si.

Fim da música

Julho de 2014

À meia luz que entrava pela janela e iluminava consideravelmente o quarto, as duas conversavam trivialidades, a latina encostada na cabeceira da cama enquanto Lauren, ocupando a outra ponta, abraçava os joelhos, adiando o horário de dormir. Devoravam a companhia uma da outra como sempre, até o silêncio que se instalou era confortante.

— Vai, pode perguntar. — disse Lauren, curvando a boca em um meio sorriso vendo-a unir as sobrancelhas. — Eu sei que quer, está me olhando com aqueles olhinhos e a boca quase curvada que você sempre faz quando não sabe se pergunta algo ou não.

— Eu tenho uma cara pra isso? — Arqueou as sobrancelhas ruborizando, enquanto Lauren apenas concordou sorrindo junto com ela. — Ok, me conta uma coisa. Mas se não quiser dizer, não precisa, tá?

— Ih... Eu vou ter que te matar depois que responder? — Brincou, levantando dedos em menção de cócegas.

— Só se eu não matar você primeiro. — Levantou uma sobrancelha desafiadora, juntamente com seus dedos preparados para a defesa. A outra relaxou em desistência e pediu que ela prosseguisse, estava curiosa afinal.

— Por que não queria correr perto das ondas quando eu te levei ao nosso lugar nas pedras?

Deixou os próximos segundos seguirem o curso do silêncio. Lauren mordeu o interior das bochechas, o olhar baixo estava fora do ângulo de visão da outra.

— Desde o dia que me afoguei no luau... Sei lá. Não lembro de quase nada daquela noite, mas tenho um flash na minha cabeça do exato momento em que tudo parecia perdido. Eu quis voltar. Eu tentei, sabe? Por mais que eu soubesse nadar, meu corpo não respondia. Eu escutei as vozes de vocês chamando no último momento, quando eu já não aguentava mais, tudo era muito confuso. E aí lembro de pensar, "pronto, esse é o fim" e ser engolida pelas ondas. A gente nunca pensa em como vai ser nosso fim até ele ter a iminência de acontecer. Toda vez que eu chego perto do mar, não é como um trauma, mas tenho medo de algo parecido acontecer de novo. Era pra eu ter morrido, sabe? — Abaixou a cabeça, o semblante pensativo de quem ainda diria mais enquanto era observada com atenção, toda a atenção de Camila era dela. — Talvez eu devesse ter morrido, meu pai ficaria aliviado.

— Não diga isso. — Repreendeu Camila, o semblante sério refletindo o medo que sentiu de perder Lauren aquele dia.

— É verdade. Ele nunca me quis. Ele... — Lauren torceu os lábios, não gostava de aparentar, de modo que ninguém sabia daquilo, estava prestes a contar algo nunca dito antes a ninguém. — Minha mãe teve um outro filho, um homem. Meu pai havia comprado tudo, tudo era azul, "Chris" seria o filho perfeito. Mas... Aí o bebê nasceu morto. Eu não sei o quanto isso deixou meus pais desestabilizados mas pude sentir um pouco na pele desde que me contaram o que aconteceu. — Tomou fôlego para continuar. Camila a olhava séria diretamente nos olhos todas a as vezes que ela conseguia sustentar. — De repente tudo fazia sentido. Não digo nada da minha mãe porque eu não lembro muito da presença dela, ela sempre sai e viaja muito a trabalho, mas... Com meu pai, a cada coisa que ele faz por mim, parece que ele não me vê. Parece que ele o tempo todo finge que eu sou o filho perdido dele. Até minha primeira bola de basquete nunca foi minha de verdade. Era dele, de "Chris". Eu não tenho raiva do meu irmão por isso, acho até que seríamos bons amigos. Mas sei que se meu pai tivesse a oportunidade de me trocar por ter o filho dele de volta, ele o faria sem nem pensar.

