Daphne Greengrass
Havia uma estranha sensação de calmaria que pairava sobre Cair Griffin, interrompida poucas vezes pelo pandemônio que acontecia além das muralhas.
As batalhas aconteciam constantemente, as masmorras do castelo na ilha se enchiam, apinhadas de Comensais da Morte e outros refém valiosos para ela. Lá fora, os campos de concentração se provavam verdadeiras hidras: sempre que um era destruído, outro surgia, provando-se o maior dos problemas para sua melhor amiga. Manon ficava a maior parte do tempo em Cair Griffin, amarrada com as novas obrigações de rainha, e era Harry quem liderava nos campos de batalha, levando a Resistência á vitórias repetidas vezes.
E enquanto Manon liderava uma nação e lutava uma guerra, Harry ganhava batalhas e salvava pessoas, Daphne percorria por toda a ilha coletando informações com seus informantes, interrogava Comensais da Morte e procurava pelas três Horcruxes restantes.
A cobra era facilmente encontrada, pois raramente parecia deixar Voldemort. O Diadema, entretanto, era um mistério de centenas de anos, perdido desde os dias em que Rowena Ravenclaw vivia. O Medalhão também era um mistério perdido no tempo, há última vez de que se teve notícia foi na posse de uma bruxa da Casa de Smith, de quem Voldemort roubou junto da Taça de Hufflepuff quando trabalhava na Boring & Burkes.
— Riddle está se movendo.
Daphne comentou numa tarde no final de julho. As duas estavam em seu escritório, um cômodo de tamanho mediano no verde e ouro de Greengrass, com estantes repletas de livros, poltronas, lareira e uma grande mesa de madeira cheia de papéis. Manon desviou os olhos da janela que mostrava os jardins ocidentais de sua fortaleza e olhou para ela. Daphne a olhou, e os olhos verdes perguntaram: o que ele faz?
— Sequestrou o Ollivander na semana passada, bastante discretamente. Procura por Gregorovicth. — respondeu verbalmente.
— O fabricante de varinhas?
— Exato. — estalou a língua. — Muito tempo atrás, quase uns cem anos, eu diria, havia boatos de que Gregorovitch tinha posse da Varinha das Varinhas. Conhece?
— A varinha mais poderosa do mundo.
— Criada por Antioch Peverell, ou a Morte, dependendo de para quem perguntar. Sua história é sangrenta e brutal, seu mestre sempre assassinado pelo próximo. Os piores nome do Mundo Mágico podem ser associados á Varinha da Morte. Nos anos que antecediam á Guerra de Grindewald, haviam boatos de que Gregorovitch tinha em posse á varinha, e tentava replicar seus lendários poderes. Riddle quer a Varinha das Varinhas.
— Gregorovitch ainda está vivo.
— Embora não por muito tempo, se Riddle lhe procura.
E não podemos deixar que Riddle tenha a varinha mais poderosa do mundo, foram as palavras que Daphne não se atreveu a dizer, nem com a boca ou com os olhos. Manon, entretanto, não precisava de palavras para saber de suas intenções, e imediatamente declarou:
— Não. De jeito nenhum. Você não vai, Daphne.
— Se não eu, quem então? — ergueu a sobrancelha. — Sou sua mestre-espiã. Não há ninguém mais que consiga chegar em Gregorovitch antes.
— É claro que há. — rebateu. — Eu, por exemplo.
— A Rainha da Grã-Bretanha Mágica caçando um fabricante de varinhas? — zombou. — Você é o que mantém o Wizengamot e o Ministério da Magia, precisa liderar a Resistência. Você é muito necessária aqui, Manon.
— Você também é.
— Infinitamente menos que você. Ninguém pode fazer o que você faz.
— Ninguém pode fazer o que você faz também.
— Tenho treinado Astoria desde que ela tinha onze. — apontou calmamente. Segurou o suspiro; não gostava de pensar na possibilidade de Astoria a substituindo como mestre-espiã de Manon. — Ela certamente não tem o estômago necessário para os interrogatórios, mas é habilidosa e quase tão boa quanto eu. Draco pode me substituir nos interrogatórios, ou mesmo você. É uma das Legilimens mais poderosas da Grã-Bretanha, Manon.