Existem momento nos quais simplesmente não precisamos dizer nada, nenhuma palavra sequer. Sabendo disso, Camila se inclinou um pouco e puxou Lauren pela mão com a delicadeza de quem faz um pedido mudo. Encolheu as pernas e ajudou Lauren a encaixar suas costas a seu lado na cama e se escorar nela, deitando a cabeça em seu ombro. Todo seu afago tentando confortá-la.

Lauren fechou os olhos sentindo toda aquela nuvem de carinho rodeando seu corpo como se fosse um céu. Confessou nunca ter dito aquilo a ninguém antes de sentir o peito de Camila se encher e esvaziar rapidamente a seu lado.

Era incrível o fato de não estar se sentindo mal como o costume quando pensava naquilo. Camila sempre resinificava seus sentimentos.

Ficaram assim por algum tempo até Camila levar a mão direita em direção a esquerda de Lauren, fazendo um leve carinho em toda a extensão de pele, indo e voltando, causando arrepios em Lauren.

Há algumas semanas, ela colocaria a culpa dos arrepios nos sentimentos daquele diálogo, mas não agora. Agora ela sabia o poder que Camila tinha sobre si.

— Quer que eu te conte uma coisa que nunca contei a ninguém? — questionou a latina, parando momentaneamente o carinho para se concentrar. Sentir o rosto de Lauren em seu ombro quase descoberto a tirava de órbita de um jeito que não sabia explicar.

— Só se quiser. — Levantou a cabeça para encará-la. Estaria prestando atenção.

— Bom... Eu tenho uma irmã. — Lauren inclinou levemente as sobrancelhas e, quando percebeu que tinha entendido direito, relaxou aguardando para ouvir o resto da história olho no olho. — Por parte de pai, apenas. E bom, ela não está morta, mas provavelmente queria que eu estivesse. O nome dela é Sofia. Ela é mais velha. De tempos em tempos, vinha passar uns dias aqui pra ficar com meu pai e...  — A cena de quando fora chamada de lésbica ao defender Lucy surgiu em sua cabeça, de repente, mesclando-se a de seu passado. — Não quero entrar em detalhes, mas acabamos nos desentendendo e hoje ela me odeia. Meu pai desapareceu logo depois e ela nunca mais veio, também, não havia mais motivos. Apenas Dinah sabe da existência de Sofi, mas só disso. E eu também não gosto de pensar nisso, então não conte a ninguém por favor. —  Ao suspirar das últimas palavras de Camila, Lauren esticou gentilmente a mão esquerda e alcançou a mão dela na sua.

Um aperto com delicadeza a fez quase engolir o ar, tamanho significado em um só simples ato. Ela sabia que aquele toque dizia que seu segredo estaria seguro, que não precisava se preocupar, que podia confiar nela. E ela sabia que a jogadora não fazia noção do peso daquele passado, mas que não faria perguntas, não falaria sobre, que respeitaria sua dor.

Camila abriu seus lábios dizendo sem som algum um "obrigada", enquanto abaixava seus olhos se concentrando no calor das mãos dela apertando gostosamente sobre as suas.

Às vezes Deus manda anjos que nos entendem, nos ajudam e nos confortam quando mais precisamos. Podem estar em qualquer lugar, em um banco de praça, em um ginásio, do outro lado do mundo em uma ligação e, se você for extremamente sortudo, pode estar ao seu lado, imaginando que você é o seu anjo enviado dos céus também.

Era incrível como um gesto tolo tinha o poder de envolver tantas informações entre as duas e fazê-las pensarem, ainda que sem o conhecimento mútuo, "que sorte a minha, que anjo perfeito eu encontrei".  

— Como está com Lucy entrando pro time? — Inseriu um assunto que deixava o clima mais leve.

— Bom, eu me senti intimidada no início, confesso, mas agora demos uma trégua. Todo "vilão" tem uma história por trás, que não justifica, mas explica e... A dela é bem triste. — disse, mirando um ponto fixo qualquer do quarto, recordando toda a informação que tinha de antes e depois do acidente na vida de Lucy.

— Uau, estou orgulhosa de você. — Pelo tom da voz dela, era perceptível que sorria, então sorriu junto, voltando a olhá-la. E nossa, era incansável olhá-la nos olhos. — Só não entendi o motivo de se sentir intimidada.

— Ah, Camz, modéstia à parte, eu sou a melhor jogadora do time e é a única coisa que eu tenho, é a única parte de mim que sinto que orgulha meu pai, que me faz ser alguém e, Lucy é muito boa também, de verdade. Conversei muito com a Ke sobre isso, acho que só fiquei com medo de ser passada pra trás na única coisa que sei fazer bem. Não sou como você. — Abria seu coração, ela fazia isso ser tão fácil. Aqueles castanhos a chamando para se libertar de qualquer aflição.

— Como eu? — Enrugou a testa.

— É, sabe? Não sou boa em muitas coisas ou uma artista, não sei desenhar, não sei dançar, nã-...

— Eu sei dançar, Lauren? — Cortou-a rapidamente, seu meio sorriso e seus olhos diziam sugestivos todas as intenções a mais por trás da pergunta, revelando algo que ainda não havia dito, algo que Lauren percebeu.

Já sabia, com certeza ela já sabia.

— Oh, meu Deus, você sabe que eu te... — suspirou, seus olhos levemente arregalados, no mesmo instante que notou que Camila sabia ser observada por ela enquanto dançava. Suas bochechas esquentando e querendo enfiar a cabeça em qualquer buraco que com certeza cavaria com as próprias mãos se pudesse. — Há quanto tempo você sabe?

— O suficiente. Mas, ainda não respondeu minha pergunta: acha que eu danço bem?

— Não era essa exatamente a sua pergunta. — Levantou uma sobrancelha. Camila inclinou-se em sua direção um pouco mais, para que ficassem de frente, a distância diminuindo e os batimentos dela aumentando consideravelmente.

— Mas é exatamente dessa que eu quero saber a resposta. — confessou Camila. — Para você, Lauren, eu danço bem? — Enfatizou o nome dela vagarosamente, como se pudesse saboreá-lo em sua boca, como quem diz que se importa não com a resposta da indagação em si, mas da resposta vindo exclusivamente de Lauren e de mais ninguém.

Play Charriot - Jacob Lee

Seu hálito estava tão perto que Lauren pôde sentir o cheiro de menta e eucalipto inebriando seus sentidos. Mirou seus lábios rosados rapidamente e voltou aos castanhos agora levemente mais escuros, nunca havia o visto assim.

How do you do that with your eyes?

You know it gets me every time

(Como você faz isso com os seus olhos?

Você sabe que eles me atingem toda vez)

Estavam tão perto.

Camila aguardava uma resposta, a outra engoliu em seco junto com uma dose de sinceridade enquanto decidia se abria o jogo ou guardava suas certezas.

— Você dançando é a coisa mais maravilhosa e hipnotizante que eu já vi. — confessou fraco, suas resistências sendo drenadas por aquele olhar.

Camila sentiu o arrepio ferrenho, frio e lento, espetando e possuindo seu corpo pouco a pouco com aquela voz grossa quase em um sussurro. Uma sensação crescente a dominando devagar.

Um fio de sanidade a cortou, fazendo brilhar em seu computador a tela de fundo que Alessandro colocou, a foto dos dois juntos em um momento que já não tinha mais o mesmo significado que um dia distante teve, mas que fazia parte de um presente que a cabia respeitar.

Lauren quase sentiu falta daquele quase contato quando Camila disfarçou afastando-se e levantou-se da cama.

Perdida em seus devaneios, a morena achou ter feito algo de errado, mesmo que soubesse que não dera um mínimo passo em direção ao que realmente queria e, antes que pudesse perguntar, Camila estendeu a mão em sua direção.

— Então me concede a honra dessa dança? — convidou Camila, um sorriso bobo pintava seus lábios rosados. Havia uma súplica oculta em seus olhos, falavam por si, cravavam os dela e esperavam serem decifrados. Lauren queria poder admirá-los pelo resto da vida.