— Você estará em perigo e longe de assistência.
— Levarei alguém, então, para sua paz de espírito.
— Quem? Draco ficará com os interrogatórios, Harry está sempre na linha de frente, Hermione está vasculhando toda a ilha á procura do Medalhão e do Diadema, Pansy é necessária na administração e Theo é praticamente o braço direito de Harry. Não há ninguém.
— Há Blaise.
— Você sabe muito bem que estou usando ele como refém para que o novo padrasto dele não se juntar á Riddle.
— Manon, eu irei. Acompanhada ou não. A Varinha das Varinhas não pode, sob circunstância alguma, cair no poder de Riddle. Você sabe muito bem.
— Muito bem. — á contragosto, Manon cedeu. — Vá sozinha. Mas me chamará ao menor sinal de problemas.
— Se te satisfaz.
— Não me satisfaz porra nenhuma.
Estar de volta á Alemanha teria sido ótimo, não fosse a eminente chegada de Riddle em seu rastro. Por isso, Daphne não perdeu tempo antes de partir para a loja de Gregorovitch, localizada no distrito mágico de Frankfurt. Para segurança adicional, Daphne compra tinta vermelha barata num mercadinho e pinta o cabelo num quarto de hotel tão barato quanto; seus olhos muito identificáveis são escondidos sob lentes da cor de mogno que ela trouxe da Grã-Bretanha. Suas roupas também são um disfarce, nada como Daphne Greengrass; jeans, tênis, blusa e jaqueta por cima, e ela se move como uma nascida-trouxa entre as massas de bruxos e bruxas até a Gregorovitch Zauberstäbe. A loja lembra muito á de Ollivander no Beco Diagonal, grandes prateleiras cheias de varinhas e um único balcão ante á porta. O próprio Gregorovitch é um velho alto de ombros largos, magro, de longos cabelos de um branco puro e uma expressa barba.
— Bom dia, senhorita.
Diz Gregorovitch em alemão. Daphne sorriu com cortesia, e responde num alemão sem máculas ou sotaque:
— Bom dia, senhor.
— Varinha?
— Pode-se dizer que sim.
— Usualmente, a resposta é sim. — comenta Gregorovitch. — Importa-se de explicar, senhorita...
— Briarcliff. — responde. — Ansel von Briarcliff, Sr. Gregorovitch. Já tenho minha varinha, mas procuro por outra.
— Procura por uma sobressaltante então, Srta. von Briarcliff?
— Pode-se dizer que sim. — repetiu, dando de ombros. — O que sabe da Varinha da Morte, Mykew Gregorovitch?
Daphne olha para Gregorovitch então, se desviando bem a tempo de sair do caminho de uma Maldição da Morte. Daphne solta uma risada, repentinamente mais animada do que quando entrou, e imediatamente atacou Gregorovitch com um Deffindo bem colocado em sua coxa direita; ela rapidamente perdeu a noção do tempo, envolvida na batalha contra o fabricante de varinhas. Gregorovitch era um adversário e tanto, mais velho e experiente, poderoso e muito habilidoso, mas Daphne era mais poderosa e mais habilidosa. Eventualmente, Gregorovitch caiu, e Daphne arrebatou a varinha do bruxo centenário. Depois de garantir que o bruxo não acordaria por pelo menos as próximas horas, Daphne rapidamente arrumou a bagunça causada pela breve batalha e aparatou com Gregorovitch. Ao não ficar em um dos hotéis de luxo, como havia feito quando viera buscar Alina, Daphne garantiu privacidade; nas partes baixas da cidade, ninguém realmente se preocupava com a garota que tinha um velho de refém em seu quarto, principalmente quando não viam, de fato, nenhum velho ou garota. Daphne amarrou e amordaçou Gregorovitch, arrastou a mala de instrumentos para cima da cama e encheu duas bacias de água.
Poucas afinidades eram tão boas para interrogatório quanto á de água, afinal.