What would I do without your eyes?

The way they look at me and mine

(O que eu faria sem os seus olhos?

Como eles olham para mim e para os meus)

Camila queria contato, essa foi a maneira que sua consciência encontrou de atender seus insultuosos desejos sem culpa. Apenas uma dança.

— Mas nem está tocando nada. — Não era uma recusa, ela já estava de pé tocando a mão tão delicada dela.

— E quem disse que precisamos disso? — indagou, com um olhar que diz ter tudo sob controle, quando, na verdade, controle era tudo o que a faltava. 

— Eu não sei dançar, esqueceu? Não quero pisar no seu pé. — As esquivas somente retratavam seu nervosismo. Mas Camila a olhava do mesmo jeito desafiador e suplicante.

Comparado a tudo o que almejava, tudo o que seu interior bradava para possuir, aquele olhar a dizia que algo estava diferente nela, não sabia o que, mas alguma coisa neles parecia contar algo que queria ouvir. Ou talvez fosse só uma reflexão de seus desejos naqueles castanhos.

I can't describe your eyes,

But when they're looking at me

My heart, it beats and I can't seem to dream

(Eu não posso descrever os seus olhos,

Mas quando eles estão olhando para mim

Meu coração, ele bate e eu não pareço sonhar)

Queria mais, queria ela, queria que se sentisse desmanchar como fazia consigo.

— Se eu danço metade do que diz, posso guiar você. — Passou seus polegares pelas pálpebras dela, fechando sua visão aos verdes e deixando Lauren vulnerável no breu. Ela não se importou, pularia no abismo daquele sentimento de olhos fechados se pudesse. — Apenas mantenha seus olhos fechados e relaxe, me deixe te guiar.

Camila correu seu olhar pelo rosto dela, admirando sem recato algum, era tão bela que chegava a ser injusto com o resto da humanidade.

Seu coração latino palpitava um pouco mais quando encurtou suas distâncias e levou uma das mãos da jogadora lentamente à sua cintura.

Lauren sentiu-se escorrer quando precisou apertá-la ali com mais força para esconder que tremia.

Camila mordeu rapidamente o lábio inferior com a sensação, agradecendo mentalmente que Lauren não a veria. Já não media mais suas ações, só se deixava levar até o ponto onde seus receios pudessem estar guardados e de olhos vendados.

Your fingers are mine, as they intertwine

You're telling me words unspoken

(Seus dedos são meus, enquanto eles se entrelaçam

Você está me dizendo palavras não ditas)

Pegou a outra mão dela e entrelaçou com a sua, levando até acima do peito pousando-as ali. Podia sentir a respiração descompassada atingir seu rosto conforme aproximava seus corpos, cada milímetro mais, fazendo-os pressionar suas mãos entrelaçadas.

Our fingers align, as they intertwine

You break my heart wide open

(Nossos dedos se alinham, enquanto se entrelaçam

Você quebra o meu coração abertamente)

— Estou nervosa, Camz. — confessou Lauren, completamente vulnerável.

— Posso contar mais um segredo? — Camila questionou, sentindo a pele dela contra a sua causar choques elétricos, engolindo em seco ao mirar sua boca mordendo o lábio inferior. Lauren apenas balançou a cabeça lentamente em uma afirmativa. — Eu também estou.

Sua única mão livre agora pousou no ombro dela, mostrando que contra todo o nervosismo ou qualquer coisa que as impedisse de ter aquele contato, ela iria adiante, ela não pararia.

Começou um leve balanço, seu corpo se elevando por consequência de um suspiro lento que compartilharam.

I plan to love you all my life

Until you meet your chariot

(Eu pretendo te amar por toda a minha vida

Até você encontrar a sua carruagem)

Seu interior lhe contava a história de que só estavam dançando, seria seu subterfúgio para qualquer menção de culpa ou qualquer incerteza que a atingisse. Não podia ser culpada pelo que não conhecia e, naquele momento, todas as sensações pareciam serem sentidas por primeira vez.

Play Emerald Eyes - Anson Seabra (n/a: Não tem no Spotfy, mas era a mais ideal para a cena. Se de todas as formas não conseguir escutar essa, baixando ou pelo youtube, continue ouvindo a que já está tocando :])

Camila começou lentamente cantando baixinho a canção Emerald Eyes de Anson Seabra, que a fazia pensar tantas vezes em Lauren. E ali estava: tinham agora sua melodia particular.

Cada passo era guiado por sussurros daquela boca carnuda e toques mais profundos, Lauren parecia estar no paraíso. Seu coração era abraçado pela sensação mais espantosa e igualmente gostosa que já havia tido o prazer de provar.

The perfect place

The perfect time

To take you somewhere we both want to go

(O lugar perfeito

O momento perfeito

Para te levar a um lugar que nós dois queremos ir)

Abriu os olhos só para ter certeza de não estar sonhando e encontrar os olhos fechados de Camila. Se perguntou em que momento tudo havia sumido: o quarto, a casa, a gravidade. Não havia nada ao redor, apenas duas almas que dançavam unidas. A voz dela era como acordar em um conto de fadas com pássaros lhe desejando bom dia.

Camila já havia dançado com outras pessoas antes e por esse motivo não podia chamar aquilo de dançar. Não sabia como denominaria, mas sabia que nunca havia sentido aquilo com ninguém antes em toda a sua vida.

The birds they sang a melody

My heart was keeping time and we

Were dancing on the edge of something new

(Os pássaros cantam uma canção

Meu coração estava acompanhando a melodia e

Estávamos dançando na beira de algo novo)

Cogitou cantar apenas o refrão em looping depois de perceber que Lauren apertava um pouco mais forte sua cintura a cada vez que o iniciava.

Abriu seus olhos e se deu conta do quanto estava perdida, encarou as esmeraldas que brilhavam à sua frente e sua voz falhou consideravelmente, quando cantou aquela parte com sua alma:

"I've spent a thousand nights

Lost in your emerald eyes

Lost in a place where I know you can see my soul

Make me lose track of time

You and your emerald eyes

Suddenly feels like I have finally found a home"

"Eu passei mil noites

Perdido em seus olhos de esmeralda

Perdido em um lugar onde eu sei que você pode ver minha alma

Você me faz perder a noção do tempo

Você e seus olhos de esmeralda

De repente, sinto que finalmente encontrei um lar. "

Lambeu os lábios na tentativa de recuperar-se e falhou, não conseguia prosseguir cantando. Aquelas órbitas haviam sugado sua capacidade de emitir qualquer ruído, calando sua voz, sugando suas verdades e sua alma, derramando tudo nos verdes, tornando tudo verde.

Lauren começou a cantar para que a canção não se perdesse, não queria que aquele momento se findasse por qualquer motivo que pudesse contornar. Trocou a parte que dizia "Emerald eyes" por "deep brown eyes", deixando explícito que agora não era só uma canção qualquer, mas que cantava especificamente para ela.

A voz rouca parecia dançar no vento e intimar o coração de Camila a tremer como as cordas vocais da morena. Sorriu o quanto pôde com a trégua de dois segundos que aquela melodia saindo pela voz dela deu a sua expressão sôfrega de quem queria e precisava do mundo inteiro ao mesmo tempo e, naquele momento, dançava abraçada a ele.

Aproximou sua bochecha da dela, sentindo Lauren vacilar e quase deter-se. Mas Camila tão pouco queria que aquele momento terminasse, levou sua boca até o ouvido dela e sussurrou pedindo baixinho que não findasse aquele canto.

Cansada de todas as vezes que precisaria negar-se à vontade de aproximar-se mais, aconchegou sua cabeça no pescoço de Lauren, seu nariz encaixado bem na curva, colocando seus braços ao redor do pescoço dela, as mãos de Lauren abraçando sua cintura e as duas aninhando-se a um abraço sem cessar seu balançar tão aprazível que compunha a melhor dança de todas.