Uma hora já havia se passado desde a batalha quando Gregorovitch abriu os olhos para encontrar Daphne - ainda em sua persona de Ansel von Briarcliff - sentada a sua frente. Daphne abriu um brilhante sorriso, e puxou a bacia da direita.
— Boa tarde, Sr. Gregorovitch. — cumprimentou com excessiva animação e doçura. — Vamos ás seguintes regras: o senhor falará a verdade, e nada menos que a verdade, ou então o senhor sofrerá... muito. O senhor entendeu os termos?
— Quem é você?
— Muitas coisas, senhor. — deu de ombros. — Os termos, senhor; os entendeu?
— Diga-me imediatamente quem é e o que deseja, criança, ou farei
Daphne o interrompeu com uma gargalhada fria, e enquanto ria, começou a puxar as mangas do traje negro.
— Criança, o senhor diz. — ficou seria. — Não está em posição de fazer exigências, Gregprovitch. Sou eu quem faz as exigências, as ameaças. Então, diga-me o que quero e desejo, ou farei o senhor sofrer mais do que em toda a sua vida. Estamos entendidos? — ergueu a sobrancelha e, sem esperar por resposta, continuou: — Muito bem. — sorriu rapidamente. — Antecedente á Guerra de Grindelwald havia boatos de que o senhor, Sr. Gregorovitch, tinha posse da Varinha Anciã. Claramente essa — levitou a varinha do bruxo atrás de si até que ele pudesse vê-la por cima do ombro. — não é a Varinha das Varinhas. Portanto... o que aconteceu com a Varinha das Varinhas, Sr. Gregorovitch?
— Por que eu diria para uma criança como você onde está a Varinha das Varinhas?
— Por que vocês, velhos, sempre usam a cartada da criança para desestabilizar? — riu. — Não funciona, a propósito. — ficou séria novamente. — Ou o senhor responde, ou vai ficar sabendo como é se afogar, caso já não saiba.
— Não estou dizendo nada.
Daphne suspirou. Rápido como uma cobra, uma corda de água se ergueu da bacia e atravessou até Gregorovitch, explodindo no rosto do bruxo alemão e entrando pelo nariz; Gregorovitch se debateu contra as cordas, seus nós muito bem apertados para permitir grandes movimentados. Ao julgar suficiente, Daphne recolheu a água de volta para a bacia, e Gregorovitch iniciou uma torrente de xingamentos assim que se viu livre da água. Daphne levantou da cadeira onde sentava e caminhou até a cama, abriu a mala e passou os olhos pelos intrumentos ali dispostos; com mãos rápidas, Daphne pegou uma adaga de aparência cruel e bastante afiada, retornando para a frente de Gregorovitch.
— Sabe por que quero a Varinha das Varinhas, Sr. Gregorovitch?
— Poder. — resfolegou o bruxo. — Morte. Devastação. Não é o que todos querem dessa maldita varinha, garota?
— De fato. — assentiu. — Todos querem morte, poder e devastação com a Varinha das Varinhas. A Varinha da Morte. — sussurrou um dos nomes alternativos da lendária varinha. — É um nome adequado, não acha? — ergueu a sobrancelha. — Mas eu não quero a varinha para morte, destruição ou poder, Sr. Gregorovitch. Eu quero para que a mulher que eu amo fique segura. Essa varinha pode ficar entre sua vida e sua morte. Ela é a lua da minha vida, para citar George R.R. Martin, senhor, e tudo o que quero é que ela viva e seja feliz. Muito difícil ser viva e feliz se ela está morta, não acha, Sr. Gregorovitch? Não é nobre?
— E que inferno desencadearia no mundo para manter essa lua de sua vida viva e feliz, garota?
— Oh, o pior de todos. — respondeu seriamente.
— E veja — sussurrou ele. — porque não direi uma maldita palavra sobre a Varinha da Morte, criança. As pessoas que amamos são o maior perigo para nós, sabia? O que faríamos por elas... Essa lua de sua vida sabe do que planeja fazer com essa varinha, menina?