Se fundiam, como dois seres feitos para se encontrarem, para se conectarem. A energia fluindo entre seus corpos, o cheiro gostoso do cabelo, a sintonia única, o toque da pele fervente, tudo elevava a consciência de que ali, juntas, unidas, era um lugar perfeito.

Fios invisíveis às seguravam, sem mais nós, como deveriam estar, feitos delas e para elas.

Lauren cantou o último verso da música com precisão impecável, sua voz massageando os ouvidos de Camila que não a soltou. Não seria capaz, Lauren muito menos. Elas fariam aquilo durar o quanto pudessem. Havia algo ali, mesmo que não verbalizassem, ambas sabiam daquilo porque sentiam correndo por todo o corpo.

Ainda abraçando o corpo dela como se pudesse impedir que escapasse, Camila sorriu, a voz da jogadora ecoando ainda em sua cabeça, como um dom, Lauren poderia facilmente ser cantora e ela precisava saber disso. — Acabou de descobrir outra coisa na qual você é ótima. 

Março de 2019

Play Dancing with a stranger - Sofía y Ander

A batida sedutora do R&B fazia os corpos suados e eletrizados moverem-se sensuais e flexíveis. Entre eles estava Lauren, com suas verdades na cabeça, suas dores no peito e uma bebida nas mãos. A morena com quem aceitou dançar se mexia provocante à sua frente, se empenhava, mas era apenas um borrão. Era isso que teria para si: rascunhos do que queria, uma obra fajuta que em nada se assemelhava à real, mas ainda assim estava ali.

I don't want to be alone tonight

It's pretty clear that I'm not over you

(Eu não quero ficar sozinho esta noite

Está bem claro que eu ainda não te superei)

Ela sabia que não adiantaria querer ter algo parecido com aquelas danças, era injusto pedir aquilo ao resto do mundo.

A mulher entrelaçava seu pescoço e descia rebolando vagarosamente, causando absolutamente nenhum efeito. Ela acompanhava aqueles movimentos com o corpo, mas sua mente estava longe, em uma casa onde fora tão feliz, onde hoje ela não poderia ser mais que um passado enterrado. Mas tentava enterrar suas frustrações no corpo dançante da estranha à sua frente.

Look what you made me do

I'm with somebody new

Ooh, baby, baby, I'm dancing with a stranger

(Olhe o que você me fez fazer

Eu estou com alguém novo

Oh, querida, eu estou dançando com uma estranha)

Será que Camila havia notado que havia ido embora? Com certeza não.

Era pedir demais que fosse ela ali? Com certeza sim.

Tomou o restante da bebida em um único gole, agarrando os cabelos da nuca da garota e colando suas testas.

Vazio.

E se era isso que restava para si, mergulharia no nada.

I wasn't even going out tonight

But, boy, I need to get you off of my mind

I know exactly what I have to do

I don't want to be alone tonight, alone tonight

(Eu nem ia sair hoje à noite

Mas, garota, eu preciso te tirar da minha cabeça

Eu sei exatamente o que tenho que fazer

Eu não quero ficar sozinha esta noite)

Camila, ainda na casa de sua mãe, terminou de se despedir de Hayley e a irmã que eram as últimas convidadas a partirem. Alessandro as levaria em casa, assim como levou todos aqueles que precisavam.

A latina subiu as escadas em direção a seu quarto antigo, fora buscar um casaco a pedido de sua mãe. Agradeceu mentalmente, precisava respirar, a presença de Lauren havia roubado um pouco do ar, assim como a sua ausência logo depois.

A porta rangendo a fez sentir uma nostalgia instantânea. Não era mais uma criança, havia crescido, saído da casa da mãe e agora tinha a própria vida, com o próprio sustento e, embora soubesse que estava por sua conta e a liberdade era maior agora, não se deixava imaginar os rumos que sua vida teria tomado com todas as possibilidades que teve no passado, quando era apenas a adolescente que dormia ali.