— Sr. Gregorovitch, — Daphne riu. — não é para mim essa varinha, e sim para ela. — se sentou. — O senhor claramente não entende as circunstâncias, então farei o favor de contá-las ao senhor. Não sou só eu que procuro a Varinha das Varinhas, e essa pessoa que também procura... ah, Sr. Gregorovitch, ele sim quer morte, poder e devastação com a exímia criação de Antioch. Já ouviu falar de Voldemort, Gregorovitch?
— O bruxo das trevas na Grã-Bretanha? — ergueu a sobrancelha. — Tem sido o assunto quente da estação.
— Não estou surpresa. — disse secamente. — Ele procura pela Varinha da Varinhas. Consegue imaginar o que ele faria com a Varinha da Morte? Quantos mais ele mataria e torturaria, quantos mais sofreriam se tivesse a lealdade da varinha mais poderosa feita, Sr. Gregorovitch? Consegue imaginar a morte e devastação resultante? Porque eu consigo. E tenho que impedir. Então... ou o senhor abre esse maldito bico, ou arrancarei palavra por palavra do senhor, e não será bonito.
— Não estou dizendo nada, nem para você, nem para esse Voldemort.
— Ele e eu temos uma coisa em comum, sabia?
— Ambos são psicopatas?
— Oh, não. — riu. — Somos alguns dos maiores Legilimens do mundo. — Gregorovitch empalideceu, e Daphne escondeu o sorriso. — Oh, sim. Mas existe uma grande diferente entre ele e eu, sabe.
— Qual... — Gregorovitch engoliu em seco. — Qual a diferença, menina?
— Eu sou uma cirurgiã. — sussurrou. — Entraria na sua cabeça delicadamente, suavemente, tanto que sequer saberia, sentiria a minha presença. Mas Voldemort, Gregorovitch? — tornou a rir, baixo e cruelmente. Daphne se aproxima, a ponto de encostar os lábios no ouvido de Gregorovitch, e com voz suave, começa a surrar: — Voldemort, entretanto, é um açougueiro. Ele vai estraçalhar a sua mente, rasgar seus escudos, transformará sua mente em mingau, e se talvez, talvez, sobreviver, então ele vai te matar. Então, aqui estão suas opções, velho: você me diz o que quero saber, e vive. Ou então eu vou arrancar cada pedaço de informação dessa sua mente estúpida, e irei deixá-lo para Voldemort. — se afasta, ficando cara a cara com o fabricante de varinhas. — Então?
— Eu tive. — sussurrou Gregorovitch. — Queria duplicar os poderes. Fazer outra Varinha Anciã, por isso espalhei os boatos. Mas uma noite... mas uma noite um menino veio e pegou. Pulou da janela, ás risadas, e levou a varinha. Jamais descobri quem foi.
Daphne olhou bem dentro dos olhos de Gregorovitch e entrou na mente do velho. Passou superficialmente pelos últimos anos, correndo e correndo por um longo corredor até chegar em risada masculina e jovem e noite; um menino bonito, de cabelo e olhos de ouro, pulava a janela enquanto ria, se esvaizendo na noite pelos olhos de Gregorovitch. Daphne saiu da mente do velho e olhou-o longamente. Sabia que fim havia tido a Varinha das Varinhas.
Com movimentos suaves dos dedos, a água nas bacias se ergueram e correram para Gregorovitch e, enquanto Daphne se afastava, água entrou por olhos, boca, nariz e orelhas. O velho a olhou, ódio brilhando em seus olhos escuros.
— Tudo o que faço — disse Daphne, suavemente. — faço por ela. Você é um risco alto de mais, velho.
Daphne limpou todos os vestígios do quarto de hotel exceto pelo corpo e saiu para a escada de incêndio, subindo para o quarto de cima. Em breve, os Comensais chegariam, trazidos pelo tabu no nome de Voldemort, e encontrariam Gregorovitch morto; a busca de Voldemort pela Varinha das Varinhas chegaria ao fim, pois a única pista estava morta em um quarto de hotel trouxa no subúrbio de Frankfurt. Considerou brevemente ir á Nurmengard, mas desistiu imediatamente. Ao ouvir os Comensais chegarem, Daphne se preparou, dando os últimos ajustes no traje negro e escondendo suas coisas; na hora certa, aparatou alto o suficiente para que escutassem no andar de baixo.