Olhou para a cama e estreitou os olhos, andando na direção dela antes de afundar o colchão com seu peso. Havia um pequeno embrulho ali, parecia um dos presentes, mas o que estaria fazendo ali? Por que não estava com os outros?

Tateou com cuidado até ver escrito com aquela letra familiar "Para Camila, apenas uma pequena lembrança" em um cartão meio amassado. Travou com a recordação de minutos mais cedo, de como passou a metade de seu parabéns sem concentração, apenas vasculhando com os olhos entre os convidados para encontrar os de Lauren, sem sucesso. A presença dela era sempre assim, ligeira, passageira, como as tempestades que assombravam Miami, não duravam muito. Não pôde dizer nem metade do que queria, mas não queria menos do que podia.

Abriu o presente apenas para confirmar o que já sabia. Seu peito se encheu ao ver aquele pequeno globo de neve. Rico em detalhes, guardava dentro de sua cúpula a grande Paris, com foco na Torre Eiffel, perfeita, que com um simples balançar estava coberta por neve.

Camila comprimiu os lábios, ela sabia tudo o que representava aquela "pequena lembrança". Uma lembrança realmente, mas de pequeno aquele dia não tinha nada. Talvez não fosse a intenção de Lauren relembrar o passado e, sim apenas presentear algo que Camila gostasse. Mas foi impossível impedi-la de fechar os olhos e mergulhar naquele dia outra vez.

Olhou para o lado da cama, recordando o jeito que elas dançavam aquela noite como se nada mais existisse. Era indescritível como a música parecia ser cantada por anjos na voz dela, como tudo parecia certo mesmo sem estar.

Look what you made me do

I'm with somebody new

Ooh, baby, baby, I'm dancing with a stranger

(Olhe o que você me fez fazer

Eu estou com alguém novo

Oh, querida, eu estou dançando com um estranho)

Aquilo a acertava com tanta força, aquelas memórias eram tão poderosas, que mesmo sabendo que ganhara passagens à França, agora via que a viagem não havia sido seu presente favorito.

Balançou o globo de neve outra vez e viu a Torre ser inundada pela chuva de flocos brancos novamente. Fechou seus olhos e quase sorriu. Em alguma vida, em algum universo paralelo, uma Lauren e uma Camila estariam ali dentro, no terraço da  admirando a Torre Eiffel sob todo o espetáculo da neve.

Ooh, baby, baby, I'm dancing with a stranger

(Oh, querida, eu estou dançando com um estranho)

Enquanto isso, no outro da cidade, Lauren havia voltado ao bar, onde ficou até quase o horário de fechamento do estabelecimento. Havia dançado e tocado todos os corpos que lhe ofereciam um momento de prazer. Mas a pista de dança e as mulheres mais atraentes daquele lugar a estavam deixando sóbria demais para seus objetivos. Elas não aliviavam a dor, elas não causavam nada.

O garçom acatou seu pedido de mais uma dose dupla. Sua visão já estava um pouco turva, mas o coração ainda doía. Estava deplorável, se sentia estúpida com razão.

Xingou baixo quando tentou pegar as chaves do carro que pela segunda vez caíam no chão, tamanha embriaguez.

— Opa, opa! Não pensa que vai dirigir assim, né? — Uma mulher surgiu a impedindo de cair para trás quando Lauren cambaleava trocando os pés.

Segurando-se nela, a olhou e confusa e estreitou os olhos. — Espera, eu não conheço você de algum lugar?


Notas Finais


E aí? Gostaram? Então, EU AMO LER COMENTÁRIOS, então se quiser deixar aqui o seu, vou ler e responder com muito carinho.
Para terem acesso a mais mídias do cap, infelizmente só dá pra colocar lá no Wattpad. Quem quiser me procurar lá tem no meu perfil.

♥ Você ainda NÃO VIU que eu fiz uma Oneshot que tá "de cair o cu da bunda" segundo quem já leu?? Corre lá no meu perfil, se chama Rewrite History. ;)

Até o próximo que tem uma cena brabaaa!


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