Aparatou por toda a Frankfurt, deixando para trás rastros para seguirem, uma caçada selvagem até uma área florestal ás margens do Meno, previamente escolhido para aquele propósito. Daphne se escondeu no topo de uma árvore, e assistiu os Comensais chegaram meia depois dela. Eram cinco no total, significando que outros dois haviam permanecido no hotel barato com o corpo de Gregorovitch. Os Comensais se moviam na escuridão, partes dela em seus mantos negros, pesquisando ela ou o rastro de aparatação.
Submissa aos desejos de Daphne, o Meno se ergueu, formando uma serpente d'água, e quando o primeiro Comensal notou e gritou, a serpente deu seu primeiro bote. Agilmente, Daphne pulou da árvore, graciosamente caindo na frente do rio. Os Comensais atacaram com força, mas feitiço nenhum a atingiu, pois todos encontraram a serpente de água no caminho.
Água do Meno entrava nos Comensais como a água das bacias entraram em Gregorovitch, e aos pés de Daphne, um por um sucumbiu, afogado por dentro. Ela rapidamente despachou os corpos e retornou ao hotel, onde os outros dois aguardavam; foi um trabalho rápido despachar os dois. Aqueles corpos ela deixou, e com um último sussurro de Voldemort, Daphne deixou para atrás o hotel pela última vez.
Por uma Chave de Portal, Daphne foi para Munique, onde trocou o disfarce e pegou outra Chave de Portal, dessa vez para Dresden. Pelos próximos dois dias, Daphne trocou de disfarce e pulou de cidade, de Dresden para Praga, de Praga para Viena, de Viena para Graz, de Graz para Veneza, de Veneza para Milão, de Milão para Marselha, até finalmente chegar em Calais e, então, Londres.
Na capital inglesa, Daphne aparatou para Cair Griffin.
— Daph! — exclamou Astoria no hall de entrada, pulando nela. Daphne passou os braços envolta do corpo da irmã mais nova e a beijou na testa. — Finalmente! Senti saudade.
— Foram só quatro dias. — disse, embora tenha apertado mais Astoria. — Onde está Manon?
— Tentando furar o piso no quarto dela. — respondeu, se afastando. — Ela tem estado mais estressada desde que partiu. E papai também. Por que não ligou?
Daphne agarrou a mala que largou quando a irmã pulou em cima de si e ofereceu o braço para a dita cuja. Astoria foi rápida em agarrar seu braço e, juntas, começaram a entrar no interior da fortaleza.
— Era uma missão muito importante. — respondeu. — Não poderia ligar. E onde está o papai? Mamãe?
— Mamãe viajou para a França. — respondeu Astoria. — Alguma coisa com a Grandmere, você as conhece. Papai está em Madrid, á negócios. E a sua missão? Manon não falou nada, disse que não era para meus ouvidos, e nem Harry ou Draco disseram algo.
— A missão foi ótima. E era ultra-secreta; como Manon disse, não para seus ouvidos. O que fez nos últimos dias?
— Nada particularmente emocionante. — disse com desdém. — Fiz seu trabalho burocrático e chato, é claro. Manon não me deixou fazer mais do que isso. Draco tomou frente dos interrogatórios, deve ter ido bem, pois Manon não gritou com ele nenhuma vez sequer, mas ela não me deixou nem chegar perto de qualquer prisioneiro. Disse que sou muito jovem para isso.
— Você é muito jovem para isso.
— Tenho quinze anos. — respondeu a irmã, com altivez. — Manon matou Lorde Nott e decapitou a mão de Lorde Malfoy na Batalha do Departamento de Mistérios aos quinze anos. Quando tinha quinze, já era a Espiã-Mestre de Manon.
— E éramos jovens. — retorquiu. — Manon e eu preferiámos não ter matado, decapitado ou espionado aos quinze. Mas precisávamos. Você não precisa. Manon e eu estamos aqui para fazer essas coisas por você, Astoria.
— Isso é injusto.
Daphne sorriu. Outra adolescência teria gritado aquelas palavras, teria as dito com ódio e raiva, mas não Astoria. "Isso é injusto", ela disse com a naturalidade e a certeza com que falava que o céu é azul e o fogo queima. "Isso é injusto", ela disse com a calma e a frieza de quem já se ajustou na realidade do mundo.
— Pode ser que seja. — respondeu ao pararem na frente das portas da melhor amiga. — Aqui. — passou a mala para a irmã. — Deixe no meu quarto. Peça á qualquer elfo que me prepare um banho quente.
Astoria suspirou exageradamente, murmurou alto sobre não ser um elfo doméstico ou garota de recados, e saiu arrastando a mala. Daphne soltou uma risada silenciosamente e abriu a porta do quarto de Manon. A melhor amiga não estava na sala, e Daphne rapidamente a cruzou até o quarto. Andando de um lado para o outro estava Manon no centro do grandioso quarto, os braços cruzados abaixo dos seios e as sobrancelhas franzidas. Daphne se encostou no portal, esperando que a melhor amiga a notasse, e tirou o tempo para admirá-la e matar um pouco da saudade que sentia dela.
Manon era linda e elegante como sempre, seu passo, apesar de mostrar preocupação, ainda era gracioso, apesar da força aplicada. Á luz do sol que entrava pela janela, Manon brilhava como a mais brilhante das estrelas.
Daphne suspirou, apaixonada.
E Manon finalmente percebeu sua presença. A melhor amiga estancou no lugar, olhos verdes selvagens e arregalados, correndo por todo o seu rosto, e o sorriso que Daphne abriu doeu de tão largo. Manon sorriu, também, aquele sorriso raro de que Daphne estava estupidamente orgulhosa de poder ver, de poder causar.
— Finalmente. — disse Manon, o corpo tenso e inclinado, como se estivesse se impedido de correr até Daphne. — Encontrou?
— Sim.
Assentiu, cruzando o quarto. Puxou Manon para os braços, e a melhor amiga relaxou contra ela; Manon era quente como sempre, quente e macia e seu abraço era cheio de calor e luz, e Daphne se derreteu como se fosse feita de gelo e Manon fosse o sol a aquecendo.
Preenchia o coração de Daphne. Sua presença e amor.
Não era o amor que Daphne almejava com todas as forças, mas era o amor que Manon tinha para lhe dar, então era o amor que Daphne amava.
Amaria tudo o que Manon lhe desse.
Tudo.
Daphne franziu o cenho para a tumba de mármore branco de Dumbledore ás margens do Lago Negro em Hogwarts. Manon soltou uma risada:
— Então assassinar, torturar e invadir mentes está tudo bem, mas profanar tumbas não?
— Assassinato, tortura e invasão mental são coisas completamente diferentes da profanação do descanso final alheio.
— Sua moral é tão estranha.
— Não é, não. — retorquiu. — Harry disse quem arrebatou a varinha?
— Konstantin. — respondeu a melhor amiga. — Harry já está organizando seu sequestro.
— Vai matá-lo?
— Não. — sacudiu a cabeça. — O que acha de mais um contato dentro?
— Quanto mais melhor, não é o que dizem?
Deu de ombros. Manon sorriu e finalmente emergiu, uma varinha longa e escura na mão; a Varinha das Varinhas, escondida á vista de toda a comunidade mágica por décadas. Com um aceno da própria varinha, Manon restaurou a tumba de Voldemort e se afastou até estar ao seu lado. A luz da lua se derramava na melhor amiga, deixando-a mais etérea. Os olhos verdes brilhavam mais, assim como os fios de cabelo agora num tom branco-lua e brilhante. Ela deslizou a varinha para dentro do casaco, enfiando as mãos nos bolsos.
— Tudo feito. Vamos?
— Por favor.
Daphne colocou a mão no ombro da melhor amiga, e as duas retornaram para Cair Griffin.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.